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a rt Eni P; Orlandi vA - Ken | - 4-1 IALEGbKELVCVO Im Ema efellos eosin dite) cop 121.68 Tce para catdlogo sistema 1 Ineo Episenoloia: Filosofia 121.68, leiras (€ elas so muitas) so espécies naturais. Como os dios. A nogao de “dado”, como objeto encontrado natur mente na lingua, se reforca cientificamente pela sustenta- Gao em um quadro teérico de referencia - 0 do Naturalismo = que 6 universal mas que ganha contornos especificos na nossa hist6ria de pais colonizado. Sao essas, em geral, as consideragdes que temos a fazer sobre a nogio de dado. Como pudemos ver, essa nocao nao tem um valor operatério positivo, porque em anilise de discurso no se trabalha com as evidéncias, mas com 0 processo de producio das evidéncias. O que, em dltima instancia, significa dizer que a nocao de dado é, ela propria, um efeito ideol6gico do qual a andlise de discurso procura desconstruir a evidéncia, explicitando seus modos de pro- ducdo. Para tal, como vimos, é a propria nocao de real e a de interpretacéo que sdo colocadas em questo. Redefinindo a relagiio do analista com 0 dado, com a interpretacdo, com o real, com a realidade, a nocio de discurso promove confrontos tedricos que resultam na redefinicdo do politico, do hist6rico, da ideologia, do social edo ling E, finalmente, isso que define a necessidade de uma instituico de um novo objeto. Ea nocao- de discurso, afinal, que vai tomar possivel, na anélise da linguagem, qualquer que seja seu dominio, as reflexoes sobre o sujeito e a situacdo. Na abertura produzida pela anélise de discurso, e em especial pela reflexao de M. iscurso € uma nocao fundadora. Pacheux, 0 4, ORDEM E ORGANTZAGAO NA LINGUA __ Ha uma diferenca necessaria entre ordlem e organiza. cdo, quando se passa a um campo de estudos da linguagem que reconhece a contribuicdo especifica da nocao de discurso. Essa diferenca, basicamente, separa uma tomada logicista ou sociologista da linguagem (ou, em outros ter- ‘mos, empiricista ou idealista) de uma perspectiva discur va, ou seja, aquela em que se reconhece a materialidade da lingua e a da historia. _Comegariamos, entio, por dizer que a ordem para nos nao 0 ordenamento imposto, nem a organizacao enquan- » tal, mas a forma material. Interessa ao analista nao a ssificagao mas 0 funcionamento. Em nosso caso, especialmente, no estudo da semantica iscursiva, O que nos interessa é a ordem da lingua, enquan- » sistema significante material, e a da histéria, enquanto idade simbélica, Reconhecemos, desse modo, uma \co entre duas ordens: a da lingua, tal como a enuncia- s, € a do mundo para o homem, sob 0 modo da ordem ional (social) tomada pela hist6ria. O lugar de obser- a ordem do discurso. »se do principio de que hé um real da lingua e um ria, € 0 trabalho do analista é justamente com- 1 relagio entre essas duas ordens de real, hossos estudos, bem cedo nos ficou claro - na ta de discurso tem uma postura 45, critica em relagdo ao empirismo e a sua contraparte que é 0 formalismo - que nao era a organizacao da lingua que nos interessava (pensada na lingUfstica sob 0 modo da ‘oposigio ou da regra) Mag a sua ordem: ordem simbélica, ordem do discurso. Na anilise, ndo € a relacao entre, por exemplo, sujeito e predicado (SN e SV) que é relevante, mas 0 que essa organizacdo sintética Pade nos fazer compreender dos mecanismos de producao de sentidos (lingiifstico-hist6 os) que af estio funcionando em termos da ordem sigs ficante. Para nos instalarmos, nesse campo da reflexdo, dois deslocamentos se impdem: a) a passagem para a forma material, b) a necessidaqe de se considerar que a lingua significa porque a histéria intervém, 0 que resulta em pensar que o sentido é urna relacao determinada do sujeito com a historia. ‘Assim, 0 gesto de interpretacdo é 0 lugar em que se tem a relacao do sujeitcy com a lingua. Esta é a marca da "subjetivagao”, 0 traco Ca relagao da lingua com a exterio- ridade Se a nocao de estriytura nos permite transpor o limiar do conteudismo, ela nag nos basta pois nos faz estacionar na idéia de organizac&.o, de arranjo, de combinatoria, € preciso uma outra no¢do, Esta nocao, a de materialidade, nos leva as fronteiras da lingua e nos faz chegar & conside- raco da ordem simbAjica, incluindo nela a historia e @ ideologia. Foi, sem divida, a. critica feita ao conteudismo - en quanto perspectiva teGyrica (flos6fica) que mantinha, ape> sar do estruturalismo (cay justamente por ele), a separagao estanque entre forma/c-ontetido ~ que nos abriu a possib- lade de: a) de um lac¥o, transpor a nocao sociologista de ideologia e, b) pensar 30 a oposicao entre forma € CoM 46 tefido, mas trabalhar com a nogdo de forma material que se distingue da forma abstrata e considera, ao mesmo tempo, forma e contedido enquanto materialidade. Em termos analiticos, isso resulta em dizer que a instan- cia de constitui¢ao da linguagem precede a da formulacao, a dos processos de produgao determina a dos produtos, 0 {ato de linguagem preside a consideracao dos dados. ‘Mais do que isso, a relacao entre estrutura e aconteci mento, colocando a interpretacao como parte irrecusavel da relagio do homem com a lingua e com a hist6ria (M. Pecheux, 1983), nao a inscreve no entanto no campo da manipulacdo, da intencdo, da mera vontade. Algo que esté aquém e além do homem, essa relacdo nao se da no ambito de seu controle. Essa 6 uma relacdo que 0 cons total. enquan- ‘Ao dizer que o inconsciente e a ideologia esttio mate- almente ligados, M. Pécheux (1975) coloca a necessidade e uma nogao - 0 discurso - em que isto possa ser siderado, instituindo ao mesmo tempo a especificidade » campo teérico estabelecido pela nogao de materialida- ». Se em Milner (1976) a materialidade da lingua é a a de se ter acesso a sua ordem, Pécheux mostrara a iéncia desta postura se ndo se tiver em conta a de da hist6ria ~ para Milner apenas um efeito ico. Assim procedendo, Pécheux abre um espaco © formalismo eo sociologismo, duas reducdes, a meu incidem sobre a lingua, sobre a sociedade e, lemente, sobre o sujeito e o sentido. Ultrapas- sse modo a organizacao (regra e sistematicidade), chegar a ordem (funcionamento, falha) da lingua {equivoco, interpretacao), a0 mesmo tempo. pensamos a unidade em relagao a variedade 's como referida a posicao do sujeito (des- }). Se algo pode nos esclarecer esta postura, basta dizermos que, ao contrério da completude do sistema {abstrato), a ordem significante € capaz de equivoco, de deslize, de falha, sem perder seu cardter de unidade, de totalidade. ‘A ideologia, aqui, nao se define como conjunto de representagdes, nem muito menos como ocultagao da realidade. Ela € uma pratica significativa. Necessidade da interpretacao, a ideologia nao consciente: ela € efeito da relagdo do sujeito com a lingua € com a histéria em sua relacao necesséria, para que se signifique. O sujeito, por ua vez, 6 lugar historicamente (interdiscurso) constituido de significacao. Sea relacdo como it inconsciente é uma das dimenses do equivoco que constituem 0 sujeito, sua contraparte esta tem que o equivoco que toca a hist6ria (a necessidade de interpretacao) €0 que constitui aideologia, O acessoa esse modo do equivoco - que é a ideologia ~ pode ser traba- thado pela nocao de interpelagao, constitutiva do sujeito. Faz parte do mecanismo elementar da ideologia, cue € @ interpelacao do individuo em sujeito, o apagamento dessa opacidade que é a inscrigdo da lingua na histéria para que tla signifique: 0 sujeto tem de inser seu dizer no repetivel interdiscurso, meméria discursiva) para que seja interpre tavel. Esse também um dos aspectos da incompletude & da abertura do simbélico: esse dizer que é uma coisa aberta, mas dentro da historia, No efeito da transparéncia, ‘sentido aparece como estando 18, evidente Nesse dominio discursivo, ndo se estd no sujeito psico- cidente consigo mesmo. O su: tras. O modo pelo qual ele ‘0 modo pelo qual ele se égico empiricamente coin jeito € uma “posicao” entre out se constitui em sujeito, ou se} constitu’ enquanto posicao nao Ihe é acessivel. Esse € @ efeito ideoldgico elementar. Correlatamente, a linguagerm também nao é transparente, nem o sentido evidente. Se, de um lado, na lingua, temse a forma empitica pata’) aforma abstata (pb) ea forma material (ingisico: hist6rica, ou seja, discursiva), em relacio ao sujeito temse, em Contrapartida, o sujeito empirico (sociol6gi¢o}, 0 sujelto abs: trato (ideal) e o que chamamos de a “posicdo" sujeito. ‘Ao se passar da instancia da organizagao para a da cordem, se passa da oposicZo empirico/abstrato para a instancia da forma material em que o sentido nao € con- tetido, a historia nao é contexto e o sujeito nao é origem de si, Expliquemo-nos: o que interessa ao analista de discur- so nao é a organizacao (forma empirica ou abstrata) mas a ordem do discurso (forma material) em que o sujeito se define pela sua relacdo com um sistema significante inves tido de sentidos, sua corporeidade, sua espessura mater sua historicidade. £0 sujeito signiticante, o sujeitohistérico (material). Esse sujeito que se define como “posicao” é um sujeito que se produz entre diferentes discursos, numa relagdo regrada com a meméria do dizer (0 interdiscurso), definindo-se em funcio de uma formag3o discursiva na relag3o com as demais. Nessa perspectiva, 0 analista de discurso vai entio trabalhar com os movimentos (gestos) de interpretacio do (o (sua posigao), na determinacio da historia, tomando urso como efeito de sentidos entre locutores. Sao, mo dissemos, duas ordens que Ihe interessam: a da a ea da historia, em sua relac3o. Que constituem, em ‘onjunto e funcionamento, a ordem do discurso. Em terialidade. 1 ilustrar essa relacio entre organizacio e ordem, ¢ ie isto acarreta para a consideragao do sujeito face a em, vamos tomar a argumentacio. mos por dizer que a argumentacao, em anal Iscurso, é vista no proceso histérico em que as dos sujeitos sao constituidas. Desse modo, a instdncia da formulacdo ~ em que entram as intengées - ja esta determinada pelo jogo das diferentes posicoes do Sujeito em relacdo as formagdes discursivas, jogo a0 qual ele ndo tem acesso direto. Ou seja, as fliagdes ideologicas J estao definidas e 0 jogo da argumentac3o nao afeta as Posicdes dos sujeitos. Em outros termos, podemos dizer que, no nivel da formulacao, 0 sujeito ja tem sua posicao determinada e le Ji esta sob 0 efeito da lusio subjetiva, funcionando 20 nivel imaginério, afetado pela vontade da verdade, pelas suss intengSes, pelas evidéncias do sentido e pela ilusio refe. rencial (a da literalidade}, Além disso, também os argumentos (por exemplo, falar a favor dos pobres) sdo produzidos pelos discursos vigen tes, em suas relagdes historicamente (politicamente, ideo. logicamente) determinadas. Os argumentos derivam dae relages de discursos. As intengées do sujeito nio madam hada em relacdo a isso. Ela terdo, no entanto, um papel determinante a nivel da formulagio, que funciona pelas projecdes imaginrias. Em suma, nesse nivel, o analistatrabalha com a organ 2a¢40. Para atingir o que constituia ordem significante ele fem que considerar o que esta organizacio indica em relago ao real, seja da lingua seja da historia. 56. assim atravessara a instancia do imaginario para apreender, no {uncionamento discursivo,o modo de constituigao do suleito e dos sentidos, Esta passagem da organizacdo para a ordem nem é direta, nem automitica e se faz a partir de principios \e6ricos fundamentais, como a da dispersio (do sujeito), 0 dla nao evidéncia (dos sentidos). Daf nossa proposta de se trabalhar com os gestos de interpretacao, A questdo seria entio a de compreender que relacdes de sentidos estio determinando a necessidade desses ges 50 tos de interpretacio? Que formacdes discursivas estio g em jogo? Mesmo sem o saber, por que o sujeto imprime esta e no aquela diregao & argumentagao? De que na reza so seus argumentos? Essas questes podem constituir um percurso pala anélise, tomando-se entio a organizac3o da lingua, ae cricao dessa organizacio, como lugar de passagem post vel para explicitar mecanismos de funcionamento Sit que nos levam a compreender fatos da ordem do disci Nas andlises que apresentaremos mais adiante a mais clara essa distingo entre ordem e organizacio. De todo modo, é pela consideragao da forma materi i em jue 0 simbélico € 0 hist6rico se articulam, os sentidos se roduzindo com ou sem o controle do sujeito - que se ode atingir a ordem do discurso.

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