You are on page 1of 11
Prémio Arquivo Nacional de Pesquisa - 2009 ComssAo Jutcavona Marla Elizabeth Bréa Monteiro (presente) eee Douglas Attila Marcelino Paulo Knauss de Mendonca Sonia Cristina Lino Tania Maria Tavares Bessone da Cruz [parnnen bo qe Subversivos e pornograficos hai in 1 4: ~ . Censura de livros e diversées ptblicas nos anos 1970 14/08 //q Marcelino, Dougie tila ste ees io. Rio de an CAP DOG PPS 166 aH 186 i.2.Censura Eras 00 96.063 oo HM Capitulo6 O guardiao dos bons costumes: Armando Falcdo eas “publicagées eréticas” -Aseverdade a vitude dos deusesaautordade € a dos homens © 28d 2 0 do mis i Que escrevamn suasatitudes de cerceamento 3 suposta pro agbes erticas, Usando amplamente Falcbo certamente desagradava amplos setores da sociedade que feservas a atuacdo da censura. Nio abstante, di ida.em torno do fendmeno, que tende a ressaltar somente as reagies contciias siva, no plano da moraidade publica a censura possuia o apoio de uma parcelasignificativa da populacso. Personagens como o ministro da Justiga Armando Falcio, por ‘exemplo, receberam muitascartas de pessoas que se prontificavam a colaborar com a censura, Pedindo mais rigidez no veto ao que fosse considerado imoral ou, simplesmente, enaltecendo 8 Adagio de medidas mais rigorosas nesse campo. _atesoura censérla nesse camp ‘combatiam ou viam com mi vente da Eclaro, no entanto, ue os diretores da cor eas demals autoridades responsivels pela censura Drocuravam exagerar 0 apoio que recebiam dos setores moralmente mals conservadores da, socledade (utlizando, inclusive, as cartas encaminhadas & Divisto de Censura para a legitimidade de sua atuacao). Por isso, quando se deparavam com discursos de que a censure a feita de modo arbitrétio,es5a5 personagens logo procuravam alegar que grande parte da Populacio apoiave a existéncia de uma instituicio censéria no pals. Por outro lado, 2 maior ‘aceitagdo que tinha a censura de costumes fez com que ela também fosse uti ‘a0, para ainterdicdo de obras consideradas poiticamente cont ‘como destacamos em vérlos momentos, Mas ndo & verdad ‘que toda a sociedade brasileira combate ou condenava a censura, pr clonada a moral eaos bons costumes. Ea passagem de figuras emblems 13a, em certos 20 regime implantado 9, de fato, a imagem de Ipalmente aquela rela pelo Ministerio da 166 m Douglos Ata Marceine Justiga, que deram grande importincia& matéria, como Alfredo Buzaid, Abi-Ackel e, sobretudo, iva de moralizagio permessse mals ia crista ocidental: ue censurou, que coibiu’, com quem ‘tremer a mio" Segundo Falcio: rea regis que determine permit apresentacse pobliea de “Subversive pornegricos W167 terreno, mudet de posicio. Agora, entenda que o cinema e 0 teatro devem ser livres, pols, $6 alas de espetsculos populares" Difii, no entanto, € saber se Je pessoas que peddiam mals rigor cens6rio ao FaleSo, quando ele ainda era ministo, também vpudorom de perspectiva em relagdo 20 fenmeno. Alés,€ importante notar que o conhect rente produside sobre a eensura do perlodo pouco tem destacado 0 apoio que ela recebia {de determinados setoressociais no Ambito dos costumes. Esse aspecto revels 4 descons! facto deum taco marcante que sempre se fizera presente ao long da conformagio histrica ldo sociedade brasileira: o forte aprego de parte da populacto pela adocio de ume posture paternalista por aqueles que dirigem o Estado. A concepcio de que cabe 20 poder pablico Dime ‘posiege tutelar* em relagdo aos populares em campos como a moralidade nao fot algo sempre resttoa certas elites politicas que estiveram no poder em conjunturas auto Je um longinguo peviodo, ‘em determinada parcela da sociedade, forjada em torn primou pelo paternalismo nas elacbes de poder e ‘quem quer e quem paga val sda histéria do Brasil A part I de delimitay, ela j8 tina respaldo J urna cultura pe sp brupo de pessoas durante a ditadura & um exemplo bastante caracteristico da forca dessa traicio. ica que sempre cas eos stores populates. ‘A demands pela censura moral por ce Ness sentido, ainstalagdo de um regime autoritirio eas atitudes de personagens como.oministo Faledo apenas tend opr vam aquele come o momento em que se tornaria possvelalcancar seu almejado Gesejo de"moralizaro Brasil" (ou, pelo menos, "retirs-o da completa devassido") Por outro lado, hs que se considerato“caréter mobilizador” que assuntos relacionados ao campo da morelidade Sempre tveram para uma ampla camada de populacdo, muito atenta ao que acontece neste pla vo hae vista o sucesso aleangado por certos géneros de programas televisivos que o exploram Intensamente ej nos anos 1970, atinglam indices de audiéncia bastante el telenovelas, & claro, mas.o mesmo pode se dito sobre a expansio da ind Tortalecer, inde mals, esse tipo de concepsao presente em cartos stores yo Refito-me 3s ‘cinematogratica ational coma veicalacao do erotismo, ou, ainda, da enorme vendagem que revistas sobre temas comportamentaejs obtinnarn naquele period. Enguanto alguns setores eram atrados pelos no ores ifundidos nesses meios, outraparcela da populag3o permanecia reticente, mesmo Indignada, com 0 posto “despudor”desses programas, filmes ou publicasoes. Com efeto, muitas as medidas tomadss por Falcdo no smbito da censura de costumes gera- am maniestagdes de apoto por meio de carts envladas 3 pasta da Justica, Quando 0 ministro baitou uma portars estendendo a atividade censéria bs publicacbes estrangeiras, logo recebeu conrespondéncias parabenizando-o e apoiando e medida, Poucos dias apés a promulgacso da ‘hotma egislativa, um padte da pardqula de S30 Crist6vso, em Goidnia, procurou cumprimentar ude patritica”e rssaltar sua incompreensSo em relagao as “riticas ma- deciste muito usta e do méximo interesse da coletividade braslera* Para tle aqueles que cticavam a referida norma no tinham nose da existéncia de certas revistas lréticas que"passam nas mos de ovens de ambos os sex0s, pois, se 0 soubessem, “980 perm sem Um remetente de Belo Horizonte, que vinha“acompanhando, Sempre, através do noticirio de jornals, as intervengbes de V.Exa. no ambito do literatura, sehretude ne que conceme 8pornografa de nossas revistas,procurava agradecer a0 ministro qpelo bem imenso que esta pasta vem fazendo 20 nosso povo, &nacio"? Outro missivist, a0 ler 168m 0009s Alo Merlino ‘a noticia da promulgasio daquele portaria no Jornal do Bras, também ficou bastante satisfeito, yado por reporteres a respeito da mesma, aficmou Tramente que a Portarie em questia s6 prejudicard os subversivos @ os obscenos™* Entusiasmado, ele comemorave ‘hos acdeios da quintasnfonia de Beethoven, cm pensamento elevado 20 iador © no da nocd bala, dence graces 2 us por mal es at tre homem publics incanssvebatalhadorerudoe fel inh do noiso destemido presidente Emesto Geel de Extada assessor de ladesresponsiveis pela censura defendendlo um aumento do rigor dade, algumas vezes, gerava manifestacées de apoio, ¢ 50 no se featingin figura emblemética de Flcso.€m 1977, reclamand de certas publicacdes que const vveravs moras, um correspondente de Belo Horzonterelatavaterapreciado mwuitoasdeclracges sector da censura federal, que, publicadas no jornal 0 Estado de 5. Paulo, defendiam maior lnncis dos censores no campo da ‘moral ¢ dos boas costumes “inteiramente de acordo% It Outro remetente escrevia ao divetor inha homenagem ¢ meu modesto apoio &s medidas iam “que V. Sa. estécom fem seu devido eimportantissimo lugar, que € 0 tegridade moral de nosso referido pa ‘os de personages que defendiam mais rigor na protecae da moraidade,éimportante pra refltrmos sobre um aspecto ae vimos destacando: oe eontrario da eensura mais estritamente politica, praticamente indefensivel po cursos nosmeos de comunicagSo,@ censurarealizada pela ocor nso somente era ostensivamente Jstiicada por certs autoridades govemamentais mas também estimlava manifestagBes desses Icnte mais conservadores da sociedade (servindo, ainda, como um meio efcaz pore angarar sua simpatia), Como seu fco principal estava vltedo para a moralidade, a censura io sendo neces imptesso ou televisive.”™ rmissivista achava que'a censura ests sendo muito dda ocor, Jos Vieira Madeira, para pres imprensa’ pois elas demon de zelar De foto, essaltaressas manifestagdes cescamotedl, como i igorna censura as publiacoes refetia-se, certamente 35 revisaserdticas expostas et s. A preacupagso que o ministro Uispensava bs matéiain ao encontro dos anseios de vérias pessoas que, em suas correspondénc nurtes vezes apontavam urna mudanga na telac3o que tinham com as bancas de Jornal, 8 Thora las'vetornaram um lugar quaseprobido de apresentagso de mocas esennoras pols akém de sor desagradivel, esto sempre repletas dehomens apreciando as ditas fotografias"™ AexbigSo Gefotos de mulheres nuas, destacava a mesma missivist, “debra 2s pessoas até constrangidas 20 Se aproimatem de una bance, sm conta as pias imorals que se ouve, decorentes de ‘rinncoes Em 1974, uma senhora idosaescreveua censuratelatendo que, 20 e aproximarde um Jovnater, no municipio de Sto Paulo, ouvi tocar uma das "misias escandalosae" que “passam crrcertos canals de tevé dau ds capital, quando, de repente, “dois homens disseram que, s¢ ela Guer mesmo encostare seu corpo no meu, que Venha aqu nas Capoeiras, que ea ficarssatiseta Diante do acontecido, esrevia ela,"cort para minha casa, (pis P rewrote fato, se alguns felamavam com certo comedimento que“a censura ests send muito quem sabe ‘um pingo & Subversivose pomogrdfios 169 liberal pois “nas bancas de Jornal s6 se vé exposicio de nus" outs remetentes carregavam nas cores de suas denincias: ‘ave dizer também das publcagSes? Hoje uma banca de oma erevitas mals parece uma porta de bordel, anunciando, em cataescoloridos, a dferents opgOessugerida 305 S008 suis (9 Achel magnifica a dela de V. Sa. exile as apaspasticas para revstas como [ee le, Playboy tc. Mas, que estes plistcos seam opacos e que os catazes mosrando 3s ‘mutheres nas, extents nests estas, sejam sumaramente proibidor © curiose, em bos parte dessas cartas que reclamavam mals proibicdes, & que elas, por vezes, etavam entrever 0 constrangimento de algumas pessoas de escrever& censura pedindo mais contiole sobre a velculag3o do que consideravam imoral, © que podia levs-ias a justficar sua postura& prépria noo. Assim, muitos missivstasrepet fe consleteopgi0.O que nog just, que sr bancas masturbando Certaslocaidades, como os centros urbanos das cidades do Rio de Janeiro © SSo Paulo, eram ‘mencionadas em um numero significative de reclamagSes. Assim, na capital paulisa, “desde a lestagso rodovidtia até o centro da cidade podem ser vistos tas livos [pornagraticos, ora nas (ora nas baneas de jorat""¥ No centro do Ro, a exposigao de revistas e posteres de mulheres nuas sela visivel, principalment ‘denunciar que as medidas tomadas pelas autoridades governamentais ndo estavam sur efeto desejado, oprefelto destacava: Nao € 50 televise que hoje em sis agride os costume ¢ 2 moral ds juventude bral, Tambim as bancas de evista dio substan claborao: evisas com mulheres otogate ‘dav em attudes as mais inconvenient (ainda bem gue devidamenteenvottas om psi, s6que mnstson,revstas de ter, volénci [do tipo hung fa ainds bem que trae em leinhas pequeninas:imprdpio para menoces de 18 anos" e vendem para clangas de ‘qualquer ida, enfin, revista e vos erstcos roliferam nas bancas De fato assim come em todos 08 outros campos de atuacSo da ocr, no Ambito da exposicio de ppublicacdes erdticas em jornaleiros a insttuigde também tinha muita dificldade de fazer eur pir suas determinag6es, em grande medida devido & escassez de funcionérios para execucio alta de pessoal 170m D0ugis Ae Marcio 330, em 1976, 0 chefe do Servigo de Censura de Diversées Pablicas do Rio de Janeiro enviow uma «arta 20 diretor da Divisio de Censura comunicandl que"e avo a0: proprietirios de bancas de tempo depois, Cam ‘do vereador Eizo Rosi indo colbir a afkacdo, em bancas de jor ols.“apesar da proibicho da venda dos refetidos exemplares a menores de dade, os mesmos podem apreciar tas fotos, que fcam expostas nas bancas"> de revistas€ jomais com fotos pornogrsficas © “Muitas das reclamacées de fins dos anos 1970 e inicio das 80 estavam relacionadas, também, com ‘© paulatine desmonte da censura Ce publicacdes. As constantes perdas na Justia, as dentincias| ‘quanto & inconstitucionalidade de algumas normas legisltivas que regulamentavam a matér «depois asaida de Armando Falcbo do ministérialevaram nda somente i determinac3o d da censura prévia naquele plano, mas a impos Jornaleitos, dos ivios revistas que tratavam de temas referentes 20 5x0, 8m bbons costumes? O constant te dos"mandados de seguranca"perpetradas peas edi torasresponssvels por esse tipo de publicacdo, que argumentavam esta sendo prejuicadas pela ‘oncorréncia desleal que a medida acarretava ente as lvrarias eas bancas dejornal, fez com que {fo3se revogada, em 1980, a parte da norma legislatva que estabeleceu essa proibiglo.™ Porém, ade plsticas, com os dizeres de que eram proibidos para menores de 18 anos, apesar de continua ‘em vigor, segundo multos missivistas, era completamente descartada, E, como o ministio Abi [Ackel no demonstrava 0 mesmo impeto que Falcio dlante da materia, alguns apelavem par sua origem mineia: inacdo de que esses livios erevstas somente poderiam ser vendidos em embalagens Temes posi con iicacoes esis minders junto sbaneas de oma e evistas. a inulge proiferagso de pu rendida em envelopes lacrados com ais 1. Ma necessdade, por isto, que oS. rminstro da usta orem publi orunde do etado de Mins Gera, que scons ade de costumes eda presevagi da trades intege urgentesprovdencas no sentido de que 3 opulagso née continue 2 sriminada exposio ds publcagSes em prec" ‘Assim, embora 2 portara que regulamentava o padeo de apresentacdo dessas publicagdes de- ‘tetminasse que elas somente poderiam ser vendidas se fossem embaladas “em material plstico resistente, hermeticamente fechado", © uso de plisticos ransparentes era frequente € ‘algumas pessoas. Para 0 vereador Vilberto Adolfo Cattani,cujo requerimento fol aprovado por ‘unanimidade pela Cémara Municipal de Sdo Carlos, "em todas as cidades, nas bancas onde se vvendeem jornalserevstas, a pornografiatransparece em quase tudo’ pois‘ editores de publica ‘60s deletéras,flsamente’prolbidas'20 pablico infantil eadolescente, chegam ao nai com plistco transparente, de modo a serem e sem distin de idade’ Por outro lado, mesmo decortidos cerca de cinco anos apés.aevogacio {do"pardgrafo nico‘ da norma legislatva que probiaa venda de publicagdeseréticas em bancas de jornal, a cor ainda recebia recamacées sobre o assunto. Em correspondéncia envida ao di cinlsmo de ace Subversive pomogrdios M71, Assim, no queremos que todos 5 205 filmes videos que quiseren argumentavam proteger nossa juventude de ser obrigada a conviver com eacesio desta e de outras cartas enviadas ds autoridades mi ‘ensura, maior parte das conespondéncias que pediam quejsmenclonames: nem os nem seu sucessor, ex-deputado Abi-Akel, emonstraram 0 mesmo impeto no controle blcagées cont ‘0s bons costumes" Portela inha uma posigio mais liberal no que conceine 8 censura, mas morreu aps cerca de dez meses no cargo, sem concretizar medidas mais ceficazes qu mente mais conservadornesse plano do que PetrOnio Portela, apesar de ter procurado mostrar-se preocupade com a pornografi,atuou mals no campo da programagéo de canais de televisso do ‘Segundo proprio Abi-Acke, ele recebla milhares de cartas pedindo um ‘controle mals igoroso sobre os programas televsivos que veiculavam discuss sexualidade ov transmitiam cenas mais fortes de violencia.” 10, até que ponto apregoar a formac3o de uma “eruzada contra 2 ava, naquele perdodo, como uma forma de tentar acumular capital poi: lands e estimulado pelos setores que reclamavam maior controle ; durante seumandato, ue fvia uma eruzada contra a 172 Dougos Atta Maresting faa violencia" apés assum a pas tesifieagio da atuacao cen: da programacio televisive tive ds complexidade da censurarelacionads & defesa da moral ‘onsiderado liberal, como Paulo Brossar, eve aificuldade a para extinguir, pura e simplesmente 2 censura de diversbes fs. Além da conveniéncia de continuar auferind 6 apoio de determinados setores mats (as que diziam defender os bons costumes € otradicionalismo, havia toda a engrenagem tentacio &existencia daquelaatividade, Por outro lad, wmbéen fa manutengso de uma pratica que era prontamenteassociada & ‘confundisse completamente com ela, 0 que deixve 0 rendo pressbes de ambos os lados. Além disso, uma pos 9s no cortesponde, net vente, a.uma vente percebida 3 part rente no que diz respeito 1a respostas muito do nosso. ‘0 ambito social” mais rigidos de moralidadeeraa continua perda de desestruturagio do regime iilitar. As tendéncias deliberlizacSo, que ganhavam espago desde 0 inicio da chamada abertura politics” quando pensadasem tetmos da censura de costumes geravam 4 indignado desses setores, ainda que nessa drea a existéncia dessastendéncias iberalizantes ‘Seja bastante discutivel,Osupostoaftouxamento desse do que real. Ainda assim, em 1980, o presidente da Cimars Municipal de Uberlindia soletava & latengio do Conselho Superior de Censura para a“onda de pornografia,nudismo,licenciosidade e permissividade que ating diretamente aclula mater de nossa sociedad: familia’ Reclamando fe todos os meios de comunicagio, que team “levado a publico, de maneira brutal e ostensivat laqullo “que pertence &intmidade do homem 0 remetente destacava que os detentores de ca- Subversive pomogrfios W173 nals de televisdo“confundliram abertura com ibertinagem', conforme passavam 08 anos, com ‘a progrssiva derrocada da ditadura, esse tipo de discursoficava ainda mais enftic, como pode Sr visto na manifestacdo do vereador do ros, Clementino Faria, em 1985: Inaugurase no Brat a Nova Repabiica Se ela uma vepabiica honesta que no fa con ‘cesses no campo mora censurando 3 pornograia€ © erotime, pois censurro alata expretio democttica, porque vr reservar a emi, que anal 0 aierce da pita edo fam, em algumas edicbes, dscussdes sobre problematicas comportamentas tipicas la, aascensao da mulher, alegalizagao do divercio etc), eram as publicagoes que mais susetavam dendncias 3 institu censora. Revistas diversas, como Ele e la, Homem, Status, Manchete Fest, Pas Flos, Festa, Photo, Vis, entve muitas outras, foram alvos das reclamagies de pessoas preacupadas com uma suposta dfusio da pornografia, Mas no Somente as matéria relacionadas 20 sexo eram objeto da vigilinci dos setores que propugnavam No Inicio dos anos 1980, o Jornal da Tarde publicou um artigo chamado “Ven ‘dendo 0 vii o qual denunciava as revistas norte-americanas High Times ‘das drogas, dando respaldo que precisavam alguns vereadores para pedi 35 publicacées. Em requerimento de sua autoria, aprovado pola Cam Preto, vereador Toledo Piza demandava ocerceamento das revstas qu identesindutores de nossa juventude a Vici’, pois elas tatariam “excusivamente de drogas © apetiechos necessitios a0 consumo e, até mesme, da fabricacio de téxicos ealucinégenos’* 18 08 vereadores da Cémara Municipal de Sto Paulo aprovatam a mogso de Yukishigue Tamura, que também pedia a interaic30 da publicacéo por “éifundiro téxico levando jovens faciimente lnfluenciiveis*ao uso nocivo de entorpecentes™ proibigao de ambas Municipal de Ribeirso icando-35 omoum dos ‘Algumas das cartas que, depois de enviadas a0 ministro da Jusica ou outrasautoridades gover ramentais, foram encaminhadas @ censura parecem ilustrativas de um volume considerével do ‘material edstente no fundo da oc. Els nos permitem refleti mals profundamente sobre quer ‘ram estas pessoas que excreviam pedindo maior controle das publicagoes equals as motivacbes {queaslevaram a se manifestar dessa forma diante do poder publico, Muitas vezes elatando casos partculares, vividos no ambiente doméstico ou na viinhanca, parte dessas correspondéncias «era marcada por um procedimento ae mesmo tempo bastante curioso e frequent: a utlizagio esse relato como argumento para que suas demandas fossem atendidas. to, provavelmente, ‘elaciona-se com um trag tipico da cult brasileea, qual sea a fuidarelagao entre pblicoe privado, manifesta no“mado pessoal" de lidar com aspectosreferentes ao Estado, algo vretegc morale os bons costumes do pov bras oma aprofundaremos no CaP © aoiaae utes dessa pessoas um sentimento de que afuta conta imoraldade nos meios Se our (Rio de Janevo},na qual ele denunclava + roe come cefe defame, me sinc coobrigadonatarels de combate Mtertu to urn deer urn raze olaborr com © Gover Pa ert pot efetvamente a vende de os come Boca defogo A eagem sane canes ertces de word, Por rds dascémeras © menina c-deese* segundo oemetente,um dos grandes problemas da cidade de Sdo Paulo cra adevasidse: sone seen e ox taren que devem ser apreendidos e queimados’ e, por iso, ele via procurande “ebservar se os livros ctados continuam vends nas iizando ura argumen: ‘Gras bestant pea das carta envadas ocr, omisistadestacava ainda ave a8 principal caine dente tipo de publicagBes 5300s ovens que pela exitagdo sexual, so levados 3 mas vias paulistas 176 Douglas Acila Marcelino urbacdo, que prejudicao seu desenvolvimento fisko.e mental ou 8 pritica de ato obscene comm suas namorads ou, ainda 20 relacionamento sexual com pros outros remetentes fziam uma conelago dreta entre a etura de obras pornograicas ea préica ae getter” ou ‘atos despudorados Esse fol 0 cas0, por exemplo, de ulm homem que escreveu ce mando Falebo procurando demonstarsua"teria” sobre as"causas que levam os ndividuos sare’ ja que dia ter conhecimento da preocupacio que o ministroresguardava 8 matéria® aoacar aa cidade de Lengbs Paulista (S30 Paulo, ele dzis que hé muito tempo vinha obser aero das causes principals para os ctimes: a educacbo unissexual que, dada em escolas, erm classes mista, leva 0s in ya de obras pornograticas, (quel levam as criangas eos jovens 8 poluiio 10s Dios ve chy de ent Miler e Ukimo tango em Par, de Robert Neyo correspondents destacava (que, naquela idade,"mutos joven aps etura de fivros sem nenhum val fico, foram levados a comet 4 contra 0 pud Postura semelhante foi a de um padre que raledo pouco tempo depos de ter retirado das maos de“joversde 12, 136 14 aaa devon ‘revistas pornenfias pois, de acordo com ele,“ Impresstonante como esas arrancas se deletavam em ver tis coas. ertamente sso que leva essa pessoas acometerem horeveis desatinos em grande prejlzo da famila* ovdiscurso da necesidade de proteger as crancas e os ovens daimoraidade ea, sem divide, 0 roumentomats persuasive daguetes que demandavam maisrigor censéro,eapareciaem diversas discerir o que cabia 20 Estado eo que isa, nesse sentido, foia correspond cartas Mesmo nesse aspecto, porém,fcava sempre tra tarefa da educagéo dada no ambiente doméstico, cc um hemem que escievia pela quarta vez 20 ministo Falco, agora denunciando um texto Se Nocmis Bello publicado na revista Cidme. Atvando como ‘consultora sentimental” da sete “Ars coragao! Noemia Bello, na verdade, spond bs indagacbes de uma"garotinha de 17 anos” terme usa pelo préprio correspondente que, dada a kdade da jovem, parece indica nao ape cre fferengas dos padrdes morais daquela €poca em relacso 20s de hoje, mas também a sua rostura moraimente conservadora)* Para ele, “qualquer pessoa quel estaresposta jigs arrvrulher desprovida de moral, que quer descarregar seus complexos nas meninasinocentes, [Que apenas pediram uma orienta pars duvidas que est dade Ines tra” No entantoyo mais sae sensonts eva que o misivista logo apds solicit censura revista, conclula que’este caso no ccabe as autoridades,esim 30s pls: ‘Aigumas das carts encaminhadas & ocr que reclamavam das publicaghesexoticas também seat perpessadas por uma espécle de nostalgia de um suposto periodo em que a socedade cra roramnente superior, menos propensa & pornografia ¢ 3 obscenidade, Assim, um misivista ear padi a interalgso de livros que considerava moras, por exemplo, rogava por um Pos se yao termpo em que a educacio era"deendinhas somente para as menina,¢de‘botinas var os meninos, respeitando, assim, seu sexo Segundo el, "€ commum sentirmos echelro de Egat numa meninae fu) chelro acentuado de perfume nos meninos® algo que cifcuaris sre oprawentieagao: Convicto de que deveria haver uma “educacio especial para cade seer oremetenteargumentava que“salade, devemos fazer com frutas ¢ legumes, nunca com sSbnces: lsum ababio-assinado enviado 20 minsto FalcSoem 1977, reclamandode uma mattis Ga revsia Monchete sobre o camaval daquele ano, ullzavaargumentos que expressavam us Subversive epomnogricos 77 smpanhariam o“pragresso técnico’, inacente’ que arelagao entre seus ‘endo continham um. dos periodas de excecio. Isto nS0 ‘quer dizer, claro, que todos a apoiavam, sendo dificil captar sua real aceitarso pela sociedad “Também no deve ser confundlide com a adocio de uma perspectivaingénua, que desconsidera aspectos importantes daqueles anos (como a luta dos setores que combateram intensamente 2

You might also like