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Marcio Baptista Marcia Lara Fundamentos de Engenharia Hidraulica 3? edicdo revista e ampliada 2? reimpresséo BELO HORIZONTE | EDITORA UFMG | 2014 B222t © 2002, Marcia Maria Lara Pinto Coelho; Marcio Benecito Baptista © 2002, Editora UFMG © 2003, 2. ed. revista © 2006, 2. ed. revista — © 2010, 3. ed, rev. e amp. © 2012, 3. ed, rev. e ampl. — 1" reimpr. reimpr. Este livro ou parte dele nao pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizacao escrita do Editor Baptista, Marcio Benedito Fundamentos de Engenharia Hidraulica / Marcio Benedito Baptista, Marcia Maria Lara Pinto Coelho. ~ 3. ed. rev. e ampl. ~ Belo Horizonte Editora UFMG, 2010, 473 p.— (Ingenium) Inclui bibliograt ISBN: 978-85-7041-828-9, 1. Engenharia hidraulica |. Coelho, Marcia Maria Lara Pinto I Titulo Mi, Série DD: 627, COU: 627.01 Flaborada pela CCQC — Central de Controle de Qualidade da Catalogacao Biblioteca Universitaria da UFMG COORDENACAO EDITORIAL: Danivia Wolt ASSISTENCIA EDITORIAL: Eliane Sousa e Eucicia Macedo COORDENACAO DE TEXTOS: Maria do Carmo Leite Ribeiro REVISAO E NORMALIZACAO: Isadora Rodrigues REVISAO DE PROVAS: Angel de Castro, Arquiolinda Machado, Claudia Campos Renata Passos COORDENACAO GRAFICA: Cassio Ribeiro PROJETO GRAFICO E CAPA: Paulo Schmict FORMATACAO: Thiago Campos FOTOGRAFIAS: dos autores, exceto quando indicado PRODUGAO GRAFICA: Diégo Diveira EDITORA UFMG ‘Ay, Antonio Carlos, 6.627 ~ CAD I 8loco Campus Pampulha 31270-901 ~ Belo Horizonte/MG Te: 455 31 2409-4650 Fax: +55 31 3409-4768 we.editra.ufing,br -editore@utmg be Escola de Engenharia da UFMG ‘Av. Ant6nio Carls, 6.627 Campus Pampulha - 31270-901 ~ Belo Hor Tel: #55 31 3403-1890 ~ Fax +55 31 ‘ween ufing br ~ dir@adm.eng.uimg.br (..) impelir mangas de chuva que inundavam tudo e desciam do Curral, do Cruzeiro, escachando Afonso Pena abaixo, improvisando araguaias, pratas, amazonas, inventando niégaras, iguacus, urubupungés @ os trombolhées, e baques das setequedas.(..) Quando 2 chuva parou e pararam as lufadas, as faiscas e os «estronds, continuou aquele gemido de dguas correndo dentro da noite e descendo para encher o Arrudas, ‘0110 das Velhas, 0 Sao Francisco eo Mar Oceana com cascalhos de diamante, ouro e ferro arrancado do flanco das Gerais.) Pedro Nava 7 23 25 a 30 a 35 35 35 37 38 43 47 | 47 48 49 54 56 61 64 SUMARIO Lista de simbolos Apresentagao Capitulo 1 A Engenharia Hidraulica 1.1 Evolucao histérica da Engenharia Hidraulica 1.2.0 panorama e escopo atual da Engenharia Hidréulica 1.3 Desafios e perspectives Capitulo 2 A mecAnica dos fluidos na Hidraulica 2.1 Introducao 2.1.1 Sistemas de unidades 2.1.2 Principio da homogeneidade dimensional 2.2 Propriedades fisicas dos fluidos 2.3 Classificagéo dos escoamentos 2.4 Equacées fundamentais do escoamento 2.4.1 Equacéo da continuidade 2.4.2 Equacdo da quantidade de movimento 2.4.3 Equacdo de energia - Bernoulli 2.5 Equacdo fundamental da Hidrostatica 2.5.1 Medidas de presséo 2.5.2 Forgas exercidas sobre superficies planas submersas Problemas 67 67 68 ae 78 85 85 87 | hh 94 96 99 99 99 101 104 104 106 112 a ee 122 Escoamento em condutos forcados simples 3.1 Perda de carga 3.1.1 Perda de carga continua 3.1.2 Perda de carga com distribuicao de gua ao longo do percurso 3.1.3 Perda de carga localizada 3.2 Velocidades recomendadas 3.3 Pré-dimensionamento de canalizagées 3.4 Tracado dos condutos 3.5 Separacao da coluna Ifquida e cavitacao 3.6 Introducao aos transientes hidrdulicos Problemas Capitulo 4 Escoamento em sistemas de condutos forcados 4.1 Condutos equivalentes | 4.1.1 Condutos em série 4.1.2 Condutos em paralelo | 4.2 Condutos interligando reservatérios 4.2.1 Problema dos trés reservatorios 4.2.2 Método do balanco das vazées 4.3 Rede de distribuicao de agua 4.3.1 Calculo das redes ramificadas 4.3.2 Calculo das redes malhadas Problemas 125 125 125 128 130 131 133 135 138 143 144 148 151 151 153 156 158 169 170 170 Capitulo 5 Maquinas hidraulicas 5.1 Introducao 5.2 Descricéo e condigoes gerais de instalacao das turbinas 5.2.1 Arranjo das instalagdes hidrelétricas 5.2.2 Potencial hidraulico 5.3 Descricéo e condicées gerais de instalacdo das bombas 5.3.1 Instalaco elevatoria tipica 5.3.2 Parametros hidraulicos de uma instalacao de recalque 5,3.3 Dimensionamento econdmico da tubulacao 5.4 Semelhanca mecanica 5.5 Velocidade especifica Problemas Capitulo 6 Andlise dos sistemas de recalque 6.1 Curvas caracteristicas das bombas 6.1.1 Influéncia da rotacéo na curva caracteristica da bomba 6.1.2 Influéncia do diémetro do rotor na curva caracteristica da bomba 6.2 Curva da bomba versus curva do sistema de tubulagao 6.3 Operacao de multiples bombas centrifugas 6.3.1 Bornbas em paralelo 6.3.2 Bombas em série 171 172 | 175, 176 | 182 187 187 189 193 198 202 205 205 208 211 213 216 216 218 222 222 | 6.4 Cavitacéo 6.4.1 Avaliacdo das condicées de cavitagao 6.4.2 Margem de seguranca 6.4.3 Inconvenientes da cavitacdo Problemas Capitulo 7 Caracteristicas basicas dos escoamentos livres 7.1 Escoamentos livres e forcados 7.2 Parametros geométricos e hidraulicos caracteristicos 7.3 Variacdo da pressdo 7.4 Variacao da velocidade Problemas. Capitulo 8 Energia e controle hidraulico 8.1 Regimes de escoamento 8.2 O ntimero de Froude 8.3 Caracterizacao do escoamento critico 8.4 Ocorréncia do regime critico — controle hidraulico 8.5 Transicdes 8.5.1 Transigées verticais 8.5.2 Transicées horizontais 8.5.3 Combinacdo de transicoes horizontais e verticais Problemas Capitulo 9 225 | Escoamento uniforme 225 9.1 Caracterizagao do escoamento uniforme 226 | 9.2 Resisténcia ao escoamento - formula de Manning 229 9.3 CAlculo do escoamento uniforme 230 9.3.1 Verificacao do funcionamento hidréulico 232 9.3.2 Dimensionamento hidraulico 236 9.3.3 Seces circulares 238 | 9.40 coeficiente de rugosidade de Manning 238 9.4.1 Determinacao direta do coeficiente de rugosidade 238 9.4.2 Estimativa do coeficiente de rugosidade 242 9.4.3 Coeficientes de rugosidade para secées simples com rugosidade variavel 244 9.4.4 Coeficiente de rugosidade para secdes compostas 246 Problemas Capitulo 10 249 | Escoamento gradualmente variado 249 10.1 Introdugao 250 10.2 Caracterizacéo do escoarnento | gradualmente variado Piers | 10.3 Andlise das linhas d’égua 255 10.3.1 Canais com declividade fraca 256 10.3.2 Canais com declividade forte 257 | 10.3.3 Canais com declividade critica 258 10.3.4 Canais com declividade nula 258 259 261 267 270 273 273 274 275 281 283 285 289 289 290 292 292 on 296 297 300 10.3.5 Canais em aclive 10.3.6 Conclusées 10.4 Célculo da linha d’égua no escoamento gradualmente vatiado 10.5 Calculo em condicées de vaz&o nao definida Problemas Capitulo 11 Escoamento bruscamente variado 11.1 Caracterizacao do escoamento bruscamente variado 11.2 O ressalto hidraulico 11.2.1 Ressalto em canais retangulares horizontals 11.2.2 Ressalto em canais com geometria nao retangular 11.2.3 Ressalto em canais inclinados 11.3 Forca especifica Problemas Capitulo 12 Principios de hidraulica fluvial 12.1 Introducdo 12.2 Escalas e dinamica da configuracaéo dos sistemas fluviais 12.3 Processos de formacao do canal fluvial 12.3.1 Transporte de sedimentos ~ Ciclo hidrosse- dimentolégico 12.3.2 Caracteristicas do leito fluvial 12.3.3 Resisténcia ao escoamento 12.3.4. Tensao de arraste 12.3.5 Principio do movimento ~ Abaco de Shields 303 304 306 309 309 310 310 311 314 318 318 319 323 326 327 327 328 329 332 ae 345 351 aan 353 12.4 Quantificacao do transporte de sedimentos 12.4.1 Transporte de sedimentos por arraste 12.4.2 Transporte de sedimentos em suspensdo 12.4.3 Carga total de sedimentos 12.4.4 Quantificacdo por meio de dados monitorados e regionalizados 12.5 Morfologia do leito e do canal fluvial em escala local 125.1 Secdo transversal 12.5.2 Leito fluvial 12.5.3 Conformagées topogréficas localizadas 12.6 Morfologia dos sistemas fluviais 12.6.1 Classificagéo dos canais 12.6.2 Rios com canais anicos 12.6.3 Rios com canais multiplos Problemas Capitulo 13 | Estruturas hidraulicas de conducao 13.1 Objetivos e tipos de estruturas hidrdulicas 13.2 Canais 13.2.1 Dimensionamento de canais revestidos — secdes de maxima eficiéncia hidraulica 13.2.2 Dimensionamento de canais em materiais erodiveis 13.2.3 Verificagdes hidraulicas e indicagdes para projeto de canais 13.2.4 Definicao das secées e revestimentos 13.3 Pontes 13.3.1 Estudos prévios 13.3.2 Determinacao da cota da cheia de projeto € concepcao geométrica da ponte 355 357 358 359 361 366 368 371 371 ae 373 374 375 377 381 384 385 386 387 391 395 396 400 402 13.3.3 Estudo do efeito de obstrucées devido aos pilares e aterros de encontro 13.3.4 Verificacoes complementares 13.4 Bueiros 13.4.1 Classificacao e notacado dos bueiros 13.4.2 Dimensionamento hidraulico 13.4.3 Consideracées relativas ao projeto de bueiros Problemas Capitulo 14 Estruturas hidraulicas de reservacao e controle 14.1 Introdugéo 14.2 Barragens 14.2.1 Concepcdo, tipos e drgaos integrates 14.2.2 Niveis e volumes operativos das barragens 14.2.3 Forcas atuantes nas barragens 14.2.4 Barragens de concreto 14.2.5 Barragens de terra e enrocarnento 14.2.6 Barragens mistas 14.2.7 Desvio dos rios para a construcao de barragens 14.3 Vertedores 14.3.1 Tipos de vertedores 14.3.2 Dimensionamento hidraulico de vertedores simples 14.4 Dissipadores de energia 14.4.1 Bacias de dissipagao 14.4.2 Dissipadores de jato 14.4.3 Dissipadores de impacto 403 406 407 409 409 410 411 415 4i7 418 419 424 424 | 425 426 431 432 440 441 444 446 447 449 449 14.4.4 Dissipadores continuos 14.4.5 Escoamento em degraus Problemas Capitulo 15 Instalagées hidraulicas prediais 15.1 Introducao 15,2 Instalages de égua fria 15.2.1 Critérios de dimensionamento 15,2.2 Dimensionamento das tubulacoes 15.2.3 Dimensionamento da capacidade dos reservatorios 15.2.4 Verificacao das condicdes de funcionamento 15.2.5 Retrossifonagem 15.3 InstalacOes de agua quente 15.3.1 Critérios de dimensionamento 15.3.2 Dimensionamento das tubulacoes 15.3.3 Dimensionamento dos aquecedores 15.4 Instalacées de esgoto sanitario 15.4.1 Critérios de dimensionamento das tubulacées, 15.5 Instalagées de éguas pluviais 15.5.1 Critérios de dimensionamento 15.5.2 Dimensionamento das calhas 5.5.3 Dimensionamento dos condutores verticais 15.5.4 Dimensionamento dos condutores horizontais 15.6 Instalacdes de combate a incéndios 15.6.1 Caracteristicas gerais 451 451 453 456 459 463 15.6.2 Critério de dimensionamento dos hidrantes 15.6.3 Critérios de dimensionamento das tubulacdes 15.6.4 Critério de dimensionamento dos reservatorios Problemas Bibliogratia Respostas dos problemas propostos o> > db & qaannaaan a mm Lista de simbolos rea; seco ou érea molhada (m?) rea de contribuicao (m?) amplitude meandrica aceleracao (m/s?) largura superficial (m) coeficiente de deflivio. coeficiente de perda de carga de Hazen-Williams coeficiente de perda de carga fator de resisténda coeficiente de descarga coeficiente de perda de carga na entrada coeficiente de velocidade centro de gravidade celeridade (rn/s) diametro (m ou mm) diametro médio das particulas do leito diametro de recalque (m ou mm) dimenséo geométrica caracteristica (m ou mm) nimero de queda diametro nominal (mm) diametro do sedimento (rm) para o qual 90 % da mistura (em peso) é mais fina energia espectfica (m) energia critica (rm) rugosidade (rm) eficiéncia do fluxo de sedirentos eficiéncia do transporte de sedimentos " Fundamentos de Engenharia dren Fr Set ee 7 x =x = = ae > RARARA forca ou empuxo (N ou kgf) forca de atrito numero de Froude coeficiente de perda de carga Gradiente hidraulico aceleracao da gravidade (m/s?) queda util (m) altura energia (m) queda bruta (m) altura geométrica (rm) energia aplicada ou retirada por alguma maquina (m) altura manométrica (m) altura manométrica de recalque (m) altura manométrica de succao (m) altura (m) profundidade (m) distancia vertical da superficie livre a0 C.G. da area A (m) altura geométrica de recalque (m) altura geométrica de succao (rm) intensidade pluviométrica (rnrr/h) declividade (rn/m ou %) declividade critica declividade limite (rm/m) momento de inércia de superficie plana em relacao ao eixo que passa pelo C.G indice de sinuosidade perda de carga unitaria, gradiente energético (rn/m) coeficiente de perda de carga localizada coeficiente de contracio fator da formula de Bresse fator de conducao médulo de elasticidade volunétrico (Pa ou kgf! m*) fator de correcdo para determinacdo da tensao permissivel nos taludes B Ar Oo . = m sta de Sinbotoe rugosidade equivalente coeficiente de perda de carga de Scobey comprimento (m) comprimento ao longo do talvegue (rm) comprimento ao longo do vale (m) comprimento da queda (rm) largura efetiva (m) comprimento do ressalto hidraulico (rm) linha de carga linha piezométrica forca especifica (N) expoente de D na expresséo geral de perda de carga massa (kg ou kgf. sm) nivel d’&gua (rm) carga de succao requerida pela bomba (m) carga de succo disponivel na instalagao de bombeamento (m) ndimero de pilares coeficiente de rugosidade de Manning rotacao (rpm) expoente de Q na expresso geral de perda de carga velocidade especifica (rpm) coeficiente de rugosidade de Manning devido aos sedimentos coeficiente de rugosidade de Manning devido as formas do leito fluvial perimetro molhado (mn) pressao (Pa ou kgf/m?) poténcia absorvida pelo conjunto motabomba (W ou cv) poténcia absorvida pela bomba (W ou cv) poténcia hidrdulica (W ou cv) plano de carga estatico poténcia hidréulica bruta (W) poténcia hidraulica disponivel (W) poténcia hidraulica efetiva (W) pressao de vapor absoluta (Pa ou kgf/ m:) presséo resultante, pressdo pseudo-hidrostatica (Pa ou kaf/m?) 19 Funduietos de Engents vazao (m/s ou /s) vazaio dominante (m*/s) vvaz8o ficticia (m*/s ou Vs) vazao de jusante (m°/s ou V5) vazao de montante (m/s ou Vs) vaz8o a seco plena (mils ou Vis) de tempo descarga do material s6lido, em volume por unidade vvazio especifica (m*/s.m) vazao de distribuicdo em marcha (m*/s.m ou s.r) descarga solida em suspensao por unidade de largura (em peso: kgfi/s.m; em massa: kg/s.m) forca resultante (N) raio de curvatura raio hidraulico (rm) ntimero de Reynolds numero de Reynolds de arraste raio de curvatura (m) secao de controle ‘temperatura (C) ‘tempo (5) velacidade média do escoamento (m/s) velocidade a seco plena (m/s ou Ws) velocidade de escoamento (rv/5) velocidade média da carga em suspensio (rn/s) velocidade de arraste (rr/s) peso (N ou kgf) largura da faixa de meandros profundidade (m) profundidade critica (rm) profundidade hidréulica (m) profundidade normal (m) profundidade inicial (rm) distancia do C.G. da superficie plana a superficie livre, 20 wock Una de simbolos segundo o plano da superficie (rm) profundidade na parte anterior da queda (rm) distancia da linha de aco da forca resultante & superficie livre, segundo o plano da superficie (m) profundidade conjugada montante (m) profundidade conjugada jusante (m) energia ou carga de posicao (rn) inclinacao do talude cota do fundo (m) perda de carga (m) perda de carga continua (m) perda de carga localizada (m) perda de carga em curva (rm) perda de carga na succao (rm) perda de carga no recalque, perda de carga no ressaito (rn) perda de carga na transi¢ao (m) distancia entre duas sec6es, passo de célculo (m) perda de carga (rm) coeficiente da energia cinética ou de Coriolis coeficiente da quantidade de movimento ou de Boussinesq Coeficiente da expressao geral de perda de carga densidade relativa relacdo entre velocidade maxima e média peso especttico da agua (kgf/m’) peso especitico dos sedimentos (kgf/m*) diametro do rotor Angulo de repouso do material peso espectfico (Nm? ou kgf/m*) comprimento do meandro rendimento da turbina rendimento do conjunto motobornba rendimento da boriba rendimento do motor viscosidade dindmica (kg/m.s ou kaf.s/m?) viscosidade cinemética (m/s) Angulo do talude com a horizontal massa espectfica (kg/m? ou kgf.s*/m*) nu Fundamantos do Engenharia Hiden massa especifica do solido (ka/m*) dispersao granulométrica tensdo de arraste (kgf/m?) tensdo de arraste critica (kgf/m*) tensao de arraste_no leito (kgf/m’) tensdo de arraste no talude (kgf/m?) tensdo de arraste no talude (kgf/m?) tensao de arraste adimensional velocidade média de queda do sedimento (m/s) volume do fluido (m?) a Apresentacgao livro Fundamentos de Engenharia Hidrdulica teve sua origem na constataco da auséncia de um texto abrangente e atual em Hidrdulica, que atendesse as necessidades do aluno de graduacao em Engenharia Civil da UFMG. Quando da sua primeira edico, em 2002, vislumbrou-se a possibilidade de atingir um objetivo mais ambicioso: um livro de Hidraulica, que possibilitasse ao estudante de graduaco em engenharia, aos estudantes de pés-graducao lato sensu e aos profissionais atuantes nas 4reas de recursos hidricos ¢ saneamento um texto basico de Engenharia Hidraulica, com uma abordagem simples, pratica e moderna. Na presente edicao procurou-se uma ampliacdo desse escopo, de forma a atender também os estudantes de Engenharia Ambiental. Assim, foi introduzido um novo capitulo com tépicos relativos a Hidraulica Fluvial e Transporte de Sedimentos. Na presente edicao, portanto, o livro esta estruturado em 15 capitulos, agrupados, informalmente, em trés partes. Os dois primeiros capitulos tém um carater introdutério, sendo apresentados, no Capitulo 1, de forma bastante sucinta, alguns aspectos historicos da evolucdo da Engenharia Hidraulica, buscando-se também situar 0 contexto atual, as perspectivas e as tendéncias de desenvolvimento. No Capitulo 2 sao revistos topicos gerais de Mecanica de Fluidos essenciais aos estudos que serao desenvolvidos ulteriormente. A segunda parte do livro, capitulos 3 a 6, corresponde ao estudo do escoamento perma- nente em condutos forcados, enfocando os sistemas de condutos, maquinas hidraulicas e instalac6es de recalque. Na terceira parte, capftulos 7 a 12, efetua-se o estudo dos escoamentos livres em regime permanente, contemplando-se aspectos de fundamentaco tedrica e conceitual, permitindo 0 tratamento de algumas aplicacées praticas, objeto da quarta parte do livro, capitulos 13 a 15. Em um contexto bastante pragmatico, nos capitulos 13 e 14 sdo estudadas algumas estruturas hidrdulicas de uso frequente em Engenharia e, no décimo quinto capitulo, sao tratadas as instalacdes hidraulicas prediais. Cabe ressaltar que parte do material aqui apresentado, com as alteracées pertinen- tes, integrou um livro editado pela Associacdo Brasileira de Recursos Hidricos, Hidréulica Aplicada, publicado em novembro de 2001. Da mesma forma, o Capitulo 12, introduzido na presente edicao, foi embasado em um capitulo, redigido pelos autores, integrante do livro Estudos e modelagem da qualidade da agua de rios (von Sperling, 2007). Na 1° reimpressao da 3* edic3o foram efetuadas algumas pequenas correcées e adequacées de forma ao longo do texto. Os capitulos sao estruturados de modo a ilustrar a apresentacéo de cada novo tépico ‘ou conceito introduzido com um exemplo de aplicacao, resolvido no texto. Procurou-se, sempre que possivel, colocar os problemas de forma encadeada, possibilitando uma viso construtivista, mais abrangente e realista da forma de abordagem dos problemas de Engenharia Hidraulica. Ao final de cada capitulo é proposta uma série de problemas, sendo suas respostas apresentadas ao final do livro. Fundements de Engenhois Hidrblicn Em funcao das diferentes ementas e programas de disciplina, bem como de disponibilidade de tempo alocada ao estudo da hidraulica, em diversos capitulos so apresentados alguns itens assinalados como “tépicos complementares”. Estes topicos, correspondentes a pontos consideradas ndo essenciais a uma primeira visao da hidraulica, podem ser estudados ou ndo, de acordo com as especificidades de cada programa de curso ou necessidade particular, Os problemas envolvendo esses tapicos séo também assinalados como “problemas complementares” Com vistas a garantir um carater dinamico a esse livro, encontra-se disponibilizado no site do Departamento de Engenharia Hidrdulica e Recursos Hidricos da UFMG (www. ehr.ufmg,br) um programa computacional destinado a calculos hidraulicos diversos. 0 programa é continuamente atualizado por meio do trabalho de estudantes em Iniciacéo Cientifica; sua Ultima versdo foi desenvolvida com 0 apoio da empresa Pimenta de Avila Consultoria Ltda. Dentro dessa mesma légica, esperamos que apreciac6es, abservacoes, @ sugestées dos leitores sejam encaminhadas aos autores, como jé vern sendo feito, possibilitando methorias no texto e correcdes em geral, justificadas, a priori, pelo ditado “errar é humano" Gostariamos aqui de agradecer as inumeras contribuigées a este livro pelos nossos colegas do Departamento de Engenharia Hidrdulica e Recursos Hidricos da UFMG, especificamente os professores Nilo Nascimento, Carlos Martinez, Luiz Palmier e Marcelo Libanio, sendo que a este Ultimo agradecemos também 0 incentivo cons- tante ao nosso trabalho. Agradecemos ainda o esmero e cuidado com que Cynthia Maciel Pinto preparou grande parte das ilustracdes do livro. Salientamos o intenso trabalho de diversos bolsistas e monitores, hoje ja engenheiros e, em sua maioria, mestres e doutores, que nos ajudaram, ao longo dos anos, no desenvolvimento dos diversos estagios do software disponibilizado, na preparacao de fotos, na elaboracdo e resolugao de problemas e em diversas outras atividades. Destacamos aqui os no- mes de Gladstone Rodrigues Alexandre, Marcelo Jorge Medeiros, Marcio de Oliveira Candido, Francisco Eustaquio de Oliveira, Marco Aurélio Rachid de Araujo, Alisson Pinto Chaves e Juliano Martins Ribeiro. Em termos institucionais, gostariamos de agra- decer 0 apoio logistico e material do Programa de Pés-Graduacao em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hidricos e do Departamento de Engenharia Hidraulica e Recursos Hidricos da UFMG, bem como a Copasa e & Cemig_, pela cessao de fotos. Finalmente, gostariamos de agradecer pelas diversas contribuigées, na forma de sugestdes e correcdes, recebidas de nossos alunos que, ao longo de anos, nos ensinaram a ajudar a aprender. Os autores ma Capitulo 1 A Engenharia Hidraulica O objetivo deste capitulo ¢ descrever, de forma sucinta, a evolucao historica da Engenharia Hidraulica, buscando situa-la no mundo atual, ressaltando seU eScopo e as suas perspectivas no contexto cada vez mais importante da Engenharia de Recursos Hidricos 1.1 Evolucao histérica da Engenharia Hidraulica O termo “Hidraulica”, originario das palavras gregas “hydros” e “aulos”, respec- tivamente “gua” e “conducéo”, € utilizado atualmente para designar 0 conjunto de técnicas ligadas ao transporte de liquidos, em geral, e da dgua, em particular. Constata- -se, portanto, que o sentido atual é bastante préximo do sentido original da palavra, evidenciando a continuidade do seu escopo basico ao longo do tempo ‘AHidrdulica esteve presente ao longo de praticamente toda a historia da humani- dade, em funcéo da necessidade essencial da agua para a vida humana. De fato, tendo em vista que a 4gua distribui-se de forma irregular, no tempo e no espaco, torna-se necessario © seu transporte dos locais onde est disponivel (ou superabundante, no caso de uma inundacdo, por exemplo) até os locals onde € necessaria (ou ndo mais nociva, prossequindo com o exemplo da inundaco). Assim, tendo em vista a necessidade absoluta da agua, a historia da Hidréulica remonta ao inicio das primeiras sociedades urbanas organizadas, quando tornou-se necessérro efetuar-se a compatibilizacao da sua oferta e demanda Com efeito, até 4,000 anos a.C., as atividades humanas produtivas estavam ligadas apenas 4 obtencSo de alimentos diretamente a partir da natureza, através da caca, pesca e extrativismo vegetal, Nao havia, portanto, atividades agricolas, plantacdes e pecuarias organizadas e a populacdo, extremamente esparsa, vivia de forma némade. Neste tipo de sociedade, a engenharia, em geral, e a Hidraulica, em particular, nao desempenhavam nenhum papel significativo (Kirby et al., 1990), sendo que os homens se deslocavam até pontos onde suas demandas em relacdo a dgua fossem atendidas Fundementos de Engenharia Hives Desde a formacao das primeiras aglomeracées humanas, procurou-se sempre efetuar sua implantagao em sitios préximos de cursos d’égua, que pudessem proporcionar 0 suprimento de Agua para o consumo e higiene humanos, bem como para as primitivas atividades agricolas e artesanais. Entretanto, nem sempre a agua estava disponivel em dado local, na quantidade demandada. Em um certo momento, portanto, tornou-se essencial a implantacdo dos primeiros artefatos e obras de conducao de agua, que esto na base do que conhecemos hoje como a “Engenharia Hidraulica”. Assim, encontram-se vestigios de obras hidrdulicas datados de 4.000 a 3.000 a.C. no Egito, lraque, india, Paquistao, Turquia e China (Roberson, Cassidy e Chaudhry, 1995). Um dos vestigios conhecidos mais antigos de obras hidrdulicas consiste de complexos sistemas de canais de irrigacao e de navegacdo, construidos pelos Sumérios, na Mesopotamia. Estes canais constituiram o marco fundamental da civilizagao Suméria e, pode-se dizer, também da Engenharia Hidrdulica uso das aguas subterréneas remonta também a antiguidade, encontrando-se mesmo referéncias no Antigo Testamento. Dever ser aqui citados os notaveis ghanats dos Persas, que eram extensos tUneis, quase horizontais, com comprimentos superiores a 40 km, que interligavam grandes pocos verticais, com profundidades eventualmente superiores a 100 m. A funcao essencial destas estruturas seria o transporte da agua, em condicées mais favoraveis, evitando a elevada evaporacao presente na area durante 0 verdo. Havia ainda uma funcdo complementar do sistema que seria 0 favorecimento da infiltracdo e da recarga dos aquiferos. No Egito antigo, no periodo de 2.950 a 2.750 a.C. presume-se que tenha sido construida a barragem de "Sadd El-Kafara”, no rio Nilo ao sul do Cairo. Os vestigios encontrados evidenciam que a barragem transbordou, tendo sido destruda poucos anos apés sua construco. Se a construcao de uma barragem é um ponto controvertido da Historia, existem indicios sequros de que os egipcios implementaram uma rede de medidas de nivel d’agua no rio Nilo, possibilitando a criagdo de um primeiro sistema de previsSo de cheias. O que se apresenta de forma bastante clara em todo este periodo da Historia é que néo havia uma grande preocupacao cognitiva relativa as obras executadas; conheciam- -se e desenvolveram-se algumas técnicas que permitiam apenas a execucdo das obras necessarias. Nao havia um processo institucionalizado de formalizaco, transmnissio € desenvolvimento técnico e cientifico. Em suma, havia “técnica” e nao “engenharia”, n sentido atual do termo. Os primeiros pensamentos efetivamente cientificos relativos & Hidrdulica so devidos 0s gregos. De fato, chegaram até a época atual escritos de Arquimedes, no século Ill a.C., referentes aos principios de hidrostatica e equilibrio de corpos imersos e flutuantes. Sao conhecidos também escritos de Hero da Alexandria, no século Il a.C., que expressou principios de medidas de vazio e do papel da velocidade no escoamento, entre outros. Hero foi ainda um precursor da engenharia de maquinas hidraulicas, descrevendo a construco de bombas e a utilizaco de forcas hidrostaticas para acionamento de mecanismos. Deve-se citar aqui ainda Ctesibius, a quem se atribui a criacdo da primeira bomba (Rouse; Ince, 1957). Assim, verifica-se que, de forma similar a tantos outros ramos do conhecimento, ‘também na Hidrdulica, os gregos foram grandes pensadores e inovadores. Entretanto, as realizac6es gregas ficaram, principalmente, no plano intelectual: as atividades manuais 26 ‘Angenhara Hera |Coptulo 1 eram, na Grécia Antiga, atribuigoes principalmente dos escravos e as obras de engenharia, excetuando-se as realizacées arquitetdnicas, ficaram relegadas, portanto, ao estritamente necessario, Uma acentuada diferenca de postura pode ser notada quanto aos romanos, que aproximaram-se mais do enfoque de construgso do que da criagdo intelectual. De fato, © papel representado pelos romanos foi mais ligado aos empreendimentos de enge- nharia, sendo que estas atividades eram consideradas importantes; seus profissionais eram respeitados e conceituados, destacando-se mesmo um “Imperador Engenheiro”, cognome dado a Adriano (Prashun, 1987). Além das obras militares e vidrias, bastante conhecidas, os romanos foram, também, grandes construtores de obras hidréulicas, desde complexos sistemas prediais de dguas, como as termas romanas, até grandes obras de abastecimento de agua e esgotamento sanitario e pluvial. Encontram-se, atualmente, vestigios de diversas destas obras, destacando-se cerca de 200 aquedutos, atendendo 40 cidades, sendo que apenas para abastecimento da cidade de Roma foram construidos 11 aquedutos, transportando uma vazo de cerca de 4.000 litros por segundo. Devem ser também aqui destacados o famoso aqueduto Pont du Gard (Figura 1.1), situado no sul da Franca, como grande obra de abastecimento de agua, e a "Cloaca Maxima”, em Roma, como obra de esgotamento sanitatio, sendo que esta ultima ainda permanece em operacao, integrada no sistema de esgotos atual Figura 1.1 ~ Aqueduto Pont du Gard — Vista e secoes Fonte - Adaptado de AIO, 1994. © conhecimento técnico e cientifico romano foi extensamente exposto por Marcus Vitruvius Pollio, em seu tratado De Architetura Libri Decem, e Sextus Julius Frontinus, em seu livro Aguis Urbis Romae, no qual descreve-se a técnica romana na construcao de aquedutos, sisternas de abastecimento de agua, sistemas de esgotos etc. Segundo Prashun (1987), a eitura dos documentos deixa perceber uma compreenséo relativamente pequena dos fendmenos hidraulicos envolvidos com as obras, permitindo efetuar-se a a Fandamentos de Engenharia Mdrulea constatagao de uma relativa contraposicéo e uma certa complementaridade, entre as contribuig6es gregas e romanas para a Hidraulica Vista da Pont du Gard (Franca) Na Idade Média nao foram constatadas contribuicées significativas para a Engenharia Hidraulica, sendo que até as realizacoes romanas cairam em desuso face a auséncia de manutencéo. Entretanto, alguns progressos discretos, porém continuos, foram obser vados, na medida em que diversas pontes foram construidas e o emprego dos moinhos teve seu uso bastante disseminado. No Renascimento, no inicio do século XVI, Leonardo da Vinci (Richter, 1970) inicia uma nova fase de desenvolvimento da Hidraulica, com a publicacao de suas observaces e despertando novas ideias sobre o principio de conservacéo da massa, efeito do atrito no escoamento e a velocidade de propagacao de ondas, lancando as bases da denominada “Escola Italiana” da Hidrdulica. Constatam-se, em seguida, importantes contribuicées, como Torriceli propondo a teoria dos orificios e Guglielmini, desenvolvendo estudos sobre 0 escoamento em rios. Os estudos efetuados pelos italianos eram essencialmente experimentais; a mate- mética nao desempenhava, até entao, um papel significativo (Chadwick; Morfett, 1993) Apenas no século XVI, com as contribuic6es de diversos matematicos e fisicos, tais como Newton, Descartes, Pascal, Boyle, e Leibnitz, ocorreu 0 surgimento da Hidrodinamica, que efetuava uma descricao matematica fina dos fenémenos fisicos envolvidos com o escoamento. Destacam-se também neste momento historico os grandes pioneiros Bernoulli, Euler, Clairaut_e D’Alembert. No século XVIll os progressos da Hidraulica foram baseados tanto na experimentacao como na andlise matemética, com diversas contribuicées na Italia e, principalmente, na 28 An Engenhati idle Caputo 1 Franca, configurando 0 advento do que se pode denominar “Hidraulica Moderna”, com a fundacao da primeira escola de Engenharia do mundo nos moldes atuais, a "Ecole Nationale des Ponts et Chaussées”, em 1744 (Linsley; Franzini, 1978). Destacam-se, nesse periodo, as contribuicées de Pitot, Chézy, Borda, Bossut, du Buat e Venturi, entre outros. ‘Avanos significativos foram alcangados no século XIX, de uma forma relativamente estanque entre os “Hidraulicos Praticos”, com uma abordagem experimental, e os "Hidro- dinamicos Clasicos”, com uma abordagem puramente matematica dos fendmenos. As discrepancias frequentemente observadas entre os resultados experimentals e aqueles Obtidos através do tratamento matematico explicam essa estanqueidade. Em termos experimentais destacam-se os estudos e a introducdo de conceitos sobre viscosidade e turbuléncia por Hagen e Poiseuille e Reynolds, em épocas distintas, bem como os tra- balhos de Weisbach, Bresse e Darcy relativos 8 resisténcia aos escoamentos e perda de carga, ainda hoje em uso. Do ponto de vista da Hidrodinémica devem ser destacados 05 trabalhos de Navier, Stokes, Saint Venant e outros, que contribuiram enormemente para uma descricdo dos escoamentos através do estabelecimento de equacées bastante gerais e abrangentes. Em funcao do intenso desenvolvimento industrial no final do século XIX e inicio do século XX, tornou-se essencial um estudo mais refinado do escoamento dos fluidos. ‘Assim, em 1904 Prandtl (Bastos, 1983) vem conciliar os dois ramos da Hidraulica, intro- duzindo a teoria da camada limite, explicando assim 0 comportamento distinto do fluxo de acordo com as condigées de contorno e as divergéncias entre a Hidraulica tedrica € experimental. Origina-se, deste modo, a Mecanica dos Fluidos”, que conhece avangos extraordinarios com os trabalhos de von Karman, Nikuradse, Moody, Colebrook e outros. O advento da informatica possibilitou uma verdadeira revolucéo na Hidraulica, permitindo a modelagem dos escoamentos permanentes e transitérios, j& conhecidos, do ponto de vista tedrico desde o século XIX, mas que necessitavam de ferramentas de célculo até entao nao disponiveis. A constante evolucao da informatica, com a introducso de métodos numéricos e computacionais cada vez mais potentes, permite descortinar uma perspectiva de intenso desenvolvimento na Engenharia Hidraulica. Assim, a Hidréulica recebeu contribuigdes de inimeros estudiosos a0 longo de sua historia, conforme pode ser visto no Quadro 1.1, no qual so relacionados alguns hidrdulicos notaveis e listadas algumas da suas contribuic6es mais importantes Quadro 1.1 - Alguns hidréulicos notaveis e suas contribuicdes Nome Origem e periodo __Contribuicées principais Arquimedes Siracusa primeiro texto conhecido sobre a Hidraulica; 287 aC. - 212 a. introduziu 0 conceito de empuxo Leonardo da Vinci italia elaborou estudos € projetos dentro dos 1452-1519 conceitos atuais de Engenharia Hidréulica Evangelista Torricelli tala pioneiro de estudos experimentais; estudos 1608 - 1647 de orificios e jatos Daniel Bernouli Holanda precursor de abordagem tedrica da 1700 - 1782 Hidraulica Leonhard Euler Sufga equacdes gerais do movimento dos fluidos 1707 - 1783 perfeitos 9 ne Fundamentos de Engenhari Mr | Antoine Chézy Franca estudos experimentais relativos & resistén- 1718-1798 cia ao escoamento: Jean Charles de Borda Franca estudo do escoamento junto a embarca- 1733 - 1799 gdes, bombas e orificios; express6es para cAlculo de perdas de carga locelizadas Louis Marie Henri Franca contribuicao teérica a Hidrodinamica Navier 1735 - 1836 Gaspard Gustave Franca aceleragao em sistemas em rotacao; introdu- de Coriolis 1792 - 1843 cdo de coeficientes para velocidade Jean-Claude Bamé de Franca escoamento nao permanente ‘Saint Venant 1797 - 1886 Henri-Philbert-Gaspard Franca escoamento em meios porosos e em Darcy 1803 - 1858 tubulagées | Ludwig-Julius Alemanha contribuicées experimentais concernen- | Weisbach 1806 - 1871 tes 4 resisténcia ao escoamento | William Froude Inglaterra modelagem fisica em Hidréulica 1810 - 1879 Robert Manning INanda proposicéo e divulgacao de expressées 1816 - 1897 de resisténcia ao escoamento em canais abertos George Gabriel Stokes _Irlanda equacoes gerais do escoamento 1819 - 1903 Orborne Reynolds Irlanda conciliacdo de resultados experimentais 1842 - 1912 e tedricos Joseph Boussinesq Franca contribuicgo te6rica ao estudo de coefi- 1842 - 1929 Gentes de velocidade e turbuléncia Boris Bakhmettef Russia ressalto hidrulico energia nos escoa- 1880 - 1951 mentos livres Ven Te Chow China consolidacéo e divulgacdo da Hidrdulica 1919 - 1981 ¢ Hidrologia 1.2 _O panorama e escopo atual da Engenharia Hidraulica No contexto atual, pode-se definir a Engenharia Hidraulica como sendo a érea da engenharia correspondent & aplicacdo dos conceitos da Mecénica dos Fluids na resolugso de problemas ligados & captacéo, atmazenamento, controle, transporte e uso da agua. Desta forma, percebe-se que a Engenharia Hidrdulica desempenha um papel significativo em diversas modalidades de engenharia, integrando-se também em diversos outros campos profissionais. No campo de trabalho especifico da Engenharia de Recursos Hidricos, a Engenharia Hidraulica encontra-se presente em praticamente todos os tipos de empreendimentos, 30 ‘Akngerhaa Heke | Capitulo 1 como sistemas hidrdulicos de geracao de energia, obras de infraestrutura, tais como canais, portos, hidrovias, eclusas etc., como pode ser visto na Figura 1.2. Figura 1.2 — Alguns usos atuais da agua Usina Hidrelétrica de Séo Simo (MG) - Foto: Cemig Fundomentos de Engenharia Mdrsulea Apenas para citar um exemplo brasileiro de grande empreendimento de geracao de energia elétrica, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, no rio Parana, com vazdo média didria de cerca de 2.000 ms e altura maxima de queda de 128 m, € equipada com 18 turbinas com capacidade nominal de 12.870 MW, gerou 93.428 GWh no ano 2000. Aaanalise dos problemas ligados ao projeto e gestao de reservatorios, a propagacao de cheias e a delimitacao de areas inundaveis, entre outros, utilizam a Hidraulica como importante ferramenta de trabalho. Em Saneamento Basico, a Engenharia Hidrdulica desempenha também um papel importante em grande parte dos empreendimentos. Com efeito, a Hidrdulica encontra-se presente desde a captacao, aducao e distribuicao de aguas de abastecimento urbano e industrial, até os sistemas de coleta e esgotamento sanitério e de drenagem pluvial, passando pelas estacdes de tratamento de agua e esgoto, Diversas so também as inter-relac6es da Hidrdulica com a Engenharia Ambiental, cada vez mais importante no contexto atual, De fato, as questdes ligadas a preservacéo dos habitats em meios aquéticos, a dispersao e difusdo de poluentes, os problemas de erosdo e assoreamento, entre outros, fazem intervir a Hidraulica. Na Engenharia de Transportes a Hidrdulica também faz-se presente, sobretudo no tocante a obras de infraestrutura de transporte, tais como bueiros e pontes, além dos portos, hidrovias, eclusas, jé citados anteriormente. A Engenharia Hidraulica encontra ainda importantes aplicagdes em dominios tais como aiirigacdo e drenagem de dreas agricolas, processos industriais diversos, sistemas e maquinas hidrdulicas etc. Pode-se citar 0 exemplo do Projeto Jaiba, localizado as margens do rio So Francisco, no norte do Estado de Minas Gerais que, com vazo nominal de 80 mis, foi projetado para a irrigacao de cerca de 100.000 ha, através de uma rede de mais de 247 km de canais. 1.3 Desafios e perspectivas Conforme visto ao longo deste capitulo, a Engenharia Hidrdulica apresenta um am- plo espectro de atuacao na sociedade atual, experimentando hoje uma fase de intenso desenvolvimento cientifico e tecnolégico, em resposta ao uso cada vez mais intenso dos recursos naturais, com projetos cada vez mais complexos e de maior envergadura. crescimento da populacdo mundial e o desenvolvimento econémico, com as demandas correspondentes em agua, tanto para consumo direto, como também para insumo industrial e agricola, ensejam uma utlizaco e valorizacao crescente dos recursos hidricos. Por outro lado, as questoes ambientals concernentes a Agua implicam na neces- sidade de que a utlizacSo do recurso seja feita mais racionalmente, de forma compativel com os conceitos de desenvolvimento sustentavel. Pode-se discernir, portanto, uma ten- déncia de crescimento do papel da Engenharia Hidraulica, no contexto socioecondmico € ambiental em que se insere a Engenharia de Recursos Hidricos. 32 1 Engenharis Herts I Capo Modelo reduzido de vertedor Os aspectos de pressdo de demanda, em quantidade e qualidade, vérn certamente condicionar o desenvolvimento tecnoldgico da Engenharia Hidrdulica. Este desenvolvi- mento implica, necessariamente, continuos avangos cientificos, centrados no melhor conhecimento do comportamento dos sistemas e dos processos hidrdulicos envolvidos. Do ponto de vista experimental, importantes avancos em equipamentos de medicao em laboratorio e em escala real, com avancados sistemas de aquisicao e tratamento de dados, tornam possivel uma abordagem mais fina dos fendmenos hidraulicos, incremen- tando as possibilidades e reduzindo prazos e custos da modelagem fisica. Os recursos computacionais atuais, com a reducdo de tempos de processamento ¢ incremento das possibilidades de calculo, tornam possivel a simulacao matemética de sis- temas hidrdulicos complexos, fazendo intervir possantes e refinados modelos numéricos Por outro lado, tornou-se possivel a abordagem de alguns processos hidraulicos através de novos conceitos ¢ teorias. Como exemplo, pode-se citar a utilizaco dos conceitos de turbuléncia, anteriormente com 0 uso limitado ao campo de fenémenos de transporte mais refinado e que vém sendo adotados na area de Engenharia Hidraulica. Uma tendéncia que 6 possivel discernir corresponde ao incremento da comple- mentaridade entre a modelagem fisica e a modelagem matematica. Técnicas cada vez mais avancadas e sofisticadas para medicao e aquisic3o de dados suprem as necessidades crescentes de informagdes dos modelos de simulacéo matematica, capazes de representar 95 fendmenos fisicos envolvidos em complexidade crescente e com condicées de contorno mais diversificadas e realistas. Assim, face ao significativo papel da Hidraulica na sociedade atual e face & crescente complexidade no tratamento das questées envolvidas, visualizam-se importantes desafios cientificos e tecnologicos para Engenharia Hidraulica no futuro. B Capitulo 2 A mecanica dos fluidos na Hidraulica Neste capitulo séo apresentados, resumidamente, alguns tépicos basics da Mecanica dos Fluidos necessdrios ao estudo da Hidrdulica, tais corno sistemas de unidades, propriedades fisicas dos fluidos e conceitos de hidrodinamica e hidrostatica 2.1 Introducdo_ ‘A fundamentacao tedrica da Hidraulica esta contida na Mecdinica dos Fluidos e con- sequentemente na Fisica. Assim, enquanto esta estuda o comportamento da matéria nos irés estados (sélido, liquido e gasoso), a Mecénica dos Fluidos trata dos fluidos (liquidos € gases) e a Hidraulica apenas dos liquidos, mais especificamente da agua. Entretanto, os elementos tedricos originarios da Fisica nao sao suficientes per si para resolver todos os problemas praticos da Hidrdulica, requerendo esta, quase sempre, de dados experimentais. Desta maneira, os fundamentos dos itens apresentados neste livro esto alicercados na Fisica classica € no empirismo. Para anélise destas quest6es, principalmente as relacionadas com equas6es e proprie- dades fisicas dos fluidos, apresentam-se a seguir as unidades das grandezas normalmente utilizadas neste livro e o principio da homogeneidade dimensional. 2.1.1 Sistemas de unidades Para efetuar-se a medida de determinada grandeza, tal como comprimento, forca, ou mesmo, alguma propriedade do fluido, é necessario comparé-la com outra grandeza de mesma espécie. O padrao de medida que serve para comparagao é denominado de unidade. Conforme a natureza da grandeza considerada, as unidades podem ser fundamentals ou derivadas. © conjunto formado pelas unidades das grandezas fundamentais e pelas unidades das grandezas derivadas é denominado Sistema de Unidades. No Brasil, desde 1962, adota-se Fundamentos de ngenria Hirota oficialmente o Sistema Internacional (SI), baseado em 7 grandezas fundamentais, basicas. As abreviaturas das unidades sao escritas em letras minusculas, com excecao das unida- des derivadas de nomes proprios, que devem iniciar-se com letras mailisculas, conforme mostra 0 Quadro 2.1 Quadro 2.1 - Grandezas fundamentais ~ simbolos e unidades Grandezas fundamentais _Simbolo_Unidade Abreviatura da unidade Comprimento L Metro, m Massa M Quilograma kg Tempo: T Segundo s Intensidade corrente elétrica I Ampere A Temperatura 6 Kelvin K Quantidade de matéria q Mole mol I Intensidade luminosa Candeia cd. Na Fisica, em geral, e na Hidraulica, em particular, adotam-se como grandezas fun- damentais a Massa M, 0 Comprimento L e 0 Tempo T, dai a denominacao de Sistema MILT, em substituicdo ao nome de Sistema Internacional. As unidades correspondentes & massa, a0 comprimento € a0 tempo s4o 0 quilograma (kg), 0 metro (rm) e 0 segundo (8), respectivamente Outro sistema muito utilizado no Brasil ¢ o Técnico ST, também denominado FLT, bem semelhante ao SI, Contudo, utiliza-se a forca F como grandeza fundamental, cuja unidade é 0 kgf, no lugar da massa, além do comprimento e do tempo, Por outro lado, a massa passa a ser uma grandeza derivada, cuja unidade é denominada unidade técnica de massa (utm). A passagem de um sistema ao outro ¢ feita pela aplicacao da segunda lel de Newton (F = m.a), estabelecendo dessa maneira que’ tutm=tkgt.s?//m lutm = 9,8Ikg IN=1kg-m/s? Ikgf = 9,81N O Quadro 2.2 contém as unidades das grandezas normalmente utilizadas na Hidraulica, nos sistemas internacional € técnico. Quadro 2.2 - Unidades utilizadas nos sistemas usuais Grandezas Simbolo Abreviatura das unidades Sistema Internacional istema Técnico Massa M kg kgf.st/m (utm) Comprimento L m m Tempo T s s Forca F N kof 36 ‘A Mecinica dos Fides na Hila | Capt 2 2.1.2 Principio da homogeneidade dimensional O principio da hornogeneidade dimensional é utilizado para facilitar o desenvolvi- mento de equacées e a converséo de sistemas de unidades. Através deste, é possivel representar, por exemplo, as leis da Fisica pelas grandezas fundamentais dos sistemas internacional ou técnico. Este principio estabelece que uma equacao ¢ dita homogénea dimensionalmente, quando os seus diferentes termos apresentam o mesmo grau com relacao as grandezas fundamentais, E importante ressaltar, entretanto, que o principio da homogeneidade dimensional, embora seja uma condigao geral para a validade de uma equacéo, nao é suficiente. Por outro lado, & possivel terse equacdes ndo homogéneas, ou seja, equacdes cujos diferentes termos nao apresentam as mesmas dimensées, sendo validas em um determinado sistema de unidades, para uma determinada gama de valores das grande- zas intervenientes. Em geral, estas equagbes sao oriundas de experiéncias conduzidas empiricamente. Exemplo 2.1 Determinar a equacdo da distancia percorrida por um corpo em queda livre, considerando-se que a distancia percorrida d depende do peso do corpo P, da aceleracao da gravidade g e do tempo t, ou seja: d=kPgt (2.1) sendo k um coeficiente adimensional, geralmente determinado experimen- talmente efou por analise fisica. Solugéo Pelo principio da homogeneidade dimensional, para que esta equacdo seja homogénea os expoentes das grandezas fundamentais envolvidas devern ter 0 mesmo grau, em ambos os membros da equacao. Expressando, en- ‘tao, as grandezas envolvidas em termos das grandezas fundamentais MLT e substituindo-as em (2.1) tem-se: L MLT iP T MPLIT. = (MPL? T) (OT) (F) +e va ¥Uyy 37 eee nee en eee Fundementos de Engenharia Wdrulce Relacionando os expoentes de M, L, e T na equacao anterior, tem-se, respectivamente: O=a > Tsa+b > 0=-2a-2b+¢C > Substituindo-se os valores de a, be c na equacdo (2.1), obtém-se as dimensées da distancia em relacdo 8s grandezas fundamentais MLT, de onde pode-se concluir que a distancia independe de "P” d=kPgt =» d=kgt A aplicacao desse principio permite obter o mesmo resultado, utilizando-se tanto as grandezas fundamentais MLT quanto FLT. 2.2 Propriedades fisicas dos fluidos Fluidos so substancias no estado liquido ou gasoso que se deformam continua- mente sob a acdo de alguma forca cisalhante. Este texto trata especialmente dos liquidos newtonianos, isto 6, dos liquidos em que a taxa de deformacao varia linearmente com a forca de cisalhamento aplicada. Algumas propriedades fisicas dos iquidos e em especial da Agua sdo apresentadas a seguir. Massa especifica ou densidade absoluta Massa especifica ou densidade absoluta é a relagao entre a massa do fluido e o seu volume. p =v (2.2) sendo: p = Massa especifica ou densidade absoluta do fluido m = massa do fluido ‘v =volume do fluido ‘A massa especifica depende da presséo e da temperatura (ver Quadros 2.3 € 2.4). Entretanto, em condic6es normais, a variagéo dessa grandeza é pequena e, comumente, considerada constante, Na maioria dos problemas, adotam-se para a 4gua os valores da massa especfica a 4°C, ou seja, p =1000 ko/im? no sistema internacional ou p =102 kgts*/m* no 8 A Mecca dos Fidos na Hirauiea | Cape 2 sistema técnico. Excecéo se faz aos escoamentos transitérios, nos quais essa propriedade deve ser considerada como uma funcao da pressdo que é muito varidvel, ou em escoa- mentos com elevadas temperaturas. Para todas as aplicacOes praticas deste livro, salvo indicacao em contrario, sero adotados: p = 1000 kg/m? = 102kgf.s*/m*. Densidade relativa Densidade relativa (6) é a relacdo entre a massa especifica de uma substancia para ‘outra tomada como referéncia. Normalmente, para liquidos, a agua a 4°C é tomada como padrao, 0 que corresponde a p,=1000 kg/m? ou p,=102 kaf mrs®, Assim, a densidade relativa da Agua, independe do sistema de unidade, podendo ser considerada igual a unidade (8 =1) em grande parte dos problemas. Para todas as aplicaces praticas deste livro, salvo indicado em contrério, ser adotado 6 = 1. 5 =p/p, (2.3) Quadro 2.3 - Propriedades fisicas da 4gua - sistema internacional Temperatura Massa Peso Pressiode Médulode Viscosidade Viscosidade Especifica Especifico Vapor ——_Elasticidade Dindmica —_Cinematica Volumétrico T P 7 Bae K e Vv °C kg/m? __N/m? Pa 107Pa__107kg/ms__ 10% m/s 0 999.9 9805 611 204 1,79 179 5 1000,0 9806 873 206 1,52 1,52 10 99,7 9803 1266 21 1,31 131 15 999,1 9798 1707 214 114 114 20 998.2 9789 2335 220 1,01 4,01 25, 997.1 9779 3169 222 0,89 0,90 30 995,7 9767 4238 223 0,80 0,80 35 9941 9752 5621 224 0,72 0,73 40 992.2 9737 7377 227 0.66 0.66 45 990.2 9720 9584 229 0,60 0,61 50 988,1 9697 12331 230 0,55 0,56 55 985,7 9679 15745 231 051 0,51 60 983.2 9658 19924 228 0,47 0.48 65 980,6 9635 25015 226 0,44 0,44 70 977.8 9600 31166 225 041 0,42 5 9749 9589 38563 223 0,38 0,39 80 9718 9557 47372 221 036 037 85 968,6 9529 57820 217 034 035 90 9653 9499 70132 216 0,32 033 95 961,9 9469-84552 2u 0,30 031 100 9584 9438101357 207 _0,28 0,30 39 Fundamentos de Engenhri Herslca Quadro 2.4 ~ Propriedades fisicas da Agua - sistema técnico Temperatura Massa Peso Presséo de Médulo de Viscosidade Viscosidade Especifica Especifico Vapor —_Elasticidade pingmica _ Cinemética Volumétrico a ? ¥ a K it v °C ___Kgfis¥m* kgf/m? _Kgffm? 10°Kgf/m? 10° kg/ms 10° m/s 0 101,9 999.9 62 2,08 1,83 1,79 5 101,9 1000, 89 2,10 1,55 1,52 10 101,9 © 9997129 2,15 1,33 131 15 101,8 99,1 174 2,18 1,16 114 20 1018 98,2238 2,24 1,03 101 25, 101.6 © 997.1323 2,26 0.91 0.90 30 1015 995,7432 2.27 0,82 0,80 35, 101.3 9941573 2,28 0,74 073 40 101,192,272 231 0.67 0,66 45 100.9 990.297 2,33 0.61 0,61 50 100.7 98811257 2,34 0,56 0,56 55 1005 9857. 1605 2,35 0,52 051 60 1002 98322031 2,32 0,48 0,48 65 1000 9806 2550 2,30 0,44 0,44 70 99,7 977.8 3177 2.29 0,42 0,42 75 99,4 © 974,9 (3931 2.27 039 0,39 80 99,1 9718 4829 2,27 0,36 0,37 85, 987 9686 ©5894 221 034 0,35 90 984 965,37149 2,20 0,32 0,33 95 98,1 9619-8619 215 0,31 0,31 100 97,7___958,4__ 10332 211 0,29 0,30 Peso especifico Peso especifico é a relacdo entre 0 peso do fluido e o seu volume. yew (2.4) sendo ‘Y= peso especifico do fluido W = peso do fluido = volume do fluido Pela segunda lei de Newton W = m.g, sendo ma massa eg a aceleracao da gravi- dade, Substituindo este valor de W na equacdo (2.4), juntamente com a equacao (2.2), tem-se y = pg. Conclui-se, portanto, que o peso especifico depende da pressao e da ‘temperatura, j4 que p também depende destas caracteristicas. Para todas as aplicacées praticas deste livro, salvo indicacéo em contrario, serao adotados: y = 9810 N/m? = 1000 kgf/m? eg = 9,81 m/s, Os Quadros 2.3 e 2.4 relacionam os valores do peso especifico da agua em diferentes temperaturas, entretanto, como a variagao dos valores do peso especifico € pequena, 40 A Mecca des lids na Herauliea |Captul 2 em grande parte dos problemas utiiza-se 0 valor padréo: y =9,81x10* Nin? ou'y =1000katim?, nos sistemas de unidades internacional e técnico, respectivamente. Pressao A relacao entre a forca normal que age contra uma superficie plana e sua area é definida como presséo média (P = F/A). Quando esta area se aproxima de zero, em torno de urn ponto, tem-se, por definicao, a presséo no ponto, sendo a direcao da pressdo sempre normal a superficie. A medida dessa grandeza no sistema técnico ¢ denominada Pascal (Pa), sendo 1 Pa = 1 N/m? s_, F Ba time tina (2.5) em que: P : pressao num ponto F : esforco normal a superficie A: area da superficie Também leva 0 nome de Pascal a lei que estabelece que num fluido em equillbrio a presso num ponto é a mesma em todas as direcGes, independentemente da orientacdo da superficie em torno do ponto, ou seja: (2.6) Pressdo de vapor Pressdo de vapor corresponde ao valor da pressdo na qual o liquide passa da fase liquida para a gasosa. Na superficie de um liquido ha uma troca constante de moléculas que escapam para a atmosfera (evaporacao) e outras que penetram no liquido (con- densacao). Visto que este proceso depende da atividade molecular e que esta depende da temperatura e da pressao, a pressio de vapor do Iiquido também depende destes, crescendo 0 seu valor com 0 aumento da presséo e da temperatura. Quando a pressdo externa, na superficie do liquido, se iguala 8 pressdo de vapor, este se evapora. Se 0 proceso no qual isto ocorre é devido ao aumento da temperatura do liquido, permanecendo a pressao externa constante, 0 proceso ¢ denominado de evaporacao. Caso isto se dé pela mudanca da pressdo local enquanto a temperatura permanece constante, 0 fendmeno é conhecido.por cavitacso. Este fenémeno ocorre, normalmente, em escoamentos sujeitos as baixas press6es, proximos 8 mudanca de fase do estado liquido para 0 gasoso e constitui um grande problema em vertedores, valvulas e succéo de bombas. Valores da presséo de vapor, para a agua, séo mostrados nos Quadros 2.3 e 2.4. a" Fundomentos de Engenharia Wedrbulca Moédulo de elasticidade volumétrico O médulo de elasticidade volumétrico é a relagdo entre o incremento de pressao (AP) aplicado ao fluido e a variacao relativa de volume (AV/ v), dando, portanto, a medida da compressibilidade do fluido através da relacéo: = - ARV JAW (27) | em que: K = médulo de elasticidade volumétrico do liquide | AP = incremento de pressao | AW= variagdo do volume devido a AP Y= volume do liquido Em grande parte dos problemas que envolvem escoamento de liquidos, a compressi- | bilidade pode ser desprezada, uma vez que as mudancas de volume para as variacbes de t pressdes normalmente existentes sdo irrelevantes. Entretanto, no estudo de transientes >» } hidrdulicos © médulo de elasticidade volumétrico passa a ser importante, pois as oscilacoes, | das press6es s4o de maior monta, afetando a velocidade de propagacao das perturbacdes no meio liquido. Para a Agua, os valores do médulo de elasticidade sao mostrados nos Quadros 2.3 e 2.4. Viscosidade Viscosidade ¢ a resistencia do fluido 8 deformacéo, devida principalmente as forcas de coesdo intermolecular. Consequentemente, essa propriedade s6 é evidenciada com 0 escoamento do fluido, apresentando menor fluidez os fluidos de alta viscosidade e vice-versa, | Newton estabeleceu que num escoamento unidirecional, como o representado na | Figura 2.1, a tensdo tangencial t 6 proporcional ao gradiente de velocidade dv/dy, sendo | 0 Coeficiente de proporcionalidade a viscosidade dinamica do fluido 1. Os fluidos que t seguem esta lei so chamados de newtonianos. t=ydvidy (Lei da Viscosidade de Newton) (2.8) PLACA MOVEL PLACA FIXA Figura 2.1- Diagrama de velocidade de um fluido escoando entre duas placas planas a2 nn LL LED ETE ER RT RO Fo ETE OE A Mecinca dos Fides na Were Capo 2 A razao entre a viscosidade dinamica do fluido y e sua massa especifica p édenomi- nada viscosidade cinematica v e é frequentemente utilizada, pois 0s efeitos da viscosidade tornam-se mais evidentes com menor inércia do fluido. v=nhp (2.9) 0 Quadro 2.3 mostra no sistema internacional de unidades 0 valores da viscosidade dinamica e cinematica da agua, a diferentes temperaturas, o mesmo acontecendo no Quadro 2.4 para o sistema técnico. 2.3 Classificagéo dos escoamentos Uma classificacao geral basica, que norteia o estudo da Hidraulica, diz respeito a pressao reinante no conduto, podendo o escoamento ser forcado ou livre. No primeiro caso a presséo € sempre diferente da atmosférica e portanto 0 conduto tem que ser fechado, como nas tubulacées de recalque e succao das bombas ou nas redes de abas- tecimento de agua. No escoamento livre a presséo na superficie do liquido é igual 8 atmosférica, podendo o conduto ser aberto, como nos canais fluviais, ou fechado, como nas redes de coleta de esgoto sanitario Plezémetro — ee Tube bea Segdo AA Conduit foreado zs Sesto BB Condut livre Figura 2.2 - Escoamento forcada e live 4B Fandamenos de Engenharia Hiren ‘Adutora ~ conduto forgado — e canalizacéo do ribeirdo Arrudas — escoamento livre (Belo Horizonte, MG) Quanto a direcéio na trajetoria das particulas, 0 escoamento pode ser Jaminar ou turbulento. A experiéncia de Osborne Reynolds, que consiste na injecao continua de | um corante em um ponto do escoamento, permite visualizar estes dois tipos de fluxo | (ver Figura 2.3). No fluxo laminar 0 corante forma um filete bem definido, sem misturar 1 com 0 liquido, uma vez que as varias camadas do Iiquido se movern sem perturbacao. i | JA no escoamento turbulento, as particulas do liquido tém trajetérias irregulares, cau- sando uma transferéncia da quantidade de movimento de uma parte a outra do fluido. Neste caso, ocorre a mistura do corante na massa liquida. Na Engenharia Hidraulica, em i geral, os escoamentos se enquadram na categoria de turbulento. O escoamento laminar pode ocorrer quando 0 fluido é muito viscoso ou a velocidade do escoamento € muito pequena, como nos decantadores das estacdes de tratamento de agua Filamento de tnt ees | Sa Oe ° \ ube Fluxo laminar Fluxo turbutento Figura 2.3 - Escoamento laminar e turbulento Com efeito, considerando as indicacées de Reynolds, tem-se: Re=pUD/u ou Re = UDjv (2.10) em que Re : Numero de Reynolds; U_ : Velocidade média do escoamento; D, : Dimensao geometrica caracteristica; p_ : Massa especifica; pt: Viscosidade dinamica; v_ : Viscosidade cinematica | Mecca dos Fidos na Haut Capt 2 Para os escoamentos livres, adota-se o raio hidraulico R,, como dimensao geométrica caracteristica, e para os escoamentos em condutos forcados 0 diametro D, como sera visto oportunamente, © Quadro 2.5 apresenta os niimeros de Reynolds correspondentes 05 regimes de escoamento verificados na experiéncia citada, conforme os escoamentos se deem em escoamentos livres ou forcados Quadro 2.5 - Regime de escoamento e o ntimero de Reynolds Regime Condutos Livres ‘Condutos Forcados Re=UR/v Re=UD/v Laminar Re < 500 Re < 2000 Transigaio 500 < Re < 1000 2000 < Re < 4000 Turbulento Re > 1000 Re > 4000 Quanto a variacdo no tempo os escoamentos se classificam em permanentes ¢ tran- sit6rias. No regime permanente nao ha variacdo das caracteristicas de escoamento com © tempo; assim, a velocidade v e também outras propriedades como massa especifica P, pressao p etc. serdo expressas matematicamente como sendo avfat = 0, Ap/at = 0, ap/at = 0 De maneira similar, tem-se nos escoamentos transitorios: av/At # 0, Ap/at # 0, Ip/at + O Os escoamentos transit6rios podem ainda ser subdivididos de acordo com a taxa de variacao da velocidade e da pressao. Se estas variam lentamente, como no escoamento em uma tubulacéo abastecida por um reservatério de nivel variavel, a rudanca é lenta @ @ compressibilidade do liquido nao & importante. Entretanto, quando a mudanca é brusca, como nos casos de fechamento répido de valvulas em condutos forcados, on- das de pressdo s8o geradas € transmitidas com a velocidade de propagacao do som e causam uma variagao acentuada de presséo, sendo a compressibilidade, nestes casos, fator importante no fenémeno, chamado de transiente hidrdulico ou golpe de arlete Caracteristicas hidraulicas Caracteristicas hidraulicas constantes no tempo varidveis no tempo 5 4 Fluxo permanente Fiuxo transient Figura 2.4 - Escoamento p Com relacao a trajetéria os escoamentos podem também ser classificados em unifor- ‘mee variado. No escoamento uniforme o vetor velocidade € constante em médulo, direcao 45 Fundarentas de ngenhoa Hdratea e sentido, em todos os pontos, para qualquer instante, isto quer dizer, matematicamente, que av/as = 0, sendo vo vetor velocidade e s 0 deslocarnento. Exemplos de escoamento uniforme s4o encontrados nos condutos de secao constante de grande extensao, como adutoras e canais prismaticos em que a altura da lamina d’agua é invariavel. No escoamento variado év/as # 0. Condutos com varios didmetros ou canais com declividades variaveis, como o mostrado na figura a seguir, s80 exemplos de escoamento variado, = Bruscamente Variado Gradualmente Variado Uniforme. Fluxo permanente variado Figura 2.5 - Escoamento variado Tem-se ainda os escoamentos unidimensionais, bidimensionais e tridimensionais, conforme o niimero de dimensoes envolvidas no fendmeno. No primeiro tipo sao des- preziveis as variacées das grandezas na direcéo transversal a0 escoamento, tendo em vista as variacdes dessas mesmas grandezas ao longo do escoamento. Os escoamentos em condutos forcados sao considerados unidimensionais, uma vez que as grandezas, do tipo velocidade, pressao e propriedades fisicas, sd0 expressas em termos de valores médios constantes para a seco transversal. No escoamento bidimensional admite-se que as variacdes das grandezas podem ser expressas em funcao de duas coordenadas, ou seja, as variacbes da velocidade, da presséo e demais grandezas podem ser descritas num plano paralelo a0 do escoamento. 0 tridimensional ¢ o mais geral, sendo que suas caracteristicas variam nas trés dimens6es € por isso mesmo sua andlise exige métodos matematicos mais complexos.

y,, Jp = Yor IVA (2.27) 6 fundaments de Engenharia Hiri yp, = distancia da linha de acéo da forca resultante & superficie livre, segundo o plano da superficie |, =momento de inércia da superficie plana em relagao ao eixo que passa pelo seu centro de gravidade (ver Quadro 2.6) y, =distancia do centro de gravidade da superficie plana a superficie | livre, segundo o plano da superficie. Quadro 2.6 - Momentos de inércia de algumas figuras importantes | Forma Figura Ip tang , x Retangular cede He i o Triangular ba 36 Circular not Comportas retangulares (Canal de la Durance, Franca) 62 |AWMectrica dos Fides na Hibs | Capo 2 Exemplo 2.5 Uma barragem de terra e enrocamento é projetada para uma lamina d’égua maxima de 9,0 m. Considerando a seco transversal mostrada na figura a seguir, pede-se determinar: a) O esforco exercido pela agua armazenada por unidade de largura da barragem, b) A localizacao do esforco calculado no item anterior. Solucao a) Utilizando a equacao (2.26) para se determinar o esforco em 1,0 m da barrage, tem-se: FE =yhA y =1000kgf/m? A=AB-1,0=14,0m? F =1000-4,5-14,0 = 63000kgf ou F =618030V b) Pela equacao (2.27) =7,0m 63 Fundemantos de Engentri Hdeulica O retangulo, de base igual a 1,0 me altura de 14,0 m, tem para o momento de inércia (/,) a expresso seguinte, mostrada no Quadro 2.6: 1 - ba _ 10-140" = = 228,7m* a2, 12 : __Problemas___ | 2.1 Estabelecer a expressdo matemidtica da relacdo entre o tempo percortido (t) em queda livre de um corpo no vacuo, sujeito a gravidade (9), a uma altura (h), utilizando o principio da homogeneidade dimensional. 2.2 Utilizando © principio da homogeneidade dimensional, estabelecer a relacéio matematica que existe entre a energia fornecida por uma bomba (P), 0 peso espe- Gifico do fluido (9), a vazio (Q) € a altura de carga fornecida pela bomba (Hm), 2.3Um bocal convergente de 100 mm x 50 mm é colocado num sistema para assegurar uma velocidade de 5,0 m/s na extremidade menor do bocal, Calcular a velocidade, a montante do bocal e a vazéo escoada 2.4 Calcular a forca requerida para segurar um esquicho de mangueira de incéndio que ten 63 mm de diametro na entrada e 19 mm na saida, quando este esta des- : pejando 4,0 Vs de égua para atmosfera. Considerar desprezivel a perda de carga no bocal a0 longo de 1 km de extensao. O canal tem inicio na cota 903,0 onde a famina : d’agua é de 1,0 m. Supondo que na seco final do canal a cota seja 890,0 mea velocidade média 3,0 m/s, pede-se calcular a perda de carga total entre o inicio e © término do canal | 2.5Um canal retangular com 5,0 m de largura transporta uma vazéo de 10 m*/s [A Mecirica dos Fidos na Hida | Cepto 2 2.6 Por um canal retangular de 2,0 m de largura, posicionado a 20 m do nivel de referéncia escoam 3,0 m/s de agua a uma profundidade de 1,8 m. Calcular a energia hidraulica total na superficie da agua em relacao ao nivel de referéncia 2.7 Uma tubulacao de 500 mm de diametro, assentada com uma inclinagao de 1%. ao longo de 1 km do seu comprimento, transporta 250 Us. Sabendo-se que a pressao a0 longo da tubulacao é constante, determinar a perda de carga neste trecho. 2.8Um tanque contém 0,50 m de agua e 1,20 m de éleo cua densidade relativa 6 0,80. Calcular a pressao no fundo do tanque e num ponto do liquido situado 1a interface entre os dois liquidos. Expressar os resultados nos sistemas técnico e internacional 2.9Uma vazao de 75 V/s esta escoando numa curva de 90°, diametro de 300 mm, posicionada num plano horizontal, onde a carga de pressdo 6 40 m. Determine o valor e a direcao da forca que atua neste ponto da instalacéo. 2.10. Uma reducdo com 1,5 m de diémetro a montante e 1,0 m a jusante, assen- tada no plano horizontal, apresentou 400 kPa de pressio na seco de montante quando transportava 1,8 m/s de agua. Desprezando-se a perda de carga, calcule a forca horizontal que esta peca deve provocar no bloco para a sua ancoragem 65 Capitulo 3 Escoamento em condutos forcados simples Este capitulo trata, essencialmente, de problemas relacionados aos condutos forcados simples em regime permanente. Para tanto, so apresentados os métodos usuais para o célculo da perda de carga e suas aplicacoes. Analisa- -se, também, a influéncia do perfil das tubulacdes em relacao as linhas de carga do escoamento, Finalmente, os problemas ligados a cavitacéo e aos escoamentos nao permanentes so discutidos. 3.1 Perda de carga liquido ao escoar transforma parte de sua energia em calor. Essa energia ndo é mais recuperada na forma de energia cinética e/ou potencial e, por isso, denomina-se perda de carga. Para efeito de estudo, a perda de carga, denotada por Ah, é classificada ern perda de carga continua Ah’ e perda de carga localizada 4h”, sendo a primeira conside- rada ao longo da tubulacdo e a outra, devido a presenca de conexdes, aparelhos etc., em pontos particulares do conduto, conforme pode ser visto na Figura 3.1 PCE. =Plano de Carga Estitco - LC.=Lithade Carga - LP. =Linha Piezomética Figura 3.1 - Representacdo da perda de carga num tubo de secao constante Fundamentos de Engen Haroun 3.1.1 Perda de carga continua A perda de carga continua se deve, principaimente, ao atrito interno entre particu- las gerando transversalmente ao escoamento diferentes velocidades. As causas dessas variacdes de velocidades so a viscosidade do liquido v e a rugosidade da tubulacao e. No escoamento uniforme, a razao entre a perda de carga continua Ah’ e o comprimento do conduto L representa o gradiente ou a inclinaco da linha de carga e € denominado por perda de carga unitaria J: @.1) Na Figura 3.1, entre os pontos 2 e 3 do conduto, onde nao hd nenhuma perda de carga localizada, a linha piezométrica é paralela a linha de carga, j4 que a secao do tubo 6 constante e consequentemente a carga de velocidade também 0 €. Assim, 0 abaixa- mento da linha piezomeétrica representa também a perda de carga continua, como pode ser demonstrado, aplicando a equacao de Bernoulli entre as secdes 2 e 3 consideradas: Zt Py + UZl2g = yt Pj ly + UzZl2g +Ah',, visto que UU, > Ah’, = Zr Psp- Zt PLD A andlise dimensional pode ser utilizada para se obter uma relacao entre a perda de carga continua, pardmetros geométricos do escoamento no conduto e propriedades relevantes do fluido, resultando na equacao Universal de perda de carga, que para con- dutos de seco circular apresenta-se como a (3.2) 2g 3 Considerando as equacées (3.1), (3.2) e a equacao da continuidade, obtém-se a seguinte equacdo para a perda de carga unitéria sendo: J= perda de carga unitaria em m/m; U = velocidade média do escoamento em m/s; D = diametro do conduto em m;

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