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ANTIGONA S6focles Introduso, versio do grego e notas de ‘MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA 84 edigto FUNDACAO CALOUSTE GULBENKIAN SERVIQO DE EDUCACAO & BOLSAS Reservados todos 0s ditetos eharmonia com a lei Edigio da Fundagio Calouste Gulbenkian Av. de Berna] Lisboa 2008 ISBN 978.972-31-1180-4 INTRODUCAO ‘ADATA Sendo uma das mais antigas, se nfo a mais antiga’ das obras conservadas de Séfocles,Antigons situa-se, nO fentanto, a meio da carrera literiria do tragediégrato. fectivamente, foi em 468 a.C. que ele ganhou a primeira vitéria, comps cento ¢ vinte dramas até ao final da sua Tonga vida, e, de acordo com o segundo dos argumentos antigos, foi esta a sua trigésima segunda peca. O primelro esses argumentos, 0 de Aristéfanes de Bizéncio, corro- ora tal ordenagio e acrescenta que, segundo se dizis, 0 autor fora distinguide com 0 cargo de estratego em. Samos, sia sequéncia da fama entio akancada, Com este dado concorda uma biografia antiga de Sfocles que che- gou até nds. sta referéncia aponta, por conseguinte, para uma data anteriot, mas nlo muito, a 440 a.C,, ano do envio da cexpedigio a Samos, Quer ela soja um facto histérico, quer "Das ete togétas cosarvadas de Séfoces apenas dss possuem date cera: ices (409 aC.) e Edo en Calon, represen {ado postumamente em 401 aC. De um do gral a dco da rnaior antiguidede centra-se em Antigo, Aj Trigun Entre a primeira ea segunda hi um pormenorténico que te sido const flerado por muitos indiio de compesgio mais tarda ~ 0 wo de nil u sj, divisio de umm verso entre dls actores. For outro Indo, a esrutar do pérodo de Ajax esti mas prim do madclo de aqui, Sobne a tereia ern especial, vide E.R. Schwings, Die Slang der Tuchicernnen im Werk es Spats, Goettingen 1982 9 nlo?, prova pelo menos que os Antigos tinham a nogio de que a estteia da posa e a siratgia do poeta de Colona nfo estavam muito distanciadas no tempo. A hipétese de 441 aC, que naturalmente ocorre, € a que tem mais defensores!. Assenta, no entanto, na suposigio de que ‘Antigona no tenba sido parte de uma das dezoite tetra- logias de Séfocles que receberam o primeiro prémio, por ‘que 0 vencedor daquele ano foi Euripidest. O verbo fempregado nos argumentos. antigos cima referidos {eudokimeses) nio é explicito, pois apenas significa walean- sat fama», mas parece sugerit a distingSo miixima, Essa a azo por que outtes se inclinam pata 442 a.C. como 0 ano mais provivel. > Reinhardt, Soples p. 251, consder-a uma anedots (ecnbora com fando de verdad), desinads a realgaro aprego dos “Aleaienses pla art dromsticn Mle resniement, .P. Winning torvIngram, Soot. Av Ierprain, p38), eserves «Dine que ‘Ainigan 1 responsive! pela eleigo de Sofcies para general em 40,0 que, verdadelro ou fats, io teria sido dito, a menos que = sous ue apna so presents pou ates dul 2 E.G. ME Kikwood, A Study of Soplleae Dram, p53: Ce elles, Sopeles. tga p25. 0 facto fl notado por Wilamovite, Avista nd Athen, Berlin, 1895, 1p, 298, cresce que em 447 clekg dos estatgos se fez anes da reabizagio dos Grandes Diolsas (c, Ehenberg, Sophos wud Peis, Muenchen, 1956, p. 167). Assim pensim E.R, Schivings pi, pp. 7-7; A. Lesh, Geschichte der green Literatur. Bern 1971, p 316 M. Palen, Diesrichiske Tago lp. 18; Kamerbeek, The Pls of Sophocles. Pe The Anan, p. 36: Mais reentemente, RG. Lees, «An Alternative Date for Sophocles Antigone, propa 38 aC, entre Dutra razdes, por Se adaptarem melhor = tenia ent lbp pollen vilenine destemperads eos dames dos pricipios mors 10 oMiTo [A historia da casa real de Tebas, da fami dos Labdécidas, & uma das mais conhecidas de toda a mitolo- ga grega. Esbogada nos Poemas Homéricos (a expedisfo de Polnicese os jogos fincbres em honte de Edlipo, na lade; 0 parrcidio e ineesto do herd na Osteen, teria a sua expressio mais completa em tr@s dos poemas do Ciclo Epico, a Edivodia, a Tebide os Eplgonas, de que 86 ppssuimos resumos¢ cutos fragmento Wai figuravatn os dados essenciais do mito: pribi- fo divina de descendéncia a Laio; nascimenta e exposi- Ho do filho deste, Edipo: entrega da crianga, por um pastor, ao tei de Corinto; viagem de Eidipo, jé adullo, 9 Detfos; encontro com tum desconhecido, a quem mata: decifragio do enigma da esfinge e consequente subida, por casamento com Jocasta, 20 trono de Tebas; nase: tnento de quatro fils (Etdodes, Polnices, Antigona & Tamena); descoberta do parrcidio e incesto involuntiries; sulcdio de Jocasta e cegueira de Eaipo; maldigfo deste Sobre os filhos varbes, que perecerio as mos um do utr, no cerco de Tebss, levado a efeito por Polinices ‘com mais seis allados; vinganga posterior, ganha pelos fos dests. ‘A Tenda era conhecida dos liricos, numa extens8o ‘que ainda nfo podemos determinar. A descoberta recente ‘de um fragmento, provavelmente de Estesicoro, com wna « tligiooss (p45) 2 estado de esprko em Atenas apis 2 Guera aesames. T Pode verse um clenco muito completo dos dados em Manvel dos Santos Alves, Euripides. As Fenris, Colma, Ceiso de Estilo Cissics e Humantics, 1975, pp. 20-4, n fala de Jocasta a tentarapaziguar os iow, deve pBr-nos de sobreaviso contra as lacunas nos nossos. conhe rmentos. O certo & que Eequilo the consagrou uma ttralogio, de que se conserva a terceira tragédia, Os Sele contra Titus, representada em 467 aC. Seo final desta pega, com a profbigio de sepultar Polinices e a determinagio de ‘Antigona dea infringi, for auténic, seré esta a mais antiga versio que temos deste prolongamento do mito. Hs, port, fortes razdes para supor que se trata, pelo contritio, de uma adigfo inspirada na obra de Séfoclest Entce essa ra2Ses figura una, de ordem estrutural, que “Mueller sintetzou neste terms: nfo é no éxodo que se levantam novas quest6es.E, por iso, como escreve 0 mesino autor, existe uma probabilidade nfo diminuta de que cle tenha inventado a histérialivzemente. Ee muito inclnado a acredita nsso, porque esta desobediéncia de tum set humano de grande forga de fnimo a ordem do Estado condiz th extraordinariamente bein com a tolo- gine arte dramitica de Sfoctes De resto, « questio da origialidade de um tema, ‘que para os modernos tem fata importinci, er, para 03 Tratase dj cere Papo de Lille cxjo teat # waducio francesa pode verse em C. Melier, La succsion d'Oedipe apts oF. Lille 74a * 73, potme Iyrique probablement de ‘Stsichores, Rowe ds Brus Grecues 1 (1978) 12-1, "Sobre © assume, vee, em especial, & Fraenkel, «Zum Schluss der Sicben gegen Thebene, Massum Helium 21 (198) 58-64, ¢ ainda ebibiograia indicada por Kamesbeok, a. cty P- 3 tnd * Op cit p21 Saee outros tatamentos do mito incuindo & pevdida Antigone Euripides, iden, tien, pp 21-24 12 antigos, secundatia, O grande mérito residia na forma de o tratar_ A esse ponte dedicaremos a parte que se segue. |ANALISE DA PEGA {A tragédia € composta elas pares que Aristtees vivia @ definir na Poética 1452, prologo, prodo,episé dios, estésimas © éxodo™, Os episédios ¢ estésimos s30 fem mimero de cinc, tendo o quarto episéio a forma de Jamentagio ou fonmnc, também referida na enumeragso da Poti, Como & habitual em Séfoces prélogo ¢diatogado. Nolte ainda, frente ao palicio real de Tebas, Antigona conta a sua Irma Ismena 0 que acaba de saber sobre 0 fait de seu to Ceeonte, ao assum o governo da cidade, por morte dos dois frmos de ambas, em lula frarieida: Eéoeles, o defensoz, seria sepultado com todas as honras: Polinices, 0 atacante, seria deixado insepulto, & mencé de feras e de aves de rapina. E a esta tia deciso que “Antigona se prope obstar, para o que espera oauxiio da dima, Ante a fecisa desta, decide-se a actuarsozinha "A cena flea vaza, entretanto amaniece. Entra o Coro, consinudo por quinue anciios de Tebas, que entoa «© pitodo, jublloso pela Iibertacdo de Tebas, que estivera amteacada por tio graves perigos. 'No ptimeiro episédi, Croonte exple aos represen- tantes da eldade, 01 sea, 20 Coro, 0 seu programa de ‘overno, que compreende uma parte de teorizacSo poli tieae outta de apicagio pritca 0 édito reativo aos dois, 16 acu deste pass poe se na nessa antologia Ha, Porto, "2005p. 45. 1B inmios, cua exeeugo, als, j esti em marcha, Momen- tos depois, chega um des guandaspostades de vigil, que refere,atemorizado, como alguem desobedeceu is ocr reas eobrindo com ena camada de p60 cadiver de Polnices,Estupetact, © Coro inerroga-se, se tl nfo tea sido obra dos euses, o que contribu para a maior irtagfo de Creonte, que suspeita de un acto de suborno dos seus inimigos e despede 0 Guarda com terrives ameagas se no the rourero culpa, © Coro entoa em segida o primi estisimo, uma das odes mais célebres de todos os tempos, em que se exalta.acapacidade do homem, um se susceptvel de pr 48 Natureza ao seu sevig, cle organizar a vida em socie- dade ~ mos que precisa de saber observa simultanes- sente a es divinas ehamanas No segundo episio,o Guards raparece tazendo consigo pessoa surpreendida em flagrant delto de presta 05 iloshinebresa Plinices a inerme e indefesa Antigona, Fests a narrativa des faces, Creonte manda-o éembora em liberdade einilaointerrogaisrio da culpada, E nessa cena, mais que todas famosa, que Antigone defende o se procedimento,colocando a bediéncin is leis temas itive dos deuses acima das determina es humanes. Mas Creonte mandara também chamar Ismena, que surge, afta, 9 pretender chamar a i também a clpe, no que Antigona nao consent. O rel conden as dla rms & pena capt © Coro reflect, no segundo estisimo, no acumblae dle maidigbes sobre a casa dos Labdéidas © ldlogo de Creonte com seu flto Hémon, que vem, em nome da rezio, defender a causa de Antigona sun nova, ocupa 0 teroiro epic. Sem aleangar qual quer éxito, 0 jovem principe parte, desesperade. Por 4 sugestfo do Coro, © tirano decide sibar do castigo Tamera; quanto a Antigona,enceeréla nama caverns eseavada na roch, 58 com o almento indispensive, a fim de vitae qualquer contaminagio. © Coro cesbra eno, no teeeto stsimo, 2 fora invencivel de Fos. ‘Durante o quar episiio, vers osamentos de [antgona, que so despede da sua cidade © da vide, éenguante a conduzémn prisio timular. © Coro, reconhe- tendo embora a sua glia, aponta para as fltas dos ntopaseados e pars a obstinagio da heroina, que parte ‘esem ligrimas, sem amigos, sem himeneu» (wv. 876-877). ’\eomparagi com emparedados tastes da milo: ia Dina Licurgo da Trcla © Cledpata, filha do Verto Béreas~& consagrado 0 quarto estsino ‘No quino episédio, 0 adivinho Tiras vers, em nome dos douse, advertir Creole das calamidades que o eperam, se pesseverar naquela afiide ietransigente Depois da sua partida 0 Coro facimente convence ore a Ibertar Antigone ea sepultar Polinices por isso que, na quintoesisimo, os acids invo- cam, cheioe de esperanca, Dignisos, patono de Tebas, para que cure a cidade No Gxodo, saber pelo Mensageit a tersivel ver~ dade dos fatos,Creonte em pessoa exectara 0s rituals tm honra de Polinices, mas, quando se rig para a averna de Antigona, era jf fade. A princes pusera termo a vido © Hémon, que li entara hevie momentos depois de ameacar 0 pai, vollaca a espada conta si mesmo. A rainha Enric, que surgira& porta do palécio, to ouvir ocomogo do dialog, afastase em silencio, ante 6 temor dos presentes Logo apés a chegade de Creonte om oeadiver do flho nos brags, ven © segundo Men- 15 sageiro anunciar 0 suicidio da soberana, O castigo de Creonte seté agora ter de continuat a viver. ASFIGURAS Através desta sucesso de cenas, desenharam-se com toda a nitidez os diversos caracteres dos interve- rientes no drama ~ nfo 96 as figuras maiores, Antigona CCreonte, como as menores, Assim, temos Ismena, timida e irresoluta, em con- traste-com a irma, mas nfo desprezivel, ecapaz de revelar uma stibita forga de Snimo, quando se acusa, no segundo episédio, de uma culpa que no Ihe pertence. O Guarda, ‘com pretensies a imitar a subtileza de raciocinio dos seus superiores, um egoista vagamente compassivo ¢ profun- damente interessado apenas na sua salvagio pessoal Hémon, capaz de se dominar para conseguir encobrit os ‘seus Sentimentos!" argumentar perante o pai, apenas em "A pont de fer sido poslvel a um grande expecta da lragédiagrega come Kutt von Fritz (oHaimons Liebe ou Antigoner fine Anite und Mademe Tagode p. 27-240) negara exiténcta do amor de Hémon tae sta que fol contaditda por Lifoth Gelli, esky e sobreudo por Hartmut Exbe, em artigo com 0 mesmo Utulo do de Kurt von Ft. Tambéon Winingion-ngramy Sopa ‘An Interpretation, pp. 82:96, via bem a questi, sobretado neste leech cap 94s Hémon ets apaixoad, mas nfo ge pretende que © vejamos como um hers radio no eile maderno, Por multo que simpatizemes com ele, a sua paldo nfo & exbide come un trago simptic ou admirivel, mas como um 0 tigi Als a reacito final de Hémon, quando opal ameaca faver exptar Antigona na sua presen (vv 762-76), amasio, nov. 751, de ‘qe ela wao morre,causaed a perda de algun, a ode 20 poder de 16 nome da razio e até do interesse deste, mas acabando por ceder a0 desespero, Tixsias, cercado do prestigio de intéeprete da vontade dos deuses, prudente nas suas adverténcias, mas reagindo com a revelagio abrupta da verdacle as acusag6es de gandncia por parte de Creonte. (Os Mensageisos, carregados de reflexdes sobre a instabi lidade da humane condigio, Buridice, a figura digna de rainha que recebe em siléncio a noticia da perda do seu segundo filho, ¢ com a propria morte di a dimensio do seu softimento. Mas, se a subtileza da anilise psicoldgica sofoctiana cst presente nestas figuras, muito mais ela avulta nos dois caracteres cujo confronto esti na base da tensao dramitica da peca, Sobre Creonte deram-se jf as mais variadas inter~ pretagdes, no obstante a nitider com que & delineado™. [Na sua primeiza aparicio, cle procura mostrar-se como 0 defencor da polis, aquele que ple na primeira linha 0s interesses da comunidad frente da qual se encontra:«E quem quer que tenha mais amor a autem do que 3 sua propria pitria, por esse nfo tenho a menor consideragao» (wv. 182-183). Uma vez proclamado o édito, aparenta querer associar a essa lei os ancidos de Tebas, que se escu- sam (vv, 215-216). Mas logo no v. 221 se exprime o seu autoritarismo, aliado & suspeita da gandncia dos seus sibditos. Este motivo da ambigio do dinhelto, em ligasio res, no tereio estisima,o, finalmente, 0 ulcdin,abregado 20 adver da ives actos que sponta todos no mesmo sentido " Pode verse uma enumeraco das prinipais em G. Ronnet, Septet, poile asians, p. 86, nota 1. Ch também HL. Patzes, oupieeon sod tagischer Held in Soplkls” Antigone, p, 87, que cama a Creonte a cantafoclo de um her gio Vv ‘com a dnsia do poder — cuja atribuigio aos outros ndo & ‘mais do que sma projeegio de um defeito préprio ~ vol- tard & superficie em outras ocasides: na violenta réplica d sugestio do Coro, de que poderiam ter sido os deuses, que cuidaram do cadaver de Polinices (vv. 280-303), na resposta desabrida as adverténcias de Titésias (vv. 1033- 1047), em que se revela arrogante e impio (vv. 1040-1044). Que Creonte ¢ um tirano, que sé reconhece autoridade a si mesmo, prova-o a discussio com Hémon, © qual, indi- rectamente, primeiro transmitindo-The o pensar do povo para quem o seu aspecto é terrivels (v. 690), depois sugerindo-the a necessidade de eseutar os outros (oPor- ‘que quem julga que & 0 tinieo que pensa bem, ou que tem uma lingua ou um espirito como mais ninguém, esse, quando posto a nu, vé-se que & oco» = wv. 707-709), € enroupando © conselho numa sucessio de metiforas (wv. 710-717), procura chamé-lo & razio. E no auge da dlispata que surgem as frases clebres, certamente muito gralas 0s ouvides do pliblico ateniense, em que a0 -govero de um 86 se opte 0 sistema demoeraticn da polis, ‘que Hémon defende: CREONTE~ Ea cidade & que vai preserever-meo gue devo ordenar? [HEMON — Vés? Falas como se osses iia evianga (CREONTE~ E portato a outro, eno a min, que compete -governar este pos? HEMON — Nao hi Estado algunn que se pertenga de unt sé homem, "60 leque de metives que pode compreenderé linitodo, incl ambiso do poder e ebiga do dinheror~ esceve Winnngon- Jngram, Sophocles: An erpriton,p. 127 18 CCREONTE = Asso ndo se deve entender que 0 Estado é de uent manda? [HENON = Mamidaias mitt bem sozino muma tera que fesse deserta (vv. 734-739) a pati deste ponte que come observou Hermann ohdich", Caconte esi no isolamento como chefe da Cidade, pois fice poticamente desquaifiad e privado dia sua representatividade soci (© isolamento.€ tipico do herd sofctiano, mas autres factos impedem que se dé a Creonte esse tuo, {A sequéncia dos acontecanentos mosta que she escapa srandeza, mesmo grandeza no erro na queda, pelo que ‘ho devemos consider-1o uma figura trigica no sentido fue Ihe dé aque dramatergo. A observagio, que & de Mucllers, esti de acordo com 0 comportamento de Creonte desde que ouve as ameacas de Tess, A partir dai ele que, aterrdo, pergunta a0 Coco 0 que deve fazer (v, 1095-1710), e a sua presenga no éxodo & uma continua lamentagio, de que 08 ancifos de Tebas no omparttham Pelo contro, é ele que aplicam a5 ver~ fs de censura com que encera a pogs (149-1353. "Antigone, Bets 2 einer Tai des copie aie. pp. 1516135, Sopot, Antigone, p. 17. Cl. tam BM. W Krox, Wont amd Astin. Esso the Anco That, p16, que mete para © tga fundamental de Hons Diller, «Libor das Selbstbewusstsein fier sophokeschen Petzonen-, Wek Stain 69 (198) 7085 lene Scien zr aten Literatur, Muenchen, 1971, pp. 272-286. Diller serve meso que el «a nica figura sofocliana que acaba Por easer nut pontofardamentals (283). 19 Gate modo de entender a figura de Creonte abre camino hreqpsta a uma das mais dsctdan quests ue siadaatterprotacto da tapéda a vaber: quem €0 protagonist? Se aelarmos ator da estruturaem dpc, posta cen vogn por TB L. Webster, eaplicve as rs dra- tins gersmente dos por mais antigs, a questio nao Chega 8 pore peso ince tanto sobre a figura de “Antigona como sobre a de Creonte, E neste sentido que se ‘pre Charles Segl entre os mas cents exepetas” Pordm nfo eri esas maneira mais adequnda de caender acomposisao da tagéia Devos ates pro ar saber se 0 het necesseraments aquele que est ovesna dune quase todo o cram, aquele sobre quem {abate todas as ealamidades até 208 timos veres sun gee acer dana rica pun cache da wor, a cir nurn desepeto ol, ou sj Ceeomte, assim que entendem grandes helenisas, eg. Kilt, que declara peremptoriamente(xA peca central ¢ inequivo- amente Creomte,Podemos prefers fazer del Antigen, tray se Bzermos, 0 plano de Slocles tora-se em cea 1 An Introduction fo Sop, pp. 102108, Segulram-no, 6 ALJ.A. Waldock, Sopot the Drama, p50, e G. M. Kikwood, 1A Study of Sepcle Drama, pp. 2-54 Outros rtm o temo, como H.D.F Kit, Gre Tage, p18 "7 Autom é ceramente ima posa de anttses confit, cesta fase do conflitoincamad na presanga no plco de dis pro- {agonists cada um diametalment aposto 9 outros (eSophoeks’ base of Man and the Conflicts of the Antigone in: Sophces. {A Cotecion of Crt! Esty, p62). «8 pega verdaderamente uma “ecivel simetrias (de, Tragedy and Clanton. Interpretation of Saphoces . 159) ° For and Manning n Dram, 176. 20 nai innit; em parca tora fl com meee por que € que 0 congo de Antigone no € Trani denovon eter Quer havlam cbido as pieias pla as do pogo e tov a probleatiasio do drama que wee Hen implicte, x6 reparece em cana 10 wea eepasdo (que, como vos, ¢ cera) © no sary por enoat 0 hommes, Ainda gue admitamos sear andi, qu la pemanece para escuar oqua ‘Sinamay aauapresencaé muito mals breve do qu a de Cenc gor stro lao, € eto que 3 0 caddveres de Hanon ede Buridice so taridos durante 0 éxodo sias ert il nega que presente ou ausete, € 8 sua figura 08 pnepes que dfende que dominam + ma Roslateielasia to es deve os aparece ogo vere lone sekada pelo const com a imidez de reco, as ents destin do seu prope. O grande ‘Srtrrtsers,porém, odo segundo elo, em que 3 Kees se lave a nel doe pntpos (v. 45060) fig eras de ope divin, qu pevlecem sche ss arta his do que todas carci et frst final a encom com Crent ‘io wasei para oa, mas sim para amar (523) T Araigne. pp 22-23, 8 estatitica das presencis em cena das duse figuras encontr-e no ber fundamentado estado de HL Pater aypperson wd trash Held in Sophos’ Arig 0 qual fanch que hi gue lstingait entre figure principal acnicar © Semitic {p, 108), sendo ema tims sam chvida Antigona. © ‘Remo Tv cnumera, na bibliografs os partidérios das diversas fuses ex confront. Na sua edi comentade do drama, Mark Cif consider eta dzcosso um pseudo problema € observa fem ss, nis poderla have ragéda par 0 outro" (. 36) a [A dedicagio sem limites, ainda que pelo preso da vida, ficou bem vincada, e consumarse-4 no final da pers, elevando Antigona 9 uma estatura moral que @ ‘ngulariza entre as figura trgicas de toda a histéria do teateo cee uaa difculdades tém sido levantadas, no entato, 8 este perfil linear, crstaino, que acabémos de esbocar. Una é 0 comportamento da heroine na segunda pare do segundo episédio, em que alguns véem sobranceria © ddeedém ante o desejo de aproximagio de Ismend®, € gutrs, pelo contro, atentativaaltrusta de imped que tira seja azrastada para a mesma sorte, Julgamos que ‘nio hd lug para falar de desdém (eSe escareso de 8, € ‘om dos que ofagon =v 851), mas de uma reafirmagio da Sun attude iredutivel,dtada por uma lealdade inque- trantdvel («Est tranquil: t tens vida, a0 passo que & thinha acabou hi muito, para servi os que morrran = ‘Wy. 559-860), Esta noglo encontra eco nas palavtes que proferté de navo diane de Creonte, no final do quatte episédio (vv. 891-908). precsamente neste quarto episédio que se nos dloparaseutra grande questo: devers fala-se aqul, como Sigans tem feito, de uma «retrataso» de Antigona? Que fre normal nesta situaglo um herd lamentar-se € despe- tli-ze da vida em palavras paéticas € geralmente eo Sthoeidot, Resta saber se Antigona perde a coregem, ot pir ainda, a ctenga no valor da causa pela qual se scr +» tmbora se posa seta, como von Fitz, asians Liebe vines p. 280, que Isnena x6 intervém pela vide de wo pea azo que ea tena ip, por von Frit, almons Liebe 2 Antigenc, ps 238 Mello, Spl Anion, p 183 2 cou. Winningtoreingram, por exemplo, reconhece «ie se pommos parece faltarIhe 0. Animo,, mas 0 facto se open por a sua pena oe ter agravado de uma maneie or te cucl, pois agora sabe que val serempareda., Em tivro publicado no mesmo ano, Rohulich jsiste também tna questio do suplico, mas consagra malas paginas 2 fenter demonstrar que «a heroina jénio.é 2 entge Terlonan,e marca essa mudanga a partir da-explicagio do ‘Coro, de que é na sua origem que est a causa da presen|= leogaga (we, 853-56), «Como se mudos.radicalmente fanaa ua autor o eater do feito de dar septa, § eridente» ~ sublinha, Na segunda parte da representacio Ia heroina, ela anseia pela vida e nega oque antes dissera = acrescenta mais adiante®, ‘Diferonte é a leitura que fazemos do. quarto episé ‘dio. Ele serve acima de tudo, em nosso entender, dias finalidades: uma & mostrar a face humana de Antigonay tum ser que abanidona a vida quando tinka na sua frente 9 fonga da juventude ea doce perspectva do amor corres pondido (3. 570), e que encara com eescene © rate) Peto o emparedarento que espera anistofe segunda rarrofe tercuira do Kommos ¢ vv. 891-292); outra & acens far seu isolamento%, que o Coro, a principio elogiaso (qv, 816-822), agravara sucessivamente com as suas inter 2 Space An errata, p13 2 Ariza, pp 145-186, As lage lo respectivaente a5 pp. 161, 1602227 A ye iamento fem sido posto em relevo por dlvescs een vom Bia, elimons Liebe 24 Antigen, pp. 235 aerial, Sopot, Antigo p. 187, Winningtor Ingram Be Se bepreatin, p13 H. Rohl, Agar P18) Seale, Vii an Stagerf i Sopot, pp- 89610, 23, vengives, em especial a de vv. 859-856 e 872-875, Esse iso- lamento atinge o paroxismo no epodo: ‘Sem Idgrimas, sem amigos, sem himeneu, desgracad, pelo cantno que me espera sow levada, Da zo disco sagrado rio posso mais, ine ‘contemplar. A minha sorte, sem past, ‘araig algum a lamenta, (wv. 876-882) 8 altima fata de Antigona, no enfant, que suscta thaior controwésia. Mesma dando por interpolados os Aiscutds wv, 905-920, parece desentiars, especialmente em 921524, a dvida sobre a justeza do sou act. Assim persou, por exemplo, Schadewaldt®, Polo contéso, Mueller nega que hoja incereza e dedlara mesmo, «© sentido do formes, como 0 de toda a tragédis, € deseo: nhac, ese nterprete como s Antigone coma sentir divide sobre o igor da sua razio™ Persamos que a5 interrogagdes dos vy. 920524 (eobretudo a terceia), poderio fazer despont uma * sSopholley Alas und Antigone» in: Neue Wee zur Anite (Cetpeig 1925) apud Mueller, Sophie. Antigone, pp 18318, nota 1, que observa que o facto de aque attigondo ter gua depois ra colectinen do eutr, Hells wed Hesperien, Zuerch 1860, ord cerlamente significative do abandono des suas posses, ape 2 atlea de Reinhart, Soph, pp. 265-26. Sophos. Antigone, p83 ena 24 buitia para agravar®. Mas a palavras fina rio sio senfo uma reafirmagio de principios expressa sab forma aparentemente condicional, a0 mesmo tempo aque tm eco distante de uma outta condiconal com que terminara a grande resis do segundo episbdio (vv. 469 470), As ctimas palavras de Antigona 20 sair de cxna, ‘porque piedade prestara culto» (v- 948), pSem de novo «a ténica na jsteza do seu procedimento, ‘Vltando ao ponto de pastida, sobre a identfcagto do protagonists, podemos ainda aduzit mals alguns angumentos, rtiades da pritica dos antigos. Um & 0 prbprio nome da pega. Outro o facto de o protagonista poder aparecer quase 2 meio do drama, como sucede no ‘Agaménnon de Esquilo, © morrer muito antes de ele estar terminado, Finalmente o conheclmento de que dispomos, através de uma referencia casual feta por Deméstenes no Discurso da Embaixade 246-247, de que era Creonte otrita- gonsta Antigona nfo sabe da reseybo dos seus concidados nem da Atigincia de Hémon, como notaram Kitkwood, A Stay of ‘Septal Drama, p. 164, «Burton, The Chorus in Sophocles Tres pp. 119128, Assim o observ ji Mueller, Sopa. Antigone, p13. A cexclhs do nome do protagnista para designr a tragidia tem uma ‘onfecidaexcepgio em Safle em A Trap, cj tlo deriva {a composgio do Coro, Paro facto enconto Bowra uma respast Plasivel a dew autor querer assim indicar que nem Heracles nom Deana prevalecim um sobre o oto em Importineia (Sepelen Tings p. 118. 25 o.coRo, Na enumeragio das figuras que fizemos, deiximos de parte o Coro, quando na verdade podiamos t&-lo ineluido no eleneo, «O Coro dave considerar se como um. dos actores, como parte do conjunto, que toma parte na, acyio, nio como em Euripides, mas como em Séfocles» — afirmaria Aristételes na Poétia 14560, B a Antigona com- prova esta assergio, Pareceu-nos, contudo, preferivel, traté-lo em separado, em face das dficuldades especiticas ‘que a interpretagio do seu papel comporta Diversamente do que sucede noutras tragédias, 0 Coro nio sente em sintonia com a protagonista. A subli- har esse distanciamento emocional est, como jf foi notado, 0 facto de ele ser constituido ~ caso tinico nas peyas conservadas de Sdfocles ~ por pessoas de outro SEXO, cujos interesses estio ligadas aas da comunidade {que representam, ndo aos da figura principal®. Sendo assim, nao surpreende que os seus pontos de vista seiam divergentes dos da heroina, e s6 lentamente mucem de posigio, Comesam por acatar as ordens de Creonte, que thes aparece de inicio como o salvador da cidade; abrandam a sua atitude depois de ouvirem Hémon, e conseguem a libettagio de Ismena; mas #6 apés ferem escutado a profecia de Tinésias compreendem ela- ramente de que lado esta o interesse da cidade, e slo eles que prescrevem a Creante 6 que deve fazer. AS suas ilti- mas palavras sio, como jd vimos, de censura aberta a0 7 Ch Burton, The Chas te Sopocs’ Tmgeis, pe 85; Winnington-ingram, Sophacles A intrpttion,p. 138, » Kirkwood, A Study of Sophceon Drone, p. 126, resume ‘mizavelmente a evolugio do Cor +O Coro le Amtigont & 26 ‘sua fungio nose esgola, porém, com as atitudes « palavias que aesbamos de sumarae. Temos ainda a fonsiderar as odes coris~talvez a parte da tagédia que tem sido objecto de mais acalorada discussio ~ em que trio conidas ritas das eins fendamentais da psa, € gue comportam, além disso, uma segunda leitura dos factos que se vio sucedendo: a letuta faciltada pelo temprego quaseconstante da chamada ionia dramstis™, proceso usual em Sols, que ex Rei Eo aleangard 0 came da perio. (© facto € especaimente visfvel nos extsimes segundo (onde os vv. 620-62 acabardo por se aplicar a Conte e tereio (qe celeba o poder de Erase aparece como uma confimasio iihuvel dos reissentimentos de Hémon, mas, por outro lado, sugee que é esse deus invulgatotente importante pra 0 pensamento da pa. Como anclios de Tebas, 0 Cozo tem am vivo interesse pessoal poo ques ‘tle piss, mpotamae tanto com a reso rigors como com ‘obem-eareentabildade do Fstado, Fst todo o tempo eonsciene tes da exclénia moral de piedade de Antigona,e desde o comes tem esenipulos sabre 0 ito de Creonte (210-25). Mas per rmanecom 20 lado da le do pais, crém que # correct favo Data gua cries a0 acto de Amtigora, a despeito da sa simpati por fly; a Sua pledade admizam-na,a’sua desobaigncn censuram- na como cbtinada¢ malavsoda (872-875) asa censure exprime- se pea declragi de que ela fl deenconto a Dik (53.855), Mas, pra Creonts, uma vez que les fl asepurado, através das plaveas Indiscuiveis de Tirésias, que a sua lel est errada aos alos dos Aeuses (or isso no & ume lei verdediea de Tebas como Creonte mesmo ttn fnalmente de reconhecer), no tém senso palaveas de censuraecindenagion 0 facto foi jf rota, entre outos, por Kit, Form anit _Mesing Drea . 150. a que leva o principe 3 njusticn, quand os acontecimentos provario ocontriio)™. Menos importante, embora muito discutid, & @ «quarto estisimo, em que se sucedem os exemplos miicos de figuras que sofreram suplicioidéntico ao de Antigona Enumerar paradigmas mitoldgios com a fnaidade de consoar ou de exortaralguém era procsso que jé vinha 4a radigio homeérica e que alcangou um desenvolv- snento esplendoroso na ines coral de Pindar. E ese tipo de orate que aqui temos. Duas odes esto especialmente ligaas & cidade: a Primelta, o pirodo, que comemora com aleria a sua vertagio, nterpretando a dertota dos sete stants como tam castigo de Zeus, e invocando em especial Bac, © patron de Teba; ea ikima, 0 quintoestisimo, em que ‘gualimente se faz ume invocagto a este deus, num agi ‘ado hiporquema em sua honrs, para que cure 0 seu povo. Em ambos os cats, a euforia do Coro redundara ‘uma amarga desilusto; primeiro, porque as soquelas da Juta asc ro desu a casa dos Labdicidas; depots, Porque Creonte, a0 inverter a ondem das acgdes que © * Eneontram irnla dramtica também no estésimo primo Y. Ehvenberg Spholeswnd Perit, pp. 8-81; Burton, The Chora ft Sapoves’ Trego, p. 03. Quanto 20 quato esisimo, vej-e Cluistine Sourvinew-nwood, «The fourth stasimon of Sophece” Anigones, Bulletin of the Institute of Csi! Stuns (London) 36 (1995) 1-5, Sobre os estisimos de. Antigone exisie uma considerivel ofa, de que salentamos 0 lvro de Bust, The Cons b vl Tragedies. Para o segundo esisimno em especial, ¢ ongepso arcaca do destino que Ihe subse, io poiemos deixar nericionar a anise de E.R: Dod, The Grek and the Frain, Universi of California Press. 1961p. 48 28 Coro the esmendaa =e, Anion, spl Pol Nemo hogs tmp de evra ces decal oes que ser raada no to" iepundmos pare. fala que 6 conlderada 8 mas bel das ede de feces oe prime, habia mente desgndo por cOde oo Homma see oma Atma de superondade d ser umn: _Miitos pros is poréennemum maior do que o omen. (vv. 392-033) E prossegue com a enumeracio das suas conquistas, que ‘culminam na invengio da arte de viver em sociedade, ou, pata usar a palavea de origem grega to desvirtuada, da De pola, "Que la le do evolu a numanidade como um progresso era somelhante & que no mito do Protigors fe Platio 6 otribuida 20 Solita deste nome, fo vit Jnoger hd muitos anos® Hi, noentanto,eutras expressdes rnaisantigas da mesma nogio, como, provaveinent, a fonlida nos wv. 441506 do. Prometon grlioaio. de Eequilo® e, sogoramente, 2 que estéimplicta no fr. 18 Diels-Kranz de Xendfans. © fat fina ene outros por Rodi tan p. 217. Outros titulo, referides por Burton, 9. i, p. IDK, © sino & Grandeza do Homem, «Canto de Triunfo ca Cultures © ‘Espesulagio sobre a EsséncieTglea do Homem ° Paid, Bein (193), 21954, . 25, Para Heidegge, in Sophocles. A Cleon of Cres! Esty, p. 98, nfo se tata da tevolagio do homen desde o estado sevaem ao clvlzado. ‘Dissemossprovavelinene porgue a daa dessa tragéla (© sé autora) como os sabe, uma sera quest, 29 Na medida em que elogia a8 potenciaidades do hhomem, contrasta com o segundo estisimo. Como muito bem viu Burton”, eles «apresentam dois pontos de vista contraditérios do destino do homem, uum que retrata 0 seu avango @ caminho da vida cvilizada, © outro que revela asta inerente vulnerabilidade»» ‘Contudo, 0 segundo estisimo ensina-nos algo mais na segunda antistrofe. E que na prépria grandeza 0 hhomem encontra a sua maior limitagfo: é preciso prezar 1s leis da terra também a jstiga divina, para subir bem alto na cidade (typsipolis); quem assim nio proceder, sera sprivado da cidade» (apotis). Os dois compostos soguidos no ori (que sera essencial na peca (Com esta titima frase, estamos ja tocar na contro- ‘versa questio da relovancia dramética da ode. Limitando- “nos apenas a algumas das doutrinas mais notéveis, referizemos que, para Wilamowita, 6 uma fala do poeta como conselheiro do povo, vagamente ligada a0 contexto @ramitico, para censurar a educagio soffstica, nas suas impliagbes polticas para W. Kranz © para A.J. A. Waldock®, nao ins ligacio deste canto com o feito de Anti- gona; a0 passo que R. W. B, Burton" considera que a ode «aio ¢ simplesmente um resumo de artes e téenieas, nem uma ligio de filosofia politica, nem um setmio para @ poca, mas primeito e acima de tudo um eanto composto © The Charan Spl’ Tre, p 112 » Griecische Verstunst, Darmsadt, 1958, pp. 516518. Na ‘mess linha seguiu M, Poblen, Degree Taped, Lp 97- 198 2 Stasina, Benin, 1899, pp. 12345 “ Sophces the Dratis,Canbidge 966, pp 12414 Tie Choras i Spt Trgetis,p 108, 30 3, para melhor evidenciat 0 contraste, para uma pega» e D, Seale observa que, no final do ‘canto, «estes dois pilares da moralidade politic, a justicn humana e a justiga divina,ironicamente as proprias bases, do conflto que vai surgis, s30 aqui ligadas muma nica (© Coro pensa, pelo menos aparentemente, num transgressor, de.cuja identidade ndo tem a menor ideo, com o demonstra a sua dolorida surpresa, expressa Jogo | seguir, nos wv. 376383, A sopunda leitura, 9 da ironia dramitica, mostraré que sio dois®. ste modo de interpretar o final do estisima con- duz-nos ’ questio principal de saber qual o sentido filkimo do drama, OTEMA DA TRAGEDIA ‘Quer a0 analisar o¢ caracteres de Antigona e de CCeeonte, quer a0 discutir 0 sentido do final do estisimo primer, tocimos de perto na magna questo que con- siste em determinar qual o significado da pes. Filésofos ‘eespecialistas da tragédia grega tém debatido o assunto, sem que hija sido possivel que uma solugio se imponha sobre todas as demas. © Vision and Stegeca i Sophocles, p. 88 6 dissra A. Les Die taste Diktung der Hellen, p. 192, que a ligagho cis ‘réxima deste can com o todo es na delimlagio das normas ‘eas perante as quns we dasencla a oposgbo ene a3 exigéncias sos deuses eas do Estado, ‘CEC, Segal, Tage and Cielation, An Tuteprelation of Sips, p Wes H. Robie, Aiton, p74. Velose ainda Gregory Crane, xCteon ard the Ode to Man in Sophocley Antigone, Foard Ss a CIs Piley 9 (199) 1016 31 Aquela que tem tido mais larga audiéncia é a de Hegel, segundo a qual o drama é um confit entre 0 ‘deal (neste caso, 0 amor da familia, defendido por Anti gona) ¢ a lei posliva (incarnada por Creonte), Do embate das duas forgas antagénicas resulta o aniguilamento de ambos. Esta interpretagio, que continua a ter seguidores entre alguns dos mais distintos helenistas, encontra os seu8 pontos de apoio principais no final do estésimo primeiro © na discussio entre Antigona ¢ Creonte, no segundo episédio, Um tedlogo, R, Bultmann, em artigo eélebres, defen- dew um ponto de vista diferente, Escreveu ele que «0 problema de AAntigona é&a questo do verdadeiro funda- mento da pois ¢, ao mesma tempo, uma vez que a vida comunitiria dos homens s6,ganha forma na pois, a da verdadeira fundamentagio. da vida comunittia dos homens.» A atitude de Antigona deve-se ao conhe: mento de que a existOncia humana © mesmo a polis s30 limitadas pelo poder do Hades no além, sendo este Lilimo © poder do qual emana © verdadeiro diteito. Néo hd diterenca entre Zeus e Hades, ea Dike de Zeus & aqui aque scoabita com os deuses infernaisy (v.45). Outra interpretagio que merece relevo & a de K. Reinhardt, que salientou que 0 que havia de novo nesta Peco, em relagio as anteriores, era wo embate no, como * Voriesungen ber Phloephie der Relgin U2, 13a, € Aesthas 21. Pols und Hades ia der Antigone des Sopheles in Thealgche Anfaetze Karl Barth zum $0. Geburiag, Muenchen, 1896, 7689 = Glauber uid Verteten, Tubingen, 1952, 2031 © Sopkles sg, Hans Diller, Wege der Forschung, Drmstct 1967, 311-324, A cite é dap. 31 ds erecina rime, © Sophos (1998, 4947. A cagso€ dap 75 32 até ai, de atitude contra atitude, de destino contra destino, tas de vonade conra vontade, de forg contra 0 su to, dea contra act, Pane esteira destes dois autores, Mueller caracteriza a psig de Ceonte como aparnae estea not flea e a de Anigona como verdade, que deve vaat Fragicamenteairmando-se de encontro a pode da ap- ‘inca eaditica dos conceltoedeserwolne nite ver fade e apart, nloenre dois plos de una atinomia Ques lina e relative veprocamente, com 850 destocm por glo eu reprexnanten utes heleistas retomam o problema do conto entre 0 deli da pls e 0 da fafa, Anim, Knox delerde que © denna assert na opeigo entre a vida Partclare avid plc, fal ea pli Mais rcenterente,C, Sepa ama que edesofando um pinciio de avagio em nome de oat, (An onal gers una diviiotrgiea que poe em quero.» Proprn natura daordem sab. 'Na mesa linha se cloca Davi Sse, ao conde rar que & wo confitoenze oraidade privadae piles eet po carat da apd, eee ‘monografia de H. Rohdich* afirma aque algae de Antgona tosses eles qusidos e& © Angoue, pp. 1112. Deste modo se aliage 2 conclsto, refeida nas piginas anteriores, de que sé Antigona pode ser @ werdadera enn protagonist dis ‘The Heol Temper, especialmente, pp.77¢ © Tragedy an Colanon. An Iterpreaion of Soph, p. 152. Visi ad Stara in Sophocles, p85. 2+ Antigne, As tages ao, espectivamente, de pp. 37, 25, 27, ZDe7 33 obreza da sua estitpe no faz contudo da antinomia entre familia ¢ Estado o tema do drama», Para este autor, existem, como jé vimos atras, duas fases na condata da heroina: uma, até ao quarto episédio, que é «a demons. tracio da liberdade e autonomia do individuo na sus relagio com a palsy; outra, a partis dai, em que a «meta, morfose» da tilha de Edipo «muda 0 menosprezo hersico {it sobrevivéncia na gloriticagéo desta» e em que ¢ famento pelos esponsais iminentes com a morte & um hino @ existéncia sobre a terra e& polis, A principal figura tramética assenta, assim, numa composicéo aniitctica, {que projctaesteticamente a relidade vivida pelo audite 7:8 oposiio diléctica ene o individual eo social, que divide cada cidadao. «A polis surge como mediadora entre o individuo e o mundo», como «ponto de partda e de chegada da poesia sofoclianam, A possibilidade da interpretagdo dos lamentos de Antigons, no quarto episécio, como signifcativos de uine smetamorfoser, jé a discutimos atrés, pronunciando-nes pela negativa. Entendemos, no entanto, que a polis é uma zealidade essencial na vida grega, que nenhurm heleno, ¢ ‘Séfocles em especial, por em causa, nem poderia exclair da sua construgio da vida. © Coro representara, ¢ » ele ‘abe a iltima palava, como vimos, Mas a tragédia, embora subtenda essa realidade, {ranscende-ae situa-se num plano mais abstract, que &o die propria emanacio e natureza da Ie. O tema fora posto em voga no decurso do sé. V aC. Vamos enconird la, ‘laramente formulado em Antifonte®, contempordneo do Fi 4A (radugio na Held, Pore, "2005, p. 252). Sobre esta shinomia ide F. Heinimann, None und Phys. Hotunp ot Betting einer Anttese im grichiscen Denn des 8 Jarondons 34 in ag aS EB de plan Wu levs teeth eden ede oe eet, ae age av cer Eh um ae eau ou id alt Kg por eta le natal co cote ect oque ng sabe quando sgn (457% A ele p= és lito Kio no eu wb Anh cd, Slatin na lade gon, eneo seni de homing (mV 4 pla sue ee tn 1 peta pn com os moron, onsagadss plow) ¢ © momar (es) Tal ling enc port wh batted Wa ecw ep tis esa, nome o SB 0 qué o eno Ble ts ei eoptPh na anita cont BEA Gas destes, que aster em conto comb eb da Precinnte que 6a ineretale € que as penis 2s dam rerulam de uma eng bem coe Cine pp da mertaiade gga caret xpress deste 0 Poeos Hobs, de que 6 Siar naa ctr on itl er nea dos meri sm 0 que no contucerio 0 dscans oan ¢ dale leva inser chal, Basel 7965, ¢ Savwezerche Betrange rir Altertumsvriesenschat sinds G. B. Kerferd, The Soplistie Mavenet, Cambridge, 1961, PPD ain © vr 8 Ae, Rete 8 (1973, Seeaomaatenneeentes Te Heri Tener pp. 9498 ep. 183 not Cf, Burton, The Cras Soph’ Tages, p- 102. * Assim & que Aqulles, no Canto XX da Md, 6 advertido ‘em sonhos or Ptreclo de que deve efectsae os faserais do amigo, 35 ‘elma um princi ger. A ete apt se promi Seu cm profuda vido M. Foleo obsess spe Slot € lever tld strc eget Pare ada morale da limites da patente eke para rporidade«,simulonament gure c pate Imi human, ea par dese par, dr suey do gie odo queers © ac de dar spurs & sm divi um tema chav de Antigone. ado a dee phi cones ‘ade atime gue ne eselamene dats pooney Peters Cone ret cs) ou nin aul sulin none Gediagio que uvapssa as bueas de ii, Cone tases grandes cootenadas da cutnis vane oe ssc dna dari pnd) a fren um momento ual da pee nee Ges palavras da heroina: i 7 porque piedade prestara cuts (v.99) Outro conceito-chave, precisamente o principal, jé 0 vies também & roms (le). © conbecimenio desta confunde-se com a sabedoria, © bom-senso (sophia, to Pronein). De o possuir se vangloria Creonte em todos os porque sua psy anda erate, sem os Hades (576) ae ee Na tapéaie que nos ccupa, no se tata s6 do cumprimento de uma pritca conagroda, mas também, como scenfoeu Kit, Form ard Mensing in Drums, pp. 188-189, do horot feo 30 tata, ment ulesjante deur corpo amado. © Degree Troe 1 pp. 190-191, CL.G.M.Kikood, Stuly of Sopecaan Drama. 21. 36 momentos, ¢ especialmente ne vielento dilogo com émony de 0 ignorar o acusa o Caro no éxodo, e part cularmente nos anapestos frais ara ser feliz, bom-senso é mais que tudo Com os deuses no sejaimpio ninguén. dos insolentespalcoras infladas ‘pagan a pena dos grandes cstigos: ‘ser sensatos os anos Ie ensinaram, (wv.1347-1383) ‘Hnumerdmos, apenas, as exegeses mais importantes ‘oa mais recentes do drama" e procurimos, desse modo, orientar o letor num problema que permanece sempre em aberto, coma é 0 da interpretagio de uma obraeprima. ‘A variedade de opines expendidas ¢ a prova irrefutivel da riqueza e profundidade do conflito que nela se equa- 1 que poderiam acrescentt-e outros canltentos que se dosenham na pega, como o do ritual relgiosoe odo conto de genes (cf, Mark Gift, op. it p26). Outro aspucto desarquers & 0 nero de imtagbes aque eu onigem, Sobre 0 asunto exist | um liv intro, ode Simone Frais, Le mythe Antigone, Pais, 1974, que engloba teatro, arava, poems, misica dang, les, e conch na p. 167: oo Imundo ocienfal, @istepeeagto do seu aco & insepardvel da histria politica das dle titimos séculoe» A lista apresentad, haveri que juntar ts obras poctuguesas: a Atigan de Anténio Sérgio (1930), ade Jllo Dantas (1946) ea de Anténio Pedro (195). YVejese anda o lio de George Steines, Antanas (Oxford, 1980) ¢ antiga de 6. Kyzler, «Andgane i akehuncert der Woelfe: Meta- morphea elnes alten Mythos im XX. Jahehundert, Gymnasium 1001553) 97-108. 7 ATRADUGAOE NOTAS + cea itt tnducto que agora apreteniamos, mee como base anova ei ciin de sterner Jones et N.C. Wilson, Spc Fuutc Oseee ae sty Fn 199, que quer der que ohn oo dade alerdnas em mutos lagu verte ee Ne haviamos_publndot, Como toler ar canis saben, ote de antigo & co de dite sudo de cues, mts das aan poten eee fasta io obmtante cers ements Cates sums eles, designers de Dawe me cae gio isuineana. Sempre sue adopts tan a feo eo derkdamente staledgcm ro Quanto as anoage, as alo de duns code Unasdestnamse a omecss dads hog re ‘méclo, Outras, drigidas aos helenstas, visam justificar » tradusdo ou discutir o: problemas textuals mais relevan, tes, Em muitos pontos, completam e pormenorizam a¢ tinh gers tragadas estas péginas, que mais do pre- fendlem que servir de guia para aletura de um des tis 2 eit: Cleo Anpihanrm1 rro, Cen da "stds Humic ao Unversity, a eno mantwese ani Ar aa ee Ee Estudas Clissicos ¢ Humanisticos, 1987, an we 38 BIBLIOGRAFIA SELECTA Edigdes criticas e comentirios ebb, Sophocles. 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