You are on page 1of 375
pe al 7 ! Chey than (fie Wyloeat 4 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett acrits ples Mabatmas M-e KH. “Tanaris e compas por AT Baer © movimento teoséfico nio tem dogmas. Seu lemaé “no hi regio superior verdad”. Assim, estas Cartas dos Mahatmas no So objetosdeFécega para ninguém. Porém, a importincia do seu contesido parece inegavel no ‘mundo todo para muitosestudan- tes da sabedoria divina, afliados ounnioa insttuigdesMlossificas ou religioss. Por isso, desde a sua publicagioem Londresem dezem= brode 1923, as edges das Cartas dos Mahatmas vém chegando a ‘novos pfses€ idiomas, em quanto surgem novos livroscom estos € pesquisas sobre elas. ‘Ha duas maneiras_principais de leras Cartas. primeira delas €abordaro textoem seu contexto histérioe tentar compreenderas, cireunstinias especificas em que clef escito A segunda maneira Eero texto como se fosse direta- ‘mente drigido a cada um de nés. [Neste caso, aplicamos as nossas vidas tudo 0 que, de algurs modo, far sentido para nés, e deixamos de lado queignoramosdostemas abordados, mareandoe separando as frases cheias de sabedoriae as vverdades universais que aparecem a cada instante no texto, rmisturadasadiscusbes de fatosde caurto prazo do movimento teossfico da década de 1880, Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Volume I Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Escritas pelos Mahatmas M. e K. H. Transcritas e compiladas por A.T. Barker Volume I Em seqiiéncia cronolégica. Editadas por Vicente Hao Chin, Jr. conforme a cronologia estabelecida por George E. Linton ¢ Virginia Hanson no livro Reader’s Guide to the Mahatma Letters. Com notas e comentirios de Virginia Hanson, e incluindo Anexos com outras cartas para A.P. Sinnett e A.O. Hume. ‘Tradugio: Murillo Nunes de Azevedo e Carlos Cardoso Aveline Coordenagio Editorial: Carlos Cardoso Aveline 6 EDITORA TEOSOFICA Brastlia- DF igdes em inglés 1 edigao, Londres, dezembro de 1923 2 edigao, margo de 1926 3tedigio, T.P.H. india, 1962 & edigao (cronolégica), T.P-H., Filipinas, 1993 Edi¢ao em portugues EDITORA TEOSOFICA, Sociedade Civil SGAS — Quadra 603 — Conj. F, s/n 70.200-630 - Brasilia, DF. Tol.: (Oxx61) 322-7843 Fax: (Oxx61) 226-3703 E-mail: st@stb.org.br Home Page: www.stb.org.br/livrar.html Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Escritas pelos Mahatmas M. e K. H. A, Trevor Barker (Comp.) 8.615 digo em dois volumes Brasilia, julho/2001 Volume 1 ISBN 85-85961.67-8 1, Ocultismo 2. Teosofia 3. Discipulado cpp 141 Capa: Fernando Lopes Dingramagio: Reginaldo Alves Aragjo Coordenacao Eaitorial e Notas da Edigio Brasileira: Carlos Cardaso Aveline Sumario do Volume I Prefiicio da Eigiio Cronoldgica... Introdugao a Edigdo Cronolégica Notas Introdutérias. Preficio & Edigao em Lingua Portugue Guia de Leitura da Edigao Cronol6gi Abreviaturas.. = As Cartas dos Mahatmas ‘As cartas estiio numeradas de acordo com sua ordem cronolégica. Os ntimeros entre parénteses, precedidos das letras ML, reproduzem a nume- ragdo usada nas trés primeiras edigdes, Carta n® Le (ML-1) 17 de outubro de 1880... Cartan 2 (ML-2) Recebida em 19 de outubro de 1880... Carta n® 3A. ee(ML-3A) snes Recebida em 20 de outubro de 1880.. Carta n® 3B oe (ML-3B) snr Recebida em 20 de outubro de 188 -(ML-3C) nme Recebida em 20 de outubro de 1880.... _Recebida em 27 de outubro de 1880... Recebida em 3 de novembro de 1880 ....... 52 Recebida em 3 de novembro de 1880....... 61 Recebida entre 3 e 20 de novembro de 1880. -(ML-99) «ne Revebida em 20 de novembro de 1880. ..(ML-106) “-(ML-98) «usu Recebida em 12 de dezembro de 1880 00 ais ta4de neue Carta 110. os(ML*S) se Reoebida depois de 12 de dezembro de 1880. Cartan anoe(ML-28) «oe Recebida em dezerbro de 1880 vn Carta? 2eese(ML-6) wenn Recebida em 10 de dezembro de 1880... Carta 1 13.ronn(MILAT) wonsnen 30 de janeiro de 1881 Carta n® 144... (MIL-142A)..... Recebida antes de 20 de Teveteiro de 1881 Carta n® 14B......(ML-142B)..... Recebida antes de 20 de fevereiro de 1881... Carta n® 15.0000 (MILB) sonsnee Recebida em 20 de fevereiro de 1881... 93 Carta n® 16.200 (MIL-107) «ne Recebida em 12 de margo de 1881 107 Carta nV Tonsn MIL-31) snnon Recebida em 26 de margo de 1881 se 108 (Cartan 18... (MIL-9) Recebida em 5 de julho de 1881 iW Carta n® 19. ee(MIL-121) snee Reoebida em 11 de julho de 1881 .. 130 Carta 12 20,ne(MIL-49) ..nse Recebida em 5 de agosto de 188 (ML-27)........ Recebida no outono de 1881... Carta 18 22. .((ML-26) ..n..0 Recebida em Simla no outono de 1881... 143 Carta 1 23. (MIL-104) sno Recebida em outubro de 1881 Cartan? 24. nee(ML-TH) none Outubro de 1881. Carta 2 25. (ML+73) oem Outubro de 188: 1 (ML-102) sue Outubro de 1881 -(MIL-101) ...... Outubro de 188 Outubro de 188 Outubro de 1881 Recebida em forno de 4 de novembro de 1881 ue 164 Carta n® 31 se (ML-40) ..uoue Recebida em novembro de 1881... cs Cartan? 32. (MILA 14) nue Recebida em novembro de 1881 Cartan? 33..ne(MIL-38) 0.0 Dezembro de 188 Carta 234. (ML-39)._.- Recebida em dezeribro de 1881 Cartan? 35.ne(ML-41) .nnon Recebida em dezembro de 1881 ... Carta n? 36...10n(MIL-36).......» Recebida em janeiro de 1882 Carta 2 37 nen-(MIL-37) -onnes Recebida em janeiro de 1882 ... Carta 02 38. (ML-90) «snus Datada de 26 de novembro de 1881... Cartan? 39. .me(ML+I15)....~ Recebida em janeiro de 1882... Carta 12 40. ron (MIL-108) nen Janeiro de 1882... Carta 1841 ee(ML-109) ne Janeiro de 1882... (ML43).... Recebida em janeiro de 1882 1 (ML-42) none Recebida em janeiro de 1882. se(ML-I3) sone Recebida em janeiro de 1882 (ML-44) 1. Recebida em fevereito de 1882 (ML-12)....... Recebida em fevereiro de 1882. (ML-45) ...... Recebida em fevereiro de 1882. Carta 12 48. e(ML-A7) sone Recebida em 3 de margo de 1882 Carta 1 49.....(ML-48)....... Recebida em 3 de margo de 1882 Cartan? 50...0--(MIL-88) ....0n Datada de 11 de margo de 1882 Tee (ML-120) snone Recebida em margo de 1882... Carta n? 21 Carta n? Carta n® 30. Cartan? 52. (MIL-144) ...u+ Recebida em 14 de margo de 1882 235 Carta 1 53..e-(MIL-136) «ne Datada de 17 de margo de 1882 Cartan 54... (MIL-35) Recebida cm 18 de margo de 188: Carta n° 55... (MIL-89)..... Recebida em 24 de marco de 1882 .....--.- 242 Carta 1856... (MIL-100) ones 25 de margo de 1882. , Carta i? 57 ne-(ML-122)....... Datada de 27 de abril de 1882... Carta n? 58.....(ML-130) «00. Datada de 7 de maio de 1882... Carta n® 59 Sem indicagdo de data Carta Sem dat Carta n? 61 vi» Datada de junho de 188; Carta n° 62... Datada de junho de 1882 Carta n® 63 sore (MIL-95) «n-ne Datada de junho de 1882. Cartan? 64, (ML-131) soon Datada de 26 de junho de 1882 Carta 12 65.nen (MAI 1) svn Recebia em 30 de junho de 1882. Carta 12 66...0..-(ML-14) enue Recebida em 9 de julho de 1882... Carta 12 67 ee (MLA15) sonnne Recebida em 10 de julho de 1882 Carta n® 68.sonne(ML-16) «10 Recebida em julho de 1882 Carta n® 69..ne(ML+69) emer SEM Aten Carta 12 70A sn. ML-20A) ... Recebida cm agosto de 1882... Carta n® 70B..... (ML-20B)...... Recebida em agosto de 1882... Carta n? 70C...-.((ML-20€) .... Recebida em agosto de 1882... Carta n® 71. ssee(MIL-19) soon Recebida em 12 de agosto de 1882.. Carta i 72..n0(MIL-127)..... Recebida em 13 de agosto de 1882. Cartan 73 ns (ML-113) snus Recebida em agosto de 1882 Carta 8 74.voe(MIL-30) nun Recebida em agosto de 1882.. Carta n® 75. (ML-S3) non Reeebida em 23 de agosto de 1882.. Carta 1276. ee(ML-21) sors Recebida em 22 de agosto de 1882, Cartan? 77se(ML-50) -onnes Recebida em agosto de 1882... Carta 1? 78.rne(ML-51) wenn Recebida em 22 de agosto de 1882. Carta n2 79. Carta n? 80. “(ML-116)....... Recebida em agosto de 1882... “(ML 118) san Recebida no inicio do outono de 1882. Prefacio da’ Edigéo Cronolégica E um privilégio ¢ uma honra escrever este preficio para um livro que ime parece abrir uma nova etapa na histéria editorial de Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinneti, uma das obras mais importantes da literatura teos6fica. Inicialmente, devo prestar uma homenagem a Vicente Hao Chin, Jr, presidente da Sociedade Teos6fica nas Filipinas, por sua iniciativa, por sua determinagio ¢ pelo enorme volume de trabalho que ele realizou para tornar possivel esta obra. ‘A minha conttibuigilo a esta nova edigao das Cartas consiste de notas compiladas enquanto ditigia diversos seminérios sobre 0 tema na Escola Krotona de Teosofia em Ojai, Califérnia, EUA. Apés 0 término desses cur- sos, ocorreu-me que seria util, na promogio de um estudo mais amplo das Cartas, redigit as minhas anotagées de aula de maneira mais adequada ¢ ‘mandar cépias delas para as principais bibliotecas teos6ficas, Isso foi feito. Entre os que receberam as anotagdes estava Vicente Hao Chin, Ir., que imediatamente sentiu que elas deveriam ser publicadas visando uma distri- buigio ainda mais ampla. Ao mesmo tempo, ele estava pensando na possibi- lidade de publicar as Cartas em ordem cronolégica, em vez. de usar a divisio temitica, como foi feito nas ts edigdes anteriores. Os estudantes das Cartas sio profundamente gratos a George E. Linton pela cronologia que cle desenvolveu com base em extenso estudo das cartas originais expostas no Museu Britinico e que foi usada no livro Reader's Guide to the Mahatma Letters to A.P. Sinnett (George E. Linton e Virginia Hanson, TPH, 2 ed., 1988). Foi feito um cuidadoso estudo de algumas cronologias desenvolvidas anteriormente, mas acreditamos que esta disposigio € a mais, correta possivel ‘Como todo estudante das Cartas sabe, elas raramente eram datadas. AP. Sinnett, a quem a maioria delas foi enderegada, anotava freqiientemente a data de recebimento, mas mesmo isto era, de vez em quando, esquecido, € evidemte que as vezes as datas eram inseridas depois de transcorrido muito tempo. Sinnett comentou que, se tivesse ficado claro desde o inicio que a correspondéncia iria se desenvolver como ocorreu, ele teria feito registros mais cuidadosos. A sua esposa, Patience Sinnett, manteve um didrio que chegou a 37 volumes com o correr dos anos, mas lamentavelmente estes volumes desapareceram, Supde-se que eles podem ter sido destruidos em bombardeios durante a 12 Guerra Mundial. As cartas originais, contudo, fo- 9 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett ram conservadas em seguranga no Museu Britanico, para o qual foram doa- das com a condigao de entrega irrevogivel. Foram tomadas medidas para preservi-las. Além disso, George Linton fez com que elas fossem microfil- madas, ¢ estes filmes estiio arquivados em diversos lugares, inclusive na sede central da segiio norte-americana da Sociedade Teoséfica. Cabe, sem diivida, uma palavra final de reconhecimento a Vicente Hao Chin, Jr. E de esperar-se que esta edigdo seja a mais amplamente usada ¢ estudada no futuro. Virginia Hanson 10 Introducio & Edicaio Cronolégica I Esta edigo foi preparada para atender uma necessidade sentida hd muito tempo por estudantes das Cartas dos Maharmas, devido a duas difi- ‘culdades: 1) As cartas so diffceis de acompanhar nas edigdes anteriores porgue os assuntos ¢ acontecimentos mencionados nelas nfo aparecem em seqiiéncia adequada. O leitor perde, freqiientemente, o sentido das palavras dos Mahatmas; 2) Muitas vezes, 0 leitor nao entende as circunstancias que envolvem as cartas, além do fato de que muitos nomes ¢ referencias sto obscuros para os leitores de hoje em dic. Em conseqiiéncia, relativamente poucos teosofistas tiveram o Animo necessrio para estudar as Cartas dos Maharmas. & uma pena, porque esta é uma das fontes literdrias teos6ficas mais importantes. ‘A publicagao do Reader's Guide to the Mahatma Letters (Guia de Leitu- 1a das Cartas dos Mahatmas), de George Linton ¢ Virginia Hanson, ajudou iuito a preencher esta lacuna. E somos muito gratos a ambos por seus vali- ‘osos esforgos. Entretanto é incdmodo ler as Cartas das Mahatmas consul- tando constantemente um ou dois livros diferentes. Daf a necessidade de ‘uma edigio cronolégica com anotagbes. Nesta edigfo, as cartas estio numeradas e dispostas de acordo com @ provavel data de recebimento. O nimero das edigdes anteriores est coloca do entre parénteses, ao lado do niimero cronol6gico, logo apés as iniciais ML (de Mahatma Letters). Pequenas anotagées foram também acrescentadas antes de cada carta para colocar o'leitor a par dos acontecimentos e circuns- tancias que envolvem a carta. Estas anotagdes foram escritas por Virginia Hanson, que devotou muitos anos de estudo as Cartas dos Mahatmas ¢ escreveu alguns livros sobre © assunto, principalmente Masters and Men (Mestres e Homens), 0 Reader’s Guide (com George Linton), ¢ Introduction to the Mahatma Letters, Em 1986, ap6s dirigir durante muitos anos cursos sobre as Cartas dos Mahatmas, a sra. Hanson reunit: as suas intimeras anotagdes sobre as cartas, dando-Ihes o titulo “Notas sobre as Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Este editor conversou com ela sobre 0 uso das “Notas” numa edi- ‘glo cronolégica das cartas dos Mahatmas. Ela apoiou firmemente a idéia ¢ deu permissao para se usar qualquer parte das suas “Notas” com essa final dade, As novas notas de pé de pagina desta edigdo (identificadas por “Ed. u Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett ©, de “edigdo cronolégica” — baseiam-se essencialmente nestas “Notas” ‘Algumas delas baseiam-se no livro Reader's Guide to the Mahatma Letters, compilado por George Linton e Virginia Hanson~ As notas que precedem as cartas nos Anexos foram, entretanto, claboradas por este editor. © texto das cartas nesta edi¢do reproduz 0 da terceira edigio de Mahatma Letters to A.P. Sinnett (editada por Christmas Humphreys ¢ Elsie Benjamin), inclusive as notas de pé de pagina, Nenhuma mudanga foi feita com a excegio, obviamente, de eros tipogrificos. Fora isso, esta edigio ‘segue fielmente toda a grafia e pontuagdo da terceira edigao. Nesta edigio foram adotados os seguintes formatos de texto: fa) As cartas ni escritas pelos Mahatmas estéio sem negrito para dis- tingui-las das enviadas por eles. Em edi¢des anteriores foram usados tipos iguais, 0 que, as vezes, pode causar confusio, (b) As vezes, os Mahatmas sublinham certas palavras em cartas eseri- tas por outros. Isso ¢ repetido na atual edigfo, em vez de se usar tipos ne- gritos como em edigdes anteriores. (©) As notas de pé de pagina das edigées anteriores que se referem a iimeros de cartas, paginas ou estilos tipograficos foram cortigidas nesta edigio de modo a ficarem de acordo com o formato revisado ¢ a paginagio da nova edigiin. Fstas correcdes s4o sempre colocadas entre colchetes. Foram actescentados novos anexos a fim de incluir outras eartas © no- tas dirigidas a AP. Sinnett ou A.O. Hume, que ndo haviam sido inclufdas em Cartas dos Mahatmas. Sao 08 seguintes: (a) a primeira carta do Mahatma K.H. para Hume, reimpressa de Combined Chronology (Cronologia Combinada), de Margaret Conger (Theosophical University Press, Pasadena); (b) cartas contidas em Cartas dos Mestres de Sabedoria, Série 1, editadas por C. Jina- rajadasa!, e (c) as contidas om Letters of H.P. Blavatsky to A.P. Sinnett, (Cartas de H.P. Blavatsky Para A.P. Sinnett), transcritas e compiladas por ‘AT. Barker (Theosophical University Press, Pasadena). II Uma breve historia das edigdes anteriores Depois que o st. Alfred Percy Sinnett faleceu em 1921, a sua testa- menteira, stta, Maud Hoffman, acertou com o st, A. Trevor Barker que ele editaria © publicaria as cartas dos Mahatmas. O livro foi colocado & venda em dezembro de 1923, e uma edigZo revisada apareceu em 1926. Em seu prefiicio, o st. Barker afirm: A edigto brasileira exclui estes textos porque elas ja fazem parte do volume Cartas dos Mestres de Sabedoria, Editora Teosbfica, Brasilia, 1996. (N. ed. bras.) 2 Introdugéo a Edigéo Cronologica “0 leitor deve ter em mente que, com excegao de uma ou duas cartas, nenhuma delas foi datada pelos seus autores, Em muitas delas, contudo, as datas e os lugares de recebimento foram anotados com a caligrafia do sr. Sinnett e aparecem em tipo pequeno logo apés os niimeros das cartas. - Deve ficar claro, exceto nos casos em que se afirme de outro ‘modo, que: 1. Cada carta foi transerita diretamente do original. 2. Todas as cartas foram escritas para A.P. Sinnet. 3, Todas as notas de pé de pagina so cépias de notas que apa- recem ¢ pertencem as préprias cartas, a ndo ser quando assinaladas com a inscrigdo ‘Ed.’. Nestes casos foram acrescentadas pelo compi- tador” O sr, Barker escreve também: “pede-se ao leitor que ereia que 0 tra- balho de transerigao foi feito com 0 maximo cuidado; todos os manuseritos foram conferidos palavra por palavra com os originais, e foi feito todo o possfvel para evitar eros. Entretanto, € provavelmente excessiva a expecta tiva de que o livro impresso nao contenha erro algum. Fles iio quase inevi- taveis” Em 1962, uma tereeira edigfo foi publicada conjuntamente por Christmas Humphreys e Elsie Benjamin, A terccira edigao implicou uma meticulosa revisio da transcrigao das edigdes anteriores. A edigo contou com a inestimavel assisténcia do sr. C. Jinarajadasa, ex-presidente da Socie~ dade Teoséfica, do sr. James Graham, e do st. Boris de Zirkoff, compilador dos Collected Writings (Escritos Reunidos) de H.P. Blavatsky. Como esta edig&o cronolégica esta essencialmente baseada na terceira edigdo, é necessério citar 0 sr. Humphreys e a sra. Benjamin no que se refere a transcrigio feita por eles, como relatado no prefiicio daquela ediga0: “A idéia de transcrever 0 material exatamente como ele surgiv foi, de imediato, abandonada. Uma razdo apenas bastou: a de que ‘Trevor Barker ja ficera muitas correedes na ortografia, pontuasao, etc, ¢ decidiu-se, portanto, producir um livro de maior valor para os estudantes e que, ao mesmo tempo, fosse fiel as idéias presentes no original Entretanto, no passado, foram levantadas fortes argumentagées em relagdo a alteragées feitas em edigdes posteriores de obras dos primeiros escritores teosdficos. Assim, é importante que se declare, 13 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett como agora se faz, que: (a) nesta obra, nem uma s6 palavra foi acres centada, a ndo ser dentro de colchetes, para tornar o sentido mais claro; e (b) nem uma $6 palavra foi omitida, salvo uns poucos casos onde a sua presenga significava um erro gramatical ébvio.” st. Humphreys e a sra. Benjamin também declararam que 0 trata- ‘mento do texto seguit os seguintes prinefpios: “A grafia de palavras como nomes, lugares e frases nao ingle- sas foi revisada, e procurou-se sistematizar mais 0 uso de letras maiiis- culas e em inilico. As citagdes de livros e de frases estrangeiras foram corrigidas quando se acharam erros. ‘Nenkuma tentativa foi feita para se conseguir concordancia no uso de sinais diacriticos. Quando usados, permaneceram, mas ne- hun foi acrescentado.? A grafia dos Mestres em palavras sénscritas é, ds vezes, uma variacdo, adotada no norte da India, da grafia clds- sica, e ndo foi mudada Houve numerosas alteracdes na pontuacdo. Na maior parte dos ‘casos, as correcées foram methorias dbvias e, em caso algum, trouxe- ram qualquer alteragdo possivel no sentido. Algumas vezes, contudo, era muito dificil entender uma frase, até que acréscimo de uma vir gula, ou a sua remogdo, subitamente esclarecia 0 sentido. Em todos esses casos, uma mudanca como essa somente foi feita apds todas as pessoas envolvidas terem concordado que ela era necessdria para es- clarecer 0 sentido”. Como est no mesmo preficio, os editores da terceira edigio também pensaram cuidadosamente na reordenacdo das cartas em ordem cronolégica. Eles estudaram seis ordens cronolégicas conhecidas ~ a da srta. Mary K. Neff, da sra. Margaret G. Conger, da sra, Beatrice Hastings, do sr. James Arthur, do sr. G.N. Slyfield e do sr. K.P. Vania - ¢ decidiram abandonar a idéia devido & divergéncia nas ordens propostas pelas diferentes listas. Tam- bém decidiram contra a inclustio de outras cartas conhecidas para Sinnett Hume porque seria dificil decidir em que ponto este acréscimo deveria ces- sar, ‘A terceira edigo excluiu o apéndice do sr, Barker a respeito da con- trovérsia sobre “Marte e Merctirio”, como também a maior parte da introdu- 2 Na edigio em lingua portuguesa, ndo reproduzimos os sinais dizerfticos do sfnscrito, (N. ed. bras.) 4 Insrodugao @ Edigdo Cronolégica ‘a0 feita por ele na primeira e na segunda edigao, considerando que consistia basicamente de comentirios ¢ nao cabia inseri-los na compilagio. Til O editor deseja agradecer & sra. Virginia Hanson a sua inestimavel atuagao © apoio na preparacio desta edigdo; e a George Linton, Joy Mills, Radha Burnier, Adam Warcup e Daniel Caldwell pelas suas sugestoes © apoio. O texto foi cuidadosamente composto e revisado por Pia Dagusen. Ela também preparou o abrangente indice remissivo desta edigo cronolégi ca em inglés. O texto foi examinado € revisado por Eugenia Tayao e Roselmo Doval-Santos, A ele e outros que ajudaram, expressamos a nossa profunda gratidao. Vicente Hao Chin, Jr. 15 Notas Introdutérias Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinmett € considerada uma das obras mais dificeis da literatura teos6fica. Ela aborda muitas situagées complexas € contém muitos conceitos profundos, que se tornam mais obscuros porque, na época em que elas foram escritas, nao havia sido desenvolvida uma no- ‘menclatura por meio da qual os Mahatmas pudessem comunicar a sua filoso- fia — profundamente oculta ~ a pessoas de idiomas ocidentais. Apesar disso, obra tem um poder e uma percepsio interna tremendos, e reflete 0 drama humano da aspiragio, do éxito e do fracasso, Ela conta uma histéria ocorr no tempo, mas a sua mensagem é eterna, quer a consideremos como narrati- va, como filosofia oculta ou como revelacao. O que é um Mahatma? Em um artigo de H.P. Blavatsky intitulado Mahatmas ¢ Chelas (The Theosophist, julho de 1884), ela nos dé 0 significado do termo: “Um Mahatma é um personagem que, por meio de educago e treinamento especiais, desenvolveu aquelas faculdades superiores atingiu aquele conhecimento espiritual que a humanidade comum ad- quirird depois de passar por séries inumerdveis de encarnacées du- rante o processo de evolugiio césmica, desde que, naturalmente, neste meio tempo, ela ndo vd conira os propasitos da Natureza...”. Ela prossegue com uma discusstio sobre 0 que € que encarna e de que modo este processo é usado como um fator da evolucdo, resultando na con- quista do Adeptado. Em uma carta escrita para um amigo em 12 de julho de 1890, H.P.B. disse outras coisas interessantes sobre os Mahatmas: “Bles so membros de uma Fraternidade oculta {mas} de nenhuma es- cola indiana em particular. Esta Fraternidade”, acrescentou ela, “no se ori- xginou no Tibete, mas a maioria dos seus membros ¢ alguns dos mais eleva- dos entre eles esto e vivem constantemente no Tibete. 7 Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett Depois, falando dos Mahatmas, ela diz: “Sio homens vivos, ndo ‘espf- ritos’, nem mesmo Nirmanakayas' . ..O seu conhecimento e erudigao sio imensos, ¢ a santidade da sua vida pessoal é maior ainda ~ entretanto, eles siio homens mortais e nenhum deles tem a idade de 1,000 anos, ao contrétio do que algumas pessoas imaginam.” Em uma conversa em 1887 com o escritor Charles Johnston (marido da sobrinha de H.P-B., Vera), quando ele perguntou a H.P.B. sobre a idade do Mestre dela (0 Mahatma Morya), ela respondeu: “Meu querido, ndo pos- so dizer exatamente, porque no sei. Mas conto-Ihe o seguinte. Eu o encon- trei pela primeira vez quando tinha vinte anos. Ele era um homem no auge de sua forga, na época. Agora, sou uma mulher velha, mas ele nao parece nem um dia mais velho. Ele ainda esté no auge da sua forga. Isto & tudo 0 que posso dizer. Tire suas proprias conclusbes”. Quando o sr. Johnston in- sistiu e perguntou se os Mahatmas haviam descoberto o elixir da vida, ela respondeu seriamente: “Isso nao é um mito. E apenas 0 véu que esconde um processo oculto real, 0 afastamento da velhice e da dissolueo durante perfo- {dos que pareceriam fabulosos, e por isso no os mencionarei, O segredo € 0 seguinte: para todo ser humano hi um climatério, quando ele deve se apro- ximar da morte, Se ele desperdigou as suas forgas vitais, nto hi escapatéria, mas se ele viveu de acordo com a lei, pode atravessar esse perfodo ¢ assim continuar no mesmo corpo quase indefinidamente”? Como as Cartas vieram a ser escritas? Os autores das cartas so os Mahatmas Koot Hoomi ¢ Morya, geral- mente designados simplesmente pelas suas iniciais. (O Mahatma K.H. era um brimane de Cachemira, mas na época em. que nos deparamos com ele nas cartas, ele tinha relagdes estreitas com a corrente Guelupa ou "gorro amarelo” do Budismo tibetano. Ble se refere a si préprio nas cartas como um “morador de cavernas de aquém e além dos Himalaias”. H.P.B. diz em [sis Sem Véu que a doutrina de Aquém dos malaias é uma doutrina ariana muito antiga, as vezes chamada bramanica, mas que na verdade nada tem a ver com 0 bramanismo tal como nés 0 en- tendemos agora. A doutrina de Além dos Himalaias € uma doutrina esotérica tibetana, 0 Budismo puro ou “antigo”. Ambas doutrinas, de Aquém e Além ' Aquele que nao mais encarna, mas que decidiu renunciar ao Nirvana por solidariedade «para ajudar os seres menos evolufdos, (N. ed. bras.) 2 Collected Writings, Vol.VM, p. 392. 18 Notas Introdutdrias dos Himalaias, vém originalmente de uma s6 fonte ~ a Religido de Sabedo- ria universal O nome “Koot Hoomi” é um nome mistico que ele usou em relagdo 2 correspondéncia com A.P. Sinnett. Ele falava e escrevia em francés e inglés fluentemente. Hé afirmagoes na literatura teos6fica no sentido de que 0 Mahatma KH, estudou na Europa. Ele estava familiarizado com os habitos ¢ 0 modo de pensar dos europeus. Era muito erudito e, as vezes, esctevia passagens de grande beleza literdria, ‘© Mahatma Morya era um principe rajput — 08 rajputs formavam a casta governante do norte da india na época. Ele era “um gigante, de quase dois metros de altura, ¢ de um porte magnffico; um tipo espléndido de bele- za masculina” > F bastante conhecido o episédio da fundagao da Sociedade Teos6fica em Nova Iorque, em 1875. Em 1879, os dois principais fundadores da Soci- ‘edade, H.P. Blavatsky ¢ 0 coronel Henry Steel Olcott, transferiram a sede da Sociedade para Bombaim, na India ¢, em 1882, para Adyar, Madras (atual Chennai), no sul da India, onde permanece. Morava na india, na época, um inglés culto e muito refinado, chamado ‘Alfred Percy Sinnett. Ele era editor de The Pioneer, o principal jornal inglés, publicado em Allahabad. Ble se interessou pela filosofia exposta pelos dois Teosofistas ¢ estava curioso a respeito dos acontecimentos notaveis que pare- ciam sempre ocorrer na presenga de H.P.B. Em 25 de fevereiro de 1879, nove dias apés a chegada dos fundadores a Bombaim, Sinnett escreveu ao coronel Olcott expressando o desejo de conhecer H.P.B. ¢ ele, ¢ afirmando que estava disposto a publicar quaisquer fatos interessantes a respeito da missio deles na india. Em 27 de fevereito de 1879, Olcott respondeu esta carta. Comegou sim o que Olcott chamaria de “um vfnculo produtivo e uma amizade agradé- vel”, Os fundadores foram convidados a visitar os Sinnett em Allahabad, 0 que ocorreu em dezembro de 1879. Nessa visita os Sinnett filiaram-se & So- ciedade Teoséfica, ¢ os fundadores encontraram outros visitantes que iriam cumprir um papel na vida da Sociedade: A.O. Hume e sua esposa Moggy, de Simla, ¢ a sta. Alice Gordon, esposa do tenente-coronel W. Gordon, de Cal- cut. No ano seguinte, os fundadores visitaram os Sinnett na sua residéncia de verdio, em Simla, naquela época a capital de vertio da India. La, eles fica- ram conhecendo melhor o casal Hume e sua filha, Maric Jane (usualmente 3 Collected Writings, vol. TI, p. 399. 19. Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett chamada de Minnie). O passatempo favorito de Hume era o estudo de passa- 10s, ¢ ele mantinha um museu ornitolégico em sua espagosa casa, que cha- mava de Castelo Rothney, na colina Jakko, em Simla; também publicava uma revista sobre ornitologia, Stray Feathers. Profissionalmente, ele era, havia algum tempo, membro influente do governo. Foi em Simla que aconteceram os fatos que resultaram nas cartas pu- blicadas na obra Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett. H.P.B. realizava alguns fenémenos surpreendentes ¢ os atribufa aos Mahatmas, com quem ela estava em contato psiquico mais ou menos constante. Sinnett estava conven- cido da veracidade desses fendmenos, ¢ cm seu livro O Mundo Oculto fez uum vasto trabalho para comprovar a sua autenticidade. Ele tinha também uma mentalidade prética e cientifica, ¢ desejava sa ber mais a respeito das leis que governavam essas manifestagdes. Queria, especificamente, saber mais sobre aqueles seres poderosos que H.P.B, cha- mava de “Mestres” e que, segundo ela, eram os responsaveis pelos fendme- nos. Ele Ihe perguntou se seria possivel entrar em contato com eles ¢ receber instrugGes, HLP.B. disse-Ihe que no era muito provavel, mas que tentaria, De int cio, ela consultou o seu Mestre, 0 Mahatma Morya, com quem cla estava estreitamente ligada através do treinamento oculto a que se submetera ante- riormente no Tibete, mas ele se recusou categoricamente a comprometer-se ‘com essa tarefa. (Mais tarde, entretanto, chegou a assumir a correspondéncia durante alguns meses, devido a circunstancias muito especiais.) Aparentemente, HP-B. tentou 0 mesmo com varios outros, sem suces- so. Finalmente, 0 Mahatma Koot Hoomi concordou em manter uma corres- pondéncia limitada com Sinnett. O sr. Sinnett enderegou uma carta “ao Irmiio Desconhecido” e entre- gou-a a HP.B. para que a transmitisse, Na verdade, ele estava tio ansioso por defender o seu ponto de vista de modo convincente que escreveu. uma segunda carta antes de receber uma resposta & primeira. Seguiu-se, entio, uma série de cartas notveis, e a correspondéncia continuou por varios anos, tendo como um dos seus varios resultados de longo prazo a publicagdo das cartas em forma de livro. Virginia Hanson 20 Prefacio 4 Edigao em Lingua Portuguesa Diversas religides da humanidade preservam uma tradigao segundo a qual uma coletividade de grandes sabios inspira e conduz, silenciosamente, a nossa humanidade no caminho que leva & paz e & sabedoria. O taofsmo men- a estes sabios como Imortais, e 0 hindufsmo usa o termo Rishis. Para o budismo, eles stio Arhats. Outros os chamam de Mahatmas, raja iogues, mestres de sabedoria, Adeptos ou, simplesmente, Iniciados. Segundo a filo- sofia esotérica, estes seres atingiram o Nirvana e libertaram-se inteiramente do estdgio atual do reino humano, mas permanecem ligados & humanidade por lagos de compaixao e solidariedade. A coletividade destes sdbios, que tem ramificagdes em varios conti- hentes, aprovou ¢ promoveu, em 1875, a criagao da Sociedade Teoséfica Assim surgi um niicleo da fraternidade universal sem distingzio de classe, nacionalidade, raga, casta, credo, sexo ou cor. Dois destes Mahatmas parti- ciparam de modo mais especifico e direto do esforgo teos6fico. A. presente edigio retine a correspondéncia entre estes instrutores ¢ Alfred Sinnett, um dos principais Iideres teosdficos dos primeiros tempos. Do ponto de vista teoséfico, as Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett sio textos de importancia incompardvel na literatura de todos os tempos. Pela primeira vez, sébios que completaram a etapa atual da evolugdo humana coloca. ram seus ensinamentos no papel, abrindo, durante alguns anos, uma excego & regra milenar pela qual grandes Adeptos ¢ instrutores nada escrevem. So, pois, documentos de um valor inestimavel. Pouco a pouco, a medida que passa tempo, passam a ser conhecidos e discutidos mais abertamente entre os estu- dantes da filosofia esotérica em todo o mundo, ‘Ao mesmo tempo, o estudo das cartas apresenta dificuldades e desafios significativos. Por um lado, elas foram escritas em situagdes hist6ricas humanas muito especfficas, em grande parte desconhecidas do cidadio do séeulo 21. Por outro lado, ao escreverem, os Mahatmas nao tiveram em vista a publicagao das suas cartas. Nao se preocuparam com a forma externa, nem com as normas de cortesia mundana, mas, ao contrério, usaram de total franqueza, Além disso, a verdade é que o ensinamento vindo diretamente deles contraria de modo radical muitas opinides convencionais a que esta- mos acostumados em diversos assuntos. Outro fator que a dificuldade na~ tural dos temas abordados torna necessério que o estudante use a intuigdo ea capacidade de conviver com 0 desconhecido. Do ponto de vista da redago das Cartas, algumas frases, longas e que abordam temas complexes, ndo sio faceis de entender. Para muitos estudantes, no entanto, os desafios tornam o estudo mais estimulante. 2 Cartas dos Maharmas Para A.P. Sinnett Duas dificuldades para a compreensiio das Cartas dos Mahatmas de- ‘vem ser analisadas com mais detalhe, do ponto de vista do leitor de lingua portuguesa. A primeira dclas diz respeito as eriticas ao cristianismo. ‘As cartas dos Mahatmas devem ser vistas como documentos hist6ricos € em seu contexto. As criticas dos Mahatmas se referem ao aspecto dogma- tico, imperial e autoritério do cristianismo. Nio ao seu aspecto mistico e de sabedoria. Os teosofistas, com sua perspectiva ecuménica ¢ inter-religiosa sua proposta de liberdade de pensamento, eram uma ameaga para os dogmas de varias religides. Assim, missionérios cristios tentaram abafar e mais tarde atacaram frontalmente a Sociedade Teos6fica. E neste contexto que surgem as criticas mais francas e duras dos Mahatmas ao cristianismo dogmitico. Para que se tenha uma idéia das mudangas de mentalidade ocorridas desde o século 19, basta lembrar que os movimentos socialistas, na época, eram radicalmente criticos ao cristianismo: afirmavam que “a religiio € 0 6pio do povo”. Mas, desde entai io iniciou uma nova caminhada. A obra de autores cristios de vanguarda como Teillard de Chardin, Anthony de Mello, Leonardo Boff e Madre Teresa de Calcuté, para citar apenas quatro romes, tem aspectos essenciais em comum com a Teosofia. Hoje existe a teologia da libertagao. Até certo ponto, as criticas dos Mabatmas ao Vatica- xo anteciparam em um século o livro “Igreja, Carisma e Poder”. do conheci do te6logo brasileiro Leonardo Boff. A crise atual da igreja dogmética € um fato reconhecido. A igreja progressista deseja mudangas, e a aproximagio ‘stis € notdvel em muitas partes do mundo. Em virios sentidos, portanto, houve transformagdes significativas no cristianismo a partir da segunda metade do século 20. (Os Mahatmas sfio imparciais em relagao a todas as religides. Nao cri- ticam s6 0 eristianismo, mas todas elas, no que possem de supersticioso & ilusério. Isto fica claro, por exemplo, nas Cartas 88 ¢ 90. Especificamente, eles ndo poupam o hindufsmo, a principal religiiio da India, conforme se verifica ao ler a Carta 30. Na verdade, os Mahatmas sfo tio imparciais que, durante a crise da Loja teoséfica de Londres, em 1883, defenderam a mino- ria que havia adotado como prioridade o cristianismo esotérico, em detr mento da maioria dos membros da Loja que, liderada por Sinnett, seguia os ensinamentos esotéricos transmitidos por eles proprios. A liberdade de pen- samento ¢ a autonomia do aprendiz. sfo partes centrais e indispensiiveis do método de ensino dos Mahatinas. Nas Cartas, fica claro que eles combatem © dogmatismo com igual vigor dentro ¢ fora do movimento teos6fico, Vale a pena mencionar, neste contexto, as duras crfticas feitas nas Cartas aos jesuitas, Até hoje, no diciondrio Aurélio da lingua portuguesa, 0 significado da palavra “jesuita” & definido, entre outras acepedes, como 22 Prefiicio d Edigao em Lingua Portuguesa “sujeito dissimulado, astucioso, fingido, hipéerita”. Uma das acepgdes do adjetivo “jesuitico” no mesmo dicionario é, também, “dissimulado, astucio- 0", Portanto, os Mahatmas nao estavam sozinhos ao descrever como deso- nestos os métodos da hierarquia catdlica do século 19. Isto, porém, nao nega 1 contribuigdo cultural positiva que muitos jesuitas deram, em diversos ca- sos, 2 cultura ocidental. E é claro que os jesuftas mudaram muito desde en- to. Hoje, este e outros setores do cristianismo tém um pensamento moder- no, aberto, democritico e ecuménico diante das grandes questées éticas e sociais do nosso tempo. A segunda dificuldade a ser analisada mais especialmente diz respeito as erfticas dos Mahatmas ao movimento espirita. Aqui, também, € impor- tante ter uma perspectiva histérica dos fatos. A intengao inicial dos fundado- res do movimento teos6fico foi trabalhar em conjunto e em harmonia com o ‘movimento espftita. Depois de algum tempo, ficou claro que isso nilo seria possfvel na época, Durante algumas décadas, as relagdes foram tensas, € & neste contexto que foram escritas as cartas a seguir. Mas a partir da segunda metade do século 20, especialmente no Brasil, a aproximagao entre os dois movimentos tem sido visivel. Hoje € grande o niimero de espfritas que sio tcosofistas, € de teosofistas que so simpaticos a muitos aspectos do espiri- tismo. A principal critica teoséfica ao espiritismo se refere a mediunidade, que 0s Mahatmas condenam. Eles explicam detalhadamente 0s motivos nas cartas a seguir. O espiritismo tem evolufdo muito e, no futuro, a meta inicial de franca simpatia ¢ cooperagio entre teosofistas e espfritas sera cada vez mais facil, do mesmo modo como so frateros os lagos que ligam 0 movi- mento teos6fico a budistas, jainistas, hindufstas, judeus, mugulmanos, € a seguidores de diversas filosofias e religides, ou de nenhuma delas. Buscar a verdade onde ela esteja, com bom senso ¢ equilibrio, é uma idéia central para 0 movimento teos6fico. Deve-se levar em conta que as cartas eram documentos absolutamente confidenciais, € que os Mahatmas deixaram claro que jamais aprovariam a sta publicagio na fntegra. A publicago acabou ocorrendo longo tempo de- pois do término da correspondéncia e do afastamento deles em relagio as atividades visfveis da Sociedade Teos6fica. No infcio da década de 1920, 0 editor A. Trevor Barker julgou que, para evitar mal-entendidos, era necess4- rio dar a conhecer a todos, com total transparéncia, os pontos de vista ex- pressados diretamente pelos Mahatmas em relago a vida, as religides, a0 cristianismo, 3 filosofia esotérica e ao aprendizado espiritual O movimento teoséfico nao tem dogmas. Seu lema € “niio ha religido superior & verdade”, Assim, estas Cartas dos Mahatmas ndo so objetos de f€ cega pata ninguém. Porém, a importancia do seu contetido parece ine, 23

You might also like