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DOMENICO LOSURDO Stalin Historia critica de uma lenda negra Com um ensaio de Luciano Canfora __ Tradugio: Jaime A. Clasen Rg Editora Revan Copyright © 2010 by Domenico Losurdo igo oii: Sone xe una legged vera ~ Caro Etre SpA. 208 ads oii reseaes no Br pel tor: Roven Lid Ness par esta pub cone ee olan apr tiosmecies,eletnicos 0 ia cpa xo, ee ‘sem a autorizagao prévia da Pditora. Tradugio Jaime A, Clase Revisto da traduplo Giovanni Semeraro Revisao Roberto Teixeira Capa ‘Conforme desenho da etigio original de Carooci editor. Ingres athe nanan 3) Bi papel off 75 aps pt clic cm ipo Ties New Roman, eee Divistio Grifica da Editoca Revan. CIP-BRASIL- Catalogagii na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros - RJ L998 Lovato, Dntenio, 1981+ a era de uma fend negra / Domenico Lou; cm a ca de nian Carl; tao de eine A Chis. Rio de aero = Revan, 2010. 2° ediglo, margo de 2011. ep “rad de: Sain stra xc an eggend era Inc itr tie ISBN 97888-7106-4119 1, tin Joseph, 1879-195. 2, Chefs de Esa - Cher de Esa» Gate Soci. Bion 3- Uno Sovdea ria 1925-1953. 1 ‘io sath cpm. 47 084 7 CDU: 94(47457) posi astia0 mason ; : : ' Sumario Prefiicio: A virada na histria da imagem de Stain 9 Da Guerra Fria ao Relatério Kruschiov 9 Para uma comparatistica em todo campo 15 1. Como precipitar um deus no inferno: 0 Relatério Kruschiov 19 2.08 Um “enorme, sombrio, aprichoso, degenerado mostro humano” 19 A grande guerra patritien e as “Invengies” de Kruschiov 72 Uina sérte de campanhas de desinformagéo e Operagito Barbarossa 24 O répido detineamento do fracasso da guerra-relimpago 28 A falta de “bom-senso” e “as deportagbesem massa de populagBes intiras” 35, 0 eulto da personalidade na Riissia de Kerenski a Stalin 4 bolcheviques: do conflito ideolégico A guerra civil 47 A Revolugo Russa e a dialtica de Saturn 47 (0 Ministerio do Exterior “fecha as portas” 49 (0 fim da “economia do dinheiro” ¢ da “moral mnercantil” 55 “Ni fazer mais distingdo entre teu e meu": 0 desapareeimento da familia 63, ‘A condenagio da “politica dos chefes” ou a “transformagio do poder em amor” 65 (© assassinato de Kirov: compld do poder ou terrorismo? 70 ‘Terrarismno, golpe de Estado ¢ guerra civil 75 Conspiracdo, infiltragao no aparclho estatal e “linguagem es6pica” 78 Infiluagiio, desinformacio e apelos 8 insurreigio 83 Guesra civil e manobras internacionais 86 Enwre “derrubada bonapartista”, “golpe de Estado” e desinformagiio: 0 caso Tukhatchevski 91 Tres guerras civis 95 3, Entre século XX ¢ longa duragio, entre histéria do marxismo e histo. ria da Risssia: as origens do “stalinismo” 99 4.0 andamento complexo ¢ contradi 5, Recaleamento da histér como monstros gémeos 181 Uma catistrofe anuncisda 99 (O Estado russo salvo pelos que apoiavam a “extingao do Estado” 104 ‘Stalin e a conclustio do segundo perfoxio das desordens 107 ( Uiopia exaltads ¢ prolongamento do estado de excegaa 109 Do universalismo abstrato’ acusagio de taigio 114 e ‘A dialética da revolugio ea genese do universalism abstrato 117 Universalidade abstrata e terror na Rassia sovigticn 121 (© que significa governar: um atormentado proceso de aprendizagem — 125 io daerade Stalin 131 Do relangamento da “democracia sovisica” & “noite de Sao Bartolomeu 131 Do “democratismo socialists” ao Grande Terror 139° Do “socialismo sem ditadura do proleariado” wo atarraxamento da Guerra Fria 141 Burocratismo ou “fé fervarosa"? 144 ‘Um universo concentracionériorico em contradigbes 151 Sibéria czarista, “Sibérin” da Inglaterra Liberal e Gulag soviétieo 159¢ (0 universo concentracionério na Rissia sovitica eno Ill Reich 161 Gulag, Konzenitrationslager e terceiro ansente 166 * © despertar nacional na Europa oriental ¢ nas coldnias: duas respostas ‘contrérias 170 ‘Totalitarismo ou ditadura desenvolvimentista? 174 e construgfo da mitologia. Stalin e Hitler Guerra Fria e reduetio ad Hitlerum do novo inimigo 181 O culko negativo dos hertis 184 (0 teorema da afinidade eletiva entre Stalin ¢ Hitler 187 ‘O holocausto ueraniano como equivalente do holocausto judaico 198 ‘A carestia terrorista na hist6ria do Ocidente liberal 205 ‘Simetrias perfeitas ¢ autoabsolvigGes: antissemitismo de Stalin? 209 Antissemitismo e racismo colonial: a polémiea Churchill-Stalin 214 ‘Trotski ca acusagio de antissemitismo a Stalin 217 Stalin e a condenagio do antissemitismo czarista enazista 220 Stalin ¢ 0 apoio & fundagio e & consolidagio de Israel 225 ‘A vitada da Guerra Fria a chantager 20 casal Rosenberg 230, Stalin, Israel ¢ a comunidade judsica da Europa oriental 233, A questio do “cosmopolitismo” 237 Stalin na‘orte” dos judeus, os judeus na “corte” de Stalin 242 De Trot i a Stalin, do monstro ‘semita’ ao monstro ‘antissemita’ 245 6. Psicopatologia, moral e histéria na leitura da era de Stalin 247 Geopolitica, terror e ‘paranoia’ de Stalin 247 ‘A ‘paranoia’ do Ocidente liberal 253, Imoralismno ou indignagio moral 256 Arreductio ad Hitlerum eas suas variantes 263 Conflitos trigicos e dilemas morais 269 A Katyn soviética e a ‘Katyn’ estadunidense ¢ sulcoreana 274 Inevitabilidade e complexidade do jufzo moral 277 Stalin, Pedro o Grande e 0 “novo Lincoln” 278 7. A imagem de Stalin entre histéria e mitologia 285 As diversas fontes histéricas da atual imagem de Stalin 285 As vicissitudes altemadas da imagem de Stalin 287 Motivos contraditérios na demonizagio de Stalin 293 Luta polftica e mitologia entre Revolugio Francesa e Revolugio de Outubro 296 8, Demonizagio e hagiografia na leitura do mundo contemporineo 301 Do esquecimento do segundo perfodo de desordens na Réissia ao esquecimen- to do Sécnlo das humilhagées na China 301 0 recalcamento da guerra ¢ a produgio em série dos monstros gemeos de Hitler 307 Socialismo e nazismo, asianos ¢ angloceltas 311 ‘A Naremberg anticomunista e a negagio do principio do tu quoque 315 ‘Demionizagio c hagiografia: o exemplo do “nnaior historiador mederno vivo” 321 Revolugies abolicionistas edemonizagio dos “brancéfagos” edos bésbaros 324 ‘A histéria universal como “groteses vicissitude de monstros” € como “tera login”? 327 De Stalin a Gorbatchov: como acaba um império—de Luciano Canfora 335 Bibliografia 351 indice de nomes 373 ‘ See Prefacio A virada na histéria da imagem de Stalin Da Guerra Fria ao Relat6rio Kruschiov Manifestagéies imponentes de pesar acompanharam o desaparecimento de Stalin, Enguanto ele agonizava, “mithdes de pessoas apinbaram-se no centro de Moscou para prestar a tltima homenagem" ao lider que morria, Em 5 de tmargo de 1953, “milhes de cidadios choraram a sua perda como se Fosse ‘um luto pessoal”.' A mesma reago verificou-se nos recantos mais remotos do imenso pats, por exemplo, numa “pequena aldeia” que, assim que fora informada do acontecido, caiu num Luto espontineo € uninime.? A “conster- hagio geral” difundiu-se muito além das fronteiras da URSS: “Nas ruas de Budapeste e de Praga, muitos choravam”.” ‘A milhares de quilémetros do campo socialista, também em Israel a re- ago de pesar foi getal: “Todos as membros do MAPAM, sem excluir nin- ‘gusm, choraram”, ¢ trataya-se do partido ao qual tinkam aderido “todos os primeiros Ifderes” “quase todos os combatentes”. A dor juntou-se 0 medo. 0 sol se pds” ~ foi a manchete do jornal do movimento dos kibbutz, al Ha- mishmar. Tais sentimentos foram por algum tempo compartilhados por re- presentantes de primeiro escalao do aparelho estatal ¢ militar: “Noventa ofi- ciais daqueles que tinham participado da guerra de 1948, a grande Guerra de Independéncia dos judeus, uniram-se numa organizagdo clandestina armada filo-sovigriea [sentio filo-stalinista] e revolucionéria, Destes, onze se torna~ ram depois generais e um tornou-se ministro, ¢ agora sio honrados como pais da patria de Isracl”.* No Ocidonte, niio foram apenas os dirigentes ¢ os militantes dos parti- dos commnistas ligados & Unio Soviética que prestaram homenagem 20 lider desaparecido. Um historiador (Isaac Deutscher), que era um fervoroso admirador de Trotski, escreveu um necrolégio rico de agradecimentos: 1, Medvedev (1977), p. 705; Zubkova (2003), legendas anexadas &s fotos 19-20. 3 Thurston (1996), pp. xiii-xiv. Pej (1971), p. 31 Nirenstein (1997) No decorrer de trés décedas, 0 aspecto da Unio Soviética transformou-se completamente, O mieleo da acio histérica do stalinismo ¢ este: ele encon- trou a Riissia que arava a terra com arados de madeira e 2 deixou dona da bomba atémica, Blevou 2 Russia ao gran de segunda poténcia industrial do mundo e nio se tratou apenas de uma questio de puro ¢ simples progresso material e de organizagio. Nio se poderia obter um resultado semelhante sem uma vasta revolugéo cultural, no decorrer da qual se mandou para a ¢s- cola um pais inteiro para que recebesse uma insirucdo extensiva, Em conclustio, embora condicionado ¢ em parte desfigurudo pela heranga asiética e despotica da Rdssia czarista, na URSS de Stalin “o ideal socialista tinha uma integridade inata, compacta”. Neste balango histérico hijo havia mais lugar para as acusagées ferozes em seu tempo dirigidas por rotski ao lider desaparecido. Que sentido tinha condenar Stalin como traidor do ideal da revolugo mundial e teérico capitu- lacionista do socialismo num sé pais, num momento em que a nova ordem, social se expandia na Europa ¢ na Asia ¢ a revolugao quebrava “a sua casca nacional" Zombado por Trotski como “pequeno provinciano transferido por brincadeira da histéria para o plano dos grandes acontecimentos mundi- ais”,° em 1950 Stalin se tamara, aos olhos de um fildsofo ilustre (Alexandre Kojéve), encarnacda do espfrito hegeliano do mundo ¢ fora por isso chama- do a unificar e a dirigir a humanidade recorrendo, quando necessdrio, a mé- todas enérgicos e combinando sabedoria e tirania na sua agio.” Fora dos ambientes comunistas, ou da esquerda filo-comunista, apesar de grassar a Guerra Fria ¢ arrastar-se a guerra quente na Coreia, no Ocidente a morte de Stalin estimulou necrolgios em geral “respeitosos” ou “equili- brados”, Naquele tempo “ele era ainda considerado um ditador relativamente benigno e até um estadista, e na consciéncia popular persistia a lembranga afetuosa do “tio Joe”, o grande lider de guerra que tinba guiado 0 seu povo & vitdria sobre Hitler e tinha ajudado a salvar a Europa da barbiérie nazista”.* ‘Ainda nio tinham sumido as ideias, as impressties e as emogies dos anos da Grande Alianga contra o TT Reich e os seus aliados, quando ~ lembrou Deutscher em 1948 — “estadistas e generais estrangeiros foram conquistados $ Deusscher (19724), pp. 167-168. £ Trotski (1962), p. 447. 7 Kojeve (1954). * Roberts (2006), p. 3. pela excepeional competéncia com que Stain se ocupava com todos os por- menores téenicos da sua miquina de guerra”? Entre as personalidades favoravelmente afetadas estava também aquele 1, no sett tempo, promovera a interyengio militar contra o pafs nascido da Revolugio de Outubro, isto é Winston Churchill, que a propdsito de Stalin se exprimia respeitosamente assim: “Gosto desse homem’” (J like that man). Por ocasitio da Conferéncia de Teer, em novembro de 1943, 0 esta~ dista inglés saudara 0 colega soviético como “Stalin, o Grande”. Ele era 0 digno herdeiro de Pedro, o Grande, salyara o seu pats colocando-o em com- dig6es de derrotar os invasores."' Averell Harriman, embaixador estaduni- dense em Moscou entre 1943 1946, era faseinado por certos aspectos. Ele sempre tragou do lider soviético um retrato bastante lisonjeiro no plano mili tar: “Considerava-o mais bem informado do que Roosevelt e mais realista do que Churchill, de algum modo o mais eficiente lider de guerra”. Em termos: até enfaticos se expressara, em 1944, Aleide de Gasperi, que tinha celebrado o mérito imenso, histérico, secular, dos exércitos organizados pelo génio de José Stalin”. O reconhecimento do eminente politico italiano nao se Timitou ‘a0 plano meramente militar: ‘Quando vejo que, enquanto Hitler e Mussolini perseguiram os horaens por causa da sua raga, eiaventaram aquela espantosalegistagio antjuaiea que ‘conheceros, ¢ vejo atualmente os russos eompostos por 160 ragas procura- rem a fusto dessas ragas superando as diversidades existent entre Asia © 4 Europa, essa tentativa, esse esforgo para a nificagdo do conséreio hums no, deixai-me dizer: este ¢ eristi, este 6 eminentemente universalisia no sentido do catolicismo,”® Nao menos forte nem menos generalizado era o prestigio do qual Stalin tinha gozado e continuava a gozar entre os intelectuais. Harold J. Laski, que era um expoente de prestigio do partido trabalhista inglés, conversando no outano de 1945 com Norberto Bobbio, tinha se declarado “admirador da Unio Sovietica” € do seu lider, por ele definido como “muito sabio” (erés sage). Nesse mesmo ano, Hannah Arendt tinha escrito que o pals dirigido por Stalin se distinguira ® Deutscher (1969), p. 522. Roherts (2006), p. 273 “Em Fontaine (2005), p. 66; refere-se a um livro de Averell Harriman ¢ Elie Abel. * Em Thomas (1988), p. 78. ® De Gasperi (1956), pp. 15-16. Bobbio (1997), p. 89. pelo “modo, completamente novo e cabal, de enfrentar ¢ resolver os conflitos de nacionalidade, de organizar populagées diferentes na base da ignaldade nacio- nal”; tratava-se de uma espécie de modelo, era algo “a que todo movimento politico e nacional deveria prestar atengao”." Por sua vez, eserevendo pouco antes € pouco depois do fim da Il Guerra Mundial, Benedetto Croce reconhecera a Stalin o mérito de ter promovido a liberdade niio s6 em nivel internacional, gragas 2 contribuigio dada A luta contra 0 nazifascismo, mas também no seu préprio pafs. Sim, quem dirigia a URSS era “um homem dotado de génio politico”, que desempenhava uma fungtio hist6rica positiva em seu conjunto; com respeito A Réssia pré reyolucionéria “‘o sovietismo foi um progresso de liberdade”, assim como, “em relagao ao regime feudal”, também a monarquia absoluta foi “um pro- ‘gresso da liberdade e gerou os ulteriores maiores progressos dela”, As di. vidas do filésofo liberal se concentravam no futuro da Unidio Soviética, mas clas, por contraste, faziam ressaltar ainda mais a grandeza de Stalin: este tinha tomado o lugar de Lénin, de modo que um génio fora seguido por ou- ‘tro; mas que sucessores “a Providéncia” reservava para a URSS?"® ‘Aqueles que, com o delinear-se da crise da Grande Alianga, tinham co- megado a comparar Unio Soviética de Stalin ¢ Alemanha de Hitler, foram duramente rebatidos por Thomas Mann, O que caracterizara o III Reich fora a “megalomania racial” da pretensa “raga dos senhores”, que pusera em ago uma “politica diabélica de despovoamento”, e antes ainda de extirpagio da cultura, nos territérios sempre de novo conquistados. Hitler se ativera 2 mé- xima de Nietzsche: “Se se, quiser escravos, ¢ tolice educé-los como senho- res”. Diretamente oposta era a orientago do “socialismo russo”, que, difun- dindo macigamente instrugo e cultura, demonstrara nfo queter “eseravos”, mas “homens pensantes” ¢, portanto, a serem postos no “caminho da liber- dade”; Entio se tornava inaceitéyel a comparagio entre os dois regimes. Melhor dizendo, aqueles que argumentavam assim podiam ser suspeitos de ‘cumplicidade com o fascismo, o qual declaravam querer conden: Colocar no mesino plano moral o comunismo russo € 0 nazifescismo, como sendo ambos totalitiris, no melhor dos casos ¢ superficialidade, no piot dos casos é fascismo, Quem insiste nesta equiparaczo poxle ber considerar= se democritico, mas na verdade e no fundo do coracio jé é, na realidade, 'S Arencl (1986b), p. 99. ** Croce (1993), vol. 2, pp. 33-34 ¢ 178. coscnmeereoenacnte cisco iascista, © cestamente apenas de modo aparente € no sincero combaterd 0 fascismo, enquanto reservaré todo 0 seu édio ao comunismo.”” E verdade, depois estourou a Guerra Fria ¢, 40 publicar o seu livro sobre 0 totalitarismo, Arendt tinha realizado em 1951 exatamente a operagio denun- ciada por Mann, No entanto, quase no mesmo tempo, Kojéve tinha indicado em Stalin 0 protagonista de uma virada histérica decididamente progressiva ¢ de dimensoes planetirias. Ou seja, no préprio Ocidente a nova verdade ou ‘9 novo motive ideolgico da luta equanime contra as diversas manifestagties do totalitarismo custava a afirmar-se. Em 1948, Laski tinha de algum modo acentuado o ponto de vista expresso por ele tr anos antes. Para definir a URSS, tinha retomado uma categoria utilizada por outra expoente de primei- ra grandeza do trabalhismo inglés, Beatriz Webb, que tinha falado j4 em 1931, ¢ tinha continuado a falar ainda durante a If Guerra Mundial e pouco antes da sta morte, de “nova eivilizagio”. Sim — acentuara Laski ~ com 0 formidavel impulso conferido & promogio social de classes por tanto tempo exploradas ¢ oprimidas, e com a introdugio na fabrica e nos postos de traba- Iho de novas relagées niio mais fundadas no poder soberano dos proprietérios dos mneios de produgio, o pats guiado por Stalin surgira como o “pioneiro de uma nova eivilizagio”. Certamente, tanto uma como 0 outro se tinhar a- pressado a especificar: sobre a “nova civilizago” que estava surgindo pesa- va ainda a “Réssia bérbara”, Ela se exprimia em formas despéticas, mas — sublinhaya particularmente Laski — para formular um juizo correto sobre a Unido Sovietica era preciso no perder de vista um fato essencial: “Os seus Aideres chegaram ao poder num pais habituado apenas @ uma tirania sangui- néria” e eram obrigados a governar numa situagao caracterizada por um “es- tado de sitio” mais ow menos permanente ¢ por uma “guerra potencial ou em. curso”. Alids, em situagdes de crise aguda, também a Inglaterra ¢ os Estados Unidos tinham limitado de modo mais ou menos dréstico as liberdades tradi- cionais."* ‘Ao relatar a admiragio expressa por Laski em relagtio a Stalin e ao pais dirigido por ele, Bobbio escreveu muito mais tarde: “Depois da vitéria con- tra Hitler, para a qual os soviéticos tinham contribufdo de maneira determi- nante com a batalha de Stalingrado, {tal declaragio] nio me causara impres- sto particular”. Na realidade, no intelectual trabalhista inglés os reconheci- ‘mentos tributados 4 URSS e ao seu lider iam bem além do plano militar. Por 4] Mann (1986a), pp. 271 © 278-279; Maun (1986b), pp. 311-312. ‘Webb (1982-1985), vol. 4, pp. 242.6 490 (notas de dirio de 15 de margo de 1931 de 6 de dezembro de 1942); Laski (1948), pp. 39-42 e passim. outro lado, era muito diferente naquele momento a posigio do fil6sofo turi- nense? Em 1954, ele publicava um ensaio que atribufa como mérito da Uni- Fo Sovietica (e dos Estados socialistas) 0 fato de terem “iniciado uma nova fase de progresso civil em pafses politicamente atrasados, introduzindo insti- tuigdes tradicionalmente democréticas, de democracia formal, como o sutré- gio universal e eleigio dos cargos, e de democracia substancial, como a cole tivizagéo dos instrumentos de produgio”; entdo se tratava de derramar “uma gota de leo [liberal] nas maquinas da revolugiio j4 realizada”."? Como se vé, ra longe de ser negativo o jutzo formulado sobre o pats que estava ainda de Iuto pela morte de Stalin. Em 1954, ainda agia em Bobbio a heranga do socialismo liberal. Embora subtinhando com forga 0 valor irrenuncidvel da liberdade € da demoeracia nos ‘anos da guerra da Espanha, Carlo Rosselli tha oposto negativamente os paises Tibctais (A Inglaterra oficial est do lado de Franco, esfomeia Bilbao”) A Unite Soviética empenhiada em ajudar a Repiblica espanbola agredida pelo cismo2” Tampouico se tratava apenas da politica internacional. A um mundo: ccaracterizado pela “fase do fascismo, das guerras impecialistas e da decadéncia capitalista”, Carlo Rosselli opusera o exemplo de umn pafs que, embora estando ainda bem longe do objetivo de um socialismo democritico maduro, tinha dei- xxado 0 capitalismo para tds ¢ representava “um capital de preciosas experién- cias” para quem quer que estivesse comprometido com a construgio de ui sociedade melhor: “Hoje, com a gigantesca experiéneia russa|...] dispomos de ‘um material positivo imenso. Todos sabemos © que significa a revolugao sacia~ lista, a organizagio socialista da produgio”. a Concluindo, para todo um periodo histérico, em cireulos que iam muito além do movimento comunista, 0 pais guiado por Stalin ¢ o pr6prio Stalin puderam gozar de interesse simpstico, de estima e, &s vezes, até de admira gio. E verdade que houvera a grave decepgio provocada pelo pacto com a ‘Alemanha nazista, mas Stalingrado cuidou depois de anuld-la. Por isso, em 1953, ¢ nos anos iimediatamente posteriores, 1 homenagem ao lider desapa- recido unin o campo socialista, parecett a todos reunificar © movimento co- rmunista, apesar das divisbes anteriores, e acabou encontrando de algun mo- do um eco no proprio Ocidente liberal, que estava comprometide numa Guerra Fria trayada por ambos os lados sem exclusdo de golpes. No por caso, no discurso em Fulton, que abriu oficialmente a Guerra Fria, Chur- 18 Bobbio (1997), p. 89; Bobbio (1977), pp. 164 ¢ 280. % Rosselli (1988), pp. 358, 362 € 367, 2 Tbid, pp. 301, 304-306 e 381. aac cops pO chill exprimiv-se assim: “Tenbo grande admiragio ¢ respeito pelo valoses0 ai so © pelo meu corapanhero dos tempos de gers, marechal Stax lin” Nao hi diivida, com o agravamento da Guerra Fria os tons se endure- win cada ver mais. No entanto, ainda em 1952, um grandissimo histori: ar inglés que tinha trabalhado a servigo do Foreign Office, ou s Portanto, “estamos diante de uma marcha triunfal sem precedentes [uk Considero a forga militar dos russos muito baixa, ainda mais baixa do que o Fithrer a considera. Se havia ¢ se hd uma agao segiira, é esta”. Na realidade, a presungio de Hitler nio ¢ inferior; ele se expressara a um diplo- ‘mata bilgaro, algumas semanas antes, a propésito do exército sovietico as- sim: € apenas urna “piada”.” * Ferro (2008), p. 64; Bene’ (1954), p. 151; Gardner (1993), pp. 92-93. © Liddet Hart (2007), pp. 414-415. > Liddel Hart (2007), pp. 417-18. % Goebbels (1992), pp. 1601 ¢ 1609. % Goebbels (1992), pp. 1601-02. » Fest (1973), p. 878 No entanto, desde o inicio os invasores encontram, apesar de tudo, sur- presas desagradéveis: “Em 25 de juno, por oeasiio do primeiro ataque aé- rep a Moscon, a defesa antiaérea se revel to efieaz que desde entio a Luf- waite € obrigada a limitar-se a rafds notumos em quantidade reduzida”.”* Jpastam der dias de guecra para que as cestezas da véspera comecem a entrar emerise. Em 2 de julho, Goebbels anota no seu diério: “Em getal, se comba- te muito dura e obstinadamente, Nao se pode de modo algum falar em pas seio. O regime vermelho mobilizou 0 povo”.” Os acontecimentos se precipi- fam e o humor dos dirigentes nazistas muda de modo radical, como upareee sempre do didrio de Goebbels. 24 de julho: Nao podemos nutrir nenhuma divida sobre 0 fato que o regime bolchevi- uc, que existe hé quase um quarto de século, deinox profundos tragos nos povos da Unido Sovietica (..] Seria, portanto, justo por em evidéneia com ‘grande clareza, diante do povo ales, a dureza da luta que se tava no les- te. E preciso dizer & nagio que esta operagio 6 muito dificil, mas que po- demos superé-lae que.a superareraes.”” 1° de agosto’ [No quartel general do Pubres (..] abertamente se adiite também que se er- ou umm pouco na avatiago da forga militar sovigtca. Os bolcheviques reve- Tam uma resistencia maior do que a que suptinhames; sobretudo os meios rnateriais& sua disposicio sfo maiores do que pensivamos.* 19 de agosto: (© Pubrer est interiormente muito inritado consigo mesmno pelo fato de ter se deixado enganar a tal ponto sobre o potencial das bolcheviques pelos re- Tet6rios [dos agentes alemes enviados] vindos da Unio Sovittica. Sobre- tmdo a sua subestimativa dos eros de combate © da aviagio do inimigo criou-nos muitos problemas. Ele sofren muito por isso. Trata-se de uma eri- se grave [..J. Postas em comparacio, as campanas conduzidas até agora exam como que passes [..J. No que diz respeito 20 oeste, o Fihrer no * Ferro (2008), p. 189. © Goebbels (1992), p. 1619. ** Goebbels (1992), pp. 1639-40. "Goebbels (1992), p. 1645. tem neahum motivo de preocupagio [...J. Com o rigor e com a objetividade nossos de alemties, sempre supervalorizamos 0 inimigo, com a excego nes- te.easo dos bolcheviques.”* 16 de setembro: Calculamos o poteneial dos bolcheviques de mode totalmente errado.® Os estudiosos de estratégia militar acentuam as dificuldades imprevistas com que na Uniio Soviética logo enfrenta uma méquina de guerra poderosa, ex- perimentada ¢ cercada pelo mito da invencibilidade,”* E “particularmente significativa para o éxito da guerra oriental a batalha de Smolensk da segun- da metade de julho de 1941 (até agora permanece, na pesquisa, amplamente coberta pela sombra de outros acontecimentos)”."* A observagio é de um ilustre historiador alemifo, que retata depois estas eloquentes anotagdes de Adidrio escritas pelo general Fedor yon Bock de 20 e 26 de julho: © inimigo quer reconquistar Smolensk 2 todo custo e envia sempre novas forgas. A hipstese expressa por alguém de que o inimigo age sem planes io enicontra verificagdo nos fatos [...J. Constataese que os £1ss0s realiza- ram cm redor da frente construfda antes por mim um novo desdobramento de forgas compacto. Em muitos pontos eles tentama passar a0 ataque, Sur- preendente para um adversério que sofreu tantos golpes; deve possuir uma quantidade incrivel de material, de fato as nossas tropes ainda agora lamen- tam o forte efeito da arttharia inimiga, Ainda mais preocupado, ou antes decididamente pessimista, é 0 almirante Wilhelm Canatis, dirigente da contraespionagem, que, falando com 0 gene ral von Bock em 17 de julho, comenta: “Vejo negro sobre negro”. Nio s6 0 exército soviético nfo debandou nos primeiros dias nem nas primeiras semanas de ataque como, ao contrério, opde “tenaz resisténcia”, sendo também bem comandado, como revela, entre outras coisas, a “decisio de Stalin de deter o avango alemiio no ponto por ele determinado”, Os resul- tados desse astuto comando militar se revelam também no plano diplomséti- co: € exatamente porque “impressionado pelo obstinado choque na drea de ‘Smolensk” que 0 Japlo, ali presente como observador, decide rejeitar 0 pe- © Gochhels (1992), pp. 1656-58 * Goebbels (1992), pp. 1665-66. Liddel Hart (1991), p. 354. * Hillgraber (1991), p. 354 Relatado em Hillgruber (1991), pp. 358-360. dido do IfT Reich de participar na guerra contra a Uniiio Soviética. * A andli- fe do historiador alemao ferrenhamente anticomunista é confirmada plena- mente por estudiosos russos que se distinguiram como campedes da luta contra 0 “stalinismo” na esteira do Relat6rio Kruschiov: “Os planos do Blitz- doreg [ale 1”. Neste contexto iio) jé tinham naufragado em meados de julho! fio parece formal a homenagem que em 14 de agosto de 1941 Churchill ¢ F. 'D. Roosevelt prestam a “espléndida defesa” do exército soviético.” Também fora dos circulos diplomdticos e governantes, na Gri-Bretanha — nos informa ‘uma anotagio de didrio de Beatriz, Webb ~ cidadiios comuns e até de orienta- 0 conservadora mostram “vivo interesso pela coragem e pela iniciativa st preendentes ¢ pelo magnifico equipamento das forgas armadas russas, 0 inieo Estado soberano em condigio de opor-se a0 poderio quase mitico da Alemanha de Hitler” Na propria Alemanha, jé trés semanas depois do inicio da operacio Barbarossa, comegam a circular boatos que colocam radicalmente em diivida a ‘yersio triunfalista do regime. Eo que aparece de um difrio de um eminente intelectual alerito de origem judia: pelo que parece, no leste “sofreremos perdas imensas, terfamos subestimado a forga de resisténcia dos russos”, os quais “Seri- ‘am inexaurfveis em homens e material bélico”.** Durante muito tempo lida como expres militar ou diretamente de confianga cega nos confrontos do Ii Reich, 0 comportamento extremamente cauteloso de Stalin nas semanas que prece- dem 0 inicio das hostilidades aparece agora numa luz totalmente diferente: A concentragaio das forgas da Wehrmacht ao longo da fronteira com a URSS, a violagio do espago aéreo soviético ¢ numerosas outras provocagbes tinham uma tnica finalidade: atrair 0 grosso do Exército Vermetho © mais perto possivel da fronteira. Hitler pretendia vencer a guerra numa tinica gi- gantesca batalha”. Até valorosos generais se sentiram atrafdos para a armadi- Iha e, em previsio da irrupgio do inimigo, fizeram presse por um desloca- ‘mento em massa das tropas para a fronteira. “Stalin tejeita categoricamente o pedido, insistindo na necessidade de manter rescrvas em grande escala a uma distancia consideravel da linha de frente”. Mais tarde, tendo tomado visio dos planos estratégicos dos idealizadores da operagio Barbarossa, 0 mare- chal Georgi K. Jukov reconheceu a sabedoria da linha adotada por Stalin: “O 2 Hitgraber (1991), pp. 372.6360, “ Medvedev, Medvedev (2006), p. 252 im Butler (2005), . 41. a ‘Webb (1982-1985), vol. 4, p. 472 (anotagio de didrio de 8 de agosto de 1941). Klemperer (1996), vol 1, p. 647 (anotagio de diério de 13 de julho de 1941), comando de Hitler contava com um deslocamento geral das nossas forcas para a fronteira coma intengao de cercs Com efeito, nos meses que prect com os seus generais, 0 Furer observa: “Problema do espago russo, A am- plidio infinita do espago torna necessdria a concentragiio em pontos decisi- vos”. Mais tarde, numa conversa ele esclarece o seu pensamento sobre a operagiio Barbarossa jf iniciada: “Na histéria mundial houye até agora ape- nas trés batalhas de aniquilamento: Cannes, Sedan e Tannenberg. Podemos estar orguthosos pelo fato que duas delas foram vitoriosamente combatidas por exércitos alemaies”. Mas, para a Alemanha se revela sempre mais evasi a terceira e maior batalha decisiva e de cerco e aniquifamento desejada por Hitler, o qual, uma semana depois € obrigado a reconhecer que a operagio Barbarossa tinha scriamente subestimado o inimigo. “A preparagio bélica dos mussos deve ser considerada fantistica”.* § transparente aqui 0 desejo do jogador de azar de justificar 0 fracasso das suas previsdes. No entanto, a conclusées no diferentes chega o estudioso inglés de estratégia militar ja citado: 0 motivo da derrota dos franceses reside “no na quantidade ou qua- lidade do seu material, mas na sua doutrina militar”; ademais, age de manei- ra ruinosa a formagio demasiado avangada do exército, que “compromete gravemente a sua flexibilidade estratégica”; um erro semelhante fora come- tido também pela PolGnia, favorecido “pelo orgulho nacional e pela confian- ¢a excessiva dos militares”, Nada disso se verifica na Uniio Soviética.* Mais importante que as batalhas individuais 6 o quadro de conjunto. “O sistema staliniano conseguit mobilizar a imensa maioria da populagio ¢ a quase totalidade dos recursos”; em particular, foi “extraordinsria a capacida- de dos soviéticas”, numa situagao tio diffcil como aquela que se criow nos primeiros meses de guerra, “de evacuar e, depois, de reconverter para a pro- dugio militar um niimero considerével de inddstrias”. Sim, “criado dois dias depois da invasto alema, o Comité para a evacuago conseguiu mudar para 0 leste 1.500 grandes empresas industriais, apés operagbes titanicas de grande complexidade logistica”.”* Aliés, esse processo de deslocamento ja se inicia- ra nas semanas ou nos meses que precedem a agressio hitleriana (infra, cap. © Medvedev, Medvedev (2006), pp. 259-260. Hiller (1965), p. 1682 (tormada de posigio de 30 de margo de 1941), Hitler (1989), p. 70 (conversa de 10 de setembro de 1941) e Hitler (1980), p. 61 (conversa de 17-18 de sctembro de 1941). & Liddel Hart (2007), pp. 404, 400 e 392, $ Werth (20078), pp. 352 € 359-360. 7, § 3), 0 que € mais uma confirmagio do caréter fantasioso da acusagio langada por Kruschiov. "ainda hd mais. O grupo dirigente soviético tina de algum modo intuido as modalidades de guerra que surgiam no horizonte j4 no momento em que promo- via a industilizago do pais. Com uma radical viravolta com respeito & situa 0 anterior, ele tnba idenificado “tum ponto focal na Réssia asistica”, Longe e to abrigo dos presumiveis agressores.”” Stalin tinha, de fato, insistido repetida vyigorosamente nisso, Em 31 de janeiro de 1931, impunha-se a “eriago de una indistria nova e bem equipada nos Urais, na Sibéria, no Cazaquistio”. Poucos anos depois, o Relatério lide em 26 de janeiro de 1934 ao XVII Congresso do PCUS tinha com satisfago chamado a atengo para o paderoso desenvolvimen- to industrial que se verificara nesse meio tempo “na Asia central, no Cazaquis- Go, nas Reptblicas das buriates, dos tértaros ¢ dos bachires, nos Urais, na Sibé- ria oriental e ocidental, no extremo-oriente, etc.”** As implicagdes disso tudo io tinham eseapado a Trotski que, alguns anos depois, 20 anlisar os perigos de guerra e o grau de preparagio da Un . © 40 sublinhar os resultados conseguides pela “economia planificada” no ambito “lita, obscrvara: “A industrializagio das regides remotas, principalmente da Sibéria, confere as gran- des distncias das estepes e das florestas uma importincia nova”."’ S6 agora os grandes espagas assumiam todo 0 seu valor ¢ tornavam mais problemética do {que nunca a guerra reldmpago tradicionalmente desejada e preparada pelo esta- 40 maior alemaio, E exatamente no terreno do aparetho industrial edificado em pre’ da guerra que o TIT Reich é obrigado a registrar as surpresas mais amargas, como surge de dois comentérios de Hitler. O de 29 de novembro de 1941 “Como é possivel que um povo tio primitive possa aleangar semelhantes avangos técnicos em tio pouco tempo?" O de 26 de agosto de 1942: “No. tocante a Ruissia, é incontestavel que Stalin elevou o nivel de vida. O povo isso niio passava fome [no momento do desencadeamento da operago Bar- barossa]. Em geral, é preciso reconhecer: foram construidas inctistrias da importancia das Hermann Goering Werke onde hé dois anos niio existiam Senio aldeias desconhecidas. Encontramos linhas ferrovsrias que nio estio indicadas nos mapas” 2 Tucker (1990), pp. 97-98 & Statin (1971-1973), vo. 13, pp. 67 © 274 2 Troiski (1988), p. 930 (= Trotsk, 1968, p. 207) © Dewm coléquio com Fritz Todt, relatado ex Irving (2001), p. $50, ® Hitler (1980), p. 366 (conversa de 26 de agosto de 1942),

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