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© 2009 Casapsi Livraria, Editora e Grifica Ltda, E proibida a reproducdo total ou parcial desta publicagao, para qualquer finalidade, sem autorizagio por escrito dos editores. I edigao, 2009 Editores Ingo Bernd Gitntert e Jerome Vonk Assistente Editor Aparecida Ferraz da Silva Capa Carla Fogel Projeto grafico e Editoragao Eletrénica Sergio Gzeschnik Produgao Grafica Ana Karina Rodrigues Caetano Preparagio de origin: Agnaldo Alves de Oliveira Revisio gramatical Maria A. M. Bessana Revisio grifica Flavia Okumura Bortolon Dados Internacionais de Catalogagio na Publicago (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Bras “Avangos ¢ polémicas em avaliago psicol6gica: em homenagem a Jurema Alcides ‘Cunha / Claudio Simon Hutz (org.)— Sao Paulo: Casa do Psicélogo®, 2009. Bibliografia. ISBN 978-85-7396-646-6 1. Cunha, Jurema Alcides 2. Psicometria 3. Testes psicologicos I. Hutz, Simon Claudio, 09-0619: cDD-150 indices para catalogo sistematico: 1. Avaliagao psicologica 150.287 Impresso no Brasil / Printed in Brazil Reservados todos os direitos de publicagio em lingua portuguesa & ivraria, Editora e Grafica Ltda. Rua Santo Antonio, 1010 Jardim México ¢ CEP 13253-400 ItatibalSP Brasil Tel. (11) 4524-6997 Site: www-casadopsicologo.com.br 10 DEFINICOES CONTEMPORANEAS DE VALIDADE DE TESTES PSICOLOGICOS' Ricardo Primi, Monalisa Muniz e Carlos Henrique Sancineto da Silva Nunes Universidade Sao Francisco Aavaliagao psicolégica figura entre uma das mais importantes competéncias profissionais do psicdlogo, que envolve a aplicagao de conhecimentos tedricos no entendimemto do funcionamento psicoldgico de pessoas e grupos relaciomados a uma demanda especifica de entendimento e previsio do comportamento. Em tais situagGes, os profissionais utilizam insttrumentos de avaliagao que so procedimentos sistematicos de obsservagao de amostras de comportamento, que tém como objetivo diescrever e/ou mensurar caracteristicas e processos psicoldgicos (Amastasi e Urbina, 1997; Cronbach, 1996). Um ponto fundamental relativo &(cientificidade desses instrumentos € tratado no conceito de vallidade, Historicamente, validade tem sido definida como 0 alcance em que o teste mensura © que se propée a medir ou o conhecimemto do que o teste mede | Asatividades de pesquisa dos autores desse czapitulo foram financiadas pelo CNPq, FAPESP e CAPES. AVANGOS £ POLEMICAS EM AVALIACAO PSICOLOGICA e de quao bem faz iss6\(Anastasi & Urbina, 1997). Ainda Standards for Educacionl and Psychological Testing (chamado da em diante de Standards) de 1986, validade foi definido como grau em que as evidéncias embasam as inferéncias feitas a partir escores dos testes” (American Educational Association, Americ Psychological Association, National Council on Measurement Education, AERA, APA NCME, 1986, p. 9). De maneira geral, os instrumentos de avaliagao propd tarefas especificas as pessoas: resolver problemas, concordar nao com frases autodescritivas, desenhar e contar hist6rias, enti outras, com base nas quais os profissionais observam e registr: seus COmportamentos) (desenhos, hist6rias, acertos) e por mei deles inferem a presenga de caracterfsticas psicolégicas espe: ficas, Na base desse processo, ha a Suposigao dé que as distint Maneiras|COmo as|pessoas respondem aos testes (comportame tos) s4o determinadas por suas caracteristicas psicologicas (trag latentes) e por isso as respostas dadas aos testes servem co! fonte de conhecimento dessas caracteristicas. Nesse contexte a questao da validade é o ponto basilar relativo aos estudos qi desafiam e corroboram ou nao as associag6es entre os comport: mentos na testagem e os tragos latentes inferidos por meio dest Os(resultados positives dessas pesquisas embasando(a relaga comportamento-traco caracterizam a validade dos instrumentos, Referem-se, portanto, a‘legitimidade das interpretagées feit: portanto, ao conjunto de evidéncias favoraveis as interpretag6 propostas obtidas em pesquisas destinadas a testar os pressuposte de tais interpretagdes. Seé um instrumento’nao possui evidéncias dé validade, na ha seguranca de que as interpretagdes sobre as caracteristic: psicolégicas das pessoas sugeridas por suas respostas na testage s4o legitimas. Nessa situagao, nao se tem certeza sobre o que 0 instrumento psicoldgico efetivamente avalia e quio bem o faz 244 RICARDO PRIMI, MONALISA MUNIZ E CARLOS HENRIQUE SANCINETO DA SILVA NUNES e, portanto, seu emprego em praticas profissionais esta ética e tecnicamente impedido. Como argumenta Muniz (2004), de uma perspectiva am- pla, 0 processo de validagao de instrumentos nao é diferente do Processo cientifico de validagao de hipoteses. Assim a validagao de testes é um caso especifico do processo geral devalidagao dé teorias psicolégicas por meio de formulagao de hipoteses, previsGes derivadas da teoria sobre manifestagdes comportamentais e verifi- cagao empirica da correspondéncia entre expectativas teéricas € os fatos observados. Assim, além de serem ferramentas profissionais, 0s instrumentos sao objetivagées de teorias psicoldgicas e, por isso, tém um papel fundamental nao s6 na pratica profissional, mas também no avango do conhecimento da Psicologia. Assim, a validade era operacionalizada por meio de estudos classificados em trés tipos, chamados por Muniz (2004) de “san? tissima trindade da validade”: validade de contetido, critério e construto. O primeiro tipo validade de contetido,apareceu com o objetivo de avaliar o contetido dosiiténisyde determinado instru- mento, verificando se sAo adequados para representar um dominio de comportamentos a serem mensurados. Esse tipo de validade € frequentemente empregado no contexto educacional, no qual é usual a verificagéo de se os itens que compoem um teste para mensurar desempenho em uma rea especifica de conhecimento cobrem todos os contetidos englobados por tal area. O segundo tipo; validade de Critéio, relaciona-se 1eficacia com que o teste prediz varidveis externas ou variaveis critérios, como desempenho profissional, notas escolares, acidentes de trabalho e diagnéstico psiquiatrico, entre outros. Tais variaveis s4o importantes em si mesmas e se relacionam ao construto ava- liado pelo instrumento de forma que a verificagio de associagao teste-critério atesta a utilidade desses em prever eventos objetivos rélevantes em Contextos aplicados) Esse tipo de validade surge 245 AVANGOS E POLEMICAS EM AVALIACAO PSICOLOGICA em uma época de forte influéncia do empiricismo na Psicologi Estudos de validade de critério sao essenciais para instrument cujos resultados sao usados como fonte de informagao para inf réncias complexas e usualmente com alto impacto, como € 0 ca: de testes para avaliagio psicolégica no contexto clinico, forense organizacional, entre outros. Oterceiro tipo de validade, denominada Validade de const 70, foi definida como’a medida em que um teste mede determina construto ou traco, ou seja, em que medida as evidéncias apoiat 0s significados atribuidos aos escores do teste: Essa tiltima apare em raz4o da crescente importancia das formulagées tedricas sobri © comportamento humano em Psicologia (Anastasi & Urbin 1997; Cronbach, & Meehl, 1955). Com o tempo essa definigao tripartite foi questionada aprimorada, em especial pelas contribuigdes de Messick (1986) Um dos principais@uestionamentos levantados por esse autor dizi respeito a definigdo de(Validade de constriito. Messick argument que tanto a validade de contetido quanto a de critério semp' apresentarao informagées referentes ao construto, no sentido que levantarao evidéncias sobre o sentido das interpretagdes d C8CSFES ASS testesembora, evidentemente, de natureza distint A primeira € associada a representatividade, a relevancia e abrangéncia das unidades que compéem 0 teste em relagéo construto que o fundamenta; e a segunda aborda questées sob: a utilidade pratica na previsio de varidveis externas relevant Assim, Messick destaca que quase toda informagao sobre o te: ira cOntribuir para sua Validadé/de!construto e, por esse motiv todo estudo de validade, em certo sentido, é uma verificagao validade de construto ja que apresentard pecas de informagio sobr como interpretar os escores de um teste. Em razao dessa discussao, foram propostas reformulagoes €Onceito de validade de construto reconhecendo-o como sinénii 246 RICARDO PRIMI, MONALISA MUNIZ & CARLOS HENRIQUE SANCINETO DA SILVA NUNES de validade. Assim, este passou a ser entendido como um conceito abrangente que inclui todas as outras formas de validade, sendo, portanto, inadequado sustentar a existéncia de procedimentos especificos para validade de construt6. Em ultima andlise, todos os métodos, de uma forma ou de outra, informam algo sobre como interpretar os escores do teste, ou seja, agregam algo especifico sobre quao bem o teste mensura determinado construto. Na sequéncia das reformulagées propostas, a expressao “tipos de validade” foi intencionalmente mudada para “fontes de evidéncia” de yalidade, A alteracado visou a reforgar a conotagao do termo como um conceito tinico, que explicita que as diferentes formas de estuda-lo (contetido, correlagées teste-critério etc.) tra- zem dados para sustentar a argumentagao a respeito da validade das interpretagGes dos escores do teste com uma finalidade particular. Nesse sentido, cada evidéncia especifica busca aspectos diferentes de um ponto conceitualmente tinico sobre como interpretar os escores de um teste) Assim, na tiltima revisao dos Standards nao ha mais um tipo especffico de procedimento chamado validade de cor struto e os antigos tipos de validade passaram a ser defini- dos como fontes de evidéncias de validade, como se vera adiante (Anastasi & Urbina, 1997; APA, AERA, NCME, 1999). Messick (1989) define validade como a medida em que as evidéncias empiricas ¢ os racionais te6ricos, ou o sumario indutivo, embasam 0s significados interpretativos e os usos propostos para o teste. Essa definigao associa validade a uma sindicancia cientifica que averigua os sentidos atribufdos aos escores do teste e também as consequéncias atuais ou potenciais do uso interpretativo dos escores. Nessa proposigéo ha quatro questées inter-relacionadas relativas as quatro facetas progressivas da validade sumarizadas na Tabela 1:((a) Quais evidéncias (balanga de evidéncias) sustentam a interpretagao ou 6 sentido dos escores)(validade de construto)?, (b) Quais evidéncias sustentam a relevancia dos escores para 0 247

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