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RESTITUICAO DO INDEBITO TRIBUTARIO NOS TRIBUTOS SUJEITOS ‘AO “LANGAMENTO POR HOMOLOGACAO" E 0 ART. 3° DA LEI COMPLEMENTAR Ne 18/2005 Fabiana Del Padre Tomé Doutora em dicito tributério pela PUC-SP Professora nos cursos de especializagéo em dieito tributari promovidos pela PIC-SP e pelo IBET Advogada 1. Delimitago do problema Determina o CIN, em seu art. 168, I, que o direito de pleitear a 10 dos valores indevidamente pagos a tituto de tributo finda-se cam 0 decutso do prazo de cinco anos, contados da data da extingao do crédito tributério," Caso se trate de tributo sujeito a0 denominado langamento de oficio, em que, nos termos do art. 142 daquele diplo- ma normativo, a autoridade administrativa emite a norma individual e-concreta constitutiva do crédito tributério, 0 liame obrigacional ex- tngue-se com 0 pagamento (art. 156, |, do CTN), contando-se 0 prazo prescricional® a partir desse instante. No que diz respeito aos tributos sujeitos 20 chamado langamento por homologagéo, porem, a disciplina legistativa é diversa, tendo em vista a prescricéo veiculada pelo art. 150, 85 1° € 4°, do CIN: 1, Salvo na ipdtese de reforma, anulagdo ou rescisSo de decsio condenatoria (art. 165, Il, do CTN,crcunstincia em que a contagem do prazo aresericonal tem inicio 1a data “em que se tocrardefinitva 3 decisho administrative ou passa em julgndo, 1 decisto judicial que tena reformado, anulado, revogado ou rescingida a decisto ccondenatria" lat, 168, 1, do CTN). 2. Na esteira da lige de Eurico Marcos Diniz de Santi (Decavtcia e prescrigéo no diretotributéra. S40 Paulo: Max Limoned, 2000. p. 254), entendemos tratar-se de prazo prescriional do diteito do contribuinte, e no de pazc decadencal, visto que opera a extingéo do creto de cobraro débito do Fisco pela va judicial. 267 anv 0 ve ‘1800 amet phot, qu cea ust stb cub isaro aia sone ps ode Seater opgenetsen newconedeadiieinattnoge seqeoee eng a trite onan coecer do tia an exer lo ‘expressamente a homologa. moc 5 HOpspnenosiecplo rts chi rostemosdse going cote skcnsneatac ue ant nto “nb fio fs Rony eh tc ocr dt gear: cada est pano sm gaan Pl ea porn cine hor omnes df itvament xine o crt ao se comprovats soca de doe, ted ou simu agao. " * , _ fio batase iso a0 espa sobre a modaldades extintivasd créato utario, © art. 156, Vil, do CTN, exige, além do pagamer to antecipado, ue ocorra st a homologacéo, nos termos do disposto no art. 180, $§ 1° 4° . Jo dis ‘ posto no art. 150, 85 1° 49, Diante de tals precetos, nos quas se observa sere avis pare aextingd do eedo wit confore se ate dk toto {e-com 3 curiulago do "pagamento antecipado” e da sua ‘homologa a ter-se-ia 0 in cio do prazo a que se refere o art. 168, |, do CTI. mee As dist ses sobre o assunt tiveram inicio com o reconhecimento d inonsitui wade departed at. 10d Devos 2266, a1¢ he a intuio erpéstio compusro sobre nso de combustiveis, 8 neque porn Jade, 0 egrégio ST) considerou que a extingdo do crédito tea iza-se somente com a ulterior omologagao do pagomenta, conforme se lepreende do julgado abaixo: , TRIBUTARIO - EMPRESTIMO( Jn ~vecothen eseD “oH, OCONEE tits trata espe cncoko 28 engage note maine gerador, ecrescidos de outros cinco anos, contades do termo final do prazo deferido a0 Fisco, pata apuracdo do tribute devido? Com 0 passar dos anos, o posicionamento daquela Corte foi se con- solidando. Ao julgar o ERESP r* 435.635-SC, a 1 Seqdo do STJ pacificou tentendimento de que o prazo para interposicdo de agbes que versem sobre a repeligdo de tributos sujeitos a"'angamento por homologagao" ¢ de cinco anos, contados da efetiva homologagSo, quer ocorra cla de forma express, quer de forma técita, ‘A despeito das manifestagdes jurisprudenciais, sempre fundadas no texto do direito positivo vigente, foi editada a LC n* 118, de 09.2.2008, dispondo em seu art. 3°: ‘Art 3° Para efeito de intexpretagdo do cis Ido art. 168 da Lent §.172, de 25 de outubro de 1966 ~ Cédigo Tsibutéro Nacional, a extingSo co eréitotributé- Fio oor, no caso de tribute sueto a langamento po: homologagéo, ro momento so pagamento antecipado de que trata 0 1*do art 150 da referida Le ‘Ademals, em razSo de seu pretenso cardter interpretativo, 0 art. 4 da re- ferida LC estabeleceu a sujeigo do art. 3°20 comando do art. 106, ,do CTN, nos termos do qual a eis interpretativasretroagem,aplcando-se a fatospretritos £m face da problematica instalada, passaremos a examinar a possitil dade de atribuir ao art. 3° da LC n° 118/05 0 mencionado cardter “interpreta~ tivo’, procurando delimitar, também, 0s fatos, em retagdo aos quats referido preceito encontra aplicabilidade. 2.0 direito na teorla dos sistemas, ‘A visto sistemiea, trezida para o direito mediante aplicacdo da teotia ‘geral dos sistemas, permite ientificar com ritidez a estrutura fundamental do ordenamento, bem como compreender sua autoformacéo a partir de seus proprios elementos. odo sistema, segundo Niklas Luhmann, apresenta 3 Embargos de Divergéncia em Recurso Especial n° 42.720-5/RS, rel Min. Humberto Gomes de Barros, DIU 174.1996, |. direito do soviedade (Das recht der geselschaf rad. provisriae inésita para espanol por Javier Torres Nafrrate. ls s¢, Sd 269 ran omar {i fungao ¢ i) estrutura, Quando falamos em fungdo do sistema, referimosa ‘oda agdo ou atividade que este deservalve,corducentes a angi os objeti- Os prevstos.Tratando-se do sistema juridco, sua fungéo, em termos geras, consiste na estabilizago das expectativas normativas. Essas expectatives mormativas decorrem das determinagdes do direito posto, que pretendem interferie nas condutas humanas, esiabelecendo coma estas Severn ser O sistema juridico diferencia-se funcionalmente dos demais subsiste- mas socais exatamente por estar incurnbido de garontr @ monutengau de expectativas normativas, ainda que estas venham a ser frustradas em vir. {ude da adogio de comportamentos divergentes daqueles narmativamen. {¢ previstos. (\ cumprimento dessa fungdo, porém, 56 & posiivel mediante Geterminagdes estrutuais, chamadlas “Codigo” e “programat A fungéo do Gireto, de estblizar as expectativas normativas, produz um csquematismo Binario, denorsinado ‘eédigo", segundo o qual as expectativis normativas cumprem-se cu frustram-se.£ esse esquematismo bindrio qui fundamenta 2 identificabiisade do sistema juridico, permitindo selecionsr, dentro das comunicagées do sistema social, aquelas que integram o sistema parcial do direito, Para que 05 cédigos cumpram seu papel na producdo we elementos interes ao sis:ema, impde-se a existencia de programas que determinem Ge quis maneira 0 eédigo deve ser utiliza. No dirt, esses programas Estabelecem er1 que hipdteses a comunicagéo juridica qualificaré como li ito um fato sccial qualquer e em que situacbes 0 identificard como illito. Caracterizam-s? por serem condicionals, equlando @ alacagdo dos valores 0 codigo bindtio, segundo a relagdo implicacional ‘se (,. ent" Convém enotar que o direito postive configura sistema zutopoidtco, apresentando cs seguintes caracteres: (i) autonomia ~ capacidade de su. Pordinar toda a mudanga, de modo que permaneca sua auto-organizagéo, Ai identidade ~ manutengéo de sua identidade em relagdo a0 ambiente, Aiferenciando-s> deste a0 determinar o que é € 0 que nao & préptio 20 sis. ‘ema; (indo possui inputs e outputs - o ambiente ndo influi dietamente fo sistema autonoittico,¢ nao €o ambiente que determina suas ateragbes, Bos qualsquer mudangas decorrem da propria estruturasistemice que pro essa as informacdes externas A teoria da autopoiese foi deserwvolvida,iniciaimente, por Humberto Maturana ¢ Francisco Varella,bidlogos que, numa visio sistémice dos seres vivos dvisaram 4 simultaneidade de fechamento organizacional e abertura Para informacdes advindas do ambiente. Dada a operatividade dessa teoria, 270 — smugla co note mina assou a ser aplicada ao estudo dos sistemas sociais, sendo primorosamen- te desenvolvida por Niklas Luhmann', tomando por sistema autopoiético aquele que produz sua prépria organizacdo, conservando a identidade do sistema ¢, 20 mesmo tempo, fazendo-o sofrer transformagdes incispenst- vyels sua sobrevivéncia, De forma simplificada, podemos dizer que autopoi- tico €0 sistema que reproduz seus elementos valendo-se de seus proprios componentes, por meio de operages internas. ‘A autorreferencialidade também se apresenta como pressuposto da autoprodugdo do sistema, pois, para que este possa gerar-se, isto é, subs- tituir seus componentes por outros; € necessério que haja elementos que tratem de elementos. No caso do sistema social, atos comunicativos cujo contetido seja a gera¢do de outros atos comunicativos; em relag8o ao siste- ‘a juriico, norms que preceituem a produgio de outras normasjuridices. Para tanto, o sistema tem que olhar para si préprio, precisa falar sobre si mesmo, nessa citada autoreferencialidade, A clausura organizacional, caracterizadora da autopciese do sistema, decorre exatamente do fato de que a informacéo advinda do ambiente é processada no interior do sistema, $6 ingressando nele porque este assim o determina, e na forma por ele estabelecida, A clausura nao significa, portan- to, que o sistema sejaisotado do ambiente, mas que seja aut6nomo, que as _mensagens enviadas pelo ambiente s6 ingressem no sistema quando proces- ‘sadas por ele, segundo seus ertérios Pr isso, fio abertos cognitivamente. Em relagdo ao sistema atuam as mais diverses determinagées do am- biente, mas elas s6 so inseridas quando este, de acordo com seus préprios critérics, atribui-lhes forma, Conquanto Gregorio Robles aficme categori- ‘amente que “o texto juridico ¢ um texto aberto’, esté se referindo & aber {ura semantica (cognitiva), mediante a qual o sistema tem seus conteidos modificados. A despeito disso, reconhece que essa regeneragao dé-se por ‘ecenismos autopoieticos, que autorizam e regulam as decisdes ponentes de novos elementos no sistema normativo: Desse modo, o sistem juridico ‘mantém sua identidade em relagéo ao ambiente: O proprio texto cra as agdes que podem ser qualifcadas como juridica,e 0 fato de regula @ ago ndo significa que a a¢80 jurcicaexista antes do text, 5. Social systems Trad. de Joim Bernarez Jt, Stanford: Stanford University Press, 1995. 6. ROBLES, Gregorio. 0 aireito como texto: quatro estudos de teoriacomunicacional €o ireito, Tad, Roberto Barboss Alves. Baruer: Manoe, 2005, p. 28 an Ponce 0H tou mas sm que € 0 texto que a constitu. Por esttanho que posse parecer, 0 homi= «iio como a¢éo juriica 6 existe depois que o texto juriico preserve 0 que é {que st deve entender por homicio? So/at essa ago ingressa no sistema do direito positive, . Essa clausura operativa e abertura cognitiva, nos moldes expostos, so ‘880 possiveis pela existéncia de cédigos e programas especificos para cada sistema parcial. Esses sistemas parciais, como é 0 caso de juridico, qualifi- cam-se em razéo da diferenga com o ambiente, diferenca esta que ¢ consti- ida e delimitada pelas operagdes internas ao proprio sistema, responsavels pela auto-reprodugao de seus elementos, segundo seus perticulares cédigo e pregrama* Ea existéncia de cédigo binario especifico que caracteriza um sistema como auto: referencialmente fechado, com abertura cognitiva a0 meio am- biente. Por neio de cédigo sistémico proprio, estruturado tinariamente en- {te um val negtivo e outro positv, a5 unidadeselemertares do sisterna 40 reproduridas internamente e distinguidas claramente ds comunicagées ‘exteriores. Mas os cédigos se tornam formas vazias caso nic: ‘Sejam combina~ dos com prugramas. Nesse sentido, a autopoiese importa vma combinagso entre codifivacdo ¢ programacéo, possibilitando, assim, a simultaneidade de fechamentce abertura, O sistema juridico pode assimilar, de acordo com seus critérios {codigo © programe’, os fatores do ambiente, sem que seja diretamente influencia- 40 por ees. AS expectatvas normativas ndo sio determiadas imedhata- mente por interesses econdmicos, politica, ética, moral, etc: dependem de processos st etivos de filtragem conceitual no interior do sistema juridico, ‘exigindo a cigitalizacdo interna de informages provenientes do ambiente, Desse modo, reproduzindc a partir de um cédigo binari« (licitofilicito) e de programs (normas juridicas, tals como as veiculadas na Consttuigéo, fem leis, deeretos, decses judicais ete), 0 direito aparece como sistema operaconatinente autonomo Como sistema autopoiético que é, 0 sistema juridico comuta as res- ectvas influéncias apenas mediante seus programs e eédigos, os quai atuam come mecanismo de selecao, fltragem ¢ imunizacdo das influéncias 8. Sobre a au:opoiese do sistema do dieito postvo, se 8 do direito positivo, seu céigo € programa, consulte Se n0sse A prova no dreitotibutéro, Sao Paulo: Naeses, 00S. p. 37-62 m2 ismaco ce weno mine contratitérias do ambiente sobre o sistema juridico. £583 imunizagso as- segura que 35 expectativas normativas sejam tratadas segundo 0 cédiga licitoicito, de modo que os fatores externos sé influam na reproducéo do sistema juridico se e quando submetidos a uma comutacdo discursiva, de acordo com aquela codificago e com os programas jridicos, Cs programas, rna qualidade de suplemento da codificagao, servem para dar direcionalidade 2 semantica condicionada por um cédigo. Somente na presenga de ambos possivel resolver problemas especificamente juridicos, jé que apenas nessa hipdtese tem-se uma contingéncia inerente ao sistema do dire to. Nao exis- te nentum problema de fundamentacdo do direito que no ‘enka que se -solucionar no proprio direito. Por iss0, 0 dirito positivo existe unicamente produzido no proprio sistema, 3. Seguranga juridica no sistema autopoiético: relacionamento entre sistema juridico € ambiente Lourival Vilanova® assevera que o direito se apresenta como uma “lin- ‘quagem material, sempre aberta ao acrescentamento de enunciados funda- dos na experiéncia, que é infinita no sentido kantiano’. Tal afrmagao deve ser entendida como referente a abertura cognoscitiva do sistema juridico, pois este, conquanto aberto em seu aspecto semantico, ésintaticamente fe- chado, como se depreende dos ensinamentos desse mesmo autor®: “Como 0 diteita no é um sistema nomolbgico-dedutivo, em que seus enunciados derivem implicacionalmente de outros enunciados, um sistema fechado, ‘mas um sistema empirico aberto 0s fatos 0s fatos nele ingressam através de normas” Nada ingressa no sistema do direito que no seja ¢elo modo por cle préatio definido: @ forma normativa, E pela conjugagéo entre cédigo € programa que se obtém esse fe~ rnémeno autopoietico, garantindo, simultaneamente, seguranga juridica eo relacionamento entre 0 direito posto e o ambiente. Aseguranca juridica pode ser considerada em duas variantes: (i) garan~ te que os assuntos sejam tratados exclusivamente de acordo com 0 c6digo do dirsto, sem interferéncia de qualquer outro interesse no contemplado pelo ordenamento; ¢ li) confere certa prewsiblidade as decisOes jurfdica, 9. Asestruturas ligices ¢ o sistema do dreto positive Sdo Paulo: Noeses, 2006. p. 38. 10, Cousoidode relaga na ditita, 4 6, Séo Paulo: Revista des Tribunals, 2000p §§ a anne ce at em razdo do contetido determinado pelos programas do direito, Tendo em vista, porem, que as decisbes s8o fortemente influenciadas pela subjetivida- de do julgador, optamos por considerar a seguranca juridica, em seu sentido estrito, cemo aquela referida na primeira variante: a exigéncia de que os fotos pare ingressarem no univers juriic, submetam-se 20 céaligo“icitol ilicito® Apenas apds a atuacdo do préprio sistema juridico € que os fatos sociais passam @ integrar o mundo do direito, surtindo os correspectivos ecitos Esse € 0 modo pelo qual sistem juridice e ambiente se relacionam, camo exalica com propriedade Paulo de Barros Carvalho": ‘que pode acontecer ¢o sistema S'tomar conhecim:nto de informagées do sistema S* e processar esses dados segundo seu cédiga de diferenga, vale dizer, submetendo-se 20 seu peculiar criteria operational. Em linguagem jurl- ica, +0 drita recebendo fatos eronémicas, por exemple, em suas hipbteses ormutivas 3 partir delas,produzindo novasrelages jriieas por meio dos opera ores dedntios IV, PO) Sem yorma, um fato qualquer nao adquire qualificac 0 de fato juridi- co. Eo sistema normative que decide quais fatos sdo juridicos e quais no sto apreerdidos pela juridici¢ade, ou, como refere Lourisal Vilanova’, os fatos que trazem consequéncias juridicas e 05 fatos que so juridicamente irtelevanter: “o constituiter-se ou desconstituire-se fz tos juridicos de- pende de rgras de formacao do sistema’ 4. Alguns :omentarios sobre a decadéncia ¢ a preseri¢o no direito tributario Decar’éncia e prescrigéo, segundo Eurico Marcos Diniz de Santi, *s30 mecanismes de estabilizacdo do direito, que garantem a zeguranga de sua esteutura. Filtram do direita a instabilidade decorrente da inefabilidade do direito subjetivo, ie, do direito subjetivo ainda no formalizado, ou reco nhecido, por ente estatal: Trata-se de conceites juridico-positivos, yue 0 1. Ditto aibutéro: fundamentos juridicos da incidéncia, 3, ed. S8o Paulo: Saraiva, 2008. 104 12, Cousoliede erelagéo no dieitap, $4 12. SAN, Eurco Marcos Diniz de. Decadtncae reseritéo no aireto tibutira p14, 274 uso to note asin préprio ordenamento insttui e regula, determinande seus caracteres, ter mos inicias, prazos, ete. Esclarece Luciano Amaro” A certeza € 2 sequranga do dirito no st compadecem com a perma- néncia, no tempo, da possbldade de itis instaurdves pelo suposto ttlar de um drito que tadiaente vena areclamést. [Por iss, esgotado certo azo, asinalado em lei, pestigim-se a certeza ea stguranca, € sacrica-# 0 eventual dirito daquele que se manteve inatvo no qu respeita & atuagéo ou defesadesse dit. No ambito tributério, as relagdes juridicas instalam-se entre o contri- buinte 0 isco, podendo ter por objeto oerédito de qualquer desses sujeitos. Costuma-se denominar “crédito tributério’ 0 direito subjetivo do Fisco de receber prestagio patrimonial, enquanto 0 dever juridico do Fisco de devolver certa quantia er dinheiro ao contribuinte (dreto subjetivo do contribuinte) € chamado de “débito do Fisco’ Em ambos os casos, veriica-se existéncia de rnormas de decadéncia e de prescrio: i) decadéncia dodreita do Fisco cons- titur o crédito tributario [perecimento do cireto de langar); (i prescrigéo do direito do Fisco exigir o crédito tributdrio constituido; fi) decadéncia do reito do contribuinte pleitear na via administrativa a resttuiggo do indéti tributario; ¢ (iv) prescriggo do direito do contribuinte requerer judicialmente 2 devolugdo dos valores indevidamente recolhidos a titulo de tributo.* Decadéncia e prescrigdo s80 realidades constituidas pelo proprio sis- tema juridico, a este competindo disciplind-las. € 0 que fez o legistador do CIN, conferindo ao assunto tratamento peculiar € distnto do observado na esfera do dieito privado Posto isso, e considerando as varias perspectives nelas quais o tema pode ser estudado, interessa-nos analisar 0 conteido significative da norma de prescrigdo do débito do Fisco. Sua aplicago, nos casos concretos, depen de do instante em que se veifca a extingdo do crédio tributsrio (art. 168, |, do CIN), motivo pelo qual discorteremas, no préximo tépico, sobre ¢s5a particularidade dos vinculos abrigacionais tributérios. 4 Ditetotoutdriobresitere 10. e6, S20 Paulo: Staiva, 2004, p 38. 15 sas quatro modaldades normativas comportam desdobramentos, caso stjam ern= regadas novas varvestais como pagarento anteipado, rotificagio de medida preparatéria do ancamento, anuagio do lancamento anterior, constituiao coeréito ‘elo contribuinte,dentre outros Sobre o assunto consulta SANTI Eurico Mateos Diniz se. Decadéncia preserigéo no dieto tibutria p. 161 es. m5. rsa on tout 5 Processo de positivagio do direto, constituigdo ¢ extinggo do erédite tributario O rrominamos pesitvagso do dirito 0 processo mediante o qual o Splat, partido de normas jursicas de hieraquia superior produz novas eieonram-se ne Constiuigbo da Repsblia: sto acomoeténle beens cones SS fundamento de valid, legis rodu nomen cece € abst insttuidores dos tibutos: so as regas mstizese renee irbuta, desrevendo conctatvamente, em sua hpdtse.fatode avery caren eesablecend, no consequent, aintalacd dereaae ones Cus taps rlaciona,Avangando cada vez mais em desi dhegina ae comportamentosintersubjetvosospicsdor de deta cua nantes ual €conereta, relatandoo evento ocorid ,porconsezuinte corsa a 0 fto Juric tribuario ea cortespondente ogacte Ar icacdoda norma gral abstata para isd constiuigdodo vineulo obrigaconal butte, pode ser ealizada peo contibunt ou poraueorns asminstatva. Na primeira hipbtese,tem-seoimpropiariente dena vcg lancarten 0 pox homoogagte,em que partcularemite vnarme mae & concrete, constiuindo, ee préprio sua ebrigasaotibutaia Poreee cae Quando 2 obrigagdotiutiia€ consttuida por ao adm nstatva, eta Giantedo,ancamentotribuaria,referido pelo art. 132 do cme O.CTV estabelece em seu art. 142 Ant 142 Compete prvatimente&autoidads admin sratva constitu 0 Creat) tbutvo peo langamento, asim enter oprocedinento administer sees nts ercaraccrrtcia do fata grado da cbigdocorespondente eterna @ materia ributével calelar o montane eo vibutoderid, Bente 0 Suj6t0 pasivo send caso propor a aplcagéo da penaldede cabhel 82 tdade, nos termos do pardgrao nico, vinculada eobrigatéx ‘la, sob pena de responsabilidade funcional Segur do Alberto Xavier", poder-se-ia pensar cue, exstindo definigdo ‘egal expressa,estaria, desde logo, resolvida 2 questio preliminar da fixagdo 16 Do lange Yento: tera geal do ato, do procedimentoe de proceso tribute 2, fio de Jantiro: Forense, 1997, p. 23. 276 ‘smu co wean rain do conceito do instituto que nos ocupa, Nao é, porém, desse modo, tendo fem vista que 0 art. 142 do CTN apresenta diversas imprecisées, gerando dlvidas € controvérsias a respeito do assunto, 0 referido dispositive faz mengdo a um procedimento administra tivo, enfatizando 0 cardter dinamico, procedimental da atividade de apli- cagdo das normas juridicas tributérias. Entretanto, essa alusdo ao prisma a dinamicidade do direito tributario leva & ambigiidade na definico de langamento: trata-se do procedimento ou do ato juridico-administrativo Conclusive daquele procedimento? Colabora para essa indeterminacéo, também, 0 indicativo de suas fases de desenvolvimento, consistentes em ve rificar a ocorréncia do fato gerador, determinar a matéria tributavel, calcular ‘O-montante do tributo devido e identificar 0 sujeito passivo, pois se trata de tapas procedimentais.necessirias 3 operagdo légica de subsungéo, que nau $e confundem com 0 ato, tomado como resultado do procedimento. Ademais, peca 0 art. 142 20 relacionar, como um dos objetos do lan- samento, a propositura da aplicagdo de penalidade cabivel. Com tal est ulagdo, coloca no mesmo plano o ato de aplicagio da regra-matrie de incidéncia tributaria, as normas sancionatérias pela auséncia de pagamento do tributo e pelo descumprimento de deveresinstrumentais.Explica Estevlo Horvath" que, desse modo, tém-se englobados, sob um mesmo nome, dois {0s distintos e inconfundiveis: 0 ato de langamento propriamente dito e 0 ato de aplicacéo de sangéo, normalmente denominado auto de infragao, os, guais, embora geralmente plasmados num mesmo documento, slo realida- des juridicas diversas. Em outros pontos, porém, aquele preceito do CTN dispde de forma harménica com 0 restante do ordenamento: (i) estabelece ser olangamento de competéncia privativa da autoridade administrativa, evidenciando sua natureza de ato administrativo; e (i) alude ao cardter constitutivo do crédito {ributario, Para sintetizar, utiizamo-nos da definigdo empregada por Paulo de Barros Carvalho" que, a nosso ver, reflete com clareza e compietude 85 caractersticas do langamento: trata-se de “ato juridico administrativo, dda categoria dos simples, constitutivos ¢ vinculados, mediante 0 qual se insere na ordem juridica brasileira uma norma individual e concreta, que ‘tem como antecedente o fato juridico tributario e, como conseqiiente, 2 formalizacéo do vinculo obrigacional, pela individualizagao dos suites ati- 17. Langamento tributévoe “utolancamento” Sdo Paulo: Dilética, 1997. p. 60. 18, Curso de dirt tritutivio. 17. ed, So Paulo: Saraiva, 2008. p 286, a Ve € passive, a determinacdo do objeto da pestago, formado pela b Ge caleso corespondente aliquot, bem como pelo estatelecimenta termos espago-temporais em que o crédito de ser exigdo! Tal enuncia Sefiitrio permite vsualizar no langamento o carder de ato adminis ¥, coro norma individual econcreta,além dos citer Seu con:eio signifeativa Si vagdo divers €aquela em ques norma individual econ ‘tuior oft jr tibutn edo conepondene tome cesar 6 expedda pelo particular. Nesse caso, o ato de formalizaggo ndo se enc auadrs ns defniggo do conceito de angamento tibctario por faltecthe 1a composgdo, 2 participa de agente putlco cor 2 «isso, €comumente denominado lan plc Alberto Xavier ios determinantes de te. A despeito | \gamento por homologacdo, como exe ralizou-se uma classificago, prete isamente baseada no. Entve nds ger ebro a iniciatva da 0 ciitério classificatério que leva a identificagdo cessas trés moda~ lidades de “langamento” reside no grau de participacau do contribuinte NO procecimento que culminard no ato constitutive do crédito tributario. Entendido langamento como ato, porém, chegamos 4 concluséo de que tangamen’ 0 € um s6: 0 chamado langamento de ofici, pois se trata de ato exarado purr autoridade administrativa, nos exatos termos d9 art. 142 do CIN. No chama to langamento por declaragdo, a constituicdo do crédito também decorre de norma individual e concreta Produzida pela Administraao, nao 19, Opt, 1.70. 278 esr co wear m0 diferindo do langamento de oficio. A participagdo do administrado restrin- (ge-se 30 cumprimento de deveres instrumentais, existentes, também, nos denominados langamento de oficio, em que o contribuinte tem de cumprit deveres dessa especie, tais como escrturar livres, emitir notas fscais, ete. Os deveresinstrumentas s4o imprescindiveis 4 operacionalidade da tributaglo, pois é com base neles que o Fisco constitui o crédito tibutario, introduzida no ordenamento pelo ato de langamento. © denominado langamento por hhomologagio, por sua vez, nada tem de lancamento. Nao é exarado por au- toridade administrativa, mas pelo préprio particular: 0 contribuinte quem, cumprindo deveres instrumentais, consttui o crédito tributatio, Nessa segunds modalidade constitutiva, 0 contribuinte efetua 0 pa- gamento antes de qualquer manifestagao do Fisco (sagamento antecipa- do}, motivo pelo qual o CTN impée, como condiggo a0 desaparecimento do crédito tributdrio, a homologagéo pela Fazenda Publica (art. 150, $ 4+. 0 sujeito passivo pratica uma ste de atos, culminando com a antecipagao do pagamento do tributo, enquanto a Fazenda Pblica se limita a exercitar 0 controle, homologando expressa ou tacitamente os expedientes realizados pelo contribuinte. Com tal expediente, a autoridade administeativa certifca ‘a quitagdo, funcionando como espécie de “certidao de dtito” que faz desa- parecer a obrigagao tibutéria. Percebe-se que, apesar de 0 ciédito tributdrio poder ser constituido pelo contribuinte, sem qualquer participagdo da autoridade administrativa, 0 legislador houve por bem exigir, para sua exting8o, a interferéncia do Fisco. A disciplina juridica conferida a0 “pagamento antecipado" é, portanto, dis- tinta daquela relativa a0 pagamento puro e simples. Ao discorter sobre esse onto, acentua Paulo de Barros Carvalho que, néo obstante o pagamento antecipado seja uma forma de pagamento, odieito positivo brasileiro erigiu certa peculiaridade no que diz respeito ao primeiro: ‘nds que o factum do pagemento tenha efeitos extintives,requer a l= islago aplcdvel que ele se conjegue 20 ato homologatrio a ser realizado (comisiva ou omissvamente pela Administra Pablica. So assim dar-se-8 gor Aissotvido o vincuo, diferentements do que sucede nos cas0s de pagamento de dlivda wibutvia apurada pr langamento, em que @ conduta prestacional do devedor tem o condo de pr fm, desde logo, obrigao tributiria, 20, Dieit troutério, p. 214 79 Nota-se, pos. que dependendo da modalidade de constitugdo do ere Cito tributario, o momento da sua extingéo também é varidvel Sendo Ge tribu 0 sujeito 2 langamento de ofico, basta 0 gagamento (art is6 de CIN, Tratando-se,porém, do chamado “iangamento por homolagac&ohy © fato extintivo do ereditotributdrio opera-se mediante opreenchimenta de dois req_ isitos: (i) pagamento antecipado: ¢ (i) hom a 4 Sere stos pn ipado; (i) homologacéo do pagamento 6. Prazo prescricional para restituigdo do indébito tributério gq U8 due Sio duas 2s formas pelas quaiso crédito pode ser conti ‘vido: (i) por ato adninstrativo de langament; ou (i) por ato Go proms” Suto pass, em cunprimento a devernstunenal renege oe Obrigaciona, por sua ez, também acorre em instants ditnts-() haven! langament, no time do pagamento; oui sendoo ered constituido velo Contribuinte, no momento da homolagacdo pela autridade administra Tals carticuardades interfere na contagem do prazo presereionel ara restluigdo de valores indevidamente recohidos a titulo de tnbuto, visto que seu termo inca, segundo oar, 166 |, do CT, corresponde exa, tamente & date da extingdo do crédito tributrio, Por va de conseqdénci Sendo case de langamento de ofici, ocorre a prestigdo apes cinco ance Contados co dia do pagamentoindevdo, De outro ado, send hipotese de tru suit a angen por amaogacb, 0 pend sos eee inicio com 2 ato homologatrio do Fsco. Lago, sea homolagagéo € tilts Prescrgdo 40 dreto do contrbuinte ocore somente quar do transeorrdee Cinco anos 2p65 0s outros cinco anos de que a Administrago dspune para exereer 0 controle dos atos do contribunte. al falar-se na tese das dee anos do dieto de o contribute peitear a restitucdo do débito do Fises também conhecida coma “tse das cinco mais cinco : 7. Naturezii modificativa do art, 3° da LC n° 118/05 Todo enunciadolirgustico apresenta forma e Fungo. foi anotado em {rabatho anterior” que erienta atengdo para as formas da linguagem sign- 21, Op cit, , 26 280 smug 0 nota mating fica ingressar no ambito gramatical do idioma, mais especificamente em sua sintaxe, entendida como parte da gramatica que examina as possiveis opgSes no que concerne & combinagdo das palavras na fase. AS fungOes dos enun- ciados, entretanto, no se encontram presas & forma pela qual ests se exte- riorizam. Como acentua Irving M. Cop, as estruturas gramaticas oferecem apenas precétiosindicios a respeito da fungio, sendo lito ao emssor utilizar determinada forma para expressar diferentes fungées, conforme ocontexto.O art. 3*do CIN, por exerplo, define o conceito de tributo: "Tibuto £ toda pres- tagdo pecunidria compuiséria, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que ndo constitua sangéo de ao ilicito, instituida em lei e cobrada mediante ativdade adminisativa plenamente vinculadat Nao obstante a forma decla- rativa desse enunciado, sua fungéo € prscritiva, encerrando a ordem de que, a0 ser instituldo tbuto, este deve apresentar determinados caracteres. Para identificar a funcdo linguistica, necessério se faz que o intér- prete abandone @ significagdo de base inerente a toda patavra, buscando @ ‘compreensio do discurso dentro da amplitude contextual em que se encon- ‘tra, examinando-o segundo os propésitos do emissor da mensagem (plano ppragmatico), E preciso deixar bem claro que nenhuma manifestagdo de linguagem ‘exerce uma Unica fungi. H4, sempre, uma fungo dominante e diversas ‘outras que a ela se agregam no enredo comunicacional, tornando dificil a rmissfo de classifica-Ias, Para superar esse obstéculo, sugere Alt Ross” que ‘tomemos 0 efeito imediato como critério classificatério, Desse modo, par~ ‘indo do crtério do efeito imediato ou fungdo dominante, podemos clasi- ficar as linguagens.a partir do animus que move o emissor da mensagem, identficando as seguintes fungoes:() descriiva; (i) expressiva de situagbes ‘subjetivas; (il) prescitiva de condutas; iv) interrogativa; (v) operativa; (i) factica; (vi) persuasiva; (vl). afésica; (ix) fabuladora; ¢ (x) metslingGistca, Interessa-nos por ora, analisar os caracteres predominantes das func6es Uisticas descritiva e prescritiva de condutas, Alinguagen descrtiva, também chamada de informativa, decaratva, indicatva, denotativa ou referencial, exerce a fungéo de transmitir conheci~ rmentos ordinérios,técnicos ou cientificos, mediante afirmacdes cu negagbes. Seus enunciados submetem-se aos valores de verdade ¢ falsidade, uma vez -que a eles se aplica a légia clssica, apoféntica ou alétca, 22, Introdugéo& légica. Trad. de Alvaro Cabel Séo Paulo: Mestre Jou, 1974. p. $5. 23, Légica de las normas Madrid: Teenos, 1971. p. 28. 2a ron 0 espécie de crunciados no se emporegam os valores verdadeie ¢ fo, mas valido e ndo-vdlido,inerentes a légica dedntica. € a fungso lingtistica predo~ rminante nas proposig6es jridico-positvas, que se direcionam as condutas tersubjetivas fara alterd-las. Norberto Bobbio, escarecendo a distingso entre forma gram tia entensida como o modo plo qual proposgdo € exes sua fungi, cnsistenteno fim a que se propde alcancar aquele que a pronun- Gi, conta sea Fungo preserve propria da linguagem normatia, que con- siste em “dar comandos, conselhos, recomendagées, adverténcias,infiuenciar 0 comportameto alhelo e modificd-1o: Lourival Vlanova’, enfatizando essa fi- ralidede, leciana:“Altera-se 0 mundo fisico mediante o trabalho ea tecnologia, aque o potencis em resultados. € altera-se 0 mundo social mediante a lingua~ gem ds normas, uma classe da qual inguagem das normas do deta: Firmadas essas premissas, € possivel conclit, desde logo, que nenhu- ima norma jusidica pode ser considerada meramente interpretativa, Todo preceito legal introduz madificagbes no sistema do direite positvo, ainda ‘que exteriorizado na forma deseritiva. Uma norma nao diz como as coisas mas como “devem ser' Dito de outro modo, ou a nor na & prescritiva ‘au no é norma, Mesmo quando o conteddo significative da nova regra seja ‘ou pareca idéntico 20 de prescrigéo j existente, tem-se nadificagéo no sistema do cirito positivo: trata-se de novo enunciado, decorrente de ato de fala (enunciago), diverso daquele antes exstente Posto iso, € considerando 2 expressdo “sistema do direto positive" como refere te a0 conjunto das normas juridicas estatica nente conside- radas, pode-se afirmar que @ cada alteragao legislativa tem-se um novo sistema do sreito posto € o que acontece na situacdo ore examinada: no momenta T,, anterior & edigo da LC n° 118/05, existia um determinado sistema juridico brasileiro; no instante subseqiente T,, apés 0 advento da refer Lei, c sistema passou a ser outro, diferente do anterior, tendo em vista as noves regras criadas. Nao restam davidas, portanto, de que o art, 3° di LC ne 118/05 apresenta cx:ater modificativo, Conquanto o art. 4° dess: diploma legal a. Teoria do wrmajurdico. Tra, Fernando Pavan Baptista e Avani Eueno Sudati. $40 Paulo/Bau-v Eipro, 2001 . 77-8 25, As esteutras legicas€o sistema do dito postive, p. 34 26, Nesse sen ito leciona MOUSSALLEM, Tarek Moysés Revogasdo ein matéiotributd- ria, Sb Peo: Noeses 2008, p. 123 es. 282 esa wear e0 pretenda atribuir-Ihe efeito interprettivo tal determinacdo no se Coa una como diteto positivo brasileiro, o qual tém seu conteuido alterado a cada nova preserigéo introduzida, Desse'modo, 20 redigiro art. 3%, que dispée que “para efeito de interpretacdo do incso | do art. 168 62 Lert 5.172, de 25 de outubro de 1966 ~ Codigo Tributario Nacional, a extin- ao do crédito tributario ocore, no caso de tributo sujeto @langemento por homologagto, no momento do pagamento antecipado de que trate 65 to art 150 de referida Le’, 0 legislador introduziu no ordenamen- to nova reara, aterando os requisitos necessrios @ extingao do vinculo brigacional tibutério e, por conseqiiéncia, impondo novo termo inicial para contagem do prazo prescicional do cireito do contrbuinte, Vale lembrar que 0 direito, como sistema autopoiético, produz sua répria organizagéo € mantem, assim, sua identidade: 0 sistem jurisico fiferencia-se do ambiente em que'se encontrainserto, determinando, ele roar, agullo que 0 integra ¢o que no faz parte dele, De tal proprieda He ndo estapam 0s fatos extintivos dos liames juridicos,e, mult menos, fs Insttutos que se voltam & estabilizagSo das relagbes entre 05 sujeitos decdireito, como ¢ 0 caso da decadéncia eda prescricdo. Assim, tendo erm vista que nada ingressa no sisterna do dirito que mdo sea pela forma vhormativa, somente a partir da edigao da LC né 118/05 € que o requisite sxtintivo da obrigagéo tributériaconstituida mediante norma ingividual t conereta do contribuinte (langamento por homologacao) pass@ @ ser 0 fato do “pagamento antecipado’ . a. Seguranga juridica, retroatividade da lel tributdria eo art. 3° da Lc ne 119/05 ‘As normas juriicas sto editadas para projetar efeitos para o future. esse sentido, tem-se expresso na Constituiggo da Replica o prestigiade principio da lretroativdade das leis segundo o qual 2 lel no erejudcars Piet adquiido, o ato juridico perfeito e'a coisa julgads art. $+, OXV) Nao bastase esse dspositvo, oconstituint insereveu, entre as Timitagoes 0 poder de tribute’ oar. 150 Ilo consagrendo alo principio da ireror atividade das leis tributarias. ‘ art, 108 do CIN, porém, pretendendo excepcionar tal regrs, relacio~ na situagées em que @ legistagdo tributaria encontra aplicagao para fatos passados: 283 rao moa ve ‘At. 1)6.Aleiaplca-se @ ato ou fato preterit: | em qualquer caso, quando seja expressamente interpret a aplicagta Je penalidade 4 infagia dae disperitivos interpretados; 11 tratando-se de ato néo definitivamente julgado: 4] quando deine de defni-o coma infagéo; ) quando deve de traté-lo como contrdrio a qualquer exigéncia de agio ‘ou omissio, desde que no tenha sido fraudulento € no tena implicado em falta de pagamerto de trbuto; €) quendo the comine penalidade menos severa que 2 pcevsta na lei vie gente 20 tenipo ce sua prétice iva, exude Oiinciso I cecore de interpretagdo sistematica do Texto Consttuciona estendendo as intraéestributarias 0 disposto no art. XL, da CF: le penal 1nd retroagira, sevo para benefciaro réut O at. 106, I, consagra a possbl- dade de retroagéo das normas de dceltotributéio-penal quand a inovaggo legislatva beneficiar o contrbuinteinfrator. Seu conteddo & perfeitamente compativel com as demas regra do sistema Oiincso |, no entanto, parece-nos néo ter aplicabilidade alquma, visto que toda norma juriica acaba inovando, de alguma forma, o orenamento, Ainda que olegisador denomine algumas regras de “interpretativas’, estas produzem alteragdes no sistema, motivo: pelo qual hao de se sujeitar 20 primado da irret‘oatwvidade. Esse € 0 posicionamento adotado por Carlos Maximiliano®, pera quem a chamads interpretacdo auténtice, enanaca do proprio poder que produziu o ato interpretado, pretendendo sclarar seu sentido e aleanct, sd se aplca 20s casos futuros Reieita esse coutrinador 2 atribugho de ciate retroatvo as lis interpretativas 5 qua, 2 eu ver, no vigoram desce @ data do ato interpretado,devendo respeitat os direitos adgquiridos em conseaiéncia do entendimento conferido, até rntio, pelo 6rg8o aplicador (Judiiério ou Executivo), Semelhante € o posicionamento ‘do Min, Caos Mirio da Silva Veloso, manifestando Nios sistemas constitucionais eomo o nosso, em que a regra a itvtroati= vidade situa-e em nivel consttucionel endo apenas de lei ardinaria, impossivel 27 amar ope do dt 8. ide et: or i 3. ide ee: Foes. 197 08 24 VLOG, iGo S netontate oe uta =a ate tore pst deen eerie campus Rest del Tt ta So Pu Risa cs rural n #8 p88 286 eso to notre sano falar-se em lei interpretativa. Admiti-a seria permitir a0 legistadorordindri, @ pretexto de estabelecerregra de interpretacdo ds ei, 2 pretext de fornecer @ imerpretagdo auténtica dale fazt-a etait Como anotado, a fungdo do direito positivo € estabilizar as expectati- -vas normativas, Sua linguagem é, portanto, prescrtiva, Ainda que apresente 1 forma descritva, seu conteido € sempre prescritivo: orienta as condutas intersubjetives. Logo, no "8 que falar em norma interpretativa. £m conse aqjiéncia, nfo pode o legistador fxar 0 inicio da vigéncia da lei (ainda que por cle considerada interpretativa) em data anterior & de sua publicagdo, pois com isso estar-se-ia violando o principio da iretroatividade, bem como destruindo 1 seguranga juridica, Tal attude & ainda mais absurda quando nos lembramos que odireito se realiza no contexto de um grandioso processo comunicacional, impondo a necessidade premente de conhecimento das normasjurdicas pelas pessoas a que se driger, endo o momento dessa ciéncia 0 marco preciso do instante em que a norma ingressa no ordenamento do dreito posto. Procurando resguardar a seguranca ¢ 2 estabilidade das relacées ju~ ridicas, 0 ST) pronunciou-se sobre o assunto, reconecendo 0 cardter mo- dificativo do art. 3° da LC n 118/05, bem como a impossibiidade de sua aplicagao a fates pretértos ‘TRIBUTARIO. REPETICAO DE INDEBITO, TRIBUTO SUJEITO A LANCAMEN- 10 POR HOMOLOGAC&O. PRESCRICKO. NOVA ORIENTAGAO FRMADA PELA 1" ‘SEGAO DO ST) NA APRECIAGAO DO ERESP Ne 435 835)SC LC N° 118/2008: NA- ‘TUREZA MODIFICATIVA (E NAO SIMPLESMENTE INTERPRETATIVA) 00 SEU ARTI 660 2 INCONSTTUCIONALIDADE DO SEU ART. 4, NA PARTE QUE DETERMINA A ZABLICAGKO RETROATIA ENTENDIMENTO CONSIGNADO NO VOTO DO ERESP NY [27 OAD COMPENSAAO, TRIBUTOS DE DIFERENTES ESPECIES, SUCESSIOS REGIMES DE COMPENSAGAO APLICACA RETROATIVA QU EXAME DA CAUSA A LUZ 00 DIREITO SUPERVENIENTE.NVIABILIDADE, JUROS. 1LA1*Segdo dal no jugament do ERESP ne 4353835)5C, Rel pl oacéetto Min Jos Delgado, sso de 74.2004 consagrou o entendimento segundo o qual copraoprescrcoral gra pleitar a restiigi de utes sujitosalangamento por romologalo é de crc anos, contados da data da homologacdo do langameto, aque fr tt, oor 2pbs cinco anos darealizaco do ato geradr~ endo ine- levante pra fins de cimputo do prazopesriional a couse donde.) 2.0 art. 3°65 Cn 1182005, a pretext de interpreta os ats. 150.5 ¥ 168, do CT, confeiu-thes, na vale, um sentido € um cance bierente =~ 285 rao Se om hi como negar cue 2 Le inovou no plano normative, pois retitou das dsposicdes aquele dado pelo Judicirio.Ainda que defensive! a “interpretagio" dada, interpretadas am dos seus sentidos possives,justamente aquele tio como correto pelo ST, intésprete e quardido da legisiagdo federal, Portanto,o art. 3 da LC nt 118)2008 sé pode ter efcacia prospective incidindo apenas sobre situagdes que veninam a ocerre a partir da sua vigéne’ 3.0 art. 4, segunda parte, da UC n# 118/2008, que determina a aplicagdo retioativa do seu art. 3°, para alcangar inclusive fotos passados,ofende o prin- cinio constit-cional da autonomia ¢ independéacia dos poseres (Fart. 24) ¢ 0 da garantia¢odireita adquirido, do ato juriico peteito eda cosa juigada (CK art 52,0001. [4] 13, Recurso especial adesiva ndo conhecido 14, Rev urss especiais a que se nega provimento.* Ate mesmo Eurico Marcos Diniz de Santi, cujo posicionamento € no sentido de que 4 extingdo do crédito tributério da-se com 0 pagamento, nao ficando condicionado 4 homologacdo, reconhece que a jurisprudén- cia do ST legitimou as expectativas normativas dos contribuintes quanto 3 contagem do prazo prescrcional para repetir 0 indébito tibutdrio. Por esse motivo, conclui o autor, “a LC n* 118/05 n8o pode voltar ao passado. Seus dlispositivos com novos prazos s6 se aplicam para novos ‘fatos geradores' do direito & repetiggo do indebito do contribuinte que surgirem 2 Fart da sua vigéncia (gia 09.6.2005):2° ‘A norma juridica veiculada pelo art. 3° da LC n° 118/05, conquanto se autodenomin® "interpretative", introduz alteracdes no sisterr a do dieito posto. Logo, seu efeitos hdo de ser projetados para o futuro, sen inaceita- vel sua aplicacac a fatos passados. Esses“fatos futuras” a que se faz referén- cia, sujeitos a0 comando do dispasitivo em exame, nfo consisters nas ‘agdes ajvizadas apés © de junho de 2005", ou seja, nfo abrangem o: pedidos de restituigdo realisados apds a entrada em vigor da norma que altera 0 prazo prescricional pa 2 a restituigdo do indébito tributério. Tendo en: vista que © art 3° disciplina 0 instante em que se considera extinto o crédito tributario (cermo inicial do prazo presericional do direito do contribuinte), apenas os jagamentos inc evidos realizados sob sua égide estéo a ce suje'tos 3p. 1 Turma, REsj 672962-CE, Rel. Min. Teor Albino Zavaskj 1462008. 130, Decadénciae arescrgso do dirito do contribuintee a LC n® 18: ent regrase prin cipios, 177, 286 PRESCRIGAO DO DIREITO DO SUJEITO PASSIVO A RESTITUICAO DO INDEBITO TRIBUTARIO E A NORMA *INTERPRETATIVA" DO ART. 3° DA LC 118/205: FUNCAO OPERACIONAL, ESTRUTURA E \VALIDADE* . Thiago Buschinelli Sorrentino , Mestrando em dirito tributirio na PUC-SP 1. Introdugéo fste ensaio deverd investigar a estrutura ¢ 0 alcance do dispasto no art. 3°da LC 118, de 09.2.2005%,respondendo as seguintes indagacoes: 2) Qual € 0 tipo de operagéo realizado pela norma prevista no art. 3° da Le 118/2008 no sistema juridico? Como os influxcs provenientes da comunicagio jurisdicianol e doutrindria afetam a determinacso do alcance do dispositive? 1b) A norma que se auto-refira como “interpretativa® viola 2 divisdo de competéncia constitucional conhecida como “separagdo de Poderes"? «) Para um “fatojuridico do indébito” que tenna ocorrido antes da exis- téncia do enunciado “interpretativo’, mas que serd colhido por ato de aplicagdo de diteto durante a vigencia da nova norma, ha protbigao para que o 6rgéo jurisdcional apique t8o-somente os antigos enun« ciados? 4) Para a mesma situacdo, ha direto subjetivo do sujeito passivo & apli- cago de orientagdo mals benéfica, fundada na antiga redagdo dos enunciados? T7 autor agradece 20 amigo Aldo de Paula J. pelos gentis¢ valosos comentarios realizados por ocasdo da producto do texto que serviu de base a este artigo. 0 tutor agradece tambérn & Mesa Examinadora do XIX Congresso de DretoTributri, pelasinstigantes indagagbese examesrealizados sobre 2 argumentao do texto fue precedeu 20 artigo Agradecimentos S40 aida devidos 2 Rodrigo Forcenette pels consieragbes sobre aprevalencia da tese dos "tinco mais cinco” sore a tse fos cinco anos" Por fim, o autor tame agradece a gentil canite feito ela Dr, ‘Aurora Carvalho pare paticinagéo em obra coetva 2, DOU de 09.2.2008, e. extra “4 287

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