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LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSES Anexo 01 da Aula 17 Estudo Dirigido Com base no trecho original extraido de A Textbook of Psychology (1908), de E. B. Titchener, responda as questoes 1. Explique a diferenga entre a experiéncia que ndo depende da pessoa que passa por ela, ¢ a experiéncia que depende da pessoa. Quais as implicagdes da definigao dessas experiéncias para a psicologia estrutural de Titchener? 2. Explique a distingao entre processo mental, consciéncia e mente, e a relacao da vida mental com o sistema nervoso, 3. Explique o tipo de introspeccdo proposto e praticado por Titchener e sua relag3o com o tipo de observagio utilizado em outras ciéncias. 4, Explique os objetivos da psicologia estrutural e as semelhancas entre a psicologia e outras ciéncias naturals, 85 LAUREATE INTERNATIONAL Universes" Anexo 02 da Aula 17 Reprodugio do trecho original de A Textbook of Psychology (1909), de E. B, Titchener, adaptado de Schultz, D. P. ¢ Schultz, S. E, (1998). Todo conhecimento humano deriva da experiéncia humana; ndo hd outra fonte de conhecimento, Mas 4 experiéncia humana, como vinos, pode ser considerada de diferentes pontos de vista, Suponka-se que fomamos dois pontos de vista, to distintos quanto possivel, e descobrimas por nés mesmos como de manifesta a experiéncia. nos dois casos. Em primeiro lugar, vamos considerar a experiéncia como totalmente independent de qualquer pessoa em particular, supondo ainda que a experiéncia acontega haja ou ndo alguém para passar por ela. Em segundo lugar, vamos considerar a experiéncia algo intelramente dependente de uma pessoa especifica, supondo ainda que a experiéncia $6 ocorre quando ha alguém para passar por ela. E multo dificil encontrarmos perspectivas mais distintas entre si do que estas. Quais s40 as diferengas na experiéncia quando esta é considerada a partir de ambas as referéncias? Consideremos, de inicio, as trés coisas que aprendemos em primeiro lugar na fsica: 0 espago,o tempo ¢ a massa. O espaco fisico, que ¢ 0 espaco da geometria, da astronomia ¢ da gealogia, éconstante, 0 mesmo sempre «em toda parte, Sua wnidade & 1 centimetro, eo centimetro tem precisamente 0 mesmo valor onde quer ¢ quando quer que seja aplicado, O tempo fisico também é constant, ¢ sua unidade constant é 1 segundo. A massa fsica & constante: sua unidade, ! grama, é sempre ¢ em toda parte a mesma. Aqui temos a experiéncia dloespago, do tempo e da massa considerada independentemente da pessoa que os vivencia. Passemos endo ao ‘Ponto de vista que leva em conta a pessoa que passa pela experiéncia. As duas linha verticais da Figura 1 so isicamenteiguais; im a mesma medida em unidades de 1 cemimetro. Para voce que as ve elas ndo so igus. A hora que voce passa na sala de espera da estaséo de um vilarefo ¢ a hora que voce passa assistindo a um espeticulo divertde, sdo fisicamente iguais; em a mesma medida em unidades de 1 segundo, Para vocé, 4 primeira hora passa lentamentee a outra, rapidamente; elas ndo so iguais. Tome duas caivas circulares de papelao de didmetros diferentes (digamos, de 2 cme de 8 cm) e ponha areia até que ambas pesem, digamos, 50 ‘gramas, As duas massas so fisicamente iguais, colocadas nos pratos de uma balanga, deisardo 0 fiel exalamente no centro, Para voc8, no mamento em que as levantar com as duas mas ox levantar uma por uma com a mesma mao, a catva de didmetro menor serd consideravelmente mais pesada, Aqui temos a experiéncia do espago, do tempo ¢ da massa considerada como algo dependente da pessoa que a vivencia E a mesma experiéncia que discutimas hd pouco. Mas o nosso primeiro ponto de vista nos dé fatos e leis da flsica enquanto o segundo nos da fatos ¢ leis da psicologia. Passemos agora a irés outros tépicos discutidos nos mannais de fisica: o calor, 0 som e a luz. O calor ropriamente dito, segundo os fisicos, é a energia do movimento molecular, isto é, 0 calor é uma forma de energia decorrente de um movimento das particulas de um corpo entre si mesmas. O calor radiane pertence, assim como a luz, ao que é chamado energia radiante ~ a energia que se propaga por movimentos ondulatérios do éter luminfero, de que o espago & preenchido. O som & uma forma de energia devida aos movimentos vibratérios de corpos, propagando-se através de movimentos ondulatérios de algum meio eldstco, sélido, Tiquido ou gasoso, Em suma, 0 calor é uma danca de moléculas; a luz é um movimento ondulatério do éter; 0 som é um movimento ondulatéria do ar. O mundo da fisica, em que esses tipos de experiencia sto considerados Independentes da pessoa que tem a experincia, ndo & quente nem frio, nem escuro nem Iuminoso, nem silencioso nem ruidoso. Sé quando as experiéncias sto consideradas dependentes de alguém, temos calor e frio, pretos e brancos, cares, cinzentos, tonalidades, assobios. E essas coisas so 0 objeto de estudo da psicologia 86 LAUREATE INTERNATIONAL Universes" PROCESSO MENTAL, CONSCIENCIA E MENTE, O fata mais marcante do mundo da experiéncia humana é a fata da mudanga, Nada & imével; tudo esté em movimento, O sol um dia perderd o seu calor; as montanhas eternas esto, pouco a pouco, se desgastando e desaparecencdo, Observemes o que abservamos, seja qual for o ponto de vista da qual o fazemos, encontrames processo, ocorréncia; em nenhum lugar hé permanéncia ou estabilidade. A humanidade, é verdade, tentou ssustar esse fluxo e conferir estabilidade ao mundo da experiéneia supondo a existéncia de duas substancias ermanentes, a matéria e a mente; assim, as ocorréncias do mundo fisico sao consideradas manifestacdes da ‘matéria, ¢ as ocorréncias do mundo mental, manifesiagdes da mente. Essa hipétese pode ter valor num certo estdgio do pensamento humano; mas toda hipétese que ndo é adequada aos fatos, tem, cedo ou tarde, de ser abandonada. Por conseguinte, os fisicos estdo desistindo da hipdtese de uma matéria substancial e imutdvel, ¢ ‘os psicdlagos abandonam a hipdtese de uma mente substancial ¢ imutdvel, Os abjetos estavels e as coisas substanciais nda pertencem ao mundo da ciéncia, fisica ou psicolégica, mas apenas ao senso comum. Definimos a mente como a soma total da experiéncia humana, considerada como algo dependente da ‘pessoa que passa por essa experiéneia. Dissemos, além disso, que a frase “pessoa que passa pela experiéncia se refere ao corpo vivo, ao individuo organizado; e sugerimos que, para propdsitos psicolégicas, 0 corpo vivo ode ser reduzido ao sistema nervoso e as suas ligagdes. Logo, a mente se torna a soma total da experiéncia Jumana, considerada dependente de um sistema nervoso. E, como a experiéncia humana sempre é pracesso, ocorréncia, e como 0 aspecto dependente da experiéncia humana é 0 seu aspecto mental, podemos dizer, de ‘modo mais abreviado, que a mente é a soma total de processos mentais. Todas essas palavras sao relevantes. "Soma total” implica que estamos voltados para o mundo total da experiéneia, ¢ ndo para uma parcela limitada dele; “mental” supde que tratamas da experiéncia em seu aspecto dependente, condicionado por um sistema nervosa; e “proceso” implica que 0 nosso objeto de estudo & uma corrente, um fluxo perpéluo, em vez de uma colecdo de objetos imutéveis. Nao & facil, mesmo com a maior boa vontade possivel, passar do senso comum para a concepeda cientfica da mente; a mudanca nao pade ocorrer de uma hora para a outra, Devemos considerar a mente uma corrente de proceso? Mas a mente é pessoa, minha mente e minha personalidade continuam ao longo da vida, A pessoa que passa pela experiéncia é apenas um organismo fisice? Mas, outra vez, a experiéncia é pessoal, é a experiéncia de um eu permanente. A mente é espacial, tal como a matéria? Mas a mente & invisivel, intangivel; ela ndo estdé nem aqui nem ali, nem é quadrada nem redonda, 6 é possivel responder a essas objeges depois de termos avangado no campo da psicologia e sermos capazes de ver de que maneira funciona a concepedo cientifica da mente. Mesmo agora, contudo, elas se enfraquecem quando voc’ as considera atentamente. Veja a quesido da personalidade. Seré que a sua vida é na verdade sempre pessoal? Ndo ocorre, as vezes, de voce esquecer-se de si mesmo, perder a si mesmo, desconsiderar-se, negligenciar-se, contradizer-se, de um modo bem literal? A vida mental sem divida sé é pessoal intermitentemente, E seré a sua personalidade, quando realizada, imutdvel? Voc & 0 mesmo eu na Infancia ¢ na idade adulta, em seu trabalho ¢ em sua diversdo, quando se comporta da melhor maneira e quando se sente livre de restricdes? Esté claro que a experiéncia do eu é nio apenas intermitente como composta, em ocasides diferentes, de falores bem distintos. Quanto & outra questiio, a mente é sem diivida Invisivel, porque a visdo é mente, ¢ é intangivel, porque o tato é mente. A experiéncia da visio e a experiéncia do tato dependem da pessoa que passa por elas. Mas o préprio senso comum dei testemunho, contra a sua prépria crenca, do fato de a mente ser espacial: falamos, e falamos corretamente, de uma ideia na nossa cabeca, de uma dor no pé. E se a ideia for a de um circulo visto na imaginagdo, ela é redonda; e se a ideia visual de um quadrado, é quadrada. A consciéncia, como mostra a consulta a qualquer dicionério, é um termo carregado de significado. Talvez baste aqui distinguir dois de seus usos principais Em seu primeiro sentido, consciéncia significa a percepedo pela mente dos seus préprios processos. Da mesma maneira como, do ponto de vista do senso comum, a mente é 0 eu interior que pensa, lembra, escolhe, raciocina, dirige os movimentos do corpo, assim também a consciénela & 0 conhecimento intima desse pensamento e dessa direcdo. Temos consciéncia da correcdo da nossa resposta d pergunta de um exame, do cardter desajeitado dos nossos movimentos, da pureza dos nossos motivos, A conseiéncia é, portanto, algo mais amplo da que a mente; ela é “a percepeda daquilo que passa na prépria mente do homem”,; & “conhecimento imediato que a mente tem de suas sensagdes e pensamentos No segundo sentido, a consciéncia é identificada como a mente, € “consciente”, como “mental”. Enquanto os processos mentais acorrem, a consciéneia estd presente; quando esido em suspenso, instala-se a inconsciéneia, Dizer que tenho consciéncia de um sentimento € apenas dizer que o sinto. Ter um sentimento é 87 LAUREATE INTERNATIONAL Universes" estar consciente; e esta consciente & ter um sentimento. Ter consciéncia da picada do alfinete é apenas ter a sensacdo, E, embora eu tenka essas varias maneiras de expressar a minha sensagdo, dizendo “sinto a picada do alfinete”, “sinto a dor de uma picada”, “tenho a sensagdo de uma picada", “sinto como uma picada", & ‘tenho consciéncia de um sentimento”. a coisa que é expressada dessas varias maneiras é uma sé e a mesma. Temos de rejeitar a primeira dessas definigses, Nao sé & desnecessério como enganoso falar da consciéncia como a percepedo que a mente tem de si mesma, E desnecessério porque, como veremos adiante, essa percepedo & uma quesido de observacdo, do mesmo tipo geral que a observagio do mundo exterior; & enganoso porque sugere que a mente & um ser pessoal, em lugar de um fluxo de processos. Deveremos, ortanto considerar que mente e conseiéncia significam a mesma coisa. Entretanto, jd que temas duas palavras diferentes, ¢ & conveniemte fazer alguma distingdo entre elas, falaremos de mente quando nos referirmos & soma total de processos mentais que ocorrem no tempo de vida de uma pessoa, ¢ falaremos de consciéncia quando nos referirmos @ soma total de processos mentais que ocorrem agora, num dado tempo “presente”. A consciéncia serd, entdo, uma secdo, uma divisao, do fluxo mental. Essa distinedo ja esté, na verdade, presente no linguajar comum: quando dizemos que um homem “perdeu a consciéncia”, queremos dizer que 0 lapso é tempordrio, que a vida mental logo seré reatada; quando dizemos que um hamem “perdeu o julzo", queremos dizer, ndo que a mente desapareceu de todo, mas com certeza que o desarranjo & permanente e crénico. Em consequéncia, embora 0 objeto de estudo da psicologia seja a mente, 0 objeto direto do estudo psicolégico & sempre a conseiéncia. Em termos estrites, jamais podemos observar a mesma consciéneia duas vezes; a correnteza mental flui, sem jamais retornar. Do ponto de vista prétice, podemos observar uma consciéncia particular quantas vezes desejarmos, jé que os processos mentais se agrupam da mesma maneira, revelam 0 mesmo padrio de organizagdo, sempre que o organismo & posto nas mesmas cireunstincias, A ‘preamar de ontem nunca vai se repetir, 0 mesmo ocorrendo com a consciéneia de ontem; mas temos tanto uma ciéncia da psicologia como uma ciéncia da oceanografia (0 METODO DA PSICOLOGIA © método clenifico pode ser resumide numa ‘nica palavra: “observaglo”. A inlea maneira de trabathar em citncia € observando 0s fendmenos que comptem o objeto de esudo da citncia. Ea observacdo cnvolve duas coisas ate o ao fondmenase 0 sew ressia, on sea, a experiencia clarae vivida ew relat da experitncia em palavras ou frmalas.. ssi, 0 método da psteologia & a observacdo. Para disingut-ia da tbservagdo da ciéncia fsa, que éa inspecdo, um olhar para fora, a observa pstcelégica foi denominada “imrospeccao", wm olhar para dentro. Mas essa dferenca de nome ndo nos deve deixar cegos para a semelhana essencal dos métodes. Vejamos alguns exemplos ipcos. Podemos comecar com dois cases bem simples. (1) Suponka que Ihe mostrem dos discos de papel: um é de um violeta unforme, 0 ouiro é composio em partes iguais de vermelho e azul. Se esse segundo disco girar rapidamente, o vermetho e azul vo se misturar, como dizemos, e vocé val ver um certo azul avermelhado, ou seja, uma espécie de vileta. O seu problema & ajustar as proporgoes de vermelho e azul no segundo disco de modo que o violeta resultane corresponda exatamente ao voleta do primero disco. Voeé pode repetir essas observages quantas veces quer: pode Wolar at obtervagdes trabalhando mua sala isetta de oniras cores que possam interferir; pode vatar as observacdes trabalhando para igualar os voleas, primelro a pari de tim disco Bicolar com um nitdo excesso de azul e, em seguida, com um disco claramente mais vermetho, (2) Suponha também que é tocado 0 acorde do-mi-sol e que the pegam para dizer quantos tons ele contem. Voce (pode repeir essa observa; pode isola, trabathando numa sala silenciosa; pode varié-la,facendo o acorde Ser tcado em diferentes setores daescalaeem diferentes oitavas. Esté claro que, nesses casos, praticamente nao hé diferenca entre introspecgdo e inspegdo. Usa-se 0 mesmo método que e empregaria para conta as oscllagdes de wm plndulo ou faer leitras na escala de um galvandmetro, no laboratério de fsica. Hé uma diferenca em termos de objeto de estudo: as cores eos tons sto experfnciasdependentes, endo independenes; mas 0 método ¢essencialmente o mesmo Examinemos agora alguns exemplos em que o material da inrospeced & mals complexo. (1) Suponka que the seja dia uma palavra e que the seja pedido que observe o efeito que esse estimulo produ na consciéncia; como a palavra o afeta, que ideias evoca, etc, A observagao pode ser repetida, pode ser isolada — voce pode estar sentada mum quarto escuro e silencoso livre de perturbagbes; e pode ser variada ~ diferentes palavras podem ser proferidas, a palavra pode ser projetada numa tela em vez de falada, etc. Aqui, contudo, parece haver uma difrenca entre introspecedo « inspegdo. O observador que acompanha 0 curso de uma reopdo quinica, ox a8 movinentos de alguma crlatura mlcrotedpica, pode anotar de momento a momento at diferentes fases do fonbmeno observado. Mas, se tentar relaar as midancas na consciéncia ao mesmo tempo 88 LAUREATE INTERNATIONAL Universes" em que elas se desenrolam, voct interfere na consciéncia; sua traducdo da experiéncia mental em palavras introduc novos fatores na experiéneia em si. (2) Suponha ainda que voce estd observando um sentimento on ima emagdo: um sentimento de decepedo ou irritagao, uma emogdo de raiva ou desgosto. O controle experimental ainda é possivel; podem ser criadas, no laboratério pscoldgico,situagdes que permitam repetir isolar e introduce varlagdes nesses sentimentos, Mas a observagiio que vocd faz deles interfere, de modo ainda ais sério que antes, no curso da conscitncia, O exame frio de uma emogdo ¢ fatal para a sua prépria existéncia; a raiva desaparece, a decepedo evapora, assim que voce comega a exanind-las. Para vencer essa difculdade do método inraspectivo, os estudantes de pscologia em geral recehem a recomendagdo de retardar sua observagio para depois do processo a ser descrito er consumado seu curso, quando eles entdo devem se recordar do processo e descrevé-lo de memiria. Assim, a introspecgao se torna retrospeccao; 0 exame introspectivo se torna exame post mortem, Essa regra é, sem divida, boa para 0 iniciante, havendo casos em que mesmo o psicdlogo experiente faz bem em seguila, Mas ela de mado algum é amiversal. Poistemos de nas lembrar (a) de que as observag@es em questdo podem ser repetidas. Ndo ha, pois razdo para que o observador a quem a palavra é dita ow a quem a emogdo se instala, no deva relatar sua abservagto de imediato, no primeira estigi de sua experiéncia, quando sente a efeto imediato da palavra, no comeco do processo emotive. E verdade que esse relat interrompe a observagdo. Mas, depois da descricao precisa do primeiro estigio, padem-se fazer outras observacdes, ¢ 0 segundo, 0 terceiro ¢ os outros estigios podem ser descritas da mesma maneira Assim, acaba-se por obter um relato completo de toda a experiéncia 1H, teoricamemte, algum perigo de os estigios safrerem uma separagao artificial; a conseiéncia é um faxo, um process, se 0 dividimos, corremos o risco de perder certos vinculos intermediarios. Na prtica, contudo, esse perigo mostrou ser muito pequeno; além disso, sempre podemas recorrer & intraspecgde « comparar os nossos resultados parciais com a lembranca que temos da experiéncia inteira. Por outro lado, (B) 0 observador experiente adquire 0 hibito de introspecgao, tem a attude introspectiva arraigada no sew sistema, ¢ assim consegue ndo apenas tomar notas mentais enquanto a observagado esti em andamento, sem interferir na conscincia, como até rascunhar notasescrtas, coma o faz o histologista enquanto mantém o olho na ocular do tmicroscépio. Em principlo, portanto, a inrospecgiio & muito parecida com a inspegtio, Os objets observades sio distintos; sdo objetas da experiéncia dependente, ¢ ndo da independente; tem a propensdo de serem fugazes, Passageiros, fugidios. As vezes eles se recusam a ser observados enquanto acontecem, tendo de ser preservados ina memirla tal como um tecido delicado é preservado no fuido endurecedor antes de pader ser examinado. Eo rronto de vista do observador é diferente; é a perspectiva da vida humana, do interesse humano, ndo do afastamento e da indiferenga. Mas, de modo geral, 0 método da psicologia muito se assemetha ao da fisica. Nao se deve esquecer que, embora 0 método das ciéncias fisicas e psiceligicassejasubstancialmente 0 mesmo, 0 objeto de estudo dessas ciéncias & 0 mais distito possivel. Em itima anélise, como vimos, 0 objeto de estudo de todas as cigncias é 0 mundo da experiéncia humana: entretanto, também vimas que o aspecto da experiéneia tratado pela fiica é radicalmente diferente do tratado pela psicologia. A semelhanca de método ‘pade nos tentar a passar de um aspecto para 0 outro, como ocorre com um manual de fsiologia que incl pardgrafas sobre ilusdes de julgamento; mas essa confusao de objeto de estudo fem como resultado inevitavel a confisdo de pensamento. Como todas as ciéncias esto voliadas para o mesmo mundo da experléncia humand, é natural que 0 método cientfico, soja qual for o aspecto da experiéncia a que & aplicado, eja em prinepio 0 resmo, Por otro lado, quando decidimos examinar algum aspecto particular da experiécia, &necessrio nos resiringirmos a esse axpecto, sem mudar de ponto de vista a medida que a investigagao se desenvolve. Por conseguinte, & uma grande vantagem contar com os dois termes, introspecgdo ¢ inspesdo, para denotar a observagdo feta a partir das diferentes perspectvas da psicologiae da fisica. O uso da palavra intraspecedo é 1m constant lembrete de que trabathamos em psicologia, de que observamos 0 aspecto dependente do mundo da experiéncia A observagdo, como dissemas antes, implica duas coisas: aten¢do aos fendmenas ¢ registro dos Jendmenas. A atengao deve ser manta no mais alto graw possivel de concentracio; 0 regisiro deve ter ‘reco fotogrifica. A observagdo é, portant to difictl quanto cansativa; ea intraspecgdo é, de modo geral, mais dificil e fatigante do que a inspegdo. Para garantir resultados conftveis, mos de ser rigorosamente imparciais ¢ livres de preconcetos, vendo os falos tais como so, promos a aceita-los assim, sem tentar enquadri-los em qualquer teoria preconcebida; e s6 devemos trabalhar quando a nossa disposicao geral for favorével, quando estivermas bem ¢ com boa sade, i vontade no nosso ambiente, livres de preocupacdes ¢ ansiedades exteriores. Se essas regras nao forem seguidas, nenhum volume de experimentacdo nos ajudard. O observader, no laboratério de psicologia, esti nas melhores condiyGes exteriores possiveis; «sala onde trabatha esté adaptada e equipada de tal maneira que a observagdo possa ser repetida, que 0 processo a ser 89 LAUREATE INTERNATIONAL Universes" observado possa destacar-se claramente contra o pano de fundo da consciéncia, ¢ que os fatores envolvides no processo possam ser avaliados separadamente. Mas todo esse cuidado & em vido, excelo se 0 préprio ‘observador, ao trabalhar, estiver com a mente equilibrada, der ao trabatho plena atencdo e tiver capacidade de traduzir adequadamente sua experiéncia em palavras. O PROBLEMA DA PSICOLOGIA A ciéncia sempre busca responder a trés perguntas acerca do seu objeto de estudo: 0 qué, como e por qué, O que precisamente, tirando-se todas as complicagées e fazendo uma redugdo aos termos mais clementares, & esse objeto de estudo? Como, entdo, vem ele a se apresentar como se apresenta, como se combinam e organizam os seus elementos? EF, finalmente, por que ele se apresenta agora nessa combinaydo ou arranjo particular, e nia em outra? Se quisermos ter uma ciéncia, temas de responder a essas trés perguntas. Responder & pergunta “o qué?” é a tarefa da anélise. A ciéncia fisica, por exemplo, tenta através da anélise, reduzir 0 mundo da experiéncia independente aos seus termos mais elementares, chegando assim aos varios elementos quimicos. Responder a pergunta "como?" é tarefa da sintese. A ciéncia fisica descreve o comportamento dos elementas em suas vérias combinagdes e termina por formular as leias da natureza, Quando essas duas perguntas estito respondidas, temos uma descri¢do de fenémenos fisicas. Mas a ciéncia pergunta, além disso, “por que” um dado canjunto de fendmenos acorre justamente de uma determinada ‘maneira endo de outra; ¢ responde a pergunta “por qué?, revelando a causa de que os fenémenos sdo feitos. Havia orvatho no solo ontem a noite porque a superficie da terra estava mais fria do que a camada de ar acima dela; 0 orvatho se forma sobre o vido, e ndo sobre o metal, porque o poder irradiador de um é grande e 0 do outro é pequeno. Quando a causa de um fendmeno fisico foi identificada assim, diz-se que o fendmeno esté explicado. Até agora, no tocante & deserieao, o problema da psicologia lembra de perto o da fisica. O psiedloga procura, antes de tudo, analisar a experiéncia mental em seus camponentes mais simples. Ele toma uma consciéncia em particular e trabalha com ela repetidamente, fase por fase e processo por processo, até que a sua anélise ndo possa mais ir adiante. Restam-the certos processos mentais que resistem & andlise, elementos da natureza absolutamente simples que ndo podem ser reduzidos, mesmo em parte, a outros processos. Esse trabalho continua, com outras consciéncias, até que ele possa falar com uma certa confianca acerca da natureza e do mimero de processos mentais elementares. Em seguida, ele se ocupa da tarefa da sintese, Retine os elementos em condicdes experimentais: em primeiro lugar, talvez, dois elementos do mesmo tipo, depois mais elementos desse tipo e, em seguida, processos elementares de diversos tipos; ele acaba por discernir a regularidade e a uniformidade da ocorréneia que vimos serem caracteristicas de toda experiéneia humana, Assim, ele aprende a formular as leias de conexido dos processos mentais elementares. Se ocorrem juntas, sensacdes de som se combinam ou se fundem; se ocorrem lado a lado, sensacdes de cor se intensificam ‘mutuamente; ¢ tudo isso acontece de modo perfeilamente regular, permitindo-nos formular as leis da fusio tonal e as do contraste cromético. Se, no entanto, tentarmos elaborar uma psicologia meramente descritiva, vamos descobrir que nao hd esperanca de ela ser uma verdadeira ciéncia da mente. Uma psicologia descritiva seria para a psicologia cientfica mais ou menos como as histérias naturais ultrapassadas diante dos modernos manuais de Biologia, ou como a concepedo de mundo que um rapaz consegue no seu gabinete de experimentos fisicos diante de um ‘fisica bem treinado, Ela nos diria muito sobre a mente ¢ incluiria um grande corpo de fatos observados que ‘poderiamos classificar e, em larga medida, submeter a leis gerais. Contudo, ndo haveria nela unidade nem coeréncia; faltar-the-ia 0 principio diretor que a biologia, por exemplo, tem na lei da evolucao, ow a fisica, na lei da conservagdo de energia. Para dar & psicologia um cunho cientifico, niio podemos nos limitar a descrever ‘a mente; temos também de explica-la. Temos de responder & pergunta “por qué?” Mas hé uma dificuldade aqui. Esté claro que ndo podemos considerar um processo mental a causa de outra processo mental. Se nilo por ouiras razbes, porque, com a mudanga do nosso meia eireundante, podem-se estabelecer consciéncias inteiramente novas. Quando visito Atenas ou Roma pela primeira vez, tenho experiéncias que se devem, ndo a consciéncia passada, mas aos estimulos presentes, Do mesmo modo, niio podemos considerar os processas nervasos a causa de processes mentais. O principio do paralelisma psicofisico estabelece que os dois conjuntos de eventos, processos do sistema nervoso e processos mentais, tem cursos paralelos, em correspondéncia exata, mas sem interferéncia: eles sio, em iiltima andlise, dois aspectos diferentes da mesma experiéncia. Um ndo pode ser a causa do outro. 90 LAUREATE INTERNATIONAL Universes" Nao obstante, explicamos fendmenos mentais por referéncia ao corpo, ao sistema nervoso e aos érgdos que estdo ligados a ele. O sistema nervoso nao causa, mas explica, a mente. Ele a explica tal como 0 mapa de um pais explica os vislumbres fragmentados de colinas, rias e cidades que captamos ao percorré-lo. Em suma, 4@ referéncia ao sistema nervoso introduz na psicologia precisamente a unidade e a coeréncia que uma psicologia restrita & descrigéo ndo consegue alcancar. A ciéncia fisica, portanto, explica ao atribuir uma causa; a cigncia mental explica por referencia aos processos nervosos que correspondem aos processos ‘mentais sob observacdo. Podemos juntar essas duas modalidades de explicacdo se definirmos a propria explicacao como a declaracao das circunstancias ou condicées préximas sob as quais o fenémeno descrito ‘corre. O orvatho se forma com a condigio de uma diferenga de temperatura entre 0 ar e 0 solo; as ideias se formam com a condigao da ocorréncia de certos processos no sistema nervoso. Fundamentalmente, 0 objeto ¢ 0 ‘modo de explicacdo sao, nos dois casos, as mesmo. Assim como 0 método da psicologia é, em todos os pontos essenciais, o método das ciéncias naturais, 0 Problema da psicologia ¢ essencialmente da mesma espécie do problema da fisica. O psicdlogo responde @ pergunta ““o qué?” analisando a experiéncia mental em seus elementos. Responde & pergunta “como?” formulando as leis de conexito desses elementos. E responde a pergunta “por qué?” explicando os processos ‘mentais em termos dos seus processos paralelos no sistema nervoso. Seu programa ndo precisa ser desenvolvido nesta ordem: ele pode vislunbrar uma lei antes de completar a anélise, ¢ a descoberta de um rgao sensorial pode sugerir a ocorréncia de determinados processos elementares antes de 0 psicdlogo descobrir esses processos por meio da introspecedo. Ha um estreito vinculo entre essas trés perguntas, e a resposta a qualquer uma ajuda a responder ds outras duas, A medida do nosso progresso na psicologia cientifa esté na nossa capacidade de dar respostas satisfatérias as trés. o1

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