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David Junker Panoramas da Regéncia Coral TECNICA E ESTETICA EXPRESSAO NOS GESTOs DE REGENCIA: RUDOLF VON LABAN TECHNIQUE Regéncia é€ movimento. E, em si, um ato de expressio cor- poral ainda que trabalhe com maior intensidade a parte superior do corpo envolvendo os bragos, t6rax e cabeca, ‘Todos os gestos de um regente devem possuir vida, sempre dizer algo ¢ constantemente ex: primir algum tipo de sentimento. Como se movimentar? Uma das maiores dificuldades do alu- no iniciante de regéncia ¢ exatamente deixar de mover indistintamen- te os bracos, fazendo somente o desenho de padres de compasso, para realmente expressar, através desses padrées, a musicalidade ine- rente A peca estudada. A aplicacao da técnica de Rudolph von Laban visa preencher esta lacuna. Base filoséfica e dados biograficos. Rudolph von Laban foi um coredgrafo de grande produtividade em seu tempo, cujas ideias ¢ base filos6fica influenciaram toda uma geragiio de artistas. Sempre muito fascinado pelo movimento, desde crianga estudou suas dife- entes facetas, criando e desenhando padres de movimentagio no ar (espago). Ani utos ~ com vocabuliirio especi- fico ~ de variados tipos de movimento para que fossem realizados da ‘maneira mais natural possivel. Laban acreditava que as pessoas preci- 182 ee. + Técnicas Gestuais de Re; cia savam experimentar mover-se com a energia empregada de forma fi- sica, visual ¢ esteticamente, ¢ a partir dai, serem capazes de descrever essas experiéncias. Estas ideias esta » sendo aplicadas atualmente com muito éxito por alguns autores e professores de reg encia. Movimento, para Laban, era um elemento de ligagao entre cor- po, alma e espirito, E como se, pelo seu intermédio houvesse uma intera- cao entre as diversas dimensdes do ser humano, tornando-se essencial na vida do ser humano, como ele expressa com as préprias palavras: Olhando para a extensio completa de impulsos inatos e adquiridos pelo homem, tenta-se procurar por wn denominador comum. Em minha opi- nido, este denominador nao é uma mera movimentagio, mas 0 movimento com toda a sua implicagio espiritual.... O que tem que ser feito nos dias de hoje ~ ¢ estes dias parccem pertencer ao limiar de uma nova concep- i0~ é reconhecer 0 movimento como o grande integrador. Isto envolve, é claro, a conviegiio de que ele é 0 veiculo que envolve o ser humano como un todo, com seus atributos fisicos ¢ espirituais. Para se conseguir enxergar esta grande unidade, nao é preciso ser wm artista somente. Todos, cada individuo, tém esta unidade como base de suas tendéncias ¢ impulsos naturais, que podem ser resgatados como tesouro da verdade esquecida, e cultivados em todas as ramificagdes da vida. (p. 12-13)... O que se experiencia através de movimentos nunca pode ser expresso em palavras; em um simples passo pode haver wma reveréncta da qual somos raramente conscientes, No entanto, por ele, algo acima de ternura e devogio pode ‘fluir de nds e para nés. (p. 35). (op. cit. Jordan, p. 28) (13) Laban nasceu em Bratislava, Hungria, em 1876, e faleceu em 1958, na cidade de Addlestone (Surrey, UIC- perto de Londres). Em busca de seus interesses, sua formacio incluiu extensivos estudos nas reas de pintura, escultura e coreografia nas cidades de Paris, Berlim e Viena, Estudou também diversas culturas, dentre ¢ tribos africanas e de povos do Oriente Médio ¢ da China. Em 1910, comecou a trabalhar efetivamente com danga, montando seu primeiro grupo em Munique. Ali desenvolveu um de Seus géneros favoritos, intitulado “movimento coral”, Durante a Pri- meira Guerra Mundial, mudou-se para a Sufga, formando um grupo as de woe 183 + w+ Técnica e Estética +" de danca chamado “Tanzbuhne Laban”, que se especializou em danca apresentando obras primas da literatura de composicoes expressiva, ‘The Swinging Cathedral; Die Geblende- para danga, dentre as quais: Gaukelci, Don Juan, and Die Nacht. ten, A partir de 1926, fundou o Instituto de Coreografia de Wur- que foi mudado posteriormente para Berlim. Esse instituto foi zurg, ue se desenvolveu o sistema de muito importante por ter sido ali q notagio de danga conhecido originalmente como Eukinetics, publica- do em 1928 como “IGinetografia”. Em 1930, tornou-se o diretor da Opera Estadual de Berlim, sendo reconhecido como um dos coredgra- fos mais famosos da Europa. Em 1942, mudou-se para Manchester, Inglaterra, onde intro- duziu a nova disciplina “Educagao Moderna de Danga” nas escolas. Juntamente com Lisa Ullman, criou o “Art of Movement Studio” e, com Lawrence, a organizagao “Laban-Lawrence Industrial Rhythm” que desenvolveu process0s € tipos de trabalho baseados no movimen- to do ser humano e novas técnicas de selegio, treinamento € coloca- do de trabalhadores em postos de trabalho. Por meio desse trabalho, Laban estabeleceu uma forma de grafar a qualidade kinestética da atuagio individual do trabalhador na industria. Em 1953, Laban mudou-se para Addlestone, onde perma- neceu até sua morte, em 1958. No periodo final de sua vida, ele tra- balhou intensivamente em prol das artes ¢ da danga em seu estiidio, tendo ministrado palestras € semindrios em diversas universidades, além de estruturar os arquivos de seus trabalhos ¢ dos desenvolvidos no “Art of Movement Studio”, fundado em 1954. Teorias de Laban - Os quatro elementos de esforgo: flu- ancia, peso, tempo e espaco. Jordan (1996) explica que, de acordo com Laban, 0 movimento deve ser entendido como algo mais pro- fando do que uma mera mudanca de posicéo do corpo ou de seus membros. Na execucéo de um movimento, ha variacées na diregao, na velocidade, em seu foco, e na prépria energia empregada. Existe, ento, uma variacio constante nestes diferentes niveis de esforgo. La- ban definiu essa variagio como uma interrelagio na fluéncia, peso. tempo ¢ espaco, que foram denominados Elementos de Esforco. Cada um destes elementos tem duas qualidades opostas que ajudardo @ vee 184 + * Técnicas Gestuais de Regénci posicionar 0 tipo de movimento empregado: Fluéncia na qualidade da tensio corporal a que est elementos de esforgo, T Tiago 40 sujeitos todos os outros fambém pode ser descrito do esforco no movimento. Os opostos de fluén so (atado). Fluéncia livre permite que a ener como a naturalidade 4a SA0 livre (solto) ¢ pre- ia do corpo se mova de ‘4 que tiver uma fluéncia uma parte & outra sem testrigdes. Uma pesso, livre total ndo teré peso e serd dificil de parar Fluéncia presa pode ser parada com facilidade, El poral a ficar reprimida, a presa pode ficar tensa até o ponto a forca a energia cor A pessoa que estiver com a fluénci de nao se mover. E a sensacao de forca, carga aplicad: mento. Seus opostos sao leve ou pesado. Movimento contem brandura, la em um movi- eve 6 aquele que delicadeza € a0 mesmo tempo debela a sensacdo de peso corporal. Movimento pesado é forcoso, impetuoso e utiliza a sensagio de peso para causar impacto, Nesse elemento, o movimento sera leve ou pesado, sem meios termos. E necessario compreender que, para regéncia, o dominio da forca levard 4 habilidade de mudar de repente quando necessario. E como se pudesse mudar de peso a vontade. ‘Tempo. Esta relacionado duragdo de um movimento. Os Opostos sio curto e prolongado. Tempo curto é aquele que traz veloc dade e rapidez entre 0s movimentos. Tempo prolongado é sustenta- do, desacelerado, Este elemento est, para a miisica, intrinsecamente ligado a andamento. Espaco. E a forma com que a energia é focada em um movi- mento. Logicamente, também esté relacionada com a direcdo no am- bito do espaco utilizado pelo corpo em um movimento. Os opostos Sio direto e indireto. Movimento direto envolve a concepcio determi nada de foco de um ponto ao outro na movimentacio, Movimen- to indireto contém flexibilidade sem direcionamento, porém, exige consciéncia do ambiente e espaco. Espaco indica movimentagio, ou esparramada e dispersa, ou linear e enfocada. Estes elementos so mais facilmente percebidos em um movi mento quando esto combinados entre si. Nao é facil experimentar Nu Encia, peso, tempo e espaco separadamente, Para Laban, oimportanteé chegar até a fluéncia mediante acombinagio dos trés outros elementos. +185 eo Técnica e Estética + ‘A fluéncia de um movimento, que deverd ser analisada de acordo com a sua qualidade em relagao aos seus opostos, dependerd de como interagem as qualidades de peso, tempo ¢ espaco. Ela nfo existe se- paradamente, Ela sempre ser 0 resultado da interagio dos demais elementos de esforco. Os estudiosos da teoria de Laban elaboraram 0 que chamam de oito grupos de verbos (ou situagdes) de ago, que descrevem as va- riadas combinagdes das qualidades dos trés elementos e indicam que tipos de movimentos so usados para chegar 3 fluéncia. No quadro abaixo, retirado do livro “Evoking Sound” (Jordan, 1996 p. 34), se 140 descritos os verbos ou situacées de aco (coluna da esquerda), as qualidades dos elementos que serio indicados pelas iniciais de cada tum: peso (p), tempo (t), € espago (e), € com exemplos de alguns mo- vimentos destas aces (coluna da direita). a Verbo de agio Qualidades . eee eaeatsstos Exemplos de movimentos cian Se mexer, andar dentro d’égua; boiar; nadar de leve; ato de Leve (p) usar um spray (pintar um Flutuar, boiar —Prolongado (t) carro); deitar de costas, cair no Indireto (ec) sono; se mexer em cAmara len- ta, mexer os bracos em camara lenta. nso enaeaee eee eee eee Torcer uma pega de roupa; Pesado (p) Secar uma esponja ou bucha, “Torcer, espremer Prolongado (t) _espremendo; Abrir uma tam- Indireto (e) pa de garrafa; espremer uma laranja. Alisar uma superficie, 0 braco: Destizar, planar, Lev (P) pinnatiuma perede; descer em escorregar | Prolongado (t) escorregador; limpar a poci Hee scorregador; limpar a pocira de méveis com pano; patinat. Pesado (p) Empurrar um carro; passar rou- Prolongado (t) P# apertar um botio; perfurar Direto (e) papel, grampear; andar contra um forte vento. Pressionar, em- purrar, apertar Gestuais de Regéncia + i Verbo de aco Qualidades = Laban dos elementos Ex¢mplos de movimentos ae Sacudir casca de amendoim da ae limpar restos de borra- ae cha depois de apagar o escrito Sacudir, bater de Ga) iin ganged; miles 06 doa eee manter um ba ar golpeando-o com as maos; manter uma bola de basquete quicando no chio com as mos. Indireto (e) Dar um saque no jogo de ténis; Gaerne a bater na bola no jogo de bete; Pesado (p) jogar a isca de peixe na agua dar um saque,— Curto (t) (peseai) ater ad GORE mover 0s bragos 54 a : rapidamente Indireto (e) violentamente; cortar madeira com machado; rasgar uma folha de papel. Bater & maquina; tocar piano; Tocar de leve, —_Leve (p) pincelar uma parede; dedilhar dar uma pincela- Curto (t) algum objeto; tirar as cinzas de da; relar Direto (e) um cigarro; tocar uma caixa de fésforos com os dedos. Dar socos no ar; socar um tra- Pesado (p) vesseiro; esmurrar uma parede Esmurrar, dar | Cato) ou uma mesa; pregar algo com Direto (e) © martelo; fazer um buraco no chao com enxada. Aplicabilidade da Laban Technique para regéncia No inicio deste t6pico, foi mencionada a dificuldade que ini- ciantes em regncia tém de transportar as concepcdes musicais para estos expressivos. Muitas vezes, esta dificuldade ocorre também com regentes experientes. O Trabalho de Laban aplicado para a regéncia traz efeitos notaveis na expresso. As concepcdes de peso, espago ¢ tempo sio partes essenciais na técnica gestual de regéncia, e precisam ser trabalhados, praticados ¢ exercitados de tal modo que, quando aplicados, trario sempre fluéncia sem rigidez e tensio de movimen- tos, Rigidez nos gestos pode ser prejudicial A sonoridade, causando tensao nas pregas vocais e demais muisculos do aparelho respiratorio, + 187 w+ Téenica ¢ Estética * problemas, no caso de instrumentistas. A m como outros tantos do elemento peso é que regularé a aplicagao de produzir a sonoridade desejada entacdes além das que Quanto mais exerci- consciéncia da exata energia despendida a fim E muito importante que se criem movin foram apresentadas acima para serem praticadas. tadas as combinagbes dos clementos de esforco, maior seré o dominio io dos gestos exigidos para regencia. Para a execucio da miisica, deve-se traduzir a aplicabilidade destes elementos com suas cepe¢fio musical de cada composicio. Por exemplo: que tipo de elemento pode ser usado para reger uma pega répi- da estacato? O “relat” tocar de Teve no ar, pode ser uma boa resposta, Hé um exercicio que, geralmente, exige com que a pessoa fim de se tornar expressivo em seus gestos, regéncia. Este da movimenta expressées gestuais para a con aplique a pantomima a para s6 entao aplicar est tipo de exercicio, juntamente com a aplic mentos de esforco de Laban, desenvolve a criatividade do in além do dominio e da consciéncia da movimentacao gestual relativo a anatomia de cada um: tes mesmos elementos em sua -agio da combinagio dos ele- \dividuo, ne uma pedra de tamanko e peso O professor pede para que st imagin objetivo € jogar a pedra para considerivel na frente de cada um. frente, o mas long postvl do lcal em que a pessoa estd, Pave fazé-o, consideranse as seguintes perguntas: Que tipo de esfrco se deve fazer? Qual o posiionamento do como? Que tipo de impulso se deve tomar? fo? Como se deve segt- Quais as partes do corpo mais envolvidas na agi rar a pedra? Como se deve levantar a pedra? Qual o cenvolvimento das peras, do trax? Em suma, 0 que se deve fazer para jggar wna pesada o mais longe posstvel? pedra idade, aliada a técnica gestual, € a maior riqueza na entendimento das Expressi regéncia, quando exercida apés 0 devido estudo, intengdes do compositor e concepgio musical do repertdrio a ser ex cutado, Estes elementos facilitardo o exercicio da lideranga grupal ¢ ajudardo o regente a obter a atencdo e interesse do grupo, necessirios para fomentar 0 crescimento estético da cada individuo envolvido nesta atividade t4o importante para o ser humano. wee 188

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