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(Cad Est.Ling., Campinas, (25):25-65, Jul./Der. 1993 AS FUNGOES MODAIS DA ENTOACAO * IVAN FONAGY, Universidade de Paris HI CNRS ENTOAGAO E PONTUACAO. © ponto de interrogasao e 0 pont de exclamagdo figuram desde o séulo XVI entre os primeirs sini de pontuaio = juntamente como pont, a ving, os dois Pontes, 0 pono e virgla, os parenteses eo travessto, Geoftoy Tory (1529/1951) opbe © pontointerrogativo ao ponto “que responde™e a0 pono admirativo, E interessante ola que ese sistema nfo evolu, contenando-se invarivelmente a ortogafia das linguas modernas com ease pequeno nimero de siais para suprir a auséncia dos fendmenos prosédicos. Pouca informagdo tonal pasa portano pelo canal visual, a prosédia vendo-se ai redurida 8 funglo demaratva e 3 fungdo modal Isso sigifien que, apesar dessa redugio brutal, a ortografia ndo_podia preseindir de sinais expecais tendo por dnica funeio a distingdo. dos modos de enunciagio~ interogatvo, declraivo, imperative (eexclamativo) MODALIDADES, ATITUDES, EMOGOES Entretanto, o estatuto lingtistico da modalidade nao esté ainda estabelecido dde maneira clara. Os limites entre as modalidades e as atitudes, e entre as atitudes € as ‘emogdes permanecem bastante difusos. AAs distingdes gramaticais entre frases como: (a) Ble vem. / Ela vem, ou (b) Ela vem. / Elas vém. ro parecem ser de mesma natureza que as que opdem os enunciados: (©) Bla vem. / Ela vem ? ou “0 presente text € 2 tradug20 de um capita da obra india “Intonation”. As abseragtes € as transergdesemeacionis eeretes a0 portiguts so de nossa responsibilidade (N do) (@) Voce vem. / Vena ! Os primeiros pares de frases (a,b) correspondem a realidades diferentes. Nos ‘outros pares (c,d), é a atitude do locutor em relaco 4 situagio indicada no enunciado que muda radicalmente. © enunciado Ela vem. assinala um fato ao interlocutor. O enunciado Ela vem ? apresenta o mesmo fato como uma eventualidade ¢ pede sua confirmagao ou infirmacdo. Em Venha !, 0 evento figura como um ato que deve ser cumprido, como ‘uma ordem portanto, Segundo a terminologia da cori lingbistica de Karl Buhler (1934) essas oposigdes situam-se em niveis diferentes. Os pares (a) ¢ (b) opdem-se no nivel da fungdo representativa (Darstellungsfunktion), os dois outros (c) ¢ (d), no nivel da fungio de apelo (Appelfunktion). Os enunciados (a) representam uma oposigio de sexo, 0s ‘enunciados (b), uma oposicdo quantitativa. J4 nos pares (c) (A) fazemos ou nao apelo 0 interlocutor, No primeiro enunciado desses pares, contentamo-nos em relatar um ‘evento; no segundo, ao contrério, exigimos uma reagdo verbal (c) ou factual (d) do interlocutor. Esse parentesco funciona entre os enunciados interrogativos imperativos permitiu a F. Dane3 (1960) reuni-los na classe da modalidade apelativa, que ele opde A modalidade enunciativa. ‘© modelo de K. Buhler sugere uma terceira modalidade, correspondendo fungdo expressiva(auistica). Na gramética clissica encontramos, com feito, modalidades que no slo descriivas, nem tampouco apelativas, mas puramente expressivas, como a modalidade optativa, marcada Seja por um morfema especial (Iatim utinam, hingaro béresak), seja por uma oracio introdutéra ("Eu gostaria que...") As frases exclamativas, que se filiam, por exceléncia, a fungdo expressi constituem, segundo a gramética tradicional e certos autores contemporaneos (cf Kéroly, 1963), uma classe modal independente. ‘Com o auxilio de morfemas integrados 20 verbo, de conjung6es, de orages introdutérias, pode um enunciado ser apresentado de diversas maneiras: como certeza, ‘como necessidade, ou como uma eventualidade, eventualidade essa mais ou menos provavel, mais ou menos descjével. A tradigdo gramatical parece reservar as tmodalidades “probabilitiva”, “dubitativa’, “necessitiva’, etc, unicamente as linguas que as distinguem por processos lingstcos estabelecidos, consiantes, de preferéncia Aquelas em que a marca modal apresenta-se integrada a flexdo verbal Atribui-se assim ao vogul as modalidades necessitiva, probabilitiva, precativa (comunicagfo afctuosa)e pejorativa (enunciados exprimindo 0 desprezo, @ ‘oposicao). "A oragto intadutra transforma se facilment por elise (sopressio) em marca opmaiva: “Tomara «que ce vena!" “Se ev pudesse a0 menos revo". Numa obra dediada ao aspect modal do enunciado, § Kdoly (1963) ditinguc as seguintes marcas: morfema modal integra a verbo, b) monemaslexicas, ©) ordem das palavras, a) entoagso 26 Em linguas onde a atitude do locutor exprime-se unicamente com 0 auxitio de oragbes introdut6rias, considera-se a expresséo das diversas atitudes como diferentes especies da modalidade declarativa ef. Ross, 1970). ‘A flutuagio seméntica que caracteriza 0 uso dos termos "modalidade “atitude", “emogdo", explica-se provavelmente pelas relagdes intimas que unem os {fendmenos designados. A existéncia independente dos tres termos sugere entretanto que 0s tés voedbulos referem-se a fendmenos que, embora aparentados, so distintos. Antes de encetar a discussio sobre a entoagdo modal ou sobre a entoagio emotiva, toma-se necessério tentar por em evidéncia © que distingue a atitude da emocio, ¢ a modalidade da atitude Nos estudos psicol6gicos ¢ fonéticns, usam-se indiferentemente os termos emogdes” e "atitudes emotivas". O simples fato de julgar-se iil acrescentar um

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