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| Recitarivo Trianon: 05 BRUTOS TANBEM ANAM... Quando falamos do Teatro de Bringuedo, vimos que as eamadas eclitee a erftica de entdoatributa a ambos, teatro pablicobrasileiros, aqualidades de “chalice” e “piepuismo". Daas eram as linkas bisicas de espetéculo: a revista € 0 “teatro de boulevard, também chamado de “GEnero “Trianon”, conforme fe Abreu registra Bric Convencion eae as chamaro ner de Testo lee, sem pointes, feo excisivamente pra rr, de “eécx0 ‘Ton’. Orundo de meses da esrpiatasa tsa como Caio de Sou, Gass Tojo, Armando Gong, Hekor Mocesto e Adie Faria Resa que seam grandes sucesice no amigo “Teatro Trianon” (uc se egua onde jes aca ‘0"Cineae Tren’) com Chistian de Sousa, Leopoldo Fes depois Procipio Fane, ese gto peptone 1s, tomando © nome do Testo © emigrando depois pa a ncn, dnde esaiizou-se mo infecto pore que 0 St , Vivalda Leiber amouem teat como pone "Riva © aie aluga por ym desproptsito [NA verdad, o "Genero Trianon” eas revistas eram basicamente ai formas predominantes do fazer teatral carioca. Estabelecidas em ‘quantas casas. de espetéeulo houvesse disponiveis, as eompanhias partiah para temporadas em directo de outros Estados, levando na bagagem seus repertérios ¢ “esteelas” (note-se que o Teatro Rival somente se inaugura em 1933), Na década de 30, assiste-se 3 ur notivel expansio empresarial a gue se costuma chamar de “época de ure da Praga Tiradentes”.E oauge do sucesso de estrelas como Desoy Gongalves, Alda Garrido © Cazarré, cujo trabalho se pauta pela improvisagao, fazendo do texto um roteiro bésico. ‘Tals improvisos 442 vostdeue 00 renga seascito dependom da ava paipagto da plata ~ o vedadiy Tecuor ed eapacae istiic do alo par sprove estnuio. lo na rvs, No changdo tea declanade 6 che tis espcido, port no otslnents ive dos “caer” inven pel ot, thin um bso Nos dois gnros, expels a dora um cram eocad eno Sequnlo Prete asen da neesidte do improvise, imposa 20 sor plo {eat igs, coo cicloseinicow com a pest ero ‘agora com a revista A pecocpagio de mtr vveedade 4s represetsio,comtanemente cota pla misc, ob. oo ara ier as cosas por conta pelea, e com taka libertad, que 8s suas simples palavas se sacedem cease, | jes appa am © segundo tipo teria naseido na época da I Grande Guerra, fruto da onda de nacionalismo. Diz ainda Procéipio: Inventouse 0 chamado tuto regional, allohsvado com & nossa nazureza nessa prtonaide, giado novo ede news emogtes ara piblco,[.] Desenamaam se auores de ‘mercimerta, 0 desenvasecomédis de costes 1 Crow. ecamo gue pons [oso exile poloteat maemo, © coninudorIntligente 6 ater, ¢ qb, 20 coneso do engraga de opr, colors com grain good Lembremos que a I Grande Guerra is isoiou da Europa, As ‘companhiss, prineipalmente francesas © portuguesas, que antes nos visitavam com fregiéncia, tomavam-se raras, deixando, assim, de influenciar macigamente nossos paleos. Com iss, foi nécessério que ‘noss0s ‘ores cunhassem (cw amadurecessem) modelos peiprios. Assi, ‘io é por simples e ingénuo ufanismo nacionaista que podemos falar hhoje de um modo tipicamence brasileiro de representar, quando nos referimas a esse époce. E Décio comenta, com propriedade: [A aiferenga sia dupa, portano,quatitavae guna 0 ator de opera ede ovis ivena se som alender 1 espisio do papel ou 2 stato posta em cen Ele © ecrvanyo 1eawow: 05 auur0s tannin swan... 443 torus da serena mas em sci do text. O stor do comida, em contaposies, as pela pawns de Pro ‘Spin apezenase conn “ ontiniadorimeligente” 8 ator. ‘Um ueta,o io presers& coeraca da pessongem ¢ a eit de pega” ‘Genes0 Trianon” — guardadas a nados de F tanto a revista quanto © iferengs esrturais ene ambos — sto comumente ch chanchads" Conforme comenta Victor Hugo Adler Pecta”, “A palavra ® cnanchaa’ toma do espanol latino, em ave significa “prea "Fatt claramente cvidenciado 0 tratamento pejoativo dispensado por tics da paca, As vezes, drgese no sentido de apontaricen- Eiosdades condenivels do porto de vista mora; oueas vez, er be falar de um posto “mah gosto” no que diz respeito& ealizago ‘antsticn Criteas& pre, deveros lembrar que a revista € genealo- gleamentefiliada a uma vaio que ni sendo auGctoe, adie, “com Artur Azevedo sua cquipe de parceiros, tragos particulares de fma expresso j& bastante auOnoma em rela a suas mattzes origins. Eo teatro de boulevard i contnade a fit das comédias de costmes, de presen tio expesiva entre n6s desdo Século XIX. Depoimentos de artistas ¢ reportagens jomalisticas da época dto-nos conta de que, dentro da estrutura empresarial vigente no teatro, os autores, que comumente se deilicavam a ambos os géneros de que ofa tratamos’ eram, precipuamente, profissionais. Contra tados com exclusividade por companhias mais estveis ericas (como as de Pro’épio Ferreira e Jaime Costa), ou distribuindo ao mesmo teripo dois ou tr originais a diferentes empresas (como fazia Gastio ‘Tojeir),o teatep era, para estes autores atividade destinada a garantit ‘© ganharpio, E esta garantia est intimamente relacionada, no mundo capitalist, & necessidade de agradar a um piblico consumidor jf habituado a um padrio estético que difcilmemte podera ser rompido. A liberdade de eriagd & eliminada em nome do atendimento a madllos prefixados, ao mesmo tempo em que, inscrindo-se 0 artista ‘na empresa teatral emo o operirio numa linha de montagem, 0 tempo de criago da obra passa também a abedecer aos limites impostos pela produgio, no process de extragio de mais-vaia 444 wisronis 09 rasan seesicea A propésito, observemos 0 que nos diz Daniel Rocha sobre a volocidade de criagio de Gastio Tojeito: “Toms. comm Gano esr csrevendy ap mesmo tmpo para duss e 185 compas. Nzo hi tempo pura que se ‘que se the conseue un aa, exe ei logo em ens, waves depois ener as del pra ble oes die © ras depres possvel ™ ‘Vemos que a produyio capitalist brasilsira apesar de, a esta altura (as primeiras décadas do Século XX), no haver aleangado um alto grav de desenvolvimento, j4 era capa de integrar a produgig artista em seu universo, ‘As empresas teatrais latavam contra a propria debilidade para sobreviver, sendo freqlente a retrada de pegas de cartaz uma so- ‘mana apés a estitia, E talvez esta mesma fragilidade sirva para ex- plicar 0 ritmo industrial de produgio, na tentativa de concorréncia ‘com empresas mais fortes economicamente, como no caso das fimas de Paschoal Segreto, Viggiani e outeas (a a década de 20) ¢ as de Proc6pia Ferreira, Jaime Costa e Duleina/Odilon (na décads de 30). Sejacome for, é necessrio assinalaro carder de arte de massas ‘que marcou a produsgo cultural da chamada "Geraci Trianon”. Para assegurar seu lugar no mercado de trabalho, o artista abriu mio de sua liberdade de criagdo na busca de corresponder &s expectativas de Iucro das empresas, uniformizando sia produto para nivelé-laageilo, {que se considerava o “gosto do piblico”. ‘A fixagdo deste gosto € possivel pela no percepedo do que’ no dizer de Marx, caracteriza a relagio da produgio de'arte com 0 cconsumidor a : : objeto ats — como qualquer eu potato ~ cs um bio apo para comprnder a ane © gor a belt. A ‘rodugio, porate, nBo apenas praia um objeto para & fujco, mas tab um sue para 0 objeto. ‘Ao pretender aferir 0 gosto do plblico meramente por sue afluéneia a0 teatro, empresiries e artistas da "Geragio Trianon” ope- eceva vein: 05 stures tana aman... 445 ram na retaguarda desse pablico, como se» gosta fosse umn “ja dado” efinido © a arte precisasse aguardar ua modificagao e um apri- moramento do piblico para mostrar-se em plenitude. No se pode corer riscos de bilhcteria, vale dizer, ao esperar mudangas espontineas ‘no pablo, nega-se& arte scu duplo carstr transformador: desi mesma © de seus fruidores, Joracy Camargo, autor pertencente&“Geragtio Trianon”, procura Justficar seu modo de escrever condescendente para eom o piiblico: {1 os autores gue vivem do eso ni € perme escrever esas que dio pret 0s emprestnie, Daf «neces 4 egultrar nivel dos seu rabalhs cum evel mental do piblico (Gita nosso” Dentro desta tics, o que se observa é uma atitude conservadora ‘Por parte tanto do pablico quanto do material artistico a ele apresentado, Procuremos compreender as relagbes de paleo e platéia dentro do momento que pretendemas focalizar para idemtificar como se deram ‘es ruptura. A atitude conservadora que apontamos acima compreende- se pela busea de um acordo entre 0s terros do bindmio palco/platéia, capaz de crstalizar uma linguagem, Deste modo, a linha evelutiva da revista edo “Génevo Trianon” faz-se sem rupturas profundas, mas com ‘a assimilagio de elementos que no ferem a estrutura interna, © acordo de que falamos corresponde, em esséncia, a0 que Bemard Dort descreve, referindo-se a0 teatro europeu anterior a0 audvento d naturatismo e, com ele, 0 conceito de encenacio tal como ‘o-compreendemos hoje: ‘evden qu ates ¢ pain do cocenader, o espescul ‘oun mero pred do acto Est ean po eet dem, Est ordem presi representa ent, en a polo "exo. A forma existe arteriomeme anal, Cala re. senglp no € sor30 wna manifest, wma enero, ais prea poste, desta fra qe conti ems meson todo 0 sede despre” Para um espeticulo padronizado, um pablico homogéneo. O ‘aciocinio sexé' melhor compreendido se os termos forem invertidos: 4 46 nisront 00 raneo sesteciee para um piblico que o empresério pretende manter homogéaco, um espeticulofacilmenteassimilive, tanto no aspecto de seu contd «quanto nos eursos usados puaexprin-l, No surpreende que Avery Moreyra (enha defendido um “teatro para a elie", na esperanga de realizar um produto artistico live d6 mercado Verifca-se uma terpiversagio nos produtores do Trianon: a produgio de ate aparece como fro de exigfacias do consumo, undo, na reaidade, 0 consumo € que se encontradirigido ples ex a produgio. Aparentemente, 0 piblico prefria trivaidades. Todavia, na verdad, essa prefrénsia Ie era continuamenteinduzia pla prépia produ antstica, [io € 8 toa que se observa no teat da “Geragio Trianon”, ‘convergéncia de todos os elementos cénicos em direso 8 “estela” do espeticulo:tinhaela amisso de uniformizaraspreferéncias do pblico, prevenindo 0 rsco de que outos elementos as difeenciassem. Desta ‘mancira, mais importava ao piblio a “estrela” do que 0 ator ou 0 tema, por exemplo, Obviaimente, no podemes chamar de popularaprodusioaristica do Trianon, por mais que as estatscas de afluéncia de pablico se revelem elevadas. Isto atsta, sim, sua popularidade. ‘A chamada dramaturgia Trianon pretendeureformulare no fez mais do que manterse na linha de nosso velho tao de costumes ‘Tratase, em especial, de autores que faiam uma erties da sparéncia como ponto de partida das decisis humans ng catinho das desejadas ‘mudangas na situagao das personagens: era preciso parecer de bom tom para ser acito fa altaroda: parece reo para sex consderado digno ete . ee : 0s temas detemminavam a defese de uma moral Gonservador, Sendo aulterio (ou su aparéncia) wm iho dileto da tematic dessa sera, que primava pea protero & fama e ao sta gu, sem deixar de reprodazirfatos histéricos. Qulquersemelhanga com Alencar ou Macedo nao seré mera coincidéacia de pontos de vista ideoldgico. Havia uma busea para o exerecio de um “teatro de isis", abordagem pretensamente filosstca, como faz Joracy Camargo ao pensamento srcirivo ranon: os euros ranata swan... 447 rmarrista. Ja 0 teatro de Oduwaldo Vianna traz. acentuada herdadas do anarquismo em pegas como Amor eO Vendedor de iusies Joracy Comargo Joracy Camargo era considerado um autor de “teatro de idéias” Isto significava que ele escrevia pogas de contetida filossfico. Era filos6tico o texto que apresentasse discussio em torno de um tenia e no que descrevessesituag6es ou circunstincias. Também estévamos na €poca em que © paradoxo era a grande descoberta da inteligéncia ‘eos didlogos se construiam em tomo de ditos falaciosos; ito se opunha ‘aos grandes discursos antigo, verdadeiros “bifes", como se passou satirizé-os. inhamos safdo dos festicos cenérios criticados por Artur Azevedo e viviamos os famosos “gabinetes", que passavam de uma esa a outra, utilizando sempre 0 adestramento dos carpintciros teatrais. Os fatos socials, o advltério, a miséria, a pobreza entravam para a cena quase sempre pelo viés mal interpretado das obras de estudiosos e pensadores como Freud e Marx. Nio se pode esquecer © ridio, especialmente 0 ridio-teatro, mestre em conferéncias e dif logos sobre a vida e os costumes. Deus the pague se consttsi sobre um diseurso do cinismo em {que o dislogo tem apenas a fungf0 de eviter © mondlogo (cu, melhor, conferéncia) do Mendigo. Se reunirmos as falas do Mendigo, teremos rnada menos que urpa seqiércia de mal realizados paradoxos ¢ {autologiis. Vejamos uma série, do primsiro ato MENDIGO — ... Podir & um diseito universaimente reco + beside. DS przer quem 2 pode, no casa nye O Sear Jf repurou que negate & ena 9 mend? Porque S47 Porc © mento & 0 Aomem que desis de hte 1 Bios prviam muito sis dene do que ds dle. Onmendgo neste moan. ua oacesca Sock Quando cles dizer: "Quem dan pabresermpresta a Devs” ents ‘ue nfo dio aos yobres, nt emprestim a Des. Nip ha sererondads na ert: bts, Os prides lo, par 448 aisioun 90 vatta aasucite liviar seus patos s softer, pa mercer 3 raga de Deus, Além disso, € com a miséia de um aigul qu ees iam a revo dot mises. = Le} Nob grtiso. $6 agradece a Deus quem tem medo fe poder a feliedade. Se os homens teste extra de fue eram sempre eles, Deus detain de exist, porque existe no pemsaneto ds iaflzs e dos temeroos ta Inflicdae. Quem desma pensa que est comprando a felicidad, of mendigoe, prt ls, 40 ois vetdedees esse bem supem. Paremos por af, Entre estas falas de Mendigo, as intervengées «de Outro nfo chegam a cinco Iithas ¢sio come um apoioe umestinulo para que Mendigo desenvolva seu discurso, Aligs, em toda a pega a ‘nica fala de Outro que ultrapassa trés linhas € aquela na qual ele repete 0s algarismos de uma multiplicagio. Por eutro lado, os flash- ‘backs interrompem a narrativa como se fossem slydes.Os dislogos em que € narrado 0 inicio da vida do Mendigo sBo.répidos e curt, mas de ingenwidade capaz de fazer rt uma crianga. A pretensio patece ser ade fazer descansaroespectador comuma espécie de entremeio irbnico fem que @ mulher de um opersrio quer saber de um capitalista s@ ele come; se tem dores de eabera; se tem rins ¢ se eles doem:; além da ‘maneira com que entrega os segredos Ga inveneo do marido e de como cenlouguece e desaparece da cena para que © Mendigo volte 20 sea ni alto. Hi anda dois jlash-baéks: para discutjr como a muller do mendigo € dominada por ele e para, coo1‘eerta ironia de sub- literate, nartar fatos da cvilizagio grega. Joracy retoma a figura 8o rmendigo em Maria Cachucha, onde a personagem-tiulo'é uma se- hora riea decafda a quem um miliondrio usa para rememorar o”po- rfodo em que se amavam ¢ a disputa éom outro mendigo também inteligente como Cachucha. ‘Agora vejamos: 0 mendigo de Deus the pague marca pontos de simpatiae inteligéncia por ser rico, ler Marx; © mendigo pobre sequer| possui um discurso proprio: a8 suas falas so apenas suporte da expresso do rico; a espritosidade de Cachucha repausa na a origem ca, isto €: 6 & apreciada por isso. Veja-se que Francisco de Assis, ‘mesmo desenvolvendo um grande esforgo para demonstrat conhe- — secrarvg raon: 0s sures tanatw ana... 449) cimentos de medicina, no tem vez na disputa com o-velho, Nos dois textos predomina 0 discurso do cinismo. Vence quem € mais cinico. ‘Mas hi dois Exitos nos textos: primeito, em Deus the pague, o de sera pega brasileira que teve no Brasil e no exterior © maior pablico; © segundo, comum aos dois, o grande nlimeto de montagens, Tais recordes, como compreender? Ha um grande niimero de tentativas de explicagdo, mas todas elas querem que certo ineditismo seja a ‘have do problema; e no final do exame afirma-se “ser a pega im ‘mas de agrado popular", Acaba-se por construir mais um paradoxo. Mania de grandeza é um texto de critica social que desereve 8 Vida dos subtrbios e a desconcertante situagao dos que enriquecem ‘e pretendem ingressarnaalt-roda. Duas Famili ficam nesta situago: ‘enriquecem e desejam sair do subsirbio para viver num palacete em Copacabana. Evidentemente, nada daré certo; cometerio uma série (que se constituirdo no elemento cémico do texto). acabario desistindo, Pelo menos aqui ninguém € ou pretende ser intelectual... O texto volta & sétia de costumes: os pobres se enti- ‘quecem através da loteria, pos est & 0 nico parente rico para grande parte da populagio brasileira; entretanto, a sitira € conduzida de ‘maneira que &s duas familias acontoco-de se encontrarem, casval- mente ricas. A primeira ocorre vie & casa da outra vangloriar-se da sua presenie sfuacSo e depois encontram-se vivendo ambas a mesma vida fingida. De to caricato,o"discurso no pode deixar de ser rie taxa (© resultado foi um sorteio no cara-ou-coroa, em que ganhou o Coronel Lula. Com recefo de perder milagre, © Corone! Bimbim convoce dois de seus bandoleiros para roubar a imagem de Nossa Senhora do Cotone! Lula. Como Zefa, dona do tinico botequim, & amante do tureo e disputadissiia pelos coreneis e pelos bandidos, 0s capangas de Bimbint acabam pedindo © auxitio dela, por tere comegauo 2 sentir “pressbes” da santa 16 que um roubo é havia sido feito, Zefa recomendou o-roubo do Sao José de Bimbir, ficando as ‘duas imagens escondidas em si casa. E que Zefa esté neutra na disputa entre os coronéis, mas pretende defender © povo das manobras deles. Os coronéis se unem para encontrar as imagens e Zefa recebe © apoio do padre, muito embora este se sinta constrangido pelo fato de os santos estarem abrigados na casa de uma prositata, A esta altura, ‘© evento criou uma rebeligo no Tugarejo. Chega © momento de ser revisiada a casa de Zefa, onde se encontea 0 padre. © conlfito j§ chegou a algumas mortes; Padre Gennaro esti Aecidide a convocar a Ciiae 0s governos Federale Estadual; no auge da lata, 0s cotonéis se matam; Zefa abandona o Turco, assim como todos os pretendentes; ¢ os santos so devolvides 20 povo. ATH sasroen 90 vatto aasucine Num outro texto, Amana, se ndo chover, t85 anarquistas ‘combina jogur uma bornba contra rei. © anarqusta autor da bomba, Bonard, & um ex-diplomata muito cerimonioso e educado; o lider, Balabanoff, & um ortodoxo € intransigente defensor dos prineipios tradicionais do anarquismo, que procura, enfitico e grandilogiente, ftisar os bigodes de mancira a nio se parecer com Lenin, Balabanoft foi conquistado por Francesca, conforme ela dird, por uma noces- sidade politica [FRANCESCA — No fl uma roe, fol uma tre, Balaban ‘ego peo de mim, na varsnd, e ose: “Fancsea una ‘oincdénca evident de ntereses soins, eatmelada or ama herded ideais polices, nos acosch 3 fortato mail mas imo. Esper-me mo seu quarto, ome ‘estar dentro de vn minutos, hoa de vero" © texto allo discute o anarquismo nem politica nem filo- soficamente. PropGe uma fabula em que, através da Princesa Maria Eulalia, a aristocracia se apresenta mais sagaz e mais capacitada para 0 exerefcio do poder; os anarquistas slo ridicularizados na sua inabilidade: Balabanoff nfo é um verdadero lider, Bonar no con- sogue fazer funcionar bomba (cla s6 explode muito depois de ter sido atirada pela janela,o que mostra o fiasco que teria sido © atentado, se praticado) e Francesca reve aque para militante. Assim, a proposta agressivardo atesitado acaba nyt final feliz em-que Balalanoff & convidado para bibliotecdrio do rei e Bonard torna-se o feliz namorado da Princesa. © anaéquismo agaba em simples jogo de humor. a Pedro Bloch © Trianon reformula 0 antigo teatro brasileiro de costumes do Séoulo XIX, do ponto de vista do drama e da comédia. No drama, desaparece 0 aspecto trigico tio caro até as coméidias de Alencar © ‘Macedo. Na comédia de Silveira Sampaio reformula-se o sentido rmoralistco, conservadore passadista: note-se que o aspecto moralista se com maior yocagdo para mie do - cc urivo Teen: os euros tannin anan... 475, reveste-se de uma visio da modernidade ea censura € substituida pelo humor. Sampaio € caso Gnico no grupo. Do ponto de vista do “teatro de idéis", a Geraglo Trianon no se aprofundou nos temas filséficos que abordou. Tentou apenas urna Iinterpretagio popularesca, porque simplificadora, de pensadores da rmodemidade, como Marx, Freud, Sartre e mesmo os anarquistas. ‘Quanto a Histéria — especialmente a do Brasil —, excetuando- se textos de cariter pseudodiditicos e panflevios do perfodo getulista, (Viriato Correa, Joracy Camargo e outros), restam os textos de Forari sobre os problemas de filhos de imigrantes de nagaes do Eixo ou regionalism. Quanto ao aspecto da estrutura, hi algumas reformulaeses de cendrios — notadamente em Amor, de Oduwaldo Vianna —, fieando a majoria dos casos presa ao tradicional encontro da comédia musical © a revista, incorporando © luxo das trajes ¢ dos gabinetes No aspecto humoristico, alguns autores alcangaram solugdes rovas, como o jd eitado Silveira Sampaio Outros nao podem ser inseridos na Geragio Trianon porque ela participaram apenas no tempo e no uso de alguns temas. 0 caso e Pedro Bloch, que, numa pest como As Mos de Buriice, apresenta tama visio do teatro de costumes com forte perspectiva do psicolo- sismo; a estrutura raza novidade do didlogo monologado e de contato com a platsia. Texto de grande epercussio, & um dos mais montados no Brasil ¢ ainds preso ao processo moraizador do drama iradicion ‘Dona Xepiaassemelha-se a Maria Cachucha, de Yoracy Camargo, porque os fatosligados &realizago humana sio vistos numa obsessio antasiosa, ago comum as duas personagens. O invento de Eaison, {ilho de Dona Xepa, apesarde fustrado,€ uma continuagho do trabalho do pai e tem sua eriago dentro do processo modemo, assim como as fagantas futebolsticas de Joss, flho do italiano. Os personagens so todos elementos de um jogo de interesses burgueses: Rosélia, Edison « Joss apresemtam-se em busca de ascensio social. Rosélia quer easar- se com um diplemata e para isso esconde a origem humilde ¢ © fato 476 aistéeu oo ram sisicino de ser filha de Xepa; Jos, flho do italiano, no ajuda © pai na pizza. ria para dedicar-se & idéia de se tomar jogador ¢e futebol famoso, {Edison dedica-sea seu invento, sem atentar para o que significa aquela _miquina para o ser humane. O projeto de José nido Ihe traz nenhom, dilema (ele nao tem que deixar do set © que € para tomar-se 6 que ‘deseja ser), enquanto os planos de Rosia e Edison assentam-se sobre © eixo do drama: eles terdo que renegar a vila, a mi, a namorada, (0s amigos. Este € 0 drama de Dona Xepa: ter tentado de todas as formas ajudar os filhos em suas inicinvas ¢ precisar agora abrir mio deles para poder continvar ajudando (ou, pelo menos, ndo atrapalhando). © discurso de Xepa quer atingir a ambigdo capitalist, sem perceber que acaba atingindo a si ca seus filhos. A sua atitude ‘conformista de se satisfazer com 0 que possui s6 surge como critica ap6s verificar 0 prejuizo maior que a invengie do filhe causaria 3 Ihumanidade. A especulagio capitalista do invento a faz. desprezar ‘© avango da eigncia, que, para ela, deve ser sacrifieado em nome dda permanéncia do Homem e da natureza, Enguanto isto, 0 capita- lismo continuaré a explorar novos inventes, uma vez. que a eritica no o atinge XEPA — fae no 0 me ei. O meng ém Vos gre. Voc gut nena mg Vorb pode inven ma sm Ms msn esas me $i Mice fr rng de hsp» Mig de er. Miia defy pr gon de aa Maina dele buen dade Ray Ebaem + dia Coyne e Dani. Mun emt do. Mang Se emerson, Fl ate em me expen, io. Qu te vec cane 9 cut Edson Qu gi ie igi gu oe verze (1 ‘Mas Dona Xeps expressao tempo todo uma petsonagem rida € oridiculo que marca 2 sua maneirade ser. Apesar disto, ela conquista © coragdo do espectalor. E sempre amada e condoida, enquanto 0 italiano Angeto, pai de José, que também é ridfeulo, no vive o mesmo drama. Neste sentido, 0 texto se mantém ao nivel da estrturatemética ‘Trianon, de apenas fir, sem ertiar. Accud0 Heaon: 08 stTOS TAMREN AM a7 XEPA — Vergonia de mim? Que cana! Se a Rodis até sme obrigoo a boar eta eupae chcou Perna a Cala ve nlp me deias men, Rosiia qase fleou deidar — sme! Sera sera no! Sea enka afore amb fo", Meu fo val me leva & Amie. © se, ba ANGELO — Ma come combece “ hisia"? Mi filo — ‘apse? —non maga se no me vee. No darme — capsce? ‘ca plale con 309 pp No sete —eapsee?— let, sea onal, Mio Slo non vergogna dae, NB, Una ‘ec, Sete sO — ele quis "an" cara de un sugte che me hams de cireamsno..io fig. ‘Tio ridiculos quanto bufSes cles séo, que chegam a eriar uma ‘rama ilus6ria, para encobrir a realidade farsesca. A verdadeira farsa, que usa 0 ridieulo como seu texto moralizador. ‘Se Dona Xepa e As Maos de Euridice ainda possuem alguma relagio com a dramaturgia Trianon, nlo se pode dizer 0 mesmo de textos como LSD, O Contrato azul e Soraia Posto 2, entre outos. ‘Autores como Pedro Bloch dever ser estudados dentro do contexto que se instaurou entre a Revolugio de 30 e o Golpe de 64, contexto este que comportou 0 TBC, & Oficina, 0 Arena, ¢ CPC. Outros autores, como Guilherme de Figucitedo, Ariano Suassuna e Hermilo Borba Filho, devem ser veriicados na mesma época, mas com earacterfsticas diversas, porque tentam srarcar uma linha temstica da tradigdo greco- latina instaurada no realizarst das pretenses humana.

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