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eaeaiN RENATO NOGUERA Sa A filosofia é privativa da cultura ocidental ou é uma criaco do pensamento humano em geral? As culturas africanas e afrodiaspéricas sao relevantes para o entendimento da filosofia? Existe filosofia africana e/ou filosofia afro-brasileira? Em caso afirmativo, como elas podem contribuir para - 9 entendimento das relagées étnico-raciais? a g a 2. Como ofa) professorlal pode incluir a filosofia africana e a afrodiaspérica no curriculo de Filosofia do ensino médio? " Como formar umla] protessortal de Filosofia capaz de fazer essa conexio? Estas so algumas das questdes que o professor Renato Noguera discute nesta obra, que contém roteiros de reflexao, referéncias a autores fundamentais e propostas curriculares praticas. HT _ RENATO NOGUERA MAA AAA AES 0 ENSINO DE. FILOSOFIA E A ree Copyright © 2014 Tenato Noguera WY cuxtiwsscus: —-SEer Presidéncia da Republica Prieta da elon ila Rows} Secretaria de Politics de Promote da Iqualdade Racial SEFPINIPR istered Cutora Mart Suplicy ——part.as epiTona ord Esitoras eee Crna Fernandes Warch essa Mariana Wart DiretoraEsecuta producto edtoral ‘Myriam Lewin Avon Balnas, ‘ia Cabrint (Cento de Pesquisa eEaltoracto ‘MarcusVeniia Ribeiro ‘visto Juliana Souza Cooréenadoriaceitorsso ayy Ragu Fabio agua ‘pubic elas com cot El Api 8 Codi de Lier Aor Nes, Pundits Nacional do Mater da Caltraem paren oma See de Pliest erage guide Rac x Presid Re SEPP te io sg es ors eps do onda opcode Lingua Pogue “adr iis aero ls Eton Disa is Evade repr por olga moc, ‘denies pif ees a pei or end cio opr ou oad ote ect CIP-BRASIL. CATALOGAGKO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, 2 oc iia {Bah se a oe «rate ater IBiNerh- 13.747 ies Nason tee on ae ene peter lt De ines ee re tat fe seams cope Pal ora Dibra de ete Aue ets Para minhas filhas Olivia e Maria Saiteestamooss eplurdarcom te Felner conte Sumario Agradecimentos Introdugaio Capitulo 1: Elementos para uma geopolitica da filosofia: epistemicidio, espacos e diferencas Capftulo 2: Blementos para uma hist6ria da filosofia em afroperspectiva Capitulo 3: Ensino de filosofia, formagao e pardmetros curriculares para educagao das relagdes éinico-raciais Conclusées parciais Referéncias bibliogréficas Apéndice: ‘As Leis 10.639/03 ¢ 11.645/08¢ 0 ensino de Filosofia Agradecimentos ‘Ao amigo e compadre Mauro Roberto Bizoni, que, sem que- rer, contribuiu decisivamente paraa minha escolha pelo car- 80 de filosofia em 1991. A minha editora Cristina Warth e sua equipe pela persisténcia e pela capacidade de organizar um belo livro. Agradeco & Biblioteca Nacional pela importante iniciativa de discriminar positivamente, apoiando essa em- preitada, Agradeco a todas(os) as(os) colegas professoras(es) de filosofia que formularam argumentos desafiadores em relacdo a existéncia da filosofia africana, Muitos foram ca- tegoricos em dizer que a filosofia s6 podia ser uma tarefa ou uma atividade propria do pensamento ocidental. A to- dos esses colegas, muito obrigado pelas interrogacdes que ajudaram na redacao deste livro. Agradeco a Alice Signes, orientanda de graduacao e bolsista de iniciagao cientificade 2009 a 2012, Larissa Gama, orientanda de graduagao e bol- sta de iniciacdo cientifica de 2013 a2014, Alexandre Laudi- no, orientando de mestrado de 2014 a 2016, Vanilda Santos, professora de filosofia na cidade de Uberlandia, e Marcelo Moraes, professor de filosofia na cidade do Rio de Janeiro, porque sem vocés a pesquisa com professoras(es) da érea 10 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 nao teria comecado. Eu também agradeco pelos didlo- g05 com os amigos fildsofos Wanderson Flor Nascimento (UnB), Eduardo David Oliveira (UFBA) € Emanoel Luis Ro- que Soares (UFRB), que compartilham comigo um reper- t6rio espiritual comum. Nao posso deixar de agradecer a todas(os) as(os) educadoras(es) ¢ ativistas que lutam con- tra 0 racismo antinegro e foram responsaveis pela elabo- racdo da Lei 10.639/03, em especial Abdias do Nascimento (in memoriam), Introdugao Filosofia €a mais branca dentre todas as éreas no campo das Humanidades. Charles W. Mills (1999, p. 13) A epigrafe acima é uma frase contundente do filésofo afro- -americano Charles W. Mills (1916-1962). Ela diz muito so- bre a provocagéo que atravessa estes escritos do inicio ao fim, No meio filoséfico havia e continua havendo, em certa medida, poucos debates a respeito das relagoes étnico-ra- ciais, do racismo antinegro e dos desdobramentos das rela- gdes entre colonizacao politica e a invisibilidade renitente conferida a filosofia africana. Obviamente existem excegGes, Nés podemos encontrar debates desse e de outros tipos, como é 0 caso dos quesitos de género e de sexualidade, feitos por fildsofos no mundo inteiro. Por exemplo, cito trés casos: a fildsofa estaduniden- se Sandra Harding, que problematiza o sexismo na historia da filosofia e critica a “epistemologia masculina’ reinante; © filésofo afro-americano Corel West, que tece reflexdes sobre a situacdo de negras e de negros nos Estados Unidos 12 nsino de Filosofia ea Lei 10.639 da América, os esterestipos e os estigmas do ra filésofa afro-americana Angela Davis, que trata dos dois assuntos. De qualquer modo, a formagzo no campo da filosofia tem seus cénones. As qu incontornaveis consagradas na historiografia filoséfica, como, por exemplo, a verdade. Neste sentido, uma pessoa pode ter uma formagao filosé- fica sem examinar, nem de perto, questOes como: (a) rela- is; (b) racis da historia da Africa para a filosofia; (d) os processos de su- balternizacao das produces africanas eafrodiaspéricas' de conhecimento diante do proceso de colonizagao—as rela- ‘GGes assimétricas entre Europa e Africa, Ou seja, problemas que atravessam o presente trabalho. Eu preciso destacar que a redagao deste trabalho foi um grande desafio e, sobretudo, uma belissima oportunidade de contribuir para desfazer um dos maiores equivocos a res- peito da filosofia. Um erro que parece permanecer encober- to pelo material didético de ensino de filosofia adotado pela maioria das escolas no Brasil. Estou falando da ideia de que a filosof sua origem. Em outros termos, o objeti- sdade de contetidos 10 antinegro; (c) a relevancia vo deste livro ¢ explicar que a obrigato afro-brasileiros ¢ africanos no curriculo de todos os niveis e modalidades de ensino no Brasil nos ajuda a desfazer um tipo de “senso comum” sobre a filosofia. Para isso, vamos elencar uma série de argumentos, dentro do escopo de um pensamento antirracista, para sustentar que a filosofia nao tem um local de nascimento. Destaca-seo fato de que Cheik Anta Diop (1954, 1967, 1977), George James (2005), Molefi Asante (2000), Théophile Obenga (1990, 1992, 2004), Mogo- 0 conceito de afrodispora serédiscutido no Capitulo a Introdugao 1 be Ramose (2011) e José Nunes Carreira (1994) convergem em favor da tese de que temos textos de Filosofia ati assim como de outras regides do mundo, bem anteriores aos textos gregos que so reconhecidos pela historiografia oci- dental como sendo dos primeiros filésofos. Pois bem, ndo podemos deixar de considerar um dos es: terestipos que cercam as fildsofas ¢ 0s fildsofos. O pensador gtego Tales de Mileto (625 A.E.C — 547 A.E.C oferece um dos retratos mais populares sobre a “natureza” dos filésofos € das fildsofas, ilustrando as contradicées entre a atividade filos6fica e a vida pratica. Tales de Mileto era tao distraido que, certa vez, olhando para 0 céu e inebriado por profun- das reflexdes filosoficas, tropegou e caiu num buraco. A hipétese genérica, cliché, que ainda anima uma boa parcela da audiéncia leiga diz: a filosofia é um saber sofis- ticado, com reconhecido e elevado status académico, mas, geralmente, dissociado da realidade. Fildsofas e filsofos se ocupariam com questdes tao profundas que manteriam dis- tancia de eventos corriqueitos ¢ “desimportantes’. Em ou- tras palavras, existiria uma ideia corrente do senso comum, sobre a filosofia: ela nao serviria para “nada” e isto nao seria somente charme, mas 0 que a diferenciaria e a desobriga- ria de estabelecer relacdes explicitas com a realidade. Neste sentido, a filosofia estaria entre os saberes mais diletantes, quicé a atividade intelectual que permanece mais hermética e obscura para o ptiblico leigo. De qualquer modo, como nos > Era Comum (F.C, cm inglés CE, Common Ena) € Antes da Era Comum (AEC, em inglés BCE, Before Common Era) sao notacbes das grandes ras histéricas que vém sendo preferidas em documentos que nao tratam especificamente de temas cristios. Seu ponto zero &0 mesmo da Era Crist, ‘mas o sistema pretende pelo menos evitar a conotagio religiosa expliita, limitando-se a ser um calendar civil internacional, 14 OEnsino de Filosofia ea Lei 10.639 diz.o filésofo ganense Anthony Appiah (1997, p. 131), “filo- sofia’ € 0 rétulo de maior status no humanismo ocidental. Pretender-se com direito a filosofia ¢ reinvindicar o que ha de mais importante, mais dificil e mais fundamental na ta- digao do Ocidente”, Numa comparacao ligeira, no que diz respeito & abor- dagem de temas atinentes as relagdes étnico-raciais, nao restariam duividas: a filosofia — aqui entendida como sa- ber académico oficialmente constitufdo ¢ certificado pelas universidades e como disciplina escolar — seria muito mais timida do que outras grandes éreas no campo das Human dades. Mesmo diante de agendas de pesquisa bem variadas, 0s temas étnico-raciais fazem parte de muitos estudos nas areas de Antropologia, de Ciéncia Politica, de Historia e de Sociologia, Até mesmo nas Ciéncias Sociais Aplicadas, por exemplo, no Direito e na Economia, cada vez mais encon- ‘tramos reflexdes nesse ambito acerca dos dispositivos legais das agdes afirmativas, além de indicadores sociais e econd- micos das desigualdades raciais. Entretanto, esses temas ra- ramente integram as investigacOes da fllosofia © Grupo de Pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Inter- segdes (Afrosin), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRR)), tem feito levantamentos parciais sobre os assuntos abordados por monografias, dissertacdes € teses em cursos de graduagao, mestrado e doutorado, respectiva- mente. A pesquisa da produgao, desde 2003 (ano da promul- gacdo da Lei 10.639/03) até 2014, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFR) € na Universidade de Sao Paulo (USP), revelou um aspecto em comum: pouquissimos traba- hos versaram sobre algum tema referente a relagdes étnico -raciais, seja 0 assunto propriamente dito, seja a revisao de Introdugao 15 obras sobre filosofia africana ou teses criticas ao racismo an- tinegro. Nés encontramos apenas dois trabalhos na UFRI: monografia de graduacdo de Katiuscia Ribeiro Pontes intitu- lada O que é filosofia africana? Investigacdes epistemolégicas na construgao de sua legitimidade, de 2012, e a dissertagao de mestrado de Rodrigo Almeida dos Santos intitulada Ba- raperspectivismo contra logocentrismo ou 0 trdgico no pre- tidio de uma filosofia da didspora africana, defendida em abril de 2014. Vale destacar que 0s dois trabalhos, orientados pelo Prof. Dr. Rafael Haddock Lobo, figuram entre as minhas coorientacdes. Oensino de Filosofia ea Lei 10.639 na sala de aula Pois bem, coordenei um projeto de pesquisa que incluiu a aplicagao de questionérios em professoras e professores de filosofia que atuam nas redes ptiblicas do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. £ importante registrar que as pessoas envolvi- das na pesquisa participavam, presencialmente ou através de ferramentas da Internet, do Grupo de Estudos de Filoso- fia Africana (Gefa), um Grupo de Trabalho (GT) que integra uma das linhas de pesquisa do Afrosin e que comegou a se reunir sistematicamente desde a segunda semana de marco de 2011, com regularidade semanal ou quinzenal. E importante afirmar que esse foi um estudo preliminar, com uma amostra bastante reduzida. Mas 0 seu resultado aponta de modo panoramico alguns dos desafios que a le- gislagdo impoe. As primeiras conclusdes da nossa pesquisa confirmaram algumas suspeitas. O curso de graduagao em filosofia na maioria das instituig6es de Ensino Superior bra- sileiras nao formou profissionals que wabalhem no Ensino 18 QO Ensinode Filosofia e a Lei 10.639 Médio em consonancia com as Diretrizes para Educacao es Ftnico-Raciais, Ensino de Historia e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indfgena. (0 que chamou a nossa atengao foi que 84,6% das pessoas entrevistadas sabiam que a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cago Nacional (LDB) foi modificada e que os contetidos de Historia e Cultura Afto-Brasileira, Africana e Indfgena se das Relagi tornaram obrigatérios; mas 76,9% das professoras e profes- sores de filosofie nao cumprem essa obrigacao legal e 100% nao tiveram esses contetidos durante sua forma te. Das pessoas entrevistadas, 92,3% se formaram entre 2004 € 2013, isto é, apés a LDB tornar obrigat6ria a inclusao de Histéria e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos curriculos, sendo 76,9% depois de 2008, quando a inclusto de Histéria € Cultura Indigena foi feita. Porém, 100% nao aprenderam nada a esse respeito ¢ a maioria (76,9%) sente a necessidade de formacao complementar porque nao sabe como atwar. Outra pesquisa sobre o curriculo dos cursos de graduagao em Filosofia constatou que no Brasil, até 0 ano de 2014, so- mente a Universidade Federal do Reconcavo Baiano (UFRB) tinha uma disciplina espectfica denominada Filosofia Afri- cana.’ Outra reclamagao dessas professoras e desses profes: sores € a auséncia de material didatico e paradidatico que promova um ensino de Filosofia que atenda minimamente 08 critérios legais estabelecidos pelo Ministério da Educacao (MEQ) para Educagao das Relagdes Etnico-Raciais. Ao lado da busca por materiais para uso na sala de aula, aparece a reivindicagao pela formacao continuada. docen- Essa disciplina foi implantada pelo Prof. Dr. Eduardo David de Oliveira, que coordenou 0 curso de graduagdo da UFRB. Eduardo Oliveira ¢ urn dos rmaiores estudiosos de flosofa africana eafro-brasileira no Brasil Introdug3o_ 17 Definindo limites e temas desta obra Outro elemento que compde o elenco de nossa introdugao 66 titulo. E importante justificar o porqué do titulo Ensino de Filosofia e a Lei 10,639. Uma leitura da legislacio edu- cacional brasileira nos leva & seguinte compreensao: @ Lei 11.645/08 altera a Lei 10.639/03, subsumindo esta. Pois bem, em linhas muito gerais, o movimento negro brasilei- ro, através de estratégias, negociacoes, ponderagdes e alian- as, protagonizou a formulacdo da Lei 10.639/03 e 0 apoio decisivo, cinco anos depois, a Lei 11,645/08. Esta, por sua vez, foi um resultado das articulagées dos povos indigenas. As referidas leis institufram a mudanga do Art. 26-A da Lei 9394/96, a LDB. Portanto, ficou estabelecido que os estudos de Historia e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indfgena so obrigatérios em todas as modalidades de ensino e niveis de educacao, ‘Além de reconhecer sua importéncia, apoiamos politicas piiblicas e iniciativas em favor da difusao e da consolidagao dos contetidos de hist6ria e culturas indigenas. Porém, neste trabalho, 0 escopo ¢ exclusivo para Histéria e Cultura Afro- -Brasileira e Africana. A leitura do movimento negro e de vé- rios especialistas em educacao das relagoes étnico-raciais € de que 0 marco simbélico e politico da Lei 10.639/03 deve ser perdido e, neste sentido, nao se trata de uma abor- dagem equivoca que “esquece” que a Lei 10.639/03 teria sido substituida formalmente pela Lei 11.645/08. Mas 0 uso da © O conceito de movimento negro aqui aparece no singular designando, ‘como diz o Prof. Dr, Amilcar Pereira (2010), historiador da UFRJ, uma série de aces e entidades polticas que se argaaizam por uma agenda de rein vindieagées préximas, Por isso, ndo usamos movimentos negros no plural O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Lei 10.639/03 ¢ interpretado como um registro politico que identifica nesse inciso marco legal, um divisor histérico e po- litico que nasceu de uma agenda do movimento negro. Por- tanto, nao se trata de ignorancia legal, mas de op¢ao politica © pedagégica fazer uso da Lei 10.639/03 para se referir & His- {t6ria e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e da Lei 11.645/08 para se referir somente a Hist6ria e Cultura Indigena. © Plano Nacional para Implementacao das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educagao das Relacoes Eu -Raciais, langado em 2008, surgiu para subsidiar, apoiar e regulamentar as ages em prol da modificagao das rela- Ses étnico-raciais na sociedade brasileira. O documento nao deixa duvidas: toda a sociedade brasileira é destinaté. ria dessas ages. Negras, negros e indigenas néo devem ser definidas(os) como agentes exclusivas(os) das politicas em prol de uma educagao antirracista. E importante sublinhar que este trabalho recobre os es. tudos de Historia e Cultura Afro-Brasileira e Afficana no que diz respeito as suas possibilidades com a presenca obrigat6- ria da Filosofia — aqui entendida como disciplina da matriz curricular — no Ensino Médio. Afinal, a presenga da Filoso- fia como disciplina obrigatéria se deu perto do fim da pri meira década do século XXI. Antes disso, a Filosofia figurou como “curso livre’, as vezes como “matéria optativa’, entre outras denominagGes legais. Se levarmos em conta a segun- da metade do século XX, as regulamentacdes do ensino de Filosofia estao presentes na Lei n* 4.024/61, passando pe- las Leis §.692/71 e 7.044/82, Nas trés regulamentagGes, Fi- losofia é somente sugerida. Com 0 advento da reforma da LDB em 1996, a disciplina podia fazer parte do curriculo diversificado do Ensino Médio conforme deliberagao dos Introdugao i Conselhos Estaduais de Educagio. O que fazia com que, em alguns estados da federacdo, a Filosofia integrasse 0 curri- culo, enquanto, em outros, bastava que disciplinas como Geografia e/ou Historia e/ou Literatura trabalhassem trans- versalmente alguns de seus contetidos. Entretanto, foi com a Lei 11.684/ 08 que as chividas foram desfeitas e o campo fértil de interpretagbes ficou reduzido ao dispositive legal da obrigatoriedade. Porque até 2 de junho de 2008 cada resolu- do estadual dos Conselhos de Educagao era autonoma para justificar se a Filosofia devia ser facultativa ou obrigatoria. © mesmo se aplica a disciplina de Sociologia. Esta tam- bém se tornou obrigatéria com a mesma mudanca da legis- Iago educacional. Com a publicacao da Lei 11.684/08, em 3 de junho de 2008, o Art. 36 da Lei 9.394/96 passou a vigorar com um novo inciso, preconizando a obrigatoriedade de Fi losofia e Sociologia durante todo o Ensino Médio. Diante deste quadro, um dos nossos desafios esti na articulagao de uma dupla obrigatoriedade: (1") ensinar Fi- losofia; (2") ensinar e promover relagdes étnico-raciais equi nimes através do estudo de Historia ¢ Cultura Afto-Brasileira e Africana. Este desafio duplo passa por uma analise filos6fi- cada prépria filosofia. O que é proprio da filosofia que pode contribuir para horizontes antirracistas na sociedade brasi- leira? O que a Filosofia tem a dizer sobre o racismo antine- gro? Existem pontos de contato entre a filosofia ¢ a historia da Africa? As culturas afticanas e afrodiaspéricas, em espe- cial @ afro-brasileira, so relevantes para 0 entendimento da filosofia? Ou ainda, existe filosofia africana e/ou filosofia afro-brasileira? Em caso afirmativo, a africana e/ou afro -brasileira estaria(m) apta(s) a examinar e discorrer sobre os o das relagdes étnico-raciais? En- pontos-chave da educag: 20 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 fim, este trabalho é, ao mesmo tempo, uma aposta e uma proposta de polididlogo.® Uma contribuigao e um esforgo em favor da visibilidade da Filosofia africana, da Filosofia afrodiaspérica e da Filosofia afro-brasileira para uma edu- cago antirracis * Por polidislogo se deve entender, tal coma diz 0 filésofo Mogobe Ra- ‘mose (1938), um eampo policéntrco para um intenso debate intercultural, proficuo em favor do entendimento miltuo e de safdas coletvas, Capitulo 1 Elementos para uma geopolitica da filosofia: epistemicidio, espagos e diferencas No campo da filosofia também esto a emergir, gradual- mente, reflexdes em torno do modo como as ideias sobre a espacialidade modelaram 0 pensamento filoséfico. Durante demasiado tempo, a disciplina da filosofia agiu como se o lugar geopolitico e as ideias referentes ao espago ndo passas- sem de caracteristicas contingentes ao raciacinio filosofico. (MALDONADO-TORRES, 2010, p. 397) Nao integra o escopo deste trabalho uma longa digressao geneal6gica do conceito de geopolitica, mas faz-se aqui uma leitura critica do canone filos6fico em termos geopolitico: um tipo de geopolitica critica da filosofia ao invés de uma “egopolitica’, tal como descreve Grosfoguel (2010). O que pode ser descrito na interrogagao: a produgio filoséfica pode ser compreendida através de uma geopolitica ou de ‘uma egopolitica? Nossa proposta é a realizagao de um exer- 0 Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Cicio critico sobre os sistemas de posicdes e lugares geopo- liticos da produgao filos6fica, isto 6, a problematizagéo da invisibilidade do lugar hist6rico e politico na construgao de conhecimento e da pressuposi¢ao da neutralidade de um “sujeito universal”. Primeiro oportuno situar 0 que aqui entendemos por geopolitica. Conforme Paul Claval (1994), a categoria ge- opolitica foi criada pelo jurista sueco Rudolf Kjellén. Mas assumiu 0 seu significado mais corrente com o trabalho La géographie politique: les concepts fondamentaux, de Frie- drich Ratzel (1987). Em linhas gerais, conforme a teoria de Ratzel, geopolitica envolve a geréncia do Estado sobre os territ6rios e as disputas por hegemonia através da expansio em vatios dominios, incluindo o cultural. Se, por um lado, a geopolitica indica uma teoria social da guerra, das relacdes entre Estados ¢ territ6rios, podemos, tal como sugerem Cla- val (1994) ¢ Ratzel (1987), empreender uma anélise do Esta- do em termos espaciais, uma geografia do poder na leitura dos processos de expansao e disputa por territ6rios. Por ou- two lado, nés estamos plenamente de acordo com Grosfoguel (2010): uma andlise das relagdes entre geopolitica e filosofia 6 uma abordagem que nos permite vincular o lugar epist®- mico é:nico-racial, de género, espiritual, sexual, geografico, hist6rico e social com o sujeito do enunciado, desfazendo a nogao de que o discurso filos6fico brota de uma “razao uni- versal” imersa num campo neutro de forcas. Distante de um campo neutro de forcas, podemos dizer que o “sujeito” que filosofa ¢ avaliado de maneiras bem diferentes, Afilosofia ocidental privilegia a “egopolitica do conhecimento” em desfavor da “geopolitica do conhecimento" -da“corpo-politica do Capitulol 23 cconhecimento’, Em termos hist6ticos, isto permitiu ao homem ocidental (esta referéncia ao sexo masculino € usada intencional- mente) representer 0 seu conhecimento como o tinico capaz de alcangar consciéncia universal, bem como dispensar 0 conheci- mento no ocidertal por ser particularistico e, portanto, ineapaz dealcangar a universalidade (GROSFOGUEL, 2010, p. 460). Nesse sentido, a filosofia ocidental seria universal por- que trata do Homem, Esse homem é ocidental, branco, ci- vilizado, adulto, heterosexual, culturalmente cristo; ainda que seja “ateu’, 0 “sujeito universal” e porta-voz da filosofia ocidental. © fildsofo colombiano Santiago Castro-Gémez (2005) desenvolve uma consistente objegao a universalida- de da filosofia ocidental. O conhecimento é um elemento- -chave na dispute e na manutencao da hegemonia. Sem diivida, o estabelecimento do discurso filoséfico ocidental como régua privilegiada do pensamento institui uma desi- gualdade epistemolégica. Uma injustica cognitiva que cria escalas, classes para 0 pensamento filoséfico, estabelecen- do 0 que é mais sofisticado e o que € ristico e com menos valor académico. Essa injustica cognitiva é capaz de definir status, formar opiniao e excluir uma quantidade indefinida de trabalhos intelectuais. Nossa leitura é que o racismo é um elemento decisivo para o entendimento do epistemicidio ¢ seus efeitos. A nossa leitura é que o racismo antinegro esté attelado a recusa da filosofia africana. Racismo e desqualificagao de saberes Carlos Moore, em Racismo e sociedade (2007b), faz uma descrigao rica em detalhes, argumentando que o racismo 24 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 antinegro estava presente entre gregos e romanos na Anti- guidade. Na perspectiva de Moore, o racismo antinegro seria anterior aos processos de escravizacao de africanas e africa- nos iniciado por érabes por volta do século XI e impetrado or europeus sistematicanente a partir do século XV. Nao faz. parte do escopo deste trabalho confrontar as diversas visdes acerca das origens do racismo antinegro. Nao é difi- cil encontrar teses que defendem que o racismo antinegro 86 surgiu com o tréfico transatlantico. Nosso alinhamento intelectual converge para o ponto de vista que identifica a presenga da discriminacao racial desde a Antiguidade clas- sica. Sem diivida, com o projeto europeu de colonizagao da Africa e da América, essa discriminacao assumiu novas pro- orgdes. O que entre os gregos era uma diferenciagao entie 9s nascidos em tertitério heleno com direito a cidadania e 0s estrangeitos (barbaros; assumiu novos contornos. Com feito, nossos argumentos convergem para a tese defendida Por Moore. Nés entendemos que o agravamento desse em- bate se deu com 0 advento das guerras de colonizagao para civilizar os “incivilizados” na Modernidade. (s conquistadores da Aitica durante as injustas guerra de co- Jonizacao se arrogaram a autoridade de definirfilosofia. Elesfi- git:dos pove os'con os 0 epistemicfdio nao nivelou nem eliminou totalmente as ma- neiras cle conhecer ¢ agit dos povos africanos conquistados, mas introduziu, entretanto, — e numa dimenstio muito sustentada através de meios ilicitos e "justos” —, a tenséo subsequente na relagdo entte as filosofias africana e ocidental na Africa, Um cos Pontos fundamentais da argumentagdo neste ensaio ¢ investi- zeram isto cometendo,epistemicidiog ou seja, oassassinatojdasy Capitulo 1 25 gar a fonte de autoridade que supostamente pertence a0 Oci- dente para definir e descrever, em tltima instancia,o significado: de experiencia, conhecimento e verdade em nome dos povos africanos (RAMOSE, 2011, p.9). Vale a pena registrar que uma.especifidade doracismovan- r opeus.0s negros exam. bat iliza ". No livro A invengao do ser ne- _gro: um percurso das ideias que naturalizaram a inferioridade dos negros, a professora da Universidade de Sao Paulo (USP) € doutora em Psicologia Gislene dos Santos (2002, p. 54) elu- cida muito bem tema: “O tratamento dos europeus para com os africanos diferencia-se do oferecido aos indios da América, ‘que, apesar de serem vistos como primitivos, eram dotados de pureza, algo que nao se aplicava aos negros.” © médi- co alemao Carl Gustav Carus (1789-1869) popularizou o se- guinte quadro: os povos do dia (caucasiano-europeus e seus descendentes), os povos do creptisculo oriental (povos da Eu- ropa oriental, asidticos, arabes e seus descendentes), 08 povos do creptisculo ocidental (amerindios e seus descendentes) e 105 povos da noite (nativos da Oceania, negro-africanos e seus descendentes). Dito de outro modo, conforme os discursos 26 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 racistas, numa “escala de humanidade’, os povos negro-afti- canos e nativos da Oceania e seus descendentes estariam no degrau mais baixo, Por isso, no meu ponto de vista é muito importante rever as geopoliticas estabelecidas, questionar ¢ rechacar as cartografias e hierarquizacdes que insistem em situar a Europa como “centro”, 0 fil6sofo porto-riquenho Maldonado-Torres (2010, p. 397) traz uma enorme contribuicao para o nosso debate, em seus termos: “Os filésofos e os professores de filosofia tendem a afirmar as suas rafzes numa regido espiritual inva- riavelmente descrita em termos geopoliticos: a Europa.” 0 fildsofo faz. uma nota mencionando que existiram esforgos nas décadas de 1970 e 1980, por parte de fildsofos latino- -americanos, tais como Enrique Dussel, e estadunidenses — neste caso, na solidificagao da agenda do pragmatismo filoséfico — que buscaram se desvincular da Europa como territério exclusivo do pensamento filos6fico, Os Estados Unidos da América contribuem com o debate, mas so sem diivida mais facilmente inseridos no contexto académico da filosofia em relagdo & América Latina, a Asia e & Africa, Ahipétese que vamos examinar € a ideia de colonialidade, ‘que, tal como nos diz.0 sociélogo peruano Anibal Quijano, im- pregna e constitui a produgao filos6tica hegemonica, fazendo da filosofia académica uma atividade intelectual atravessada pelo racismo_ opto, Afinal, as lenin eT de-estabelecim }orcomo Capitulol 27 subletions ematorials: a amtoridade ¢05.seusinsizumanins deregulacao.dasrelagGes sociais (QUIJANO, 20-0, p. 88). No item (¢)-encontramos 0 problema do conhecimento, da validade dos saberes e da producao intelectual. Pois bem, _alwoloniizagao"implicowna’desconstritgao da-estrutura’so= _cialpreduzindocs saberes dus povus colunizadus zecategor B i ans ” No Diciondrio Oxford de Filosofia, organizado por Simon Blackburn (2005), racismo ¢ definido como “inabilidade ou recusa para reconhecer os direitos, as necessidades, a di nidade e os valores de pessoas de um grupe racial parti- cular ou de determinada regiao geogréfica’ Aa =e e-culturais que nao sejam ocidentais. Em outzas palavras, 0 projeto epistemolégico moderno estabeleceu sritérios para distinguir 0 que é conhecimento valido do quenao ¢ conhe- cimento. Com isso, 0 conhecimento gestado dentro de um desenho geopolitico ocidental ¢ privilegiado em relagao aos outros. No CaSO SSpeCihiCo da FlASOfiay OFACISIO\pistemico, _ sustetita que apenas o mundo ocidental® pode garantinaf * Inicialmente signficando a Europa e, a partir do século XX, inluindo 0s Fstados Unidos da América. Nés podemos considerar que o padrlo ® 28 — OEnsino de Filosofia ea Lei 10.639 Tosoficidade dewm saber. Vale dizer qneparfilnsaficidade se. " deverentenderaquilo que diferencia um-saber filoséfico. de, - saberesque nao sao filossficosy Colonialidade, eurocentrismo e filosofia 0 problema esta nas bases eurocéntricas desse discurso. Se um saber s6 pode ser efetivamente filos6fico, isto é, preen- cher os critérios especificos que diferenciam a filosofia dos outros saberes — a filosoficidade — através das condigdes geopoliticas de sua produgaio —a saber: condigoes ociden- (ais —, a filosofia precisaria estar sempre ligada, articulada ‘ou mantendo algum tipo de didlogo com pressupostos ¢ te- ‘mas erigidos pelos gregos. Eu rechaco esse raciocinio e trago ‘outro argumento para a nossa pesquiseSesafilosfiaaciy Eoportuno fazer um exercicio filossfico de andlise das rela- ‘ges entre colonialidade, eurocentrismo e filosofia, o que ¢ in. dispensével para avangarmos em busca de outras cartografias diferentes e de geopoliticas que problematizem a perpetua- ‘¢40 das relagoes assimeétricas de poder. Porém, é importante considerar uma tese geral que atravessa varios argumentos ‘em favor da filosofia como matéria exclusiva do Ocidente, tal “_ocidental ¢ hegemOnico no mundo todo, ¢, em certa medida, com a _slobalizagio, todas as sociedades seriam “ocidentais"; mas vale destacar ‘que os padrses ocidentais sio gestados, dfundidos, defendidos e postos ‘em circulaydo através das poltcas econdmica, de conheclmenta,estética, ‘cultural, et. da Furopa e dos Estados Unidos da América Capitulol 29 como faz notar Appiah (1997) através da problematizacao em tomo do préprio valor e da relevancia de alguns saberes afri- anos serem registrados como filesGficos. A tese é a mesma defendida por muitos fildsofos e muitas fil6sofas no mun- do inteiro, por exemplo, em relago a determinados saberes orientais, asiéticos, indigenas e amerindios. Nao existiriam razbes efetivamente relevantes para designar 0 pensamento afticano como filosofia africana ou denominar pensamen- to oriental como filosofia oriental, e assim por diante. Talvez nada além do reconhecido status académico que o canone fi- Jos6fico possui no Ocidente teria movido fildsofos e fil6sofas de origem africana, por exemplo, adefender a existéncia da fi- losofia africana. Em outros termos, enquadrar o pensamento africano sob a aleunha da filosofia pode ser percebido como ‘um tipo de reducionismo. Com efeito, vale considerar as dife- rentes leituras em busca de ampliar 05 horizontes acerca da legitimidade epistémica da filosofia africana. (Os manuais de hist6ria da filosofia, em sua maioria, con- cordam quando se trata de fazer 0 registro do “nascimento” do pensamento filosofico. A hipétese mais aceita é a da cer- tidao grega. O modo menos polémico gira em torno de um “cadastro” feito por volta do século VI. A.E.C. na Grécia An- tiga, com a patente de primeiro fildsofo conferida para Tales de Mileto. E, ainda que existam a'gumas divergencias entre historiadoras(es) da filosofia, esta nao deixaria de ser grega porque, se nao for de Tales de Mileto, o posto de primeiro fildsofo seria de Sécrates ou de Platao. A pergunta que quero compartilhar é muito simples, mas precisa de leitoras e de leitores despidos de preconcepedes acerca da hist6ria da fi- losofia. Bis a questao: ¢ possivel falar da filosofia fora de um desenho geopolitico europeu? 3@ © Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Pois bem, € importante interrogar a validade da assertiva: a filosofia ¢ exclusivamente ocidental, nascida grega e desen- ‘volvida na Europa. nialidade séo elementos-chave para o entendimento da ideia de que a filosofia ¢ uma “versdo” do pensamento humano ex clusivamente europeia. A defesa da nogao de que os europeus -€ 0 seu projeto civilizatorio seriam necessariamente superio- xzes a0s de outros povos, numa escala hierérquica que, inva- tiavelmente, localiza a Africa e sua didspora na parte mais ‘baixa dessa “escala’, esté presente nos textos de muitos filéso- {fos europeus. O fildsofo alemao Immanuel Kant (1724-1804) foi enfitico na sua descricdo sobre os povos negro-afticanos: u advogo que o eurucentiisiy & 4 culo- s negros da Africa ndo possuem, por natureza, nenhum sen- timento que se eleve acima do ridiculo. O senhor Hume desa: fia qualquer um a citar um tinico exemplo em que um negro tenha mostrado talentos e afirma: dentre os milhbes de pretos que foram deportados de seus paises, no obstante muitos de- les terem sido postos em liberdade, nao se encontrou um tinico sequer que apresentasse algo grandioso na arte ou na ciéncia, ‘ou em qualquer outta aptidao; ja entre os brancos, constante- ‘mente arrojam-se aqueles que, saidos da plebe mais baixa, ad- quirem no mundo certo prestigio, por forca de dons excelent ‘Tao essencial éa diferenca entre essas duas ragas humanas que parece ser tao grande em relacdo as capacidades mentais quan- to Adiferenca de cores, A religito do fetiche, tao difundida entre eles, talvez seja uma espécle de idolatria, que se aprofunda tanto no ridiculo quanto parece posstvel & natureza humana. A pluma de um passaro, o chifre de uma vaca, uma concha, ou qualquer utra coisa ordinéria, tao logo seja consagrada por algumas pa: lavras, tornam-se objeto de adoragao e invocagao nos esconju- Capitulo 31 +05. Os negros sito muito vaidosos, mas & sua propria maneira, & ‘do matraqueadores que se deve dispersé-los a pauladas. (KANT, 1993, p. 75-76) Outro fildsofo alemao, Georg W. Friedrich Hegel (1770- 1831), nao foi menos categorico na defesa do eurocentris- ‘mo e na inferiorizagdo negro-africana. {u-] @ principal caracteristica dos negros é que sua consciencia ainda nao atingiu a intuigao de qualquer objetividade fixa, como ‘Deus, como lels(..] negro representa, como ja foi dito, ohomem. ‘natural, selvagem e indomavel [..J. Neles, nada evoca a ideia do cardter humano [..|. Entre os negros, os sentimentos morais sdo totalmente fracos — ou, para ser mais exato, inexistentes. (HE- GEL, 1999, p. 83-86) iluminista Voltaire (1694-1778), filésofo relevante para o entendimento de ideias republicanas, um dos precursores da defesa da liberdade de expresso e dos direitos civis, es- creveu em Tratado de metafisica (1984, p. 62): “Examino um filhote de negro de seis meses, um elefantezinho, um maca- quinho, |.) um animal que caminha sobre duas patas, |. provido de um pouco mais de ideias.” A nossa critica caminha no seguinte sentido: uma boa leitura desses fildsofos, assim como de todos os pensado- res ocidentais, ndo pode entender 0 eurocentrismo de suas obras como contingente ou um tipo de penduricalho de pouca ou nenhuma relevancia. Porém, apesar do etnocen- trismo nao servir como critério para o abandono das contti- buicdes flos6ficas de Kant, Hegel, Voltaire e de outros tantos fildsofos, ndo é adequado desconsiderar o racismo episté- mico como um viés decisivo para entender esses trabalhos e seus desdebramentos. Ou seja, um raciocinio ligeiro que aponte a razo universal do Iluminismo como branca e ‘masculina nao pode ser tomado como equivoco interpre- tativo sem uma leitura verdadeiramente critica de fildsofos que foram e ainda sao endeusados por muita gente no mun- do académico. Porque, apesar da proposta de “universalida- de’, estamos diante de uma “razdo metonfmica” (que toma a parte pelo todo). Num outro registro, como diz.o sociélogo Boaventura Santos (2010), a raz4o metonimica é dicotémica e hierarquizante, opse civilizado e barbaro; culto e ignoran- te; branco e negro; masculino e feminino; heterosexual e filos6ficos, é sempre um instrumento epistemicida, -desqualifica e recusa os saberes que nao se enquadram en ‘seus registros. Para dizer de outro modo, o que estd em jogo aqui é uma briga contra a colonizacao do pensamento. Por isso, um exercicio filoséfico interessado no pluralismo de perspectivas epistémicas precisa se defrontar com o etno- centrismo europeu que perpassa a filosofia. O fl6sofo su-aicano Mogobe Ram ose tem felto uum vigoroso trabalho sobre filosofia ubuntu, de se doutorouem Filosofia pela Katholieke Univer siteit Leuven, da Belgica, etrabaha na Univers ‘dae da Arica do Sul (Unisa) Capitulo1 33 Outra critica interessante a universalidade esté na formu- ago do fil6sofo sul-africano Mogobe Ramose. Considerando que “universal” pode ser lido como uma composicao do latim unius (um) e versus (alternativa de...) fica claro que o universal, como um e 0 mesmo, contradiz a ideia de contraste ou alternativa inerente & palavra versus. A contradigao ressalta o um, para a exclusdo total do outro lado. Este parece ser o sentido dominante do universal, mes- ‘mo em nosso tempo. Mas a contradicao € repulsiva para a I6gica. Uma das maneiras de resolver esta contradigao é in- ‘troduzir 0 conceito de pluriversalidade. Deve-se notar que 0 conceito de universalidade era corrente ‘quando a ciéncia entendia 0 cosmos como um todo dotado de tum centro. Entretanto, a ciéncia subsequente destacou que 0 ‘niverso nao possui um centro. Isto implicou na mudanca do paradigma, culminando na concepgao do cosmos como um pluriverso, Parece que a resistencia do “universo” mostra uma falha que aponta para o reconhecimento da necessidade de um deslocamento do paradigma. Neste ensaio optamos por adotar esta mudanca de paradigma ¢ falar de pluriverso, ao invés de universo (RAMOSE, 2011, p.10). Por um lado, os desdobramentos do argumento ramose- ano trazem a tona a compreensao de que pluriverso, assim como pluriversalidade, tem um alcance maior do que uni- verso e universalidade, na medida em que o paradigma da pluriversalidade é um modelo aberto que inctui a universa- lidade. O conceito de pluriversal nao se opde ao de univer- sal; distante da légica dicotémica — “ou isso ou aquilo” — a pluriversalidade nos convida a pensar usando a tética da in- 34 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 clusdo — “isso e aquilo”. Em outras palavras, existem varios universos culturais, ndo existe um sistema tinico organizado em centro e periferias, mas um conjunto de sistemas poli- céntricos em que centro e periferias s4o contextuais, relati- vos e politicamente construfdos. Outro registro deste problema pode ser elucidado na for- mulagao de um fildsofo queniano contemporaneo, Dismas Masolo (2010). Fle problematiza a ideia de racionalidade, situando as pessoas em duas categorias: 14) pessoas monor- racionais; 24) pessoas polirracionais. No primeiro caso, as pessoas esto habituadas a usarem um modelo de racionali- dade apenas, No segundo, estamos tratando de pessoas que usam dois ou mais modelos de racionalidade. Para Masolo (2010), 0 conceito de razao remete a um conjunto de racio- nalidades, trazendo & tona contextos culturais e perspecti- vas hist6ricas. ‘A fil6sofa da ciéncia Helen Verran tem um trabalho muito interessante que também langa luz sobre esse assunto, Em. Science and an african logic, sustenta que a cultura tem pa- pel determinante no modelo de racionalidade. Verran (2001) explica que os modelos ocidentais tém sido privilegiados indevidamente em relago aos outros modelos de raciona- lidade, o que geta desconforto e indisposigao nas pessoas monorracionais quando sao confrontadas com outros mo- delos de racionalidades. Neste sentido, a dificuldade de fil6- sofas/os que fazem a historiografiado pensamento filos6fico mundial estaria em néo conseguir “aceitar” ou “reconhecer” filosofias que séo baseadas em modelos de racionalidades que nao sejam ocidentai: Sem diivida, ap6s a répida exposi¢ao dos conceitos de pluriversalidade e polirracionalidade, muitas pessoas pode- Capitulol 35 lam tomar essas nogdes que usel para defender o pluralis- mo intelectual e a diversidade de filosofias contra a filosofia africana, Minha réplica advoga justamente que, através da pluriversalidade, da polirracionalidade ¢ do reconhecimen- to da humanidade de todos os povos, dentro de uma pers- pectiva pluriversal, todos os saberes emergem de contextos culturais espectficos, isto é, adventos locais que, por conta do seu cardter humano, podem ser validados em outros contextos culturais. Por exemplo, uma visao pluriversal re- chaga a ideia de que um povo possa ter inventado a musica, Ora, em determinados contextos culturais surgiram géne- 108, estilos, formas, formatos musicais, como o samba e 0 rock; mas nao podemos subsumir a mtisica a um deles. O mesmo deve se aplicar a filosofia, Por isso, tomar a filosofia da Grécia Antiga como 0 tinico protstipo ou modelo de filo- sofia € to equivoco como restringir a miisica & bossa-nova, Adiante retomaremos esse t6pico. E relevante dizer que nés nao encontramos muitos tra- balhos que abordem filosoficamente 0 etnocentrismo euro- peu; mas uma pesquisa ligeira sobre os temas abordados por fildsofas fildsofos modernas(as) € contemporaneas(os), realizada pelo Afrosin no primeiro semestre de 2011, infor- ma que a quantidade de fildsofos ocidentais que fizeram ensaios para analisar criticamente 0 racismo antinegro é ainda menor. Jean-Paul Sartre (1905-1980) escreveu Reflexdes sobre o ra- cismo (1978). 0 livto conta com dois ensaios, Reflexdes sobre 4 questao judaica, com 83 paginas, e Orfeu negro, com 36 paginas. Apesar de o félego para objetar o racismo antine- 10 ser mais modesto do que o seu empenho na critica ao antissemitismo, Sartre registrou: “Um judeu, branco entre 36 O Ensino de Filosofia ea Lei 10.639 0s brancos, pode negar que seja judeu, declarar-se homem entre homens. O negro nao pode negar que seja negro ou re- clamar para si esta abstrata humanidade incolor” (SARTRE, 1978, p. 94). O filésofo francés reconheceu que o racismo antinegro tem uma caracteristica peculiar: “Os negros nao se encontram sendo no terreno cheio de armadilhas que 0 branco Ihes preparou: entre colonizados, o colono se arru- \dor” (idem, p. 99). De volta aos argumentos de Kant e de Hegel, € preciso observar que nao se trata de um mero deslize etnocéntrico préprio dos contextos intelectuais de cada época. O episte- micidio esta presente nas abordagens filos6ficas classicas. E mesmo a maioria dos fildsofos contemporaneos de linhas diferentes € criticos de suas préprias condicdes hist6ricas, comprometidos, em maior ou menor grau, com uma agen- da epistemoldgica e politica antirreacionéria e “progressis- ta’, tais como Michel Foucault (1925-1984), Gilles Deleuze (1924-1995), Jiirguen Habermas (1929) e Jacques Derrida (1930-2004), entre outros, ainda seriam adeptos da l6gica eu- rocéntrica. Deleuze tem uma filosofia instigante: seus escri- tos sao denominados “filosofia da diferenga’. Mas o fildsofo francés ndo consegue se desfazer de uma posi¢ao geopolitica eurocéntrica e conservadora quando a questao é dizer quem tem o direito de se arvorar “criador da filosofia’ mou de modo a ser 0 eterno me Sea filosofia tem uma origem grega, como é certo dizé-lo, é por. que a cidade, a0 contrario dos impérios ou dos estados, inventa © agon como regra de uma sociedade de “amigos”, a comuni- dade dos homens livres enquanto rivais (cidadaos) (DELEUZE; GUATTARI, 1992, p. 15). Capitulo1 37 Na Africa Central existiam cidades altamente urbanizadas no séc. V AE.C. Os povos bantos eram donos de sofistica- da tecnologia sidenirgica bem antes das invasdes europeias (M'BOKOLO, 2009). O reino do Congo era um Estado alta- mente sofisticado. Os filésofos europeus parecem desco- nhecer até mesmo superficialmente a hist6ria da Africa. ‘Nos séculos XIla XIV a cidade de Tombuctu era mais escolariza- da que a maiora das cidades andlogas da Buropa, Fscolarizada em érea érabe, bem entendido, mas, por vezes, as linguas sub- searianas também eram expressas na escrita drabe. Af leciona vam cientistas» professores do Ensino Superior que eram tio estimados no mundo da Intelligentsia’—tanto na Aftica quanto no mundo Arabe eda Europa — que os discfpulos atravessavam 0 Saara para otvir os Mestre de Tombuct, Djenne e Gad (KI “ZERBO, 2006, p.24) E plausivel afirmar que a profunda ignorancia dos filéso- fos ocidentais, associada ao conforto de nao problematizar as bases do seu pensamento, é responsavel pela manuten- do de uma estratura eurocéntrica com centro e periferias, zonas urbanizadas de pensamento filoséfico e subiirbios imersos em ignardncia filos6fica. Outra explicagao € 0 con- forto do “senso comum’, recusando a capacidade de espanto e admiragao que o estagirita Arist6teles dizia ser 0 motiva- dor da filosofia. Ora, 0s filésofos contemporaneos mais cria- tivos, polémicos, instigantes e que se envolvem em intensos debates, colocando argumentos de todos os tipos em xeque, parecem ainda estar presos no eurocentrismo, sem se dar ? ‘Termo criado na Rissia Czarista, que designe uma elite intelectual cons: tituida como classe social 38 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 conta dessa condigao geopolitica da injustica cognitiva da qual ela é fiadora. Eu endosso a observagao de Maldonado-Torres (2010, p. 436): “Habermas e Derrida apelam quando muito a uma cri- tica eurocéntrica do eurocentrismo.” O mesmo se dé com Slavoj Zizek (2003), fil6sofo eslavo, e Toni Negri, fil6sofo ita- liano, que fazem criticas consistentes ao capitalismo, aos pro- cessos contemporaneos de dominacao e exploracao. Apesar de ambos enderegarem duras criticas ao capitalismo, néio conseguem problematizar 0 Ocidente com a mesma radica- lidade com que rechacam os seus efeitos. De um modo geral, mesmo 08 filésofos ocidentais que se colocam mais critica- ‘mente diante da globalizacao e do capitalismo permanecem “reféns’ do eurocentrismo. Por exemplo, 0 fildsofo eslavo é enfético no livro The puppet and the dwarf: the perverse core of christianity, no capftulo Thrilling romance orthodoxy, di- zendo que, para afirmar radicalmente o materialismo dialé- tico, € preciso articulé-lo com a experiéncia crista. O radicalismo, porém, nao esconde a dimensio do racismo epis- «emico, tal como sugestivas andlises do problema da tecnologia & do niilismo por parte de Heidegger nao o escondiam. Este racis- mo é evidente [..]. Uma vez que na obra de Zizek nunca aflora a ideia de que poderiam existir opc0es politicas verdadeiramente radicais para além dos horizontes do materialismo dialético, de preende-se que o cristianismo ¢ a tinica fonte de verdadeiro ra- icalismo. Isto explica, entre outras coisas, 0 modo como 0 autor cencara o budismo. (MALDONADO-TORRES, 2010, p. 428-429) Zizek (2003) diz que o budismo é politicamente pouco transformador e revolucionario se for comparado ao cris Capitulo1 39 nismo. Porque € baseado na indiferenga. De que budismo Zizek estd falando? O que pode subsidiar essa interpretacao que sustenta que 0 budismo nao € tao “bom” politicamente quanto o cristianismo? Ora, Zizek, assim como a maioria das fildsofas e fildsofos ocidentais, parece desconhecer o poten- cial politico transformador do budismo, fazendo umalleitura enviesada que nao escapa do racismo epistémico. Eu estou de acordo com Maldonado-Torres: a maioria dos fildsofos ocidentais, mesmo quando estes sao criticos da modemni- dade ocidental e propdem novas configuracées politicas, se ‘mantém dentro de uma légica da colonialidade. “Ao invés de desafiarem as geopoliticas racistas do conhecimento que se tornaram tao centrais no discurso ocidental, eles perpe- tuam-nas por outros meios’ (MALDONADO-TORRES, 2010, p. 436) ao invés de rechagé-las e buscar outras geopoliticas. E contra o renitente projeto eurocéntrico formado por trés srandes linhas da filosofia ocidental contemporanea — a continental, a analitica e o pragmatismo* —, que propomos uma geopolitica africana e afrodiaspérica. As ars grandes linhas da filosofia ndo sto os tinieas modos posstveis, ‘de fazer investigacdesflosdficas. Apenas tém sido os modos hegemonicos ‘dentro dos Departamentos de Filosofia da maioria das Universidades. O ‘que paraos fins deste trabalho ¢ 0 mais adequado. Vale mencionar que @ ‘tradigao analftica e o pragmatism dialogam e, em certa medida, guardati- _am mas herangas e semelhangas entre si do que coma tradigio eontinen- ‘tal. Mas, em duvida, existem muitos outros modas de fazer flosofs, como a flosofia da ciéneia em suas multiplas variagbes, a subarea da Légica e ‘0s trabalios pluralistas que artculam todas as vertentes de diversos mo: dos, ent outros. Longe de uma reducéo, o quadko é, apenas, um retrato ‘da oferta dominante da formagao académica na drea de Filosofia, {guido aolongo do texto para caracterizar a formagio. 40 —O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Pela descolonizagao do pensamento Frantz Fanon era médico psiquiatra, obteve sélida formagio flosfica,faleceu jovern aos 36 anos, deixando uésescrtos: Pee negra, = ‘mascaras brancas; Os condenados da tera ¢ 7 ‘Sociologia da revolugdo africana? 0 filésofo martinicano Frantz Fanon € um precursor im- portante da descolonizacao do pensamento. Com o livro Os condenados da terra (2008), resultado de uma releitura das lutas anticoloniais africanas, ele traz um vigoroso trabalho que denuncia a geopolitica da exclusao. 0 fildsofo se refere mais especificamente aos povos afticanos e aos herdeiros da afrodidspora. E importante especificar afrodiéspora conceitualmente. Por afrodidspora se deve entender toda regio fora do conti nente afticano formada por povos africanos e seus descen- dentes, soja pela escravizacao entre os séculos XV e XIX, seja pelos processos migratérios do século XX. Ou seja, conside- rando a divisao do continente africano em cinco regiées — Africa Setentrional, Africa Ocidental, Africa Oriental, Africa Central e Africa Meridional —, podemos nomear aqui a re- organizacao em outros continentes como a sexta regido, a afrodidspora: a “Africa fora do continente’, sua cultura e sua historia Este ultimo permanecia até 2013 sem tradugso pare o portugues. Capitulol 41 A afrodispora inclui os processos de escravizagao, a co- lonizagao, as migragbes forcadas e o desmantelamento das estruturas politicas no continente africano, os seus proces- 808 hist6ricos e desdobramentos, assim como as implica- bes da escravizagao impetrada por érabes e europeus sobre povos negro-africanos a partir do século VIII," as migracées, forgadas de povos negro-africanos na condicao de pessoas escravizadas, inicialmente para o préprio continente euro- peu e, em seguida, para colonias europeias entre os séculos IX e XIX, além das relagdes entre elites europeias e classes dirigentes africanas. Com a cumplicidade de setores dessas elites africanas, foram estabelecidas relagdes assimétricas que foram decisivas no estabelecimento do modelo euro- peu de Estado-Nacao € no subdesenvolvimento dos pafses africanos no cenério mundial. Vale reiterar que o aspecto da afrodidspora que esté sendo destacado neste trabalho discriminagao negativa e a desqualificacao enderecada {as produgées intelectuais de povos africanos e seus descen- dentes no mundo inteiro, o racismo epistémico. Em outros termos, afrodidspora inclu séculos de disputas em que parte das clites africanas estabeleceu comércio com elites érabes © europeias, firmando acordos assimétricos que colocaram, © continente em desvantagem politica, econdmica, cultu- ral, social e epistemolégica em relagao & Europa e a cultura, ocidental em geral. Moore (2008) também observa que uma parcela das elites africanas foi corrompida e ctimplice da escravizacdo negra e da colonizagao. A afrodiaspora nao é um conceito romantico e alusivo & dispersao e as migracdes ' Ver Moore (2008a, 2008b). 0 pensador cubano-jamaicano explica como 0s drabes foram protagonistas da escravieago negro-africana antes dos eu ropeus e como os valores culturais das sociedades érabes estavam permea dos de racismo antinegro. 42 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 forcadas por razbes de dissensos politicos apenas. O concei- to de afiodiaspora inclui os agenciamentos enue elites eu ropeias africanas, assim como as contradiges tensdes entre povos africanos, a colonizagao e as relagdes étnico- -raciais nos pafses da América marcadas pela branquidade. De volta as contribuigdes de Fanon, com base na leitura de seus estudos € possivel tracar orientagtes antirracistas e de- senhar algumas condigdes de possibilidade contra o racismo epistémico. Nos livros Pele negra, mdscaras brancas (2008) (Os condenados da terra (2006) — 0 primeiro langado em 1952, segundo escrito em 1961 e publicado apés a morte de Fanon — 0 filésofo antilhano critica a articulagao entre raga e espa- G0 e suas implicagdes, além de analisar as pressOes assimila- cionistas da colonizagao que reitera de diversas formas que, quanto mais negras e negros rejeitarem sua ancestralidade, mais a produgo cultural de seus povos, a branquidade e a “civilidade” estardo préximas (FANON, 2008, p. 34). A recusa desse estigma atravessa os trabalhos de Fanon por meio de ‘um questionamento profundo das bases da colonizacao. O eurocentrismo que atravessa a filosofia, assim como os outros saberes, de modo explicito ou nao, tern declarado que os es- pagos periféricos sao palco de uma condenagao natural, a in- capacidade de pensar o mundo em parametros “adequados’. Pois bem, se 0 cosmopolitismo descolonial de Fanon lan- a bases promissoras contra o racismo epistémico, é porque percebe uma faldcia-chave do Ocidente: o mundo nao po- deria funcionar sem suas bases. Ao invés de “dar primazia & busca de rafzes na Europa ou noutro lado qualquer, a cons- ciéncia descolonial de Fanon pretende deslocar” (MALDO- NADO-TORRES, 2010, p. 409) 0s condenados da terra das circunstancias de subordinacao, denunciando a estratégia Capftulol 43 da colonizacao de convencer os povos nativos de que esta- ‘lam perdidos sem 0s valores e os saberes ocidentais. Fanon conclama suas leitoras e leitores a dissociar o conhecimento nativo da ignordncia, confusdo propositalmente enunciada ¢ articulada pela ideologia da colonizacao. Fanon denun- ciow 0 discurso eurocéntrico que insistia em denominar as colénias de: terras sem saber, estéreis para o conhecimento valido das ciéncias e da Filosofia. Numa frase, propés a des- colonizagao do pensamento. Afinal, a aparente neutralidade do discurso filoséfico ocidental esconde categorias préprias da I6gica colonial, do império, das raizes da modernidade (do modo como foi apresentada acima) que podem ser subsumidas pela ideia de subalternizagao epistémica baseada em critérios de raga. F to contra o epistemicidio, especialmente contra a desquali- ficagao epistémica que invisibilizou as produces africanas, que achou oportuno propor uma geopolitica em favor da diferenga, O desenho dessa composicao geopolitica preci- sa contar com o ingrediente da equanimidade, a dissolueao do “centro” e das “periferias’. 0 que pode comegar por uma “nova” hist6ria da filosofia. Uma historiografia filos6t tirracista, receptiva aos debates feitos por escolas filoséficas afticanas durante séculos, muito antes das relacdes politi- cas e econdmicas terem sido estabelecidas com a Europa. E também por uma disposi¢4o para considerar a rélevancia, de forma equanime, da contribuicao filosofica de trabalhos cri- ticos do racismo epistémico. Capitulo 2 Elementos para uma histéria da filosofia em afroperspectiva Agalinha-d’angola € 0 animal que retrata bem o espirito da filosofia, pois cisca de um lado para outro procurando sementes, comidas, “ideias’ Renato Noguera!" Para uma releitura da hist6ria da filosofia é conveniente ex- plicitar o que significa uma abordagem afroperspectivista. © que quer dizer filosofia afroperspectivista (também deno- minada afroperspectividade)? Em linhas muito gerais, afro- perspectividade significa uma linha ou abordagem filoséfica pluralista que reconhece a existéncia de varias perspectivas. Sua base € demarcada por repert6rios africanos, afrodiaspé- ricos, indfgenas e amerindios. Trecho de comunicacio proferida no dia 5 de outubro de 2010 no XIV CCongresso da Associacao Nacional de Pés-Graduacao em Filosofia Anpof).. 46 Ensino de Filosofia ea Lei 10.639 Referencias afroperspectivistas 0 que aqui denominamos filosofia afroperspectivista é uma maneira de abordar as questées que passam por trés refe~ réncias: 14) quilombismo; 28) afrocentricidade; 34) perspec- tivismo amerfndio. A formulacao politica do quilombismo de Abdias do Nascimento e alguns aspectos da formulacao intelectual feita por Molefi Asante, articulados com certas questdes suscitadas pela etnologia amaz6nica de Eduardo Viveiros de Castro, sdo as fontes do que denomino filosofia afroperspectivista. Quilombismo Para Abdias do Nascimento, autor responsavel pela defesa argumentativa do quilombismo como posigao intelectual e politica, a grande questao é a descolonizacao mental. Nasci mento pretende criticar 0 menticidio—assassinato no arca- bougo cognitive e intelectual que emerge ao lado do racismo antinegro. 0 que 0 quilombismo pretende ¢ introduzir uma Jogica politica pan-africana que se oriente politicamente além do modelo capitalista. Nascimento diz que € preciso ‘tomar contemporaneas as culturas africanas e negras na dina- ‘mica de uma cultura pan-africana mundial, progressista e an- ticapitalista me parece ser 0 objetivo primdrio, a tarefa basica que a histéria espera de nés todos. Como integral instrumento de uma continua luta contra imperialism e 0 neocolonia- lismo [. primordial de nossa libertacao (NASCIMENTO, 1980, p. 45) essa cultura progressista pan-afticana sera elemento Capitulo2 47 importante uma ressalva. O quilombismo é uma releitura do pan-africanismo que, apesar da critica ao capitalismo, nao significa adesdo ao socialismo. O comunitarismo nao se asse- melhaao comunismo de Marx. Afinal, segundo Moore (2010), Marx usa bases epistemolégicas racistas e opera dentro de ‘uma l6gica supremacista branca, O quilombismo se assenta numa cosmovisdo que tem nas sociedades ancestrais at canas um importante c4none. Ora, esse canone esta longe das ideologias romanticas de salvagao ou sintese dialética, mas se encontra dentro de um entendimento de que a filo- sofia politica sempre passa por uma cosmovisao espiritual."? © quilombismo é a espinha dorsal politica que da o sul da afroperspectividade. Uma proposi¢ao politica que esta além da esquerda ¢ da direita. “Quilombo nao significa escravo fugido. Quilombo quer dizer reunio fraterna e livre, solida- riedade, convivéncia, comunhdo existencial. (..) Como sis- tema econdmico 0 quilombismo tem sido a adequagao ao meio brasileiro do comunitarismo ou ujamaaismo (NASCI- MENTO, 2002, p.212-273). Ujamaaé um termo da lingua su- afli que integra 0 Nguzo Saba, os sete principios da tradicao banto. O termo circunscreve a interdependéncia e a capa dade de compartilhar recursos. Os sete principios so: Umo- ja (unidade): empenhar-se pela comunidade; Kujichagulia (autodeterminacao): definir a nés mesmos e falar por nés; Ujima (trabalho e responsabilidade coletivos): construir ¢ unir a comunidade, perceber como nossos os problemas dos outros e resolvé-los em conjunto; Ujamaa (economia cooperativa): interdependéncia financeira, recursos com- partilhados; Nia (propésito): transformar em vocagao cole- tiva a construgo e o desenvolvimento da comunidade de ® Assunto que, pelo escopo deste vr, nao serdalvo delongasconsideracoes. 48 0 Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 modo harménico; Kuumba ( jade): trabalhar para que a commidade se torne mais bela do que quando foi her- dada; Irani (fé): acreditar em nossas(os) mestres. Abdias do Nascimento entende 0 quilombismo como “uma forma de libertacao humana’ (NASCIMENTO, 2002, p. 273). “Afrocentricidade O entendimento da afrocentricidade passa pelo conceito de “centricidade”, Para Asante, centricidade diz respeito & ca- pacidade de estar dentro do seu préprio contexto cultural e historico. Afrocentricidade significa que africanas e afri- canos devern buscar se localizar dentro de uma perspectiva africana. Em outras palavras, a aftocentricidade é uma te- oria e um método que surge como resisténcia antirracista, procurando recolocar os povos negros dentro de seus con- textos histéricos e culturais depois de um deslocamento provocade pelo racismo antinegro. & importante ressalvar que a afrocentricidade € “uma ideia fundamentalmente perspectivista” (ASANTE, 2009, p. 96). Deve-se enfatizar que afrocentricidade ndo é uma verso negra do eurocentrismo (ASANTE, 1987). Eurocentrismo esté assen- tado sobre nogdes de supremacia branca que foram propostas para prote¢do, privilégio e vantagens da populacéo branca na educaco, na economia, na politica e assim por diante. Demodo distinto do eurocentrismo, a afrocentricidade condena a valori- zacio etnocentrica as custas da degradacao das perspectivas de ‘outros grupos. Além disso, o eurocentrismo apresenta a histéria, particular € a realidade dos europeus como 0 conjunto de toda a experiéncia humana (ASANTE, 1987). 0 eurocentrismo impoe Capitulo2 49 suas realidades como sendo “universais © branco como se fosse a condi¢ao humana, enquanto todo nao branco é visto como um grupo espectfico, por conseguinte, como nao humano (ASANTE, 1991, p. 171). isto 6, apresentando [As ideias de universalidade e objetividade sao duramen- te confrontadas pela perspectiva da afrocentricidade. Para Asante, é importante perguntar qual é a localizagao hist6- rica, cultural e psicol6gica de todas as leituras intelectual e intervengoes politicas, tendo como meta a agéncia, isto é, carrear todos os recursos em favor da liberdade, da justica e da autonomia, Perspectivismo amerindio © antropélogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro az uma ideia que, & primeira vista, pode parecer uma simples inversao. De encontro a visdo multiculturalista, Viveiros de Castro nos brinda com 0 que denomina multinaturalismo. Para 0 antropélogo, ao invés de supor, tal como na cosmo- visio ocidental, uma natureza e diversas culturas, dentro da cosmoviséo amerindia existe uma tinica cultura com- partilhada por todos os seres humanos, povos ¢ 0s outros animais, mas muitas naturezas. Pois bem, néo vamos nos alongar na explicacao do multinaturalismo. A chave para a leitura do perspectivismo amerindio est na definicéo da perspectividade como capacidade ou poténcia para ocupar outro ponto de vista, isto é, 0 multinaturalismo remete a praticas corporais. Nao se trata de uma diversidade cultural, tampouco 0 corpo entendido como “uma fisiologia distinta ou uma anatomia caracteristica; é um conjunto de maneiras 50 O Ensino de Filosofia e a Lei 10,639 e modos de ser que constituem um habitus, um ethos” (VI- VEIROS DE CASTRO, 2008, p. 40). Roda de filosofia Portanto, a filosofia afroperspectivista ¢ devedora da afro- centricidade, do perspectivismo amerindio e do quilombis- mo, uma maneira de filosofar que parte de um pressuposto geopolitico de que grupos humanos se organizam em busca de hegemonia. A disputa académica —e, de modo mais ge- ral, toda querela intelectual — faz parte de agendas politi- cas. Nosso intuito é favorecer uma politica intelectual que amplie as possibilidades. A filosofia afroperspectivi de exercici a usa a roda como método filoséfico, um “modelo” inspirado em rodas de samba, candomblé, umbanda, jongo e capoeira, que serve para colocar as mais variadas perspectivas na roda antes de ‘uma alternativa ser alcangada. A roda de filosofia 6 uma pro- posta de pesquisa realizada pelo autor com professores(as) da rede puiblica estadual fluminense e estudantes de filosofia de varias instituigdes. Eu pensei nessa possibilidade de roda de filosofia e organizei as primeiras em conjunto com outros és professores de filosofia: Wallace Lopes, Marcelo Moraes € Felipe Fildsofo, este tiltimo compositor e partideiro. Aroda de filosofia 6 0 cerne do eixo metodolégico da filo- sofia afroperspectivista. 0 seu funcionamento é semelhante a0 exercicio de versar nas rodas de partido-alto, em que cada partideiro ou partideira clama um verso que serve de razao para ser confrontado ou apoiado por outra(o) partideira(o) No caso da roda de flosofia, as ideias sao apresentadas pelas, pessoas que integram a roda, e o embate intelectual segue Capitulo2 51 como base para um texto coletivo. Cada pessoa apresenta 0 seu argumento dentro da roda e procura responder as con- tradigoes de modo resumido, com conceitos ancorados em argumentos trabalhados numa métrica filoséfica afropers- pectivista, 0 texto coletivo é 0 resultado da roda, sempre as- sinado pelos varios parceiros de caminhada filoséfica. Para conhecer melhor essa metodologia, vale a pena ler © livro Sambo, logo penso: afroperspectivas filosdficas para pensar 0 samba, organizado por Wallace Lopes." Nesse livro, um capftulo apresenta com mais detalhes especifi- camente as relagdes entre samba e filosofia, explicando © método da roda. A roda de filosofia é uma atividade em que a dimensao intelectual e 0 aspecto artistico fi dissociados: reflexao, criatividade, inflexao, racionalida- des, imaginacao e juizo critico ocupam 0 mesmo plano. Em outros termos, um assunto é posto para a roda e cada filosofeira(o), filésofa(o) que usados meios de partideira(o), ‘traz um verso, as frases sao gravadas tendo como base um. cavaquinho ¢ instrumentos de percussdo. Por fim, um tex- to coletivo € construido. Ocurocentrismo em xeque A partir de uma abordagem afroperspectivista, deve ser feito um esforgo pela revisao responsdvel e cautelosa da historio- grafiafilosdfica e das fontes que informam que textos filos6- Wallace Lopes Siva 6 pesquisador ligado ao Afrosin. A obra citada foi 0 resultado do Semindrio Filosofia Canta o Samba, realizado pelo Centro ‘Académico de Filosofia da UENJ em 2012. produgdo coletiva de uma grupo de alunos do curso de Filosofia foi aprovada, em 2013, na selegao do Edita de chamada para coedicio de livros de autores negros da Fundagao Bibl- tec Nacional e do Ministério da Cultura, conquistando o quarto lugar. 52 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 ficos anteriores aos gregos nao sdo quimeras ou suposigdes. E de extrema relevancia uma leitura antirracista para lancar uz em pontos cegos desse debate. Este exercicio de inves- tigacdo critica, que problematiza as préprias bases da filo- sofia ocidental, é muitissimo importante para a abertura de novas possibilidades epistémicas ou o reconhecimento de ‘outras modalidades filosoficas de pensamento. O que passa pela revisio de eixos geopoliticos e pela desnaturalizacio do cardter eminentemente europeu impresso pelo mainstre- am académico a filosofia. Afinal, se a filosofia pode ser, em linhas muito gerais, tomada por sua capacidade critica de buscar a justificagao num franco exercicio de desbanaliza- gio das generalizagdes fécsis e de desnaturalizagao das cer- tezas defendidas inadequadamente ou sem “fundamento’ or que razGes a filosofia deixaria de problematizar e desna- turalizar sua filiagdo e sua certidao de nascimento? Por que deveria existir um tema tabu para a filosofia® A filosofia ndo deve enfrentar qualquer tema e colocar tudo sob 0 erivo da critica em busca de conceitos apoiacios em argumentos bem montados e consistentes? Por que temeria colocar sob sus- peita o que entendemos como um desmedido alargamento de uma hist6ria parcial e local como universal? Dito de ou- tro modo, colocar o eurocentrismo em xeque é fundamental para darmos curso a algumas das reinvidicages mais caras a filosofia, nao se prender as ideias sem examiné-las, ainda que 0 custo seja reconhecer inconsisténcias em nosso prd- prio modo de pensar. Neste sentido, suponho que uma das grandes questoes da filosofia seja 0 reconhecimento de que os argumentos mais tradicionais acerca do seu nascimento sao invariavelmente problemiticos porque so marcados pelo racismo epistémico. Capitulo 2 Vale destacar que, diante desse quadro, é provavel que algu- ‘mas fildsofas e alguns fildsofos passem a considerar relevante ‘uma andlise do racismo epistémico como um dos fios condu- tores mais decisivos na centralidade gregada Antiguidade. (Cheikh Anta Diep trabalhando sno eu laboratéio. Uma contribuicdo importante foi dada por Cheikh Anta Diop.'* O pensador senegalés problematizou, justamente, a auséncia sistematica das produgGes africanas nas agendas dle pesquisa da Filosofia e da Historia, por exemplo. A recusa renitente dos intelectuais ocidentais em inserir a Africa na sua agenda de pesquisa permanece mesino diante dos re- sultados de suas investigagdes que comprovam que o Egito na Antiguidade foi uma civilizacao negra. Egipt6logos(as) ¢ istoriadores(as) ocidentais continuaram a desconsiderar as contribuigdes diopianas. Diop realizon pesquisas que de- monstraram que as miimias egipcias eram negras, através. de tecnologia que consegue verificar a concentragao de me- lanina na epiderme. Mas alguns e algumas historiadoras(es) € egiptologos(as) insistem em descrever os trabalhos de Diop como ativismo ou exercicios da miitancia de um pan- Nenhuma das obr de2011. de Diop tinha sido traduzida no Brasil até o ano 54 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 -africanista, com o firme propésito de desqualificd-lo. O his- toriador Ciro Flamarion Cardoso diz. que o legado de Diop seria ideol6gico e nao cientifico. Flamarion Cardoso, assim como outros detratores de Diop e seus herdeiros e herdeiras intelectuais, no observam que ndo existe neutralidade, e assumir um ponto de vista nao invalida a produgao cienti- fica e filoséfica, porque todo saber encerra e desenvolve de- terminados pontos devista. A filsofa Marimba Ani escreveu Yurugue ‘an fican- Centered Critque of Europea Cultural Thought and Behavior, ‘Angela Wonne Davis nasceu no estado {do Alabama em 1944 nos Estadas Unidos ‘da América A filésofaincegrou coletivo politico Pantenas Negras e ganhou desta ‘que pelo seu texto ertco, peo aivismo em prol dos direitos das mulheres negras contra discriminaeio racial e soca No capitulo anterior, o empenho na busca de uma geopo- Iitica antirracista para a filosofia foi inspirado, inicialmente, pelas leituras de Cheikh Anta Diop, George Granville Monah, Capitulo 2 James, Molefi Kete Asante, Angela Davis, Maulana Karenga, Martin Bernal, Théophile Obenga, Marimba Ani, Nkolo Foé, Mogobe Ramose e José Nunes Carreira. Um elemento im- portante que perpassa, em certa medida, seus textos esté na recusa da exclusividade do Ocidente como regulador episte- molégico do conhecimento em geral e mais especificamen. te da filosofia. Diop, tal como James, postula a existéncia de escolas filos6ficas no Egito anteriores e contemporaneas as renomadas escolas gregas dos pré-socraticos, passando por Sécrates ¢ Platao e chegando até Arist6teles. O trabalho de James se chama Legade roubado: a filosofia grega é um rou- bo da filosofia egipcia.'*O titulo da obra jé é contundente e, sem diivida, nao faltam comentarios que apontem possfveis exageros na obra. Porém, a leitura cuidadosa do trabalho, seguramente ainda pouco lido nos circuitos académicos, pode, certamente, dirimir algumas confusdes por conta de Ieituras enviesadas. Existe 0 mérito do trabalho ser uma pro- vocacao incisiva, contra-narrativa e anti-hegeménica. Na tese jamesiana, o legado roubado significa que os pri- meiros fildsofos gregos tém uma divida impagével com os filésofos egipcios que permanecem pouco conhecidos e ra- ramente aparecem nos manuais e compéndios de historia da filosofia. “De acordo com a hist6ria, Pitégoras, depois de receber sua formacao no Egito, retornou a sua ilha nativa, Samos, onde estabeleczu sua escola por um curto tempo. Em seguida ele migrou para Croton (540 a. C.)” (JAMES, 2005, p. 9). Conforme James (2005), Tales de Mileto também rece- > A obra ainda no tinha tradugo para a lingua portuguesa no ano de 2013. Fiz uma treduco livre do titulo original Solen legacy: Greek Philoso phy is stolen Egyptian Philosophy. Vale informar que no sou tradutor nem tenho essa formagao, O titulo, assim como a traducio de parte da obra, fol feito para ser trabalhade apenas com estudantes. 56 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 beu sua formacao filoséfica no Egito antigo. Os trabalhos do fisico, historiador, arquedlogo e egiptdlogo senegalés Cheik Diop confirmam essa tese. Théophile Obenga, na esteira de Diop, nos ajuda a compreender com profundidade a produ- sao filoséfica africana antiga. La philosophie africaine de la période pharaonique, 2780-330 ‘avant notre ére (1990) localiza os primelros registros em 2780 .C. com Im-hotep. Otenga fez uma vigorosa pesquisa; além de fildsofo, o congolés ¢ arquedlogo e historiador, especialista em. hierégiifos, o que permitiu que fizesse uma bela traducao co- ‘mentada dos textos ao lado de uma contextualizagao hist6rica, ‘As suas obras, assim como as pesquisas de G. James, C. A. Diop eM. Asante, sio parada obrigat6ria para quem deseja adentrar com profundidade 0 universo da filosofia egipcia (NOGUERA, 20138, p. 145). Se, de acordo com a historiografia filoséfica hegeménicaa respeito da Antiguidade, os trabalhos africanos, assim como outros que nao sejam ocidentais, sao terminantemente des- conhecidos ou “esquecidos’, pode ser menos por ignorancia do que por orientagdo politica. £ preciso que as pesquisas na drea de filosofia possam romper com esse preconceito e retomar elementos do espfrito filoséfico como a capacidade de problematizar radicalmente e especular sistematicamen- te sobre a realidade. O espirito da filosofia chinesa, da filosofia indiana, da filosofia africana, da filosofia europeia e da filosofia maia podem dife- tir bastante em relagao ao tratamento do sujeito; mas filosofia sempre lida com o conhecimento humano e a elevacao mental. Capitulo2 57 A filosofia fiurura no mundo deve levar em conta os grandes si temas especulativos de toda a humanidade. Com efeito, existe uma necessidade urgente de ganharmos alguma familiaridade com as tradigdes da filosofia africana des- de os tempos mais remotos até a era contemporanea. Eu estou tentando apresentar a hist6ria antiga da filosofia africana tendo como foco © pensamento especulativo do Egito antigo (OBEN- GA, 2004, p. 31). 0 portugues José Nunes Carreira (1994, p. 95) diz que a filosofia comegou “no vale do Nilo com Im-hotep (c. 2700 a. C.), mais de dois milénios antes de despontar a Hélade’. Obenga acrescenta que em egipcio antigo existia uma ps lavra que remete aquilo que o Ocidente passou a designar como filosofia. Nas escolas de escribas do Egito antigo, essa atividade intelectual, denominada arte da palavra em busca da verdade, era ensinada. Obenga explica que no Egito antigo existia um termo que ci cunscrevia filosofia, sabedoria e ciéncia: rekhet. No caso da filo sofia, o termo remete a ideia de mde nfr, que podemos traduzir como palavra bem-feita ou palavra bonita, fala bem esculpida e culdadosamente talhada. 0 fildsofo Ptah-hotep deixou regis tos de que a arte da palavra bem-feita precisa de humildade, “pois os limites da arte nao podem ser alcangados e a destreza de nenhum artista é perfeita’ (PTAH-HOTER, 2000, p. 247). Para Ptah-hotep nenhum artista ¢ perfeitamente destro, o carater in. cconcluso do rekhet indica que a dissecagao perfeita nunca é al- cangada, se trata de um artesanato do pensamento que estéem_ continuo curso (NOGUERA, 2013b, p. 146). 58 © Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Muito ja foi escrito sobre a hist6ria da flosofia. Tudo que tem sido dito a seu respeito parece convergir para um retra- to sobre um percurso europeu de pensamento. O problema seria muito simples: a definicdo de filosofia. ‘Acompreensio eo significado da filosofiatém como base e r- fletem a perspectiva daqueles que exercem poder sobre os ou- tros, especialmente poderesfisico,psicoldgico e intelectual. £ precisamente neste dominio que nds identificamos uma modi- ficacao do significado etimol6gico da flosofa. Aqui a filosofia€ entendida como uma disciplina académica com seus préprios principios emétodos especiais.Aqueles que,em busca de poder, endossam esta autoridade baseada na definizao convencionada de filosofia ¢ que sao considerados fildsofos profissionais. £ sob o disfarce da ciénciae do profissionaismo que a civida sobre a xistencia da filosofia africana ¢ express Ede suma importan- cia reconhecer que esta diva 6 expressa a servigo da busca do poder para ter apenas um significado esperifico determinado pelos detentores da autoridade, como o significado auténtico da flosofia; 0 “universal, ou seja, apenas um lado, determina o sig. nifcado do termo filosofia (RAMOSE, 2010, p.9-10) Ramose explica que, a partir da pluriversalidade, nao faz sentido justificar uma experiéncia particular de filosofia como tinica e precursora. Ao mesmo tempo, essa defesa tem uma contradi¢do expressa. Entender a filosofia como “uni- "sem cultura, sexo, religido, hist6ria ou cor é afirmar que a particularidade é um ponto de partida vélido para a filosofia” (RAMOSE, 2010, p. 11). Ora, se a particularidade é ‘villida neste caso, por que nao seria em tantos outros? Pois ‘bem, se aceitamos que a filosofia tem um ponto de par Capitulo 2 59 particular, a Grécia, qual ¢ a justificativa para recusar outros pontos de partida igualmente particulares? O meu entendi mento € ramoseano: todo ponto de partida filosofico € par- ticular. O que pode ser entendido através da substituicao da universalidade pela pluriversalidade. O que torna problemé- tico defender um ponto particular de partida para a Filosofia ¢ eliminar todos 0s outros, Ora, 0 proceso de colonizagaio impetrado por povos europeus foi fundado na exclusdo de povos indigenas do continente americano, na escravizagao dos povos negro-africanos e na redugao dos nao europeus, dos que nao eram eurodescendentes, reduzidos a e ‘menos humanos ou até de ndo humanos. Neste sentido, “a dhivida sobre a existéncia da filosofia africana 6, fundamen- talmente, um questionamento acerca do estatuto ontol6; de seres humanos dos africanos” (RAMOSE, 2011, p. 8) la de Produgao humana ou invengiio ocidental Vale a pena se debrucar sobre argumentos de outra ordem: aqueles que sugerem que a negacdo da existéncia da filo- sofia fora das cercanias europeias nao é uma objecao aos pensamentos “afticano’, “amerindio’, “oriental”, etc. Filoso- fia seria de nascenga grega, europeia e, mais tarde, ociden- tal. Mas o pensamento estaria presente em todos 0s povos. Historiadoras(es) e professoras(es) de filosofia estariam di- zendo, tao somente, que se deve reconhecer que nao é ade- quado enquadrar formas distintas de pensamentos, tais como © africano, num “modelo” ocidental. Esta tese, advogada por muitas flésofas e muitos filésofos ocidentais, segundo a qual affilosofia é uma forma de pensamento de origem grega e que se assenta nas bases culturais da Europa, constituindo uma 60 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 tuadicdo ocidental, permitiria que expressdes ricas e diversas do pensamento humano nao fossem subsumidas e “reduzi- das” a filosofia, Um dado relevante é inquirir este fenomeno a partir das relagdes de poder. Para ilustrar esse problema, dei- xo um elenco de interrogages abaixo: existem departamen- tos de pensamento? Programas de pesquisas e pés-graduagio {que sejam financiados para investigar pensamento? Existe uma tradi¢ao académica que envolve sistemas de prestigio, recursos, reconhecimento e formagao na area de pensamen- to? Alguém se forma em pensamento? Qual € o lugar social € politico de quem trabalha com pensamento? O reconheci- mento € algo desprezivel endo deveria ser buscado? Pois bem, quero sugerir outro ponto de vista. A saber: es- tarfamos diante de uma modalidade de monopolio ou of gopélio intelectual e epistemico: um dos campos com maior status dentro da grande érea de Humanidades seria explo- rado exclusivamente pela tradi¢ao ocidental. Dentro desta tradicdo, fil6sofas ¢ filésofos pragmatistas, continentais ¢ analiticas(os) disputariam visibilidade e representatividade. raciocinio sugere que a Filosofia — entendida como ativi- dade profissional académica — seria objeto de “patente”, € © espélio grego foi dividido entre os fiis representantes do que se convencionou chamar de tradig4o ocidental. Ainda dentro de uma leitura geopolitica, podemos identificar Ale- manha e Franca (filosofia continental), Gra-Bretanha (filo- sofia analitica) e Estados Unidos da América (pragmatismo) num embate pelo posto de “capital” da filosofia. O que de- nomino aqui como o mais contumaz oligopdlio intelectu- al do ocidente remete, Zo somente, a ideia — obviamente sujeita a objegdes — de que a Filosofia seria comparével a recursos naturais que, por meio de um contrato vitalicio € Capitulo2 61 irrevogavel, 86 podem ser explorados por trés companhias Gilosofia continental, filosofia analitica e pragmatismo) que “disputam’ o mercado; mas se asseguram e se apoiam mutu- amente para que “corporagGes intrusas” ndo possam ter aces- so ao seu valioso bem: a filosofia. Ora, a disputa pelo direito a filosofia tem o mesmo modelo dos debates das associagoes, internacionais de comércio, dos entraves do Conselho de Se- guranga da Organizagao das Nagies Unidas (ONU).. A seguir, convido leitoras ¢ leitores para responder uma in- terrogacao, de certo modo muito simples e que pode parecer algum tipo de anedota. A filosofia se assemelha mais com a arquitetura e a religiosidade ou com o telefone e 0 avidio? A pergunta nao € retérica. Em linhas gerais, estou sugerindo uma divisdo muito simples: 1") Produgdes humanas verifi- cdveis em todas as sociedades e culturas, sem datagio deter- minada ¢ sem local espectfico de surgimento; 2") Invengies iveis no tempo eno espaco. Ora, sea filosofia parece pertencer mais ao conjunto de “produgdes humanas verificdveis em todas as sociedades e culturas, sem datagaio determinada e sem local especifico de surgimento’, por que rTequerer uma certidao de nascimento e insistir em reduzi-laa ‘um tipo de realizacao exclusiva do Ocidente? Sem diivida, his- toriadoras e historiadores da arte e da arquitetura nao pare- cem supor que as criages artisticas sao exclusivas do povo X ou da civilizacao Z. As concep¢ées, sistematizacdes e praticas religiosas variam de acordo com as culturas, se transformam conforme as interages nos mais variados contextos; mas, en- fim, soaria esdnixulo afirmar que a crenca num conjunto de elementos divinos e suprassensfvel é uma “invengiio” do povo Y.O que € corrente € 0 reconhecimento de que determinada religido surge num contexto cultural especifico. Por exemplo, 62 © Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 © candomblé é uma religiéo de matriz africana, o budismo tem raizes na India. Mas nao ¢ pertinente afirmar que a in vengao da religiéo foi obra do povo iorubd. Entretanto, po- demos dizer que 0 povo iorubé € protagonista na criacao ¢ na sistematizagao do Culto a Ifé — nome de um conjunto de ccrengas e préticas espirituais proprias desse povo. Por analogia, pretendo descrever um raciocinio simples que desvincule a filosof'a do que anteriormente denomi- nei “invengdes pontuais localizaveis no tempo e no espa- 0". Como € 0 caso do avido, em que a disputa pela autoria do primeiro voo de um engenho dirigivel mais pesado que 0 ar é pertinente. Ora, quera inventou o mais pesado que 0 ar? Santos Dumont ou 0s irmos Wilbur Wright e Orville Wright? Os irmaos Wright realizaram seu primeiro voo em 17 de de- zembro de 1903, enquanto Santos Dumont vou em Paris na data de 23 de outubro de 1906. Pois bem, quando a Federa- ‘sao Aerondutica Internacional (FAL) —que estabelecera uma ‘competicao que premiaria 0 mais pesado que o ar — anali- sou todos os relatos de voos anteriores a 1905, para verificar se algum podia ser considerado o primeiro voo de um mais, pesado que o ar viavel, o invento dos irmaos Wright nao foi reconhecido porque nao foi feito em exibigéo publica (para aeroclubes, jomnalistas, etc.) € nao atendeu & exigéncia ini- cialmente adotada de usar propulsao prépria. Entao, 0 voo de Santos Dumont foi considerado o primeiro pela FAI. So ‘mente em 1908, a0 fazerem um vo puiblico, e quando aquela ‘exigéncia nao mais existia, 6 que os irmaos Wright obtiveram ‘© reconhecimento oficial retroativo ao voo de 1903, passa- rama ser considerados em todo o mundo como os inventores do dirigivel mais pesado que o ar, embora até hoje persistam ‘questionamentos a essa primazia vindos de diversos paises. Capitulo2 63 E obvio que nosso escopo esti longe de decidir quem rea- lizou 0 primeiro voo. 0 propésito é sublinhar como ¢ inade- quado ler 0 “nascimento” da filosofia sob os mesmos moldes do surgimento do dirigivel mais pesado que o ar. Nés pode- mos falar de um tipo de filosofia, assim como falamos de um estilo artistico ou um “género” musical. Mas 0 argumento ‘que defendo é que nao podemos usar a mesma l6gica, os mesmos princfpios que sustentam a pergunta: “Quem in- ventou o dirigivel mais pesado que o ar?” No caso: “Quem ou que povo ‘inventou’ a filosofia?” Fendmenos como miisi: a, filosofia ou arquitetura nascem em regides particulares, mas, devido ao cardter pluriversal da realidade, as produ- ‘ges humanas ocorrem em diversas regiées do mundo en- frentando problemase demandas comuns. Em poucas palavras, € contra o racismo epistémico, 0 ra- cismo antinegro e todos os tipos de racismo que entendo que devemos sustentar a validade da filosofia como pluriversal e, por conseguinte, a existéncia da filosofia africana, Como ja foi dito, as pesquisas de James, Diop e Obenga sistematizaram escritos flossficos egipcios anteriores aos textos gregos; mas isso nao significa que foram os africanos que inventaram a filosofia. Tampouco a anterioridade de alguns textos indianos € chineses em relagdo aos escritos gregos indicaria um tipo de precedéncia. Porque ¢ importante desvincular a auséncia de registros escritos da inexisténcia de reflexdes filoséticas. Por outro lado, também nao estamos buscando resolver um tipo de mistério da natureza: “Quem nasceu primeiro: 0 ovo ow a galinha?” O meu ponto de vista ¢ que as reflexdes filos6- ficas sao, em certa medida, “congénitas” a propria “condigao humana’. Diferentemente da invengdo do avido, a filosofia nao pode ser entendida, apenas, como 0 resultado de avan- 64 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 {908 técnicos ¢ cientificos. Filosofia, tal como a arquitetura, se enquadra em “produgées humanas verificaveis em todas as sociedades e culturas, sem datacdo determinada e ser local espectfico de surgimento’, Por exemplo, é inegavel que gran- des obras classicas da arquitetura do Egito, da arquiterura as- teca ¢ da arquitetura grega sio distintas; mas os esforgos em busca da construgio de abrigos, moradas, templos e espagt para atividades especificas estavam presentes nessas trés So- ciedades. E, sem exageros, vale a pena repetir: dizer que um povo “inventou” a arquitetura seria esdrixulo. Pois bem, ad- ‘vogo que o mesmo deve ser aplicado a filosofia. Cabea ressalva de que ndo se trata de querer uma descricéo essencialista que contemple todas as atividades, pesquisas, vestigacdes e produgGes sob a nomenclatura de filosofia. Mas, to somente, de buscar e sustentar uma resposta plausivel e, além disso, razodvel, justificada e coerente a respeito deste tipo de atividade presente em todas as sociedades humanas. Palavra orale palavra escrita Uma objegao plaustvel as produgées filoséficas nao oci- dentzis, anteriores &s instalagées de Departamentos de Filosofia nas universidades do mundo, estaria na suposta auséncia de dados devido a baixa quantidade de textos. No caso especifico da filosofia africana, pesquisadoras e pesquisadores se perguntam onde estao os escritos. Sem diivica, dentro dos padrdes do Ocidente, a oralitura"* nao mereceria a mesma confianca que o registro escrito. Mas “© Pororalitura se deve entender o conjunto de textos orais numa deter- ‘minada érea ou sobre algum assunto,relatados e transmitidos de geracio ageracio, Capitulo2 65 serd que, realmente, apenas a escrita tornaria um racioci- nio valido? Por um lado, vale dizer que existe um volume bem razodvel de textos africanos antigos anteriores aos es- ctitos de Platao e de Arist6teles ainda pouco conhecidos do ‘mainstream académico. Por outro, a oralidade e a escrita nao devem ser vistas como opostas ou dentro de uma hie- rarquia, mas como equivalentes. Deuse Maat, dvindade da justiga, da verdadee da harmonia. Pois bem, existem diversos textos egipcios de escribas, de altos funciondrios da monarquia. Um dos trabalhos mais conhecidos, que retine material filoséfico, politico e reli- gioso, consiste nos principios de Maat, que uma tradugao equivoca denominou Livro dos mortos. Eles formam O livro do vir @ luz do dia (The book of coming forth by day), tra- duzido pelo fildsofo e sociélogo Maulana Karenga (2004). 0 termo “Maat” nao pode ser adequadamente traduzido por uma $6 palavra, mas circunscreve retidao, harmonia e ver- dade. Maat € uma deusa importante na cultura do Kemet, o Egito antigo, que traduz bastante do esforco filoséfico de busca da verdade pelos seres humanos. Maat responsdvel pela balanga, ela dé a medida da verdade, ¢ esposa de Toth, 66 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 deus do conhecimento e da escrita. “Na mitologia egipcia, Maat e Toth perfazem um casamento que dé o panorama e 08 detalhes daquilo que a rekhet {flosofial busca” (NOGUE- RA, 2013b, p. 151). Enfim, O livro é uma reuniao de protoco- los morais que pretende fornecer exercicios espirituais em favor de uma vida guiada pela mat nfr (palavra bem-feita). Ptah-hotep foi Vizir do FaraéIsesi daVDi- nastia do Reino Antigo. Deixou como lega- 140.37 méximas dispontveis no Papo Prisse Giblioteca Nacional de Pars, 183-194, iab-hotep dizia que rekher(losofia) € ‘uma arte inconctusae o seu artesgo nunca ‘chega a ficar plenamente destro. A filosofia é um tipo de arte que, nos termos de Ptah-ho- tep, esté sempre por fazer da palavra uma escultura e nunca se completa, “pois os limites da arte nao podem ser alcan- cados e a destreza de nenhum artista ¢ perfeita” (PIAH-HO- TER, 2000, p. 247). Ora, uma rica hist6ria da filosofia precisa de um deslocamento do territério geopolitico ocidental. Obenga (2004) diz que € empobrecedor e muito prejudicial para o pensamento especulativo reduzir a hist6ria da filo- sofia em tempos mais remotos a um conjunto de textos de ‘uma pequena regio do mundo, Obenga (1990; 1992) ainda traz detalhes das escolas de escri- bas, espagos efervescentes que funcionavam como centros de Capitulo2 67 estudos e difusdo filoséfica. 0 Papiro Sallier Il (Museu Britanico, 10182) traz a Sdtira das profissoes escrita por Khéti e que remon- ta 19" Dinastia, O texto elenca diversas profissves, destacan- do 0 trabalho de escriba como o de melhor sorte, por ser “tido como aquele que ouve, e 0 (bom) ouvinte é 0 que age” [KHETI, 2000, p.224] (NOGUERA, 2013b, p. 147-148). 0 filésofo Joseph Omoregbe (1998) escreveu em Filosofia africana: ontem ¢ hoje que alguns dos elementos mais de- cisivos da reflexio filoséfica esto presentes em todos os povos. Conforme Omoregbe, ainda que muitas fildsofas € muitos fil6sofos africanos nao tenham deixado textos, exis- ‘tem diversos meios para a filosofia africana ser acessada. (..) n6s temos fragmentos de suas reflexdes filoséficas, e suas perspectivas foram preservadas e transmitidas por meio de ou- {tos registros como mitos, aforismos, maximas de sabedoria, provétbios tradicionais, contos e, especialmente, através da reli- sido (..) Além das mitologias, maximas de sabedoria e visoes de ‘mundo, o conhecimento pode ser preservado e reconhecido na onganizagao politico-social elaborada por um povo. (OMOREG- BE, 1998, p74) ‘Hampate Ba (1900-1881) 68 —OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 Hampaté Ba também nos ajuda a problematizar o cli- ché de que a escrita seria superior a oralidade: “Nada pro- va a priori que a escrita resulta de um relato mais fidedigno do que o relato oral transmitido de geracao a geracao” (BA, 2010, p.168). Ba explica que o pensamento, o raciocinio e as justificativas, antes de serem escritos ou narrados, esto nas ‘mentes das pessoas. A escrita é, to somente, uma fotografia dos saberes humanos. Quero destacar que nao se trata de boa vontade ou de uma posicao ideolégica para reconhecer aexisténcia da filosofia africana na antiguidade e nos perfo- dos hist6ricos anteriores aos Departamentos de Filosofia no continente afticano, mas de considerar as investigagoes que jé existem, analisando os diversos trabalhos e levando em conta a produgio filos6fica em seus mais variados formatos, Uma historiografia filoséfica que recoloque a Africa como ‘um continente intelectualmente produtivo e relevante pre- cisa levar em consideragdo os mitos, aforismos, sistemas politicos, maximas e o pensamento religioso. O que ests em jogo 6 um esforco intelectual muiltiplo que nao se prenda as formas e aos métodos de historiografia filosofica hegem6ni- cos no Ocidente. Para dar curso a este objetivo, vale colocar a hist6ria da filosofia em afroperspectiva. Afroperspectividade, pluratismo, polissemia Em linhas bem gerais, uma abordagem filoséfica afropers- pectivista é pluralista, reconhece diversos territérios epis- témicos, é empenhada em avaliar perspectivas e analisar métodos distintos. Tem uma preocupacao especial para a reabilitacao ¢ o incentivo de trabalhos africanos e afrodias- p6ricos em prol da desconstrucao do racismo epistémico Capitulo2 69 antinegro e da ampliagao de alternativas para uma socieda- de intercultural e nao hierarquizada. Uma incursio afroperspectivista sobre a hist6ria da filo- sofia se caractetiza mais por explora: perspectives Poucu ex ploradas do que pela dentincia, Sem dtivida, a dentincia do racismo epistémico é importante. Mas, em termos afropers- pectivistas, estamos ainda mais preocupados com o caréter proativo que pode ajudar a enriquezer pesquisas e estudos em qualquer 4rea de conhecimento, aqui especialmente no campo da filosofia. Ainda que seja necessério criticar, des- crever e rechacar as implicacées da injustiga epistemolégica ‘que atinge as produgées filoséficas africanas, o aspecto mais edificante esta justamente nas alternativas ¢ perspectivas quase desconhecidas que podem sugerir argumentos, pon- tos de vista, ideias e conceitos em fevor de caminhos inusi tados, criativos e propositivos sobre ética, politica, ciéncia, religido, sexualidade, educacao, relagdes étnico-raciais e de género, entre outros assuntos e temas. Numa visdo afroperspectivista, a filosofia grega na An- tiguidade pode ser mais bem compreendida num didlogo com 0s filésofos egipcios. Neste caso, 05 manuais de histéria da filosofia incluiriam algumas modificagdes. A pesquisa de James, além de informar, procura demonstrar as influéncias egipcias na filosofia grega. Afinal, se Tales de Mileto, Anaxi- mandro, Anaximenes e Pitagoras, entre outros fildsofos, es- tudaram no Egito (JAMES, 2005) por que desconsiderar esas, herangas? No caso da Escola Pitagérica, a heranga filos6fica egipcia € muito marcante, além de Pitégoras ter vivido no Egito por estimados 22 anos (ASANTE, 2000; JAMES, 2005). Os preceitos dessa Escola de filosofia eram muito semelhan- tes aos adotados na Escola filoséfica do antigo Egito.”” bre este » Nao cabe aqui um estudo prolongado deste instigante tema; 70 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Outra critica relevante sobre o tratamento académico a respeito da historia da filosofia tem como ponto nevrélgi- 60 0 seu aspecto reducionista. Por analogia, o que dirfamos se um trabalho de historia da arquitetura resolvesse ficar restrito as obras gregas? Nao seria de espantar que soasse esquisito. Por que seria diferente com a filosofia? Pois bem, advogo que com a filosofia se dé o mesmo. Porque entre as, caracteristicas da filosofia, sem querer entrar em controvér- sias profundas e longas, é possivel encontrar diversas ques- tes relevantes para toda a humanidade. Por outro lado, se o que estd em jogo ¢ 0 caréter da filoso- fia, por que nés deverfamos supor que existe uma esséncia que permanece em todas as atividades, descrigdes, exer- cicios, teses, investigagdes e argumentagées no campo da filosofia? O fildsofo Ludwig Wittgenstein (2000) em Inves- tigacoes filosoficas oferece uma possibilidade interessante para problematizar as formulagdes em favor de uma defini- ‘cdo que busque a “esséncia” da filesofia. Afinal, o que uma fildsofa continental teria em comum com uma fil6sofa ana- Iitica? Ou ainda, quais séo as semelhancas entre a agenda de investigacao de um filésofo da religido e de uma fildsofa da ia? Sem duivida, muitos fildsofos responderiam que os debates remetem a tradi¢ao ocidental, e algumas questées so, em certa medida, compartilhadas. No pardgrafo 65 de Investigacoes filoséficas, Wittgenstein propoe 0 abandono da ideia de “algo comum’. Para Wittgenstein (2000), 0 significa- do de uma palavra no remete a um objeto especifico, mas sim aos usos que ela possui na linguagem. Neste sentido, 0 termo “filosofia’ é polissémico, varia conforme o contexto. “4 assunto ver os trabalhos indicados na biblografia de Asante (1987, 1988, 1991, 2000, 2009, 2010), Diop (1954, 1967, 1977) e James 2005). Capitulo2 71 ‘Mas também podemos comparar com a nogao de Witt- genstein de “jogos". 0 filésofo alemao menciona que a pa- lavra “jogo” recobre uma série de atividades distintas. Por exemplo: 0 jogo de xadrez tem regras que dizem respeito as estratégias ¢ as habilidades; no caso do jogo de roleta, a sor- te €0 tinico elemento decisivo, enquanto um jogo de futebol envolve estratégias, habilidades e sorte. Mas 0 termo “jogo” se aplica aos trés casos. Nao vou me demorar na anélise wit- tgensteiniana, mas ela também pode ajudar a abandonar a preocupacao com a verificagao de uma esséncia no campo da filosofia. O que esta em jogo é uma designacao a respeito deumaatividade humana, algo que nao é exclusivo deste ou daquele povo. Pois bem, colocar a histéria da filosofia em afroperspec- tiva permitiria a consideragao do pensamento filoséfico dos povos amerindios, dos povos asiéticos, da Oceania, além da produgao filos6fica africana. Ou seja, afroperspectivizar a filosofia ¢ um projeto de passar a limpo a histéria da hu- manidade, tanto para dirimir as consequéncias negativas de eliminar culturas € povos nao ocidentais do rol do pensa- mento filos6fico, como para desfazer as hierarquizagoes que advem desse processo. ‘Uma ligeira comparacao nos ajuda a perceber a dimensio do problema. Diante dos curriculos oficiais do Ensino Mé- dio, a disciplina de Hist6ria tem um capftulo guardado para a “Idade Média’. Neste momento, as(0s) estudantes aprendem exclusivamente sobre a Europa; 0s outros continentes po- vos néo “caberiam” na Idade Média. O que parece que esté sendo dito ¢ simples e equivoco: a Africa, a Asia, a América, a Oceania e os povos que lé habitavam nao existiam neste mo- mento. A Africa “passaria’ a existir, apenas, com as relagdes 72 OEnsino de Filosofia ea Lei 10.639 estabelecidas depois do contato com os europeus. Obvio que muitos livros didéticos de Histéria fazem ressalvas a esse res- peito. Pois bem, no caso da flosofia: 0s outros povos parecem, nunca ter existido. Como ja foi dito, essa nao existéncia é um proceso de desumanizacao. Afinal, se fazer filosofia é uma atividade sofisticada, requintada e complexa, os povos que foram “incapazes” de produzi-la seriam menos sofisticados. Isso € endossado pelos livros didéticos de filosofia. 0 Grupo de Pesquisa Afropeispectivas, Saberes e Intersecoes (Afrosin), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRD, tem acompanhado livros didéticos na érea de filo- sofia. Analisamos os dez livros mais usados no Brasil, e ne- nhum deles apresentava uma versao sobre o surgimento da filosofia que fosse diferente da mais corriqueira, que a diz nascida em bergo grego. Além disso, uma pesquisa feita pelo Afrosin entre 08 anos de 2010 e 2014 verificou que, entre os cinco livros mais usados por professoras e professores de filosofia, nenhum tinha capftulos sobre a producao filosé- fica fora da Europa e dos Estados Unidos da América. Com efeito, afroperspectivizar a hist6ria da filosofia é deslocar 0 Ocidente do centro e assumir as contribuigdes de todos os povos e culturas da humanidade, dando uma atencao espe- cial a flosofia africana, Num explicito posicionamento poli- céntrico e pluralista. Filosofia africana ‘Unie interrugayao quase inevitével &: 0 que € filosofia afri- cana? Ela estd presente em todas as discusses a respeito do ‘status filos6fico de pensadores ¢ pensadoras do continen- te africano. Entre os debates mais instigantes em torno do Capitulo2 73 tema, vale destacar Paul Hountondji e Kwame Appiah. Os dois filésofos oferecem perspectivas distintas. Enquanto 0 primeiro reitera que por filosofia africana se deve entender © conjunto de reflexes filoséficas feitas por africanas e por africanos, Appiah inscreve a filosofia dentro da tradicao oci dental e argumenta que: 0 discurso filos6fico contemporaneo do Ocidente, como qual- ‘quer discurso, é um produto de uma hist6ria; 6 essa historia que cexplica por que seus muitos estilos e problemas mantém-se uni- dos. [..J a filosofia académica passou a ser definida por um ca: none de temas, assim como por seu método argumentativo. Se entendermos por “flosofia” a tradigao a que pertencem Platéo e Aristételes, Descartes e Hume, Kant e Hegel, é fatal que pelo ‘menos os seguintes conceitos sejam considerados centrais nes- se cnone: beleza, bem, causagao [..), sentido, verdade e vida" (APPIAH, 1997, p.128-129). 0 flsofo costa-marfinense Paul Hountondjinasceu em 1942. Aafirmacao de Appiah pode ser objetada. Sob um aspec- to, destaco que a falta de conhecimento a respeito de algo nao deve ser sindnimo de sua inexisténcia. Pois bem, o des- conhecimento das produgoes filos6fi 74 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 or antecipago, supor que os mesmos temas candnicos tra- balhados por Platao e Arist6teles nao tenham sido examina- dos por pensadores de outras regides do mundo. Hountondji também contra-argumenta a respeito da no existéncia de filosofia afticana dizendo, como foi dito anteriormente, que: “Por ‘filosofia africana’refiro-me a um conjunto de textos, es- pecificamente ao conjunto de textos escritos pelos proprios africanos e descritos como filoséficos por seus préprios au- tores” (HOUNTONDII, 1977, p.107). Appiah e Hountondji rechagam a etnofilosofia africana, recusando a ideia de que 08 povos tradicionais africanos teriam produzido um tipo de pensamento filoséfico coletivo, inconsciente e nao sistema- tizado. Hountondji objeta essa ideia. Ao longo do meu percurso intelectual, fui sensibilizado para este problema e comecei a percepcioné-lo como problema ao ler li- vroe sobre “filosofia, canos. Normalmente, os autores partiam do prineipio de que os africanos nao tinham consciéncia da sua prépria flosofia e de {que apenas os analistas ocidentais[..] poderiam tragar um qua- dro sistematico da sua sabedoria” (HOUNTONDJI, 2010, p. 133). cana’ ou cistemas de pensamento afri- Um dos principais destinatérios desta critica foi o missio- nario belga Placide Tempels (1959), que escreveu Filosofia bantu. Mas, apesar de Appiah e Hountondji convergirem ara a recusa de uma etnofilosofia africana, Appiah faz, em certa medida, coro com 0 status quo académico filos6fico, enquanto 0 fil6sofo costa-marfinense faz. questao de postu- lara existéncia da filosofia africana elaborada por pensadores africanos. Eu advogo a perspectiva de que as diversas cultu- ras tradicionais africanas sao condigées de possibilidade, tal Capitulo2 75 como nos diz Omoregbe, para compreendermos a produgao filoséfica desses povos. Em outros termos, é adequado pro- uzir teses filos6ficas e definir linhas, localizando-as tem- poralmente, a partir de elementos culturais de sociedades ‘wadicionais africanas através de estudos comparativos e de ‘uma historia da Africa revisitada e descolonizada. Em outro aspecto, a definigdo de Hountondji, segundo a qual toda a produgao filos6fica de autoria africana se confi- gura como filosofia africana, nao é ingénua. 0 fil6sofo costa- -marfinense ressalta que identifica filosofia africana “com a bibliografia ou a literatura filos6fica africana permitiu que surgisse a nogdo das contradigées e dos debates intemos, das tensdes intelectuais que dao vivacidade a esta filosofia’ (HOUNTONDII, 2010, p.137).Falar em filosofia africana néo setrata de uma pasteurizacao. 0 fil6sofo senegalés Ibrahima Sow (2010) tem um valioso trabalho, La Philosophie Africai- ne: du Porquoi au Comment (A filosofia africana: do porqué {20 como). Sow nos oferece um vasto quadro dos debates em tomo da questao no continente africano. O seu trabalho 6 indispensdvel para conhecer um rigoroso levantamento de obras desde o século XVI até grandes expoentes contempo- raneos, além de um bom elenco de filésofas afticanas efilé- sofos africanos contemporéneas(os).Afinal, durante séculos existiram centros universitérios e significativa produgio filoséfica, literdria, cultural e cientifica escrita, 0 Império Songhai é um desses exemplos, uma sociedade complexa com intensa produgéo cultural antes das invasdes e coloni- zacbes europeias. Com efeito, uma histéria da filosofia em afroperspectiva significa uma historiografia inclusiva. £ importante trazer & cena outras perspectivas, mexendo com mainstream acadé- 76 OEnsino de Filosofia e aL mico com a presenga de autoras e autores de todas as partes do mundo para enriquecer 0 debate e desfazer ideias pre- concebidas sobre a filosofia. (0 flésofo Marcien Towa nasceu em 1931 ‘na Republica de Camarbes Brasil em afroperspectiva Um exercicio filos6fico afroperspectivista coloca o Brasil narota do pensamento. Ora, nos manuais de filosofia é raro que algum nome brasileiro apareca no elenco de filésofas e filésofos. A dupla injungao das Leis 10.639/03 e 11.645/08 nos impde outra problematizacao: existe uma produgéo filoséfica brasileira que nao tenha como fiadora filosofias europeias ou estadunidenses? Ou, como se diz, a filosofia no Brasil precisa ser sempre uma resenha de fildsofos eu- ropeus? Nao estou recusando a relevancia do fichamento critico interpretativo dos escritos europeus e estaduni- denses; mas, por que ainda deveriamos estar restritos a esse modelo? Afinal, tratar a histéria e a cultura africana e afro-brasileira como protagonist, para entendermos as formulacées intelectuais feitas no Brasil, coloca em pau- ta uma ‘nova’ bibliografia para a filosofia. No século XX, © Brasil teve um filésofo que, através da antropofagia to- Capitulo2 77 mada como um “método’, escreveu uma filosofia afro-bra~ sileira e indigena dentro de uma proposta antropofégica, usando a literatura como meio para a sua filosofia, fazendo do romance um tipo de texto filos6fico. Oswald de Andrade (197 1a, p. 33) dizia que “O romance é sempre um tratado de filosofia, sem cétedra, sem terminologia especial e sem a responsabilidade de um sistema’. Para Andrade, no Brasil, a filosofia “auténtica” made in Brazil foi feita fora das céte- dras. Um comentario a respeito do Estado nazista alemao da 2" Grande Guerra, travada principalmente na Europa, dé 0 tom oswaldiano: “A Alemanha racista, purista e recor- dista precisa ser educada pelo |... chinés, pelo indio mais atrasado do Peru ou do México, pelo africano do Sudao’ (ANDRADE, 1971b, p. 62). Oswald de Andrade (1890-1954), escritor e filésofo brasileiro, dizia que“A alegria éa prova dos nove’. (ANDRADE, 1928, p. 4) Ora, o que é mais relevante para a afroperspectividade no pensador brasileiro Oswald de Andrade pode ser dito resu- midamente num trecho do Manifesto de 1928. O paulista, que foi um dos expoentes da Semana de Arte Moderna no ‘Teatro Municipal em 1922, escreveu Manifesto Antrop6fago, que foi lido para outros expoentes desse evento. Andrade 78 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 defini antropofagia como “a transformacao permanente do tabu em totem” (ANDRADE, 1971 b, p. 92). Pois bem, 0 nosso exercicio consiste justamente em transformar tabu em totem. Em termos afroperspectivistas, partindo de ex- plicita inspiragao na obra de Oswald de Andradre, nosso intuito € transformar o maior tabu da hist6ria da filosofia em totem. Ora, diante de um dogma que interdita e silencia ‘qualquer argumento que tente ocupar 0 mainstream dizen- do que 0s textos de filosofia sso bem anteriores aos escritos gtegos, n6s entendemos que é importante fazer disso um totem, algo que deve ser cultuado, estudado, investigado e circular de modo relevante dentro dos citcuitos de difusdo de ensino de filosofia O filésofo e aivista negro Abas do Nascimento (1914-2011) figura como Jum dos maiores expoentes do pensa- ‘mento afroperspectivista. O autor de Oquilombimo trouxe uma leitura do pan-africanismo, Em se tratando de uma produgao filoséfica no Brasil, muitos nomes da literatura trouxeram questdes filos6ficas muito interessantes. Machado de Assis é um dos que figu- ram no pantedo desses autores que fizeram do romance um, tratado filos6fico. Mas, além de nomes como Machado de Assis, Lima Barreto e Guimaraes Rosa, um nome que nao se Capitulo2 79 consagrou pela sua veia literdria, mas pela sua escrita polit a, se mostrow incontornével e merece ser retomado: Abdias do Nascimento, Ora, um dos maiores expoentes do Teatro Experimental do Negro (TEN) foi um incansavel intelectual, ativista negro que nos brindou com uma pungente filosofia afroperspectivista, Abdias do Nascimento deixou um legado analitico para 0 pensamento social brasileiro muito impor- tante, atuando como um fildsofo politico que interrogou a. realidade a respeito de um horizante de valores como justica. e igualdade, Para Pereira (2011), a vasta obra de Nascimento pode ser dividida em trés fases. Na primeira fase, com escri- tos do fim dos anos de 1950 até meados de 1970, Abdias do Nascimento tratou da insergdo e da exclusio negra da di- namica social brasileira, como um renitente combatente do racismo antinegro brasileiro, Na segunda fase, 0 exilio em terras estadunidenses contribuiu para que Nascimento in- cluisse na sua agenda de pesquisa 0 racismo antinegro no Brasil dentro de uma ética global: entre os anos 1970 e final dos anos 1980, 0 didlogo com os direitos civis e uma leitu- ra mais aguda do pan-africanismo deram a tdnica dos seus escritos. A terceira fase remonta ao retorno ao Brasil, sua participacao politica, sua luta pela implementagao de po- Iiticas puiblicas de igualdade racial atuando como Senador Federal e ativista que esteve nas principais linhas contra 0 racismo antinegro. Ora, Nascimento deixou um legado com mais de 150 titulos entre livros, jornais, artigos de jornais, revistas e depoimentos. Nao poderfamos aqui, pelo escopo deste livro, estabelecer qualquer hierarquia entre os seus trabalhos. Vale dizer qne, no casode 0 quilombismo, 0 esco- po do trabalho remontaa titulos como Republica, de Platao, © Leviata, de Hobbes. Abdias do Nascimento pretende nos 80 O Ensino de Filosofia ea Lei 10.639 apresentar uma perspectiva politica e social de organiza- do em bases africanas, afro-brasileiras, tendo 0 “quilombo” como modelo. Como jé foi dito anteriormente, o conceito de quilombismo foi cunhado por Abdias do Nascimento para trazer & cena uma estética negra, uma politica negra e pos- sibilidades de reconfiguracdo das relagdes sociais, A capaci- dade de fazer politica a partir de repertérios que nao sejam os convencionalmente conhecidos do paradigma ocidental nos convida a pensar além das categorias de esquerda e di- reita. As“culturas africanas |... séo flexiveis ¢ criativas, assim como bastante seguras desi mesmas, a ponto de interagir es- pontaneamente com outras culturas” (NASCIMENTO, 1980, p. 1946). Ora, a afroperspectividade percebe flexibilidade e criatividade como valores muito relevantes, articulados com a seguranca de autorreconhecimento do seu préprio eixo histérico e cultural. Com efeito, Abdias do Nascimento nao pode deixar de compor o quadro da histéria da filosofia no Brasil. Nascimento rompe com muitos tabus e oferece algo que é muito caro & filosofia afroperspectivista: a critica aos jogos de dominagao baseados nos critérios étnico-raciais. ‘A hiist6ria da filosofia ocidental esta imersa em dogmas e tabus; 0 tabu da certidao grega assinada por Tales de Mileto e/ou Sécrates e/ou Platéo é um dos que mais tem sido blin- dado nos meios académicos. Uma ilustracao razoavel desse tabu da filosofia ocidental estd presente no desenho hegelia- no da hist6ria da filosofia. Hegel elegeu a coruja como “mas- cote” de um pensamento eurocéntrico e excludente. Pois bem, a histéria da filosofia em afroperspectiva também tem ‘um mascote. Afinal, Hegel popularizou a imagem da coru- ja como simbolo da filosofia, numa alusao explicita a deusa Minerva, verso romana de Atena, deusa da sabedoria e da Capitulo2 81 guerra na mitologia grega. A coruja alga vo & noite, enxerga no escuro, 0 pescogo gira 360°. Pois bem, fago uma conjectura: numa abordagem filo- s6fica afroperspectivista — leia-se a reunidio de produgdes filos6ficas africanas, afrodiasp6ricas e comprometidas com © combate ao racismo epistémico —, 0 animal simbolo é galinha-d’angola. Na mitologia iorubé, a galinha-d’angola é responsavel pela manutengao do equilibrio porque mantém co axé (energia vital) em circulagao. Ao invés da coruja de Mi- nerva, baseada na mitologia greco-romana, 0 animal-sim- bolo da filosofia (aftoperspectivista) é a galinha-d’angola, que integra o universo mitico iorubé. Ela representa, em certa medida, a iniciagao ao conhecimento de si, a capaci- dade de escolher ese comprometer com um caminho diante de intimeras possibilidades. Ou ainda, a condigao indispen- sdvel para materializacao da capacidade de se manter em equilfbrio e harmonizar o ori (cabega num sentido mais am- plo do que o usado comumente). No pluriverso bantéfono, a galinha-d’angola tem um. mito, compartilhado em vers6es proximas por grupos étni- cos como os ambundu, bakongo ¢ ovimbundu — povos fa~ antes de kimbundu, kicongo e umbundu respectivamente —, em que ela vivia triste e fraca, se lamentando pelos cantos. Num belo dia encontrou Dandalunda, a deusa da fertilidade, que a adornou, pintando o bico de vermelho, dando-Ihe uma coroae pintando com o brilho de um colar. A galinha-d’angola se tomou feliz. e passou a ficar eviden- te. Um simbolo de acesso a sabedoria, de possibilidade de transformagao e de reconhecimento da fertilidade inerente a0 bom uso da mente. Capitulo 3 Ensino de filosofia, formagao e parametros curriculares para educagao das relagoes étnico-raciais ‘] a primeira competéncia, a preparagéio para a capaci- tagiio para um modo filoséfico de formular e propor solugies de problemas. [..] servir-se do legado das tradigaes filoséficas para dialo- ‘gar com as ciéncias e as artes, e refletir sobre a realidade [...] ‘0 gosto pelo pensamento inovador, critico e independente. (BRASIL, 2006, p. 32) Os fragmentos acima integram o Documerto do Minis- térlo da Educagaio com orientagdes para o Ensino Médio. A filosofia, formada por varias tradigGes, deve promover 0 pensamento critico. Na busca de uma educagio antirracis- ta, as tradigoes africanas devem ser atualizadas, percorridas, desdobradas e integrar o curriculo de forma efetiva. 84 —OEnsino de Filosofia ea Lei 10.639 Filosofia no Ensino Médio A inclusao da filosofia no Ensino Médio brasileiro como disciplina obrigat6ria foi homologada no ano de 2008, mas © proceso foi gradativo. No ano de 2009, todas as escolas de Ensino Médio inseriram a disciplina no 1 ano; em 2010, além do 12 ano, a filosofia passou a compor 0 2° ano do En- sino Médio. Em 2011, a filosofia — conforme a legislacao educacional — passou a integrar todas as séries do referido nivel de ensino, Em seguida foram elaboradas as Orienta- ‘Ges Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (OCNEM), © documento foi publicado no ano de 2006, trés anos de- pois da promulgacao da Lei 10.639/03, mas nao menciona diretamente, no caso do capitulo dedicado & filosofia, as Di- retrizes Curriculares Nacionais para 0 Ensino de Hist6ria e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Conforme o documento: Cabe insistir na centralidaste da hist6ria da flosofia como fonte para 0 tratamento adequado de questdes filossficas. Com efei- (0, nao realizamos no Ensino Médio uma simplificacao ou uma mera antecipa¢ao do Ensino Superior e sim uma etapa espect fica, com regras e exigéncias préprias, mas essas s6 podem ser bem compreendidas ou satisfeitas por profissionais formados em contato com o texto filosdfico e, desse modo, capazes de ofe- recer tratamento elevado de questdes relevantes para a forma- pplena dos nossos estudantes, (BRASIL, 2006, p.16) Pois bem, estamos diante de um desafio. Afinal, recorrer & histéria da filosofia nao dé conta dos contetidos estipulados pela Lei 10.639/03. Neste sentido, é fundamental “reescrever” a histéria da filosofia, tal como foi dito anteriormente, am- Capitulo3 85 pliando o elenco de fildsofas ¢ filésofos do mundo inteiro, in- cluindo um vasto time africano. Do contrério, 0 risco de uma historia parcial (ocidental) da filosofia ser tomada como sind- nimo da historiografiafiloséfica universal é muito alto, dando ‘uma falsa impressdo para estudantes do Ensino Médio. A disciplina de Filosofia, conforme a Legislacao Educacio- nal, deve manter um dilogo com temas ligados ao exercicio da cidadania, obviamente sem estar limitada a usos instru- mentais para a vida cidada. O OCNEM instrui que os pontos de partida para a Filosofia problematizar e contribuir para o exercicio critico da cidadania sao: 1) Estética da Sensibilidade; Up Politica da Igualdade; IID Etica da Identidade. Pois bem, diante desses trés t6picos publicados nas Dire- trizes Curriculares Nacionais para 0 Ensino Médio, a filoso- fia pode ajudar na construgao de: 1) Uma Estética plural e antirracista; 28) Uma Politica que combata as assimetrias baseadas em crité rios étnico-raciais; 38) Uma Etica que combata as discriminagbes negativas ende- recadas a grupos étnico-racials que historicamente tém sido su- balternizados, propor uma Etica ubuntu’ Dentro da ética ubuntu a comunidade possul tés dimensdes: os ances- trai, os que esto vivos eos que ainda nao nasceram, Ubuntu pode ser tr ‘duzido como “e que é comum a todas as pessoas”. A maxima zulu e xhoss, ‘umuntw ngumuntu ngabantu (uma pessoa é ums pessoa através de outras pessoas) indice que um ser humano so se zealza quendo humaniza outros sezes humanos. A desumanizacao de outros seres humanos € um imped mento para o autoconheclmento e a capacidade de desfrutar de todas as, nnoseas potencilidades humanas (NOGUERA, 2012) 86 _O Ensino de Filosofia ea Lei 10.639 0 objetivo da disciplina Filosofia nao é apenas propiciar ao alu- 0 um mero enriquecimento intelectual. Ela é parte de uma proposta de ensino que pretende desenvolver no aluno a capa- cidade para responder, langando mao dos conhecimentos ad- quiridos, as questdes advindas das mais variadas situagées. Essa capacidade de resposta deve ultrapassar a mera repetigao de informagdes adquiridas, mas, ao mesmo tempo, apoiar-se em conhecimentos prévios (BRASIL, 2006, p. 28) Alunas ¢ alunos podem ser municiados pela filosofia, através das suas competéncias e habilidades preconizadas pelos Pardmetros curriculares nacionais para o ensino mé- dio (PCNEM), para se posicionar diante de situagdes que envolvem o racismo antinegro. Por exemplo, no seu rol de competéncias e habilidades esté a “capacidade de relacionar © exercicio da critica filos6fica com a promogao integral da cidadania e com o respeito & pessoa, dentro da tradi¢ao de defesa dos direitos humanos” (BRASIL, 2006, p. 31). Neste caso, argumentos filos6ficos podem servir para balizar di- reitos humanos para uma sociedade antirracista, néo pig- mentocratica, antissexista, anti-homofébica, adverséria das discriminagoes negativas sobre surdas, surdos, cegas, cegos, pessoas com necessidades especiais de locomogao etc. Sem dtivida, depois do percurso que fizemos, vale reiterar que um Programa de Filosofia para o Ensino Médio que seja sugestivo, provocador e retina elementos significativos para © combate do racismo antinegro nao pode deixar de recor- rer ao legado filoséfico afticano, seus desdobramentos na afrodiéspora e, num outro registro, ao compromisso episté nico e politico para promogao do exercicio livre do pensa- mento humano. Diante desta proposta, quero sugerir alguns Capitulo3 87 parametros, numa perspectiva dialégica, policéntrica, que primam pela diversidade e pela diferenca. Ou melhor, uma exploracdo afroperspectivista do PCNEM e do OCNEM na rea de Filosofia. A proposta tem carter de ensaio, um pro- jeto provisério em construgdo que pode ajudar docentes e discentes em suas atividades disrias. As destinatdrias ¢ 05 destinatarios desses parametros sao professoras, professo- ese estudantes de graduacao de Filosofia, além de estudan- tes do Ensino Médio. Deinicio, vale trazer e comentar uma formulagao do PCNEM: Contextualizar conhecimentos filoséficos, tanto no plano de sua origem especifica quanto em outros planos: o pessoal-biografi- 0; 0 entorno séciopolitico, histérico e cultural; o horizonte da. sociedade cientifico-tecnol6gica (..] Acapacidade de contextualizar os conhecimentos imbrica-se com a destrera hermenéutica, assim como com a critica (BRA- SIL, 1996, p.342) Pois bem, se a contextualizacao deve trazer uma leitura, ampla em diversos aspectos, 0s textos filoséficos devem ser lidos considerando a biografia de fildsofas e fil6sofos, a situ- ago social, o momento histérico e a configuragao politica da, época. Exemplifico: para entender 0 pensamento filoséfico- de Hegel, ¢ relevante analisar 0 contexto politico da Alema- nha, 0 Estado prussiano. Ou, no caso do projeto iluminista, é muito importante compreender até a biografia de alguns ba- luartes como Voltaire, que mantinha, entre os seus negécios, o tréfico de escravizados africanos para a América, 0 que aju- daaentenderas descrigoes racistas de varios dos seus textos. De alguma forma ou de outta, biografia, contextos hist6rico, 88 Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 social e politico se relacionam com as reflexdes de fildsofas € fildsofos. Uma abordagem afroperspectivista se prevcupa em identificar as bases sociais e culturais dos argumentos ao Iado do poder especulativo filos6fico. Portanto, segundo uma conclusdo a que cheguei em parceria com Wanderson Flor Nascimento, um dos expoentes da filosofia afticana e afto- -brasileira no Brasil, uma “proposta afroperspectivista para curriculos de filosofia nao consistiria apenas em inflar os contetidos com o pensamento afticano e afro-brasileiro (..) trata-se de um exercicio de desmarginalizacao das produgées filos6ficas africanas (NOGUERA, NASCIMENTO, 2013, p. 79). Formagao académica em Filosofia Em relagao & formacao académica, as OCNEM preconizam que 0 eixo central do Curriculo Minimo dos cursos de Li- cenciatura em Filosofia no Brasil devem recobrir cinco dis. ciplinas: Hist6ria da Filosofia, Teoria do Conhecimento, Eti- ca, Légica ¢ Filosofia Geral (Problemas Metafisicos). Diante desta legislacao, considero pertinente relacionar linhas ge- rais antirracistas, parametros que contemplem diretamen- te e de modo consistente as Diretrizes para Educagéo das Relagoes Etnico-Raciais, Ensino de Histéria e Cultura Afro- -Brasileira. Neste sentido, segue um elenco a seguir: A. Hist6ria da Filosofia Levantar, catalogar e organizar — por miiltiplas estratégias, recorrendo a oralitura, as meximas, aos mitos, aforismos de sabedoria de vida, pesquisas histéricas, configuragées so- ciais, politicas, historiografia e diversos métodos — a pro- Capitulo3 89 dugao filoséfica africana, sugerindo criticamente a incluso de fildsofas africanas, filésofos africanos, escolas, linhas € tradicdes filoséficas africanas na Hist6ria da Filosofia. B. Teoria do Conhecimento Analisar os diversos pontos de vista sobre o problema do co- nhecimento, a construcao da teoria do conhecimento e da epistemologia; descrever e problematizar os atravessamen- tos culturais de diversos campos epistémicos; avaliar cri camente de que modo o racismo epistémico esta presente nos campos de Teoria do Conhecimento, da Epistemologia e da Filosofia da Ciéncia; cultivar o pluralismo ea diversidade através do reconhecimento de diferentes terrenos epistémi cos para 0 conhecimento humano. C Etica Levantar e problematizar as justificagdes para principios, normas ¢ assuntos relativos ao campo ético e moral em di- versas culturas; debater 0 cardter local e regional da moral, analisando os pontos de vista dentro de sociedades e cultu- ras afticanas e afrodiasp6ricas, e 0s impactos que adver das relagdes com es tradigdes ocidentais. D. Logica Examinar a l6gica, os seus usos ¢ possibilidades de insergao no debate sobre relagdes étnico-raciais; 0 estudo das muil- tiplas logicas e como elas se relacionam dentro de concep- ‘ges culturais africanas e afrodiaspéricas 90 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 E Filosofia Geral (Problemas Metafisicos) Debater a polissemia do conceito de Filosofia; desctevel, analisar, comparar ¢ articular os modos de abordagem dos problemas metafisicos feitos pelas mais diversas tradigoes ¢ escolas, estabelecendo um didlogo entre a pluriversidade de linhas africanas e outras tradigdes do mundo. Pois bem, o que se propoe € uma mudanga na formagao. Se, durante a graduagao de Filosofia, a pauta de debates gira em toro dos textos de fildsofos ¢ filésofas da Europa ¢ dos Estados Unidos da América, o propésito de uma Fi- losofia que nao permanega alhela as relagdes étnico-raciais , portanto, as demandas que foram preconizadas pela Lei 10.639/03, precisa incluir a Filosofia Africana no seu progra- ma. Sem diivida, muitas autoras e muitos autores africanos permanecem desconhecidas e desconhecidos para uma sig- nificativa parcela de estudantes, professoras e professores de Filosofia. Com efeito, ¢ importante realizar dois esforgos: 1) Reescrever a Hist6ria da Filosofia inserindo e articulando a producdo africana, asidtica, amerindia, etc. I) Escrever a Hist6ria da Filosofia Africana, Os dois esforgos convergem para 0 objetivo de intervir num dos principais elementos constitutivos da formagao de professoras e professores: a Hist6ria da Filosofia. PCNEM e OCNEM nio cansam de sublinhar e destacar a importancia da historiografia filos6fica. A exigéncia maior e indispensével ‘de uma professora e de um professor de Filosofia 6 “sua for- magio e sua familiaridade com a Hist6ria da Filosofia—em Capitulo3 91 especial, com os textos cléssicos. Esse deve ser seu diferen- cial, sua especificidade” (BRASIL, 2006, p. 32). Com efeito, a incluso da Filosofia Africana, para além do carter secunda- rio de habitar a periferia do curriculo, passa pela classiciza- $fio de textos efricanos. Enquanto os classicos continuarem restritos ao dream team do Ocidente, Platao, Aristételes, Des- cartes, Hume, Kant, Hegel, 86 para citar alguns, 0 problema persistird. Pois bem, os textos filos6ficos africanos tém que ser clés- sicos. Quais os critérios desta classicizagdo? Quais seriam 0s classicos da Filosofia Africana? Por acaso ela nao seria questiondvel eaté mesmo artificial? Essas interrogagoes vao surgir juntamente com outras, possivelmente, ainda mais espinhosas. O desafio € enorme. Como estabelecer esses cléssicos? Como reescrever a Histria da Filosofia, inserindo © pensamento filoséfico africano? Sem ciivida, as estratégias sdo muiltiplas e incluem pesquisas, redes internacionais de cooperacao, semindrios, coléquios, simpésios, publicacdes, verdadeiros exercicios arqueolégicos de escavago na pro- cura de fontese reabilitacao dessas fontes e desses indicios. Em cardter preliminar, segue adiante um elenco geral de t6- picos que podem figurar como deflagradores para a elabora- (a0 de uma Hist6ria da Filosofia Africana. 1. Para além do nascimento da Filosofia OBJETIVOS: problematizar a ideia de que a filosofia teria sur- sgido na Grécia; examinar a tese de que o pensamento filos6- fico €“congenito” aos seres humanos ¢ construir um quadro que apresente a simultaneidade de pensadores africanos, orientais, ocidentais e amerindios na Antiguidade. 92 sino de Filosofia e a Lei 10. DESENVOLVIMENTO: realizar um estudo cuidadoso com as pesquisas de Diop, James e Karenga para dar visibilidade as teses filosdficas de Im-hotep (2700 A.E.C), Ptah-hotep (2414 A.C), Kagemni Sage (2300 AE.C.), Meri-ka-re (1990 AE.C), Sehotepibre (1991 A.F.C), Amen-em-hat (1991 AE.C), Amen-hotep, filho de Hapu (1400 A.C), Duauf (1340 A.C), Akhenaton (1300 A-E.C), Amen-em-ope (1290 A.E.C)"e outros debates filos6ficos feitos no Maat. 2, Btnofilosofia e Filosofia Africana OBJETIVOS: apresentar o debate sobre a etnofilosofia e ca- talogar as mais variadas teses filos6ficas, localizando-as no tempo eno espago, através de mitos, maximas, aforismos de sabedoria, provérbios ¢ contos tradicionais dos povos afti canos e na afrodidspora. Problematizar se as filosofias oct dentais nao seriam etnofilosofias. DESENYOLVIMENTO: analisar, compilar e organizar as teses, dissertagdes, monografias, os livros e artigos sobre Pensa- mento Metafisico lorubé, Metafisica de Povos Bantos, E Wolof, a Concepeao Estética Akan, Metafisica Fon, Razao © Emoyao na Tradigao Yaouré, a Questdo da Linguagem na Tradigao Bambara, a Imortalidade da Alma na Tradi¢a0 Ovimbundu, Légica Banta, O Amor como Tema Filos6fico na Cultura Dagara, a Tradicao Ewé, Etica e Moral Kemética, a Verdade a Partir da Tradigdo Xosha, entre outros problemas ce assuntos, numa sequéncia temporal. ica base dos estudos de ilsofos egipcios na Antiguidade esté no wabalho de Molef Asante (2000); a datas remontam ao momento de escrita/publi- cago dos textos. Capitulo3 93 3. Filosofia Africana Moderna e Contemporanea OBJETIVOS: apresentar 0s textos modernos e contemporaneos produzidos por fildsofas fildsofos do continente afticano. DESENVOLVIMENTO: organizar os textos por assuntos, te- mas, linhas, buscando as escolas e tradigbes modernas e contemporaneas. 4. Filosofia Afrodiaspérica Moderna e Contemporanea OBJETIVOS: levantamento de filésofas e filésofos com inte- resses ligados, direta ou indiretamente, ao combate do racis- mo epistémico antinegro. DESENVOLVIMENTO: organizar 0s textos por assuntos, te- mas, linhas, buscando as escolas e tradig6es modernas contemporaneas. Filosofia Afro-Brasileira Com efeito, estes parémetros gerais podem dar inicio a uma Histéria da Filosofia —entendendo que por meio da historio- grafia do pensamento filoséfico se instalam as bases do ensi- no de Filosofia conforme dizem PCNEM e OCNEM — apta a produzir paginas sobre Filosofia Africana, Filosofia Afrodias- porica e, sendo mais especifico, Filosofia Afro-Brasileira. No caso desta tiltima, as bases estao no rico universo cultural afro-brasileiro, isto é no modo como as préticas e os pensa- mentos africanos se reterritorializaram, se modificaram, ne- gociaram conflitos, construgdes de identidade, etc,, no Brasil 94 OEnsino de Filosofia ea Lei 10.639 Capoeira, jongo, congada, candomblé e maracatu so al- guns exemplos do riquissimo universo cultural afro-brasi- leiro. Por exemplo, a capoeira ¢ de origem africana, mas nao ialmente na Africa no mesmo formato inaugura- do no Brasil. As hipéteses mais recorrentes apontam seme- Ihangas com Ngolo, a danga da zebra, que fazia parte do rito de passagem dos meninos para a condicao de homem entre alguns povos bantéfonos que viviam no sul da atual Angola (principalmente os mucopes). No caso do jongo — palavra do idioma kimbundu para arremesso ou tiro —, a roda en- volve cantorias e dancas. Pois bem, uma filosofia afro-brasi- leira deve dialogar com esse universo cultural abertamente, disponfvel para pensar filosoficamente as questdes que atra- vessam e constituem essas praticas, os seus contextos, suas implicagoes, etc. Roda decapoeira no século XK. A filosofia afro-brasileira pode ser um grande exercicio critico. Por exemplo, a Escola — enquanto instituigao for- mal — parece pressupor uma hierarquia entre a razio € a emogio, uma cisiio entre a cabeca e 0 corpo, alguma coisa que varios filésofos ocidentais, tal como fez Nietzsche, tém criticado: um esquecimento do corpo. Vale lembrar que esse Capitulo3 95 ‘esquecimento tem, na prépria tradi¢ao filos6fica ocidental, a sua elaboracio e seu desenvolvimento, Um exercicio filosé- fico afto-brasileiro pode trazer o “corpo” para a sala de aula de modo integrado, articulado, positivado e origindrio. O Pensamento filoséfico, em termos afroperspectivistas, pode ser interpretado, interpelado e percebido como um produto corporal ao invés de como uma fabricagao mental? De que maneira? Pois bem, essas questes podem ser pensadas atra- vvés de patriménios imateriais como o samba ea capoeira por exemplo, Atualmente, trabalhos como a roda de filosofia® tem procurado pensar a filosofia afro-brasileira a partir do samba, Nos tilimos anos, tenho coordenado pesquisas que tem fo- cado no samba, no futebol, na capoeira, no jongo e no can- domblé como canais de didlogo para um exercicio filoséfico. % Aroda de filosofia fol deseritano Capitulo 2. Conclusées parciais Aiideia de que o racismo nao pode ser vencido é tao in- fundada quanto a de que ele cederd facilmente aos apelos & razio. (MOORE, 2007a, p.327) 0 ponto de chegada do Ensino de Filosofia consiste na for- maga de mentes ricas de teorias, habeis no uso do método, ‘capazes de propor e desenvolver de modo metédico os pro- blemas ede ler, de modo critico, a complexa realidade que as circunda [...J criar nos estudantes uma razao aberta [..1.E «@ razdo aberta é uma razéio que sabe ter em:si o corretivo de todos os erres que (enquanto razéo humana) comete, passo a asso, forgando-a a recomecar itinerdrios sempre novos. (REALE; ANTISIERE, 1986, p.7) Os dois trechos supracitados resumem a nogao de que “a” razao deve ser vista em perspectiva. Existem muitos. para- digmas de racionalidade. Por isso, a razdo em si mesma nao 6 suficiente para combater o racismo. Para isso é preciso 98 OEnsino de Filosofia e a Lei 10.639 uma razdo antirracista, uma razao aberta, apta a recomecar. Apenas operando com uma razao critica do epistemicidio da colonialidade ocidental, a filosofia poder ser antirra- cista. Em busca de uma razao aberta e afroperspectivista, a filosofia pode promover um aprendizado antirracista ¢ edi ficante. f preciso, também, desafiar 0 racismo epistémico, denuncié-lo, se colocar radicalmente contra ele em todos os seus aspectos. Neste sentido, se, como dizem PCNEM e OC- NEM, as professoras e professores de Filosofia devem apoiar e instigar estudantes a ler e reler textos filos6ficos, ler filoso- ficamente e argumentar assumindo uma posigao de acordo ‘com 0 poder reflexivo da razdo, uma conclusdo proviséria ‘abe aqui: para estar de acordo com a Lei 10.639/03, € preci- so ler, identificar e argumentar contra o racismo epistémico, Uma razao afroperspectivista, além de recusar 0 racismo epistémico, precisa recorrer as culturas africanas, manter ‘um diélogo firme e permanente com as diversas possibili- dades dadas pelos arranjos politicos africanos. Esta razaio afroperspectivista ¢ radical, porque busca caminhos filos6- ficos poucos explorados. Por exemplo, no campo politico, diferentemente das formulagies filos6ficas ocidentais que parecem se articular, resumidamente, entre os diversos matizes das extremas esquerda e direita, 0 ensino de Filo- sofia numa abordagem afroperspectivista pode promover argumentos filos6ficos em favor de organizagSes politicas fora do paradigma ocidental vigente, como, por exemplo, © modelo de organizagao Batwa — grupo étnico africano —, onde as pessoas trabalham pouquissimas horas por dia para que a maior parte do tempo seja utilizada com con- versas sobre o mundo, a vida, com as relag6es familiares a integragao comunitaria, Conclusdes parciais 99 Estas consideragdes sao parciais e, sem dtivida, um con- vite & inflexao de reflexes sobre um elenco de questdes articuladas pelo exercfcio intelectual contra o racismo epis- témico, especialmente em sua face antiafticana—incluindo a afrodidspora. Nao é raro que académicos ocidentais cos- tumem argumentar que a exclusao do mundo nao ocidental do universo filos6fico nao seria demérito algum. O percur- so argumentativo que foi feito nos leva para outro ponto de vista: existe uma disputa no campo epistemolégico, na area das agendas de pesquisa, que esté atrelada aos processos de subalternidade, da colonialidade e do racismo em sua ver- tente epistémica. Por essas razes, 0 combate do racismo € da injustiga cognitiva passa pelo devido reconhecimento das produces intelectuais de todos 0s povos. No caso dos povos africanos, que foram alvos de um longo processo de didspora, escravizagao e de colonizagao brutal —ainda sem precedentes e de que nossa linguagem e nossas descrigdes parecem nao conseguir dar conta —, é indispensével desta- car e valorizar devidamente 0 que tem sido historicamente depreciado. Sem diivida, o ensino de Filosofia, para dar con- ta das exigencias da Lei 10.639/03, deve estar comprometido com um corpo de ages afirmativas no campo epistémico. Em outros termos, as atividades docentes e discentes de filosofia devem ser permeadas por ages afirmativas e temolégicas. 0 que, no meu entendimento, passa por uma epistemologia afroperspectivista. Por fim, a proposta de uma sociedade mais simétrica ¢ multipolar passa pelo reconhecimento, pela difusdo e pelo incentivo da produgao filos6fica africana e afrodiaspérica — aqui denominadas sob a expresso genérica de pensa- mentos filos6ficos afroperspectivistas. O ensino de Filosofia 100 O Ensino de Filosofia e a Lei 10,639 precisa encarar um desafio radical: ampliar as possibilida- des de leitura, reescrever a hist6ria da filosofia, incorporar uma epistemologia afroperspectivista e, sobretudo, trilhar novas possibilidades e propiciar uma efetiva descolonizacao do pensamento, Referéncias bibliogrdficas ANDRADE, Oswald de. 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The puppet and the dwarf: the perverse core of christianity. Cambridge: MIT, 2003. Apéndice: As Leis 10.639/03 e 11.645/08 e o ensino de Filosofia © Grupo de Pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Interve- (Ges (Aftosin), da Universidade Federal Rural do Rio de Ja~ neiro (UFR), elaborou uma pesquisa a ser realizada entre professores de Filosofia do Ensino Médio atuando em esco- las das redes piiblicas do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Seu objetivo era levantar algumas questes relacionadas & aplicagao das diretrizes das Leis 10.639/03 e 11.645/08 aos curriculos de Filosofia nos cursos médio e superior. 0 método adotado foi a aplicacéo do questionério apre- sentado a seguir: Questiondrio 1. Nome (opcional): 2.Idade: 3. Sexo: OF OM 114 O Ensino de Filosofia ea Lei 10.639 4. Cor/Raga: ()Preta () Parda (J Indigena ()Amarela () Branea 5, Formagao/Graduagao: () Licenciatura em Filosofia () Outras: 6. Possui Especializagao? Osim (Nao 6.1. Em que érea? (Filosofia () Educagao (©) Outras: 6.2. Ano em que se formou: 7. P6s-Graduagao Stricto Sensu: 7.1, Possui mestrado? OSim (Nao 7.1.1. Em que érea? ( Filosofia ( Educagao © Outras: 7.1.2. Ano em que se formou Apéndice 115 7.2. Possui doutorado? Osim Nao 7.2.1. Em que area? ( Filosofia ( Educagao © Outras: 7.2.2. Ano em que se formou: 8, Atua como professor(a) de: 8.1. Ni ( Ensino Fundamental ( Ensino Médio ( Ensino Superior 8.2. Rede: (Rede publica () Rede Privada 8.3, Em que ano comegou a trabalhar como professor(a): 9. Voce sabe que as Leis 10.639/03 e 11.645/08 alteraram a LDB e instituitam a obrigatoriedade de contetidos de Hist6- ria e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indigena para a Edu- cago Basica e para 0 Ensino Superior, e que isso é valido para o ensino de Filosofia em todosos nfveis e modalidades? Osim (Nao 116 O Ensino de Filosofia ea Lei 10.639 10. Voce implementa as obrigagdes legais de recobrir con- tetidos de Hist6ria e Cultura Afro-Brasileira, Africana e In- digenat oO ONao 11. Vocé aprendeu esses contetidos na sua formacao? Osim ONa0 12. O que voc’ acha desta legislacao? () Muito importante (Important () Pouco importante () Desnecessiria 13, Voce conhece contetidos de Histéria e Cultura Afro-Bra- sileira, Africana e Indigena? (Sim (Nao 14, Em caso de a resposta anterior ser positiva, cite um ou mais contetidos da referida legislagao que voce considera importante(s) para o exercicio do ensino de Filosofia. 15. Vocé gostaria de participar de um curso de formacao continuada especifico que trabalhe ensino de Filosofia, His- t6ria e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indigena? oO () Nao Apéndice 117 Resultados preliminares A aplicagao dos questionérios foi realizada e coordenada, em setembro de 2013, por duas pessoas que atuaram e per- manecem como colaboradoras e pesquisadoras de projetos que coordeno: Marcelo Moraes, na ocasido mestre em filo- sofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFR) professor do Ensino Médio da rede piiblica do Estado do Rio de Janeiro, e Vanilda Santos, mestre em filosofia pela Univer- sidade Federal de Uberlandia (UFU) ¢ professora do Ensino Médio da rede ptiblica do Estado de Minas Gerais. A sistematizagaio dos dados foi feita por Larissa J. M. Gama, Bolsista de Iniciacao Cientifica — IM/UERRI. A pesquisa ainda se encontra em curso. As tabelas e os gréficos a seguir apresentam os resultados de uma pesqui- sa exploratéria realizada com uma pequena amostra de 13 entrevistados. Como a primeira pergunta sentados os seus resultados. opcional, nao serao apre- Tabela 1 — Sexo dos entrevistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/08 © 11,615/08 eo ensino de Filosofia —RJ e MG, 2013 Sexo Frequéncia Porcentual Feminino 4 30,8% Masculino 9 69,2% Total 3 100% 118 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Apéndice 119 Gréfico 1 — Sexo dos entrevstados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03.€ 11.645/08 eo ensino de Filosofia— Re MG, 2013 Numero de entrevistados Idade dos entrevistados Constata-se pela andllise da tabela e do gréfico que a mai- Gréfico2— Idade cos entrevistados na pesquise i e oria dos entrevistados é do sexo masculino: 69,2%. pesquisa sobre as Leis 10.639/05 11,645/08 eo ensino de Filosofa— RJ e MG, 2013. Constata-se pela andlise da tabela e do grafico que a maio- ‘Tabela 2— tdade dos entrevistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03€ ria dos entrevistados tem entre 30 e 35 anos: 61,6%. 1.645108 eo ensino de Filosofia — RJ eMG, 2013 Idade Frequéncia Percentual ‘Tabela 3 —Cor/raga dos entrevstados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03.¢ 29 anos 1 17% 11.645/08 eo ensino de Filosofia—RJe MG, 2013, 30 anos 2 15.4% 31 anos 2 15,4% Cor/raga Frequéncia Percentual 32 anos 2 15,4% Preta 1 7,7% 35 anos 2 15,4% Parda 1 ‘7,7% 36 anos 1 11% Indigena 0 0 41 anos 1 77% Amarela 2 15,4% 44 anos 1 77% Branca 8 61,5% 47 anos 1 17% Nao respondeu 1 1.7% ‘Total 13 100% ‘Total 13 100% 120 OEnsino de Filosofia ea Lei 10.639 (Gréfico 3—Cor!raga dos entrevistados na pesquisa sobre as Les 1639/03 ¢ 11.685/08 eo ensino de Filosofia —RJe MG, 2013, Constata-se pela anélise da tabela e do gréfico acima que a maioria dos entrevistados tem a cor branca (61,5%).. ‘Tabela 4 — Curso de Graduagao dos entrevistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/08 € 11.645/08 0 ensino de Flosofia—RJeMG, 2013 Curso* Frequéncia Percentual Licenciaturaem Filosofia. 9 69,2% Bacharelado em Filosofia — 1 7.7% i 1 278 “Educagao” 1 77% Outras 1 77% (@ pessoa nao especificou) Total 13 100% “As respostas Bacharelado em Filosofia, Pedagogia e“Educagio” foram espe- cificagdesfeitas pelos entrevistados na opcio "Outas’, Apéndice 121 Ape rejponde "Ede" wr apenoanio apecticea) Pedigoie Biche es sts Gréfico 4 — Curso de Graduacao dos entrevistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03 ¢ 11.65/08 eo ensino de Filosofia — RJ e MG, 2013 Constata-se pela andlise da tabela e do gréfico que a maioria dos entrevistados é graduado com licenciatura em Filosofia, ‘Tabela 5 —Realzago de curso de Especilizagdo pelos entrevistados na pes- ‘quisa sobre as Leis 1639/08 e 11.645/08eoensino de Fosofia—RJe MG, 2013, Especializacao Frequéncia Percentual Nao fizeram especializagao 10 769% Fizeram especializacao 2 15,4% ‘Nao respondeua pergunta. 1 71% Total 1B 100% 122 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Gréflco 5 — Realizagio de curso de Espscializagzo pelos entrevisados na pesquisa sobre as Las 10.639/08 e 1.645/08 eo ensino de Filosofia — Je MG, 20:3 Constata-se pela andlise da tabela e do grafico acima que a maioria dos entrevistados nao fez especializagao (76,9%). “Tabela 6 — Area do curso de Espedalizagio feito pelos entrevistados na pesqui- sasobre as Les 1.699/05 e 11,545/00.eo ensinode Filosofia —RVe MG, 2013 Curso Frequéncia Percentual Nao fizeram especializacéo 10 76.9% Fez especializacao em Filosofia 1 11% Fez especializacao em Histéria" 1 21% Fez especializagao em Educacao 0 0 Nao respondew a pergunta 1 71% Total 13 100% ‘ ArespostaHistéra foi especificagdo fea pelo entrevistado na opgdo ~Ourras’ Apéndice 123 strepectnepeomie | dt Noten mete Gratico 6 — Area do curso de Especializacio feito pelos entrevistados na pesquisa sobre as Lels 10.639/03 € 11.65/08 eo ensino de Filosofia — RJ e MG, 2013, Constata-se pela andlise da tabela e do grafico que, dos dois entrevistados que fizeram especializacao, um a fez na rea de Filosofia e 0 outro, na drea de Histéria. De acordo com a pergunta adicional (6.2), um se formou em 2012 € 0 outro, em 2013. ‘Tabela 7 — Roalizacio de curso de Mestrado pelos entrevistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03 ¢ 11.645/08 eo ensino de Filosofia — RJ e MG, 2013 Mestrado ‘Frequéncia Percentual sim 4 30,8% Nao 9 69,2% Total 13 100% 124 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 GGrafico 7—Realizaggo de cuso de Mestrado pelos entrevstados na pesquisa sobre as Leis 10,639/08 e 11.645/08 eo ensino de Filosofia — RJ eMG, 2013 Constata-se pela andlise da tabela e do gréfico que a maioria dos entrevistados nao possui mestrado (69,2%). ‘Tabela 8 — Area do curso de Mestrado feito pelos entrevstados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03 e 11.635/08 eo ensino de Filosofia —RJ e MG, 2013 Area Frequéncia Percentual fez mestrado 9 69,2% Fezmestrado em Filosofia 2 15,4% Fez mestrado em Educagio 0 0 Fez mestrado em Hist6ria* 1 7,7% Apessoa nao especificou 1 17% Total 13 100% + ArespostaHist6ra ft especifcacso feta pelo entrevistado na ope “Outras Apéndice 125 Grafica 8 — Area do curso de Mestrado felto pelos entrevistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03 ¢11,645/08 e0 ensino de Flosofia— RJ e MG, 2013 Constata-se pela andlise da tabela e do grafico que a ria nao fez mestrado (69,2%). Quatro dos entrevistados declararam que fizeram mestrado: dois na érea de Filosofia, um na rea de Histéria e um que nao especificou a drea, De acordo com a pergunta adicional (7.1.2), essas pessoas con- cluiram o mestrado nos anos de 2001, 2005, 2010 e 2013. mi ‘Tabela 9—Realizasio de curso de Doutorado pelos entevistados na pesqui sasobre as Leis 10,639/0 ¢11.645/08 eo ensino de Flosofia—RJ e MG, 2013 Doutorado Frequéncia Percentual sim 2 15,4% Nao aT 84,6% ‘Total 13 100% 126 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Grafica 9— Realizgdo de curso de Doutorado pelos entrevistados na pesqui- ssasobreas Leis 10.639/03 1.645/08 eo ensino de Filosofia —RJeMG, 2013 Constata-se pela anélise da tabela e do gréfico que a maioria dos entrevistados nao possui doutorado (84,6%).. ‘Tabela 10 — Area do curso de Doutorado feito pelos entrevistados na pesqul- sasobre as Leis 10639/08 e 11.645/08 eo ensino de Filosofia — RJ e MG, 2013 Area Frequéncia Percentual Nao fez doutorado a 84.6% Fez doutoradoem Filosofia. 1 7.7% Fez doutorado em Hist6ria* 1 2.7% Fez doutorado em Educacao 0 0 Total 13 100% * Aesposta Histria fl especiicacaofita pelo entrevistco na opso "Outs Apéndice 127 I | Gréfico 10 — rea do curso de Doutoradb feito pelos entrevistados na pesqul- ‘sasobreas Leis 10.699/03 e 11.645/08e o ensino de Filosofia —RJe MG, 2013 Constata-se pela andlise da tabela e do gréfico que a maioria nao fez doutorado (84.6%). Dois dos entrevistados declararam que fizeram doutorado: um na area de Filoso- fia e outro na érea de Hist6ria. De acordo com a pergunta adicional (7.2.2), essas pessoas conclufram 0 doutorado nos anos de 2011 € 2012. ‘Tabela 11 — Nivel de ensino em que atuam os entevistados na pesquisa sobre 2s Leis 10.639/03 e 11.615/08 eo ensino deFilosofia—RJe MG, 2013 Nivel Frequéncia —_Percentual Ensino Fundamental 0 0 Ensino Médio u 84,6% Ensino Superior 2 15,4% Total 13 100% 128 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Grafico 11 —Nivel de ensino em que atuam os entrevistados na pesquisa sobre as Lets 10639/08 e 11.645/38 eo ensino de Filosofia —RJ e MG, 2013 Constata-se pela andlise da tabela e do gréfico quea maio- rria dos entrevistados € professor de Ensino Médio (84,6%).. “Tubela 12 — Rede de ensino em que atuam os entrevstados na pesquisa ‘sobre as Leis 10.639/08 e 11.645/08 eo ensino de Filosofia —R}e MG, 2013, Rede Frequéncia Percentual RededeEnsino Publica. 11 84,6% RededeEnsino Privada. 1 1% Nao respondeu apergunta 1 71% Total 13 100% Apéndice Noermpoadess pags ded Emin nods de de En Grafico 12 — Rede de ensino em que atuam os entrevistados na pesquisa sobre a3 Les 10,639/03 ¢ 11.645/08e0 ensino de Filosofia — RJ e MG, 2013 Constata-se pela andlise da tabela e do grafico que a maioria dos entrevistados professor da rede publica de en- sino (84,6%). ‘Tabela 13 — Ano de inicio de ammagio como professor dos entrevistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03.€11.545/08 e0 ensino de Flosofia— Re MG, 2013 Ano Frequéncia Percentual ‘Apessoa nao 2 15,49% mencionou 0 ano 1991 1 77% 2008 1 77% 2005; 1 77% 2009 1 77% 2010 2 15,4% 2011 1 7.7% 2012 2 154% 2013 2 154% ‘Total 13, 100% 130 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 op Gréfico 13 ~ Ano de inicio de atuagao como professor dos entevisados na Pesquisa sobre as Leis 10.639/03 e 11.645/08 eo ensino de Filosofia Jc MG, 2013 Constata-se pela andlise da tabela e do grafico que os anos de infcio de trabalho como professores variam de 1991 42013, com a maior concentragao a partir de 2010, ‘Tabela 14 — Conhecimento da legisla pelos entrevistados na pesquisa sobre as Leis 10:699/03 ¢ 11,645/00 eo ensino de Filosofia —RJ e MG, 2013, Conhece asleis —_Frequéncia Percentual sim u 84,6% Nao 2 15,4% Total 13 100% Apéndice 131 Grafico 14 — Conhecimento da leislacZo pelos entrevstados na pesquisa sobre as Les 10.639/03¢ 11.65/08 e oensino de Filosofia —R}e MG, 2013, Constata-se pela andlise da tabela e do grafico que a maioria dos entrevistados conhece as leis citadas (84,6%). ‘Tabela 15 — implementagio das obrigagées legis curriculares pelos entre. vistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03 ¢11,645/08 eo ensino de Flloso- fia—RJeMG, 2013, Implementa os conteidos Frequéncia—_Percentual sim 3 23,1% Nao 10 76.9% Total 13 100% 2 Grafico 15 — Implementagao das obrigagbeslegais cuticulares pelos entre- vistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03 L1.645/08 eo ensino de Flloso fa—RJeMG,2013 132 O Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Constata-se pela andlise da tabeta e do gréfico que a maioria, dos entrevistados nao implementa as leis 10,639/08 e 11.645/08. ‘Tabela 16 — Presenga dos contetos exigidos na formagéo dos entrevstados ‘na pesquisa sobre as Leis 10.639/03 ¢ 11.645/08 e0 ensino de Filosoia — K) eMG,2013, Contetidosnaformacao Frequéncia—_Percentual Sim 0 0 Nao 13 100% ‘Total 13 100% Nio 100% 2 Gréfico 16 —Presenca dos contexidos exigidos na formacdo dos entrevis: ‘tados na pesquisa sobre as Leis 10.639/08 e 11.645/08 e o ensino de Filoso- fia—ReMG, 2013, Constata-se pela anélise da tabela e do grafico que ne- nhum entrevistado aprendeu esses contetidos na sua for- ma¢ao (100,0%). “Tabela 17 — Opinio dos entrevistados na pesquisa sobre as Les 10.639/03 ¢ 11.645/08 e0 ensino de Filosofia — RI e MG, 2013 sobre essa egislecéo Opinio sobre alegislagao Frequéncia _Percentual Muito importante 8 615% Importante 5 385% Pouco importante 0 0 Desnecessaria 0 0 Total 13 100% Grifico 17 — Opinio dos entrevistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03 ‘¢1.645/08 eo ensino de Filosofia — RJ e MG, 2013 sobre esa legislaczo Constata-se pela andlise da tabela e do grafico que a maioria dos entrevistados considera essa legislagaio muito importante (61,5%), e nenhum a considera pouco impor- tante ou desnecesséria, ‘Tabela 18 —Conhecimento dos conteidos de Histria e Cultura Aft -Braslelta, Afticanae Indigenas pelos entrevstados na pesquisa sobre as Leis 101639/03 ¢11,615/08 ¢0 ensino de Filosofia —RJe MG, 2013, Conheceoscontetidos Frequéncia _Percentual sim 7 53,8% Nao 6 16,2% Total 13 100% 134 0 Ensino de Filosofia e a Lei 10.639 Gréfico 18—Conhecimento dos contetides de Histriae Cultura Afro- ‘Brasileira, Africana eIndigena pelos entevistados na pesquisa sobre as Leis 10.639/03 ¢ 11.645/08 eo ensino de Filosofia Rl e MG, 2013 Constata-se pela anilise ca tabela e do grafico que pou- ‘co mais da metade dos entrevistados conhece contetidos de Histéria e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indfgena 653,8%). “Tabela 19 —Contetidos constantes dasleis considerados importantes para o ‘exerecio do ensino de Filosofia pelos entrevistados na pesquisa sobre 3s Lels 10.639/08 e 1.645/08 eo ensno de Flosofia—RJ e MG, 2013 Contetido Frequéncia Percentual Nao respondeu a pergunta u 84,6% Fortalecimento daidentidace 1 77% ede direitos; ages educativas de combate ao racismo Procuro me atualizar acerca. 1 77% de alguns debates que envolvam as relagdes étnicas no Brasil ‘com colegas de profisso Total 13, 100% Apéndice 135 A maioria dos entrevistados ndo respondeu essa pergunta (84,6%), embora ela supostamente devesse ser respondida por todos os que responderam afirmativamente a perguntaanterior. ‘Tabela 20 — Disposicao dos entrevistados, na pesquisa sobre as Lels 10.639/03 e11.645/08 ¢o ensino de Flosofia — RJ e MG, 2013, para par- ‘lcipar de curso especifco sobre Ensino de Filosofia, Historia e Cultura ‘Ao: Brasileira, Africana e Indigena Frequéncia Percentual 10 76,9% 2 15,4% ‘Nao respondeuapergunta 1 7.7% Total 1B 100% —— YB Grafica 20 — Disposi¢ao dos entrevistados, na pesquisa sobre as Leis 10,639/03 e 11.645/06 e o ensino de Filosofia — RJ e MG, 2013, para par ticipar de curso especifico sobre Ensino de Filosofia, Historia e Cultura ‘Alro-Brasieira, Africana eIndigena Constata-se pela andlise da tabela e do grafico que a maioria dos entrevistados gostaria de participar de um cur- so de formagao continuada especifico que trabalhe Ensino de Filosofia, Hist6ria e Cultura Atro-Brasileira, Atricana ¢ In- digena (76,9%)

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