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USP ‘gis Mia Pete de Bao reine) int Aniens fe, Tip Gane Conta DOAGAO DA FAMILIA DO PROF, RAUL CID LOUREIRO Cone 01986 ty Be Fats Sean me acne yee rte ‘Bette ava, (scien Sifu SP Tad Taso) 21088 ‘re (oyniss0 sae Ae Pidatintaat 1935 ep ea SUMARIO ‘tau co Lourane Introdugio 1 1 “1. 13. 14 . 1s. 16. 24 22, 23, 24, 25. ‘As Causas da Expansto Martima e a Chegada dos Portugueses 0 Brasil © gosto pela aventura, O desenvolvimento das técnicas de navegacio. A nova mentalidade. ‘A atragdo pelo ouro e pelas especiarias, A ocupacio da costa africana e as feitorias ‘A ocupagio das ilhas do Atlintico A chegada ao Brasil (© Brasil Colonial (1500-1822) 0s indios wees s periodos do Brasil coloni ‘Tentativas iniciais de exploragio . Inicio de colonizagdo — as capitanias hereditirias (© governo geral 13 ” 23 2s 26 28 29 30 35 7 a a a 46 ar 00 ase + mi co toureno 2.6, A colonia se consotida ” 5. Segundo Reinado (1840-1889) 13 2.1. O trabalho compuls6rio “8 51, O"Regresso” 175 2.8. A escravidao ~ indios ¢negros ” 5:2. Auta contra o Impéro centalizado "7 176 29, Omercantlisme 54 53. Oacordo das elites o "parlamentari 179 2:10. 0 "exclusivo” colonial 38 5, Os partidos: semelhangas ediferengas 180 2.11, A grande propriedade e a monacultura de exportagio. 38 55. A preservagdo da unidade territorial 183 2.12, Bsiadoe Tpreja 39 56. A estrtura sécio-econimica € a escravidd0 186 2.13. O Estado absolutista € o “bem comum" 62 51. A Guerra do Paraguai : 208 2.14, As insituigdes da administragio colonial “a 58. Acrise do Segundo Reinado 27 2:15, As dvisbessociais 65 59. Balango econ6mico e popolacional 236 2.16, Estado e Sociedade ” . 2.17, As primeira aividades econdmicas 76 6. _APrimeiza Repiblica (1889-1930) ez] 2.18. As iavasdes holandesas a 6. A primeira Consiuigéo republicana 29 2.19, A colonizagto do Norte : 0 62, 0 Encilhamento, 252 220. 9 63, Deodoro na presidéncia, 232 221, Ouro diamantes 98 64. Floriano Peixoto 254 2.22. Arise do Antigo Regime 5 106 65. ARevolugio Federalista 255 12.23. A erse do sistema colonial 108 66, Pradente de Morais 256 2.24, Os movimentos de rebeldia 13 © 67. Campos Sales. 258 2.25. A vinda da famfia real para o Brasil . 10 68. Caractersticas politics da Primeira Rep6blica 261 2.26, A Tndependéncia . . . +. 19 69, O Estado e a burguesia do café ne] 2.21, O Brasil no fim do periodo colonial 45 6.10. Principais madangas socioecon6micas ~ 1890 a 1930. 25 6.11, Os movimentos socais . 295 3. O Primeito Reinado (1822-1831) mr 6.12. 0 processo politico nos anos 20 sos 2.1, Aconsolidagio da Independéncia 143 613. A Revolugio de 1930 319. 3.2. Uma ransigdo sem abalos 146 33. A Constituinte tee M7 7. OBstado Getwnsta (1980-1945) . ne 34. A Consttuigdo de 1824 : 9 7A. A colaboragto entre 0 Estado ea Igreja, 332 35. A Confederagio do Equador 132 12, & cenwalizagio 333 3.6. A abdicagso de Dom Pedro 1 I | 73, Apolitiado café. . . cece 333 . TA. A politica tfabathista 335 4. A Regdacia (1831-1840) . . eee 1S, A-educagio 336, 4.1, As reformasinstitucionais BAoo 162 16. O processo politi (1930-1934) 340 42, Asrevollab provincials 164 17. A gestagio do Estado Novo 352 43. A politica no perfodo regencial a 18. DEstado Novo 304 79. 81 82 83, 8a, 85 86 80. 88 89, 8.10. 94 92. 93, 94 9s. 96. 97. 98 99, 10. 101. 102. 103. 104, 105. 0 11a, m2. sronn oo wma. ‘As mudangas ocortidas no Brasil entre 1920 ¢ 1940 (0 Period Demacritico (1943-1964) A cleigio de Dutra A Constituigao de 1946 © governo Dutra ‘Onovo governo Vargas A eleigo de Juscelino Kubitschek © governo IK. A sucesso presidencial © governo Janio Quadros A sucessiio de Jnio © governo ozo Goulart © Regime Militar (1964-1985) Ato Institucional nt I a repressio. © governo Castelo Branco 0 governo Costa e Silva A junta militar 0 governo Médici 0 governo Geisel (© governo Figueiredo Caracterizago Geral do Regime Militar Morte de Tancredo Neves, Completa-se a Transigao: 0 Governo Samey (1985-1989) Politica econdmica Plano Cruzado As cleigbes de 1986 ‘A Assembléia Nacional Constituinte A transigdo avalieda . Principais Mudangas Ocorridas no Brasil entre 1950 ¢ 1980 Popalagio Economia 389 395 397 399 401 108 “9 422 436 87 482 “a 463 465 468 5 43 482 488 500 sR su 317 520 522 su 524 526 529 331 335 / 113. Indicadores cis Yt | 12. A Nova Oxdein Mundial eo Bras ‘Cronologi Historica Gloss Referéncas Bibliogrfcas Fonte Iconogrifica . jo Biografico 543 Sst 37 sor 641 609 INTRODUGAO ‘0 cm Loureno Esta Histbria do Brasil se dirige 20s estudantes do 2° grau e das uni- ‘versidades tem a esperanga de atingir também o publico letrado em geral. A ambigio de abrangéncia parte do principio de que, sem ignorar a complexidade do processo histérico, a Histéria € uma disciplina acessfvel a pessoas com diferentes gras de conhecimento, Mais do que isso, € uma disciplina vital para a formagio da cidadania, Nao chega a ser cidado quem nio consegue se orientar no mundo em que vive, a partir do conhecimento da vivéncia das geragées passadas Qualaquer estudo histérico, mesmo uma monogeafia sobre um assunto bastante delimitado, pressupde um recorte do passado, feito pelo historiador, 1 partir de suas concepges e da interpretagio de dados que conseguiv reunit. “A propria selecio de dados tem muito ver com as concepeSes do pesquisador. Esse pressuposto revela-se por inteiro quando se trata de dar conta de uma seqiiéncia hist6rica de quase quinbentos anos, em algumas centenas de pé- sinas. Por isso mesmo, o que © letor tem em mio nfo € a Hist6ria do Brasil - tarefa pretensiosa e aliés impossfvel ~ mas uma Historia do Brasi, narrada © interpretada sinteticamente, na 6ptica de quem a escreveu 0 recorte do passado, seja ele qual for, obedece a um critério de rele- vancia e implica 0 abandono ou o tratamento superficial de muitos processos « episédios. Como todo historiador, fago também um recorte, deixando de Jado temas que por si s6s mereceriamn monografias. Entre tentar “incluir tudo", com o risco da incongruéncia, ¢ imitar-me a estabelecer algumas conexes de sentido bésicas, preferi a segunda op¢do. Com esse objetivo, procurct integrar o: axpectos econdmicos, politico-sociais e, em cesta medida, ideo l6gicos da formagio social brasileita, deixando de lado as manifestagées da cultura, tomada a expressio em sentido estrito. Essa exclusio nao se baseou ‘em um critério de relevineia, mas de outra natureza que é necessirio esclare- cer: Parti da constatagio de que o inter-relacionamento entre a estrutura socio: econdmica ¢ as manifestagées da cultura € por si s6 um problema especifico, que demanda seguir outros ¢ dificeis caminhos. Como ndo poderia percorté Tos, preferi deixar de lado os fatos da cultura, em vez de simplesmente env- ‘meré-tos, em um esforgo de mera catalogagdo. Por exemplo: ao falar das Minas Gerais dos thtimos decénios do século XVI, deixei de lado 0 aca: Sets ee chygtatncan stow vo stash Brasil Coldnia, por volta de 1800 eum LA 320 mil habitantes, os negros representavam 52,2%; os mulatos, 25,7%%; € 0s bbrancos, 22,1%. ‘Ao longo dos anos, houve intensa mesticagem de rags cresceu a pro: porgdo de mulheres, que em 1776 era de cerca de 38% do total, e ocorreu um fendmeno cuja interpretacio € um ponto de controvérsia entre os historiadores: © grande mimero de alforras, ou seja, de libertagio de escravos. Para se ter ‘uma idéia da sua extensio, enquanto nos anos 1735-1749 os libertos repre- sentavam menos de 1,44 da populagio de descendéncia africana, em torno, de 1786 passaram a ser 41,4% dessa populagio e 34% do ndmero total de habitantes da capitania, A hip6tese mais provavel para explicar 9 magnitude dessas pfoporedes, que superam por exemplo as da Bahia, 6 de que a pro- _gressiva decadéncia da mineragdo tommou desnecesséria ou impossivel para muitos proprietérios a posse de escravos. ‘A sociedade das minas foi uma sociedade rica? Aparentemente, como associamos ouro a riqueza, a resposta pareceria fic. Mas ndo € bem assim. Para comegar, devemos distinguir entre 0 perfodo cial de corrida para 0 ouroe a fase que se seguiu, No perfodo inicial, isto, na dtima década do séeulo XVII no inicio do sécilo XVIN, a busca de metais preciosos sem o suporte de outras atividades gerou falta de alimentos e uma inflagio que atingiu toda a Colénia. A fome chegou a limites extremos € ‘muitos acampamentos foram abandonados. Com o correr do tempo. 0 cultive de rogas e a diversificagio das atividades econGmicas mudaram esse quadro de privagbes. A sociedade mincira acabou por acumular riquezas, cujos ves- ligios estZo nas construgSes e nas obras de arte das hoje cidades histéricas. Lembremos porém que essas riquezas ficaram nas mios de uns poucos 1um grupo dedicado nfo s6 a extragio incerta do ouro mas 20s vérios negécios «© oportunidades que se formaram em torno dela, inclusive o da contratagio de servigos com a administragio pOblica. Abaixo desse grupo, a ampla camada de populagdo livre foi constituida de gente pobre ou de pequenos funcionsrios, ‘empreendedores ou comerciantes, com limitadas possibilidades econémicas. Certamente, a sociedade mineira foj mais aberta, mais complexa do que a do agéear, Mas nem por isso deixou de ser, em seu conjunto, uma sociedade pobre. Se nilo cabe falar em um ciclo do apicar, podemos falar de um cicto do ‘ouro, no sentido de que houve fases marcadas de ascenso ¢ de decadéncia. O me aston vo seas. ‘our nio deixou de existir em Minas, porém sua éxtracio se tornou econo- ricamente pouco atraente. © periodo de apogeu situou-se entre 1733 e 1748, comesando a partir daf 0 declinio, No inicié 40 século XIX, a produce aursfera jf nfo tinha maior peso no conjunto da economia brasileira. O re- trocesso da regio das minas fi nitido, bastando lembrar que cidades de uma vida to intensa se transformaram em cidades histéricas com o sentido também de estagnadas. Ouro Preto, por exemplo, tinha 20 mil habitantes em 1740 € apenas 7 mil em 1804. . Mas 0 retrocesso nio atingiu toda a Capitania de Minas Gerais. Nela, nem tudo era minerago. Mesmo nos tempos de, gléria do ouro, a fazenda rmincira muitas vezes combinava 2 pecuiria, o engenho de agicar, a produgso 4e farinha com a lavra de ouro. Gragas & pecuéria, aos cereais © mais tarde & ‘manvfatura, Minas néo regrediu como um todo. Pelo contriio, no correr do sGeulo XIX iria expandir essas atividades © manter um constante fluxo de ‘mportagdo de escravos. A provincia mineira representaria uma curiosa com= binago de regime escravista com uma economia que nio era de plantation, nem estava orientada prineipalmente para o mercado extern. 2.22, A CRISE DO ANTIGO REGIME [As otimasdécadas do cul St se earacterzaram por uma série de trasformagdes no mondo ode tanto no plan ds ie como no plana das fos, © Antigo Regime, ou ss, o conjuno de monarqiasabsoltas imperantes na Europa desde onio do séelo XVI a que estovam lgadas eterminadas concepofes e priticas, entrou em crise} 222.1. © PENSAMENTO ILUSTRADO E 0 LIBERALISMO ‘As novas idéias vinham sendo gestadas desde 0 inicio do século ou ‘mesmo’ antes ¢ ficaram conhecidas pela expressio “pensamento ilustrado”. 8 pensadores ilustrados; homens como Montesquieu, Voltaire, Diderot, ‘Rousseau, apesar de divergirem muito entre si, tinham como ponto comum o Principio da rario. Segundo eles, pela razio atingem-se 0s conhecimentos \teis a0 homem ¢ através dela podemos chegar as leis naturais que regem a sociedade. A missio dos governantes consiste em procurar a realizagio do bem-estar dos povos, pelo respeito As leis naturais¢ a0s ditcitos naturais de {que 0s homens sio portadores. O nio-cumprimento desses deveres basicos dé ‘408 governados 0 dircito& insurreigSo, 'As concepeées ilustradas deram origem no campo sockopolitico a0 pen- samento liberal, em seus diferentes matizes. Um fundo comum as varias de que a histéria humana tende correntes do liberalismo sc-encontra na n a0 progresso, 20 aperfegoainento do individvo e da sociedade, a pati de critrio propostos pela rao, A flicidade — uma ida nova no século XVII ~ constitu 0 objetivo supremo de cada individuo,¢ a maior felicidad do maior ndimero de pessoas € o verdadeiro desgnio da sociedade, Esse ideal deve ser aleangado através da iberdade individual, eiando-se condigdes para © amplo desenvolvimento das aptiddes do individvoe para sua participagio 1a vida politica No plano econ6mieo, em sua versio extrmada, 0 liberalism sustenta 0 ponto de vista de que 0 Estado nfo deve interfere na iniiaiva individual, Timitando-se a garam segurangae a educagio dos ckadfos A concortncia ‘es apiddes pessoas se encarregatiam de harmonizar, como uma mo invi- sivel, a vida em sociedad ‘No plano politico, a doutrina liberal defendeo direito de representaglo dos individues, sustetando que nees,e lo no poder ds reis, se encontra a soberania, Esta 6 eftendida como o direto de organizar a nagdo a partir de uma lei bésica~ a Consiuigdo, Oateance da representaglotragow uma ina divis6ria entre liberalismo e democraca ao longo do séclo XIX. As correntes, democritieas defendiam o suftdgio universal, ov se, 0 dreito de repre sentagio confer?dp a todos 08 cidadfos de um pats, independentemente de condigto focal, sexo, cot. ou rligto, ou mesmo a democracia dita isto €, © direito de pantcipar da vida politica sem conferir mandato a alguém. Os Jiberas trataram em regra de restringi a represcatsio, segundo critérios sobretudo econéimicos: para eles, s6 0s proprietéros, com um certo nivel de rends, poderiam volar oi ser volados, pois &s demais pessoas faltavainde- endéncia para oexerciio desses direitos. Na Europa ocidentl iberaismo deu bas ieol6pica aos movimentos, pela queda do Antigo Regime, caracterizado por privilgios corporativos © pela monarquia absoluta, Nas coldnias americanas,justificou as tentativas de reforma © 0 “direto dos povos & insurreigdo”. E importante observar que na ‘obra que se tomnou a biblia do liberalismo econémica A Riqueza das Navdes, eserita por Adam Smith em 1776 — hi uma critica ao sistema colonial, aeusado {de distorcer os fatores de produgio e © desenvolvimento do comércio como promotor da riqueza, A eseravidao parece a Adam Smith uma institvigio anacr6nica, incapaz de competir com a mio-de-obra live, 2.23. A CRISE DO SISTEMA COLONIAL ‘Alguns fatos signficativos balisaram as transformages do mundo ock- ental, a partir de meados do século Vil Em 1776, as coldnias inglesas da ‘América do Norte proctamaram sua independéncia, A partir de 1789, a Re- ‘olusio Francesa pés fim ao Antigo Regime na Franga, o que repercutiu em elusive pela forga das armas. toda a Europa, ‘Ao mesmo tempo, ocortia na Inglaterra uma revolugko silencios data precisa, 130 ou mais importante do que as mencionadas, que ficou co- hecida como Revolugdo Industrial. utiizagio de novas fontes deenensia, 4 invensio de miquinas, principalmente para a indéstria-téxtil, 0 desen- volvimento agricola, © controle do comércio internacional so fatores que iam transformar a Inglaterra na maior poténcia mundial da época, Na busca pela ampliago dos mercades, os ingleses impem ao mundo o livre comércio ‘© 0 abitidono dos principios mercantilistas, ao mesmo tempo que tratam de proteger seu préprio metcado e o de suas colénias com tarifas protecionista. Em suas relagdes com a América espanhola e portuguesa, abrem brechas cada ‘eg muiores no sistema colonial, por meio de acordos comercias, contrabando eealfanga com os comerciantes locas (© mundo cofonial € afetado também por outro fator importante: a tendén- cia a Timitar ou a extingur a éscravidao, manifestada pelas maiores poténcias 4a época, ou seja, a Inglaterra ea Franca. E comum ligar-se essa tendéncia 20 interesse britanico em ampliar mercados consumidores, a partir da vantagem obtida sobre os concorrentes com -Revolugéo Industrial, Entretanto, esse afirmagdo,contém apenas uma parte da verdade. A ofensiva antiescravista seus Iederes estayam figuras imporintes; como o Padre Feijé ¢ Campos Vergueiro, de Sio Paulo; kitapo de Abreu Te6filo-Ouwoni, de Minas, Os grandes proprictios ‘turais.s¢ dividiram entre. os dois campos em hita. No Rio de Janeiro, o lider ‘dos rebeldes era Joaquim de Sousa Broves, frzendeiro de café e o homem 17. Rett de, Pees Hons Deere As, ‘mais rico da provincia. Breves opunha-se a0 governo central porque este tentava combater a sonegagio de impostos sobre o café e tomara medidas de combate ao trfico de escravos, 7 ‘Alguns anos mais tarde, em 1848, surgiu em Pernambuco a Revolugio Praieira. A denominagSo deriva de um joral liberal ~ 0 Didrio Novo ~ evja sede ficava na Rua da Praia, no Recife. E importante lembrar que 1848 no foi um ano qualquer, pois nele uma série de revolugSes democriticas varreu a ‘Europa, Em Olinda ¢ Recife, respirava-se 0 que um autor andnimo, advergério das revolugdes, chamara muitos anos antes de “maligno vapor pernambucano”. ‘0 vapor 8e componha agora também de critica socal e idéigs socialistas, "Um exemplo de ertico social contundente & Ant6nio Pedro de Figueire- do, apelidado por seus adversérios de Cousin Fusco, por ser mlato (fusco) © ter raduzido para 0 portugués uma Histéria da Filosofia do escritor francés Vietor Cousin. Nas paginas de sua revista O Progresso, publicada entre 1846 «©1848, Figueiredo apontov como grandes males sociais da provincia aestraty- sa agraria, com a concentrago da terra nas mios de uns poucos proprietirios, © 0 monopélio do comércio pelos estrangeios. 1éias socialistas foram veiculadas por gente tio diversa como Louis ‘Vauthier, contratado pelo presidente da provincia para embelezar o Recife, © o general Abreu e Lima, autor, anos mais tarde, de um pequeno livro inttelado (0 Socialismo, Nao era 0 socialismo de Marx, pouco conhecido naquela altura, ‘mesmo na Earopa, mas o de autores franceses como Provdhon, Fourier © 0 ingles Owen [Nao imaginemos porém que a Praiciratenha sido uma revolugio socia- lista, Precedida por manifestagSes contra os portugueses, com virias mortes, tno Recife. ela teve como base, no campo, senhores de engenho ligados a0 Partido Liberal. Sua razdo de queixa era a perda do controle da provincia para 10s conservadores. Cerca de 2500 homens atacsram o Recife, sendo porém derrotados. A luta sob a forma de guerrilhas prosseguiu até 1850, sem causar pporém maiores problemas ao governo imperial (© niicleo urbano do’ praiciros, no qual se destacava a figura do velho repiblicano Borges di Fonseca, sustentou um programs favorivel 20 federa- lismo, &aboligée d3 Poder Moderador, &cxpulso dos portugueses ¢ & nacio- nalizago do comércio a varejo, controlado em grande parte por eles. Como novidade, apatece a defesa do sufrigio universal, ou seja, do direito de voto para todos os brasileiros, admitidas algumas restrigSes, como idade minima para votar e ser votado, mas sem a exigéncia de um minimo de rend 53. 0 ACORDO DAS ELITES E 0 “PARLAMENTARISMO” ‘A Praicira foi a dltima das rebelides pmuiuciais. Ao mesmo tempo, ‘marcou 9 fim do.ciclo revolucionvio-em Pernambuco, que vinha desde a guerra contra. os holandeses, com a intégragao da provincia & ordem imperial Bem antes de eclodir a Praicra, as elites imperiais vinham procurando formalizar as regras do jogo politico. O grande acordo, afinalalcangado, tinha ‘como pontos bsicos o reforco da figura do imperadgh com a restaurasio do Poder Moderador e do Consetho de Estado, eum conjunto de normas escrtas «eno esritas. As tkimas constitufam o que se chamava, deforma deiberada- mente vage, "o-cpiito do regime” Comegou a funciongr um sistema de govern assemelhado ao parlamen tar, mas que no se confunde cam.o,parlamentarismo no sentido proprio da expressio. Em primeiro lugar, lemb i9.de quea Consttyigio de 1832) nto tinka nada de parlamentarista. De acordo com seus dispositives, o Pe Executivo era chefiado pelo imperador ¢ exercido por ministzos de Estado livremente nomeados por ele. Esse eritério €diverso do parlamentarismo, pois nesse sistema o ministério ~ chamado de gabinete ~ depende essencialmente do Parlamento, de onde si a raigria de seus membros Durante o Primeiro Reinado e a Regéncia nio houve prética parlamen- tarista, Ela foi se desenhando e, mesmo assim, de forma peculiar erestita, a pair de 1847. Naquele ano, um decreto eriou 0 cargo de presidente do Con- selho de Ministros, indicadorpelo imperador. Essa personagem politica passou 4 formar 0 ministério cujo conjunto constitufa 0 Consetho de Ministrs, ov sgabinete, encarregado do Poder Executivo, O funcionamento do sisteria presu- ‘mia que, para manteé-se no governo, o gabinete devia merecer a confianga, tanto da Cimara como do imperador. Houve casos em que a Cimara forgou a _mudanga de composigdo do Conselhio de Ministros, mas o imperador detinha uma considerdvel soma de atribuigées através do Poder Moderador ¢ isso distingue o sistema politico imperial do parlamentarismo, © imperador usava 4s prerrogativas do Poder Moderador, quando a Cimara nfo apoiava o gabi We sro 0 as. rete de sua preferéncia. Nesse caso, com base no Poder Moderador, dssolvia a Cimara, ap6s ouvir 0 Conselho de Estado, © convocava novas eleigbes. ‘Como nas eleigées 0 peso do governo era muito grande, o imperador conseguia eleger uma Cémara que se harmoni2ava com o gabinete por ele preferido, ‘Como resultado desse mecanismo, howve, em um governo de cinqdenta anos, a sucesso de 36 gabinetes, com a média de um ano e tés meses de uracto cada um, Aparentemente, havia uma grande instabilidade, mas, de fato, no era bem isso 0 que ocorria, Na verdade, tratava-se de um sistema flexivel que permitia 0 rodizio dos dois principais partidos no governo, sem raiores traumas. Para quem estivesse na oposi¢do, havia sempre a esperanga, de ser chamado a governar. Assim, o recurso s armas se tornou desnecessrio, 54, OS PARTIDOS: SEMELHANCAS E DIFERENCAS. Os dois grandes partidos imperiais - © Conservador ¢ o Liberal ~ com- pletaram sua formato em fins da década de 1830, como agremiagdes poiticas ‘opostas. Mas havia mesmo diferencas idealégicas ou sociais entre cles? Nao passariam no fundo de grupos guase idénticos, separados apenas por riva- lidades pessoais? ‘Muitos contemporsineos afirmavam isso. Ficou célebre uma frase atibui- da ao politico penambucano Holanda Cavalcanti: “Nada se assemetha mais a tum “saquaremia? do que um ‘luzia’ no poder”, “Saqu ‘0s primeiros anos do Segundo Império, era 0 apelide dos conservadores. Derivava do moni: cipio fluminense de Saquarema, onde 0s prncipaischefes do partido possofam terras e se notabilizaram pelos desmandos eleitorais. “Luzia” era 0 apelido dos liberafs.em uma alusio & Via de Santa Luzia, em Minas Gerais, onde ‘corren a maior derrota destes, no cuiso da Revolucio de 1842. A idéia de. indiferenciagio dos partidos parecia também confitmar-se pelo fato de ser freqiente a passagem de politicos de um campo para o outro. [Na historiografia; existem opinides diversas sobre o tema, variando de ‘acbrd coitus concepgbes gerais dos autéres sobre 0 perfodo e mésmo sobre ‘a formacao sécial brasileira: Por exemplo, Caio Prado Jinior admite a éxistén- ia dé vérto conflito entre 0 que chama de borguesia reaciondria, representada ppelos donos de terras ¢ senhores de escraves, © a burguesia progressist, representada pelos comerciantesc finances, Mas, segondo cle divergéncia no se manifesta através da police panda, AS doas correntes s€ mis- turavam nos dois partidos, embora houvesse cert preferéncia ds rerGgradot pelo Partido Conservador Por sua vez, Raimundo Faoro véno Partido Conservador a representagio «a borocracia,enquantoo Partido Libera epresentaria os interests agrérios, opostos ao reforo do poder central promovido pelos burocrtas. ‘Ao considerar @ questo, devemos ter em conta que a politica desse perfod, eno 6 dee, em boa medida nf efaia paras alcangarem grandes abjetivosideolgicos. Chegar a0 poder sgnficava obterprestgi e beneficios para si proprio e sua gente: Nis eligdes, nfo se esperava que 0 candidato cumprisse bandits programiticas, mass promessas feta a seus partidos CConservadores iberasuilzavam-se dos mesmos recursos pars lograr vit riasleitorais,concedendo favors as amigos e empregando a violEncia com relagio aos indecizos¢ sos adversrios. Als, havia wma dose considerada accitivel no uso dessesrecrsos, certs eleigesficaram famoses por supe rarem essa dose. E 0 aso da, "eleigdo do cacte”, que, om 84D, garam a permanéncia dos liberais. no goxsmo A divisio entre liberas © conservadores tem, assim, muito de uma disputa entre cliemslas opostas, em busca das ‘vantagens ov das migathas do poder. ‘Ao mesmo tempo, a poltcanio se reduzin apenas ao intress pessoal devendo a elite politics do Impéria lider, em win plano mais amplo, com os srandes temas da organizagao do Estado, dis liberdodes pblicas, da repre- sentaso, da escravatura, As linhasdivsis dessasquestes corresponderiam as dvisdes panda, s¢ iso ocomeu, que sgnificariam exsasdvisbes? \Vamos deixar part mais adiante o problema da escravatura, por ser rmerecedor de um tatamento& parte, dando aqui com as outs quests. O tema da cenralizacio ou da descenralizago do poder que diz reapcito A organizagfo do Estado dividiv, como vimor, conservadorese liberi, Resta vemos porém que, na pritca, sea divstos6 foi relevant na década de 1830, quando as doa endncias ainda nlo chegavam a ser partidos. As medidas do “regresso" ea maoridade de Dom Pedro Mt, promovida, ass, pelos préprios Tiberais,assnalaram a vitria do modelo centaizador. “Daf para a frente, os dois partidos aderram a ele, embora os liberasinsstssem, ds boca para fora, em dsfender a descenralizagio, [A defesa das liberdades e de uma representacio politica mai ampla dos cidadios foram bandeiras levantadas pelo Partido Liberal, mas foi s6 a partir dda décadia de 1860 que estes temas ganharam forca em seu ideo, juntamente ‘com a retomada das propostas de descentralizagSo. O chamado “nove” Partido Liberal, organizado em 1870 com a adesGo de conservadores como Nabuco de Araiijoe Zacarias de Gois, defendia em seu programa a eleiglo direta nas cidades maiores; oSenado temporsrio; a educio das atribuigbes do Consetho de Estado; a gerantia das liberdades de consciéneia, de educagio, de comércio de indistra; ea abolicao gradual da escravatura, Algumas figuras do libe- ralismo, como 0 senador Silveira da Mota, chegaram mesmo a igtroduzir um se da opinio tema hoje’atual, ao dizer que as reformas deviam origin pblica — da sociedade civil na jinguagem de nossos dias ~ nao do governo, ‘como sempre acontecera no pais. ‘Sc havia uma certa diferenciagao ideolégica entre 0s dois partidos, cabe perguntar a que se devia, Ao analisar a composigio dos ministérios imperiais, ‘José Murilo de Carvalho chega a algumas conclusdes significativas. A seu ‘er, nas décadas de 1840 e 1850, sobretudo, o Partido Conservader represen- tava uma coali2do de proprietrios rurais € burocratas do governo a que se {juntou tm setor de grandes comerciantes preocupedos com as agitagbes urba- nas. O Partido Liberal reunia, principalmente, proprictarios nurais ¢ profis- sionais liberas. ‘Uma distingio importante dizia respeito as bases regionais dos dois partidos. Enquanto os conservadores extraiam sua maior forga da Bahia e Pernambuco, 0 libertis eram mais fortes em So Paulo, Minas Gerais © Rio Grande do Sul, A unio entre burocratas, com destaque para os magistrados, © (0s grandes proprietrios ruralsfluminenses representou v corayiu Ua politica ‘centralizadora sustentada pelos conservadores. G concepeio de um Império estivel¢ unificado,originéria da burocracia {governamenta, foi assumida pelos donos de terra fluminenses, estritamente vvinculados & Corte pela geografia e por seus negécios. O setor de proprietirios rurais da Bahia’ Pernambuco; pertencente ao Partido Conservador, tinha vvivido ¢ ainda estava vivendo a expetiéncia das lutas pela autonomia regional om contesdo popular. Esta seria sua razSo bésica para apoiar a idéia de um governo central, dotado de grande autoridade. Por sua vez, em uma primeira fase, as propostas liberais de descen- tralizagto partiam de Areas como So Paulo e Rio Grande do Sul, onde havia ‘uma tradicio de autonomia.na classe daminante. O liberalismo, no caso de ‘Minas, provinha tanto de proprietérios rurais.como da populagéo urbana das velhas cidades geradas pela mineracio. Por outro lado, 2 introdusio de propostas como a amplias sentagio politica © a énfase no papel da opinio. publica teria presenca de.profissionais Tiberais uibanos no Pastido Liberal. Essa presenga 6 se tomou signficativa a partir da década de 1860, com.o desenyolvimento das cidades © 0 aumento do nimero de pessoas com educacio superior. Lemibremos por sltimo que, por volta de 1870, principalmente em $0 Paulo, as transformagées socioecondmicas haviam gerado uma classe baseada na produsio cafeeira, essa classe assumiu com toda a conseqincia um dos aspectos principais da descentralizagzo: a defesa da autonomia provincial, ‘Agmesmo tempo, entre grupos de base social diversa, como essa burgue- sia cafeeira a classe: média urbana, surgia uma convicelo nova, Ela consistia na descrenca de que reformas descentralizagras ou de ampliagio da represen- tagio politica pudessem ocorrer nos quadros da monarguia Nascia assim o movimento cepublicano,] 5.5. A PRESERVACAO DA UNIDADE TERRITORIAL } Estamos agora em melhores condieSes para discutir uma questio a que ji aluditnos piginas atrés. Por que o Brasil nfo se fragmentou ¢ manteve a ‘nidade territorial que vinha dos tempos da Col6nia? As rebelifes provinciais © as-incertezas sobre a forma de organizar o poder central indicam que a tunidade do pafs nfo estava garantida, ao ser proclamada a Independéncia: A ‘unidade foi produto da resblugdo de conflitos pela forga e pela habilidade, € do esforgo dos governantes no sentido de construir um Estado centralizado, Mas nfo hé divida de que, nesse processo a hipdtese de separagio das pro- vincias foi sempre menos jrovavel do que a permanéncia da unidade. Para cexplicar isso, os historiadores 18m buscado vérias respostas, Vamos nos eferir ‘a duas, elativamente recentes, contrastantes entre si me nsrom vo ana Em seu livro A Construgdo da Ordem, José Murilo de Carvalho prope ‘uma explicagio que dé peso maior & natureza da elite politica imperial, que teria tido melhores condigdes de enfrentar com éxito a tarefa de construir 0 Estado nacional, por ser bastante homogénea. Essa homogencidade resultaria, comuns. A maioria dos membros principalmente, da educagao e da profs da elite ers formada por gente que tinka educagio de nivel superior. Esse fato 1 opinio de José Murilo, um elemento poderoso de unificacio ideoégica por irs razéesEm primeiro lugar, como muito poveas pessoas tinham instrugdo, a elite era via ilha de letrados em usm mar de analfabetos. Em segundo lugar, porque a educagio superior se concentrava nos estudos Juridicos e fornecia assim um nticleo homogéneo de conhecimentos e habili- ddades. Em erceito lugar, porque as faculdades de direito se resumiam, até a Independéncia, aos cursos da Universidade de Coimbra e, depois, is Faculda- des de Sto Paulo e Olinda/Recife. A concentracio geogrifica ¢ a identidade de formagio intelectwal promoviam contatos pessoais entre estudantes de \viria capitanias e provincias. Incutianeles uma ideologia comum, dentro do estrito controle a gue as escolas superiores eram submetidas pelos governos, tanto de Portugal como do Brasil. Anda segundo José Murilo de Carvalho, deve-se acrescentar a 880 0 fato de que uma parte significativa da elite politica era consttuida de ma- sistrados. Desse modo, a profissio contribuiu para aumentar os indices de hhomogeneidade da elite politica, em termos de visio do mundo, interesses e cobjetives 2 serem alcungados. A elite que assumiu 0 poder e foi, ao mesmo tempo, se constrvindo no Brasil pés-independéncia possufa carscteristicas bésicns de unidade ideoldgica e de treinamento que no estavam presentes nas elites de outros paises. Apesar de nio ser nada representativa do conjunto x uma politica de construsso de um 4a populagio, teve-condigbes de real Estado centralizado e conservador, que acabou por assegurar a unidade do pas Por otito lado, Luis Filipe de Alencastro parte de premissas bem di- versas para explicar a nio-ragmentagéo da antiga colénia portuguesa. Sua argumestagio s¢ desenvolve apart de duas constatagbes bisica: 0 papel fundamental d'sistema escravista'e 0 quadto de relacGes internacionais, ‘vigente ni prteira metade do sécvlo XIX: Sob o timo aspecto, Alencatro ‘acentua 0 interselacionamento confituoso entre o Império brasileiro, interes nen ene sado na manutengl0 do réfico de esravos © do escravisme, © at pressdes inglesas com o objetivo de, pelo menos, pir fim a0 trifico. Nesse jogo de interesses, a Inglaterra era, sem vida, a poténcia domsinante, mas o Brasil dispunha de um trunfo significativo, por sera tinica monarquia implantada na ‘América do Sul. Na perspectiva de Londres, 0 Império era encarado como uma garantia de ordem e um freio& propagagio de idéias republicanas no continentes 0 Brasil conseguiu adiat, por vérios anos, medidas efetivas no sentido de acabar com o trafic de escravos, apts ver sua independéncia reconhecida pela Inglaterra. Mas € certo que a Inglaterra continuou pressionando o governo imperial brasileiro Alencastro parte desse contesto ¢ lembra que as principais provincias brasileira assentavam sna prosperidade no sistema escravist, para Se pergun: tar: como iriam suas elites aventurarse a uma separagio do Império, com o risco de enfrentar sozinhas a poderosa Inglatrsa? Quem melhor do que. um Iimpéio, unit « centralizado.para.contemporizar, na guestio.do-fim. do ‘réfica.s encaminhar o problema sem grandes abalos? Para reorgar sua tese, Alencastro lembra que as duas rebeli6esregionais mais voientas no perfodo da Regéncia estouraram no sertdo da.Maranhio ~ a ‘Balgiada ~c no Rio Grande do Sul~ aamroupilha, As duas regides tinham na riagio de gado sua atividade fundamental e o trabalho escravo, asim como © tréfico, no desempenhava nelas um papel determinant [As difereneas entre as abordagens de José Murilo de Carvalho e de Luts Filipe de Alencastro acerca da unidade do Império sao indicativas de que esta, no € uma questéo simples. Sem aderir a esta ou aquela explicagio, sugira que. a0 contrério do que_pareee & primeira vista, uma.nio.exclui.a outra. O préprio,Alencastro nos 44 uma pista nesse sentido quando, 20.dar-conta do quadro complexo de selacdes entre o Brasil ¢ a Inglaterra, diz que.a aptidso jleia ganha sentido no Ambito desse quadro. histérica da burocracia luso-br Podemos considerar assim que, se o escravismo limitou as possbilidades do separatismo, uma elite homogénea soube tirar partido disso, garantindo a integridade tervitorial do Império. 5, oe sroeu bo anus 56, AESTRUTURA SOCIOECONOMICA E A ESCRAVIDAO do ‘Até aqui, concentramos nossa atenglo nas questées da orpanitag Estado e da politica imperial, nos anos de:1822-18302 Vamos agora e as mudangas na estratura socioecondmica e 6 problems do tréfico de es- 5.6.1. A ECONOMIA CAFEEIRA [A grande novidade na economia brasileira das primeiras décadis “do século XIX foi o surgimento da producio do café para exportacio. A introdu- 40 do cafeciro no Brasil deveu-se a Francisco de Melo Palheta, que em 1727 trouxe para o Par as primeiras sementes da planta, Usilizado no consumo doméstico, o café chegou ao Rio de Janeiro por volta de 1760, mistorando-se 05 pequenos cultivos de pomares e hortas dos arredores da capital da Col6nia, jo Parafba, atravessando uma parte do Foi poréim no extenso Vale do Rio e de Sio Paulo, que se reuniram as condigdes para sua primeira grande expansio em niveis comerciais. A érea era conhecida e cortada por alguns ccaminhos etrithas que, desde os tempos de apogeu da mineragio, se dirigiam Le clima favordvel. Além a Minas Gerais; af existiam terra virgem dispor disso, a proximidade do porto do Rio de Janeiro, apesar de o transporte ser precio, faciltava o escosmento do produto e os contatos para a obtengo de erédito, acompra de mereadorias etc. ‘A implantagio das fazendas se deu pela forma tradicional d plantation, com o emprego de forga de trabalho eserava. Nao eta impossivel prodezit café exportivel em pequenas unidades, como 0 exemplo da Colombia iria demonstrar, Entretanto, nas condigSes brasileiras de acesso A tera ede organi- ago e suprimento de mfo-de-obra, a grande propriedade se imp6s. Apesar da inexisténcia de estudos globais sobre a origem social dos fazendeiros do Vale do Parafba, alguns trakalhos indicam que os primeiros ‘proprietérios de fazendas de-café nfo tinham ascendentes muito privilegiados. Em sewestudo sobre Vassouias;o histotiador Stanley Stein observa que muitas ‘das familias dominantes no'municfpio provinham de antepassados comer- ciantes, pequenos proprietiris e, em alguns casos, militares de patente alta. De qualquer forma, familias importantes, como os Werneck ¢ os Ribeiro de ‘velar, jf no inicio do século XIX estavam estrategicamente situadas, pois exam proprictias de extensas sesmarias ‘A hst6ria da ocupagio das terras seguiu um padrio que vinha do passado «iia se repetir ao Jongo da historia do Brasil. Havia uma total indefinicao dos limites das propriedades e muitas terras ndo eram exploradas. Os titulos de propriedade, quando existentes, podiam ser contestados porque, entre ‘outras coisas, uns se sobrepunham a outro. ‘Em um guadro desse tipo, prevaleceu a lei dd mais forte. O mais forte cera quem reunia condigoes para manterse.na terra, desalojar possciros desti- tuidos de recursos, contratar bons advogados, influenciar juizes e legalizar assim a posse de terras, ‘Qs contemporineos tinham conscigncia desse estado de, coisas. O presi- le da Assembléia Provincial do Rio de Janeiro, em seu relatério de 1840, afirmava claramente que assumir a posse de uma Srea e.conservi-la dependia A partir da década de 1870, comegaram a surgir uma série de sintomas 4e crise do Segundo Reinado, Dentre eles, 0 inicio do movimento republicano © 05 atritos do governo imperial com o Exército e a Igreja. Além disso,0 ma da escravidao provocou desgastes nas relagées Sociais de apoio. Esses fatores, nfo tiveram um ico, explifvelambém por um conjun- to de razées de fundo onde estfo presenes 28 wansormagdes ocioecond- idgias de encaminhamento entre © Estado e & ‘micas que deram origem a novos grup reforma. Vamos examina a qustdes mais importnes do perfodo 670-1680. ‘Assim poderemos entender melhor a crise final do Impéro a proclamagio 4a Repiblica. Comecemos pelo problema bisio da exeravidso 58.1. O FIM DA Escravidko ‘A extingo da escravatura foi encaminhada por etapas até o final, em 1888. A maior controvérsia quanto as medidas legis nfo ocorreu em 1888, mas quando o governo imperial propés a chamada Lei do Ventre Livre, em 1871. A proposta dectarava livres os filhos de mother escrava nascidos apés a Ici, os.quais ficariam em poder dos senhores de suas mies até a idade de oto ceber do Estado ‘uma indenizagdo ou wtlizar os servigos do menor até completar 21 anos. O projeto partiu de um gabinete conservador, presidido pelo Visconde do Rio Branco, arrebatando desse modo a bandeira do abolicionisme das mios dos Iiberais © que teria levado © governo a propor uma lei que, sem ter nada de revolucionétia,criava problemas nas relagSes com sua base social de apoio? © condigio social di a tusroein D0 seat. ‘A explicago mais razoaivel 6 de que a inicativa esultou de uma opgi0 pessoal do imperador ¢ de seus conselheiros. Embora nfo estivessem ocor- tendo insurreigdes de escravos, considerava-se nos circulos dirigentes, logo ‘aps a Guerra do Paraguai, que o Brasil sofria de uma fraqueza basica em sua frente interna, pois no podia contar com a lealdade de uma grande parcela da popolagio. O encaminhamento da questio servl, mesmo ferindo interesses ‘econdmicos importantes, era visto como um mal menor diante desse problema ‘edo risco potencial de revoltas de escraves. ‘A classe social dominante, pelo contréro, via no projeto um grave rico de subyersio da ordem. Libertar eseravos por um ato de generosidade do senhor levava os beneficiados 20 reconhecimento e & obediéncia, Abrir eami- ‘nho & liberdade por forga da lei gerava nos escravos a idéia de um direito, 0 ‘que conduzitia 0 pais & guerra entse as rasas. [As posigdes dos deputados em torno do projeto afinal aprovado sao bastante reveladoras. Enquanto os representantes do Nordeste votaram maciga- mente a favor da proposta (39 votos a favor e 6 contra), os do Centro-Sul inverteram essa tendéncia (30 votos contra e 12 a favor). Iss0 refletia, em parte, 0 fato de que 0 trifico interprovincial vinha diminuindo a dependéncia Go Nordeste com relagio & mao-de-obra eserava, via também outro dado importante, relative & profissio. Um mimero significativo de deputados era constituido de funcionsrios pablicos, especial- ‘mente magistrados. Esse gropo, que em sua maioria provinha do Nordeste © o Norte, seguia a orientagio do governo e votou em peso com ele. Do ponto de vista partidério, nfo houve uma nitida divisio do voto de liberais e conser vadores. Deputads dos dois partidos, indistintamente, votaram a favor ou contra © projeto. [Na pritica, a lei de 1871 produziu escassos efeitos. Poucos mer foram entregues 20 poder piblico e os donos de escravos continuaram a usar seus servigos. ‘Apart da década de 1880, 0 movimento abolicionista ganhou forca, Gein parigio de associagdes, jornais'e 0 avango da propaganda. Gente:de vers paricipou das campannas abolicionistas, Entre vérias ‘iguas de elite, destacou-se Joaquim Nabuco, importante parlamentareexei- tor; oriundo de uma familia de politicos ¢ grandes proprictiios rusis d Pernambuco. Entre as pessoas negras ou mesticas, de origem pobre, os nomes ‘mais conhecidos sto os de José do Patrocinio, André Rebougas e Luis Gama Patrocinio era filho de um padre, que também era fazendeiro dono de eseravos, e de uma negra vendedora de fruias, Foi proprietério da Gazeta da Tarde, jornal abolicionista do Rio de Janeiro, ficando famoso por seus discur- sos emocionados. (© engenheiro Reboucas representava 0 tipo oposto, uma figura retrafda, professor de botinica, célculo e geomettia da Escola Politécnica da Conte Ele ligava o fim da escravidio ao estabelecimento de uma “democracia rural", efendendo a distibuigio das terras para os escraves libertados e a criagdo de ‘um imposto territorial que forgasse a venda e subdivisio dos latfndios. Luis Gama tem uma biografia de novela. Seu pai pertencia a uma rica familia portuguesa da Bahia e sua me Lufsa Mabin, na afirmasao orgulhosa do filho, “era uma negra africana livre que sempre recusou 0 batismo a individuals. Falava-se de reforma coisas, eleigdeslimpas erespeito aos dire social, mas a maior esperanga era depositada na educa¢o do pove, no voto secreto, na criaglo de uma justiga eleitoral ‘Um indicio claro da maior participagio politica da populagio urbana foi 1 eleigdo de 1919. Rui Barbosa, candidato derrotado em 1910 e 1914, apre- sentou-se 8 eleisao, enfrentando Epiticio Pessoa, para realizar um protesto, Ele no tinha o apoio de qualquer méquina eleitoral, Mesmo assim, obteve cerea de um tergo dos votos e venceu no Distrito Federal Os ajustes © despastes entre as oligarquias, nas sucessties presidenciais, sganharam novos contomos. Um bom exemplo € a disputa pela sucessio de Epitécio Pessoa, O eixo Sio Paulo-Minas langou como candidato, nos pri- Imeiros meses de 1921, 0 governador mineiro Artur Bemardes. Contra essa ceandidaturalevantou-se o Rio Grande do Sul, liderado por Borges de Medeiros {que denunciou o arranjo politico Sio Paulo-Minas como uma forma de garantir recursos para os esquemas de valorizagio do café, quando 0 pais necessitava 4e financas equilibradas. Os gatichos temiam também que se concretizasse uma revisdo constitucional -realizada efetivamente por Bernardes em 1926 limitando a autonomia do Estado. 6 usroau vo onic Uniram-se a0 Rio Grande do Sul a Bahia, Pernambuco, Estado do Rio~ terceiro, quarto, quinio e sexto Estados em importincia eletoral -, formando a Reagiio Republicana que apresent te, Nilo Peganba fora eleito vice-presidente da Repsiblica (1906) ¢ ocupara ‘por alguns meses a Presidéncia, apés a morte de Afonso Pena; na chefia do _governo, contribuita decisivamente para o triunfo de Hermes da Fonseca. Sua ccarreira era um contraponto, na esfera civil, da ascensio de muitos militares “plebeus”, De origem modesta, florianista, tinha sua base politica na oligar quia do Estado do Rio de Janeiro, onde nasceu. ‘A oposigdo tentou realizar uma campanha “i americana”, como se dizia na 6poea, percorrendo bos parte do pafs e procurando atrair 0 voto urbano. A plataforma da Reacio Republicana, inspirada diretamente pelos gadchos, se pronunciava no plano financeiro contra a inflago, a favor da conversibilidade ‘da moeda, dos orgamentos equilibradas, da politica, em suma, inaugurada pelo ‘aulista Campos Sales em um momento muito dificil e mais tarde abandonada, [Na campanha,surgiram ataques ao imperislismo dos grandes Estados © pediu.se protecdo para os produtos brasileiros de exportacio em geral e no apenas para o café, Nilo nlo se op6s a valorizagio cafecira em curso, de que © Estado do Rio também se beneficiava, mas atacou © tratamento especial dado ao produto. Esse era um tema de especial predilego dos gatichos, Foi no curso da disputaeleitoral que veio &tona a insatisfagio militar. A impressdo corrente nos meios do Exército de que a candidatura Bernardes era antimilitar ganhou dramaticidade com uma carta publicada no Correio da ‘Manhé do Rio de Janeiro, em outubro de 1921. Aparentemente, tratava-se de cartas ~ pois havia duas ~ enviadas por Bernardes ao lider politico mineiro Rat) Soares onde se dizi entre outras coisas 0 seguinte: “Estou informado do ridfculo acintoso banquete dado pelo Hermes, esse sargento sem compostura, ‘as seus apaniguadios e de tudo o que nessa orgia se passou. Espero que use de toda a energia, de acordo com as minhas timas instrugses, pois esse ccanalha precisa de uma reprimenda para entrar na’disciplina.(..] A situagio ‘iio admite contemporizagSes: 08 que forem Venais, que 6 quase a totalidade, ccompré-os com seus bordados € gal6es”. A alusio a0 “banguete dado pelo lermes” referia-se a0 banquete promovido por ocasito da posse do ex-presi- dente da Repiblica na presidéncia do Clube Militar. ‘o nome de Nilo Pecanha. Anteriormen- * ~ [AS cartasfalsas puseram lenha na fogueira, O objetivo de seus autores de indispor ainda mais as Forgas Armadas contra a candidatura Bernardes jé linha sido alcangado quando, pouco antes das eleigdes de 1® de margo de 1922, dois falsérios assumiram a autoria dos escritos, AA situagao continuou a se complicar em junho de 1922, época em que Bernardes jf era vitorioso mas ainda néo tomara posse na Presidéncia, o que 86 ocorreria a 15 de novembro. O Clube Militar angou wm protesto contra a Uutilizagio, pelo govemo, de tropas do Exército para intervir'na politica local de Pernambuco. Como resposta, 0 governo determinou a repreensio e a seguir 4 prisio de Hermes da Fonseca e 0 fechamento do Clube Militar. A afronta fra agravada ainda mais pelo fato de ser invacada, como fundamento legal para o fechamento do clube, a ei de 1921 contra as associagSes nocivas ou contririas a sociedade. 6.121. © TENENTISMO ‘Todos esses fatos precipitaram a eclosdo do movimento tenentista, cujas raizes vio muito além deles. O movimento ficou assim conhecido porque teve ‘como suas principais figuras oficiais de nivel intermedisrio do Exército ~ tenentes em primeiro lugar e capitdes. Por a, jf podemos perceber que as revoltas militares que marearam os anos de 1922 a 1927 nfo arrastaram a cipula das Forgas Armadas. Apesar de suas queixas,.alto comando militar Imanteve-se alheio a uma ruptura pelas aemas. HG uma historia do tenentismo antes ¢ depois de 1930. Os dois periodos dividem-se por uma diferenca essencial. Antes dt 1920, o tenentismo foi um movimento de rebeldia contra © governo da Repillica; depois de 1930, os “tenentes" entraram no governo procuraram Ihe dar um rumo que promo- vesse seus objetivos Mas antes de qualquer andlise lembrerios os principais episédios ¢o movimento tenentista, entre 1922 ¢ 1927. O primeiro ato, de rebeldia foi a revolta do Forte de Copacabana, ocorrida a5 de julho de 1922. O clima de ‘ofensas,falsas ou verdadeiras, ao Fxército e a repressfo contra Clube Militar levaram os jovens “tenentes” a se rebelar, como uim protesto destinado a “salvar a honra do Exército”. A revolta nlo_se estendeu a outras unidades. sroats booms 7 Tennioa, Paps leva ds ila Mitr oo ie de Jno, esos bed o wao 3£ primeitos tiros de canhio, os rebeldes sofreram bombar- Depois de langa ddeios em represéliae ficaram cercades. No dia seguinte,centenas deles se entregaram, atendendo a um apelo do governo. Um grupo se disp6s, porém, a resist O forte voltou a ser bombar- deado por mare por avides. Dezesseté militares, com a adestio ocasional de tum civil, decidiram sair pela praia de Copacabana, ao encontro das forsas ‘governamentais. Na troca de tiros, morreram dezesseis, ficando feridos 05 tenentes Siqueira Campos ¢ Eduardo Gomes. Os Dezoito do Forte comesavam a criar a legenda do “tenentismo”, ois anos depois, explodiu 0 chamado Segundo 5 de Julho, em Sao Paulo. A data foi escolhida pafa homenagear o primeiro movimento, ¢ 0 local pela importéncia do Estado. “A Revolugio de 1924 foi mais bem preparada, tendo como objetivo expresso derrubar © governo de Artut Bernardes. Nos ‘anos 20; Bernards personifiégu 0 6dio que os “tenentes”tinham da oligarquia dominante. No curso de 1923, houve uma articulagZo de militares em torno de Nilo Peganha, visto como posstvel Iider de um novo movimento rebelde. Porém Nilo morreu no comeso ge 1924 e os conspiradores voltaram-se para 0 renamcrneniiadnesti nome do general reformado Isidoro Dias Lopes ~ um oficial gaicho que se colocara a0 lado dos federalistas, na época de Floriano. Isidoro foi Hider ‘ostensivo ds revolt, Entre 05 oficiais mais atuantes, encontram-se os irmos ‘Tévora (Juarez e Joaquim), Eduardo Gomes, Estillac Leal, Joio Cabanas, Miguel Costa. A presenga de Miguel Costa ~ oficial de prestigio da Forga Pablica paulista ~ trazia para os rebedes o apoio de uma parte da milicia cestadual Iniciado © movimento com a tomada de alguns quartéis, desenvolveu-se ‘uma batalha pelo controle de Sao Paulo. Os choques foram marcados por uma grande desinformagio de ambos os lados. A 9 de julho, quando 0s revolucio- rfrios se preparavam para abandonar a cidade, chegol a eles a noticia de que 1 sede do governo — os Campos Elisios ~ estava vazia, De fato, 0 governador Carlos de Campos, a conselho militar, saira da cidade, instalando-se em seus arredores A presenea dos “tenentes" na capital paulsta durou até o dia 27. No ‘comego, a falta de géneros alimenticios provecou vérios saques de armazéns © do mercado municipal. Os “tenentes” entenderam-se com o prefeito € 0 presidente da Associagio Comercial, tentando assegurar 0 abastecimento © a ormalidade da vida na cidade, Era dificil, entretanto, alcangar este timo contra os rebeldes sem maior objetivo, pois © governo empregou artilh , sem distingo de sexo. Propunham o corte de subvengio do Estado ls escolas religiosas e a sestrigfo do ensino religioso s entidades privadas mantidas pelas diferentes confissbes. O ponto de vista dos reformadores liberais foi expresso no Manifesto dos Pionciros da Escola Nova, ou sim: plesmente, Manifesto da Escola Nova, langado em margo de 1933. Seu prio- cipal redator foi Fernando de Azevedo, destacando-se também os nomes de Anisio Teixeira e Lourenco Filho, entre outros. © manifesto constatava a inexisténcia no Brasil de uma “cultura prépria” ou mesmo de uma “eultara eral”, Marcava a distincia entre os métodos atrasados de educagao no pais © 2s transformacdes profundas realizadas no aparelho educacional de outros _pafsesIatino-americanos, como o México, o Uruguai, a Argentina e 0 Chile. ‘A pautir de uma andlise das finalidades da educagio, propunha a adogio do principio de “escola nica”, concretizado, em uma primeira fase, em uma escola piblica e gratuita, aberia a meninos & meninas de sete a quinze anos, ‘onde todos teriam uma educagio igual ¢ comum. ” Os “pioneiros” defendiam a ampla autonomia técnica, administrativa e econémica do sistema escolar para livrd-lo das presses de interesses transi- ‘6rios. Sustentando o principio da unidade do ensino, distingviam entre a ‘unidade © 0 centrismo “esti eadioso”, gerador da uniformidade. Lembravam {que as condigdes geogrificas do pais e a necessidade de adaptacio das escolas | caracterfsticas ragionais impunham a realizacio de um plano educativo que io fosse uniforme para todo o pafs, embora a partir de um currfeulo minimo (0 governo Vargas nao assumiu por inteiroe explicitamente as posictes {de uma das correntes apontadas, mas mostrou inclinago pela corrente ca- tGlica, sobretudo na medida em que o sistema politico se fechava. O maior inspirador de Capanema no Miaistério da Educacfo, além de Francisco Cam- os, foi o entdo intelectual conservador cat6lico Alceu de Amoroso Lima, conhecido pelo pseudénimo de Tristio de Ataide. Dentre os reformadores Iiberais, apenas Lourengo Filho manteve postos de mando, enquanto os demais, forain marginalizados ou até mesmo perseguidos, como foi o caso de Anisio Teixeira 76. 0 PROCESSO POLITICO (1930-1934) Dois pontos inter-rlacionados so importantes na definigdo do processo politico entre 1930 ¢ 1934: a questo do tenentismo © a luta entre o poder central © 08 grupos regionais, 7.6.1. O TENENTISMO E A LUTA CONTRA AS OLIGARQUIAS Com a vitéria da Revolugio de 1930, os “tenentes” passaram a fazer parte'do governo e formularam um programa mais claro do que até entivo tinham expresso, Propunham o atendimento mais uniforme das necessidade’s das vérias regides do pals, alguns planos econdmicos, a instalagio de uma \distria bisica (especialmente a siderirgica) e apresentavam um programa de nacionalizago que inclufa as minas, os meios de transporte e de comu- nicaglo, a navegacio de cabotagem. Para a realizagio dessas reformas ~ diziam os “tenentes” ~ era necessério contar com um governo federal cen- tralizado e estivel. Dissociando-se claramente dos pontos de vista liberais,

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