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7 ALTERNATIVAS METODOLG GI PESQUISA QUALITATIVA, “ o estudo de caso e outras abordagens Este capitulo trata de algumas alternativas de pesquisa qualitativa que podem ser adotadas para o primeiro projeto de pesquisa. Assim, juntamente com os trés préximos capitulos — que abordam as diversas fontes de dados ¢ técnicas de coleta -, procura dar base para a definicao da metodologia, um item importante de seu projeto. Certamente, esses capitulos nao es- gotam os seus temas', embora procurem pontuar as questoes essenciais, de modo a sustentar a construgao de seu projeto. Desta forma, preparam a tarefa de elaboragio do Capitulo 11 -A definigéo do encaminhamento da pesquisa: orientagbes opera- cionais, voltado para as decis6es metodoldgicas para a realizagdo da pesquisa. Como ja discutido no Capitulo 1 - Conhecimento, Ciéncia, Pesquisa: discutindo nossos pressupostos -, 0 modelo tradicional de pesquisa, tributario das ciéncias da natureza, nao pode ser di- = , sua formacio Desa forma, exudes complementares podem se fazer seit ee ramen ae voce jé reve outras idades de tratar de temsticns ef dari, © pode ser eee we textos com que trabalhou- No ees Licenciatura em Miisica da UFPB, a disciplina voleada para construc oo pe he sre TCC em com pr equisito Metadelgia da Pesquisa mt Edo de base e preparagéo. 101 7 ALTERNATIVAS METODOLOGICAS NA PESQUISA QUALITATIVA: o estudo de caso e outras abordagens Este capitulo trata de algumas alternativas de pesquisa qualitativa que podem ser adotadas para o primeiro projeto de pesquisa, Assim, juntamente com os trés préximos capitulos — que abordam as diversas fontes de dados ¢ técnicas de coleta -, procura dar base para a defini¢ao da metodologia, um item importante de seu projeto. Certamente, esses capitulos nao es- gotam os seus temas', embora procurem pontuar as que 01 essenciais, de modo a sustentar a construgao de seu projeto. Desta forma, preparam a tarefa de elaboragio do Capitulo 11 —A definigao do encaminhamento da pesquisa: orientagées opera- cionais, voltado para as decis6es metodolégicas para a realizagao da pesquisa. Como ja discutido no Capitulo 1 — Conhecimento, Ciéncia, Pesquisa: discutindo nossos pressupostos ~, 0 modelo tradicional de pesquisa, tributario das ciéncias da natureza, nao pode ser di- Desta forma, estudos complementares podem se fazer necessitios. Se em sua formagéo voct ja teve outras oportunidades de tratar de teméticas de pesquisa, isto certamente aju- dard, € pode ser interessante retomar os textos com que trabalhou. No curriculo atual da Licenciatura em Musica da UFPB, a disciplina voltada para a construgio do projeto para TCC tem como pré-requisito Merodologia da Pesquisa em Educacdo Musical, que lhe serve de base e preparacio, 101 licado nas ciéncias humanas ¢ sociais, pelas speci. aj ee Nelas, em busca de abordagens € métod, lar a complexidade dos fendmeng, retame! ficidades destas areas. . i contem| eo dee, desenvolveram-se as propostas de pesquis, yoltadas para compreender, em lugar de comprouay, diferentes perspectivas, a pesquisa qualitatiy, m, ser “uma abordagem sistematica, Cujo ender as qualidades de um fendmen, qualitativa, Apesar de have! tem, como eixo comu) bjetivo principal é compre dades — em um determinado contexto’ (lari, 2007, p. 37) ‘A preocupagéo do pesquisador qualitativo com 0 context, é enfatizada por diferentes autores (dentre outros, Bogdan; Bj. klen, 1994, p. 48). Neste sentido, Stake (2011, p. 25) sintetiza: “O estudo qualitativo é situacional: E. direcionado aos objetos ¢ as atividades em contextos tinicos.” Desta forma, considera que “cada local e momento possui caracteristicas especificas que se opdem & generalizacao”. Correlatas a esta perspectiva, encon- tram-se as relagées que 0 pesquisador estabelece com 0 campo de pesquisa e com os participantes da mesma, em oposicio 3 objetividade pretendida pela total separacao entre o pesquisa- dor e seu objeto, que é tomada como ideal no modelo positivis- ta de ciéncia (Goldenberg, 2000, p. 19). De modo diferente da pesquisa quantitativa, os métodos qualitativos consideram a comunicagao do pesquisador com 0 campo € seus membros como parte explicita da produgao de conhecimento, ao invés de exclu(-la ao mé ximo [...]. As subjetividades do pesquisador ¢ daqueles que estéo sendo estudados sao parte do processo de pes quisa (Flick, 2004, p. 22). Considerar a subjetividade tanto do pesquisador quanto dos participantes como parte do processo de pesquisa impli- © Portanto, focalizar os significados, “modo como diferentes 102 pessoas dao sentido as suas vidas” ¢ as suas praticas, nos termos de Bogdan Biklen (1994, p. 30-51). Assim, 0 pesquisador qualitative procura aprender as diferentes concepgées, percep- gbes € pontos de vista (cf. tb. Stake, 2011, p. 25-26). Como consequéncia, todos os autores citados neste capitulo enfatizam o cariter interpretativo da pesquisa qualitativa. Uma abordagem exemplar da pesquisa qualitativa é 0 es- tudo de caso”, que busca conhecer uma realidade especifica em profundidade, investigando “uma unidade com limites bem definidos” (André, 2010, p. 31) — como o processo de alfabe- tizagao realizado em uma turma ou a pratica musical de certo grupo instrumental. Deste modo, 0 estudo de caso enfatiza o conhecimento do particular, de forma que seus resultados nao podem ser generalizados para um universo ou populagao mais ampla. Destas suas caracteristicas derivam algumas criticas, in- dlusive quanto 4 “utilidade de investigar campos que parecem tao estreitos [...], aos quais, inicialmente, se limitam as conclu- soes” (Laville; Dionne, 1999, p. 155). No entanto, nosso contra-argumento é que um estudo de caso contribui, sim, para o desenvolvimento do conhecimento na drea de pedagogia ou de educa¢ao musical, na medida em que permite conhecer, de modo sister controlado, uma realidade concreta — por exemplo, a pratica pedagdgica desenvolvida em uma determinada escola ou espa- ¢0 educativo da Paraiba (ou de outra localidade). Neste sentido, cabe salientar que, devido ao carater coletivo ¢ cumulative do ico ¢ cientificamente No capitulo introdutério de seu clissico livro sobre esse tema, Yin (2005, p. 19-38) dis- cute diversas concepgées de estudo de caso, explicitando miiltiplas possibilidades do mes- mo, que pode inclusive trabalhar com dadas quantitativos de forma exclusiva (p. 34). No entanto, aqui, tratamos especificamente do estudo de caso de cariter qualitative, embora ressaltando, como Yin (2005, p. 34), que nem toda pesquisa qualicativa caracteriza-se como tum estudo de caso ~ ou seja, essas duas express6es nao sio sindnimas, embora em moss abordagem estejam intimamente relacionadas. conhecimento cientifico, os varios catudos de caso Possibilitan, progressivamentey uma compreensio an ome’ de diversas si tuagdes. Por sua vez, 0 estabelecimento ee Ages Entre o cas, focalizado numa dada pesquisa ¢ outros ja estudados Permit. encontrar similaridades ou diferengas, num processo que vai 4, mando gradativamente elementos relevantes Para a caracterina gao ¢ a andlise de determinadas probleméticas’ Como discure André (2005, p. 16-18), 0 conhecimento gerado a partir de yj, estudo de caso, além de mais concteto ¢ contextualizado, cs4 mais voltado para a interpreta¢ao do leitor, que, ao trazer para os estudos de caso as suas prdprias experiéncias e compreensées, pode “estender a generalizagao para populacées de referencia ou seja, pode estabelecer relagdes entre 0 caso objeto da pesquisa € outras situagées de sua vivéncia. Por outro lado, como coloca Yin (2005, p. 29-30), se os estudos de caso néo podem ter seus resultados generalizados para populacées ou universos mais amplos, eles “sao genera liz4veis a proposigées tedricas”. Neste sentido, em oposi¢ao a generalizacao estat{stica’, o objetivo do estudo de caso “é expan- dir e generalizar teorias (generalizagao analitica)”. Como discu- tido no Capitulo 1, teorias importantes como a psicanilise ou a teoria cognitiva de Jean Piaget foram construidas com base em estudos de caso, de modo que podemos dizer, parodiando © antropdlogo Lévi-Strauss, que os estudos de caso “sio bons ee * Vale lembrar do exemplo de André ( : (2004, p. 90), discutido no Capitulo 3, ques a0 © Jaclonar ov resultados de sua peayulea sobre a form agéo de professores com os de ouctes trabalhos anteriormente desenvolvidos abe 0 menne tema rexslva ; mo tema, considera que esses divers» € continua) de profes net confront indeagbes importantes para a ona (ini * A generaliz : (vimana) rade ete, por etempl, quand or revultadon de win 47 podem ser yeneralizadon ann, tt mostra probabllistica ~ e, portanto, representatlvs OF para a populagdo-alvo (cf, Freltax; Oliveiras Saccol, 2000, p. 100) 104 pensar” (cf. Rocha, 1998), Neste sentido, (2010): sintetiza Freire O foco das pesquisas é centrado, Principalmente em estu. dos delimitados a cas especti . ‘ : As conclusées desses estudos sav aplicdvcis a reflexdes mi amplas a utr as N’io pretendem o simples estabelecimen. to de relagbes causais © yeneralizéveis (Freire, 2010, p. 82) sos similares, m No entanto, se a limitada po. sibilidade de generaliza Gao marca o estudo de caso, sua maior vantagem, segundo Laville e Dionne (1999, p. 156), ¢ a “possibilidade de aprofundamen- to que oferece, pois os recursos se veem concentrados no caso visado”. Neste sentido, para compreender o particular em pro- fundidade, na sua especificidade ¢ complexidade, o estudo de caso costuma fazer uso de diferentes fontes de dados ~ ou seja, “baseia-se em varias fontes de evidéncias’, nos termos de Yin (2005, p. 33) -, entrecruzando-as na exemplo, no estudo de uma determinada pratica pedagégica, podem ser articulados dados coletados através da observagao ndlise. Deste modo, por de aulas com os obtidos através de entrevista com 0 professor ou educador responsavel, ¢ ainda com a analise de fontes docu- mentais — como o projeto educativo da instituigao. As caracteristicas apresentadas por Yin (2005, p. 32) em sua definigdo de estudo de caso sintetizam boa parte da discus- Sho até aqui desenvolvida: um estudo de caso é uma pesquisa empirica que investiga um fendmeno contemporaneo’ — ou seja, que esta acontecendo na atualidade — dentro de seu con- ressaltar que Bogdan ¢ Biklen * No sentido de registrar a diversidade de concepgbes, cab sai " (1995, p, 89.90) indiam a pesibildade de um esto de caso Fcaizar “ama inka foe Mentos” ou de adotar uma “perspectiva histérica” no estudo de pete 32)do Por exemplo~, afastando-se, em certa medida, dessa caracterizagio de Yin ( o> p3 ‘studo de caso como uma investigacéo empfrica de um fendmeno contemporine?- 105 texto da vida real - quer dizer, uma ibe Sore “natural? (Ga naturalista), No sentido de que nao é crlada OU Provocadal pelo pesquisador, como no caso de um experimento realizar ndicdes controladas de um laboratério. Assim, 0 estudo pecialmente adequado quando se quer deliberada- m condigées contextuais — acreditando que clas nas CO! de caso € es mente “lidar co: R poderiam ser altamente pertinentes ao seu fendmeno de est do” (Yin, 2005, p. 32). Neste aspecto, reencontramos a énfas situacional e a importincia dada ao contexto, que, como vimo: no inicio deste capitulo, caracterizam as abordagens qualitativa: de pesquisa de modo geral. Os estudos de caso mostram-se, portanto, como uma alter: nativa adequada e produtiva para investigar diversos fendmeno pedagégicos, quando os problemas/questoes de pesquisa esta voltados para conhecer e analisar uma situagdo educativa existen- ze. Adotando questoes deste tipo, o pesquisador aborda pratic: de ensino ¢ aprendizagem que ocorrem em situagdo real, na tural ¢ atual, considerando que nao pode focaliz4-las de mod isolado, pois ha diversos fatores contextuais a serem levados e: conta para que seja possivel compreender tais praticas. Retome- mos, entao, um exemplo de problema/questao de pesquisa dis cutido no Capitulo 2 — O Proceso de Formulagdo do Problem de Pesquisa: algumas orientagoes'. a) Como 0 professor de uma turma de 6° ano do ensino fun- damental trabalha a apreciagéo musical / a leitura critica’ com seus alunos? © Vale lembrar que a enumeragio ¢ a ordem de apresentagao dos problemas no presente capitulo, que traz também novos exemplos, nfo é a mesma do Capitulo 2. ? Como este texto aborda a elaboragio do projero de pesquisa tanto na drea de educacto musical quanto na drea mais ampla da educagéo/pedagogia, exemplificamos com temticis de cada area: para aquela, “a apreciagio musical”, e para a pedagogla, “a leitura critica”. 106 O problema (a) claramente indica como a melhor op¢ao metodolégica um estudo de caso, que deverd tomar como com. pode pesquisa uma turma de 6° ano de uma escola (publica ou particular) de ensino fundamental. Quanto & escolha do caso que constituird 0 campo de pesquisa, qualquer escola podera em principio servir (se um caso instrumental) ou sera escolhida uma determinada escola por suas caracterfsticas peculiares (se um caso intrinseco — como discutiremos adiante). No entanto, estudos de caso podem também ser a alter- nativa metodolégica para focalizar alguma pratica pedagdgica desenvolvida em determinado contexto educativo (escolar ou nao), mesmo partindo de um problema/questio de pesquisa um pouco menos delimitado. Examinemos os exemplos abaixo: b) Como é desenvolvido © proceso de alfabetizacéo, numa perspectiva construtivista? ©) Como é realizado o ensino de instrumento em grupo em um projeto social? Quanto ao problema/questao de pesquisa (b), pode ser re- alizado um estudo de caso em uma turma de 1° ano do ensino fundamental de uma escola particular cuja proposta pedagdgica 0 como base, por exemplo. Por sua vez, alhada através de um estudo de caso Erradicacao do Trabalho Infan- ritica de ensino coletivo de E os campos de pesquisa ma de 1° ano da escola Jaro que, para que tais adote o construtivism: a questo (c) pode ser trab: em um niicleo do Programa de til (PETI) que desenvolva uma Pp! violao, dentre outras possibilidades. serao entao, respectivamente, uma turn particular X ou o nicleo Ydo PETIT. E th srivos ou 0s sujeitos en «5 excolas, 08 espasos edt 107 —, ; Por questées éticas, ndo identificamos a pesquisas sejam vidveis, S40 necessdrios contatos iniciais com og possiveis campos de pesquis ) pa verificar se, realmente, existe uma turma de 1° ano de uma escola particular que desenvolya um processo de alfabetizagao construtivista ou um niicleo do PETI que tenha uma pratica de ensino coletivo de violao, ¢ ainda se ha, nesses ca sos, a disposigao dos diversos agentes en. volvidos em participar da pesquisa. No entanto, a natureza das questées (b) ¢ (c), por seu ca- rater mais aberto, permite que outros casos ‘jam selecionados como campo de pesquisa. Em (b), por exemplo, 0 caso pode ser uma turma de alfabetizagao de adultos, enquanto (c) pode focalizar uma pritica de ensino em um grupo de flauta doce, desenvolvida por outro projeto de cunho social, dentre outras possibilidades. Nesses exemplos, a questao de pesquisa nao delimita de antemao as caracteristicas do caso a ser estudado, deixando assim mais aberta a escolha do campo de pesquisa, que poderd ser definido em momento posterior do processo de elaboracao do projeto, quando se for decidir o encaminhamen- to metodoldgico. Isso permite ter algum tempo para sondagens € contatos com possiveis campos empiricos, sendo pertinente, inclusive, considerar a possibilidade de algum estudo explora- torio prévio para sustentar a defini¢ao do campo de pesquisa. Desse modo, as definigdes metodolégicas poderao ser realizadas com consciéncia, levando em conta diversos fatores importan- tes para a viabilidade da pesquisa, inclusive quanto A aceitagao do pesquisador naquela situacao educativa. Como aponta Yin (2005, p. 33), a pesquisa de estudo de caso pode abordar tanto um Unico caso, quanto alguns/varios SRRRSSe volvidos nas pesquisas. Assim, a referéncia aos mesmos. Ouu voluntariamente da tulo 13, Pocem ser utitizados néimeros, letras ou nomes ficticios part Fo aspecto ético relevante é a disponibilidade em participat Pesquisa. Os principios de ética na pesquisa serto discutidos no Cap 108 casos — NOS chamados estudos de caso miiltiplos ou multicaso? Contrapondo-se a outros autores que pretendem diferenciar ti gidamente essas abordagens, Yin entende que “estudos de c: ; unico ¢ de casos miltiplos, na realidade, sao nada alémn do = duas variantes dos projetos de estudo de caso” a S| - Concordamos com esse posicionamento, Be medida em que, quer se trabalhe com apenas um Caso Ou com varios, a natureza e Caracteristicas da pesquisa so mantidas, inclusive em telagao as possibilidades de generalizacao. Seja em relagao ao estudo de um tinico caso ou de alguns casos — quando, entdo, pode haver alguma comparacao entre os varios casos —, persiste 0 direcionamento basico da investi- gasao, buscando examinar cada caso em sua particularidade e complexidade, de modo aprofundado e considerando os ele- mentos contextuais. Como indica André (2010, p. 31), cada caso consiste em “uma unidade com limites bem definidos, ral como uma pessoa, um programa, uma instituic4o ou um grupo social”. Sendo assim, a delimitacéo de um caso envolve uma questo de escala"? — relativa & extens4o do foco, das fronteiras do caso ~, de modo que, por vezes, est4 em jogo, na coleta de dados, a questao da representatividade. Um exemplo, nes- te sentido, é tomar como caso um curso de licenciatura — seja uma licenciatura em miisica ou em pedagogia —, tendo, entre suas fontes de dados, entrevistas com professores ¢ com alunos. “quando 0 pesquaakor nao 7 Alguns autores adotam a designacio de estudo de caso colette, ua do. pens se concentra num 56 caso, mas em virios, por exemplo, em virias XN SON sores, com fnalidade intrinseca ou instrumental” (Andee, 200%, p10Y TS gy consideramos esta terminologia adequada ou meso scene fm que os virios casos escolhidos ndo formam uma cole te any senha "© Diciondrio eletrénico Houaiss da lingua porous Dee ee literal de “escala": “relagdo ene as dimensbes de um desenho &° 00) Seo tado", dando como exemplos a escala de um mapa, ou 4 Pree unas ‘em eacala. 109 Diante da perspectiva de tomar como unidade de caso 0 cur. so como um todo e da impossibilidade de entrevistar todos os professores ¢ alunos, coloca-se a questéo da representatividade dos entrevistados'!, para que os dados assim coletados possam de faro permitir compreender a totalidade do curso. Desta forma, ao escolher os casos para estudo na area de educagao ou educagio musical, temos que estar atentos 4 ques- tao da escala na delimitagao do caso a ser estudado, & qual estio diretamente ligadas a demarcagao do campo de pesquisa ¢ a escolha dos instrumentos de coleta de dados. Consideramos ser mais adequado e vidvel, para um primeiro projeto de pesquisa, trabalhar com uma unidade delimitada em escala menor, como uma turma, a pratica de um professor, ou ainda um grupo mu- sical (de carater educative, como o coral de um curso ou de um projeto social) — ou de dois deles (ou no maximo trés), em um estudo multicaso. Como aponta André (2005, p. 24; 2010, p. 31), 0 caso pode ser escolhido porque é interessante em si mesmo, ou por- que € uma instancia de uma classe — ou seja, é um exemplo de uma categoria'*. Isso quer dizer que, por um lado, 0 caso pode ‘' Do mesmo modo que em relagio & amostra em um survey, estio em jogo as condigSes de generalizacio, no sentido de que os entrevistados representem realmente a toralidade dos corpos docemte ¢ discente do curso - ou seja, que 0 ntimero ¢ a forma de selegio dos entrevistados permitam generalizar os dados das entrevistas para 0 curso como um todo (ct Freitas; Oliveira; Saccol, 2000, p. 106). No entanto, por vezes, a simples caracterizagio de um Pesquisa desse tipo como um estudo de caso, entendido como de cariter qualitaivo negligencia essa importante questio da representatividade dos dados coletados através de ‘entrevistas, ¢ mesmo assim esses dados, por vezes bastante limitados, sao generalizados para 2 totalidade do curso (cf. Silva, 2011). * . 5 André (2005, p. 19-20) apresenta a classificacao de E. E, Stake ~ no livre de 1995, [he SL Lea sudy research (A are da pesquisa de estudo de caso) ~ de arts tipos de eal de caso: estudo de caso intrinseco, estudo de caso instrumental ¢ etude den oss leas 4 muito mais a0 critério de selecao dos e oe on introseco ¢ instrumental ws = 3 & i Oy © ‘actrinao de tipos distinos de estudo de caso, Quanta & Saeeak Sica coletivo”, ver nota 9, 8 1o ser selecionado Por seu carater intrinseco, por suas caracteristi- cas peculiares — por exemplo, retomando as questées (b) ¢ (0), acima apresentadas, seria 0 caso de uma escola que est4 desen- yolvendo uma pratica de alfabetizacao (ou de ensino de instru- mento em grupo, em um projeto social) que est4 alcangando resultados diferenciados, e 0 campo de pesquisa teria que ser, portanto, aquela determinada escola (ou aquele projeto social especifico). Por outro lado, a escolha do caso pode ser de na- tureza instrumental, quando a pesquisa pode focalizar qualquer ocorréncia de uma determinada prdtica: qualquer escola que desenvolva uma pratica de alfabetizagao em moldes constru- tivistas ou qualquer projeto social que tenha uma proposta de ensino de instrumento em grupo serao convenientes para os abjetivos da pesquisa e poderao servir como campo de pesquisa. Um estudo de caso miltiplo pode, entao, chegar a contemplar casos desses dois tipos, embora isso n4o seja obrigatério. Um exemplo neste sentido pode ser encontrado na pesquisa de mes- trado de Lima (2007, p. 138), que desenvolveu um estudo de caso miltiplo com o objetivo de analisar como a Pluralidade Cultural — tema transversal proposto pelos PCNs — era tratada nas séries iniciais do ensino fundamental. Para tanto, coletou dados em duas escolas municipais de Campina Grande/PB: uma que participava de um programa especifico sobre o tema — configurando, portanto, um caso intrinseco — e uma escola municipal “qualquer” que aceitou participar da pesquisa — um caso instrumental (Lima, 2007, p- 17). Com vistas & pesquisa para elaboragao do TCC, recomen- damos a realizagdo de um estudo de caso, que consideramos, por sua delimitacéo, vidvel para uma primeira pesquisa. Como indicam Bogdan ¢ Biklen (1994, P- 89), os estudos de caso po- dem ter variados graus de dificuldade, sendo realizados tanto Por principiantes quanto por pesquisadores experientess POF i suas caracteristicas, “sto mais faceis de realizar do que os estudos som multiplos locais simultaneamente ou com mil) plos sujeitos realizade . Dizem esses autores: “Comece por um estude q, caso. ‘Tenha uma primeira experiéncia gratificante ¢ PrOssipa, 5 assim o desejar, para estudos mais complexos”, Numa primeira experiéncia de pesquisa, talvez nao s« ja posstvel chegar a uma andlise mais aprofundada, ¢ 0 estude, de caso adote, entao, uma perspectiva mais descritiva — que é perfeitamente valida. Mesmo assim, o trabalho trar4 sua con tribuigao relativa ao estudo de uma realidade concreta em stia particularidade, se for feito com rigor ¢ se procurar, mesmo na descrigéo, apresentar varios angulos do fenémeno, a partir de diferentes fontes de dados. Neste sentido, para um estudante de licenciatura, 0 estudo de caso revela-se produtivo para a apren dizagem de técnicas de coleta e para o treinamento em pesquisa, por envolver diferentes tipos de dados/coletas: o levantamento ¢ andlise de fontes documentais — como projetos pedagdgicos, Propostas curriculares, materiais didaticos, dentre outros; a ob- servacao — indispensavel para a andlise de qualquer pratica pe- dagégica; o uso de entrevista ou questionario, solicicar informacées de diferentes pessoas — mente para identificar concepgées, ainda os significados que cada agent como modo de indicado especial- expectativas € intengdes, ou te dé a suas prdticas. Por sua vez, problemas/questées de Pesquisa voltados para conhecer ¢ analisar algum aspecto de uma prdtica pedagogica ex por terem um foco mais reduzido, podem apontar para outras possibilidades de Pesquisa qualitativa — que se colocam, aqui, como derivagées de toda essa discussdo sobre o estudo de caso. No entanto, atendo-se apenas a uma fonte de dados. & alternativas de Pesquisa documental ou de Pesquisa qualitativa com base em entrevistas (ou questiondrios) podem se mostrat mais simples para a primeira Pesquisa de um licenciando. M2 Passemos a examinar, neste sentido, exemplos desse tipo de problema/questao de pesquisa, discutidos no Capitulo 2: d) Como livros didaticos de Lingua Portuguesa para os anos finais do ensino fundamental tratam a compreensao de tex- tos? Este problema/questao direciona-se para uma pesquisa documental. Assim, a partir de certos critérios — por exemplo, o(s) ano(s) de publicagéo ou seu emprego em determinada(s) escola(s) — podem ser selecionados alguns livros didaticos de Lin- gua Portuguesa, de modo a constituir um corpus"? a ser analisado. Com base nesse corpus, seriam realizados os objetivos que foram apresentados para este problema no Capitulo 5: identificar os gé- neros textuais utilizados para trabalhar a compreensao de textos; analisar as atividades e exercicios propostos para a compreensio dos textos apresentados™*. Por sua vez, o problema/questéo de pesquisa (c) poderia ser abordado através de uma pesquisa qualitativa com base em entrevistas: ©) Quais as expectativas dos alunos ingressantes na Licencia- tura em Musica da Universidade X? Ao se caracterizar como qualitativa, assume-se 0 card- ter interpretativo da andlise e a ndo pretensao de generalizar. Acteditamos ser esta op¢4o mais produtiva do que os surveys como “conjunto limi- ° Em seu glossari 7 (2004, p. 496) definem corpus 7 lossro, Bauer ¢Glaskll (2004 20) mein arbitrariedade, sobre tado de materiais determinado de anteméo pelo analista, com cert © qual o trabalho é feito”. “No Capitulo 8, que trata especificamente do us discussio desse problema/questio de pesquisa. 1o de fontes documentais, ampliaremos 113 de pequeno porte, que ja envolvem as complexas questées So. bre amostragem probabilistica ¢ representatividade”’, Com, exemplo de pesquisa qualitativa com base em entrevista, Bastog (2010) investiga, em sua dissertagéo de mestrado, a trajetérig de formacio — que tradicionalmente se inicia através de prati- cas informais no campo da musica popular — de trés bateris as, estudantes de um curso técnico de musica. J4 Coutinho (20 14) trabalha com um niimero maior de entrevistados — dez egressos do Bacharelado em Musica da UFPB — numa pesquisa que visa compreender como os mesmos percebem a rela¢io entre sug formacio superior e a insercdo e atuacao profissional. Vale ressaltar que, independentemente da estratégia de pesquisa escolhida, a primeira experiéncia em pesquisa deve ser um aprendizado do rigor necessdrio aos trabalhos aca- démicos e cientificos, levando a experienciar a especificidade da pesquisa cientifica, em seu carter reflexivo — como jé dis- cutido no Capitulo 1. Desta forma, visdes escolares de “pes- quisa” como trabalhos de base bibliografica, de cunho ape- nas reprodutivista, poderao ser superadas. Neste sentido, os proximos capitulos dedicam-se as diferentes fontes de dados € seus procedimentos de coleta, tratando do uso de fontes documentais, da observacao ¢ de entrevistas ou questiondrios como técnicas de coleta de dados. Neste ponto, torna-se importante compreender que 0s dados sao construidos no processo de pesquisa, o que quer di- zer que nao sao informagées prontas ¢ dispontveis, que apenas dependem de ser “achadas” para que seu problema/questio de pesquisa seja respondido satisfatoriamente. A ideia de dados construidos esta diretamente ligada ao fato de que “encontrar” as informagées desejadas na situagao concreta estudada depen- 'S A respeito, ver 0 item Alternarivas de pesquisa nas ciéncias humanas, no Capitulo 1. 14 de do modo de “olhar” e de “procurar”, ou seja, depende da pesquisador ao selecionar focos de atencao, procedi- 30 do ae Fi ‘ : e coleta etc. Tudo isso dard certa aproximagio da situ- mentos d aco estud: do que ess2 a seja trabalhamos com os dados possiveis, sendo fundamental das limitagées de nossas fontes de dados e nos- ada, que sera sempre muito mais ampla e complexa preensdo possivel — por principio, limitada. Ou estar conscientes sas tecnicas de coleta, 0 que condiciona a nossa capacidade de conhecer a realidade, & qual nao podemos ter um acesso pleno e direto. Assim, como diz Goldenberg (2000, p. 59), “somen- te uma parte bem reduzida da totalidade esta representada - dados”, de modo que nosso conhecimento é sempre provisorio.

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