You are on page 1of 71
CURSO MODERNO DE FILOSOFIA Cart G. HemPe da Universidade de Princeton FILOSOFIA DA CIENCIA NATURAL Tradugo de PLINIO SUSSEKIND RocHA idude Federal da Guanabara Sequnda eicao ZAHAR EDITORES S| RIO DE JANEIRO ! we OSCE Titulo original: Philosophty of Natural Science publicada em 1966 pela Prennice-Hatt, ‘Estados Unidos da. América, mi irigida, por’ ELIZageTH€ Traduide da_pimscn eds, rater ctebood Cults New heey, Bey FOUNDATIONS “OF PHILOSOPLIY. ‘MONROE BEARDSLEY. Copyright © 1966 by Prentice-Hall, Inc capa de Erico 1974 —— Direitos para a lingua portuguesa adquiridos por ZAHAR EDITORES Rua México, 31 — Rio de Janeiro que se reservam a propriedade desta tradusio eee Impress no Brasil Prefacio 1 2 NS INDICE Alcance e Objetivo deste Livro .. Investigagdo Cientifica: Invencao e Verificagao Um Caso Histérico como Exemplo, 13. As Etapas Fundamentais para Verificar uma Hip6tese, 16. © Papel da Indusdo na Investigagdo Cientifica, 21. A Verificagao de wma Hipétese: Sua Logica ¢ Sua Forca : coves . Verificagées Experimentais vs. Nao-Experimen- tais, 32. O Papel das Hip6teses Auxiliares, 36 Verificagoes Cruciais, 40. Hipsteses ad hoc, 43. Verificabilidade em Principio e Significagio Em- Pirica, 45, Critérios de Confirmagao e Aceitabilidade Quantidade, Variedade ¢ Precisio da Evidéacia Sustentadora, 48. Confirmagdo por “Novas” Im- plicagées, 52. O Apoio Teérico, 54. Simm dade, $7. A Probabilidade das Hipéteses, 63, As Leis e seu Papel na Explicagiio Cientifica Duas Exigéncias Basicas para as Explicagdes Cientificas, 65. A Explicagio Dedutive-Nomolé- gica, 68. Leis Universais e Generalizacdes Aciden- tais, 73. As Explicacdes Probabilisticas: Seus Fun- damentos, 78. Probabilidades Estatisticas ¢ Leis Probabilisticas. 79. O Caréter Indutivo da Expli- cago Probabilistica, 89. 4, As Teorias ¢ a Explicagio Tedrica As Caracteristicas Gerais das Teorias, 92. Os Prin cipios Internos ¢ os Principios de Transposigao, 95. Compreensio Tedrica, 98. O “Status” das Vnlidades Teéricas, 100. Explicagio ¢ “Reducéo ao Familiar", 106. W 3 32 48 65 92 FILosoFIA DA CifNctA NATURAL 7. Formagio de Conceitos ..---++++ Definigio, 109. Definigdes Operacionais, 113 Importincia Sistemstica e Empitica dos Concei- tos Cientificos, 117. Sobre as Questoes “Opera~ cionalmente sem Sentido”, 123. O Cardter das Sentengas Interpretativas, 124. 8. Reducdo Teérica fevecteneeee [A Controvérsia Mecanicismo vs, Vitalismo, 129 Redugio dos ‘Termos, 131. Redugio das, Leis, 133. Reformulagao do Mecanicisme, 134. Redu- 0 da Psicologia; 0 Behaviorismo, 135. Leituras Adicionais 109 129 141 FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA Muitos dos problemas da Filosofia so de tio ampla rele- vvancia para as preocupagées humanas, e tio complexos em suas ramificag6es, que se encontram, de uma forma ou outra, cons- tantemente presentes. Embora, no decorrer do tempo, eles se submetam & investigacdo filoséfica, talvez necessitem ser recon- siderados em cada época, & luz de conhecimentos cientificos mais vastos ¢ mais profunda experiéncia ética e religiosa, Me- Ihores solugdes sio descobertas por métodos mais refinados igorosos. Assim, quem abordar 0 estudo da filosofia na espe- ranga de compreender o melhor do que ela proporciona, Procurard tanto as questdes fundamentais como as realizagées contemporineas. Escrito por um grupo de eminentes fil6sofos, 0 “Curso Moderno de Filosofia” tem por finalidade expor alguns dos principais problemas nos diversos campos da Filosofia, tal como se apresentam na atual {ase da hist6ria filos6fica. Conquanto seja provavel que certos setores estejam repre- sentados na maioria dos casos de introdugio & Filosofia, as classes universitirias diferem muito em énfase, nos métodos de instrugo € no ritmo de progresso. Todos os professores necessitam de liberdade para alterar seus cursos & medida que 08 seus préprios interesses filos6ficos, 0 tamanho e caracteris- ticas da composicao de suas classes ¢ as necessidades de seus alunos variem de ano para ano. Os diversos volumes do “Curso Moderno de Filosofia” (cada um completo em si mesmo, mas servindo também de complement para os outros) oferecem uma nova flexibilidade a0 professor, que pode criar seu proprio curso mediante a combinagéo de vérios volumes, conforme de- sejar, e pode escolher diversas combinagdes em diferentes oca- sides. Aqueles volumes que nfo sio usados num curso de so podem ser comprovadamente valiosos, a par de outros textos ou compilagdes de ligdes, para os cursos mais especiali- zados de nivel superior. ELIZABETH BEARDSLEY Monror BEARDSLEY Para PETER ANDREW e TOBY ANNE PREFACIO Este livro oferece uma introdugdo a alguns dos tépicos centrais da Metodologia e da Filosofia da Ciéncia Natural con- femporineas, Para atender as exigéncias do espago disponivel, preferi tratar com certa minicia um nGmero limitado de ques- {Ges importantes a tentar um esboco rudimentar de um pano- rama mais vasto. Embora seja livro de caréter clementat, pro- curei evitar uma simplificagio enganosa ¢ apontei varias questoes que ainda estao sendo pesquisadas ¢ discutidas. Os Ieitores que quiserem conhecer melhor as questdes aqui examinadas ou se informar sobre outros problemas da Filosofia da Ciéncia encontrario sugesties para leituras adicionais na curta.bibliogeafia que se acha no fim do volume. Uma parte substancial deste livro foi escrita em 1964, du- rante 0s tiltimos meses de um ano em que fiz parte do Centro de Estudos Avangados em Ciéncias do Comportamento, Quero deixar aqui expresso o quanto aprecici esta oportunidade. E quero, por fim, agradecer calorosamente aos diretores desta colegao, Elizabeth e Monroe Beardsley, pelos conselhos valiosos ¢ a Jerome B, Neu pelo auxilio eficiente na leitura das provas. Cart G. HEMPEL ALCANCE E OBJETIVO DESTE LIVRO s diferentes ramos da investigagao cientifica podem ser separados em dois grupos maiores: as Ciéncias empiricas € as ndo-empiricas, As primeiras procuram descobrir, descrever, explicar ¢ predizer as ocorréncias no mundo em que vivemos. Suns assorgoes devem ser, portanto, confrontadas com os fatos ide nossa experiéncia e s6 sio accitiveis se amparadas por uma evidéncia empirica. Tal evidéncia se obtém de muitas manciras: por experimen- tagdo, por observacio sistematica, por entrevistas ow levanta- mentos, por exames psicoldgicos ou clinicos, por estudo atento de reliquias arqueoldgicas, documentos, inscrigées, mocdas etc. £ dessa referéncia essencial & experiéncia que prescindem ‘2 Légica ¢ a Matemética pura, que sio as Ciéncias nio- 'AS Cigncias empiricas dividem-se por sua vez em Ciéneias Naturais ¢ Ciéncias Sociais. O critério para essa diviséo é muito ‘menos claro do que o que distingue a investigacéo empirica da nao-empitica e nio existe acordo geral sobre onde se encontra a linha de separacéo. E costume incluir nas Ciéncias Naturais a Fisica, a Quimica, 2 Biologia ¢ as suas zonas fronteiricas. As Ciéncias Sociais compreendem entao a Sociologia, a Ciéncia Po- Iitica, a Antropologia, a Economia, a Historiografia ¢ as discipli nas correlatas, A Psicologia é as vezes incluida num campo, 3s vezes noutro € nio raro é dita pertencer a ambos. Na presente colesiio, a Filosofia das Cigncias Naturais ¢ a Filosofia das Ciéncias Sociais so tratadas em volumes diferen- tes, Esta separacdo visa apenas ao propésito pritico de permitir discussio mais adequada do largo campo da Filosofia da Ciéneia; nao pretende prejulgar a questo de ter ow niio essa diviséo significagio sistematica, i.., de serem as Ciéncias Naturais fun- damertaimente diferentes das Ciéncias Sociais em assuntos, objetivos, métodos ou pressupostos. Que existam diferencas bi 12 Fitosorta pa CitNci< NATURAL, sicas entre esses vastos dominios 4 0 foi amplamente afirmado € com as mais diversas e interessantes razdes. Mas um estudo completo desses argumentos requer uma andlise cerrada tanto das Ciéncias Sociais como das Naturais, o que ultrapassa o dominio deste pequeno volume, Entretanto, nossa discussio derramard alguma luz sobre a questo, pois nesta exploragao da Filosofia das Ciéncias Naturais teremos, de quando em vez, ocasiio de langar um olhar comparativo em relagdo as Citncias Sociais © veremos que muito do que vamos descobrir quanto aos métodos © A rationale da investigacao cientifica aplica-se tanto as Cién- cias Naturais como as Ciéncias Sociais. As palavras “ciéncia” € ientifico” serao, portanto, freqiientemente usadas em referén- cia ao dominio inteiro da Ciéncia empirica; mas quando a cla- reza o exigit, restrigdes convenientes serio. acrescentadas. © enorme prestigio desfrutado pela Ciéncia hoje em dia é certamente devido em grande parte aos sucessos espetaculares & 8 rapida expansao do alcance de suas aplicagées. Muitos ramos da Ciéncia empirica vieram constituir 2 base para tecnologias as- sociadas, que colocam 0s resultados da investigagao cientifica em uso prético © que por sua vez fornecem freqiientemente A pes- quisa pura ou basica novos dados, novos problemas ¢ novos ins- trumentos para a investigagao. ‘Mas, além de auxiliar 0 homem em sua busca de um contro Je sobre seu ambiente, a Ciéncia responde a uma outra necessi- dade, desinteressada, mas ndo menos profunda € persistente: a de ganhar um conhecimento cada vez mais vasto © uma com- preensio cada vez mais profunda do mundo em que ele se encontra, Nos capitulos seguintes, vamos estudar co- ‘mo sao atingidos esses objetivos principais da investigacao cien- tifica, Examinaremos como se alcanca, como se estabelece ¢ como muda o conhecimento cientifico; veremos como a Ciéncia explica 0s fatos empiricos e que espécie de compreensio nos & dada por suas explicagdes; no decorrer dessas discussoes, aborda- daremos alguns problemas mais gerais referentes aos limites ¢ aos pressupostos da investigagao, do conhecimento e da com- preensao cientificas. INVESTIGAGAO CIENTIFICA: INVENCAO E. VERIFICACAO UM CASO HISTORICO COMO EXEMPLO Como simples ilustragdo de alguns aspectos importantes da investigagio cientifica vamos considerar 0 trabalho sobre a febre puerperal, realizado pelo médico hingaro Tguaz. Semmelweis, no Hospital Geral de Viena, de 1844 a 1848. Grande niimero de mulheres internadas no Primeiro Servigo da Maternidade do Hos- pital contraia apos 0 parto uma doenga séria, ¢ muitas vezes fatal, conhecida como febre puerperal. Em 1844, das 3.157 ‘mies hospitalizadas nesse Servico, 260 (ou seja, 8,2 por cento) morreram da doenca; em 1845 a percentagem era de 6,8 por cento em 1846 de 11,4 por cento, Essas cifras se tornavam ainda mais alarmantes quando confrontadas com as dos casos de morte pela doenga no Segundo Servigo de Maternidade do mesmo hospital, que abrigava quase tantas mulheres como 0 rimeiro: 2,3, 2,0 e 2,7 por cento para os mesmos anos. Atormentado pelo terrivel problema, Semmelweis esforcou- se por resolvé-lo, seguindo um caminho que ele mesmo veio a descrever mais tarde em livro que escreveu sobre a causa ¢ a prevencao da febre puerperal.! ‘Comecou considerando varias explicagdes entio em voga; algumas rejeitou logo por serem incompativeis com fatos bem 1A narrative do_abatho de Semmelweis «das ifeudades por cle encom wadas Cones uma pagina farcnane a. nists a Medicina Oma expongio ormenorzads, que incu tradugoes © rkffaes ce argon techos dos efrtot " Semmeimels ‘encomrase em 'W. J. Sines Sommelueds “ihe Life end Docrine iain nets Manca" Unvery et 190). Dae ‘nantes da carteira_de Semmelweis ero focalizadot no. primeizo capitulo de? ("Kru Men Arotit Death (Sora York: Harcourt, Brace ® Worl Ine, 1932)

You might also like