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assunlo que desenvolverei a seguit Escrever, disse Clarice lispector, "€ 0 modo de quem tem a palawta como isca: a palavre pescando o que ndo € pakwra*." Pode'iamos perguntar, entéo, se 0 “mostrar”, o visivel de uma proposicdo em artes visuais, néo seria como 0 anzol que pesca o que nGo se mosta, © que se esconde e, portanto, o que nao é visivel? Eis a questo. Patece que este problema, de alguma forma, seja anélogo ao da transparéncia, que néo podemos mostrar a ndo ser attavés de uma ruptura em sva continuidade, através de alguma coisa de estranho « ela mesma, Claude Gandelman, em seu artigo ‘Representar 0 vidio", traznos uma contr buigéo esclarecedora “Ao designar suc translucidez, o vidro toma'se opaco. Com efeito, nés nao podemas mostror @ ransparéncia ue ulravés de um circuit de falhas precsamente « anulem como transporéncia, Assim, os signos da transparéncia so os fraturas dessa transparéncia’.” Nossa proposicde &, entéo, que isto que se mostra contém a possibilidade do que ndo se mostra. Do visivel passomos ao que ndo é visivel. Eis 0 mistéxio, Quando os organizadores deste Ciclo de Polestras,? que tem como assunto © visivel e 0 invisvel na cite alval, gentilmente convidaramme pare por ticipor, lembreime quose que inslantaneamenie de uma exposigao ocortida em Potto Alegre, a Il Bienal do Mercosul, e do trabalho que apreseniei. Esta experiéncia pareceume imporlanle sobretudo pelo que provecou em ‘nim © confinva a provocar: uma série de indagagdes sobre visiilidade invisibiidade. Num primeiro momento, sso parece estar restito & dibita dos experiéncias pessoais. Esse € sem divida o seu ponto de partida, Mos essas indagagdes esto longe de permanecerem circunscritas ao terreno pessoal, Flas avangam sobre espacos, experiéncios e temporalidades cole tivas © piblicas, Essas indagasdes fizeram deslocarme sobre éreos pare mim menos conhecidas, mais estanhas e, lalvez, por isso instigando um alhor mais dlferonciado. Seré, eniéo, polo vies desso exposigdo que o assunto sera abordado. Eis os fates e o seu desenrolar. Por volia de maio de 1999, foi realizada em Porto Alegre um primeira encontro entre os artistas @ a curadoreadiunta de Bienal do Mercosul, leonor Amarante, que convidoy @ todos para visitar alguns dos prédios destinados & tealizacao do evento. Foi com grande curiosidade que nos dirigimos cos locais anteriormente ‘ocupades pelo DPREC ~ Departamento de Portas, Rios e Canais -, local _zodos num lugar belssimo e aié pouco tempo quase inacessivel a populagse, junto ao porto e ds margens do Guaiba. Esses locais se constitulam de imensos galpdes, alguns deles inteiramente de BBEIE e datados de diferentes épocos, Possivelmente © mais antigo teria sido constuido no inicio do século XX. Os galpes cbrigavam diversas © bemrdefinidas atividades relacionadas a0 reparo © & manulengdo de barcos e insrumentos de sinalizacéo ndvtica, tais como bias & pequenos fords. © lugar estave deserlo © abandonade. Naquele dia 0 ar pareceume imido. Algumas das consiucdes possuiam internamente um vo enorme © uma corr tinuidade espacial ampla © acentvada Hovia noldvels esuturas de modeia com inincadas lesowras a sustentarem o lelo, algumas salas em estado precério e ccanbss escuros, Noutas era quase impossivel enliar: estavam atopetadas de entulho, restos de méveis e méquinas abardonadas, Te a forte sensagéo de que o locel havia sido desocupodo hé pouco lempo, meses talvez, tendo om vista a enorme quantidade de vesigios, da presenca de seus ocupantes € de seu trabolho. Podiose delectar visivek mente as diferentes atividades ali desenvolvidas. Muitas delas, tendo em Viste sua relagdo com a navegoséo, exam atividades ligados ao trabalho com motcis: fundigéo, forie, solda, construgées metélicas, etc Amontocvamse pelo chao des galpées: parafusos, roscas, pedagos de marelo, roupas de trabalho em couro, tubos de (BRB, capacetes e éculos de protenao, restos metdlicos de todo tipo Esta primeita visita foi importante. Era um primeito contato € poderia gjudarnes posteriormente na elaboragdo de nossos projelos pora aquela edigdo da Bienal do Mercosul, Estavamos a uns cinco ou seis meses da suo abertura, ¢ conhecer lugares onde seria realizade uma grande parle da nosla poderia ser uma boa ocasiao para que idéias aflorassem. Uma ocasiéo para vislumbrar propostas de trabalho ¢ sentir possibil- dades futuras. Apés essa visila, relornei em varios oulios momentos, mesmo recentemente, pastados quase dois anos do término do evento Nuna dessas primeiras visitas, num belo dia de inverno no Sul, veiome & lembianca algumas experiéncias de anes anleriotes realizadas no trabalho com @ forja, na época em que morava em Estrasbuigo. Lembreime da sola de rabalho. No inveino, efa bom estar ali, naquela sola com ares de caverna de Volcano, observando © ferto tornarse esbranquicado, as brasas cor de laranja, « fuligem negra depositandose sobre 0s pense menios, @ enléo, 24s, 210 preciso gir antes da combusiée do metal, antes dele esvairse em mil fagulhas feito um EERIE, um fogo de axtificio de Sao Jodo EnlGo, repentinamenie clho o tio Guaiba e « manhé suspensa. © azul que me invade inlerrompe meus pensamentas € © Ggua apaga suas chamas. Volo &s oficinas esvaziados Para mim, © lugar era muito insigante ¢ levontave uma série de problemas. Por um lado, ele impossibililave (por varias motives} a utiizagdo de calgumas des propostas que eu estave desenvalvendo naquele momento. A presenga consianie de elementos eshulurais nos poredes de madeira das oficinas fornovamnas extemamente integulares. A existéncia de indmeras jonelos basculantes impedia uma cometa edesdo do viil e o manifestagao do caréter plano dos parénieses, 0s quais se constituem em elementos visuais € em material que vilizo freqilentemenie em minhos obras. Estes aspectos tornavam o tipo de montagem tecnicamente invidvel. Por outro: lado, © lugar oprofundave as indagagées levantadas por essas mesmas propostas. Refitome, sobreiudo, aquelas relacionadas @ pontuacée na arquitstuia uilizando parénieses em vinil adesivo, tals come “Conjunto Vazio" ¢ “Plano de Passagem’ As propostos uilizando parénieses, que mencionei anteriormente, ariculavanr se em funcéo de uma arquitetura, © fato de saber que muitas dessas paredes seriam recoberlas. com paingis, © que @ aiquitetuia serio alletada para dar lugar o dezenos de pequenas novas sclas, parecio dor a esse futuro espaco uma cetta ertificialidade. Néo que a arfficialidade me assustasse, lange disso, somente que aqui estévamos rum momentochave de mudanca e, nesse conlexlo, ela adaviria um sentido pejotativo, Parecia que essa possibilidade fakeava de alguma forma a arquitetura, pois forgave um caréter, uma qualidade que o lugar néo possuia. Esse pensamento fincionova também do mesma forma quando imaginave que uma sola pudesse ser consitida exclusivamente para al iniervir com os parénteses. A arquilelura, « constiuicéo dos lugores, su0s coracierisicas, sua carga simbélica séo exiremamente importantes resses trabalhos e elementos constilintes do proposta artistica Fareciome que esse momento de mudanca no lugar, esse process de alteragdo, & que era. elemento mais importante, o mais enfatico, Mas por que ssa sensagéo ocorria? Quel « importancia desse processo de cleragéia e qual suc diferenga com oulas situagées relacionadas 6 constifuigéo do trabalho? Senlia que deveria ficar alento a uma geogratia das mudancas no que farecia imével. Alena gira, @ 08 sinais evoluem através de fluxes, correnies, deslocamentes ce valores, Abriamse assim outras possibilidades na forma de pergunta: Como trabalhar com um lugar que ele mesmo esté em transformagio? Uma circunsténcia, que jogova sev anzol visivel pescando 0 que ndo eré mais visivel, chamoume a tengo e parecia aponior para visibilidades futures. Excetuanda um prédio stuado em frente daqueles que havicmos vsitade, que foi ocupado na primeira Biencl ~ e seporado destes por um pequeno cais que divide o terreno -, nenhum cutto dos galpoes hovia sido viizado alé eniéo para nenhuma outa atividade. Naqueles galpées onde anes 0 localizeva a forja, como 0 golpdo das tesouras, ou a fundicdo, __ et ov aindo © ullizado come almoxarilado, a impresséo marcante era a de ue eles haviam sido recentemente desocupados. A Bienal, como evento, setia o primeita a ullizar esses lugares para uma outta atividade diferente doquela para @ qual eles haviam sido consiuidos e destinados. Qual era enldo essa nove luncéo? Qual a furgdo de uma exposic&o? Qual a fungdo da arte? Passado um cert tempo, corfirmouse 0 fato de que a Bienal, como evento, ‘ransformaria necessariamente 0 lugar, pois ele teria de responder &s muir plos demandas, distinlas entie si, mas interrelacionadas. Quer dizer, responder cos limites orcamentitios e, co mesmo fempo, & demondas matetiais orlundas das dezenos de axtistas, €s demandas diferenciados de espaco, conforme os propostas dos artistas, a0 projelo curatorial, as concepsées dos arquitetos e aos limites fisicos disponiveis. Responder & Visilagée, @ comunicasée visual,.aos percursos, & seguranga e assim por dionte, Acredito que poderd ser dtl, para tentormos esclarecer uma sitvagGo que esiava se formando, olharmos para algumos das diferengas, propostas per Michel de Certeay, ene lugar e espace: “Um lugar € © ordem (seja qual for] segundo o qual se distribuem elementos nas relagdes de coexisténcia. Ai se acho, pottanlo, oxcluida © possibilidade para duas coisas ocuparem mesmo lugar.” Exisle espago sempre que se fomam em conta velores de diregéo, quantidades de veloc dode e a variével tempo. © esporo € um cruzamenio de méveis.” “Em sumo, 0 espago 6 um lugar proticado. Assim, a 1va geomet camente definida por um urbanismo é tansformada em espago pelos pedesites. Do mesmo modo, a leitura € o espace produzido pela pidlca de lugar consituide por um sistema de signos ~ um escrito." Através dessas definigées podemos, enléo, comporativamente, perceber @ passagem que se dé entre © lugar constituido pelos galpdes do DPREC, lugar esvaziado de sua atividede inicial, e sua transformagéo em espaco da Bienal, instaurado por esse evento expositvo. Em relagdo co projelo que realizaria para a exposigic, vorios perguntas vinham & tena. © que tomar como referéncio na proposte a ser realizado? Iniervir sobre 0 lugar do DPREC ov sobre © espace da Bienal em sev conjunio? Giver dizer, espago do Bienal enquanto produzido pelo evento, «© enquanto evento que allera © lugar onde se inscreve, jé que o lugar anle- tior ndo € mais © mesmo, O evento por si olera © modifica o lugar, o seu cordter, 0 seu significado, a sva consliuigéo. A continuidade entre o ja exisienie © consivido posteriormente 6 essegurada simbolicamente pelo evenio, que funda um nove espago. O luger ¢ modilicado, tanto sob o ponio de vista Fisico como perceptivo e simbélico. Nesse caso, a énfase & dda vio evento, O lugar é revelado pela via do evento, ao mesmo tempo com que ele & ressignificado. Este via. é como um meio, uma [BAIS um ftro um instumento, através do qual se inslaura’ um cerlo olhar. Néo se tala de uma forma (o lugar] que corresponderia a uma fungde [o evento), ov de uma sivagdo na qual « forma reveleria os limiles da fungée, mas numa ordem de procedimento inverso, 6 a funcao que attero as formas jc existetes. Neste espago estabelecido, as obras e propostas soliem um forte processo de objelificagdo, Sao como que objetos entre objelos. Mesmo aquelas que partes do lugar em trabalhos in sity adquirem, muitas| vezes, 0 comportamento de abjetos no espaco de apresentaso do evento, tendo em visia que elas ndo levam em conta essa alleragdo de context. E como se nada houvesse ocomrido. Essa objetificagdio parece provir da utilizam diretamer divisdo © do isolamento entre os diferentes obras aliadas ao seu desloca- mento contextual. Diferentemente do fato de que essas obras possam utlizar © lugar para se constr, 6 © espaco do evento que as situa @ os ‘einscreve dentio de uma sucesséo propria de amostragens. J4 no mais sobre © contexte de lugar propriamente dito que essas obras incidem, em vias de criar © espaco de sua proposi¢ée arfstica, mas sobre contexto do espaco do evento no qual elas estéio coniidas, © que em sua cconstituigo 0 ignoram. Toda essa mudonga no lugar visava transforméslo num imenso espaco de apresentagao de produtes cultuiais, que incorporaria todas as represen tacdes © propasias artisficas ai inseridas, © que vinha ao enconiro de meu pensamenio, ao mesmo tempo em que o desdobrava, era que toda expusi¢de coloca 0 problema de sua apresentacao, Eta importante estar inscrito nesse espaca assim criado, mas ao mesmo tempo era preciso um descompasso em relacdo a esse mesmo espaco, um deslocamento ou um descolamenio. Caso conirétio, @ proposicao seria como que amalgamada e noturalizada pelo evento. Algumas dessas inivisSes 56 foram efetivados com passar do tempo. Paialelamente a esse contexto que estava em fomagée, comegaram a interessor me muitos dos objetos que ainda permaneciam no local, pois eles eram testemunhas diretas das atividades e da funcdo ligada ao lugor que estave em transfoxagéo. Alguns desses objetos poderiom fazer parle, por exemple, de um memorial relative co trabalho ali desenvolvido ao longo de um século. Por que © lugar foi abandonado? Por que as atividades haviam sido definitivamente interrompidas? © que ocorreu com as pessoas que ali tabolhavam? Por out lado, poreceume que 0 fato de uilizar esses objetos poderia ser uma forma de referirme ds allera;des que estavom em andamento. Utlizar esses objetos era uma forma de trabolhar a relacéo ene visibilidade & invsibiidede na ateragGo desse lugar pelo evento. Em sumo, uilizar os objelos era uma forma de contapélos e, conseqientemente, referirse & constitvic&o desse novo espaco. Assim, ndo era tanto a meméria que estava em causa, mas o devir desses objetos e, portanto, o devir do lugar 20 qual eles pertenciam. Nao era tanto © passado que estava sendo questionado, erbora sua importéincia estivesse inscrita nos objelos ¢ fosse fundamental co nosso processo de relacéo, mas 0 fluro. Aquilo a que chamamos © amonhé Cabe também ressaliar que esses objetos recolhidos em minhas visitas 320 local, ontes de sua limpeza e modificacées arquitetrais, estavom destinados co [fl ou ao ferro-velho. Como pude posteriormente constata, 2m nenhuma das insténcias implicadas cogitou'se em uilizé-los para uma outa finclidade. Eram objelos em processo de perda. Vollam de novo as pergunias: que outras fungées poderiam amanhé desempenhar esses objetos? Que funcao desempenharia a nogdo mesma de amanha? E para quem? No final das visitas, recolhi, entdo, vétios cadinhos e baldes utlizados em fundigéo, roupas e acessérios em couro, como pemeiras, bragadeiras, [DBE Recohhi também copacetes & dculos de protecdo, uma béia metélica, uma €ncora e varias pecos em fero de distinlos tamanhos, enormes porafusos, porcas, uma iampa de garrala de oxigénio. Varios desses objetos foram utllzados na consivicdo do rabalho que apresentei na Bienal Passaramse alguns meses e, paulatinamente, o trabalho foi sendo eloborado, née sem incidentes, surpresas e peripécias. A proposta apreseniada na Biencl constitiiuse, entéo, na conslrugdio de uma espécie de meso-baledo, com a forma de um quadrade de quatro metros de lado por noventa centimetros de allura.® Essa mescrbaledo era vazeda no meio, de maneira que o tampo media um metio de largura Possuia lateralmente quatro tompos, cade um medindo um metro por noventa centimetros. O material utilizado foi o MDF, ¢ ela foi inteiramente laqueada na cor vermelha. Sobre ela foram colocados diversos desses abjetos recolhidos por mim no local, e cikados anieriormente. Os objelos foram embrulhados com papel celofane nas cares vermelho, laronja e amarelo. O local previsto para o trabalho foi o prédio antes ocu: pado pelo almoxarifade, Ele foi posicionado num espaco sem divisérias © em contigiidade com as cobras préximas, sbaletio, posso No que se + dizer que ela relanga alguns projetos cobras anteriores inhos, onde os disposiivos de aptesentago sGo essencicis. A mescr balcdo um cispeaitvo para o mostrar, mas ao realiza de uma maneira enfatice e hiperbdlica, sublinhando e eelocando com relevo 0 carder essencialmente de opresertacdo produzido pelo evento, fore & mes Espectficamente no que diz respeito cos objetes escolhidos ¢ colocacos embrulhados sobre a mesc-balcdo, néo poderiamos falar exatamente de descontextualizagao fisica de objetes, como um barco dentto de un museu ou um trator dentto de ume benca de revises. Eles permanecem [em sua perda} no mesmo lugar & que estavam destinadas. Eu diric que um [BIBI formcrse com a interupgéo de sentido. Aqui, entre duns fungées de natureza disinlas aplicadas ao mesmo objelo, o diferencial 6 dado pela apresentoréo. © celofane, como sabemos, s6o folhas delgadas e trensparentes usados para embalar presentes ou diverses tipos de mercadorias. € usade também como adoine ou decoragdo de Festas. Possui na consituigGo de seu nome a raiz grega phan, de phaino, e que quer dizer “fazer aparecer’ ieressa‘me explorar, nos materiais e nos objetos que utiliza, a relagdo entre suas caracteristicas e qualidades e a fungao e a utilizagdo & qual eles esttio destinados. Assim, interessame 0 falo de que o celofane, por exemplo, é uillzodo para embalar mercadorias e presentes. Poreceme importante a relagdo entre essa finalidade e 0 fate de que esse material brilhe, possua cores saturadas e, nese sentido, traga exuberéncia, sensorialidade e, culturalmente, contira preciosismo a0 que esti embalado, Pasicianadas sobre a mescrbalcdo laqueada, o efeito é intensificado pela cor vermelha da base e miliplicado pelos reloxas. Nesse intercémbio, os abjetos embalados absorvem as cores que lhe sao proximas. Tudo brilha © adquire © or de coisa nova, olertada como uma suipresa, como ‘corre com os presentes. Assim, conforme nosso posicionamento na sala © nosso ponto de visla, oblemos diferentes niveis perceptivos. Quando estamos ofastados © vemos a mesebalcéo, os objetos tormamse volumes preciosos e reflexivos. Parece uma espécie de joalheria, dissome uma Visitonte: os amarelos por vezes lomamse fulgurantes dourados, os lararjas aduirem tons acobreados e 0s vermelhos porecem metal om brasa. Dependendo da nossa posicéo e do reflex, nosso olhar & impedido de atravessar as léminas de celofane © perscrutar © quo olas guardam Enlretanto, quando aos pouces nes aproximamos, as embalagens vao fornandosse mais transparenies, a ponto de percebermos os objetos em seu interior, seu desgaste, sua poeira, sua delerioracdo, seu uso, seu enve- Ihecimenio, suc oxidaséo, seu apodrecimento, sua fragmentagao, seu abandono. Ao nos aproximarmos, nosso olhar penetra através da transparéncia e encontra o opacidade dos objetos. Fevelose-caqui a importéncia do olhar em movimento. © trabalho constiuise riesse movimenio, nesse varevem. No hé um momento que seja mais verdadero que 0 outro. Esses diferentes momentos sto manifestacdes de uma mesma situacdo, Passagem entre visibilidades em que a visio aprox nada relaciona 4 mais ofostada um anteparo brilhante co nosso olhor, uma barrelia que tornava invisivel o contetido. Passagem entre visiblidade ¢ imisbilidade. Passagem ene invisblidades. Passagem compreendida nas alernéncias enite transparéncio, reflexo e opacidade. Compreendica na nossa posigcio em relagéo a esses elementos: Para 0 que olhamos? A patir de onde olhamos? Através do que olhamos? Como olhamos? E no minimo cuioso fato de ter um tempo depois de realizar esse trabalho, uma passagem no Livre primeito: do capital, de Karl 1x, em que ele faz a seguinle relagdo enlie cores e metas 2 M10 € a prota nde fém apenas a cardler negalivo de objelos supérflios, dispenséveis, mas suas qualidades estéticos k ria naturel do luxo, do adomo, da suntvosidade necessidades festivas, em resuino, a forma postva do supéitluc ra. Ap extraida do mundo do tig wece, de uma cera maneira, como luz solidificade, blertineo ~ @ pate refltindo todos os raios luminosos em sua mislura primitiva, © auro relletindo apenas a mais vada poiéncia da cor, 0 vermelho, Ora, 0 sentido da cor é a forma mais popular do sentido estélico em geral’” Em relagdo co celofane gostaria de desenvolver, conjuntamente ao que [é foi levantado, um outio aspecto que me parece importante: 0 foto de poder ues finalidades a de embalor villzar este material — que possui eni mercadorias, erfatizande na maior parte das vezes sua apreseniagéo a um destinatério — no contexto de ume exposicdo de ote. Nesse sentido, podemos acompanhar © pensamento do artisia uruguaio luis Camnitzes* quando ele nos diz que: “A are, « partir do momento que consisle na produgde de objetos e idéias consumiveis, serve tonto para criar cura como para etiar um mercado’.” Entrelanto, 0 mercado imedictamente relacionado no contexto desia chamar de exposigao ndo o da venda de obras, mos o que poderiamo: imercado da exposicéo, retomando aqui um fermo utlizado por Katharina po 4 “Um meio em busca de sua forma: as Hegewisch em seu texlo inftllad exposigdes e suas deteiminagées’." A autora nos diz também que ao longo do século, bem como no atualidade, os efeitos que a arle posso provocor estdo em relacdo direlo com as condigées denito das quais elo 6 percebida. Assim, ndo é somente a arte, “mas também sua negacGo que necesita de um compo de ressonéncia condicionado a fim de poder ser percebida'."” Seria 0 caso entéo de nos perguntarmos: a producéo em aes visuals na otuclidade e a sua difusdo ndo poderiam estar relacionadas « um contexte mais amplo, mas também mais disseminado e que trabalhoria sua difustio @ sua percepeiio? Alguns axtislas, olguns pensadores e tedricos podem ajudarnos « situer esse probleme ‘Vém-me & mente varios artistas que desenvolveram em suas obras situacdes conde so tencionadas, de diferentes formas, as telagées entre producdo axtisico, FEBEBIIE) cultura, politica. Penso, por exemplo, em Marcel Broodthaets @ em sua propesigdo-exposigGo do Museu de Arie Modema = Departamento das Aguias'* e suas distintas Sepdes como a do Século XIK, a dos Figuras, a do Cinema, a do Publicidade. Perso em Cildo Meeireles © em suas Inseredes em Circutos ldeolégicos / Antropolégicos ou om seu piojeto Arvore do Dinheiro. Penso no atlisla aleméo Jochen Gerz € nas suas intervencées sobre monumentos € esculturas com a frase: “Atengéo: A Are Corrompe” ou ainda em textos de sua autoria come Viagem 6 invisibilidade & relorno.!* Recordo de seu projela para 0 trem transiberiano, de 1977, do qual ranscrevo uma anotacdo « respite: “Foi combinado com 0 organizedor que Jochen Gerz tealizaria uma viagem como contribyigo 4 Documenta 6. Sentado una cabine do Transiberiano, ele cobsiria «@ distancia Moscou-Khabarovsk-Moscou Durante a viagem, as janelas permaneceriam recoberas por uma palicula opace, de modo que, do interior do cabine, ndo se visse node do que esiave do lado de fora Ele vigjoria assim através da Sibéria, do Taiga e da regiéo do Amour aié 0s confins do Eurésic e, permanecendo na mesma cabine 18 Moscou, ele relomaria ao seu ponto de partida apés 16.000 quilémetios Para essa viogem de dezesseis dias e dezesseis noites, ele cartegaria dezesseis quacrosnegics, um quadronegra para cada dia, nos quais colocaria a impressdo de seus pés. Também fot combinedo que nada restaria da viagem. Tadas os proves deveriam ser queimadas de maneiia que aquele que ouvisse falar @ respetio ndo pudesse ter cerleza se isso ocorreu ‘ou nao." Por oto lado, 0 live A dialética do esclarecimento,'* de Adomo & Hatkheimer, sobretudo em seu capiiule sobre a Industria Cultural, © 0 livo de Guy Déboid,"® A sociedad do espeticulo, 60 dois exemplos de textos escrilos na segundo metode do século XX, onde, « partir de pontos de vista distinios, sGo teorizadas as inlerielagdes entie © capital, @ politica, a piodugao cultural © 0s graves © profundas mudancas na percepsdo fenporal ¢ espacial, bem como no comportamento das sociedades e dos individu. Penso que 6 importante lembrarmos desses textos escritos hd décadas, no ‘alyal momento. Enire muitas outras coisas, esses estudos nos indicam que os efeitos dessas interrelagdes ndo se restingem apenas as produrées culturais que se recl'zam no émbito das tecnologios de reprodugae e de difusdie, mas que podem aletor tanlo a percepsio de meios alisticos avessos @ reproducéo ~ no qual inchitiamos grande parte das producdes em arles visucis — quar to nossas atitudes colidiancs Para Guy Débord, “o espeléculo consiii o modelo atval da vide sob quaisquer de suas formas particulares dominante na sociedade’, sejam elas o informago ov a propaganda, a publicidade ov © consumo direto de divertimentos. © espetdiculo é essa “tendéncia a fazer ver (por diferentes mediocSes especializadas) © mundo que jé ndo se pode tocar diretamente..."."°"O espetéculo se apresenia como uma enorme positividade, indiscufvel © inacessivel. Nao diz nada alm de ‘o que aparece & bom, o que é bom parece’."”* Podetiomos propor uma variante: na sociedade SERED © que 6 bom 6 visivel, © que néo & hom & invisivel? Invisivel aqui néo significa que aquilo que se enconira nessa condigao de invisibilidade, assim se enconlia por estar escondido airds de alguma coisa. Ao mesmo tempo, nossa época possui uma formickivel capacidade de produzi, teproduzir e muliplicar imagens. © invsivel, entéo, n6o 6 produzido necessariamente pela falia de uma imagem ou pela fat de imagens. Ele ndo & necessariamente um menos. Pequenc paréniese: a propaganda seré realmente o ola do negécio? importante fisor que alguns desses aspocr tos indicom continuidades abrem reflexes, “mas, nesle momento, nos levariam aktm do que propusemos deservolver aqui. Voltemos, entéo, & nossa exposigio. © {ato de que as instivicdes culurais desempenham um papel social de legit ogo artistca ado 6 nenhima novidade. Entretanto, em rela¢Ge a alguns eventos atlsices podemos detector diferengas acerivadas. Nosse sentido, chamo a atengSo pra a consifvigde e para a natyreza da Bienal do Mercosul, para 0 nimeto de orfistos, obras, tecnices, monitores, funcionérios, consutotes, administadores reunidos na producao desse evento, 05 valores consideraveis envolvidos, © némero de visitantes lest mado em torno de duzenias mil pessoas) e sua importéncia medica, muito mais ampla e difusc Exposigdes de certo envergadura, como os Bienais, diferem dos exposiges cotrentes devido & &nfase no evenla em si ¢ em sua mediatizacdo. Elos possuem, por assim dizer, um suplemento de exposi¢éo, quer dizer, uma 4nfase extrnordindria no aio da exposicGo, ou uma polencializacéo do foto expositivo, Esses eventos tornam visivel aquilo que apresentam, polo simples motivo de que séo eles que apresentom, ¢ de que o evento em si funda sua propria apresentagéo. © evento é 0 falo de sua apresentacdo. © que antes era invisivel tomarse visivel, mesino que este invisivel esti inscrilo na visibilidade do espago arisico. Num @ novtro caso, 0 olhar & desviado — ov a cagueira, confome © porio de visia - daguilo que nos & aponiado, Nosso alhar é articulade através do evento. © evenlo age como um meio através do qual s60 visas obias, proposi¢des arsticas & agenciados conceprdes de arte. Antes mesmo de penetrormos em seu esporo, ji temos uma imagem de suo imporkincia, Apés 0 término do Bienal do Mercosul, a visibiidade do lugar foi inverse mente proporcionol & visibilidade do periodo que durou a exposictio. Passagem do visivel ao invisivel. © tempo passou, discutiramse novas fur 560s para os prédios, « prefeltura propés uma marina, um minishopping tm restaurants. As antigas oficinas parecem ter despertado @ mobilizado diferentes interesses polifcos e econémicos. Entéio, um abaixo-assinado viu 6 dia: muitos artistas, intelecluais, educadares ¢ produtores culurais néo estovam de acordo, os prédios poderiam impulsionar outras experiéncias atisticas. Outros ares @ insuflar outras velas. O tempo passou de novo, passaram as nuvens, ¢ de repente os prédios tomaramse invisivets. O lugar lteralmente desopareceu, consumido por um incéndio no verdo de 2001. Passagem do positive ao negative cakcinado, aberlo pelo calorluz cfuscante das chamas. © que ocorreu? Como ocorreu? Por que acorteu? Muitas perguntos surgicam em meio co descaso, € um silencio visivel conskangedor abandonoy os fatos, lugares © objetos. O que equivale a dizer que isto nos abandonau também. O mais é desert. Subitomenie, 0 ontem e o amanha pareceram-me invsivets, Finalmente, gostaria de folar sobre um outto dado presente no trabalho por mim apresentado durante a Bienal, Este dado néio aboliré 0 acoso. Surgido ainda durante a realizagéo dos primeiros projetos propostos, ele aravessou todo esse lempo e agora vem co enconiro desses tilimos deplordveis acontecimertes. Considetoo sigrificalivo a ponto de tomarse quase uma conlirmasGo de olguns aspectos levantados pelo trabalho. Ele se coloca fombém em continuidade com © que foi desenvolvido ao longo desse texto sobre as indagasées a respeito do devir dos objetos e dos lugares, sobre ume fungdo que aliera as formas [6 exis tenles. Este dado que aqui joge € 0 titulo tibvido por mim ao trabalho opreseniado, A obra chamavase: "A lunge de amanhé {As dieses incandescentes)’ mir Khlebnikov escreveu, © poeta tusso We por volia de 1921, um fragmento de texto en que encontiamos o seguinte passogem: "Nos dias de seu florescimento, cada pov tem a tendéncia a consideror seu manhd come uma fangente ao pento do sev present Cada povo tem a tendéncia a experimentar um amargo desencartarnentc cuanto eficdcia © a solidez real de seus metos primitives de langar um colhar sobre seu amanha’.”" Enlielanio, hoje © contexto é out A partir especficamente dessas experiéncias relatadas - que estdo longe de serem Gnicas =, 0 amanhé revelou'se sem futuro. ‘A novidade nos diz o mesmo: o funcdo EIBNEINEEE] ¢ o desaporecer do oniem, @ fungdo do ontem @ 0 desaparecer do amanh’. Sé 0 presente parece coniinuar visfvel, mas sob que condicde Notas: " USPECTOR, Clarice. Agua viva. Sao Paulo = Cteulo do Lino, 1973. p.23, * GANDEUMAN, Claude, Représentr le vere, Troveses, Pats: CIC/Centre Georges Pompidou, 1.46, p.114, mor 1989. 2 Eso tanto foi primeiramerte apresantado durante © Ciclo Itemacional de Palestas © Vishvel 2 Co Irvishel na Arto Avo, roalizado om Bolo Herizonlo da 11 @ 21 de satomtro de 2001 pelo EIA ~ Cento de Experimeniozéa e Informacao de Arte, pela Escola de Bolos Artes /URMG 2 pel RAIN/Riksakademie van Beeldende Kunsion de Amsadan, © cielo tove @ caordenagio de Marco Paulo Rola, Marcos Hill e lucia Gowvéa Pimentel Postetiormene o texto fol publice- do na colainea © Vsivel € o Invsivel na Avie AuolThe Visible and the Invisible in the Contemporary At ~ Ciclo Internacional do Pelestas / CEIA, ~ Bolo Horizonte: Cento de Experimontagao e Infermagso de Ate, 2002, & presente versio fol revisada pelo autor @ con +m pequencsaleragdes em ela prima, “ CERTEAU, Michel de. A inne do catidiana: ares de fazer. 2.00, Potopals Yous, 19%. 201-202 > Expecialnente digno de nota foi a destuiéo pela equine de impezo, que precedeu os ok robes exquisténicas do local, de uma resadosventos ~ na qual eu Ko uma paquena ier ‘vongdo ~, suede na dee enema, juno a0 a, ssteiade por um lho de ago de aprox: mnasamente cinco mats da ota ° Agiodeco a arqulsia Angela Cristina dos Sonios pela assessovio © detalhamanto tScnico no el borasdo do projsto da mescrbaledo, ¢ posterior acompanhamento do trabalho de realizactio. "MARA, Kail. Lio prieic: do capt. Sao Palo: Nova Cua, 1996, p.159, [Colacao Os Ponsadores | * lus Comntzo, esta uriguolonoscico em Libeck, Alemarha, em 1937. Vive © kobahe em Now York. * CAMINITZER, Ls, Uno genealogia del ate conceptual tnoamnetcano, Confnante Sul Su, Povo Alege, 1.6, nor. 1997. 'S HEGEWISCH, Ketharina, Un médium & la vecherche de sa form: les expositions ef lous terminations. In: Ast do Vexpaiion — Une documentation 2 ete expostions exemple de Xa sé, Poi, Ecbtions cl Regard, 1998, p. 15 © HEGEWISCH, Katharina, Un méciuen & la recherche da ea form: ls expositions et les dtermnatons. In: Uc! de Fexposion ~ Une documenaton sur este expositions exenplies de Ne sid, Pais, Edis do Regard, 1998, p21 "A esse respeio ver 0 atigo de Haren, Jigen. Usigle de Voligocéne & nes jus, Diseldot 1972. L'At do Fexpostion — Une documentation su kere expostions examples de sible Pov: Eltons du Regard, 1998, p.383 lnon, Oo fan ~ textos depuis 1969, Pate: Ecole nationale suptrioue des Beaux As Collction Fens dontses, 1994. p.121 Jochen, De Fan! textes depuis 1969. Pais: Ecole nationale supérieure des Beaux As, Collection Eeris donises, 1994. p.121.p.91 ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Diolético do esclarecimento, Rio de Janera : Jags Labo Edicg, 1985, "© Alguns comentios « criteas sobre © ponsomento de Débord e © Sttacicrismo podem ser encontados em: HOME, Stewart Assalo &caltra, Sao Paulo Conrad Lins, 1999; bem como fem CAMNITZER, lus. Una genedlogia del are concepvallatinocmericano. Continents Sol Sur, Porto Alege, 1.6, 10%. 1997, A inlegraldade dos texos do ‘evisio Intentional Sitoconists foram publcados em: Hmationale Sivatcnnist, Pers: Librairie Athime Foyard, 1997. " DEBORD, Guy. 4 sociedad do expeticulo. Ro do Joneio : Contaponto kona, 1997, p. 14 "© DEBORD, Guy, A sociedad do expeticule, Rio de oncro : Conaponto Editor, 1997, p. 18, " DEBORD, Guy. A sociadads da egpeticul, Rio de Joneio : Cortippono Edtora, 1997, p. 16. ® Algumas das corsidetogdes levantades também poderiam sernos eis em ovtos cicunstin cs, Elas enevéam questées, como por exemplo: uma histria do menoctome ne Brcsl, sob 0 ponto de visa das grandes exporicées @ eventos, n00 aia que ser desenvohida levandose em conta sua piépria obpificardo, oy soja, 2 rarslormacie dasso histria en volor de tooo cespetocular? 21 KHIEBNIKOY, Veli. fe pieu dv hatre, Lausanne, Eaons Age Hemme, 1970. p.233294 MOUS DY SHO Ferver Todos 0s diets desta edisdo reservados Escriturs Editora e Disiibuidora de livros Udo. Documento AREAL 3 ua Maesio Colio, 123 Vila Mariana - 04012100 $60 Paulo, $P-Telefx: (11) 50824190. ‘email escrtras@escritiras.com by sil: wun eserias.com. br Editor Raimundo Godelha Direcdo Projeto Areal e Série Document Areal ‘André Severo © Mota Helena Borordes Cope Helo Fervenza Projeto Grshico Denise Gadaha © Halo Forvenza Editoragio Reverson Diniz Fotografias Halo Fervenza, Foto pg.59 [Hélio Fervenza a patti de imagem de Ricardo Campos) 8. po 1 ° Tratomento de imagem Vener Aloimo Reviséo Manica Bolieio Canto Impresséo Book R} Dados nternacioncls de Carelogagtio na Publicasao (CIP) “_(Cémara Brosilera do lwo, SB) Forenza, Hallo (0. deseo / Hilo Fervenza ~ S30 Poul: Escrtnas Eto, 2003, [Documenta tech 3) ISBN 857591-080-1 (vlume ISBN 57531-0826 lotra completa} 1. Aste To, HS, 03.2356 00700 Indice pore catélogo sistemétio: 1. Atte visuais. = 700 Inprosto ne Brasil Pinte ia Broil potrocinio: 7 Ssorituras ih ‘Bo Fouls, 2008 — Ld PETROBRAS fot ' e

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