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5 Herdclito Fowaro Hussey A anonoacEm ps Hsrscuto criclico de Efeso deve ter estado em atividade por volta de 500 a.C, [Nada se conhece dos eventos externos de sua vidas as informagies bingréficas postetiores sio ftilas. Do ivro de Hericlito, cerca de cem frag- imentos sobrevivem. Esse livo aparentemente consistia em uma série de sen- tengasaforsticas sem ligagfo formal. O estilo ¢ tnico." A variegada prosa de Hericlito, artitica e euidadosamenceestilzada, vai de sentengas factuais om linguagem comum a enunciados oracalares com efeitos poéticos expeciais cem vocabuliti, ritmo e arranjo de palavras. Muitas sentengas jogam com paradoxos ou se aventuram de modo provecador no limiar da auto-contra- digio, Paroce que muitas so pretendidas como aforismos pungentemente smemoréveis (as traduses deste capitulo tentam capturar algo dessas ambi- siidades, onde for rzoavelmente possve) (O significado ¢ propésito do livro de Heniclio foi desde sempre julga- do problematico, mesmo por aqueles que o liam por intro. O peripatético “Teofiasto (DL IX.6) diagnostca Herieito como “melancélico” (manfaco- depressive) com base no fato de que ele deixava alguns empreendimentos a meio ¢ se conttadizia a si mesmo, Os gregos posteriores chamam-no “o ‘obscuro”. Certamente Herdcito nem sempre buscava a ordem expositiva ca clareza como se as costuma almejar. O que sobrevive mostra que ele era fre- ‘lentes vezes pouco claro. Como um enigma ou um orécluo, praticava unm deliberado scmivelamento de suas intengées, estimulando o leitor & entrar tem um jogo de esconde-esconde, Ch Mon neste volume, p. 2 140 Pasonsos na Foscru Gtton 0 conteiido explicto das observagies de Hericlto vai da politica in- tema de sua cidade natal & natuteza ¢ & composigio da alma ¢ do cosmos Ele € reperidas vezes polémico, rjcita com desdém as opinibes do “vulgo” € 4 auroridade dagueles que 0 vulgo segue, em es 0s poctas? Outos, ‘menos populates, mas com pretensio de sabedoria ot conhecimento (Ke- néfanes, Hecatew ¢ Pitigoras, DK 22 B40), sio igualmente atacados.’ Em cerca passagem, Herdclito explicitamente alega ter feito avangos no sentido de entender tadas as autoridades anteriores conhecidas (B108). Apenas uma pessoa é louvada por sua sabedoria, o obscuro sibio Bias de Priene (B39) sas polémicas implicam que Hericlito se dirige a todos os que o Idem «que tem dousrinas positivas propria, fundamentadas na rejeigio das auto- fidades tradicionaise alegando ter um melhor aceso a verdade, nos mesmos assuntos que os outtos teiam abordado, De fo, os fragmentos contém ‘muitas declaragées positivas, bem como clarossinais de um pensamento sis- temtico, Desde Aritételes, Herdclto ¢ geralmente classificado junto aos “idso- fos nacurais” (plsiolégoi) jOnios: Isso & pelo menos em parte correto. Herd- elito preocupava-se com process edsmicas ¢ com a “nacurezs" das coisas: cle descreve-se como alguém que “demarca cada coisa segundo sua natuteza, ‘exprimindo como ela €” (BI), Pode ser relevanteo fato de que cle nfo ataca nenhum dos milésios pelo nome:* ‘Ainda assim, a gama de assuntos abordados sugere que cle seja mais do que um filésofo natural. Esce capitulo apresenta evidéncias para conecher Hrdclito como alguém que persegue um araplo projeto reconhecidamente lesifico: uma crftica radical ¢ uma seformulagio da cosmologia, ¢ mesmo de todo o conhecimento, 2 partir de novas e mais seguras fundagées. No Polémica expcitae implica conta: Homero [DK 22 842; Artes, Sica evdemio Vi.i 128602528 = A22; 894); Hesiedo B40, 57,67) Arqiloco (B17, 42}; "bordos Populares” (6104). Conte opines populares « todiconais 82, 17, 208, 27, 28, 29, 47, 58,70, 74, 86, 104, 110, 121, 1274, 128%) 2 CL, este volume, long, p. 51-52, ¢ Mot p. 420. «Acs, Mt |3 98405. mos tanto Astle Mt N7 101202426 como Patio [Soph 242) eto canes de curs especies légios,anekgies| de Herc. Tele & mercinao (838); Anaximande, imglltament crise (80). Hester 141 decurso do process, ele tenta sobrepujar os problemas sistemdticos que es prciavam 0 empreendimento milésio: aqueles relatives ao monismo ¢ 20 pleralismo es fundagies do conhecimento. Expueténcra, BvTERPRETAGKO, RACIONALIDADE Com que autoridade Hericlito alega saber melhor que 0 vulgo ¢ 0s po- ‘cas? Em primeiro lugar, ele fiz apelo a0 conhecimento adquitide pela expe- riéncia em primeira mio: ‘Tao aquilecujoconhecimenco ver ¢ ouvir: iaso € 0 que mais valoizo (B55). Aqueles que buscam conbecimento devem investigat tas coins (B35). Aqui, Heréclito alinha-se com o empirismo de dois contemporine- ‘0s, Xenéfanes ¢ Hecateu de Mileto. A prética da investigagio de primeira mio (bistorle) ea crtica da tradigio e do mito com base na expetincia comum eram parte do programa deles. © empirismo parcimonioso de Xen6fanes recusava-se, no Ambito da natureza, a postular entidades ndo- otserviveis, contradizer ou ir além do ambito da experigncia comam em suas explicagdes. Implicitamente, desmitologizava o mundo nacural, ‘como Hecateu: de Mileto o faz de modo explicito. Essas mesmas atitudes cpistémicas podem ser observadas (cf segSes 4 € 5) na cosmologia e na icologia de Heréclito.* : re disso, Herlclito destaca a ambos por nome eos critica alinhan- ddo-os a dois outros de quem eram grandes criticos: ‘Mui erudigso io ensina a mente; em caso contri, teria ensinado a Hesiodo ¢ Piigors, a Xendfanes e Hecate (40). Sobre © empirsmo de Nenéanes « Hacoty, cf, Franke (97] 325340; Husay [246] 17:26; leshar {189} 149-186, Sobre o epslmclogia de Hardcito, of Husey [245] 3242; Laher [250] o, neste vlums, 301-302 142. Panwenmos na Fosort Ganon Embora “muita erudigio” seja necessiria, nio ¢ suficiente para “en- sinar a mente”, isto é, para produzir genuino conhecimento. Esse ponto assinala © segundo estdgio da construgio, por parte de Heréclito, das rnovas fundagdes. A mente deve ser “ensinada” de modo apropriado, ou, de modo equivalente, a alma deve “falar a linguagem correta: de outro modo, a evidéncia apresentada aos sentidos, de que tudo 0 mais depen- de, no apenas no ser compreendida como seri, ainda, erroncamence «ransmitida pelos pripriossentidos: ‘Mis cstemunkas so os ohos e os ouvides do vulgo, quando ests témalinas que no film a Knguagem coereta (8107). “Heréclto tem conscigncia de que © testemunho dos sentidos ¢ desde logo moldado por nossas preconcepgées. Isso torna mais Fcilexplicar como as pessoas, de modo paradoxal, podem deixar de ver o que esté diante de seus olhos ede ouvir o que preenche seus ouvidos, como julga Herdclico que constantemente o fazem: (Os clos ouvem, mas sio como sundos: como diz o¢ditado, estio auentcs mesmo quando prcsetes (B34). les nfo saber ouvir, nem fla (B19), A analogia com a linguagem € onipresente em Hetdcito, que explora todos os recursos da lingua grega em seu esforgo de represencar as coisas como sio.” A possibilidade de compreensio é correlata & existncia de lum significado, Isso implica que hé a necessidade de uma interpretagio do que é ofezecido pela experiéncia, como se se tratasse de um enigma ou de um oréculo: (© senkor cujo ordulo se encontea em Delfos nem fala nem ocult: assi- ala (B93), Sobre os ails lngsicas de Heréclio © seu propésito, cf, por exemple, Heicher [153] 136-141 » Moursaos [155] 229-234; Kahn [232] 87-95; Hussey [245] $257, inscim 143 ‘As postoasenganamse quanto a0 conhecimento do que é manifest, assima ‘como Homer (embors Fosse 0 mais sbio dos gregos); também ele fol enga nado por garotos que matavam piolhos, quando diam: “aqeles que apanha- mos, ees deiamios para tis aqueles que no apanhamos, ees casegamos conesce” (B56) Se mensagens importantes vém sob a forma de enigmas ou ordculos, as implicagbes parecem desencorajadoras a verdadcirarealidade das coisas deve ‘sur ocultae nfo deve haver nenhum sistema de egras fxas para encontré-la ainda que, quando descoberta, revele-s algo que, em certo sentido, sempre se 1oube, Deve-se estar aberto a qualquer indicagao. ‘A cestrrura latente (harmanié) mest da estrutura vise (B54). A narueza (psi) ama esconaer-se (B13). Se nfo se iver eperanca ado se enconsrarto inesprado, pois nio se pode investgtlo ou palmilhélo (B18). A descoberta da *estrucura latente”, da Snaturera” das coisas, € 2 solusio do enigma. Hericito alega ter-se deparado com os enigmas do mando ¢ da existéncia humana. Ele pede & audigneia que ouga sua so- lucio, Mais uma vee, revela-se a questio da autoridade: que garantia ele pode oferecer de que adivinhou certo? Herdcito, que to brutalmente dlispensa o pretenso saber das autoridades tradicionais, néo se pode furtar tessa demands Quando alguéim ours, 0 comign, mas com o liga, &sibio concordar (ho- ‘mologein) que tudo € in (B50), Légos, que aparece aqui e alhures em contextos importantes da filo- sofia de Hericlto, ¢ uma palavra grega de uso muieo comum. Significa basicamente “o que € dito’, isto é, “palavra” ou “relat sgtgo cotidiano, porém, tem ricas ramificagbes de significado. Adquire Physi, am sau uo primar, ex infmamert igede oo verbo aia se} significa *o.que alge reolmeni 6: como que alo tm expesitnca dle, embora tenham experiéncia das pla- ‘ease ages que apresento, demascando cada cosa de acordo com sua natu rera. apontando como é Mas as demas pessoas nto se apercehem do que fazem quando acondadas — como nfo se apercehem dat cosas que equecem ‘quando dormem (BI) O oblivio do mundo publico, compartilhado durante 0 sono, & mostra~ do pela substtuigio deste por sonkos privados, ado compartithadose ilusé- ss (uma suposta “Fonte privada de entendimento), confirmado por uma parifiase posterior: “Herdclitoafirma que hé um mundo compartilhede por aueles que estdo despertos, mas eada pessoa, ao dorms, volt-se para um mundo privado” (B89)." Qual, entio, é a autoridade de que desfruta 0 logos, earacterizada de ‘modo agudo, ainda que oblique, nessas sentensas? Nao pode ser outra coi- s8 que o tipo impessoal de auroridade intrinseco 3 zo ou 8 racionalidade, Nada que nio sea iso se encaixa no que é exigido do igor, o qual, como ji assinalado, adquiria nesse mesmo momento as conotagses de “artaz0- amento” e “proporgio adequada’. O mesmo é também consoante com a analogia do enigma ¢ do oréeulo: quando a solugio de um belo enigma ‘encontrada, nao hi diivida de que ¢ a solugio, porque tudo se encaixa, ‘ado faz sentido, embora de modo inesperado. Maras opines +80 desertas come “e que (meroenta) parece” (828), come prodtos de conjectr [847], como hisras contedos a eriangas (874), como brinquedos para lang (870 (come olde de es o rans (877). 146 remnnon na Prosont Gao Hetécico,entdo,alega que seu modo de ver as coisas éa tinica mane’ racional de 0 fazer. Fica por ver o que ele seré capaz de oferecer para dat suporte detalhado a essa tese. Isso mostra ao menos que ele esté compro- tmetido com 0 reconhecimento de que hi um sistema, embora oculto, nas coisas, de que hi um jlto sistemstico de pensar a respeito destas, uma ver que a chave, a “estrutura latente’, houver sido encontrada, Para Herdcito, a chave consiste no padréo estrurural que pode set convenientemente cha- mado de “unidade-nos-opostos’ Iso € 0 que di substincia a sua tese de que “tudo é um’ UntDape-Nos-orosros Entre as sentengas remanescentes de Heréclito, um grupo se destaca como possuidor de um padrio comum proposital, tanto verbal como con- ceptualmente, Ese € padi a que é conveniente referit-se como “unicade- nos-opostos’. A unidade-nos-opostos aparece em Heréclito de tés maneiras distinas: (1) ele apresenta em linguagem apropriadamence dreta, na maioria da vezes sem comentitios, exemples de padres extraidos& experignca coxidiana; (2) le gencraliza a partir desses exemplos, em sentengas na maioria a Hinguagem limita com o abstrato, aparentemente na tentiva de exprimir em si o mesmo padrio; (3) ele aplca o padrio na construgio de teorias, em particular & cos- mologia (segi0 4) © teoria acerca da alma (segio 5). Em primero lugar, os exemplos da vida coidiana, Estes so visivelmente rontes. So (onde se preserva a expresso otiginal) arranjados, na maioria das veres, de modo a que a primeira palaveaespecifique, com énfise, aquela coisa dnica em que ambos os opostos se manifestam. Esse padsio verbal recorrente ajuda a despertar a atengio dos opostos paradoxalmente relacio- nados para a “unidade" em que coesister, ‘Sobre 0 unidadencsopastos em Herd, veto opinier podem ser ancanrodos ‘en: Ki (293] 166201; Emons [240]; Kahn (232) 185204; Mackenzie [254 Mexicno 147 ‘Un camino: subida,descida, um eo mesmo (B60) ‘Sto 0 mesmo principio eo fim em uma crcunferéncia(B103). © pereutso dos solos de cadaré eto e torewoso (B58). (Os mesos sos: Aqules que os adenram diferentes gua fluem (B12), [A poo de cevadadecanea quando (nfo) aptada (B125) |. doonga fix da sade algo aprazivel e bom, torna a fome em sacedade ¢ 0 cansgo, em descanso (BLL, (Os médicos coetam & queimam seus pacientes e sinda exgem pagamento 858). ‘Un jumento peefeririarefugo a ouro (89). {oc]“aqueles que apanhamar, ester dsixamos para ts gules que wo ape snhamos, esses carrgamos conoses” (B56, parte). ‘Todas essas observagées podem ser material para enigmas, como 0 fa siltima (cf. a segdo 2.2). Em trocadilhos ou em filosofia, sio exem- plos de algo faseinante, desconcertante ¢ mesmo confiso: que 0s opostos pet meio de que escrururamos e compreendemos muito de nossas expe- riéncias no so pura e simplesmente opostos ¢ distintos. Nao deve se: pensados, como nos mitos de Homero ¢ Hesiodo, como pares de individuos distintos que simplesmente se odeiam ¢ evitam mutuamente, ‘Ao contrétio, encontramos os mesmos opostos co-presentes na vida coti- liana, interdependentes, passiveis de mudarem-se um no outro, em co- operagio Licta. Se no houvesse doengas, no 56.néo se julgaria a sade como algo aprazivel como nem mesmo existria a saiide, Nao existiriam subidas se estas nfo fossem, ao mesmo tempo, descidas. Os rios néo per- smanecem os mesmos # io ser por meio de uma constance mudanga de guas. O comportamento paradoxal dos médicos, que esperam ser pagos per fazerem coisas desageadiveis &s pessoas, «das mulas, que preferem 0 liso, sem valor para os humanos, a outo,valioso para os humanos, mos- tra que a mesma coisa pode ser a0 mesmo tempo valorizada e rejeitada plas mesmas qualidades. Compreende-se, muitas veres, que essa observages acarretam (1) que as opasigBes em questio sioirreais, porque os opostos sé0 ou ilusérios ou, naverdade, idénticos; ou (2) que esses opastossio meramente relativosa um onto de vista ou a um context. 148 Paosonoras na Losora Gneca (A) Aleiuea segundo a qual os oposts so ie io enconta suport slgum nas palaveas de Herel. Quando ee alega que noite e dia “fo un” (B57), ele no quer diner que io identi, antes, como BG? dea dar, que ‘so um por serem 0 mesmo subsuato em diferentes exados.” De ito, como sever seg 0 pensamento de Herllio peessupte tanto a reaidade como 4 oposgio real ds opostos. (B) A leicura segundo a qual os opostos so sempre relive &igual- mente incapza de dar conta do peso tebrico que Herd quer, em itima andlise, dar aos opostos.F verdade que alguns exemplos mostram como Hericlito explora fendmenos explicados de modo natura pla telaividade: as diferenesprefeincias de mulase seres huranos, ow as de vaca, parcos, vere macacos (B4, 13, 37, 82) em comparagio com as dos sere humanos. © mesmo no que dix respeito i salde €& doenga e asim por diane: basta spontara rarvidade de nosas apreciagées do que €agradivel ebom, Uma Ieitara pode ainda relatviar outros exemplos: fato dea estrada ser subid ou descida € relative 3 dzegio da viagems; 0 fo de o ria tet o mestna 04 Alfrence elatvo a ser 0 mesmo ri considerado como um rio uno daico ‘ou como uma massa de agus, ‘0 que estd aqui em questio & se Herdclito quer ou nio distinguic a ‘maneira como os opostos séo percebidos da mancira como eles tealmen- fe sfo, Seu inceresse por estruturas latentes, suas objegdes aos hbitos mentais do vulgo ¢ falta de inteligencia destes sugerem que a distingio importante para ele, Ainda um comentirio “em linguagem comutn” é relevance aqui: (© mar: uaa mais pura e a mais pola, pocivele vital parn os pies fo- potivelletal para os humanos (B61). * quolmenie Avistiles (epics VS 1596303], que ofarece “bom & mau x0 © ‘mexmo” como tse de Herc, interpreta que sev sigicedo 6 que © mesma coo & ‘20 mesma tempo bow a Hescinm |149 Aqui, 0s eftitos manifestos da dgua do mar sio relativos a quem bebe. Poxém, Heréclto infer explicitamente desse fato que 0 mar é, simulcanea- mente ¢ sem qualifcasao, tanto “o mais puro” como “o mais poluido”. Iso ‘44 sustento a uma Ketura em que as relatividades observiveis da “percepgio" «di “aaliaglo”sio usadas por Hericlito como evidéneia de uma co- presen ‘92 nda relatio dos opostos." Ainda falta compreender o que isso quer dizer «se isso no colapsa em autocontradigs A seguir « generalizagio, Ao listar exemplos do cotidiano, como vi- mcs, Herdclito chama a atenglo pata o padrio da unidade-nos-opostos. ‘Um sibio poderia deixar as coisas assim, legando 3 audiéncia as conclusdes Hexéclto cumpre com o que estabelecera para si préprio com scu apelo 4 forga da razio: oferece uma posigio explicita, em cermos gras, do que julga ser essencial no padtio observado: les no entender como o divergente concosda consigo mesmo: mma ura que se volta soe i mesma [palintrepes baronial como do aco da lita (BSI) Acevidéncia coligida aré agora sugere ers teses (1) A wnidade mais fundamental que os opostos. A assergio progra- iatica, em conexio com 0 légos ff: p. 143), de que “tudo é um” (B50) jd sugere que Herdclito likima do padrio como harmondeou “estrutura uniicada ¢ 20 apresentar © arco ca lira como exemplos cotidianos dessa estrutura, Herdclito foca a renta ambigdes monistas. Ao propor a descrigo atergio sobre a unidade subjacente e 0 modo como esta incorpora e ma- nifesta 0s opostos. Sobre 8102, ue, 9 goruno, 6 relevant, nota 29, "© Overbo hamézein jst” lpia um ojste mtvomente proposal de camponsatas som vit a produzr uno vnidode. © substantvo harmenle, derivado deste verbo, eno © resultado de um proces, Tom fombim um satido musical apactic, que .rovayelmente ex om jogo om BSI. No deve sr kadvide como “harmonia” fas associozdes so equivocades © sentido musical 6 diferent) 150. Pmnuonos0s ma Puosora Gasca (2) Os opostes séo carateritica enencial da unidade. De qualquet ma- ncira que 05 opostos estejam presentes na unidade, 0 que importa é que a prevenga deles faz parte da esstncia da unidade. A unidade no poderia set ‘© que & sem cles. Tanto a palavra harmanfe como 0 arco ¢ a lira apontam para a nogio de algo constitutdo por uma unidade fimcional. O funcio- namento demanda que essa unidade “se volte sobre si mesma” de algum snodo, Esse voltarse sobre si mesmo e, portanto, 0s opostos manifestos esse voltarse sobre si mesmo caracterfsticas essenciais (no caso do «arco, esse voltar-se sobre si mesmo reside no movimento das partes, tanta relativas uma & outra como a seus movimentos prévios quanda arco é usados no caso da lira, esse voltar-se sobre si mesmo pode ser 0 da corda que vibra, os agudos ¢ graves da melodia ou ambos). 8) A manifesado dos opests envolve wm proceso em gue a unidade de- sempena sua fincio esencial. Iso vale para os exemplos do arco e da lira. Em geral, as expressdes “divergente” ¢ “voltar-se sobre si mesmo” implicam a0 menos o movimento," 20 passo que harmonie sugere uma telologiaem- brutida (ef a nora 13), ‘Vatias objegbes poder ser feitasa tal leitura. Em primeiro lugas deve-se «admitir que os sentidos em que a unidade é “mais fundamental” do que os ‘posts €os opostos so “essencais" unidade permanecem indeterminados. Hericlito no dispoe de um aparato e de um vocabulirio lgico prontos ide de Algo como as nogdes de exénca ¢ prioridade ontoligica, respondendo a essa necessidade ao fornecer (a) exemplos cotidianos do que quetia dizer ¢ (b) palavtasextraidas 20 vocabulitio comum, embora transfiguradas em termos séenicos pelo uso que faz delas. O intérprete de Hericlto deve tentar ingerir, no mximo grau possivel a partir das palavras remanescentes, as intengBes do pensador, cornando-as compreensiveis em terminologia moderna, sem impor & interpretagao pressupostos problemas ausentes do pensamento de Herictio, de amtemio, No tipo de leituea aqui proposta, cle entreve a neces "* Avariants paints (‘curvada sobre si mesma" implies ue lease eco, 80 un Proceso dndmic, no carne de concepeo heacliica do mundo, mas & menos bem ‘tested, olm de manos afinada com a evdncl ot 151 Hexic Em seguida a objegio de indeterminacio, temos a objegio de inco- ertacia ou autocontradigéo. Como os opostos podem ser caractersticas cessenciais da unidade sem estar nela co-presentes de modo aurocontra~ divério? Para voltar 20 exemplo da 4gua do mar: dizer que a0 mesmo tempo o mar é “o que hi de mais puro” e “o que ha de mais polutdo” é cortradizer-se a si mesmo, visto que opostos genufnos so mutuamente excludentes. Com base nisso, Aviseteles (Mer, 1V.7 1012424-26) conclui que Hericlito suspende 0 Principio de Nao-Contradisio, colapsando, desarte, em incoeréncia. A objesio aristoxéica & central. Uma maneira de responder a cla € mostrada pela sentenga a respeito da dgua do mar, que deixa isto, 20 menos, claro: que Hericlito no pretende dizer que a presenga da puteza ignfique que 0 mar seja puro em seus efeitos manifestos para todos os animais por todo tempo. Nem que a presenga da poluicio signifique que o mar seja poluido em seus efeitos manifestos para todos os animais por todo o tempo. F, pois, necessirio distinguir entre a presenea dos ‘opostos em uma unidade e a manifestagdo daqueles nesta. Fomos pre- parados para uma distingio pela observasio acerea da importincia da cstrutura latente, [A presenga de opostos em uma unidade é, portanto, tomada de emprés- timo & terminologia aistodlica, uma questio de potencalidade, Pertence & cesséncia da dgua do mar, por exemplo, ter tanto a poténeia de ser vital como a poténcia de sr letal. Assim, o ser de uma coisa pode requerer em sia coe- xisncia de potencialidades diamecralmente opostas, uma “ambivaléncia da essinca’ Esse raciocinio oferece uma solugio para o debate entre monismo © pluralismo, a saber, que a unidade-nos-opostos mostra que a dicoromia rio € exaustiva. Que isso era parte do pensamento de Hericlivo é confi mado por uma passagem-chave em Platio (Soph. 242d7-c4):, (Herfcito ¢ Empédocles) percheram que & mas seguro conjgar (monismo « pluralism] e dizer que "e que é” € um ¢ muitos, sendo susentade pela inimizade e pla amizade, pois “divergent & sempre convergence” [dz Hers- clio), mas [Empédocies] relasa a demands de que assim deva sr ‘Se Hetéclizo pensava mesmo desse modo, esperamos que ele diga algo 44 mais a respeito da maneira como as potencialidades se manifestam. O pponto (3) da presente interpretagao defende que isso ¢ feito por intermédio de um processo que se distende no tempo. Pode-se objetar que muitas das dobservagdes de jacz cotidiano que apresenta no dizem respeito a nenhum procesto no tempo, embora os opostos ainda assim se manifestem, Por cexemplo, podemos ver de uma sé visada que uma s6 estrada seja a0 mes- mo tempo subida e descida, Apesar disso, nem sua “subididade” nem sua “ 4038 misurar com 0 incense reccber 0 nome de cada um os cero (B67). Aqui, Hericlito corsige a errénca concepsio de Hesfodo (B57). Dia ¢ noite sio “um”, aio duas coisas separadas. A analogia do fogo do altar, centro do processo rieual, em que diferentes tipos de incenso sio sucessivamente qusimados, mostra que © nome comum das coisas € enganador. Ao sen- tiro cheiro da fursaga, os circunstantes dizem, por exerplo, “€ olbano”. Devetiam, antes, dizer “éfogo misturado com oltbano". De igual man deserseia flay, stricto sensu, nfo em “dia” e “noite”, mas em “deusem estado dliueno” e “deus em estado nosurno” (0s opostos “guerra-par” e “saciedade- ome” referem-se, provavelmente, a cilos césmicos mais longos). Dada a im- portincia que Herdelico atribui 3 linguagem, néo surpreende que cle julgue ‘0s mods comuns de falar earentes de reforma, ‘Mas quem, ou 0 que, esse “deus” (thos)? Como implica a palavra, algo vivo (Gua atvidade ¢ o fogo sempre vive), inteligente, com propésitos © no 156 Pmennos os Paosor Gren ‘controle: “a relimpago a tudo governa" (B64). O testemunho de Plato e Aris- ‘t6teles (citado na sego 4.1) aponta na mesma dires0, A inttodusio de um ser vivo ineligente como unidadelatenteadiciona urn grata mais de complexida- de, Leva-se agora em consideragio a teria a respeito da alma em Hetéelto. AVTRORIA A RESPEITO DA ALMA Hericlto opera com uma concepgio nada tradicional de alma (psd) Fm Homero, a alma néo tem importincia durante a vida, Ela abandona o corpo apés a morte, carregando consigo © que resta da individuslidade de tuma pessoa para uma existéncia sombria no Hades. Para Hericito, €clato que a alma é, durante a vida, a portadora da identidade pessoal e do carter cde um individuo, bem como o centro organizadot da inteligénciae da ago, Eo que uma pessoa realmente & A ccoria a respito da alma € a toria a tes- peito da natureza humana, Nio surpreende que a alma seja identificada como a unidade subja- cente em uma complexa estrutura de unidade-nos-opostos. Assim, cla deve smanifestar-se em processor: presumivelmente, no de viver ¢, no processo contririo, o de motter. Dever existirconstituints fisicos como fases desses processos, comrespondences terra, 2 gua ete. Devem ainda existir subpro- ‘cesios, correspondentes as das dimensées fisicas, quente-fi ‘A cvidéncia confirma algumnas dessas tess: e seco-timido, ‘Seco brio diusmo alma em seu edo mais sbio melhor (BL8) E morce para a alas tornar-setimidas (877)22 A ditnensio seco-imido diz respeito & incligéncia ¢ a seu oposto: a fata de discernimento¢ conseiéacia de um homem dori se deve 20 fato que “sua alma esté timida’ (B117). A habilidade de agir de modo efeti- 2% Sobre ola, segunde Herel: Kk [248]; Nussbaum [256]; Kahn [292] 241-260; Robb [259]; Hussey (247); Schofield [261] Lot, nese volume, cop. 12. Verses alenativas (836, 76) desa abservsae intgram a aia @ una vequéncia do rmudango feos, mos esto poreco una reconsiuséo ler, de erp exoicizonte, Heciro 157 ‘vo esti ligada & secura nessa observagio, ¢ “a alma em seu estado melhor (ariae)”sugere uma alma em ago (caso ari seja compreendida segundo suas associagbes tradicionais de exceléncia masculina ativa). Jé no que diz respeito & dimensio quente-tio das alas, a propria palavra poybbé sugere algo nio-quente (0 termo tem relagio com o verbo prjthein, “resfriae”, “respirar"). Além disso, um “seco brilho diurno” € presumivelmente mais fuminoso quando nem quente nem frio. Para confirmar este ponto, 0 calot Eassociado a uma qualidade ruins Mais do que o fog, ¢ a arogincia qu pei er dba (B43), “Morter 0 processo natural oposto a estar vivo. A palavradhatos (mor te) refere-se mais amtde nfo ao estar morto, mas ao processo ou evento de morte: Por esa rio, Heréclto pode ide do’, Para uma alma, isso significa um funcionamento cada vex piat no que diz respcito & mente ¢ & capacidade de agio. Mas no hé um estado perma- nente de morte: estar morto € apenas uma fase momentines em um ponto cexremo do cielo sara morte to “wornar-se timi- -E0 mexmo que eel presente come vivo e emo moro, em vga e dormindo, jover evelho, pois exes por mudanga deesado romnam-seaqueles,aquees, pot smudanga de estado, es (B88). Esse “estar vivo” e“morrer”alemado das almas pode correspond ape- nas em parte ao estar vivo € morrer em sentido comum (o ciclo secunditio « coodne nod bem com 0 Yatomento dos epastos por Harcli (cp. 146152), 2 A wadvsae “dams” & convencional; 0 jogo de tobuleio er quate (peso) & mals ptéximo do goméo. 1 124 [tobe o intrdependéncia de ordam em grande escola « cxos em pequena ‘escola pode sr rlovarie aqui 164 Pandao10s on Frosona Gass getida pelas mengdes a “diregio” ¢ plano, Juntamente a esses, Hericlito se pronuncia de modo criptico acerca do que é0 “bio”: ‘Una s cols ¢ sbi, habil em seu plano, que drige codas as coisas em rudo (Ban. De todos os discatsos que ouv, no howe um que resonhecesve que 9 que & stbio se ditingue de tudo © mais (8108). O sinicosibio quer endo quer ser chamado pelo nome Zé (B32). O que é sibio (2d phin),adjetivo neutro usado como substantvo, pode ser tomado abstratamente como “a sabedoria” ou, coneretamente, como “a (nica) coisa sibia’. A palavra syphds nfo é ness época, aplicada de modo cexclusivamente intelectual, ances sendo usada para designar todo aquele com alguma habilidade especializada. Em B41, 0 aspecto de habilidade (know- ‘ow, “saber como") é proeminente, na arte de dirgir 0 cosmos € no verbo ephtathai entender”, “ser expert em”). O aspecto intelectual ou esratégico (saber que/por que) aparece na mengio a um “plano” ou “conhecimento parcial” (dm). A fungao do que € sibio €entendero plano eésmico e fazer com que ele se pons em agi No se pode identificar diretamente © que é sibio com 0 deus edsmi- co, Nio €simplesmente o mesmo que Zé (forma de Ze, assinalando sua stimologia a parti de zén, “viver’). “distinto de cudo 0 mais” e Ginico. Consiste, a0 mesmo tempo, em entendimento, saber como € saber que, ¢ aparentemente pode seradquitido até mesmo por mentes humanas Devemos, entio, tomar o que ¢ sibio como algo que se situa acima além tanto dos opostos césmicos como da unidade eésmica, embora se imanifeste tanto no deus edsmico como nas almas individuais. "Ter enter dimento € caracterstico de um deus” ~ mas no € parte de sua natureza, A habilidade técnica tem de ser aprendida e mantida pela e na prtica, sendo anterior 20 téenico. Concuusio: 0 rassapo 8 0 FUTURO pe Hericurro ‘As respostas a Herdclito sempre foram mistas. Enquanio pioneiro 6 loséfic, eujos insights superam seu equipamento técnica, softe o destino Hexicino 165 previsfvel de ser incompreendido. A perda de sea livro no fim do mundo antigo causa um longo eclipse, o qual é agravado pelo longo predominio dos textos ¢ pressupostos platonicos ¢ atistotéicos na histria da filosofia antiga (tanto Platio como Aristéceles deviam mais a Heréclito do que assumiam; ambos tratavam-no com ares superiors). Contrariamente a esses obsticulos, a canonizagio de Hericlito pelos estbicos ¢ alguns dos primeiros escritores crisdios ajuda bem pouco.”? Garanta a sobrevivéncia de informagées precio- ss, mas mergulha-as em obscuridade, acrescentando uma camada extra de incompreensio. ‘A revivesctncia de uma apreciagio mais fel se ressente de uma compre- ensio histdrica eflosdfica melhorada. Esta tem seu inicio na Alemanha, no fim do século XVIE: Schleiermacher & o pai (e Hegel, 0 av6) dos estudos ‘modernos sobre Herielito.* Desde entio, tem havido progresso real, ainda que intermitente, no ffont erudito, Além disso, Heréclito se torna ampla~ mente conhecido e apreciado, ainda que, como sempre, sua influéneia seja exquiva. Quais sio os prospectos para Heréclivo no terceito milénio? Muito do trabalho bisico ainda esté por ser feito. Por exemplo, o estudo da recepgi0 de Heréclito na antighidade taria até agora conheceu avangos apenas limi- tados Acima de tudo, eareve-se ainda da apicagio sistemtica de conheci- mento textual lingiistico, literéio e doxogrifico especalizado aos fragmen- tose testemunhos.” ® “Quer vive segundo © Légos 6 cso, muto emborasejo considerado atu, como > foram, ente 0s gros, Sérotes, Hetdeio @ outos come eles” [S80 lustno Mle, Apologia 46.3). 2 Schliermocher [260]; Hoge [22] cl. 1,279: no he proposiedo de Herelio que 92 do adofe em mina Légice). So ombém sustncios as conibugSessubseqientes de Jakob Bernays (1848-1854 = Bernays [257] 1-108) © ¢ monogrofia de 1858 de Feadinand assalle (esol [249 > nda n0 hs, por exemple, neshum esbdo cbrongene do elope ante Hesclto @ oF saisices (ef, pork, Lang [251]; Dleher [230] 177-200). Sabre Herdet no sertor ttiso Hipéo (imporionie forte de eso), cf, em espacial, Mansfeld [51] Millar [53} fexenha,« couegdo, de Osborn (52) > Sobre os novas vidénias aduzides pelo papiro descobero em Derven em 1962, Sider [262] ¢ Teantanoglou (263), que contin a mthor letra disponvel da porte relevam do ted. Fnosoe Gara ‘Ainda que os estudos eruditos em sentido estrito avancem, permane- ‘com questoes perenes de imerpretagio. Herddito ¢ reconhecidamente, uma mente filosoficamente ativa, Serd sempre incompreendido por aquelessurdos 20 chamado da filosofia, 20 passo que os fildsofos sempre queterio ancxé-lo.a suas preocupagées particulates, (© presente capitulo pretendeu (1) levilo a serio enquanto filsofo pio- neito ¢ (2) eeatar a cada parte de seu pensamento como parte de um todo, ndo isoladamente (0 intéeprete rem de reconstruir Heréclito como uma tunidade-nos-opostos heracitica, com o sistemitico € 0 aporético come as pectos opostos). Una terceira tarefa, que consiste em situé-lo no contexto intelectual de seu préiprio tempo, é por demais especializada para aqui nos aplicarmos a ela, embora sea requeira em qualquer caracterzasio completa de Herédlito.* Herdclito é figura de permanente interesse para filésofos por ser um pionciso dos pensamentos filoséfio ¢ cientifice ¢ dos expedientes légicos E por tris do que cle verdadeitamente exprime parecem encontra-se idéias {que determinam seu pensamento, entre as quais: a realidade deve ser algo _que pode ser vivido e compreendido por dentro; ea estrututa da inguagem a estrutura do pensamento ¢, portanto, da realidade que 0 pensamento descreve. Quer Hericlito soja capaz de formular essas idéias nesses termos Eincerto, O que o tom e a macstria de sua obra fragmentéria evidenciam pata além de qualquer divida & que ele foi, como o disse Ryle, um fldsofo 1% Es content, elim de Homer, Heiodo @ 0: filésofos nous jos, bam pode Indie © antigo Oriente Péxino,« dase do pod do exo © 0s pinérdios do xootrism. = Estoy em débio pora com todos aquslas que oo longo dos anos me ojudoram evierder Hoc, em partislar Mons Adomenas, Romer Dicher » David Wiggins.

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