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ARQUIMEDES, UMA MENTE BRILHANTE Caro leitor, vamos ver como alguns modelos e principios devidos a Arquimedes estio na base da teoria matematica que se conhece hoje como Calculo Integral Aten its: com ua ln att 2; para tal basta analisar os programas de estudo dos cursos de qualquer Faculdade de Ciéneias, que in- cluem disciplinas de Calculo, Algebra, Estatistica ou Ma- tematicas Gerais. De uma forma geral estas disciplinas tra- tam temas de matematica de maneira cléssica sem relagso com o curso a que estdo destinadas, 0 que pode constituir tum problema. Acresce ainda que, para os alunos de uma licenciatura em Matemética, ¢ importante ver como se in- tuem férmulas de Fisica sem ter o porto segura de axiomas, definigdes e rigor ‘A motivagio ao escrever este texto ¢ dupla: por um lado pretendemos levar os alunos a contemplar alguns te- mas de divulgagio que dentro de algum tempo formaro parte dos seus estudos universitérios ¢, por outro, quere- ‘mos ajudar a dificil tarefa de inclu, nos estucos de mate- matica, emas de Fisica, despertando no aluno o gosto pela analise abstrata destes temas. Isto pode contribuir para o desenvolvimento nos estudantes de capacidades deduti- -vas e de uma postura de investigador fundamental ao seu processo de crescimento. Devemos lembrar-nos de que foi pela admiraggo que o Homem comegou a filosofar UM POUCO DE HISTORIA. Pode dizerse que, de entre as descabertas que Arquimedes fez, a de que mais se or- ay Aetican Baangunio Universidade Coimbra apb@matucpe gulhava era do célculo do volume de uma esfera, Demos- trou, de uma forma bastante original, que volume de uma es ra € gual a dois tergos do volume Ji cilindro que a circunsereve. Ficou de tal forma maravilhado com esta descoberta que, como recordagao da melhor das suas ideias, mandou gra- var na sua pedra tumular a figura 1. Quando Cicero foi rnomeado questor na Sicilia (75 a.C.), descobris 0 timulo de Arquimedes, gragas 3 inscrigdo que este tinha manda- do gravar no seu timulo e que os seus conterraneos de > 2 bd] Siracusa tinham perdido de vista. Cicero resiaurou-a, para ‘mais tarde voltar a perder-se. Recentemente encontraram- -se dois timulos que disputam a autenticidade. OU CANTO DELFICO + Arquimedes, uma Mi we Briance 17, IDEIA DA DEMONSTRAGAO. Arquimedes imaginou uma semiesferaejunto dela um clindro circular reto eum cone circular reto, ambos debaseigual docrculoméximo da semiesfera, mais ou menos como indicado na figura 2. Arquimedes cortou as tés figuras por um plano paralelo A base do aiindro edo cone, perguntando-se como seriam as secgbes determinadas por este plano no ciindro, na se- miesfera eno cone. Determinemos a drea das regidesindi- cadas na figura Sas Figura 2. Método de Arquimedes. No clindro, 6 evidente, pois trata-se de um etreulo de raio R. Na esfera, também se tem um cfreulo, mas o seu raio depende da altura do corte, d. Olhando melhor para a figura 2 e tendo em conta 0 teorema de Pitégoras, fa- cilmente se pode escrever, considerando o raio da seccao igual a, que 1? +d° = R2. Jano cone, a secgéo também sera um circulo e agora o raio é ainda mais facil de deter- rminar;como a sua abertura 6 de 43", r = d,ie.,asecgio do cilindro coincide com a secgdo da semiesfera adicionada da seccio do cone, pelo que o volume do cilindro ¢ igual 2 soma dos volumes da semiesfera e do cone (cf. figura 3). J oS rR? = Volume da semiesfera +R? /3, pois Arquimedes sabia que os volumes do citindro e do cone so, respetivamente, 7 R° e 7 R3/3; logo, obtemos que o volume da semiesfera 627 R3/3, cq. Esta demonstracio pode ser encontrada em textos de ‘matemitica elementar, como o de Miguel de Guzman, “Experimentos de Geometria’. ‘Com este resultado, Arquimedes avangou para a de- terminagio da drea da superficie de uma esfera de raio R. Con- siderou a esfera composta por muitas pirdmides de vértice no centro da esfera e base de drea muito pequena, 5, sobre 2 esfera. Para ter uma ideia do que pode valer a drea de superficie esférica, considerou que o volume da esfera é, como acabmos de ver, 47cR3/3 e que o volume de cada pirdmide 6 $/3 (pois a altura de cada pirmide € R). So- mando 0 volume de todas as pirémides e colocando em evidéncia R/3, obtemos: ‘0 volume da esfera& igual crea de superficie da esera rmultiplicada por R/3. Logo, a area de superficie da esfera de raio R 6 igual a 4nR2, EXPERIENCIA. Propomo-nos comprovar por experi- mentagio 0 principio de Arquimedes, 20 mesmo tempo que mostramos uma relagio entre integrais de volume e de superficie. Vamos utilizar uma bola de borracha, um eopo de agua, uma régua, um cordel, uma caneta de feltro, uma balanga e um nénio (ef. “Célculo Diferencial e Integral’, de Fernando Chamizo). Coloquemos a bola numa tina com gua e marqueros a linha de flutuacio com a caneta de feltro (para efetuar esta operagio convém segurar a bola com a mao sem a afundar e marcar somente alguns pontos por forma a completar a linha com a bola fora da dgua e munidos de sum canudo de papel). No paralelo determinado pela linha de flutuagdo (que 6 a circunferéncia tragada), marquemos dois pontos diametralmente opostos. Para tal, podemos simplesmente estender 0 cordel sobre a circunferéncia, desenrolé-lo, marcar © ponto médio e voltar a enrolar ® volta da bola como mostra a figura 4. Entre estes dois pontos, estique- Figura 4. Descricéo da experiéncia. mos 0 cordel de forma a descrever um arco de meridiano para que possamos medi-lo. A partir do comprimento do meridiano, determinamos 0 raio éa bola (recorde-se que, em radianos, o angulo ao centro é dada pelo quociente entre 0 comprimento do arco ¢ o raio da circunfertnca). Com o nénio ¢ trivial este edleulo! Escothendo uma bola de borracha um pouco mais pe- ‘quena do que uma bola de ténis, os valores encontradios para o comprimento do arco, £, do raio da bola, R, foram de £=8.96m e R=28 cm, Aplicando a formula nk? @ ~ 3 cos (2/(2R)) + cos? (£/(2R)}), a) com £¢ Rem centimetros (com os dados citados anterior ‘mente, obtemos 47.25), podemos verificar que este resulta- do esté muito préximo do peso real da bola (considerado ‘em gramas). Basta para tal usar uma balanga de cozinha (no nosso caso, a bola pesa aproximadamente 45 gr). ‘Assim, a partir da observagio de como uma bola flutua podemos saber quanto é que ela pesa. EXPLICAGAO. O que esti na base da experiéncia ante- ror € 0 prinelpio de Arquimedes: {odo o corpo mergulhado num Iiguido estdsujeito a uma -forga de diregdo vertical, de sentido de baixo para cima, © cuja grandieza ¢ igual ao peso do volume de liguido deslocade ‘Como 0 impulso deve compensar o peso da bola e o I ‘io deslocado, que neste caso € a agua, cuja massa e © ‘volume coincidem, basta verificar que a f6emula (1) dé 0 volume da parte submersa da bola (cf. figura 5). Para de- terminar a massa da bola, integramos a fungio indicatriz da regio correspondente, T, que em coordenadas esféricas X(9,8,p) = (p cose send, p seng send, p cos) se des- ‘reve (considerando a origem do referencial no centro da bola) como ($-.p) € [0,21] x [m ~ 09,74} x [Roe R)e com Ry Roos 6y/ cos e 8) = £/(2R), i.e. ae ek r= [ae [0 [ iclan, Jam [ee [8 [C Uxlee ‘onde |/| = p? sen, que coincide com (1), a,=U2R Roos, Figura 5, Leitura er coordenadas esféricas Acabamos de ver como o principio de Arquimedes permite calcular a massa por meio de um integral de vo- lume. Agora, usando a nogio de pressdo, veremos como determinar a massa da bola mediante um integral de su- perficie. ‘Chegados aqui, podemos perguntar-nos se existe uma relagio geral entre estes dois integrais? A resposta afirma- tiva € dada pelo teorema de Gauss ou da divergéncia. (© que faremos ¢ utilizar as ideias basicas previamente apresentadas, concetualmente mas néo historicamente, no principio de Arquimedes, que nos levardo a expressar © impulso como um integral de superficie Imaginemos um quadradinho infinitesimal de drea A paralelo a superficie da gua e situado a uma profundi- dade h. O peso da dgua por cima desse quadradinho seré mg = Ahg (considerando a densidade unitéria, temos que 2 massa coincide com o volume que, por isso, vale Ah). Se pudéssemos retirar repentinamente essa coluna de agua, por ago e reagao, a agua que esté por baixo sal- taria para cima com uma forga Alig. Assim, a uma pro- fundidade k hé uma forga por unidade de superficie dada por P = (0,0,h) Normalmente, esta forga ¢ compensada pelo peso da gua que esté por cima, que na nossa experiéncia é 0 peso da bola, Vale a pena notar que P atua sobre uma superficie curva onde a profundidade e a diregéo onde se aplica a forga vai mudando de ponto para ponto, Por isso, a forca total 6 dada pelo integral de P na superficie submersa, 5, fronteira de T, e deve estar compensada pelo peso mg da bola. Em conclusdo, considerada a superficie, S, com a orientagdo usual temos mg+ [/P=0. 3) Para caleular o integral, convém parametrizar a superi- cie, 5, usando coordenadas esféricas, ie. §€ descrita por OX $< 2H, 0

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