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Pierre Bourdieu Jean-Claude Passeron D Os herdeiros os estudantes e a cultura 23 edigao NZ) editora ufse © 2012 Editora da UFSC 1964, 1985 Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, Les Editions de Minuit, Paris Esta obra foi publicada originalmente em francés com o titulo Les héritiers: les étudiants et la culture por Les Editions de Minuit, em 1964, Paris, Franga. Coordenagao editorial: Flavia Vicenzi Capa: Maria Litcia Iaczinski Editoracao: Paulo Roberto da Silva Rémulo Samir Lanferdini Reviséo: Flavia Vicenzi Leticia Tambosi Reelaboracio digital de tabelas e gréficos: Nilton Valle Ficha Catalogréfica (Catalogacao na fonte pela Biblioteca Universitaria da Universidade Federal de Santa Catarina) B769h Bourdieu, Pierre Os herdeiros : os estudantes e a cultura / Pierre Bourdieu, Jean-Claude Passeron; traducao Ione Ribeiro Valle, Nilton Valle. - 2. ed. - Florianépolis : Editora da UFSC, 2018. 17Ip. : grafs., tabs. Inclui indice. Tradugao de: Les héritiers: les étudiants et la culture. ISBN 978.85.328.0828-8 1. Sociologia educacional. I. Passeron, Jean-Claude. II. Valle, Tone Ribeiro. III. Valle, Nilton. V. Titulo. CDU: 37.015.4 Elaborado por Dénira Remedi - CRB 14/1396 Todos 0s direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poders ser reproduzida, arquivada ou transmitida por qualquer meio ou forma sem prévia permissao por escrito da Editora da UFSC. Impresso no Brasil SUMARIO Lista de graficos e tabelas Por que ler Os herdeiros meio século depoi Adverténcia CAPITULO 1 A ESCOLHA DOS ELEITOS CAPITULO 2 JOGOS SERIOS E JOGOS DE SERIEDADE CAPITULO 3 APRENDIZES OU APRENDIZES DE FEITICEIRO?.... CONCLUSAO Apéndices Apéndice 1 e+ 105 Apéndice 2 Indice remissivo.... ... 167 CAPITULO 1 A ESCOLHA DOS ELEITOS Entre os Indios da América do Norte, 0 comportamento de visionario era altamente estilizado. O jovem que ainda nao tinha “tido uma visao” habitualmente era levado a escutar muitos relatos das visdes que tinham tido os outros homens, relatos que descreviam em detalhe o tipo de experiéncia que devia ser considerada como uma “verdadeira visao” € 0 tipo de circunstancia especial [...] que validava um encontro sobrenatural e, portanto, conferia ao visiondrio o poder de cacar, de conduzir um plano de guerra, e assim por diante. Entre os Omaha, entretanto, os contos nao davam detalhes sobre o que os visionarios tinham visto. Um exame mais aprofundado levava claramente a perceber que a visdo nao era uma experiéncia mistica democraticamente acessivel a qualquer um que a buscasse, mas um método cuidadosamente guardado para conservar no interior de algumas familias a heranca do pertencimento a sociedade dos feiticeiros. Em principio, a entrada na sociedade era validada por uma visio livremente buscada, mas o dogma segundo o qual uma visdo era uma experiéncia mistica nao especificada que todo jovem podia ter e encontrar era contrabalangado pelo segredo, cuidadosamente guardado, referente a tudo o que constituia uma verdadeira visdo. Os jovens que desejavam entrar na poderosa sociedade deviam isolar-se na solidao, jejuar, retornar e contar suas visdes aos mais velhos, isso para ver anunciado, se nao fossem membros das familias da elite, que sua visao nao era auténtica. Marcarert MEAD, Continuities in Cultural Evolution <—S — Osherdeiros x a constatar e lastimar a desigual representagao das diferentes classes sociais no ensino superior para estar quite, deuma ‘vez por todas, com as desigualdades diante da escola? Quando se ja ese rediz que ha apenas 6% de filhos de operarios no ensino superior, € para chegar a conclusao de estudantil é um meio burgués? Ou entao, substituindo o fato pelo protesto contra 0 fato, nao se faz esfor¢o, frequentemente com sucesso, para persuadir-se de que um grupo capaz de protestar contra seu proprio privilégio nao é um grupo privilegiado? Sem duvida, no nivel do ensino superior, a desigualdade inicial das diversas camadas sociais diante da escola aparece primeiramente no fato de serem desigualmente representadas. Aindaseria preciso observar queaparcela de estudantes origindrios das diversas classes reflete apenas incompletamente a desigualdade escolar, as categorias sociais mais representadas no ensino superior sendo ao mesmo tempo as menos representadas na populacio ativa. Um calculo aproximado das chances de acesso a universidade segundo a profissdo do pai indica que em cem elas sao inferiores a um para os filhos de assalariados agricolas, quase setenta para os filhos de industriais e mais de oitenta para os filhos de membros das profissées liberais. Essa estatistica mostra evidentemente que o sistema escolar opera, objetivamente, uma elimina¢ao ainda mais total quando se vai em direco as classes mais desfavorecidas. Mas raramente se percebem certas formas ocultas de desigualdade diante da escola como a relegacao dos filhos das classes baixas e médias a algumas disciplinas e o atraso ou a repeténcia nos estudos. Basti que o meio Lé-se nas chances de acesso ao ensino superior o resultado de uma selegao que, ao longo de todo o percurso escolar, exerce-se com um rigor muito desigual segundo a origem social dos sujeitos; na verdade, para as classes mais desfavorecidas, trata-se puramente e simplesmente de eliminagao.' Um filho de quadro? superior tem oitenta vezes mais chances de entrar na universidade do que um filho de operdrio; suas chances — TV, 7 . une Le graficos 1 a 4. Encontrar-se-do em apéndice diferentes estatisticas sobre a P eal eo estudantil e uma nota sobre 0 método empregado para calcular as chances de ensino superior e as probabilidades de fa de A fazer um ou tudo segundo a origem social e 0 sexo, So aca cee 0 or . i Binal, cadre, abrange o pessoal com fungées de comando ou de controle, que possui 0s niveis salariais mais elevad los numa empresa ou no i tibli ist indo- se segundo 0 nivel do diploma. (NT) “ervep pico fans ne também sao 0 dobro das de um filho de quadro médio. Essas estatisticas Permitem distinguir quatro niveis de utilizacao do ensino superior: as categorias mais desfavorecidas tém hoje apenas chances simbdlicas de enviar seus filhos para a faculdade (menos de cinco chances em cem); algumas categorias médias (empregados, artesdos, comerciantes), cuja Propor¢ao cresceu nos Ultimos anos, tém entre dez e quinze chances em cem; observa-se na sequéncia a duplicaco das chances dos quadros médios (quase trinta chances em cem) e uma outra duplicagao dos quadros superiores e das profissées liberais, cujas chances aproximam- se de sessenta em cem. Ainda que nao sejam estimadas conscientemente pelos interessados, variagdes muito fortes nas chances escolares objetivas exprimem-se de mil maneiras no campo das percepgdes cotidianas e determinam, segundo os meios sociais, uma imagem dos estudos superiores como futuro “impossivel’, “possivel” ou “normal”, tornando-se por sua vez um determinante das vocagées escolares. A experiéncia do futuro escolar nao pode ser a mesma para um filho de quadro superior que, tendo mais de uma chance em duas de ir para uma faculdade, vé necessariamente em torno de si, e mesmo na sua familia, os estudos superiores como um destino banal e cotidiano, e para o filho de operario que, tendo menos de duas chances em cem de la chegar, conhece os estudos e os estudantes apenas por meio de pessoas ou de meios interpostos. Se se sabe que as relagGes extrafamiliares estendem-se a medida que se sobe na hierarquia social, embora permanecam em cada caso socialmente homogéneas, vé-se que a esperanca subjetiva de acesso ao ensino superior tende a ser, para os mais desfavorecidos, ainda mais baixa que as chances <> Capitulo 1 | A escolha dos eleitos S objetivas. Nessa distribuigéo desigual das chances escolares segundo a origem social, rapazes e mogas estdo grosso modo em condigées iguais. Masaligeira .... desvantagem das mogas aparece mais claramente nas classes baixas: se, globalmente, as mogas tém pouco mais de oito chances em cem de acesso ao ensino superior enquanto os rapazes tém dez, a diferenga é maior na parte baixa da escala social e tende a diminuir ou anular-se nos quadros superiores e nos quadros médios. ‘A desvantagem escolar exprime-se também na restrigao_da escolha a ae Decruca» dos estudos que podem ser Tazoavelmente vislumbrados por uma dada be categoria. Assim, 0 fato de que as chances de acesso a universidade esto muito préximas para os rapazes e as mogas de mesma origem social no g, cur4> deve esconder que apés entrarem na faculdade todos tém grandes chances. ~~ de nao fazerem os mesmos estudos. Primeiramente, e independentemente da origem social, os estudos de letras sao sempre mais provaveis para as “<=> — Osherdeiros cs Tabela 1 As chances escolares segundo a origem social (1961-1962) 28 PROBABILIDADES 5 8 CONDICIONAIS CATEGORIA SOCIO- Bs PROFISSIONAL DOS Silo|2)/e2/2Z)é PAIS gs a | 2 a gis aye) 8) 22] 2 g 2/& Homem | 08 |] 15,5 | 44,0 | 369 | 36 | 0 Assalariados agricolas | Mulher | 0,6 7,8 | 26,6 | 65,6 0 0 Total_| 0,7 || 12,5 | 34,7 | 50,0 | 28 | 0 Homem | 4,0 || 18,8 | 44,6 | 27,2 | 7,4 | 2,0 Agricultores “ Mulher | 3,1 ff 12,9 | 27,5 | 518 | 29 | 49 Total_| 3,6 || 16,2 | 37,0 | 38,1 | 5,6 | 3,1 Homem | 2,7 || 18,6 | 48,0 | 25,3 | 7.4 | 07 Pessoal de servico Mulher | 1,9 |] 10,5 | 31,1 | 526 | 47 | 11 Total | 24 |{ 15,3 | 41,3 | 37,0 | 5,5 | 0,9 Homem | 1,6 || 14,4 | 525 | 27.5 | 5.0 | 06 Operarios Mulher | 1,2 |] 10,4 | 29,3 | 56,0 | 26 | 1,7 Total | 1,4 || 12,3 | 42,8 | 39,9 | 3.6 | 14 Homem | 10,9 |] 24,6 | 46,0 | 17,6 | 10,1 | 1,7 Empregados Mulher | 8,1 |] 16,0 | 30,4 | 44,0 | 61 | 3,5 Total | 9,5 |] 21,1 | 39,4 | 28,6 | 86 | 2,3 ees tae Homem | 17,3 |} 20,5 | 40,3 | 24,9 11,0 3,3 BOD ea annie Mulher | 15,4 |] 11,7 | 21,8 | 55,7 | 4,8 | 60 tria e do comércio' Total | 16,4 || 16,4 | 31,8 | 39,1 | 8,1 | 4,6 Homem | 29,1 |] 21,0 | 38,3 | 30,2 | 8,5 | 2,0 Quadros médios Mulher | 29,9 |] 9,1 | 22,2 | 61,9 | 34 | 34 Total_| 29,6 |] 15,2 | 30,5 | 45,6 | 60 | 27 | Homem | 588 |f 21,8 | 40,0 | 19,3 | 14,7 | 4.2 Profissionais liberaise | \ruther | 57,9 || 11,6 | 25,7 | 486 | 65 | 7,6 quadros superiores Total | 58,5 ll 16,9 | 33,3 | 33,2 | 10,8 | 5,8 ® Trata-se, nesses dois casos, de puras categorias estatisticas, compreendendo grupos sociais muito diversos: a categoria dos agricultores reagrupa todos os que exploram a terra independentemente do tamanho da exploracio e a categoria dos proprietarios da industria e do comércio compreende, além dos artesios e dos comerciantes, os indus- triais, 0s quais nao foi possivel isolar nesses célculos, mas sabe-se que contam entre 0 mais importantes utilizadores do ensino superior (Cf. Apéndice 1, tabela 1.9). Uma lei- tura prudente da tabela seria portanto deter-se preferencialmente nas categorias mais homogéneas. = mogas e os estudos de ciéncias mais provaveis para os rapazes: reconhece- se ai a influéncia dos modelos tradicionais da divisio do trabalho (e dos “dons”) entre os sexos. Geralmente, as mogas estéo mais condenadas as faculdades de letras e de ciéncias que preparam para uma profissio docente: as filhas de assalariados agricolas que ingressam no ensino superior tem 92,2% de chances de ir para uma dessas duas faculdades, enquanto os rapazes de mesma origem tém apenas 80,9%; os percentuais sao em seguida, Tespectivamente, de 85,3% e 80% para as filhas e filhos de operdrios, de 74,4% e 63,6% para as filhas e filhos de empregados, de 84,1% e 68,5% para as filhas e filhos de quadros médios e de 74,3% e 59,3% para as filhas e filhos de quadros superiores. REPRESENTAGAO GRAFICA DAS CHANCES ESCOLARES SEGUNDO A ORIGEM SOCIAL* Grafico 1 ‘DEstudantes - total em milhares Assalriados agrcolas [J 1.2 mPessoas ativas -total em milhdes Operarios Pessoal de senvign ‘Agrcutores Empregados Propretrios (industrials, artesdos, comerciantes) Quadros meédios Profissoesiberais (Quacros superioes ‘Sem profssdo Outras categoias (Propietirios industrials) * Agradecemos a M. Bertin pelas representages grificas (gréficos 1 a 4) que foram organizadas no laboratério de cartografia da Ecole pratique des hautes études. <> Capitulo 1 | A escolha dos eleitos o =’ Osherdeiros 8 Grafico 2 ‘Déstudantes - Mulheres - por 100 criancas nascidas 20 anos ‘antes (probablidade de acesso 20 ensino superior) 06 naire. omens por 100 raga nied 203no+ Assad apfooss Ha an de de aceso ao enaino superior) a [Besusartes por 3.000 pessoas ates omens 13 es WAS ts esa dsenee Bp ' sevonene fh? peers fh bs Empregados Propretrios(industiais,atesdos, comeriantes) Quadros médios Profissbes liberais Quadros superioces ‘Sem profisséo Outras categories (Propietros industias) woe PROBABILIDADE DE ACESSO A UM DETERMINADO CURSO SEGUNDO A ORIGEM SOCIAL E 0 SEXO Grdfico 3 Homens ‘Assalariados agrcolas Opersrios Pessoal de servigo ‘Agncaitores Empregados | Propretinos (indus, atesB0s, conerianes) Bciéncias Quests midos Dletras cesses Doireito Quadros superiores DMedicina Farmacia A classificaca i fei esteem mea dos cursos foi feita em funcao do ntimero de estudantes nes a um deles € a classificagao das categorias socioprofissionais ‘a de probabilidade de acesso ao ensino superior. Grafico 4 Mulheres ‘Assalariads diriolas 620 perérios Pessoal de servigo Agticutoces Empregados, Proprietarios (industiais,atesdos, ‘comerciantes) BCiencias o ‘Quadros mécios cou Ddireito Profissoes liberals 654 Medicina Quadros superiores iromécio A escolha tem ainda mais chances de ser limitada quando os estudantes pertencem a um meio mais desfavorecido. Pode-se observar no caso das filhas de quadros médios e das filhas de quadros superiores uma ilustragdo dessa légica que imp6e uma restri¢ao mais ou menos severa as escolhas segundo a origem social na entrada no ensino superior. Ena verdade no nivel dos quadros médios que as chances de acesso das mogas igualam-se as dos rapazes, mas ao pre¢o de uma relegacao as faculdades de letras (61,9% das chances) mais evidente do que nas demais categorias sociais (com excegao dos assalariados agricolas); ao contrario, quando origindrias da camada social superior, com chances de acesso sensivelmente iguais As dos rapazes, essas mogas veem atenuar-se 0 rigor dessa condenacio as faculdades de letras (48,6% das chances). <> Capitulo 1| A escolha dos el 8 | owse -_ ‘ Teme escolhas ofereci ore s escolhas impée-se mais as classes baixas, m tudantes que a0s estudantes, a desvantagem as classes privilegiadas © ara as mocas de origem mais baixa.? endo ainda mais acen' tagem devida a0 SexO exprime-se principalmente pela Enfim, sea a fs letras, a desvantagem decorrente da origem socia} relegagao as faculdas eee manifesta ao mesmo tempo na eliminacao pura e & aque mais pes» Po ndos das camadas desfavorecidas e na restricao dag simples dos jovens ae ‘les dentre eles que escapam a eliminacao. Assim, das 242 escolha forgada de letras ou de ciénciag igdo da ral, a restriga0 Em ror ia e mais a8 €° ma roe es devem pagar CO} cares fuser ores oes ensino superior, que tem para eles duas portas e nao cinco; cot 08 ee de medicina ou de farmacia representam 33,5% das S — Osherdeir ireito, . S caer re e filhas de quadros superiores, 23,9% para os filhos e chai filhas de quadros médios, 17,3% para os fihos e filhas de operarios e 15,3% para os filhos filhas de assalariados agricol las. ‘Mas as chances condicionais de inscrever-se nas faculdades de letras para os estudantes oriundos de uma determinada categoria traduzem apenas 5 de maneira disfarcada a relegagao dos sujeitos oriundos das classes mais » desfavorecidas. Na verdade, um segundo fendmeno pode ser acrescentado ° a0 primeiro: a faculdade de letras e, no interior desta, disciplinas como a sociologia, a psicologia ou as linguas também podem servir de reftigio para os estudantes das classes mais escolarizadas que, socialmente “obrigados” a uma escolaridade superior, orientam-se, na falta de uma voca¢ao positiva, em direcao a esses estudos que ao menos lhes fornecem a aparéncia de uma razao social. Uma parte relativa dos estudantes de letras, oriundos de uma determinada categoria social, esta portanto equivocada pois a faculdade de letras pode ser para uns uma escolha forcada e para outros um refiigio. Se for verdade que a desigual acessibilidade das diferentes disciplinas Oe be relegagao, pode-se esperar que a hierarquia das favorecidos. E por isso a * eas das mais distintas pelos mais pete ay ae ‘ola Normal Superior ena Escola Politécnica a $40 de alunos oriundos dos meios privilegiados atinge seu » respectivamente, 57% e 51% de filhos di di iores e de membros das profissdes liberai ine ey rapsile ais; 26% e 15% de filhos de quadros médios.* NY? ne esnnaces votes /N2 pe srvpaprec VULMERAUELS RA TARE MODAL Dow! be HDAC 4 UTtima manifestacto da desigualdadediante daescola,oatrasoea,epeténcia Os estudantes das classes mais desfavorecidas podem ser apreendidos em “ todos os niveis do curso: assim, a parcela de estudantes que tém a idade modal (isto & a idade mais frequente para esse nivel) decresce a medida que se vai em direcdo as classes mais dest origem baixa tendendo a aume favorecidas, a parcela relativa de estudantes de ntar nas faixas etdrias mais elevadas> Se for verdade que a escolha forgada das faculdades de ciéncias e de letras € uma manifestagio da desvantagem escolar que est ligada aos sujeitos das classes inferiores e médias (até mesmo quando conseguem viver seu destino como voca¢io), se for verdade que os estudos de ciéncias parecem menos ligados a origem social* e, enfim, se se aceita que € no ensino literdrio que a influéncia da origem social se manifesta mais claramente, Parece legitimo ver nas faculdades de letras o terreno por exceléncia para estudar a acio dos fatores culturais da desigualdade diante da escola, cuja estatistica, operando um corte sincrénico, revela somente 0 resultado: eliminacao, relegacao e atraso. O paradoxo que se quer na verdade é que os que est4o em maior desvantagem cultural nao exponham tanto a sua desvantagem justamente l onde sao relegados pela acao de suas desvantagens. lo 1 | A escolha dos el Os obstaculos econémicos nao sao suficientes para explicar o fato de que as taxas de “mortalidade escolar” diferem tanto segundo as classes sociais. Sobre isso nao se teria nenhum outro indicio e ignorar-se-iam as miltiplas vias, frequentemente contornadas, pelas quais a escola elimina continuamente as criancas originarias dos meios mais desfavorecidos, encontrar-se-ia uma prova da importancia dos obstaculos culturais que devem superar esses sujeitos no fato de constatarem-se ainda no nivel do ensino superior diferengas de atitudes e de aptiddes significativamente ligadas a origem social, ainda que os estudantes que elas separam tenham sido submetidos durante quinze a vinte anos 4 agdo homogeneizante da escola e que os mais desfavorecidos dentre eles devam somente a uma maior adaptabilidade ou a um meio familiar mais favoravel a possibilidade de escapar da eliminagao.’ 5 Cf. Apéndice 2, tabela 2.11. ® Cf. Apéndice 2, tabelas 2.51 a 2.53. 7 Cf. infra, paginas 42 e 44. Tabela 2 Estatistica di Usherdeiros la origem social dos alunos das grandes escolas PROFISSAO DOs Pais (profssio do chefe de familia ou, na falta, da ‘mie ou do tutor)* ESCOLAS ESCOLAS ESCOLA. NORMAL SUPERIOR ESCOLAS AGRICULTURA, (2961-1962) a | roungia soudng 9 say 2p [eUODeN, supe “Teuuoy PROIDIS (a1) 9239009 ie oUaie euo.eu e959 (@eaFeLAS 1561 eae 9 pai) ovdejndad ep wafew22s0g sopeprss2arun soe iCULTORES. | (6) and 2 ome > | rouadins yoo 8 | ruoweu oxmnsot & | euorseu e025 Proprietérios explo- radores | | Fazendeiros, meeiros, capatazes & |B & || Sep soamepmse 091 2p (€P0+ ssi operedizo> eed _[wsau00e as AGRICOLAS DA INDUSTRIA E DO COMERCIO 13] 31 9 9 9 18 9 37 1s | 19 pn} as i = PROPRIETARIOS Industriais 18 18 Artesios 9 ‘Comerciantes 10 10 10 | 15 * Bcole nationale supé * Institut national des sciences aj ™ Ecole des hautes études cor icure d ingénieurs (Escola Nacional Superior de Engenheitos), (N:T) ippliquées (Instituto Nacional de Cigncias Aplicadas). (N.T) ymmerciales (Escola dos Altos Estudos Comerciais). (NT) 5 —PROFISSOES LIBE- RAIS E QUADROS. ‘SUPERIORES s7|47 an| 33 2 30 19 19 st 18 34 | 29 2 Profiss6es liberals 1 15 Professores (stor privado) Professores (stor piblico) 1o| 4 ul s n 10 1s 7 ‘Quadros superiores (setor piblico) n| iu v7 10 Is QUADROS MEDIOS 1s| 19 17 19 26 B uf> Professoresprimérios (cetor privado) rofesores primirios 1B (Ger pico) ‘Quadros meds 3) (cetor pablico) Quadros médios (Getor privado) [5 - EMPREGADOS. ni [109 Erpregados eseritério, Empregados do comércio & >’ Osherdeiros 6 - OPERARIOS 2{2];5|]2]7]7 17_| 14 | 3 | 15 | 2 5 | > 5 | 2 [338] 6 Contramestre riitil2{[2]os5 [2fif3 fi 2 rina Operarios 2 RT| ae |S || 3 4|2 3 Mao de obra > > 1 1 > > > > > > 1 7 - PESSOAL DE SERVICO >fofoto fadaf2f2ft>.]2fa >Jofad> 1 8 - OUTRAS [os CATEGORIAS 3/4}1} 1) ]/ 3] 3 |s])1] 4 | 2 1}>)\)2)8 8 I9- SEMPROFISSAO | 1/6/5/1/2/5 |) 5 |3|4] 5 | 3 5|7|5|5\45\ 6 TOTAIS 100] 100]100| 100 | 100 | 100 | 100 | 100 | 100 | 100 | 100 100 | 100 | 100 | 100 | 100 | 100 * No caso de pais aposentados ou falecidos, foi indicada a tiltima profissao exercida, Fonte: La Documentation frangaise, n* 45, 1964. De todos os fatores de diferenciacao, a origem social é sem divida aquele cuja influéncia exerce-se mais fortemente sobre o meio estudantil, mais fortemente em todo caso que 0 sexo e a idade e sobretudo mais do que um ou outro fator claramente percebido, como a afiliacao religiosa por exemplo. Sea religiio declarada é motivo de uma das clivagens mais patentes, se a oposicao entre “talas”" e “nao talas” ou “antitalas” tem uma fungio classificatéria eminente, a afiliagao religiosa e mesmo a pratica assidua nao determinam diferencas significativas, ao menos no que concerne as atitudes em relacdo a escola e a cultura escolar. Sem divida a participagao em grupos ou movimentos confessionais (sobretudo catdlicos) € buscada pelos estudantes, e sobretudo pelas estudantes, durante os contatos organizados e regulares no interior de grupos secundérios relativamente integrados, “circulos’, “lares” ou “associacées’, que substituem o meio familiar; sem duvida os estudantes catdlicos realizaram em sua maioria seus estudos secundarios nos estabelecimentos privados (51% contra 7% dos nao catélicos); sem diivida os engajamentos ideolégicos ou filosdficos estao significativamente ligados a confissio e 4 taxa de pritica: 43% dos catélicos que se reconhecem numa escola de pensamento nomeiam 0 personalismo, somente 9% o marxismo e 48% invocam o existencialismo, enquanto 53% dos nao catélicos nomeiam o marxismo, somente 7% o personalismo e 40% 0 existencialismo; sem divida os estudantes catélicos parecem aplicar nos seus estudos e na representacao que fazem de sua futura carreira uma ética da boa vontade e do servico para outrem que apresenta uma expressio tre as mogas. Mas, nas condutas e atitudes particularmente lirica en © pertencimento religioso jamais determina propriamente escolares, diferengas estatisticamente significativas. ; ; Num meio que se renova anualmente e num sistema que atribui a precocidade um valor eminente, a idade e mais precisamente a antiguidade nao tém sua significagao habitual. Sem duvida ha condutas, atitudes e opinides que marcam a influencia genérica do envelhecimento: pode-se ‘© engajamento politico € sindical aumenta compreender nessa légica que t com a idade ou que a moradia independente tende a se tornar mais frequente assim como 0 trabalho fora dos estudos. Mas muitos fendmenos parecem ligados, ao contrario, ao que se pode chamar de idade escolar, isto é,arelagéo entre a idade real ea idade modal dos estudantes que frequentam 1 Giria para caracterizar alunos ou egressos da Escola Normal Superior. (N.T.) <> Capitulo 1 | A escolha dos eleitos XN i} —’ Osherdeiros 4cil isolar as condutas e as ati ee ests Se amples ervelhcciments quest as quais se exerce a Int independéncia, é muito mais difcy § maturidade linastfquencia do envelhecimento escolar, porque st apreender 0 sentdd & B. sho somente estudantes envelhecidos, mas uing ey antes representada em todas as faixas etarias (e em graus categoria de estudante® T° sociais) e predisposta por certas caracteristc diferentesem todas as rg nos estudos.” Enfim, a influéncia da idade escolares a0 Sa ees univoco nos diferentes dominios da existencia ¢ ess oe jeitos origindrios de meios sociais diferentes e inseridos em scuudos diferentes, a antiguidade podendo ser, como se viu, um aspecto do handicap social ou, a0 invés, 0 privilégio do “eterno estudante”. Definindo chances, condicoes de vida ow de trabalho totalmente diferentes, a origem social ¢, de todos os determinantes, © uNICo que estende sua influéncia a todos os dominios e a todos os niveis da experiéncia dos estudantes e primeiramente as condic¢des de existéncia. O habitat e 0 tipo de vida cotidiana que lhe estao associados, o montante de recursos e sua reparticao entre os diferentes postos orgamentarios, a intensidade e a modalidade do sentimento de dependéncia, variavel segundo a origem dos recursos, como a natureza da experiéncia e os valores associados A sua aquisicao, dependem diretamente e fortemente da origem social ao mesmo tempo que substituem sua eficdcia. Como falar, mesmo simplificando, de “condigao estudantil” para designar um meio onde a ajuda da familia mantém 14% dos estudantes filhos de camponeses, de operdrios, de empregados e de quadros Sas e mais de 57% dos filhos de quadros superiores ou profissionais a eaguanto poe dos primeiros sao forcados a exercer um trabalho rashes udos € somente 11% dos segundos? A natureza ou 0 a familia separa “8 6% esse sentido, o grau de dependéncia em relagao de disporen de wens ie mente os estudantes segundo sua origem: além cee s le 200a 900 francos mensais, os rendimentos nao Vestusrio, por exemple eras a importancia das facilidades anexas (0 3 origem do dinhe ete 8 nao Ser assumido pela familia esegund® s40 apenas Parcialmente a 0s estudantes que vivem com suas familias udantes, Eles nao precisam fazer esforgo 2 éndi Cf. Apéndice 2, tabelas 2,21 a 2.28, para multiplicar as oportunidades de participar da condi¢ao estudantil, é com uma imagem fascinante mais que com uma condigio real, com suas necessidades satisfeitas, que eles se identificam com essa escolha, sempre revogivel. Ora, oscilando (segundo a disciplina) entre 10% e 20% para os filhos de camponeses e de operarios, a taxa de estudantes que vivem com suas familias se eleva para 50% e as vezes 60%? no caso dos estudantes (e sobretudo das estudantes) oriundos das classes altas. Essas diferencas sio muito patentes para serem postas em duvida. Assim, geralmente é na atividade universitaria dos estudantes que se descobre © principio de defini¢do que permite salvaguardar a ideia de que a condi¢ao estudantil é una, unificada ou unificante. Ainda que sejam diferentes em outras relagées, os estudantes, quando considerados no seu papel de estudante, tm em comum o fato de estudar, quer dizer, na auséncia de toda assiduidade ou de todo exercicio, de submeter e de experimentar a subordinagao de seu futuro profissional a uma institui¢ao que, com o diploma, monopoliza um meio essencial do sucesso social. Mas os estudantes podem ter em comum determinadas praticas, sem que se possa concluir que eles tém uma experiéncia idéntica e sobretudo coletiva. Usuarios do ensino, os estudantes também sao seu produto e nao ha categoria social na qual as condutas e as aptiddes apresentadas levem com tanta intensidade a marca das aquisi¢Ges passadas. Ora, como muitas pesquisas estabeleceram, é ao longo da escolarizacao, e particularmente durante as grandes transi¢ées da carreira escolar, que mais se exerce a influéncia da origem social: a consciéncia de que os estudos (e sobretudo alguns) custam caro e de que ha profissGes nas quais nao se pode entrar sem algum patriménio, as desigualdades da informagao sobre os estudos e suas possibilidades, os modelos culturais que associam certas profissdes e escolhas escolares (o latim, por exemplo) a um meio social, enfim a predisposigao, socialmente condicionada, a adaptar-se aos modelos, as regras e aos valores que regem a escola, todo esse conjunto de fatores que faz com que se sinta “em seu lugar” ou “deslocado” na escola e que seja percebido como tal determina, apesar de todas as aptidées iguais, uma taxa de sucesso escolar desigual segundo as classes sociais, e particularmente nas disciplinas que supem toda uma aquisigao, quer se trate de instrumentos CE. Apéndice 2, tabelas 2.1 a 2.5. <> Capitulo 1 | A escolha dos eleitos y 8 <> Osherdeiros 8 8 intelectuais, de habitos culturais ou de rendimentos. Sabe-se, por exemplo, que o sucesso escolar depende estreitamente da aptidao (real ou aparente) gua com ideias proprias ao ensino € que 0 sucesso bretudo dos que fizeram os estudos classicos."* Vé-se tados, que os estudantes e para manejar a lin; nesse dominio é sol portanto como os sucessos ou fracassos apresent ° ante professores (inclinados a pensar na escala do ano escolar) tém tendéncia a imputar ao passado imediato, quando nao ao dom e a pessoa, dependem na realidade de orientagdes precoces que sao, por definigao, 0 efeito do meio familiar, Assim, a ago direta dos habitos culturais e das disposi¢oes herdadas do meio de origem € redobrada pelo efeito multiplicador das orientagées iniciais (também produzidas pelos determinismos primarios), as quais desencadeiam a aco de determinismos induzidos ainda mais eficazes quando se exprimem na l6gica propriamente escolar, sob a forma de sangdes que consagram as desigualdades sociais sob a aparéncia de ignora-las. Numa populagdo de estudantes, nao se apreende mais que 0 resultado final de um conjunto de influéncias decorrentes da origem social 1 Os estudos de B. Bernstein mostraram o lugar que tem, entre os obstaculos culturais, a estrutura da lingua falada nas familias operarias (Cf. “Social Structure, Language and Learning”, Educational Research, 3 juin 1961, p. 163-167). Um teste de vocabulirio visando aprender os fatores que condicionam, nos estudantes de filosofia e de sociologia, 0 sucesso nos diversos tipos de manejo da lingua, desde a aptidao para a definicao até a pesquisa dos sindnimos passando pela consciéncia explicita das polissemias, mostra que a formacao mais classica (latim e grego) constitui a varidvel de base mais fortemente ligada ao controle da linguagem; essa ligagao é ainda mais forte quando o exercicio pelo qual se mede o sucesso é mais escolar, atingindo seu maximo com 0 exercicio de definigao (Cf. Rapport pédagogique et communication, Cahiers du Centre de sociologie européenne. n, 2, Mouton, Paris, 1965; leére partie). Assim, a desvantagem ligada a origem social é substituida principalmente pelas orientagSes escolares, 0 sucesso no mais elevado nivel dos estudos permanecendo estreitamente ligado ao passado escolar mais longinquo. O exame detalhado dos resultados do teste mostra alias que 0 sucesso dos estudantes originarios das diversas classes sociais $6 pode ser compreendido se se leva em conta a origem segundo a qual se opera a conversio continua da heranga social em heranca escolar em situagées de classe diferentes. por isso, por exemplo, que os resultados dos filhos dos quadros superiores tendem a se repartir de Reon revelando dessa forma que essa categoria estatistica dissimula dois grupos ciados pelas suas orientagées culturais e, sem divida, por caracteristicas sociais Se aue oF sstudantes org indrios das classes populares se sobrepoem ey ere legoria dos latinistas, a raridade dessa formagdo escolar les uma sobresselecao relativa (Cf. Apéndice 2, tabela 2.44). PBHDE € Cuja agao exerce-se ha muito tempo. Para os estudantes origindrios d z , y . iginarios das 9, «v2 classes baixas que sobreviveram a eliminagio, as desvantagens iniciais sor evoluiram, o Passado | social transformando-se em Passivo escolar pelo Pa jogo de mecanismos de substituicao, ‘tais como as orientacoes Precoces frequentemente mal informadas, as escolhas forcadas ou as repeténcias. Por exemplo, num grupo de estudantes da faculdade de letras, a Proporsao de estudantes que fez latim no secundario varia de 41% para os filhos de operdrios e agricultores a 83% Para os filhos de quadros superiores e membros das profiss6es liberais, o que é suficiente Para mostrar a fortiori (tratando-se de literatos) a relacao que existe entre a origem social e os estudos classicos, com todas as vantagens escolares que estes proporcionam. Pode-se reconhecer um outro indicio da influéncia do meio familiar no fato de que a parcela de estudantes que diz ter seguido o conselho de sua familia para a escolha de uma secao na primeira ou na segunda parte do bacharelado'* cresce ao mesmo tempo que se eleva a origem social, ainda que o papel do professor decresca paralelamente. Observam-se diferencas andlogas nas atitudes em relacdo ao ensino.'* Seja porque eles aderem mais fortemente a ideologia do dom, seja Porque creem mais fortemente no seu prdprio dom (ou nos dois juntos), os estudantes de origem burguesa, reconhecendo tao unanimemente quanto 08 outros a existéncia de técnicas do trabalho intelectual, testemunham um maior desdém aquelas que sao comumente tidas como incompativeis com a imagem romantica da aventura intelectual, como a posse de um fichario ou de uma agenda. Nao ha modalidades sutis da vocacao ou da condu¢ao dos estudos que nao revelem o carter mais gratuito do engajamento intelectual nos estudantes das classes altas. Enquanto, mais seguros de sua vocac’o ou de suas aptiddes, estes exprimem seu ecletismo real ou pretendido e seu diletantismo mais ou menos frutuoso pela grande diversidade de c seus interesses culturais, os outros revelam uma maior dependéncia em relacao 4 universidade. Quando se pergunta aos estudantes de sociologia se prefeririam dedicar-se ao estudo de sua prépria sociedade, dos paises do terceiro mundo ou 4 etnologia, percebe-se que a escolha dos temas e dos terrenos “exéticos” torna-se mais frequente 4 medida que a origem social 'S Exames nacionais realizados no final dos estudos do liceu (ou do ensino médio) visando conferir o grau de bacharel. (N.T.) °° CE. pagina 33, tabela 3 e também Apéndice 2, tabelas 2.6 a 2.13. g 3 z g 8 8 - se os estudantes mais favorecidos Voltam-se eira, eleva-se. Da mesma man i as idei: ‘vendo, por exemplo, no: com mais naturalidade as ideias em moda ( Pp p 5 estudog das “mitologias” 0 objeto por aes da Seca nao é apenas porque a experiéncia protegida ane ay ee -5 pono Predispoe a aspiracdes que obedecem ao principio Co. Prazer mals que a0 principio da realidade e porque o exotismo intelectual € a boa vontade formal representam 0 meio simbélico, isto é, ostentat6rio e sem consequéncias, de liquidar uma experiéncia burguesa exprimindo-a? Para que esses mecanismos intelectuais possam se formar, nao é preciso que sejam dadas ~e durante muito tempo ~ as condi¢des econémicas e sociais da liberdade e da gratuidade das escolhas? Se o diletantismo na condugao dos estudos € particularmente 0 feitio dos estudantes de origem burguesa, é porque, mais seguros quanto A manutengio de um lugar, mesmo ficticio, ao menos numa disciplina de refiigio, eles podem, sem risco real, manifestar um desinteresse que sup6e precisamente uma maior seguranga: eles leem_menos as obras diretamente ligadas ao seu programa e as obras menos escolares; eles s4o sempre os mais numerosos a fazer estudos multiplos e a valorizar disciplinas distanciadas ou de faculdades diferentes; eles séo sempre os mais inclinados a se julgar com indulgéncia, e essa maior complacéncia, que a estatistica dos resultados escolares denuncia, assegura-lhes em muitas situagdes, o oral por exemplo, uma vantagem consideravel.” E preciso na verdade evitar ver na menor dependéncia dos estudantes burgueses em relagao as disciplinas escolares uma desvantagem que compensaria outros privilégios: 0 ecletismo sinalizado permite tirar proveito das possibilidades oferecidas pelo ensino. Nada impede que uma parte (em torno de um ter¢o) dos estudantes privilegiados transforme em Convidados a exprimir sua opiniao sobre seu Proprio valor escolar classificando-se numa escala, os estudantes de origem burguesa recusam mais que os estudantes originarios das classes baixas as categorias médias (75% contra 88%) e situam-se com mais naturalidade a cae dos “bons” e dos “muito bons” (18% contra 10%), enquanto os estudantes - 7 os eee em todos OS casos atitudes intermedidrias. Ora, nesse mesmo muchores ge weee is : asses baixas apresentam resultados escolares regularmente ee eee s es classes altas: 58% dentre eles tiveram ao menos uma mengio ne et a ve dos estudantes das classes altas ea diferenga ¢ ainda maior acetone Aue tiveram ao menos duas mengées, no qual os estudantes das 8S sao proporcionalmente duas vezes mais numerosos, 33,5% contra 18%. sona[a sop eyjossa y | Tommydeg SY wre %IT ap SEL %9S ap ovdenmea ep apruydury sesoqy sogssyoug saxouiadns soxpenty sorppux soxpend saqPIWOD, sovsauy ‘SousDyfeqns soxpent) sopefadurg soupiadg) Terpuis | seupysioarun | SOPIsToaUaS=P orsedionzed | oru sagssyoxd|-4s sasyed 104 eonsop fod ersuguajaug] 2 eojou ped assaraquy apy — | seundiosip uanssod oe | SeHzA we aquaisissy seqrurey epnie SosIno7y vunsing y 3 vi00sa y ovav73u Wa S30NLILW oavssvd WIONGISIXA 30 S303I0NO9 [BuepNysa eprA v a [eIDOs Wa8lI0 VW € PIPqRL Utros ivilégio escolar 0 que pode constituir uma desvantagem para os g privil arte de ibui doxalmente o maior prémio 3 ois, ver-se-As @ escola atribui parado» i } Prémio 4 ae distanciarem dos valores e das disciplinas escolares. Ss Os estudantes mais favorecidos nao devem somente ao sey meio “He origem habitos, treinamentos e atitudes aplicaveis diretamente 4g stias 7 _tarefas escolares; eles também herdam saberes e um saber-fazer, gostos ¢ um gr fe “bom gosto” cuja rentabilidade escolar, por ser indireta, é ainda mais certa, erdeiros: Acultura “livre”, condi¢gao implicita do sucesso universitario em algumas disciplinas, € repartida desigualmente entre os estudantes Originarios de meios diferentes, sem que a desigualdade dos rendimentos possa explicar as diferencas constatadas. O privilégio cultural é evidente quando se trata da familiaridade com as obras que somente a frequentacao regular do teatro, do museu ou do concerto (frequentacao que nao é organizada pela escola, ou somente de maneira esporadica) pode oferecer. Ele é ainda mais manifesto nos casos das obras, geralmente as mais modernas, que sao as menos “escolares’."* Em qualquer dominio cultural medido, teatro, musica, pintura, jazz oucinema, os estudantes tém conhecimentos ainda mais ricos e mais amplos quando sua origem social é mais elevada. Se a grande variacio da pratica de um instrumento musical, do conhecimento das pecas pelo espetaculo ou da misica classica pelo concerto nao tem nada que possa espantar, pois os habitos culturais de classe e os fatores econdmicos acumulam aqui seus efeitos, causa surpresa que os estudantes se distingam muito claramente, segundo sua origem social, no que concerne a frequenta¢ao dos museus ¢ mesmo ao conhecimento da histéria do jazz ou do cinema, frequentemente apresentados como “artes de massa”. Se se sabe que no caso da pintura, que nao é diretamente o objeto de um ensino, diferengas aparecem até mesmo no conhecimento dos autores mais clssicos e acentuam-se quando se trata das pinturas modernas, se também se sabe que a erudi¢gao em matéria de cinema ou de jazz (sempre muito mais rara do que nas artes consagradas) também € muito desigualmente repartida segundo a origem social, deve- sro uae om ren ar 1 8 fas quanto no dominio em que, na auséncia de um ens een wy, Cf. tabela 4 e também Apéndice 2, tabelas 2.14 a 2.20. sons] sop eyjorsa y | Tommdey YR opbeuea ep spmaydury OE e %ST2P see sassei, serpgu sasse, sexreq sasse) $20B9I09 ‘opbisodxa sow SOP | reaigos | TeRNN | ruspour | euiapout | eprendueaap | nssnu od epuanby | oryauns2quos era cr | emcee ese | ae gam 1o9Nt) | yyeayry —|PMI°P 2% un ap eanesg 9 AL J oqwaunaquos yunntg PRSNID, Sree SYNUZOON SVHBO SYO OLN3WIOZHNOD —-SVBO Sv NOD 0L3UIO OLVINOD ‘VOILYad 3 OVIIGNYS SOLNSWYPVONS sayuepnysa sop vonspse vpra v a eos waBLI0 YF [qe <>’ — Osherdeiros & ais obedecem aos determinismos "aig mais do que a légica dos gostos € dos entusiasmos individuais,» sociais mais pee dos diferentes meios nao se distinguern apenas pela __ a 5 interesses artisticos. Sem davida, os fatores sociais orientagao ch dem muitas vezes anular seus efeitos mais aparentes ae dia argue sério pode compensar @ vantagem que oferece aos Core dee liaridade com a cultura erudita. Mas os Itas a fami estudantes das classes al valores diferenciados que orientam comportamentos semelhantes podem se revelar indiretamente através de diferengas mais sutis. Isso se vé muito bem a propésito do teatro que, diferentemen te da aa a misica, participa ao mesmo tempo da cultura ensinada na escola e da cul ura livre elivremente adquirida, Os filhos de camponeses OU de quadros médios, de operarios ou de quadros superiores podem manifestar um conhecimento equivalente do teatro classico sem ter a mesma cultura, mesmo nesse dominio, porque nao tm 0 mesmo passado cultural. Os mesmos saberes nao experimentam necessariamente as mesmas atitudes e nao produzem os mesmos valores: enquanto atestam em alguns 0 poder exclusivo da regraeda aprendizagem escolar (pois foram em grande parte adquiridos pela leitura livre ou escolarmente obrigatéria mais do que pelo espetaculo), exprimem noutros, a0 menos tanto quanto a obediéncia aos imperativos escolares, a posse de uma cultura devida primeiramente ao seu meio familiar. Assim, enquanto por um teste ou por um exame se estabelece uma constatac4o dos gostos e dos conhecimentos num dado momento do tempo, dividem-se num ponto determinado tantas trajetérias diversas. Além disso, um bom conhecimento do teatro classico nao tem 0 mesmo significado para os filhos dos quadros superiores parisienses, que 0 associam a um bom conhecimento do teatro de vanguarda e mesmo do teatro de bulevar, e para os filhos de operarios de Lille ou de Clermont: Ferrand, que, conhecendo bem o teatro classico, ignoram tudo do teatro de vanguarda ou do teatro de bulevar. Vé-se com clareza que uma cultura Puramente escolar néo é somente uma cultura parcial ou uma parte organizado, 0s comportamentos cultur es ® Uma origem social elevada se beneficiam, No ca . No caso di i Jo de quad: a frequentacao do teatro ou dos concertos, a repartigao dos 105 su claramente se “isting ‘ pineal hed Parcela da populacao (um tergo aproximadamente) suas ulaca r Performances do : ‘1 do resto Populacio estudantil. Cf Apéndice 2, tabelas 2.14 ese categoria e também nao favorece automaticamente e igualmente todos os que Escon cunt Cubes ame da cultura, mas uma cultura inferior pois os mesmos elementos que a compoem nao tém o sentido que teriam num conjunto mais amplo. A esc x nao exalta na “cultura geral” todo o oposto do que ela denuncia como _ pratica escolar da cultura daqueles cuja origem social condena a terem somente aquela cultura devida a escola? Cada conhecimento deve portanto ser percebido ao mesmo tempo como um elemento de uma constelacao e como um momento do itinerdrio cultural na sua totalidade, cada ponto da curva fechando toda a curva. Enfim, é a maneira pessoal de realizar os atos culturais que lhes confere a qualidade propriamente cultural: assim a desenvoltura irénica, a elegancia preciosa ou a seguranca estatutdria que permite a naturalidade ou a atribuicao da naturalidade sio quase sempre proprias aos estudantes oriundos das classes altas, nas quais essas maneiras exercem 0 papel de sinal de pertencimento a elite. Aagao do privilégio é percebida, na maioria das vezes, somente sob suas formas mais brutais, recomendacdes ou relagdes, ajuda no trabalho escolar ou ensino suplementar, informagao sobre o ensino e suas possibilidades. De fato, o essencial da heranga cultural se transmite de maneira mais discreta e mais indireta e mesmo na auséncia de todo esforgo metédico e de toda agao manifesta. Nos meios mais “cultos” é talvez menos necessdrio pregar a devogao a cultura ou tomar, deliberadamente, nas mios a iniciacdo a pratica cultural. Em oposi¢ao ao meio pequeno-burgués, no qual os pais nao podem transmitir outra coisa, a maior parte do tempo, que a boa vontade cultural, as classes cultas arranjam iniciaces difusas muito mais bem preparadas para suscitar, por uma espécie de persuasao clandestina, a adesdo a cultura. E por isso que liceus da burguesia parisiense podem manifestar uma vasta cultura, adquirida sem intengao nem esfor¢o e como por osmose, no momento em que lutam para nao se submeter 4 menor pressao da parte de seus pais: Ce “Vocé vai aos museus?” - “Nao muito frequentemente. Nao se ia muito aos museus de pintura com 0 liceu, sobretudo aos museus de historia. ‘Meus pais me levavam sobretudo ao teatro. Nao se vai muito ao musew ~ “Quais sio seus pintores preferidos?” ~ “Van Gogh, Braque, Picasso, Monet, Gauguin, Cézanne. Eu nao os vi no original. Eu ce a Me por livros, é em casa que eu olho. Eu toco um pouco de piano. tudo. fu gosto sobretudo de ouvir musica mais do que de tocar. Tem-se muito 3 i ‘ Mozart, Schubert, Schumann” ~ “Seus pais aconselham leituras?” - “Eu leio <> Capitulo 1| A escolha dos eleitos 8 <>’ — Osherdeiros g & s. Eu pego os que me da vontade” (Filha de ‘tos livro! os muitos livr g eu de Sevres). mi oque quero, Te 42 classico, lic professor, 13 anos, que separam 0s estudantes no dominio da cultura Jégios ou a desvantagens socials, elasnem sempre ndo as referimos as expectativas professorais. na verdade, os estudantes mais desfavorecidos podem, ™ falta de outros encontrar nas condutas mais escolares, como a leitura das obras de teatro, um meio de compensar sua desvantagem. Da mesma Maneira, se a erudicao cinematografica é repartida conforme a logica do privilégio que oferece aos estudantes oriundos dos meios bem-sucedidos 0 gosto eo lazer de transferir aos dominios extraescolares os habitos cultivados, a frequentacao dos cineclubes, pratica ao mesmo tempo econdmica, compensadora e quase escolar, parece ser sobretudo o feitio dos estudantes das classes médias. Para_os individuos origindri camadas menos favorecidas, a escola permanece a tnica via de acesso a cultu ra, isso em todos os niveis do ensino; portanto, ela seria a via real da democratizagao da cultura se nao consagrasse, ignorando-as, as desigualdades iniciais em relacao a cultura e se nao chegasse com frequéncia - reprovando por exemplo um trabalho escolar por ser muito “escolar” - a desvalorizar a cultura que ela mesma transmite em favor da cultura herdada que nao leva a marca reles do esforgo e tem, por isso, todas as aparéncias da facilidade e da graca. Mas seas diferen¢as 4 livre sempre remetem a priv! tém o mesmo sentido qual recursos, Divergindo de todo um conjunto de predisposicées e de pré-saberes devidos ao seu meio, os estudantes sao apenas formalmente iguais na aquisicio da cultura erudita. Na verdade, eles est’io separados, nao por divergéncias que distinguiriam cada vez categorias estatisticas diferenciadas sob uma relagao diferente € por razoes diferentes, mas por sistemas de tracos culturais que cae aN ge nao reconhecam, com sua classe de origem. No contetido ae mae Profissional como no tipo de conduta universitaria enfim, em tudo o que ‘define i Fate mais livres da pratica artistica, Seta rears an que um grupo de estudantes a mantém com a sociedade global, cor noe Head ue a aa » COM O sucesso social e com a cultura.” a Todo ensino, e mais particularmente o ensino de cultura (mesmo cientifica), pressupde implicitamente um corpo de saberes, de saber- fazer e sobretudo de saber-dizer, que constitui o patriménio das classes cultas. Educacio ad usum delphini, 0 ensino secundario classico veicula significagdes de segundo grau, dando-se por adquirido todo um tesouro de experiéncias de primeiro grau, leituras suscitadas tanto quanto autorizadas pela biblioteca paterna, espetaculos de escolhas que nao se pode escolher, viagens em forma de peregrinacio cultural, conversagées alusivas que esclarecem apenas as pessoas ja esclarecidas. Disso nao resulta uma desigualdade fundamental diante desse jogo de privilégios no qual todos devem entrar pois apresenta-se a eles munido dos valores da universalidade? Se os filhos das classes desfavorecidas percebem com frequéncia a iniciacao escolar como aprendizagem do artifice e do discurso-de-uso-dos-professores, nao é precisamente porque para eles a reflexio erudita deve preceder a experiéncia direta? E preciso ensinar-lhe em detalhe o plano do Parthénon sem nunca ter saido de sua provincia e discorrer ao longo de seus estudos, com a mesma insinceridade obrigatoria, sobre os nao-sei-o-qué e os litotes da paixdo classica ou sobre as nuangas infinitas e infinitesimais do bom gosto. Repetir que 0 contetido do ensino tradicional distancia a de de tudo o que ele transmite € ocultar que 9 sentimento da irrealidade ¢ muito desigualmente experimentado pelos sstudantes dos diferentes meios. . —~“Crer que sio dadas a todos oportunidades iguais de acesso ao ys ensino mais elevado e a cultura mais alta quando se garantem os mesmos <€ er meios econdmicos aos que tém os “dons” indispensaveis € ficar no meio i+" ..~ do caminho na andlise dos obstaculos e ignorar que as aptidées medidas ne og pelo critério escolar tém, mais do que “dons” naturais (que permanecem 5”... hipotéticos tanto que se pode imputar a outras causas as desigualdades oor escolares), uma maior ou menor afinidade entre os habitos culturais de 7 tema de ensino ou os critérios que para ele definem o sucesso. Enquanto se dirigem para os ensinos ditos de cultura que contribuem com uma parte sempre muito importante para determinar as chances de fazer estudos “nobres” (a ENA” ou Politécnica tanto quanto <> Capitulo 1] A escolha dos eleitos uma classe e as exigéncias do sis| 5 Bs anal Tintin (sol Nacional de Amina). (7) Os herdeiros — 2 de letras), 0S alunos devem assimilar todo um conjunto le de técnicas que nunca sao completamente dissoci; e ave} nhecimentos stos aos de sua classe de or} “1S de val soci frequentemente opo: Igem, P, valores Ss erarios, de empregados ou de pegue oneses, de operarto® = Weng, os filhos ae , qui cultura escolar é aculturacao. 8 es, a ivem st . come os propiios snteressados raramente vivem sua aprendizagen, ancia e renegagao é porque os saberes que devem conquistar gig como ia orizados pela sociedade global e essa conquista simboliza g an) ‘tite Também é preciso distinguir entre a faclidade em assimilar a cultura transmitida pela escola (ainda maior quando a origem social ¢ mais elevada) € a propensao em adquiri-la, a gual atinge seu maximo de intensidade nas classes médias. Ainda que 0 desejo de ascensao pela escola seja tao forte nas classes inferiores quanto nas classes médias, permanece onirico e_abstrata tanto quanto as chances objetivas de satisfazé-lo sio infimas©Qs operdrio’ podem ignorar tudo da estatistica que estabelece que um filho de operario tem duas chances em cem de acesso ao ensino superior, mas seu comportamento parece regular-se objetivamente a partir de uma estimativa empirica dessas esperangas objetivas, comuns a todos 08 individuos de sua categoria. E a pequena burguesia, classe de transicio, que adere mais fortemente aos valores escolares, pois a escola promete preencher todas as expectativas confundindo os valores do sucesso social com os do prestigio cultural. Os membros das classes médias distinguem- se (e entendem distinguir-se) das classes inferiores atribuindo a cultura da elite, da qual frequentemente tém um conhecimento longinquo, um reconhecimento decisério que revela sua boa vontade cultural, sua inten¢ao ra cA pra ab 2 ps ee ls oriundos das classes a a a om, adquiri-la ae aa er imponesas e Operarias estéo em desran ae familiar, a incitaggo ao af i pega ae Soe em Fin Coes aan escolar que permite as camadas aa uma série continua de 5 pela aspiragao Soe ae aaa nee do uucessos (assim como os conselhos reiterados a agregacao professor primario) i " ara ‘i . licevs e assim por diante, Para que uma crianga fosse encaminhada para ° 2p Do original “agrégation” yaadee ue confer aos aprovados orn ete Hvar como professor de licew ov de facul 0 de professor agre; re é”) T. gado (“agrégé”). (N-T) Se é preciso lembrar semelhantes evidéncias, é porque 0 sucesso de alguns faz com frequéncia esquecer que eles devem unicamente a aptidées particulares e a certas particularidades de seu meio familiar o fato de superar suas de agens culturais. Ja que 0 acesso ao ensino superior é considerado por alguns como uma sequéncia interrompida de milagres e esforcos, a igualdade relativa entre sujeitos selecionados com um rigor muito desigual pode dissimular as desigualdades que o fundam. Osucessoescolaratingiria amplamente tanto osestudantes originarios das classes médias quanto os estudantes origindrios das classes cultas, uns e outros permaneceriam separados por diferengas sutis na maneira de abordar a cultura. Nao se ignora que o professor que opée o aluno “brilhante” ou “dotado” ao aluno “sério” nao julga, em muitos casos, nada além da relag4o com a cultura 4 qual um e outro estado socialmente prometidos pelo seu nascimento. Inclinado a engajar-se totalmente na aprendizagem escolar ea mobilizar em seu trabalho as virtudes profissionais que valoriza seu meio (por exemplo, o culto ao trabalho realizado rigorosamente e com dificuldade), o estudante das classes médias seré julgado pelos critérios da elite culta, de que muitos professores naturalmente lancam mao por conta propria, ainda e sobretudo quando seu pertencimento a “elite” data de sua ascensio ao “magistério”. A imagem aristocritica da cultura e do trabalho intelectual apresenta tantas analogias com a representacdo mais comum da cultura acabada que se impée até mesmo aos espiritos menos com as teorias da élite, impedindo-os de ir além suspeitos de complacéncia com as teor da reivindicagao da igualdade formal. ‘A reconversao da tabua de valores que, por uma mudanga de sinal, transforma a seriedade em espirito de seriedade e a valorizagao do trabalho em mesquinhez baixa e laboriosa, suspeita de compensar a auséncia de dons, opera-se quando 0 ethos pequeno-burgués é julgado do ponto de vista do ethos da “elite”, isto é, medido segundo o diletantismo do homem culto e bem-nascido que sabe sem se sacrificar para adquirir seu saber e que, seguro de seu presente e de seu futuro, pode consagrar-se a elegancia do desinteresse e correr os riscos da virtuosidade. Ora, a cultura da elite é tio proxima da cultura da escola que a_crianga originaria de um meio pequeno-burgués (e a fortiori camponés ou operério) s6 pode adquirir laboriosamente o que ¢ dado ao filho da classe culta, 0 estilo, 0 gosto, o espirito, enfim, esses saberes e esse saber-viver que sio naturais a uma t Ae 6d cae rd Capitulo 1 | A escolha dos eleitos > o* gs 2 o =~ e séo a cultura dessa classe.” Para uns, a aprendizagem da cass, Pe é uma conquista, pela qual se paga caro; para outros, uma cultura da he que compreende 20 mesmo tempo a facilidade e as tentagies q, eranga / facilidade. Seas vantagens ou as desvantagens socials pesem in fortemente Sobre as carreiras escolares @, geralmente, sobre Fe laa vida cultural, é Porque, de forma percebida ou despercebidamente, ® ae ree re as Por exemplo, a posi¢ao do pai na hierarquia socia! = mente igada a uma posigao semelhante dos outros membros da familia, ou, ainda, ela nao é independente das chances de fazer seus estudos secundarios numa grande ou numa pequena cidade pois sabe-se que ese significativamente ligadas a graus desiguais de conhecimento € de pratica artistica. Essa é apenas uma das manifestacdes mais longinquas da influéncia do fator geogrdfico que determina primeiramente desigualdades distintas nas chances de acesso ao ensino secundario e ao ensino superior: a taxa de escolarizacio varia de menos de 20% a mais de 60% segundo os departamentos para a faixa etaria de 11 a 17 anos e de menos de 2% a 10% para a faixa etaria de 19 a 24 anos, essas diferencas resultando ao mesmo tempo da parcela da populacio ativa empregada na agricultura e da dispersao do habitat. Na verdade, o fator geografico e o fator social de desigualdade cultural .-, hunca sao independentes porque, como se viu, as chances de residir numa vo es a so e " 4. spore = erp cidade grande, onde as possibilidades de acesso ao ensino e a cultura sao maiores, aumentam 4 medida que se ascende na hierarquia social: por isso se vé oporem-se, no dominio dos conhecimentos artisticos, os dois A grupos extremos que constituem, de um lado, os filhos e netos de quadros superiores que passaram sua infancia e sua adolescéncia em Parise, de outro os filhos e netos de populacées camponesas que passaram sua infancia € sua seer em cidades de menos de cinquenta mil habitantes. a a pee ou recusada, a influéncia dos fatores socials Tce-se no meio estudantil, mas sem se dever 4 U" determinis: ani mo mecanico. E preciso, por exemplo, evitar crer que ° patriménio cultural favorece automaticamente e igualmente todos os que o recebem. Na verdade, Perceberam-se ao menos duas maneiras de situar-se re relagio ao Privilégio € dois tipos de acées do privilégio. A ameaca da “ nie altars wee pease Bo de herdar, sobretudo quando 5 ies yi s ‘@ aquisi¢ao na qual a maneira de adquirir € constitutiva daquilo que é adquirido. Quando esta implicada no lazer superficial dos jogos de boa sociedade, essa heranca nao produz na mesma propor¢ao € nos diferentes niveis dos estudos 0 perfil escolar que assegura aos Sujeitos origindrios das classes baixas a inclinagao forgada a dirigir-se as posi¢Oes mais seguras. Ao contririo, utilizada racionalmente, a heranga cultural favorece 0 sucesso escolar, sem se sujeitar aos interesses, mais ou menos estreitos, definidos pela escola; 0 pertencimento a um meio culto e informado das verdadeiras hierarquias intelectuais ou cientificas permite relativizar as influéncias do ensino que pesam sobre outras com muita autoridade ou prestigio. Também seria facil mostrar que se os sujeitos das classes desfavorecidas tém maiores chances de se deixar esmagar pela forca do destino social, eles também podem, excepcionalmente, encontrar no excesso de sua desvantagem a provocacio para superé-la: a energia soreliana* e a ambicao rastignaciana®* exprimir-se-iam tao fortemente e geralmente nos filhos de operarios ou pequeno-burgueses que chegaram ao ensino superior se esses estudantes nao tivessem escapado a sorte comum? Seria preciso estudar com mais preciséo as causas ou as razées que determinam esses destinos excepcionais, mas tudo leva a pensar que elas seriam encontradas em singularidades do meio familiar. Considerando que, como se viu, as chances objetivas de acesso ao ensino superior so quarenta vezes maiores para um filho de quadro superior do que para um filho de operdrio, poder-se-ia esperar por meio da enquete encontrar a mesma relagao, aproximadamente, entre os niimeros médios de individuos que fazem os estudos superiores nas familias operdrias e nas familias de quadros superiores. Ora, constata-se, num grupo de estudantes de medicina, que a média dos membros da familia estendida que fizeram ou fazem estudos superiores varia somente do simples ao quddruplo entre os inspi iro francés, tedrico do sindicalismo. % A expressio énergie sorélienne é inspirada no engenhei ionéri -1922). (N-T) revolucionrio, Georges Eugéne Sorel (1847 ; 5 A expresso ambition rastignacienne é inspirada no personagem Eugene de Rastignac da obra do escritor francés Honoré de Balzac (1799-1850). (N.T.) <> Capitulo 1] A escolha dos eleitos s & “vamno v ovSexa8 euin ap ajuautenBar naosou9 ogdeztejoosa ap exe) & siod sz01z0f » RAeoyIUSIs 9 sopmysa sassa wiazey no urerazy anb vOFa}e9 eYsa e sayuadua}ied sajuLpNysa sop epipualsa er[swWey ep sorquIaut ap [ear OFoUNU 0 2 [eIp0s epeure euin v soudord sazoriadns sopmyse 19z8j ap saouey> sv axyua epeye}suoD euarayp y “Teal ostaurd ap sourad so sted sop seuss! 9 sopusat so ‘seuist 9 sopuist so ‘sted so ‘soae so eipusosdwiod epipuaysa erpuiey y “2jUsUIe}219U0D se|-gqoozad apod on1a{ns © anb eutaueut ep ‘9 oyst ‘Teyuey odn8 op vpesso eu saxejoosa soouey> sep JOpe>Ipul asso ‘eaeSuny woNspeIsy ap feNueD O1yO op ‘diay °g eroyUas ep soweysaidury o¢ ap oayalgo osnjnf ov ovSejar wa 9 03ST ‘saya & ORSear Wa WareUTUNIA}ap as B soyfa{ns so urare5103 ered sopiqaoiad ajuatayua{osuod Jas ap apepIssasau Ug} OLU soUIsTUTUTIajJap sassq ‘aodum sayy ea anb soyuaueUO!>Ipuo? sop 2 ovstpuos ens ap vyajdur09 ovSruyap ep azied zey wiauyap e anb steisos SOUISTUTULID}ap SO WOD 2 ORSIPUOD ens WO Wa]UeUT soyla{ns so anb ovSseyar Vv “Wanpxe as anb so sOpmMpoxe Wassoj d}UIUIOS 3s OUIOD essed as opny stod ‘ampoxa ap apepissacau 19} Was RAISN|DXe PI[aURUT ap as-IeIJ29Ua apod as ajeu anb apurs3 ov} 9 femny[nd apepareypasay ep osad Q ‘orsgqtatad op oyey oridosd 0 oguas eIjno 9 Ogu UMNUTOD zIeI BND saIOTPA B ORSAPE & WIIZIOALY saa ‘soyey sou sopediy ‘onbiod 9 ‘emyno e a ejoosa & odejar We apnyne BUIsaUr & sopeldosse aidutas asenb ovjsa eyNd assep> ¥ OJUAUTTDUDJJAd O NO asuarstied elougpIsal v ojuenb ayuazayip ov) ezarnyeu ap sorsaqiatid ag “9S [ap ayuaurfenie essed opu oxs1odoid essa ‘solppunsas sopnysa wazey anb sorrpredo ap soyly ap ovdiodoid & aquaurzepndaz oprjuatune 1} sode ‘oduraxa sod :znpar as jeursreur eposaye> v1S9 opuenb sezifiqeysa as B epuay OUTSUD OU SeXTEQ sasse[p sep opSequasaidar v anb seproosoavjsap Sieur sepeutes sep eploas0aejsap soudut ovseyy ep LUNEIO OJ} ap OBS seXTEq Sasse[> SEP solmeutsii0 sayuepnysa so anbiod _staatssoduit,, sopnys? amasiad eed opeusisar oyuausayuoraI O “ea08aye> ens ap stead sjeur suaSejueasap sep eum ap soylains sassa pasasaad anb (sazejoosa saouey sens ap PAHINIUT vonstyeysa pa epepuny) uraSeyueasap ens ap eANE[Ar vpuesousy e 9 anb sodns as-apod ‘sagseoyliaa ap eAsasar gog ‘apepisiearun B Ossade ap JOFeUT eanja(qns eSuesadsa eu wrarodoad sod seuade anb epure qeurS120 jeanyno opSsenyts eum ae serpurey sesso anb vxysour saroliadns sopmyse Zej NO 22j and amuared we ap rerpumey oN2I}9 OU pSuasaid y “el1o8aqe9 ens ap om oi eee no Sop ‘ovdSejal essau SOUatH OF

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