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Copyright ©2018 by Operetta Jacinto Nelson de Miranda Coutinho eH CATALOGRAICA Leonardo Costa de Paula Marco Aurélio Nunes da Silveira ws (organizadores) cranked meats pecene peal bal) 1, rma pnt 2 lm, purl pa Co CORSERVATORIO DA MENTALIDADE INQUISITORIA Presideme de Honra Jaci Nelson de Mrands Coutinho residente arco Aart Nunes Stveir A _ {ona Cora ge Pala MENTALIDADE INQUISITORIA E Deora Create Gimiin sree de Po Coorecnaser Sgexsivo_jocmtn ution econ PROCESSO PENAL NO BRASIL CCoordenador de Ensino Jaime Nelson de Stranda Couinho Coordenadoy earl ‘ate Arco wines és Sera eae AS Estudos sobre a reforma do CPP no Brasil Fada atone Le owe se VOLUME 4 eonardo Costa de Pala Marco Aurélie Nunes da Sveira Marila Denardin Budo Mauricio Stegemann Dieter Priscila Pacha de S3 Victoria-amalia de 8. C Cozdawa de Sulock Editor responsavel Marco Aurélio Nunes da Svea Endereco, ua Washington Mansur, n_ 343 - Sarto Ahi CCuriba ~ Parana ~ CEP 82.025-060, worn observateniomt.org br 0s eres de eicso deste neo 880 reservados 30 Obsret ri a Mertabdade esseeazore ‘ico ou reproduc, eal ou parti, dese a, so gualve forma ou nom ree lorem ot maior empregatos, sem permisio expressa «por ere Gani uritiba Impreso no Bast 2018 Prnced on rae SUMARIO Linhas de um processo acusat6rio .nnemenmenrn Franco Cordero Conferencia inicial del tercer mentalidade inqusitoria. Eduardo Gallardo Frias 49 A funcao estratégica do Ministério Pablico: reflexdes sobre os Principios da obrigatoriedade e de fiscal da I 67 Leone! Gonzilez Postigo © principio dispositivo em matéria de prova no proceso 81 Reforma del proceso penal en Paraguay, figuras juridicas introducidas y los aspectos negativos del proceso penal actual....97 Christian Bernal Democracia sistema inquisitério: a farsa do combate a corrupsio no Brasil ie mt Jacinto Nelson de Miranda Coutinho As linhas de um processo acusatério de Franco Cordero ¢ a reforma do processo penal brasileiro: breves comentirios sobre algumas ligdes fundamentais wmeminemmnnnennnncnenemne 123 ‘Marco Aurslio Nunes da Silveira Juicio abreviad? L itiva: consideracdes criticas sob ici jado e eficiéncia punitiva: consi se eS poracio do plea bargaining no process penal chileno ....13 cor] ‘éssica Oniria Ferreira de Freitas 0 de acusado nas primeiras Ordenacdes Portuguesas; A concepsa ma ‘as relagées entre o individuo € o pode! Margareth de Abreu Rosa A. cultura inquisitéria mantida pela atribui¢io de escopos metajuridicos ao processo penal 17 Leonardo Augusto Marinho Marques e José de Assis Santiago Neto Rediscutindo a obrigatoriedade © a indisponibilidade da acio penal piiblica: hi espago para clas em um processo penal de base 197 Processo Camilin Mareie de Poli Consideragdes sobre 0 prin no proceso 241 Breves apontamentos critico-descritives sobre 0 “estado da arte” dos trabalhos apresentados no 1V Congresso do Obsevatério da Mentalidade Inquisitéria: problematizando 0 novo Cédigo (¢ 2 cultura) que vem... Marcio Soares Berclaz. A mentalidade inquisitéria do novo: Cédigo de Processo Penal ea distancia do sistema acusatério... a Felipe Amore Salles Souza e Pedro Roque de Sousa Cameiro A gestiio da prova e 0 rastro de inquisitoriedade do projeto do novo Cédigo de Proceso Penal (PL8045/2010) [Barbara Vargas Zambrana e Kénia Gabriele Coelho Souza, A emendatio libelli ¢ a mentalidade processual no Brasil ¢ no Chi Gabriel Rodrigues de Carvalho A origem da mentalidade ing Daniel Kessler de Oliveira ¢ Aury Lopes Junior A cultura inquisitéria e a motivacio das decisdes de decretagao de prisio preventiva no Brasil: uma facil adequagao axiol6gica ...359 Stefano Volpi CONSIDERACOES SOBRE O PRINCIPIO DISPOSITI- VO NO PROCESSO PENAL' razao Della Villa® Giovai 1 INDIVIDUALIZACAO E SISTEMATIZACAO DO PROCESSO PENAL © processo penal é conceituado como instrumento de aplicagao do Aas ow: 1S 1 2017 3 LANGER, Maximo d grande. Op. itp. 321, 24th, p39. 248 (GOVAN FRAZAO DILLA VILA, que as andlises passem a compreender pesquisas no s6 qualitativas mas também quantitativas; ¢ por fim, no nivel normativo ele ressalta ‘a importiincia de distingdo entre forma e substincia.* Uma questio salutar para leitura do trabalho de Langer é perceber seu lugar de fala, ou seja, qual influéncia ele recebe ao se motivar a escre- ver sobre tal tema. Nisso, a primeira coisa que salta a vista € que Langer esti inserido numa cultura de um modelo processual acusatério. Tanto € assim que vai tratar ja no titulo de seu trabalho, primeiramente, a palavra acusa~ trio, e depois a palavra inquisitério. Pode parecer pouca coisa, mas Se tomar a devida atengdo nisso, pereebe-se que estar imerso em um cal- do cultural acusatério com reflexos inquisitérios ¢ bem diferente de viver sob os influxos diretos de uma cultura inquisitéria, que mal con- segue vislumbrar momentos acusatérios no processo penal. Na visio de Langer fica claro que Acusatério vem antes de Inquisitério. Para um pais como o Brasil, que sempre esteve inserido em uma ideo- logia inquisitéria, pensar em superar 0 aspecto dual das estruturas de- monstra até uma certa ingenuidade, jé que nunca se superou nem o modelo inquisit6rio. Isso sem contar que implicitamente a Constitui- fo de 1988 prevé como necessiria a estrutura acusatéria. Em segundo lugar, ji no primeiro parigrafo de seu texto (citado aci- ma), ele aponta o estudo a um campo transnacional. No corpo do tra- balho também se pereebe a devida importiincia que Langer dé ao con- texto transnacional de aplicagao do processo penal, inclusive afirman- do que a anilise dual ndo seria apta a esclarecer os casos de delitos transnacionais e seus processos, pois os estudos do campo se interes- sam unicamente pelos casos penais de uma tnica jurisdigio (de um Estado-Nagao)**. Entretanto, ha que se ressaltar que 0 processo penal atua sobretudo nos limites da soberania do Estado, que € um fator espacial de limitago dda competéncia em matéria de aplicagao da lei penal. Com isso parece até obvio que uma aniilise de matéria processual transnacional no dri, p. 330-332, Mid p27. ue MENTALIOADE INQUSITORIAE PROCESSO FENALNO BRASH - vou. « consiga se encaixar no contexto dual, mormente quando dois paises trabalhem com sistemas distintos. Se no ha competéncia atribuida pela soberania, ndo ha sequer que se falar em processo penal (20 me- nos, nao em relagdo ao que se entende por processo penal de um Esta- do de direito). Da mesma forma que Langer (como ele proprio afirma), diversos ou- {ros autores partiram na empreitada de tentar superar uma anilise dual das estruturas processuais penais, todos sem sucesso, mesmo porque as estruturas se mantém intactas, Pode-se citar outro exemplo, em trabalho também muito bem produzi- do, do artigo de Winter: “Acusatério versus inquisitério: reflexdes sobre 0 processo penal”. A autora utiliza os termos na tentativa de apontar as formas dessa classifica¢o no processo penal, para se co- nhecer os conceitos, e apés poder “argumentar contra a sua utilizagdo extensiva.™* As pontuagées realizadas para a leitura de Langer, em parte também servem aqui, pois © contexto social em que Winter esti inserida (estru- tura espanhola) jé se utiliza de uma estrutura acusatéria de processo penal, muito diferente do que ocorre no Brasil. Winter por vezes utli- za inclusive o conceito de sistema processual penal, contudo, sem de- signar como se estruturam esses sistemas ou como se regem. A autora afirma que: “na busca de solugdes para um processo penal justo ¢ efi- ‘caz, partindo do consenso sobre a garantia da imparcialidade, acredito que chegou a hora de superar a dicotomia “acusat6rio versus inquisité- Como rere metokigio ao tara de psa, no is dco sabre o aque ita ral do procso pera earvaio,é pose verifcar que os tata intercon tr Se ‘ers elaconads a prceso peal eabelecom implica a ao de ura cau ‘ria Contato. ila de cornea e uid de conceit do quem seem cus € © ge sa stam ingusto (mesmo que db pono de vista forma), acuta dieuldads de imate mariner qa site dev api A aor ¢ profesora de Dito Procesual Peal da Universi Complutcrse Matt lpn WINTER, Lorem Bachar, Arising vers Inui: rene 0 (FOS feral: GLOECKNER, Rican Jcobsen. (0). Sstonas Process Pees. a's ‘apério do Dircto, 2017, p. 59. Antigo original em: WINTER, Lorena Bachmaict. ACES ‘eras inustiv, Reflenes acre dl proces penal iz (Coot. Pres pore ‘mas axes. Mai: Marcial Pons, 2008p 48, 250 (GOVAN FRAZAO DELLA VILA rio”, Parece que, como afirma Langer, mesmo que tente superar a dicotomia, ainda esté a sombra tedrica acusat6rio-inquisitéri Algo que salta vista, em que pese todo o esforgo dos autores, ¢ da falta de uma construgdo tedrica sistémica que dé conta de separar as Bika p. 92. “Para sr reid, idea pris de um exo, Sa, de wma mutica eel de tur onde das pris dtemanadas a prior, segundo o principio da fnaliade.O esquem que 0 Ea. Hale: Oficina Libaia Rengerana, 1762. Disponivel or -. Aces em: 15 mur 2018 NETTELBLADT, Dani Sistoma clomensare Inverse postive germanorim commas general Hala: Office Librarian Rengerana, 1781. Diponive me ‘Aceso em 1S mar2018. tide p 242. * Dvrsos aos que taalam o ema de poaeso peel seeding 0 pinpio ge Re 0 sistema anasto & 0 pip acuta, sem qus, conta, consign ex un casio univoco sobre tl sinifcane. A doutina tara em sa grande mica a taku arm ako _damove de princpndspestiv, um significant que apreenta maior arses ago ga Aquilo que ¢ 0 contetido do Dispositionsprinsip vem traduzido como se fosse 0 conteiido do principio dispositivo, entretanto, trata-se de um desdobramento do principio dispositivo, aqui conhecido como principio da demanda.* Enquanto o principio da demanda se relaciona ‘apenas com o exercicio da a¢io (limitando, por exemplo, a agao ex officio), © prin positive tem um conteido mais amplo, e se relaciona com 0 processo durante todo seu percurso, em especial na limitago probatéria do juiz.°* ‘Apesar de 0 esforco na diferenciagao do conteiido da disponibilidade ‘no campo material e no campo processual ter uma finalidade especifi- ea no processo civil, que ¢ possibilitar a instrucio probatéria pelo juiz €, mesmo assim, no negar a estrutura dispositiva dos direitos materi- is, ainda assim, a diferenciagZo serve para deixar bem claro que os _rogresivamerie obtandont, ato che 2 verso la mets del AIK solo ness legisione Glsica opi inproriia all Unersucrgsnaxine Daa la idrciake depenbs {dl gem del proces cil i pat del meds basi comic cea el pcs che il princpin dspasina sia wn cpifnomens dela depend”. BRONZO, Pasyale Upencpo Aipostio in tam di prov’ nel proosso pone. Risa Iams per le Scie Gieche. 1 pricpl relleperin giiten Nemes spctle. Ati dd Canegm dela Pasha & (Gaxingroera dell Sapienza, 1415 nov 2014,p.413. idan idm pl * Na lilo principio dt demands ism seu conte deimaado ma Contigo de 1946, que ‘sta em vir em 1948, pn ropa do obigtredade do a0 pra, pews mo aig 112 in veri“ pubblico minisero ha Pobio di exerciare cione pone” wisn pico tem akeipeio de xia ao pra, motivo pelo qa i uma carta rescia dh anc de esse deport do conic do roceso pa. *SBEDAQUE, Jot Roberto ds Santos Padres sonia dpa. 7 rv, atl. earl. SSo Pa: aitra Reis dos Tribus 2013, p. 94-105. 259 MeNTALIOADE MQUISITORA E PROCESSO PENAL Wi conteddos materiais e processuais da disponibilidade sio distingos 6» Ou seja, nfo se pode falar que de um direito material de conteido jn. disponivel decorra automaticamente um direito processual de cone, do indisponivel, jé que tem conteiidos distintos e podem divergir, um ‘endo disponivel e 0 outro indisponivel, independente de ser rea ciyi} ou penal ‘Além da distingao entre 0 contetido dispositivo material © 0 contetido dispositive processual, ha que se ressaltar, conforme assevera Riccio, {que 0 principio dispositivo existente no processo penal nao tem exa, tamente o mesmo conteido do principio dispositivo no processo civil, de modo que se nao deve transpor 0 conceito de um campo ao outro sem a devida interpretagao”. Diante disso, passa-se primeiramente a andlise da disponibilidade do conteiido material penal e, na sequéncia, do contetido processual pe- nal. 3.1 DISPONIBILIDADE DO CONTEUDO PENAL MATERIAL Conforme expe Dias, 0 processo penal se relaciona com o direito penal numa relagao de miitua complementariedade funcional, de modo ‘a concebé-los como participantes de uma mesma unidade, que ele Grande pare da fase de pensarento de que ¢ posive o proceso civil estar pasado uma en tur nist ver dos estalos de Calan, dere os quis se pode cia: CALAMANDREL cro Il proceso inustorin ei dito cvile iz. Opere giaidiche.v. 1. Nepol: Mora Faire, 1965p. 415-426: CALAMANDREL, Pier, Line fordamenali del proceso cile whe Opere giridice. v1. Napoli: Morano Faure, 1965p. 145-176 rai careteristcas Mo exuem, porn, que mesmo ness tos de process poss cre imgesoo princi da disponbiidade,cnqumto a inlisponibidade do iri ou da itso aon reli a qu se dscue po proceso nio comport, defo, inispomibiidade dos pips podkres processus” Tradaso livre de: “Tall caraterisiche non escludon, pei. ce ache in ct tp d proceso pasa rare ingress il prbeipia di dsponbl n quo | ndspondls (4 dito 0 dla sincsone giurtica boro a cui si dscute nel proceso non conporas fo indent dei sngol pote processus”. MASSA, Carlo. I principio disposi nel rosso pena Risa itaona drt e proceckea penal p.351-413, abe jun 1961, p 364, ECONSO, Giovanni. Vere flso ne rincipi general del proceso penae italiano. Rvista tons dri e procera poral. p, 29-303, abejun 1958, p.294. % RICCIO, Giuseppe. La volo delle part nel proceso poral. Casi inice Dot. Eapsio Jovene: Napali, 1969p. 148-149. 260 ip oo bea ee chama de direito penal “total” (donde se poderia dizer: sistema de jus- tiga criminal), que cumpre a fungo especifica de protesao dos bens fundamentais de uma comunidade. ‘Apesar dessa evidente relago, as disciplinas se desenvolvem auténo- mas e, com isso, a tratativa do contetido da disponibilidade do direito ‘material serve para elucidar a inexisténcia do epifendmeno da (in)disponibilidade no campo penal. Em se tratando de direito penal ¢ tendo o Estado assumido o monopé- lio da resolugo dos crimes, restou excluida a possibilidade de autode- fesa, criando-se regras mecanismos para que se nio levem a jurisdi- 20 todos os crimes, independentemente de quais bens juridicos este- jam sendo protegidos. ‘Se © conteiido do direito penal so os crimes, pode-se afirmar que, desde um plano formal da anilise deles, sejam todos indisponiveis, ja que o Estado excluiu a autodefesa dos bens juridicos penalmente pro- tegidos e, com isso, teria o dever de resolver todos os casos penais. Entretanto, partindo a andlise desde um plano material, é possivel di- er que a indisponibilidade total ¢ impossivel ‘Num primeiro aspecto, em relaco ao contetido subjetivo das viti dos crimes, podem ocorrer casos em que clas nio desejam a punigio do culpado pela violagio de seu bem juridico penalmente protegido (por exemplo, num crime de furto, a vitima pode entender que para ela € melhor ndo buscar a justica criminal, pois essa situagdo seria mais, desgastante do que abdicar de seu objeto subtraido). Noutro aspecto, jéi tomado objetivamente em relagZo ao proprio Esta- do, e ndo mais em relacdo as vitimas, pode ocorrer que a persecugio de determinados crimes no seja viivel. Esta situagio se relaciona diretamente com 0 principio da lesividade do direito penal.*’ DIAS, Figneiedo Dito Procesual oral. |. Cina: Cob ira, 1984p 24-28 * Confome asevera Ciro dos Sats.“ O propio da svi probe a caning, a ai: 8 ea exccuso de panase de medidas de segura em casos dss recess cra bos Jc proc gos na ke pene, Em ours alr, princi dh esd tem por ceo o bam, fea mtr do bn ro sad do porto de iss que, an pox de 261 x TALOADE WOUISTTORA EPROCSSO PNALNO BSA oq 5 Foes citar ainda a questio da possibilidade de incidents de dsp nibilidade relativos a crimes ja acertados, como 0 caso da anistia, cg sr ndulto, Sio casos em que o Estado dispe total ou parca. atte da aplicagao de pena jé coneretamente determinada a um cig dio.” a ‘assim, o dirito material penal a estipula situagdes em que 0s crimes se Nomam disponiveis as vitimas ou a0 Estado, de modo que nio hi ue se falar que odirito penal seja plenamente indisponivel ‘A extraturagdo dos lipos de crimes previstos no ordenamento brasil fo poderia remeter& seguintedivisio e classficaglo: crimes piblics; ‘rimes semipiblicos; crimes particulares: ‘Com isso, classificam-se como crimes particulares aqueles que “nag se relacionam com bens juridicos fundamentais da comunidade de nod tho direto e imediato que aquela sinta, em todas as circunstin. ‘ins da lesfo (_.), necessidade de agir automaticamente contra o infra. tor”*!, como, por exemplo, nos crimes contra a honra. Desta forma, se ‘ vitima nfo entende que 0 crime merece ser punido, a comunidade também entende que 0 caso ndo merece ser processado. Trata-se de um direito disponivel. Seguindo o mesmo raciocinio, nos crimes semipiblicos, pode ocorrer que processar o caso sem 0 consentimento ou mesmo contra 2 vontade _ ‘inal oprncpio da vdae impede a rmiaizo primi ou senda casa: os haar des Rienies ewstiuconas de pomerin, de conscnca © Je cra, de ees noha eps ou de expresso da atid rica, arta, ciotiica 0 de comacs- (Gh, ds pela Contino da Replica scinn de qualquer restigo da lesan pa {Ee Finis omstioraiindinks eve ser objco de maior gana posta como en to de cominalzag ¢, iversameric, da menor limtaeso negativa como objeto de criminaizagso ‘orp dy Esai 3 Do porto dvs quitatvo (ens da esto do om juin). o pc i a evade exci a eriminalizago pimria ou sccundiria de lesb elevates de bs a Foes Ne mao ncn da evade a capes psa do prio d nips {En Dc Pera: sds spaces de bons urns prac com ita use Spec shoe a Hoe a propia a sexulidade a lo conic erime” CIRINO DOS SANTOS, hae Din Penal Parte Geral. El ev aul ap lrnipos: Ep Dic, 2017p. 2728 £ BUSATO, Palo CEs, Dito Penal Pare Gera 3* Bev atu. aml So Pau: is 2017 9 585-587, © DIAS, Figueiredo. Direito_ Op. ct, p. 120 “* Thidem, p. 121 262 raazKO DEA VILA, eS ——— 4a vitima acarrete em maiores prejuizos & invasio da esfera intima ela, do que efetivamente da perturbacdo social envolvida no caso * io 0s crimes piiblicos, a questio é que a legitimidade para re- querer 0 processamento do caso tem carter piblico e remete a0 Mi- nistério Pablico a vinculago da a¢do, a depender do preenchimento das condigdes para o exercicio da ago legalmente prevista.@ De acordo com a classificagio dos crimes acima exposta, pode-se afirmar que no epicentro do terremoto da perturbagio social estdo os crimes piblicos €, na medida em que o tremor se afasta do centro, a perturbagdo social é menor, onde se localizam os crimes semipiblicos ¢, por fim, a margem do sistema onde a onda de tremor da perturbac3o social é quase imperceptivel esto os crimes privados. 3.2 DISPONIBILIDADE DO CONTEUDO DO PROCESSO PENAL Se 0 conteiido do direito material penal é o crime, € 0 objetivo do reito penal foi determinado como a protego dos bens juridicos fun- damentais de determinada comunidade por meio de tipos penais in- criminadores, ha que se afirmar que esse contetido em nao sendo auto- ‘executivel, depende do processo penal para se realizar. Entretanto, desde logo ha que se entender que © conteiido do proceso penal ndo é 0 mesmo do direito penal. O marco teérico brasileiro na delimitago do contetido do processo penal é de Miranda Coutinho” Portanto, o contetdo do processo penal é 0 caso penal, e nao o crime cm si, mas o que se diz dele. E aquilo que vai ao processo na forma de conhecimento, por meio das provas, a fim de ser acertado por uma deciso jurisdicional sobre a aplicacdo ou nao de sang3o penal. O caso penal é conexo ao crime que € sua causa, mas tem conteido totalmen- te distinto, pois sua implicagdo é processual. im, “lie, 0 sue decom a dia de lide aplica 90 proceso perl ¢ rene o con do proces {lao ge car cn pel MIRANDA COUT, Neon dd i Op PAHS 263 ONPAIOADE NOUESTONA PROESSO PAL WO BAS yo, ima, no se pode afirmar que 0 contetido do direito pe. npre indisponivel. Da mesma forma, ndo ha con, teido do processo penal é sempre indisponivel, 4 bilidade ou no do contetido do processo pena, utrindrias, legislativas © jurisprudencias, Nay sma escolha ideol6gica referente a0 cenario em visto act nal material € sem afirmar que © con! cscolha entre disponil atravessa escolhas do sobretudo, ¢ fruto de u ‘que a estrutura se aplica. Na ltilia, grande parte dos doutrinadores do processo penal ¢ das co. Cassagio entende que a matéria penal é um bem indisponivel, tes de as principalmente devido a0 fato de que a Consttuigao italiana peyg ipreseamente uma regra de obrigatriedade do Ministrio Palio em exercer a agdo penal. Uma possivel resposta histérica para tal entendimento decorre do grande esforgo que a Constituinte Italiana teve para limitar as manipy. ages que ocorriam durante 0 periodo fascista, em que © Ministérig Piblico era vinculado ao poder executivo ¢ utilizava o processo penal ‘como forma de controle social seletivo aos interesses nacionalistas. Diante do fim da segunda guerra mundial ¢ da queda do regime, a di- reco foi no sentido de barrar essa possibilidade de tratamento desi gual, delimitando a obrigatoriedade da ago penal em regra constitu ‘Numa consequéncia l6gica da indisponibilidade da aco penal tomada como obrigatéria, lé também se entende que 0 processo seja indispo- nivel, 0 que leva a certa mitigacao do principio dispositivo (apesar da possibilidade de 0 Ministério Piblico desistir do recurso). A resposta legislativa foi nesse sentido, pois 0 Cédigo de Processo Penal italiano de 1988 previu expressamente a regra dispositiva na produgio proba- t6ria, contudo, possibilitando a instruea0 ex officio pelo juiz nos casos expressamente previstos em lei®’. Nas palavras de Cordero: “é um * Cig de Proceso Peal ean. An. 190. “Dirt alla promt: 1. Le prone smo arms 2 chit pare I gad prs scart con odin xhahoe ke preva dil Irae que che asifotanone son sprue orient. 2 Lage stable ica mc prow son ames uf” (Taboo & pro: 1. AS povas oa ob ‘reno ds pares Ou providence ano com om exci a pss west se cag que mnie So spire levers. 2. eal sccm ES ro oat de fc) 264 ea ee residuo necessirio estes poderes de intervengao direta, coordenadas pelo sistema penal italiano: ago obrigatéria desde que irretrativel ‘com objeto indisponivel e nao o seria mais, ao menos de fa to, se a quem julga fosse negado todo acesso a prova."? ‘esse sentido, Caraceni afirma que: 8) No que diz respeito 20 principio dispositive ~ pelo qual a iniciativa instrtiria esti nas mios das partes ~ vem introdurida a garantia de intervencao do juiz toda vez que vislumbre lacunas incompletudes no material probatério sobre o qual deverd tomar sua decsto. A exigéncia de assegurar um acertamen- to correspondente & insincia de verdade e de justica conatural 20 exercicio do poder jurisdicional reclama a partcipagao ativa do éngio tercciro na dindmica de acertamento dalético, porque ~ como evidenciamos ~ a materia penal é bem indisponivel. Como foi observado na jurisprudéncia, “a coletvidade nio pode se dizer indiferente em respeito & definigao do processo segundo justica, de ‘modo que 0 juiz nio pode restar inerte quando a inatvidade ou hiperatividade «de uma das partes ameace a posibilidade de chegar atl defniglo". b) Mas esta necessria ingertncia do juiz no dmbito do dircto das provas ‘mantém uma coeréncia em relagdo a0s cinones do justo processo, com particu- lar referéncia a0 valor da imparcialidade, na medida em que tenha uma tomada residual, sto 6, coloque-se em uma dca de integragio, funcional ao desenvol- vimento © a0 complemento das teses projetadaspelas partes. A intervencio de ‘fcio se coloca como sugesto, impulso, aprofundamento, sem nunca se trans- ‘mutar em invasio, suplanta;So ou autdnoms iniciativa heuristic. Sendo neces- siio que o juiz permanega indiferene em referéncia& posigio em um conto, deve se tratar de um poder excepcional, acessrio e auxiliar em relago aquele {as partes, através do qual ele se limita integra eventuais temas de provas que emergem da instrugo, mas que restam incompletos.” Trad lve de: “Sao un reid ncesaro gust pote drut dino, coon a soma ponae lan: aconeobblgsaoria nonché erable: proceso a gt indcponae ‘em bo sachbe pi, amon de frm, se a di gid fase nega ony aces ala preva” ‘CORDERO, Franca. Proc ponale 7 Ed, Milano: Gili, 2012p. 617. 2 Trad lve de: “Rape al principio deste ~ peri quale Vince rater & lle ‘meni dele part — view iraradoa ta gorarcia del! nerve de gutce ogy gual vols rast lexan ed icomplete=e nel materiale probetoriosucai di rede la sa sioner

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