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gos de reisus. Os infos seo procssads de acordo com aI, -nsamento-Culrx Lida, ndo se responsabiiza por eventuais mudancas ocomidas nos endereos ou eleeonios cts nest ist, Dados Internaciomis de Catalogacio na Publicacto (CIP) (Camara Brasilia do Livro, SE, Brasil) Mois, Masud A teratura pomtuguesa / Massiud Mois; ~ Sto Paulo: Cutis, 2008. 06-7865 cnp-869.09 Indices para catélogo sstematico 1. Literatura portuguesa: Historia criica 869.09 © primeiro numero a esquerda india edo, ou reediao, desta obra. A primeira dezena A direita indies o ano em que esa edo, ou reedigt, fi pubiad. lio Ano 37-18 IAAT AD 4 waa Diretos reservados audqueidas com excasividade pola EDITORA PENSAMENTO.CULTRIX ETDA. Rus Dr. Mario Vieente, 368 — 04270.000 — Sao Paso, SP Fone: 2066.9000 — Fax: 2066-9008 E-mail persamento@eulirix.com br ‘Meméria de Décio Darcie I TROVADORISMO. (1198-1418) PRELIMINARES. As primeiras décadas dessa época transcorrem durante a guerra de recon ta do solo portugués, ainda em parte sob dominio moutisco, cujo derradeiro ato se desenrola em 1249, quando Afonso III se apodera de Albufeira, Faro, Loule, Aljezur e Porches, no extremo sul do Pais, batendo definitivamente os liltimos baluartes sarracenos em Portugal. E apesar de tao absorvente a pratica guerreira durante esses anos de consolidacao politica e territorial, a atividade literaria beneficiou-se de condigdes propicias, e pode desenvolver-se normal- mente. Cessada a contingéncia belica, observa-se o recrudescimento das ma- nifestacdes sociais tipicas dos periodos de paz e tranquilidade ociosa, entre as quiais a literatura Em resultado desse clima pés-guerra, a poesia medieval portuguesa alean- ‘ca, na segunda metade do século XII, seu ponto mais alto. A origem remota inda assunto controvertido; admitem-se quatro funda- mentais teses para explica-la: a tese arabica, que considera a cultura arabica ‘como sua velha raiz; a tese folelorica, que a julga criada pelo povo; a tese mé- io-latinista, segundo a qual essa poesia ter produzida durante a Idade Média; a tese litirgica considera-a fruto da poesia vista elaborada na mesma epoca. Nenhuma delas ¢ suficiente, de per 24 © A LITERATURA PORTUGUESA ara resolver o problema, tal a sua unilateralidade. Temos de apelar para ss, ecleticamente, a fim de abarcar a multidao de aspectos contrastantes -sentada pela primeira floracao da poesia medieval Todavia, € da Provenca que vem o influxo proximo. Aquela regio meri- wal da Franca tornara-se no século XI um grande centro de atividade lirica, were das condicdes de luxo e fausto oferecidas aos artistas pelos senhores feudais. As Cruzadas, compelindo os figis a procuratem Lisboa como porto ‘mais prOximo para embarcar com destino a. Jerusalém, propiciaram a movi- rentagao duma fauna humana mais ou menos parasitaria, em meio a qual iam Jograis e trovadores. Estes, utilizando o chamado “caminho francés”, aberto nos Pirineus, introduziram em Portugal e Galiza, por volta de 1140, a nova ‘moda poética. Facil foi a sua adaptacao a realidade galego-portuguesa, gracas a ter encon- trado um ambiente favoravelmente predisposto, formado por uma espécie de poesia popular de velha tradicéo, A fntima fusto de ambas as cortentes (a pro- vencal ¢ a popular) explicaria 0 cardter proprio assumido pelo trovadorismo em terras galegas e portuguesas. A €poca inicia-se em 1198 (ou 1189), coma “cantiga de garvaia”, dedicada Por Paio Soates de Taveirds a Maria Pais Ribeiro, e termina em 1418, quando Fernao Lopes ¢ nomeado Guarda-Mor da Torre do Tombo, ou seja, conserva- dor do arquivo do Reino, por D. Duarte A POESIA TROVADORESCA Provenca, o poeta era chamado de troubadour, cuja forma correspondente rrtugués € trovador, da qual deriva trovadorismo, trovadoresco, trovadores- No norte da Franca, o poeta recebia o apelativo trouvere, cujo radical € 0 anterior: trouver (= achay). Os poetas deviam ser capazes de compor, achar 0s versos ¢ 0 som (melodia), isto é, a sua cangio, cantiga ou TROVADORISMO © 25 do era o galego-portugués, em virtude da entéo unidade lingaitstica entre Portugal e a Galiza. CANTIGA DE AMOR ~ Este tipo de cantiga define-se, de acordo com a “Arte de Trovar” que precede o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, pela circuns- tancia de que “eles falam na primeira cobra’ (estrofe). Nela, o trovador empre- ende a confissao, dolorosa e quase elegiaca, de sua angustiante experiéncia passional frente a uma dama que parece indiferente, inacessivel aos seus ape- los, entre outras razdes porque de superior estirpe social, enquanto ele era, quando muito, fidalgo decaido. Uma atmosfera plangente, suplicante, de lita. nia, varre a cantiga de ponta a ponta. Os apelos do trovador colocam-se alto, ‘num plano de espiritualidade, de idealidade ou contemplagio platonica, mas que se entranham no mais fundo dos sentidos. O impulso erético situado na raiz das suplicas transubstancia-se, purifica-se, sublima-se, ou seja, esconde-se sob o véu das convencdes: “o trovador teve que propagar a mentira convencional da sua esquiva senhora que nao the concedera ‘nunca o mais pequeno favor e que o tortura até a morte” (Carolina Michaélis de Vasconcelos). Tuda se passa como se 0 trovador “fingisse”, dislargando com 0 véu do espiritualismo, obediente as regras de conveniéncia social e da moda li- teraria vinda da Provenea, o verdadeiro e oculto sentido das suplicas dirigidas & dama. A custa de “fingidos” ou nao correspondidos, os apelos amorosos ganham aura de transcendéncia: repassa-os um torturante sofrimento interior que se segue a certeza da intl stiplica e da espera dum bem que nunca chega ou pare- ce impossivel. E a cota (= softimento) de amor, que, final, ele confessa Quem usa da palavta € 0 proprio trovador, sempre manifestando grande respeito e subserviencia a dama de seus cuidados (iia senhor ou mia dona = minha senhora), e rendendo-Ihe g culto que o “servigo amoroso” Ihe impu- nha. E este obedecia a um rigido cédigo de comportamento social: as regras lo “amor cortes”, recebidas da Provenca. Segundo elas, o trovador teria de mencionar comedidamente o seu sentimento (mesura), a fim de nao incorrer n pseudonimo Genhal), e prestar-Ihe uma vassalagem que seguia um ritual latro fases: a primeita correspondia a condicao de fenhedor, de quem se ‘eonsome em suspiros; a segunda é a de precador, de quem ousa declarar os idedor é o namorado; drut, o amante.

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