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PAULO AYRES BARRETO IMPOSTO SOBRE A RENDA E PREGOS DE TRANSFERENCIA 6 Iurosro Scene A Revs & Pécs oe TRansentn ‘se produzirdo efeitos de direito. Evento ocorrido e nfo comunicado, ou ainda informado por outros canais de manifestacdo que no os admiti- dos pelo ordenamento jurfdico (linguagem social, por exemplo), nfo produz efeitos de direito. Dessarte, podemos afirmar, de forma categérica, que obrigacto Uibutéria ¢ crédito tributério surgem exatamente no mesmo momento, to logo seja produzida a linguagem descritora do evento, na forma exi ‘gida pelo ordenamento juridico. Surgem, nesse instante, obrigagao tric Dutétia ¢ crédito tributério jd dotados das caracterfsticas de liquidez Examinaremos a inposibildade de uibtgSoexclusina na fone a verses self pase on impos sole arenda ‘> Ricatdo Mais de liver, Piepis Pondamentss do Inpoo de Renda lz Di ‘elo Tributrio- Estudos em Homenagem 2 Brandio Hachad, Luts Edetdo Schou ¢ Ferando Awe ive (cot), 218, " Sobre a seletvidae,eabora no I, er oré Bava Sous de Nelo, 0 Inposo sobre Prodats Inara (P1) na Conta de 1888p. “> Ricido Mai de Olveia tem elendiment eto ote ese ni. “Univer ssid deepen aida on elementos poise ngndvn qo compen sn ce pins, econ soe ns es pe "estar edimini ase meso pablo sum dado pero de enpo tao Ie” Prispos Fundamentals do mgosto de Renda Dio Tibucins Bruce gm Homenagem a tania Machado, Ls Basardo Scho ¢ Paranda Aurela ive Cords) p21 Pawo Arms Bassero 6s to sobre certas espécies de renda, desconsiderando-se efeitos negativos de outras. E, assim, de se ressallar 0 papel de relevo que exerce 0 contri- buinte do imposto sobre a rend, no que concemne a observincia das princfpios da gencralidade ¢ da universelidade, F ele, como titular de uma universalidade patrimonial, que hé de ser considerado, para impe- dir a desconsideragdo de parcela de patriménio, para assegurar a con- traposigdo de acréscimos e decréscimos patrimonizis e, por fim, para ppermitiraaferigao de que todos os poss{veis contribuintes estio subme- tidos ao imposto, Ricardo Mariz de Oliveira esclarece com scuidade que “o titular do patriménio ¢ 0 Gnico elo entre todas as coisas, direitos e obrigacées do seu patriménio, assim como entre os fetores que aumentam ou dimi- ‘nuem esse mesmo patriménio”. Esclarece ainda que “a progressivid de somente se mostra eficiente se associada aos princfpios da gener dade e da universalidade, Pela universalidade, aplica-seatabela de alf- quotas crescentes uma tnica vez sobre a totalidade do acréscimo patri- ‘monial, ¢ pela generalidade também se aplica a mesma tabela uina di ‘ca vez, deforma indistnta sobre todo o aumentopatrimonial, quaisquer {que tenham sido suas fontes produtoras”™, De nossa parte, a considerago dessa totalidade patrimonial de- corre do principio da generalidade, Nada obstante, deverd sujctar-se inexoravelmente & aplicagdo, uma tniea vez, de alfquotas progressivas, incidentes sobre tl operasio, independentemente de sua origem. Por derradeiro, por forga do principio-da progressividade as alf- quotas devem ser tanto maiores quanto mais signficativa for a renda passivel de tributacdo pelo LR. O legislador consttuinte nio se satisfez ‘com a mera proporcionalidade, Impds a progressividade como condi- ‘980, como requisito a ser atendido pelo legislador ordintsio ao intituir esse imposto, ara que se verifique o pleno atendimento ao pri ‘gressividado, todo acréscimo patrimonial deverd ser considerado, apli- cando-se a esse aumento, uma tnica vez™, aliquotas progressivas. Vale dizer, quanto maior for 0 aumento patrimonial maior deverd ser a alf- quota aplicdvel. Nao hd como observaro principio se a aplicagio de alf- uotas progressivas ocorrer sobre parcelas de renda (e nfo sobre a ren- da total). © Bide, p. 215 ° Widem p. 216. 34 Ineosto sosne A Renan €Patcos 0 Thausennca De fato, 0 desrespeito aos principios da uriversalidade e da ge- neralidade configura dbice & prépria verificagdo do principio da progres. sividade, Em simula, a norma gerale abstrata que descreva, em seu ante= cedente, “auferir renda e proventos de qualquer natureza” como fato de possfvel ocorréncia, que, see quando acontecido, card ensejo A incidén. ia deste imposto, mediante o ato de aplicagio do direito, deverd, neces. sariamente, estabelecer que: a) todo o patrim6nio do contribuinte seja Alluz da Constituigzo anterior, detinha a Unio a competéacia ‘residual para institut, por lei ordinérie, outros tributos, desde que ofsto gerador e base de célculo fosscm distintos daqueles (ributos) previstos nna Constituigdo, Logo, se a Unigo consttufsse um novo tributo, sob a denominagio de imposto sobre a renda, ainda que 0 exame do bindmio base de cdloulofhip6tese de incidéncia evidenciasse tratar-se de mate- rialidade diversa (nfo compreendida na competéncia dos outros entes politicos), ndo se poderia questionar a constitucionalidade da nova exa- "Nese sentido, Luft Eduardo Schover dia: “para solu dos conltos de compe- \encin do earapo de competéci residual, encontamas nel complement no a Consigfo~ os conovtos de cada imposo. Tendo em visa sto dzcrien be ‘seado nos asperios materia dos fotos geradores, nosso tema se escve a part dos spetosmaterias lets em lei complement”. Discriminanso de Competéncas (Competencia Residual. Inv Dieta Trbuiario- Exudes em Homenagem Bandas Machado, Luis Edvard Sehover e Fernando Aurlio Ziv (coords), 115. 70. lurosro scans A RENDA €Patcos oe Teansrentnca ‘0, Porquanto para o exerefcio da competéncia residual nto se exigia lei complementar. Aos requisitos previstos na ordem juridica anterior, © legislador constituinte de 88 agregou outros dois: a) a necessidade de Jei complementar;¢ 6) a observancia ao prinefpio da néo-cumulativida. de. ‘Marsal Justen Filho", a esse propésito, assinala: “Atualmente, se a Unido pretender iistitur um tributo que soja distinto do imposto de renda, por exemplo, estarésujita, além do constrangimento de todosos Prineipios constitucionais ¢ da regra da discriminagaio de competén« 8 valer-se de um instrumento especffico'que é a lci complementar ¢ ‘obsezvar um outro principio, também espectfico, que é o da ndo-cumu. Iatividade”, Destarte, € crucial construir, com base no Texto Magno, o con ceito de renda - ¢ assim de cada uma das matcrialidades nele (texto ‘constitucional) referidas - sob pena de comprometimento do funcion ‘mento do subsistema constitucionaltributério, notadamente no que com. Cemme & sua rigida repartigfo da competénicia impositiva. Nio raro identificamos na doutrina pétria tentativas de buscar 0 Yeladora fato geraor (-)" Teoria da Norma Tribus 123 Pao Aries Basic10 2 4.4.1. Periodicidade do imposto sobre a renda A nogiio de perfodo ¢ fnsita a0 imposto sobre a renda. Nao hé ‘como medir a grandeza a ser tibutada, apuraro acréscimo patrimonial, se nfo identificarmos seus marcos temporas, inicial final, ou, em ou {ros termos, o perfodo a ser considerado para conformacio do fato que ‘comporé a base de célculo do imposto sobre a rend Geraldo Ataliba!? ensinava que a periodicidade do imposto so- bre a zenda haveria de ser anual. Todo imposto € um ingresso pbc, relevante para a composigo do orgamento, que por expressa disposiga0 Constitucional, é anual. As prestagbes de contas a que se sujita aadmi- nistraglo pablica, perante os respectivos tribunais de contas, também sifo elaboradas anualmente. Em suma, dizia ainda Geraldo Ataiba: “o ritmo estabelecido pe- las finangas pdblicas é anual eo seu ponto fuleral esté na dsciplina constitucional do Orgamenta"'®, José Arthur Lima Gongalves"!, ap6s percorrer todos os disposi- tivos em que os voebulos ano ou anual séo referidos na Constituigio Federal, propugna, relativamente ao Imposto sobre a Renda qu Constituiglo no se limita a impor, implicitamente, a consideragao de um periodo, Entendemos que ela estabelece - ainda que de forma im. plieita~ que esse perfodo seja anual”. Para outros doutrinadores, o perfor 4o anual nio seria uma imposigdo constitucional' Luciano Amaro! assim se manifesta sobre o tema: “o perfodo de formagdo da renda tributdvel ndo pode ser muito curto, sob pena de pre~ Jjudicar @ personalizagdo do tributo e a adequagio a capacidade conti. bativa. 0 individuo que, episodicamente, tem um rendimento elevado ‘no possui a mesma capacidade contributiva de outro individuo que perceba, consistentemente, renda elevada, Feta a apuracio aps perio, do mais longo, esses picos de renda tendem a ser nevtralizados. Por outro lado, o perfodo também nfo pode ser muito longo, 0 ue comprometeriao fluxo de receitatributéria do Tesouro”. '® Periodicidade do Iiposto de Renda In: Revita de Dieta Tributro a 63, p, 22. % Tbidem, p. 20 ' Inposio sobre a Renda. Pessposios Cossttacioncis,p 185 "= Ricardo Maric de Oliver, por sua vez, defende que "a imposto sobre a end pode inciirsobte qualquer atésimo parimonalcbido em cal perfodo de tempo'pe. Visto em lei." Prnepios Fandaneatis do Imposto de Renda n: Dito Tbutd. ‘Estudos em Homenagema Brando Machado, Las Edvrdo Schouet\¢ Feta do Aurélio Zilvet (coors), p. 220 °° Curso de Direto Tribu, p. 328. a @ lurosta Scan enon € Precis os Teavsrentnca ‘No plano constitucional temos que o artigo 165, pardgrafo 8°, fixa ser a lei orgamentéria anual. O pardgrafo 9° do mesmo artigo esta- belece que cabe a Lei Complementar definir o exercicio financeiro. Nos termos do artigo 150, I, 6, 6 vedado cobrartributos no mesmo exerct- cio financeiro em que haja sido publicada a lei que os insituiu ou au- ‘mentou. A interpretago sistemdtica da Carta Magna aponta seja de um ano o perfodo adequado para se aferir se ocorreu acréscimo patrimonial ‘Ao lado disso, € forgoso reconhecer que o lapso temporal ima- nente a0 conceito de renda haverd de permitir um efetivo cotejo entre receitas, custos e despesas. B dizer, sendo tal lapso exfguo, prejudica- a ficard a contraposigzo dos valores que conformerdo a base de célcu- Jo em norma individual e concreta, podendo operar-se a desnaturagdo do proprio conceito de renda. Imagine-se, por exemplo, o caso de em- ‘presaque se-dedique a atividade sazonal, cujas receitas estejam concen- tradas num determinado trimestre, ¢ suas despesas espraiadas durante ‘ano todo. Evidentemente, se 0 perfodo fixado em lei, para a apuragdo do imposto, nko for de molde a permitir o cotejo entre as despesas veti- ficadas durante todo o ano e as receitas concentradas no trimestre tere- ‘mos distorgées na base de célculo do imposto, que poderdo implicartri- ‘batagdo sobre o patrimGnio e ni sobre o acréscimo patrimonisl 44.2. Momento da ocorréncia do fato tributério A definigZo do exato instante em que se reputa ocortido o fato tributfrio do imposto sobre a renda tem suscitado, a0 longo dos anos, isputas acaloradas cutie os doutrinadores e um certo ttubeio de eunko Jurisprodencial. As discussdes travadas cingem-se aos seguintes aspectos: 1) 0 fato juridico tributério do imposto sobre a renda reputar se ocortido no tikimo dtimo de segundo do dia 31 de dezem- bbro de um ano ou no primeiro instante do dia I° de janeiro do exercicio seguinte; ¢ 2) se 0 referido fato € instanténeo ou “complexivo”. No que conceme a primeira disputa, estamos com aqueles que defendem reputar-se ocorrido © fato tributério do imposto sobre @ ren- da n0 dltimo timo de segundo do ano findo. Dizer que tal fato consoli- da-se no dia I° de janeiro de cada ano encerra verdadeiro sofisma, cujo ‘objetivo seria tomar possivel a aplicagio de leis recém-editadas (no dia 31 de dezembro, por exemplo) 20 ‘fato tributério’ que oconreria proxi ‘mameate, no dia 1° de janciro, atendendo, em tese, aos limites abjet- Paw Aves BAReTo Ea ‘vos impostos pelos prinefpios da anteioridade e irretoatividede. Como © fato tributério ocorreria em 1° de janeiro, as alteragGes na legislacéo, verificadas dias antes, teriam atendido ao disposto no artigo 150, I, da Constituigdo Federal em vigor. De rigor, tl conclusdo ndo merece acolhida, Para afastar tal terpretagio, parece-nos suficiente lembrar que nenhum fato jurfdico ‘corrido em 1° de janeiro compde a base de célculo do imposto sobre a renda. Destarte, a definigo, em lei, de que o fato juridico tributério ‘correu no primeiro dia do exercicio seguinte caracteriza ficco juridi- ca, que, como veremos em capftulo destinado ao estudo das ficgBes ¢ presung6es em maiéria tributéria, nfo se compagina com as balizas constitucionais fincadas em nosso ordenamento juridico, norteadoras da atividade imposiiva. A legislagdo aplicdvel ao imposto sobre a renda, relativa a deter- ‘minado perfodo-base, deve ser conhecida antes da possfvel ocorréncia de qualquer daqueles enunciados que vio compor a base de eéleulo do posto, sob pena ¢e afronta ao prinefpio da irretroatividade da lei, l- rite objetivo consagrado em nosso Texto Magno. Além disso, estamos convictos de que, para atender 20 principio da anterioridade, a legisla- do aplicdvel ao fato da base de c&lculo deverd estar em vigor no exer-

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