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Se WOMENS .a ENRIQUE DE LESEMDE f oan: o-38 cote REDACCAO : REDACTORES = man 525 MARTINS MENDES. 4 DEVI2TAMEN2L ADMINISTRAGAO s3BE a RUA CEL. VIEIRA, 8 ROSARIO FUSCO 4 el ie c. CATAGUAZES — MINAS NESTE NUMERO DA “VERDE”: ANTONIO DE ALCANTARA MACHADO 0 AVENTUREIRO ULISSES MARIO DE ANDRADE * RONDO DO BRIGADEIRO A.C. COUTO DE BARROS A PROPOSITO DO BRAS, BEXIGA E BARRA FUNDA SERGIO MILLIET ELEGIA ASCANIO LOPES A HORA PRESENTE HENRIQUE DE RESEND O CANTO DA TERRA VERDE RIBEIRO COUTO DELICIA DA CONFUSAO OSWALDO ABRITTA JARDIM ABGAR RENAULT FELICIDADE ROSARIO FUSCO. POEMAS CODAQUE, CAMILLO SOARES PEDROMALAZARTE ROBERTO THEODORO POEMAS DE BELLO-HORIZONTE MARTINS DE OLIVEIRA MELANCOLIA EMILIO MOURA SERENIDADE NO BAIRRO POBRE FRANCISCO IGNACIO PEIXOTO BERCEU MARTINS MENDES INSOMNIA MOTAS POR: YAN DE ALMEIDA PRADO, HENRIQUE DE RESENDE, ‘CAMILLO SOARES, EDMUNDO LYS E ROSARIO FUSCO. VERDE LITERATURA DE BRINQUEDO Verde constituiu um delicioso escandalo na sua cidadesinha—de—interior. E nfo era para menos. Ninguem esperava que a an- nunciada revista surgisse como surgiu. Que! Revista sem photographias dos politicos da terra. Sem instantaneos das melindrosas, & saida da missa, ou melancolicamente espa- Ihadas pelos jardins da urbs. Sem uma vis- fa siquer do Novo Hospital. Sem Isto. Sem aquilio. Qual revista qual coisa nenhum: Um mero folheto com sonetos futuristas, como o do sr. Carlos Drummond de Andrade, que nao passa de um ridiculo plagio do Re- gulamento Interno da Inspectoria de Ve- hiculos. Ea Viagem Sentimental do sr. Edmurtdo s? Uma bambochata, com mistura de ca- ivetes, Codigo Civil, tenentes ¢ laranjas. De- pois o sr. Martins de Oliveira, com uns ne- gocios complicados de palhaco de circo,— tudo sem rima e de pé quebrado, Eo sr. Theobaldo! Cruz credo! Um verdadeiro escandalo 6 que é Todos ma- Iucos. Todos com macaquinhos no s6to. E’ gsr, Fusco fnginds que nao sabe graphar direito. 0 sr. Camillo com um Xixi incom- reensivel. O sr. Peixoto, o sr. Ascanio, Ete. ite. Uma boa eérja com tendencias para 0 70 Sul. E triumphantemente o respeitavel publico se delicia: ora, os futuristas.... Outros leitores, um pouco mais con- descendentes, limitam-se 2 dizer que o Henrique de Resende vem fazendo blague. Nada mais. Nao é erivel que um mogo casa. do, pae de um pimpolhinho de seis mez autor de um livro passadista, perfeitament equilibrado, com bonita epigraphe latina, se associasse aos srs. Rosario Fusco ¢ Martins Mendes para a realisagéo de semelhante ab- surdo literario. E a cidadesinha culfe © progressista—co- mo 0 so, no geral, as cidadellas do int rior, segundo os seus hebdomadarios,—en- rubéceu todinha com a publicagho de Verde. Mas depois vieram as noticias dos gran des jornaes do paiz. Verde reeebida wom al tas honrarias. Outros nomes, que ha muiti si impuzeram no mundo das letras, offere cem hoje a Verde o labor da sua penna. To dos se admiram, boquiabertos, Ha um natu ral embarago. O commentario affrouxa. Po vezes se modifica. J& somos nés agora que sorrimos. E ue fazer? Nao sera este ainda : nosso publico. A mordacidade, resultante, ni caso, de um principio rotineiro e bolorento passard. Vird o silencio condescendente. Ma 0 applauso ainda no. Talvez mesmo nunca EB’ que n6s_ndo precisamos apenas di ‘Theatro de Brinquedo. Necessitamos tam bem de Literatura de Brinquedo. Literatur: infantil. Sim. Urge comegar tudo de novo. A: publico incumbe esquecer o que ja apren deu. Esquecer sobretudo os classicos, esse cacetissimos senhores de antanho, e toda | ua verbowa descendencia, até clogar mat ou menos abi pela altura dos srs. Alberto di Oliveira e Coetho Netto. E recomegar a apren der. Mas recomecar pela Literatura de Brin quedo. Desta é que nascero os primeiros ¢s criptores do Brasil, como do Theatro di Brinquedo ha-de nascer um dia o primein autor do mundo contemporaneo, na phrast do sr. Renato Vianna. E porque? O sr. Renato explica: “Da tradigio que nio poderemos esperar mais nada, abso lutamente nada mais.” Ora, j que 6 assim, ¢ enveredarmo-no: por outros atalhos. Mas para tal é mister que se aprenda i esquecer a tradi¢fo ¢ a amar um poucomaii a renoyagio das coisas. Eo que tentamos. E se isso no se déi © publico continuard a ter esta mesma pent de nés ¢ nés continuaremos a ter esta mes ma immensa piedade pela ignorancia dc publico. HENRIQUE DE RESENDE Outubro 1927 O AVENTUREIRO ULISSES Ainda tinha duzentos réis. E como eram sua Gnica fortuna meteu amo no bolso segurou a moeda. Ficou com ela na mao Techada. Nésse instante estava na avenida Celso Garcia. E sentia no peito todo o frio da manha. Duzentiio. Quer dizer: dois sorvetes de casquinha. Pouco. ‘Ah! ‘muito sofre quem padece. Muito sofre quem padece? E’ uma cangio de So- roeaba. Nio. Nio é Entlio 0 que é? Mui-to so-fre quem pa-de-ce. Alguém dizia isso sempre. Etelvina? Seu Cosme? Um dos dois. Com certeza Etelvina que vivia amando toda agente, Até éle. Sujeltinha Impossivel. Sé vendo o geito de olhar dela. Bobagens. O melhor ¢ ir andando. Foi. Pé no chao é bom na roca. Na cidade 6 uma porcaria. Toda a gente estranha. E’ verdade. Agora é que éle reparava direito: ninguém andava descalgo. Sentiu um mal estar horrivel. As maos a gente ainda es: conde nos bolsos. Mas os pés? Cousa hor. rorosa. Desafogou a cintura. Puxou as cal- gas para baixo. Encolheu os artelhos. Deu dez passos assim. Pipocas. Nao dava geito mesmo. Pipocas. A gente da cidade que va bugiar no inferno. Ajustou a cintura. Levan- tou as calgas acima dos tornozelos. Acintosa- mente. E muito vermelho foi jogando os pés na ealcada. Andando duro. Como se estives- se calgado. ESTADO! COME'RCIO! A FOLHA! Sem querer procurou o vendedor. Olhou de um lado. Olhou de outro. —FANFULLA! A FOLHA! Virou-se para tras, —ESTADO! COME’RCIO! Olhou para cima Olhou longe. Olhou perto. Diacho. Parece impossivel. ~S. PAULO-JORNAL! Quési derrubou 0 homem na esquina. © italiano perguntou logo: —Qual 6? Atrapalhou-se todo: —Eu niio sei nfo senhor. —Estiio leva © ESTADO! Pegou 0 jornal. Ficou com ¢le na mao feito bobo. —Duzentos réis! Quési chorou. © homem arrancou-Ihe a moeda dos dedos que tremiam, E le conti- nuou a andar. Com o jornal debaixo do brago. Mas sua vontade era voltar, chamar 0 homem, devolver o jornal, readquirir o du- zentiio. Mas nilo podia. Porque nfo podia? Nao sabia. Continuou andando. Mas sua von- tade era voltar. Mus ndo podia. Néo podia. Nao podia. Continuow andando. Que remédio seniose conformar? Nao tomava o sorvete. Dois sorvetes. Dois. Mas tinha O ESTADO. O ESTADO DE 8. PAU- LO. Pois ¢. O Jornal ficava com éle. Mas para qué, meu Deus? Enguliu um solugo ¢ sentiu vergonha. Nésse instante ja estava em frente do Instituto Disciplinar. Abaixou-se. Catou uma pedra. Pa! Na 4rvore. Bem no meio do tronco. Catou outra. P&! No eachorro. Bemno meio da barriga. Direcgio assim nem a do cabo Zulmiro. Fi- cou muito, mas muito satisfeito consigo mes- mo. Cabra bom. E isso nao era nada. Hd dois anos na Fazenda Sinha Moga depois de cin- co pedradas certeiras 0 doutor delegado (0 que bebia) Ihe dissera: Désse geito voce po- doré fazer bonito até no estrangeiro! Eta topada. A gente vai assim pensan- do em cousas © nem repara onde mete 0 pé. F topada na certa. Eh! Eh! Topada certeira também. Puxa. Tudo certeiro. Agora nfo é nada mau descanser aqui 4 sombra do muro. Outubro 1927 VERDE 9 0 automével passou com pocira atrés. Diabo. Pegou num pauzinho e dezenhou um quadrado no ch&o vermelho. Depois escre- veu dentro do quadrado em diagonal: SA DADE-1927, Desmanchou tudo com o pé. Tra. gou um circulo. Dentro do cfrculo outro mi nor. Mais outro. Outro. Ainda outro bem quetitito. Ainda outro: um pontinho s6, achou mais geito. Ficou pensando, pensan- do, pensando. Com a ponta do cavaco furan- do o pontinho. Deu um risco nervoso cor- tando 0s circulos ¢ escreveu fora déles sem Jevantar a ponta: FIM. Sé que escreveu com n. E afundou numa tristeza sem conta. Cinco minutos banzados. E abriu 0 jornal. Pulou de coluna em coluna, Até 03 olhos da Teda Bara nos aniincios de cinema. Boniteza de olhos. Com © fura-bolos rasgou a deca, rasgou a testa, Ficaram 86 08 olhos. Deu um s6co: nao ficou hada. Jogou 0 Jomal. Engueu-o novamente. Abriu na quarta pagina. E leu logo de cara; ULISSES. SERAPIAO RODRIGUES—No dio 13 do cortente desapareceu do Silio Capivara, muni cipio de Sorocabs, um ropés de nome Ulisses Scra piéo Rodrigues fomando rumo igaorado. Tem *22 anos. & baixo. moreno corregado © magro ser reconhecido facilmente por uma cicatriz. que fem no queixo em forma de estrela. No ocasiéo de seu deseparecimento estava descelgo, sem colarinko e westia um ferno de brim ezulpavéo Quem souber de seu peredeiro queira ler @ 1c de escrevet para a Caixa Postal 00 naquela cidade que seré bem grofifcado Cousas assim a gente 1é duas vezes, Leu. Depois arrancou a noticia do fornal. E foi picando, picando, picando até ndo poder mais. 0 vento correu com os pedacinhos. Entio éle levou a mfo ao queixo. Es- fregou. Esfregou bastante. Levantou-se. Foi andando devagarinho. Viu um sujeito # cin- coenta metros. Comegou a tremer. O sujei- to veiu vindo. Sempre na sua direcgdo. Quiz assobiar, Nao pode. Nunca se viu ninguém assobiar de m&o no queixo. O sujaito estava pertinho ja. Pensou: Quando ¢le for se che- gando eu cuspo de fado e pronto. Comecou a preparar a saliva. Mas cuspir ¢ ofensa. En- ullu a saliva, O sujelto passou como dedo no nariz, Arre. Tirou a mo do queixo. En- direitou 0 corpo. Apressou o passo. Fei fican- do mais calmo. Até corajoso. Parou bem juntinio dos operdrios da Ligth. © mulato segurava no pedago de fer- ro. O portugués descia o matho: pan! pan! Fo terro ia sfundando no ‘dormente. i Rem © mulato nem o portugués levantaram os olhos, Ele ficou ali guardando as pan- cadas nos ouvidos. ‘© mulato cuspiu o cigarro e comegou: Mulher, 2 Peaha esté ei, Eu 16 néo posso.. Que é que dew néle de repente ? x Sell moeo! Seu moco! cangio parou. —Faz favor de dizer onde ¢ que fica a Penha? © mulato ergueu_a mao: —Siga os trilhos do bonde! Entdo éle deu um puxao nos misculos. E seguiu firme com os olhos bem abertos ¢ mao uo peito apertando os bentinhos. —S. Paulo, agosto de 927— ANTONIO DE ALCANTARA MACHADO. 10 VERDE _Outubro 1927 FELICIDADE A HENRIQUE DE RESENDE. Felicidade — 0 titulo to comprido deste poema tio pequeno! Felicidade — substantivo commum, feminino, singular, polysyllabico. ‘Tao polysyllabico. Tao singular, Téo feminino. E tao pouco commum. Substantivo complicado, metaphysico, que cabe todinho na bondade simples de alguem que eu sei e no sorriso sem dentes de meu filho. ABGAR RENAULT. RONDO DO BRIGADEIRO (dos Poemas de Campos do Jordaio) © brigadeiro Jordao Possuiu éstes latifundios Dos quais 0 metro quadrado Vale hoje uns nove mil reis... Puxa! que homem felizardo © brigadeire Jordao... ‘Tinha casa tinha pao Roupa lavada e engomada E terras.., Qual terras! Mundos De pastos ¢ pinheirais! Que trogas em perspectivi Nem pensava em serrarias Nem fundava sanatorios Nem gado apascentaria! Vendia tudo por oito E com a bolada no bolso Ta no largo do Arouche Comprar aquelas pequenas Que moram numa pensio... Mas néo sio minhas as terras Do brigadeiro Jordio... MARIO DE ANDRADE 12 VERDE Outubro 1927 A PROPOSITO DO “BRAS, BEXIGA E BARRA FUNDA” S. Paulo, 22 de margo de 1927, Alcantara: Li seu livro com immenso prazer. De uma s6 vez. Um homem esta num plano in- clinado ¢, num dado momento, quer deter- se. Ndo pode. E escorrega até o fim. Seu livro igual ao plano inclinado. Domingo, em casa de Paulo Prado, eu dizia para os da roda que 86 quem conhece S. Paulo podia compreender integralmente Bras, Bexiga ¢ Borse Funda. Nesse sentido, era uma obra regionalista. Houve protestos. Nao, disse Mario de Andrade.—Nfio, disse Paulo Prado, Chegou-se mesmo affirmar que cra preciso acabar com essa “historia de regionalismo”. Si os animos estivessem um pouco mais exaliados e Mr. Bacharach en- trasse na discussio, acabava-se concluindo que 0 regionalismo nao existe. Nao era possivel demonstrar a minha these. Por mais bem educados que sejam os interlocutores, ha sempre tanto barulho e tanta cousa alheia em volta de uma dis- cusslio; que ninguem pode distinguir o ponto essencial, que esté no meio, como ninguem ve o poste de parada, quando @ multiddo se acotovela em yolta. Entretanto, o poste esta 14, visivel: 6 86 levantar a vista ‘para 0 cé6o Mas, alli, naquelle terrago em que es- tavamos ‘reunidos, uma for.niga no corriméo da escada; o suicidio de uma nuvem no eéo; a cor do iicor: 0 mercurio do thermometr a fraze lntina na parede; um pouco de esta- tua e aquella enorme figa preta, que parece um punho de boxeur ameacador contra © azar, tudo atrapalhava, tudo desviava, tudo perturbava o pensamento. Mas, agora, @ vo- cé eu fago questao. Um ‘livro mathematicamente falando é um X. Para o autor, X tem um valor defi- nido, digamos joo. S6 0 autor sabe intima- menie 0 livro, Dentro das suas paginas, tudo tem uma signiticagao especial, um valor pro- rio. E? um todo. Para o leitor é differente, "ara o leitor, raramente acontece coincidir © valor que ‘elle dé com 0 valor ico pre- supposto. Ou néo chega a 100, ou ultrapassa, E tanto num, como noutro caso, 0 livro perde Anatole France disse que um dia se surpre- headeu descobrindo profundidades que nun- ca existiram néo sei mais em que autor gre- go. Estava “ultrapassando Essa cousa pode acontecer mesmo nos livros descriptivos. Todo o mundo “compre- hende” uma descripeao do Japo, sem nunca ter ido ld, lendo Loti, Lafeadio Hearn ou Horacio Scrosoppi. Entretanto, essa deseri- pedo tem muito mais interesse para aquelle que viu. Mas, mesmo para “aquelle que viu", 0 livro ja 6 differente, em relaco 4 idea que delle faz o proprio autor. Sim, porque foi debaixo de certo estado psychico, sob certa pressdo emocional que 0 actor presen- ciou certas scenas, annotou certos aspectos, tixou certos typos. E 6 impossivel transplan- tar para o espirito do leitor esse ambiente psychologico, que € por assim dizer uma in- vengio do autor, propriedade sua e que 86 elle pode usufruir. Sob este ponto de vista, todo livro é hermetico. O regionalismo ¢ uma especie de hermotismo, Hermetismo obje- etivo. Voct conhece 0 caso domestico da recelta de doce. A receita esté alli escripta, direitinha, nfo falta nada. Mas va alguem tentar fazer! Doce ¢ magica. Precisa geito. Lér, o mesmo. As palavras estiio alli, 0 sen- tido gramatical tambem. Mas que dé 0 outro sentido, 0 sentido que “vale”? Em arte, a questdo nilo estd tanto em comprehender, mas em reconhecer. A fun- cco do reconhecimento ¢ tio importante que, exagerada, deu naquella theoria de Outubro 1997 “imitagdo da natureza”, William Blake pro- testou energicamente: “a man puts a model before him and he paints it so neat as to make it a deception. Now I ask any man of sense is that art’ josiam de reeonhecer, porque reconhecer é viver de novo, 6 bisar a vida, é tornar reversivel o tempo linha recta de Bergson. Bu citel o exemplo da receita de doce. Vou citar o do mappa. Mappa, crianga com- rehende. Mas um mappa da’ cidade de 8. Paulo para quem reside aqui tem outra si- gnificagdo, Além do simples valor utilitario, fopographico, 0 mappa torna-se uma cousa rica, eresce ‘por alluvido de ideas ¢ senti- mentos. Esparrama-se. Innunda, principal- mente si.o paulista esté fora no extrangeiro. Tem a Estacdo da Luz, tem a rua onde elle mora, tem a casa da namorada. Bu podia em vez de mappa falar em retrato, falar em bandeira, falar em tudo que implique reconhecimento ¢ produza atropelo de reprezentaghes meniaes. Mas, voce, est farto de saber tudo isso. E’ ou néio &? Estou dizendo todas essas cousas para mostrar que um livro 86 6 comprehendido integralmente quando ¢ “sentido”, e 86 pode ser sentido quando 0 leitor coméga a refa- zer as experiencias vitaes que constituem materia prima do livro, quer essas expe- riencias sejam objectivas (como na descri- pelo), quer subjectivas (como num caso de amor, por exemplo). ‘As analyses de Sthendal ou de Proust 86 interessam quando a gente diz “6 isso mesmo” ou “tal e qual”. Ora, “isso mesmo” ou “tale qual” que 6 sono o proprio “re- conhecimento” ? Quanto a0 Bris, Bexiga e Parra Funda (0O- VERDE 3 mo voce gosta dos bés, seu Alcantara, desde © Pathé-Baby!), eu digo que aquelle que néio conhece 8. Paulo, como nés conhecemos, ndo pode gostar delle como nés gostamos. Um estranho estaré muito longe daquelle valor 100 convencional. Seu livro exije, pelo me- nos nos contos mais caracteristicos, como Geetaninko, Carmela, Lisetla, O Monsiro de Rodas ete., uma bagagem*ie conhecimentos empi- ricos sobre 0 nosso meio, usos ¢ costumes para poder ser apreciado. Quem nfo tiver esge bagagem no passa. Flea nos “humbra- es” do livro. Podera apreciar as Nofas bio- grophices do novo depufado, mas nunca poderé penetrar o valor de um conto como os acima citados, E’ que falta a esse leitor a “funegio do reconhecimento”. Seré para sempre um livro seco. Dry. Exira-dry, como vocé. De- pols, ha muito dlalogo no /rés, Venta ¢ erra ‘unde, © que agrava 0 seu hermetismo. Si fizessem um concurso entre os es- criptores nacionaes e propuzessem como thema os enredos dos seus contos, voce ga- nharia o premio. Ganharia longe. ‘Agora, escute. Lembra-se do jogo do “diavolo”? E’ preciso saber imprimir uma certa yolocidade ao carretel, para que elle, ulira- do ao ar, volte direitinho ao barbante que © equilibra. Sem essa yelocidade, ndo vac. Ora, muitos livros nao “vaio” por falta dessa yelocidade espiritual, por parte do leitor. Falta-the a oie em objectiva ou subje- ctiva e, faltando isso, falta tudo. Voce pode contar'a mais bella historia de amor & um homem que nunca soffreu casos amorosos, e elle chamaré vocé de bobo. Com toda a raziio. A. C. COUTO DE BARROS. 4 VERDE Outubro 1927 POEMAS DE BELLO HORIZONTE Pra Rosario Fusco. 1 Coragio de Jardins. Flores em festa. — Poema. Calma azul. « Destile de magnolias. Mangueiras. Manacés. Frescura de folhagens. Sombras. —Romance. ROBERTO THEODORO. Outubro 1927, VERDE 15 DELICIA DA CONFUSAO Ninguem disse ainda, a respeito do mo- vimento vanguardista em nossa literatura, uma coisa mais saborosa que o sr. Anibal Machado: por emquanto, no sabemos ainda © que queremos—sabemos tdo 86 0 que nfio queremos. ‘Tao saborosa e to verdadeira. Porque, apezar de ensaios, de polemicas, de livros, ida_ndo se definiram de modo’ inilludivel as grandes linhas de um systema. Nem nun- ca se definirdo talvez. A liberdade de meio expressivo e a definigfo da terra sfio duas caracteristicas, ou talvez duas preoccupa- ges, porém nfo podem constituir uma es- thetica. O symbolismo francez, no ultimo quartel do seculo XX, foi uma reacgio do subjectivismo contra 0 objectivismo. Era por- tanto um movimento nitido na sua estructu- ra. Entre n6s, isto a que todos chamamos (e realmente existe) poesia modernista, pao se pode dizer que tena uma tendencia para um polo ou para outro. Ha poetas moder- nistas de construcgfo objectiva, como os ha de construcgiio subjectiva. Sentimos que todos siio modernos, apezar das oppostas at- titudes interiores. Essa tendencia para explicar, que faz a gloria dos caixeiros viajantes nos hoteis do ‘interior, fica perplexa diante do proble- ma. Km que consiste a modernidade VERDE A confusto mais salubre se estabeleceu. Emfim, basta que saibamos todos 0 que no queremos, O sr. Annibal Machado, por exemplo, 6 dos que sabem. Mas nem todos sabemos... Ao fim de sete ou oito annos de rea- cdo combativa, estamos na situagdc do sol- dado em guerra: vai marchando porque 0 commando gerai (forga invisivel) manda marehar. Para onde? Insisto: nio tem importan- cia conhecer. Fagamos a campanha. E delicioso ca- minhar, Eserevamos 0s nossos livros. De tudo ficaré alguma coisa. Essa algu- ma coisa ninguem 6 capaz de saber qual seja, Muito livro que hoje faz 0 nosso respei- to pode desapparecer, residuo insigniticante que. mio do tempo (critica Filtro Fie) iré eixando sumir nas vallas communs do si- lencio. Filhos de um seculo esportivo, sabemos bem que nfio é essencial ganhar o pareo, mas fortificar os musculos. E gosamos com a confusio, uma con- fusiio maior do que a outra, a terrivel, aquel- Ja que reins no estylo do senhor... (Ade maliciosos concluir.) RIBEIRO COUTO. publicaré nos seus proximos numeros collaboragdes inéditas de: ALCANTA- RA MACHADO, CARLOS DRUMMOND, PRUDENTE, neto, ABGAR RENAULT, ASCANIO LOPES,.ROBERTO THEODORO, MARIO DE ANDRADE, SERGIO MILLIET, YAN DE ALMEIDA PRADO, EDMUNDO. LYS, MARTINS DE OLIVEIRA, PIMENTA VELOSO, GASTAO DE ALMEIDA e outros. ies eS ___ Outubro 1927 SE ER ERROR AI EET EH POEMAS CODAQUE Juiz de Féra Pro Ant6nio de Alcantara Machado. Manchester das minas gerais. : O erepusculo escorrega violentamente © cai na paisagem de eartao-postal 4 e nos olhos espantados do Christo-do-Mérro. Paisagem n. 2 . Pro Carlos Drummond de Andrade. Uma hora. © dia parou com o meu relogio. Nem uma folha sé planta ruidos. Nada. E eu fico pensando na ingenuidade daquelle homem alto que falla muito rouco tosse tosse tosse e vive a vida At6a quentando sol o dia inteiro. Rio de Janeiro Pro Roberto Theodoro Os meus sentidos sio um menino que veste um yestido novo. 972 ROSARIO FUSCO. Outubro 1927 VERDE w A HORA PRESENTE A palavra estrangeiro, na sua origem, significava 0 inimigo. E essa significagao nio se perdéra, estava latente em todos 08 espiritos. A grande guerra, despertando os sentimentos nativistas dos povos, acordando as foreas que prendem o homem 4 sua ter- ra c 4 sua gente, reviveu 0 velho sentido do vocabulo; creou uma athmosphera de revolta contra o estrangeiro, contra as ins- tituigses © costumes alheios; creou, emfim, um estado de rebellido permanente contra as ouiras nacionalidades. Mais, ainda: fez com que todos voltassem os ollios para si terra .¢ sua gonte. Nao para um idcali romantic, porque o momento era de acca no para ‘um pessimismo dovatio, porque 0 momento, que era de exaliagiio de cada nacionalidade, no o comportava, Mas, para um exame melhor das coisas, para a nacio- halizago das instiluigdes, para a formagao dum espirito nacional, para a creagho, apu- ragdo ou consolidagdo de uma nacionalida- de, isenta e fora do cireulo da influeacia directa dos elementos estrangeiros. E_nos paizes novos e de immigragio, como o Bra- sil, onde 0 espirito e as coisas nacionaes niio estio estabilizadas, passado o primeiro instante de choque com essa corrente de ideas de nacionalizagito, que foi de um com- bate violento, mais de barulho que de re- sultado, trata'se, na hora presente, de for- mar um espirito nacional, um criterio na- cional, para a solugio dos problemas nacio- naes; luta-se pela formacao da nacionalida- de, pela conservaczio em estado de pureza ou pela creagdo dos elementos que siio in- dispensaveis a ella; trata-se de absorver 0 estrangeiro, sem ser absorvido por elle. Entre nés, para que exista de facto a nagio brasileira, trata-se de formar 0 povo dentro da unldade do raga, para quo soja possivel a coesdo dos elementos dispersos na vastiddo do territorio, quer encaminhan- do intelligentemente a immigragio, quer es- tudando os nossos nucleos raciaes ¢ as pre- tuberancias que, como Canudos, assomam pelle da nacionalidade, Porque uma nago 86 0 de facto, sem medo de separatis- mos e desunides, quando ha uma affinidade profunda ou uma cgualdade de raga entre 08 elementos que formam 0 povo; quando a lingua, o8 costumes, a literatura, 0 passado, © ideal futuro, prendem, enlagam esses cle mentos para um destino commum, ‘Trata-se, pois, da uniticuglo da rage; da unificagdo da lingua, ja differenciada da ortuguesa por uma forga subconsciente, incorporando-se ao patrimonio della os le- gitimos modismos e palavras da generali- dade do povo brasileiro; tenta-se a forma- ¢fio duma literatura propria, quer quento as fontes de inspirago, quer quanto 4 for- ma; trata-se da creagio duma legislagio bra- sileira, que proteja mais os nacionaes e me- Ihor s¢ accomode ao nosso meio e & nossa gente; procura-se entrelagar as diversas Unidades da lederagéo pelas rodovias, que siio outro tantos elos de unido entre ellas; prende-se 0 interesse de um ao interesse de fodos, para que todos se interessem pela conservacao da collectividade. Hora de analyse profunda das coisas a hora presente, em que a ansia de brasi- lidade invade todos os coragdes, preocupa todos os cerebros, porque todos que sentem € pensam compreenderam que o problema, longe de encerrar um mesquinho sentimento bairrista, é o problema mesmo da nossa exis- tencia e duracdo, como povo e como nagao. Hora de inquietagdo, de estudo, de luta, de plasmagio, em que a congerie dos pro: blemas diversos 6 separada systematica- mente e systematicamente estudada, sobre © tito de um ideal commum a abrasileira- co, a perdurag&o do Brasil. Hora momento—brasileiro, a mais bella da nossa gente; hora incerta, obscura, ne- bulosa, em que se trata da ‘eternidade, no espaco e no tempo, de uma sociedade. ASCANIO LOPES. 18 VERDE Outubro 1927 a ELEGIA (Eneontrada no Leao da Estrada,) espetada na almofeda. Desde do instante que te vi * fiquei loucamente apaixonada. Nao me desprezes Amo-te 68 meu, ou seras? © numero de meu telephone é cid. 3584, chamando peloa Odette, que tanto te ama. Uns beijinho Ao Jovem dus bigodinho. Copiada por SERGIO MILLIET. sree erst O CANTO DA TERRA VERDE Léva de negros. Fuzila 0 sol tinindo nas cacundas nijas, No aro lampejo metalico das enxadas ¢ das picarctas. (A quando © quando estrala a dynamite, estrondando e rebom- bando no seio brute da pedreira bruta.) E as estradas de rodagem, a custo, lentamente, se entrelagam, como um cordame de velas, no corpo adusto da terra inhospita, HENRIQUE DE RESENDE. BERCEUSE Ha uma caricia subtil no meu quarto... A chuva indiscreta vae contando na melancolia ingenua de uma goteira a tristeza que ha la fora, —Alegria de pensar que a vida ¢ boa! FRANCISCO IGNACIO PEIXOTO. Outubro 1297 ___ VERDE 19 PEDROMALAZARTE, Para Ribeiro Couto A minha professora magra magrinha gostava muito de mim. E eu era o pedromalazarte da classe. Um dia na hora do recreio eu vi a minha professéra magra magrinha tossir tossir tossir € tingir o seu lencinho branco de vermelho. Hoje Deus levou a minha professéra e eu sinto um remorso danado de ter sido © pedromalazarte da minha classe. CAMILLO SOARES 20 VERDE Outubro 1927 RICARDO PINTO E UM LIVRO Hana ironia eanalha de Ricardo Pinto es- sa atrevida sinceridade que nos faz reconhe- eros seus escritos, mesmo sem -assinatura. ‘Tem uma personalidade definida, um modo muito seu, de espressar 0 seu profun- do despreso pelos indugtriaes pansudos da politieagem rasteira. Ena vida como na literatura: um sin- cero. Hao de chamal-o de escandaloso, 6 certo, porem o8 seus livros sio © hao de sempré ser lidos com interesse, porque {a- Tam livremente 4 alma desse povo tio mogo @ tio sem coragem de reprimir a miseria ge- ral que os politiqueiros safados provocam. ‘A literatura desse mogo nao ¢ ade um despeitado, de um fantoche. Muito pelo contrario. Ha nos seus livros esse trago que 0 ca- racterisa, definitivamente diferente dos ou- tros, que fazem da pena o ganha-pao amar- go de cada dia, mascarando as proprias opi- nido, para regalo da gentinha miuda que j4 se acostumou aos bernardes e aos suicidios Involuntarios dos mergulos nes calkadas Leio Ricardo to como quem 1é no campo invisivel de uma alma, a superiorida- de dos homens superiores. Ricardo Pinto 6 um caso excepcional. E me orgulho immensamente da ami- zade desse jovem escritor. Hao de dizer que fago propaganda do meu amigo. Muito embora! Conheef os livros de Ricardo Pinto an- tes de conhecer Ricardo Pinto. Foi uma casualidade 0 nosso encontro. Uma das pouquissimas béas casualida- des na minha vida. Eu ful sempre um revoltado, ¢ encontret em Ricardo este sentimento consolador, esse despreso piedoso e ironico de um homem— parte—isolada—da—humanidade, uma exce- pedo no redemoinho desenfreado da luta da vida. Esse modo maravilhoso da sinceridade ¢ ironia que o conteur admiravel pde nos seus eseritos é a melhor recommendacio para os seus livros. Nao faz essa satira pesada e enjdativa dos revoltados violentos, dos desilludidos la~ erimosos. Os seus contosagradam a todo o paladar, A todos nao! Os paes—da—patria hfio de ver nos se- us livros o espelho para as suas figuras gro- tescas, ratazanas encasacadas, verdade! sanquesugas dessa caixa de maribondos que a raivade Deus poz no caminho de um povo mais que mediocre. Mas... espera! Ta me esquecendo do novo livro de Ri- eardo Pinto. GENTE RUIM ¢ um livro que deve ser lido. ‘A construcgio psyehica da nossa alm: de caboclo e de mestico achard nas sua: paginas um verdadeiro poema de sinceridade. E nfo ha negar: da sinceridade aleijada de que viemos, ficou nos esse gosto invenei- vel pela ironia, ironia tropical, ironia cana- Iha, ironia de Ricardo Pinto. Setembro de 1927. CAMILLO SOARES A ESMERALDA eee Aristobulo de Oliveira 6 a ouviresaria e relojoaria chic por excellencia, Bijouterie, Relogios, brilhan- tes, artigos para presente, pulseiras, an , ete. Esta casa 6 depositaria das afamadas canetas-tinteiros — ECLYPSE RUA CORONEL JOAO DUARTE CATAGUAZES MINAS Outubro 1297 VERDE 21 MELANCOLIA «—Bocea de forno! —Forno!» Ficou no fundo de minh’alma o sonho dos meus sonhos, uma coisa que a gente tem na vida como se fora sombra... «—Bocea de forno! —Forno!» Gritos, corridas, brincadeiras... —Tirae um bolo! —Bolo! Choros, brigas e Ivetas... Jangadas pelo rio abaixo, ¢ banho as eseondidas... Tudo era alegria, era prazer. Joanna, pobre veiha, andaya a rir um riso humilde, um riso de caricia, © nos contava a historia do sacy cincoenta vezes.. E a meninada ria estrepitosamente . Vinha 0 Maneco, 0 filno de Sa’ Rita, um caboclinho mal creado © perigoso, e nos dizia: Vamos 20 Circo Americano ! muito facil 14 entrar, porque nilo tem eereado em roda, ¢ © panno 6 muito alto, © 0 Packola um palhago’ muito bom. «—Bocea de forno! —Forno!> Folguedos, ¢ togueiras... Novenas, theatrinhos. .. Curral do’ Judas ‘Todas as tardes, pela rua Nova, ¢ morro do Rosario, e 0 largo ‘da Estagao, ouviamos o grito altissimo de Osorio: —Vamos brinear de guerra, agora! Nés somos Japonéses e voces sdo Russos Depois de muita lucta, vinham nossas m&es @ proeurar-nos: —Séie do sereno, gente! «—Bocea de forno! —Forno!» Ficou no fundo de minh’alma 0 sonho dos meus sonhos, como o Vago indeciso da Distancia, como a illusio de quem perdeu na vida a propria vida... MARTINS DE OLIVEIRA Do livro Patria Morena a sabir. 2 VERDE _ ___ outubro 1997 INSOMNIA Noite de luz accesa no meu quarto... de espiraes do fumo do meu cigarro Noite de cinza ede luz accesa de inquietitude ¢ de incerteza.. Noite perfumada pelas fidres mortas guardedas no fundo da gaveta je minha mésa. Noite de debuxo do teu pertil esguio e esbelto no meu cerebro de doente Noite da dansa original e espiritual da tua silhueta na espiral do fumo do meu cigarro. Noite de leituras lidas: , —as tuas cartas. 8 meus verson (noite de luz accesa no meu quarto... MARTINS MENDES. JARDIM Monotonia estranha dentro da tarde. E 0 meu jardim? © meu jardim deixou de ser jardim para ser perfume... OSWALDO ABRITTA. Outubro 1927 VERDE 23 SERENIDADE NO BAIRRO POBRE A tarde 6 rnido nas avenidas, a tarde ¢ calma nos arrabaldes. No ceu de bronze as aves pairam. Depois, rapidas, num risco recto, ellas descem como areoplanos de briquedo, equilibram-se tremulas, tremulas, e de novo pairam no ceu de bronze. Infinita, a cidade vive... Ha luzes florindo, correndo nas ruas, ha luzes paradas. A noite é calma nos arrabaldes. .. 0 silencio sobe da terra magoada, 9 silencio desce do ceu luminoso, t&o luminoso e tio alto que ninguem pensa nelle... Pelos jardins de trepadeiras muito calmas, de eras rosas, uma inutil melancolia planta um refugio desconsolado, Infinita, vaga serenidade ... 925 EMILIO MOURA * VERDE Outubro 1927 LITERATURA Edmundo Lys a HENRIQUE DE RESENDE, © Poeta das emocoes suavissimas Esse Henrique qe Resende que so- nhou, um dia isolar-sey como um principe de lenda, na «torre de marfim- da sua arte, lazendo versos com a piedade de um Fra Angelico, de joelhos diante da arte, como diante@as illuminuras de um in folio sagrado, a alma em transbordamentos mysticos, 6, de facto, um posta de valor. © seu modus primitivo, um pouco de ca- da um dos symbolistas maiores, de Viéle- Griffin a Samain, caldeados na sensibilidade magica de Alphonsus, esse que foi a pri- meira suggestio imperiosa na estixetica de Henrique—a sua maneira inicial, no entre- choque das corrontes, das tendencias ¢ das Yormulas modernas, de arte, atenuou-se, per- deu os seus tragos fundamentaos, moderni- zou-se, fez-se mais nova, de expressdo, mais recente, de rithmo, na necessidade inevi tavel dé incluir-se no dogmatismo de Zor ridi, quando fala na

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