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DIRECCAO NUMERO .< 5 anne ...2 sd REDACCAO HEMRIQUE BE BESE e MARTINS MENDES ADMINISTRAGAO e REVIZTAMENCA RUA CEL. VIEIRA, 53 ROBARIO PUSCO Dt ARTE*E- ers CULT URA SU ACMA © MARCOS FINGERIT MARIOSWALD MARIO DE ANDRADE MARQUES REBELLO FRANCISCO I. PEIXOTO ROSARIO FUSCO ASCANIO LOPE AFFONSO ARINOS (sobrinho) PIMENTA VELOSO ANTONIO DE ALCANTARA MACHADO. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, ILDEFONSO FALCAO ALBANO DE MORAES GUILHERME DE ALMEIDA HENRIQUE DE RESENDE GUILHERMINO CESAR A. FONSECA LOBO EDMUNDO LYS JOSEFINA BAKER HOMENAGEM AOS HOMENS QUE AGEM APRESENTAGAO INTERIOR NUMERO UM PEDREIRA MADRIGAL. PEDRO ALVARES CABRAL ‘TRES ESTANCIAS OPTIMISTAS HISTORIA SEM PALAVRAS 0 FILOSOFO PLATAO CONVITE AO SUICIDIO SINGERMAN STOLEK, ETC. (11) PATRIOTISMO LOISEAU BLEU SENZALA CRONICA QUASI POLICIAL AUTORIA DA ARTE DE FURTAR ‘TRORIA ARTISTICA DA FARINHA APONIAMENTOS DE ROSARIO FUSCO, FRANCISCO PEIXOTO, ASCANIO LOPES, HENRIQUE DE RESENDE NUMERO — ae iy ASSIGNATURA — 11$000 VERDE ANNO 1 CATAGUAZES DEZEMBRO 1927 NUMERO 4 VERDE, POEMAS CRONOLO- GICOS E OUTROS POEMAS Foi em maio deste ano que conheci Rosario Fusco, e, logo em seguida, todos aqueles que ‘hoje fazem parte do grupo verde, Autor, que sou, de um livro de poe- mas (Turris' eburnea, M. Lobato & Comp. 1923—edigdo esquecida) entendeu Rosario de mandar-me, porisso, alguns versos seus, acompanhados’ de uma carta interessan- tissima. Saf imediatamente 4 procura do poeta pelas poucas ruas da cidade pequenina, a perguntar a uns e a outros onde era a sua casa, onde trabalhava, etc. Nio trabalhava nem'tinha casa. Mesmo assim, com pouco sacriticio, topamos logo. Depols desse dia vieram outras cartas de Rosario e outros poetas. Resultado: em Junho eramos nove, dos quaes olto escritores ¢ o pianista Re- nato Gama. Foi um pasmo. Rosario levantou a idéa do Jezz bend, jornaleco satado ¢ inelegivel. Propuz entao ama revista, Quatorze dias depois sala o primeiro numero da Verde. Saiu porque n&o pensdmos na responsabilidade. Nem pro- grama. Nem dinheiro. Nem colaboragéio. Nem nada. Juntimos umas coisas e mandémos imprimir, Colaborago, dinheiro, programa ¢ responsabilidade viriam depois. Boas noticias. De jornaes que nfio es- Be Resolvemos entio a pedir co- jaboragdo, mas na quasi certeza de que tudo ia ser negado. Pois qué! Colaborar, gente rossa de S. Paulo, Rio, Belo Horizonte © juiz de Fora, numa revista de Cataguazes, cafundé dos diabos? ‘Mas, com sorpresa nossa, vieram vindo as comidas. E no dia em que chegaram as do Mario e do Alcantara, 0 rond6 do bri- gadeiro ¢ o aventureiro Ulysses, foi um sa- Tilho na redacdo emprestada da Verde. E veio vindo a canalha grossa. Eis que um dia, porém, houve uma des- coatianga, Fol quarida recehemos coisa, de Blaise Cendrars e um bilhetinho sujo do Mil- liet. Eu falei pro Fusco: isto 6 trote. Trote do Alcantara, do Mario, de todos. 0 Con- drars nfo est4 no Rio, ¢, mesmo que esti- vesse, nfio nos mandaria verso. Quanto a0 Milliet 6 um safaddo de marca. Eles querem 6 ridicularisar a gente. E danamos a pro- curar o nome do Cendrars nos jornais. Es- tavamos abatidos com a descontianca. Seria uma vergonha. No dia seguinte velo 0 Ro- sario, com as suas pernas quilometricas, tra- zendo uma pagina do Correio da Manha, on- de vermelhava um trago marcando a noti- cia. Condrars no Rio! ‘Que alivio! Acredi- témos entdo na autenticidade do verso do francez, no bilhete do Sergio ¢ retiramos em seguida o adjetivo com que ultrajamos este ultimo. Sai_o terceiro numero. Alguns criticos, © que ainda mais nos embaragou, conside- ram Verde &@ melhor revista literaria moder- na no Brasil, pelo, tacto de haver_ con grado num 86 grupo todos os grupos moder- nistas_de valor do Paiz. Cataguazes, a pobre cidadela, que tem sido vitima da pena de muitas pennas, sem intuito nenhum de trocadilho, ¢ promovida a centro intelectual. Mario e Aledntara, o3 Dichdes,. escrevem-nos pedindo para que Verde niio mérra. ‘At por esta altura ficdmos tantes... Pensimos mesmo num fivro, Ascanio, Fusco ¢ eu. Chamémos 4 parte o Daniel, chefe das oficinas emprestadas da Verde. Tudo combinado. Coisa barata e boa. E em breve, ou melhor, por estes dias, os leitores terfo 08 Poemes Cronologicos Depois viré o livro de Francisco Peixoto. E logo em se- guida Martins Mendes e Guilhermino César, conjuntamente, editardo vinte poemas. qe em Minas o espirito moderno se tem femonstrado apenas por meio de revistas efemeras e jornaes de diminuta procura. Embora partindo de nés, achamos que o ezemplo merece consideragio especial. Belo Horisonte, com um grupo brilhan- tissimo, sem jornal 'e sem revista, precisa langar ‘mio do livro, E Juiz de Péra tam- bem. E esses intelectuaes levarao sobre nés uma grande vantagem: a vantagem de haver entre éles bons prosadores—coisa que anda em crise por ed. impor- HENRIQUE DE RESENDE. 8 VERDE Dezembro 1927 JOSEFINA BAKER De tanto arder te volviste negra, Josefina Baker. Aprendiste a bailar para quitarte a pereza sensual de tus noches africanas. Insurreccionaste los tablados del cansancio occidental con el dinamismo de tu cuerpo mercurial. ‘Toda ta, eres la célida metéfora de los charlestones magicos. MARCOS FINGERIT (Do livro inedito Antena) Poeta da moderna geracio argentina, com 2%8 anos, Marcos Fingerit com as Canciones Mi- nimas, alcangou um posto singular na literatura viva da Argentina Diante do tumulto espaver tado da epoca moderaa de primelro a moclda. de déle reagiu. © mogo se voltou ¢ se protegeu. Provém d'ai as Cancionos Minimas, ivro de lar, Gelicioso, duma dogura excepcional. Agora, mais {ortilicado éle s0 ps respirando a vida moderna das ruas. Sargiu entlo 0 livro Antena, J& no prélo ¢ quo trari ilustragdes do universaimente conhiecido plator modero argentine, Pettorutl «Vorde» se sente feliz de unir ao eanto brasileiro uma nota pura da Argentin Dezembro 1927 VERDE 9 HOMENAGEM aos Homens que Agem Tarsila no pinta mais Com verde Paris Pinta com Verde Cataguazes Os Andrades Nao eserovem mai Com terra roxa, NAO! Bscrevem Com tinta Verde Cataguazes Brecheret Nilo esculpe mais Com plastilina Modela o Brasil Com barro Verde Cataguazes Villa Lobos No compe mais Com dissonancias De estravinsqut NUNCA! Ele ¢ a mina Verde Cataguazes Todos nés Somos rapazes Muito capazes De ir ver de Forde Verde Os azes De Cutaguazes Poema de MARIOSWALD (do livro inedito “Oswaldario dos Andrades”) 10 VERDE Dezembro 1927 APRESENTACAO © costume de mats yelko apresentar mais mogo 6 uma das tais orgunisagdes pernostieas da sociedade. No se acomoda bem com a minha curiosidade religiosa da vida pela qual pra mim @ s6 0 fuluro que pode milhorar 0 preseate. Nao sei de ne- isuma rellgido que, se basele no presente ou no passado.. E 6 por isso que toda es- peranga possui muito de redengo © é um estado franco de religiosidade. Me sugeitando por pedido de Rosario Fuseo, mineirinho de 17 annos, a essa praxe de apresentar 0 livro déle, confesso que isso me deslambra como a chegada da vethice. Hoje alids nfo tenho medo mais nlio da ve- Ihice e acho bobagem tudo o que andimos falando mal dela por al. Um tempo isso até virou eacoete: tudo o quo a gente nao gos- tava punha na velhice e tudo o que era boniteza punha na mocidade. Foi uma espe- cie de despeito pela aurora com que a gen- te, os iniciadores da nossa literatura mo- derna, procuramos escapolir daqueia com- panhia de passado que pagara absinto pra ns nos primeiros tempos de literatura. Pra mim tudo isso tem valor mais néo e ja pus reparo que a boca-da-nolte com mois vi- bragdo e mais serenidade 6 talequal w ar- raiada. Nao tenho duvida em apresentar éstes instantaneos de Rosario Fusco embora no seja livro que marque. E’ 0 defeito das fo- fogratias de codaque mandadas revelar na cidade... 86 quinhentos reis cada filme, cada eépia duzentio, Sucede que o pessoal 1a I-N T ERE OR ‘que Marlo de Andrade esereveu pro livro de Rosario Fusco — CODAQUE — a sair brevemente, do negocio nfo sofrendo amor pelo que a gente lez, rovela afobado e no deixa secar direito. Nem bem passam oito meses a foto vai deseolorindo, a3 imagens fienm desmere- cidas, perdem a'forga no papel. ‘Ou por outra: O iivro de Rosario Fusco marca sim mas tom dois geitos dum livro marear, Uma obra-de-arte mazea feito via- gem ou feito mapa geografico. Sia gente vai numa cidade ¢ ela 6 batuta nunca mais esquece a tal. Si a gente assunta uma carta, geogratica feito eu antes de ir no Amazonas, ja se comove bem imagiaaado nos gosivs que terdna viagem. 0 livra de Ros: co ¢ assim um mapa caridoso e s 5 Que gostosura! que iuminag5es que a gente vai ter passeando por ésses rincdes nomea- dos no papel de cores vivas!... Muita gos- tosura. Isso J4 59 percebe principatmente por- qué o mapa de Rosario Fusco nao @ que hem os de agora, 6 linhas, 86 cores, 86 no- mes de pagos nio. E’ que nem aqueles ma- pas de dantes. Dam lado ou mesino no meio da geogrefia est4 viveado um eiefarte uma Imeirinka um templo ilustre. Poemas como io de Janeiro, Madrigal, Jornal de Interior, Bafa, néio indicam apenas ideologicamento @ margem que o futuro reserva pros nossos prazeres. Ja 6 principio de viagem. O que Se enxerga inda nfo 6 coisa propriamente nova nis. Mas 6 fecunda e j4 comove bem. MARIO DE ANDRADE. NUMERO 1 Sob a lampada cariciosa... Sob a paz adormecida © amiga.. o bom sorriso a cela do Senhor © socego... e 0 sapo jururi para adormecer a crianga. Marquees Re b e L 1.0 Dezembro 1927 VERDE ii PEDREIRA PRA ROSARIO FUSCO Dependurados no espago éles ticam alf o dia inteiro arrancando faiseas furando buracos na pedreira enorme que reflete como um espelho as suas sombras primitivas. A’ tarde ouve-se um estrondo e oéco repete a gargalhada das pedras que vieram rolando da montanha. Os homens de pele tostada descem entdo dos seus esconderijos e caminham pras suas casas yagarosamente decepeionados segurando com as mios cheias de calos as ferramentas com que procuram ha uma porgiio de anos osegredo que Ihes dé uma nova revelacdo da vida FRANCISCO IGNACIO PEIXOTO MADRIGAL Vista n, 8 do CODAQUE—a salir Meu brinquedinho de papel DENNISON lindo brinquedinho inglez brasileiramente fabricado em Cataguazes mesmo Lindo brinquedinho de dois mil reis que a gente compra por uns minutos e acha bem bom ainda Vocé nfo fica muito caro ndo Duas chispadas pouco e ndo gasta 1 litro de gazolini A B6bé Daniels, a Pola Negri, A Nita Naldi, & Margarida Max (éta patriotismo!) Gls todas, todas élas moram dentro de voce... A questdo 6 a gente querer Meu amorzinho barato meu carro Forde ultimo modelo Minha linda francezinha, ingleza, americana ou suissa segundo a luz quebrada do abajir... ROSARIO FUSCO, 12 VERDE Dezembro 1927 PEDRO ALVARES CABRAL DESCOBRIDOR Depois calgas compridas cortet ditini- tivamente relagées infancia. Uzei gravatas berrantemente panoramicas. Mas nunca pen- sara olhar pra mim mesmo. Lirismo espa- nejava meus Vertiginozos 17 anos. Porém soube cla disera feios slo sem- pre rapazes modelos, Presentimento brutal nunea ser Brummel branqueow minha cara quando olhando espelho choquei de frente perto. minha barbara fotografia. ‘Arguitetei vingangas tremendas des- compuz natureza em berros intimos que fri- sonavam pele e cabelos aterrorizados. Pro- curei outra solugiio adimitindo como falhado outra forma aparecer bancando o Cezar venci. Primeiro ezame introspequitivo me dera certeza pozar com suceso pintor cares idiotas sujeitos musculozos. Segundo ezame me deu pretensio ser artista. Ideiei coizas profundas livros profundos 12 15 tomos em- lhados profeticamente convidando inteli- jencias repastos fartos. Ambicionei meu no- me citado jornais pezados chamando aten- ¢do cla que me tornara Pedro Alvares bral sim senhor com descoberta minha in tima tendencia. Impetos eroicos cruzaram meu cerebro mas cantei poetamente fealdade superes de- pols comer teorias alemies indijestamente traduzidas. Uzei oculos escandalizando tia Joaquina pacatisima. TRES ESTANCIAS Esqueel vida propria menino mudando fala, Declanchou nova erize lirica protunda me dizendo eles tinha jeito para filozofo quando inteirei 20 anos. Percebi cra senhor muitos sistemas mas neahum me agradou orgulhozo nada fiz pros outros. 84 gostel intimo me chamasem pen- sador criticando coizas profundas com ¢i- tagdes orijinaes compridas. Dezanimos cons- trutivos me descambaram pra poezia. Re- colhido me fizera idiotamente timido pu- doroz0. Mas vida tinha brotar. Brotou. Maria Eugenia sentou perto no soft Idiota, me deixuram sozinho. Feio mas forte agradel com asombros musculozos gritadinhos. A carae morena asa- nhada bolinada cinemas bailes espreitande minha virjindade encostou caprichozamente Minhas méos virjens colosaes puxaram brus- cas corpinho camiza por cima da came co- rada quente cheiroza, Meus musculos tre- meram. Meus nervos tremeram. Brazileira- mente. Percebi confuzamente que eu de no- vo Pedro Alvares Cabral sim senhor desco- brita uma delicia que devia ser 0 mundo FA-TAL-MEN-TE. De Maria Eugenia (novela) ASCANIO LOPES. OPTIMISTAS PRA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Voc8 disse que esta vida néo presta. Mas, pra lirmar esse juizo, Carlos Drummond de Andrade, com que outra vida vocé comparou esta vida? Voeé disse que ninguem tem nada. Mas vooe est enganado, Carlos Drummond de Andrade. Si eu nio tenho nada, entiio de quem 6 o mundo? Vocé disse que nio se deve esperar nada. Mas eu ndo sigo o seu conselho, Carlos Drummond de Andrade. Eu deito de costas na terra, eu deito nd na terra nia ¢ olho pro céo ¢ espero, espero tudo que eu quero, espero até que desca a lua pra me servir de travesseiro. Affonso Arinos.Gobrinho) Dezembro 1927 VERDE 13 CARTA-TELEGRAMA PRA MARTINS DE OLIVEIRA Martins amigo meu cotuba. Quando fiquei conhecendo voce af por melados junho Julho me, pareceu logo voce apegado preconceitos tolos bancando verdadeira pose intelectual. E nfo me en- nei. Mais tarde tive confirmagao disso. ela sua conversa longas cartas suas que recebiamos aqui, Notei tambem sua mania esplicar sempre sempre o que é moder nismo salientando sua diferenga futurismo. Ainda numero passado VERDE voeé veiu lenga-len; compridissima artigo intitulado MODERNISMO. Misturando alhos com buga- Thos comparei vocé esses meninos inicia- dos estudos materia nova querendo mostrar frande compreensio fazom salada batates ido so necessarias provas. E'las esto la berrando referido artigo. Agora eu nacido e criado dentro modernismo nilo compreendo motivo grita gente de que fala voce. Porque esse “insul- instante” essa “risada “remoque solerte”? Por- que esse sangé todo? Atéa atéa. Acho. Em Cataguazes acontece mesma coisa, Meia duzia supostos entendidos moraliza- dores nossa literatura vivem mexendo com a gente. Nao sabem onde tém o naris. Nés le- yamos nomes feios todos dias. Emquanto isso turma ld fra pensa nacemos ambien- te favoravel. Uma pilula! Deus sabe com que custo estamos Tazendo meio. Mas gente crianga nfo desanima nfo, Nem 4 impor- tancia bobages. Pra que viver esplicando “6 formidavel 0 nosso idéal”? Nao chega- rio nunea compreender. No temos tam- bem necessidade essa compreensio. Poris- 50. inutilidade artigos osplicativos tenden- cias modernizantes, Porisso inutilidade com- pletissima seu artigo boc6. Sé descobri nele um fim: provar vocé 6 medroso, Voce pas- sadisia inveterado que chegou quasi até pu- blicar complicadissimas sestilhas portugués tempo da onga teve medo sendo moderno Sua reputagao literaria ficasse abaladissima pra pessdas admiradoras vocé passadista. Porisso toca esplicar vantagens modernis- mo dizendo ndo é como pensam. Medo pu- ro, Tolice muita como disse. Fusco sempre me fala grande arre- pendimento imensa vergonha que éle tom ter publicado certas coisas VERDE, Fala tem dias Sle quasi no dorme_pensando escre- veu besteiras como B’ PRECISO PAZ NA ARTE MODERNA e certas noticias sobre livros. Tenho tambem esperanca danada vo- 6 terd vergonha ter escrito MODERNISMO como tenho tambem de muitas coisas que escrevi. E’ verdade sempre falo: besteiras so necessarias. Assim me desculpo muitas ve- zes. Porisso desculpo voeé tambem. Aporrinhaedo vai longe. Preciso parar. Adeuzinho. Nao fique zangado comigo no sim? Francisco IGNACIO PEIXOTO HISTORIA SEM PALAVRAS Emtim, tudo 0 que pensa o filisten termina fatalmente em ADE, Nao @ que elle se} sem posicio soci i grande idade com h grande. wwidade sem ideias com ra bem da hums lag sempre che; dum conceito em ADE. E’ fatal. , afinal, pessoa 4 resultante ‘Muita coisa e pouco effeito Moral : Ventre livre nao é purgante, Pimenta Vetltloso 14 VERDB Dezembro 1927 O FILOSOFO PLATAO Fechou @ porta da rua. Deu dois pas- sos. E se lembrou de que havia fechado com uma volta 86, Voltou. Deu outra volta. Ento se lembrou de que havia esquecido a carta de apresentagdo para o director do Servigo Sanitdrio de So Paulo, Deu uma volta na chave. Nada. E’ verdade: deu ma- is uma, —Nhana! Nhana! Nhana! Nhana apareceu sem meias no alto da escada. —Estou vendo tudo. —Ora v4 amolar 0 boi! Que 6 que voo® quer? —Na gaveta do criado-mudo tem uma carta. Dentro de um envelope da Camara dos Deputados. Voeé me traga por favor. Nao. Eu mesmo vou buscar. Pretiro. —Como queira. E fol buscar. Saiu do quarto parou na sala de jantar. —Ainda tem gelea ai, Nhana? No armério debaixo de uma folha de papel. —Obrigado. Escolheu cuidadosamente o céilice. Lim- pou a colherinha no lengo. Nhana ia passan- do com o ferro de engomar. Mas nfo se conteve. —Platiio, Platiio, vocé no vai falar com o homem, Platao? —Caima, Muita calma, Glorinha entre- gou o ordenado? Nhana sacudiu a cabega: —Sim senhor! Fingiu que nfo compreendeu. Raspado © fundo do célice lavou meticulosamente as mfos, E enxugou sem pressa. Dedo por dedo. Abriu a porta, Fechou. Vinha vindo um automével a duzentos metros. Esperou. Agora o Onibus da Light. Esperou. Agora um bonde do lado contrario. Esperou. Olhou bem de um lado. Olhou bem de outro. Cor- tifieou-se das condigdes atmostéricas de ni riz parao ar, Marcialmente atravessou a rua. 0 poste cintado esperava os bondes com gente em volta. Platio quando ia che- gamdo escorregau numa casca, de laranja. 8 olharam. Platfio equilibrou-se que nem japonés. Encarou os presentes com um gei- to de victoria. Na cabeg fregou a sola do sapato' na calcada e re- solveu ir esperar em outro poste. Chegou com os olhos no chio. —Boa tarde, Platdo. =0 mesmo, Argemiro, como vai voce ? —Aqui néste solo esperando o mal- 19. Plato cavou um arzinho risonho. Acen- deu um cigarro. Disse sem olhar: —Eu espero 0 6nibus da Light. —Milionario & assim. Primeiro deu um puxdo nos punhos pos- tigos. Depois respondeu: —Homem! Nem tanto... © 19 passou abarrotado. Argemiro nao falava de Odio, Platéo sim de vez em quando: —fsse ¢ um dos motivos por que eu prefiro o Gnibus da Light apesar do prego. & um Pateck. Mas eras para mocr. Argemiro deu um adeuzinho e abole- tou-se & larga num 19 vasio. Entfio Platdo soltou_um stispiro © pongou o 13 que vinha atrés. Ficou no estribo. Agarrado no balaus- tre. Imaginando desasires medonhos. Por exemplo: cabegada no primeiro poste. Im- possivel escapar, Era fatal. Uma sacudidela do bonde e pronto. Miolos 4 mostra. E sera que a Nhana casaria de novo? —O senhor dé lieenga? —Toda. Néo tinha visto o lugar vasio. Pois a mocinha viu. Que danada. Toda a gente passava na frente déle. Triste sina. Tomava cocaina, Ora bolas. seu Platiozinho! ‘A yoz do Argemiro. Entiou 0 rosto den- tro do bonde. —O seu pandego! © cavalheiro de balaustre foi amivel: —Parece que é com o senhor. —Old, Argemiro, como vai voce? —Te gozando, Platfozinho! Resolveu a situagho apeando. —Nio tem nada de extraordinario, Ar- gemiro. Nao precisava fazer tanto escfinda- fo. Homessa! Entfio eu sou obrigado a an- dar de gnibus 86? E ainda por cima da dito Dezembro 1927 Light? E ndo tendo dinheiro trocado no bolso? Homessa agora! Homessa agora! —Até outra vez, seu bocd! —Hein? Profunda humilhagao com o sol assan- do a8 costas. Mas ndo 6 que tinha de descer ali mes- mo? Praga da Repiblica, rua do Ipiranga, Servigo Sanitério. E’ muitissimo boa: Arge- miro fez um favor, Um grande? Um gran- dérrimo. Para a satistag&o consigo mesmo. ser completa sé faltava abrir 0 guarda-sol. Por- caria de guardasol. Vocé nao quer abrir, desgragado? Voce abre, desgracado, amal- digoado, excomungado, ‘Abre nada. ‘Nunca viu, seu italianinho de borra? Guardasol, guardasol, no me provoque que & peor. Des- ‘acado, amaldigoado, excomungado. Platéo jeroicamente fez mais trés tentativas. Qual © qué. Foi caminhando. Batia duro com a Ponteira na ealgada de quadrados: De vin~ ganga. Se duvidarem muito as cosias jd es- tao fumegando. Depois asfalto foi feito ES- PE-CLAL-MEN-TE para aumentar 0 calor da gente. Platao parou. Concentrow toda a sua habilidade na ponta dos dedos. F: agora. Nao ¢ ndo, Vamos ver se vai com geito. Guardasolzinho de meu coracio, abra, sim meu bem? Com delicadeza se faz tudo. Vooe nao quer mesmo abrir, meu umorzinho? Es- td bem. Esté bem. Fica para outra vez. Voee volta pro cabide. Cabide 6 0 brago. Que cousa mais engragada, Rua do Ipiranga. Bta zona perigosa. Platiio nflo tirava os olhos das venezianas. $5 mulatas. Eta zona estragada. —Entra, cheiroso! —Sai, fedida! Que resposta mais na hora, Nossa Se- nhora. E longe como o diabo ésse tal de Servigo Sanitario, Pensando bem. —Roa tarde, seu Platho, como vai o senhor? —O dona Euridice, como est passando a senho..ora que se fomente! Olhou para tris. Ndo ouviu. Que ou- visse. Parou deante da placa dourada, Sem saber se entrava ou nao. Nao sera melhor nfo? Tanta oscada para subir, mou Deus. 0 tigdo fardado chegou na porta con- tando dinheiro. =O doutor director ja tera chegado? —Parece que ainda nfo chegou, nao senhor, Ai resolveu subir. —0 doutor director ainda nfo chegou? O cabega-chata cistou para responder, --Chegou,sim senhor. Quer falar com éle? ~-Ah, chegou? VERDE 15 © cabega-chata papou uma pastiha de horteli-pimenta para depois exelamar: —Agora ¢ que eu estou reparando... 0 seu Platéo Soares... Sim senhor, seu Platdo. Desta vez 0 senhor teve sorte mesmo: en- controu o homem. Va se sentando que o bicho hoje atende. Platdo deu uma espiada na sala. hi! Tem uns dez antes de mim. —Paciéneia, no ¢? Platio se abanava com o chapéu cdco. Triste. Triste. Triste, —Que 6 que voce esta chupando? —Eu ? Ndoestouchupandonadaniiose- nhor! Platio deu um balango na cabega. —Sabe de uma couse? Aai!.. Eu volto amanha... —0 senhor dé licenga de um aparte, seu Platdéo? Eu se fosse 0 senhor nao dei- xava pra amanhi nfo. O senhor ja no veiu aqui uma dez vezes? —Nio tem importineia. Eu volto amanha. —Admiro o senhor, seu Plato. O se- nhor é um FI-LO-SO-FO, seu Platio, um grande FI-LO-SO-FO! —Até amanhé —Se Deus quizer. Desceu a eseada devagarzinho. Tirando a sorte, P6 direito: volto. Pé esquerdo: ndo volto. Foi descendo. Volto, ndo Volto, volto, no volto, vol..to, ndo yol...0, VOL...T0! Pa” rou. Virou-se. Mediu a escada. ‘Virou-se. Olhou a rua, E’ verdade: e 0 degrau da soleira da porta? Mais um nio-volto. Mais um. Porém para chegar até éle justamente um passo: ndo-volto. Depois o altimo: volta. Ai esta. Azar. O que se chama azar. Platao retezou os misculos armando o pulo. Deu. De costas na caleada. A mocinha que ia chegando com a velhinha suspendeu o cha- péu cco, A velhinha suspendeu o guarda- sol. O chéfer do outro lado da rua suspen- dew o olhar. Plato Soares finalmente sus- pendeu o corpo. Ficou tudo suspenso. Até que Platio muito digno pegou o ehapéu edco. Agradeceu, Ia pegando o guardasol. A ve- Thinha quiz fecha-lo primeiro. —Nao, minha senhora! Pretiro assim mesmo aberto, por favor. Muito obrigado. Muito obrigado. De guardasol em punho deu uns tapi- nhas nas calgas, Depois atravessou a rua. Parou deante do chdler. Cousa mi interes- sante yer mudar um pneumitico. E nfo demorou muito: —Eu se fosse o senhor levantava um pouquinho mais 0 macaco. Nao acredita? (do Loranja de China.) ANTONIO DE ALCANTARA MACHADO. 16 VERDE Dezembro 1927 CONVITE—-AO- SUTCIDAIO A MARIO DE ANDRADE Vamos dar 0 tiro no ouvido, vane? = ar essa vida largar esse mundo comprar 0 ultimo bilhete desembarcar na estagfo central do Intinito pe- rante a commissdo importante de archan- jos bem-aventurados prophetas—viv0006! Vamos acabar com isso, dar o féra nas aporrinhagoes. Adeus contrariedades. Nunca mais desastres nem callos nem desejos nem percevejos nem nada. 86 um gesto PUM Acabou-se. J estou cansado da Metro, da Paramount, de todas as marcas inclusive a barbante. fita pau. Repetir 6 casar dobrado. ‘Me dé o brago, vamos s’ombora, ‘A vide foi feita pros trouxas que esperdigam as riquezas do coragto nessa lenga lenga infindavel e depois vao dormir o somno abengoado dos burros Justos pra recomegur no dia soguinte cedinho. Vida que niio 6 vida... ee ra abrir 0 peito, soltar o ultimo desgosto.) Estou prompto pra sabir. Vamos sahir juntos ? E’ mais divertido e enche mais os jornaes: um suicidio duplo, hein? que mina pros reporteres © pros cidadaos que gostam de misturar © café matinal com historias de Smith and Wess. Dezembro 1927 VERDE _ w A noite esté fria. Noite indifferente. Vamos morrer daqui a um minuto (sl vocé nao roer a corda) € no entanto o Cruzeiro do Sul parece dizer: que ‘importa, E astros aguas e terras repetem machinalmente: que ‘m'importa. Elles tém razio. Nos tambem temos. Dois contribuintes de menos, que perdera 0 Brasil com isso 10 frio da noite os amorosos multiplicam a especie. © Brasil € tao grande. Mais grande que o mundo inteiro. Estamos caceteados, vamos s'embora Adeus minha terra terra bonita pintada de verde com bichos exquesitos ¢ moleques treteiros, abengoada pelo Deus brasileiro das felicidades e descarrilamentos. Meu povo amigos inimigos eanalha minda me despégo de todos sem excepgao, Apezar de ser inutil, se lembrem de mimi nas suas oragbes. Esté.na hora. Agora vamos. Me acompanhe nesse passo {io complicado Me ajude a morrer, Mmorre com a gente, irméosinho. Vamos fazer a grande besteira: rebentar os miolos eir receber no céo 0 castigo de nossos amores 0 premio de nossas devassiddes. Carlos Drummond de Andrade ALBUM DE VISTAS DA CIDADE DE CATAGUAZES — de Francisco Peixoto — a sair POFMAS CRONOLOGICOS—de Henrique de Resende, Ascanlo Lopes @ Rosario Fuseo—a aair CODAQUE — livro de vistas — de Rosario Fusco — muito breve. 18 VERDE, Dezembro 1927 SINGERMAN, STOLEK, ETC. ETC. (CONTINUAGAO) Mas, ao caso: transmitti-lhe 0 convite, Toguei-Ihe que emprestasse 0 seu concurso 4 festa do Ateneo, declamando uns poucos versos de poeias’ brazileiros. A sra. Sin- german, como eu ingenuamente cuidava, nio me respondeu de prompto que accederia com satislag&o. Prometteu. Que nao sabia, que aguardava telegrammas do seu empre- sario, ete, ete. Achel razoavel toda essa can- titena, tanto que, no dia immediato, pela ma- nhii, eserevi a ‘ehroniqueta para “Para to- dos", Logo, tomou a palavra o seu marido que depois de muita parolagem sem futuro, disse responder-me-ia em tempo. O dialogo telephonico fot o que repeti na explicagio {¢ publicada. A sre, Singerman, como con- cluira, alids, desde o primeiro momento, re- cusava-se @ collaborar na homenagem ao Brazil. Estaria em Buenos-Aires a 7 de Se- tembro, declamaria ds 6 1/2 no “Cervantes” (¢,q¢,fot ume rotunda mentira) mas nao as 1/2 da noite nfo poderia preencher um numero siquer do programma da festa do Ateneo. Bsse fol o facto, nit e ord. Se houves- Se accedido, que desejaria eu mais para fi- car satisicito? Assombrei-me, pois, do des- Plante com que se mentiu em toro disso, na ansia de rehabilitar-se a sta. Singerman perante © nosso publico. A recusa que me surprehendeu, como as frageis razdes apresentadas @ que, como me cumpria, communiquei aos directores do PAW TR! Ont Ateneo, foi que determinou a minha atti- tude, isto 6, de levar esse caso ao conheci- mento dos amigos—camelots” da Empres: Singerman no Brazil para que elles, a0 me- nos, applicassem barbieaches ao gongoris- mo de suas tiradas ridiculas. A acquiescen- cia, o “enthusiasmo brazileiro” e a “boa vontade” da declamadora russa e do seu marido derivaram da noticia que lealmente thes dei: de que ia narrar o occorrido aos meus amigos de imprensa no Rio e em S Paulo. E assim o fiz, com a responsabili- dade do meu nome. Uns, nao puzeram em duvida a minha palayra de homem que ndo mente; outros, semvergonhamente, telmarain em proclamar “genial”, ,, “sobrena- tural” ¢ disparates do'mesmo Jaez a sra, Singerman. Repontaram os commentarios na im- prensa do Rio, alguns realmente adultera- dos. O sr. Stolek ndo teve, por exemplo, o cynismo de confessar-me as razdes “pode- rosas” da recusa. Eu 6 que as adivinhei por- que, gragas a Deus, ndo sou imbecil. A re- cusa nfio foi tampotico de declamar versos do poctas brazileiros, que isso quasi nada significaria, mas de collaborar na homena- gem, dizendo versos russos, chinezes ou tures. A recusa fol, assim, fundamental, ILDEFONSO FALCAO. (Continaay 1S M O Pro Achilles Vivaqua: © inspector escolar mulato e pernostico tomou a palavra. Fez despregar da parede um retrato a carvio do marechal Floriano Peixoto, € o depoz em uma cadeira de palhinha. Deitou a falagfio pra creangada, Disse isto, iso e aquill. (a erean quando elle acabou ja quasi que chorava com medo de perder a hora do reerelo.) 6 2626 se rit de alegria e ficou preso na sala. Mas quando a turma voltou 0 Marechal Floriano Peixoto tinha dois pares de bigodes. AlbanodewM™Moraes Dezembro 1927 VERDE 19 « desta feita hemos por avisado abordar to relevante assumpto. Dé-se que, por novo, o erudito philolo- go ¢ professor, Dr. Joao Ribeiro, & baila trax a supra mencionada obra apocrypha, origi- nado 0 feito memoravel perlonga que, aos leigos parecer podendo mera questiunculad € lana ceprine, a 068 Se nos aligura de impor- taucia nfo pequena tal a benemerencia da empresa, Nosso obscuro alvitre sempre ha sido por considerar falaz a autoria do Padre Vieira na «Arte de Furtur>, 0 que nem nos apraz ascacar por dictorio, que nfo de alvi- garas to pauco, certeza haveudo néo nos frrogarmos prioridade revelatriz, mas tio simente obrando fieis ¢ rigoroso’ apodo da obra dieta 4 face daquella pelo magno orador sacro mui lavorada ¢ opima, Para popar de audaccs arguidos ser- mos ante 0 que nos prese. relate, cxame e jul- gado, buscaremos justificar este comesinho © parco arrazoado servindo-nos no que o sa- ber sézinho s6e autorizar. Ab initio Nos nko parvec de preceito opinar ela autoria do reverendo Padre Antonio ‘icira Ravasco na «Arte de Furtars, obra classica atiribuida de muitos ao notavel ser- vo da «Companhia de Jesus»,do que prova ca- bal se nfo ha feito. Assalta-nos d@s logo asem razio do dislate, ao superficial cotejo que se opere entre a «Artes ¢ 0 venerando acer- __YERDE 24 AUTORIA DA ARTE DE FURTAR vo das vieireanas pegas. A seguir se nos de- para precaria tal magna pretensio, ao aspe- cto s6 do despauterio nella contetdo e in- gente. Para pouparmo-nos delongas estereis em materia que demanda esclarecida ape- nas, que nfo recursos superfluos de inflam- mada dialectica, abordamos afoitos 0 seu theor, calando nosso animo, 4 authenticidade da «Arte, contrario © averso. Fora’ de certo repudiar o saber humano nao nos ser outorgado, 4 Inz das doutrinas trabaihadas secularmente, deixarmos de ini- dontificaveis os classicos lavores e 03 mo- numentos da lingua. Tal devéra ser o oppro- bio €0 desaire dos fecundos mostres etcr- nos, conira elles pelos posteros arvorados. ‘Tal'seria o tontamen vesanico de deslombrar 0 estylo, estaldo seguro, dedo do gigante ao qual auferir se péde sua hercules forea! Jorge Luiz Leclere, 0 notavel conde de Buffon, autor da «Historia natural» e doutras: primorosas obras do humano e intellectual penhor, no seu celebrado no meio da poeira dando umbigadas gosto- sas nas mulates € se espantando quando viu . aquela mulatinha chocolate fasendo 0 passo do siryeongado na *. feira de carnaval.» afirmando que éla erao genio da raga. Por tudo isso 6 que éle nfo teve medo de de- clarar bem alto que 0 carnaval de Recife @ carnaval melhor do mundo. B é mesmo! Sem ser um poeta interior Ascenso Ferreira cée algumas vezes num pieguismo que fica até bem pra variar num livro como o seu sadio ¢ alegre. Minha escola realisa esse ml- lagre de contraste. ‘Tem horas que ©, poeta descamba para um terreno perigoso. Torna-se ridiculamen- te intoleravel. Intoleravelmente ridiculo. O poema Bebados 6 um ezemplo. Al éle arranca a todo momento eis pro- fundos do fundo do peito. Faz até pena quando ouvimos éle es- clamar compungido: «Ai! que saudades dos bebados de fim de feira.» Um trecho pra ser cantado com o «Fa- do portuguéss: «AL! que melancolia nas vendas fechadas! Que tisteza sclontifica nas vendas Techadas! Que saudades dos babados de lim de telral» Tristeza. clentifica nas vendas fecha- das? Isso estd desfrutavel. Contra-a-mio, Infantil. Boos, Apezar desses o de outros deslises 6 a poesia de Ascenso forte. Cheia de onoma- topeias. De aliteragdes. De brilhos. Com vo- gaes que estrondam nos nossos ouvidos. oesia entremoiada de cantigas poy lares que tornam éla mais orquestrada. Uma prova disto? Basta citar um pedago sb do admiravel SERTAO: Sertio !—Jatoba! Sertio {~Caprovo! Ouricury! cea” Ext! La vem 0 vaquelro, pelos atalhos. Jangeado as rezes para os curraes... Blem.,. Blom... Blem... Cantam os choealhos dos tristes bédes psirlarchacs. E os gulzos fininhos das ovelhinhas ternax: iin... dlin... lin... Eo sino da Sgreja velha: Se ae —0 Sol & vermelho como um tela. Acho que nflo era rele aquéla nota no final do livro ensinando # musica em que devem ser canin- dog certos rechos de alguns poemas. For exemplo 6 Jam. 6 lamp. evirguico tampous.. a unos orth etre ndo eles ovvides da pete a den fro Soa como tava lambada £ inaitiva: inbé com pequenos Feparot pode figurar co- smo um dos mefuoret livros da moderns literature br Sieira. ltastram 0 ivro Dellssimos desenios de" Ja. twain Cartoza. F, PEIXOTO Lvaos. RECEBIDOS: Tristio de Athay Fedo Ba etea de Sol—Rlo—227 Marlo de Axdrade: Amar, verbo intransitive—1927—S, Paulo Clan ito Jaboti—1927—8, Paulo A Escrava gue nao. ¢ lzaura—1925—S. Paulo Losango Clout 1026S. Pani ae He whe pita de tangas om Mica Litdarie‘Novenbeo (a. Xi ita 8, Paulo

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