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am nenemnenltcn vol | NA CASA DE JULHO E AGOSTO Geografia de Rebeldes III net 10 DE FACES prpar : : He um posficio (ou um preficig jidos. Ninguém € obrigado a fazer Visita; Necessari ser we de recusar chaves. Mas, se ee lido , todo ou texto que acompanha, Abr > © Posficig ee com que € aquele que verdadeir. ter eficio passam a coexistir ¢, c ) nao tém amente import, ¥9 Dosfécj ©M ele € escother”, POSfacio on uma escrita que nunca se faz em ; Solidao. Neste ie 9 caminho de i i = S 2 mar-me do texto primeiro por duas vias. reew 0 resolyj aproxi- dido deste livro, que esteve p ‘eran, do o ti me ttulo per- me para se chamar “Herbario g fi = entregando a escrita do posfacio a tra que das do corpo do préprio texto, » figuras que, sai- a Mulher-luz, que também se p -chasna ou Mulher-vela, beguina que vem do lugar do Ii costura) que é a casa do impressor de Antué: 'Vro (e da o Homem-sombra (Homem-ag, Tpia Plantin-Moretus, Y ua? Homem-carta?), um ainda enigmatico Luis M., deslocado da beira de . Tejo-rio, homem que se tornara crianga, como Zaratustra, ‘a em processo de ser transformado em ser-de-futuro, ou no «pobre» de nome Comuns (CamGes), conhecedor das Mil Palavras (que te r aprendido, pro- vavelmente com 0 mistico sufi Al-Hallaj, nas nascentes do Tigre e do Eufrates, onde se aprende sempre «uma palavra, e sua sombra»); finalmente, a voz do préprio Texto, forga viva e circulante («o texto circula para romper o que esta preso»), ele também figura de pleno direito, legitimada por tanto livro de Maria Gabriela Llansol. Hi n-sombra: . a primeira trilo- a Casa de Julho e Agosto € 0 livro ae eae aes la Ci je A ' 2 1, «Geogral * ia Gabriela Llansol, gia de Maria 133 : am, S Suiadas t Ente de Mulher-luz: Fecha a trilogia por fora, mas nao texto por dentro. Basta lembrar-te (por eu sim, emblematicamente, através da Penialosa) que no final de A Restante Vi e abre caminho, no lugar da sua cabe gués), «forca verde e perversa». ja ai «Ana de Pefialosa estava na casa e Julho dando a aproximacao desse mar». Ou sejar o "fey SO Texto, Texto-morto, Texto-posto. Alids, no inte abe ¢ até hoje, nunca o movimento parou. Posso afirma [om ekte ja venho do principio de tudo. Eu nasci a : » Por no béguing, pordue ei : ye tu és ainda sé sombra do que seras, acabaste de Be de Bruges, ‘ a nas. enquanto, és apenas um menino que nos escreve ¢ wae Bay . oy ; al a terceira, sabio como és, cee — mas odes cont, ‘ar as ence ‘que pa rovimens, AO estayas j.° nossa Grande Ma mag mal meaner sai da igs E iamabain coos 20 mar Gok pe DOdectan taney Saber ja percebias que nao p nossas vidas, mas tio somente mostrar os NOSSOS rasto; SS Sy fogo, Elo, ndo é histéria que possamos conta,, S WuExa Texto: Se me é permitido falar (eu falo!), posso confir facto, assim. Até hoje, nunca © meu movimento se interron, Nao foi uma figura minha, Hélderlin, que afirmou que cee ritmo»? E nao € 0 ritmo o fluxo e refluxo daquilo que jamais para, € que nos prende pelo fascinio do que nao tem fim e pelo perige en, mar que é, de do enigma que contém? Mulher-luz: E nessa Casa de Julho e Agosto, abandonada pelas figuras da Comunidade anterior dos mais intensos, neste livro ja dis- tante, que se anuncia uma mudanga de ritmo, que se comega a dar a inflexao na deriva da nossa rebeldia, que vem do Norte, dos labirintos de fogo da interioridade e do rigorismo da liberdade de consciéncia, e agora desce ao litoral sul para ai se encontrar 134 is arcaica — ou devo di mais ar Javoura a cont da gleba e da Agua, de? — que ee postion Palavras que sobreviverao 4 das «Mil mbra, este Luis M. que ed -SO) = Homem ca e para pobre. A sua voz, para crian’ a forma amativa do seu ir « deixa ae das nascentes e da foz dos gr jue dada, m_nascer para a Histéria, Homem= oO morte, Zer: ma’ com a grandios dad. Primitiva, mais «mao talbada na escrita», na e &pic; a de Luis M,/ Morte». E daj ‘ucamos, Veo dom Comuns, a que vem o Ma evoluir -earta, a mol- que viram ‘a © crescer p; Sabedoria, in, homer andes rios errar na vid. Ja «luminosidade intima» da nossa la « pel nosso amor completo — é sta de nos pleta, € do im e as minhas irmas beguinas: as Damas do Amor chamar, @ re berd ele que © amor a que aspiram algumas de a Completo- sem obediéncia», o de Eleanora, amor éo« diz que «assume a for¢a da poeiran, a dal mesm: ena noss de qualquer sistema de principios»? 1. ie moral, ara a com nos a catara, que de si ou também jd o do Aj florescia sem rosto, fora de qualquer Al-Hallaj, que « o mestre Homem-sombra: sei que vos devo tudo, ou muito do que sou. Do Pois, Lo este texto onde me encontrei convosco, porque que sou ants a dizem, terei falhado encontros decisivos (con- fora eos jue nado fui sé eu: desde que me conheco que sola-me 0 saber q al falha ou evita encontros de See este pais da peas o disseste, no Falcéo no Punho, lem iota Tu proprio, aoe comnoes saindo de Portugal ao encontro = cs Suen teria sido tao renee ° an on Copérnico (- ) Camées podia ter entra lo any Mica nn @Os Lusiadas (. Puro Amor, o que teria dado a sua ae os de Fiéis do Pui © contrario é igualmente : ae inesquecivel.... ( an eole dado a Copérnico, 0 Ta dadeiro. O ae eee nascente nao tivesse sido um “s terfamos ganho s| aseco’?» 135, Texto: Que tom é esse? C eT achas — como ja vi escrito algures —_ We eu teescren portuguesa associando-a a outras numa busca ¢. att gindrios que, por serem imaging { € Projectam visdes utépicas? Eu nune | que ndo foi. A autora que me escr | parente, € 0 lugar, nao do que podia ter sido & Nao { | visio da Historia de outros, e lembro-te uM autor den i Saramago), mas daquilo que nele 6 e um dia sera fora ite ® vA nao é uma dimensiao elegiaca, mas de esperanga, de — “ eudemonista, ou de uma utopia do concreto, : te outra vez na mel . cu © eneontry, OS, trazeny reve d ssa O7, SE esta “4 Ucronig a dimensag de S€ eviden. dizer ma } possibilidade, e nao de verosimilhanea frus tada, que na minha escrita descentrada. Ainda gostava de te { alguma coisa sobre isto... Homem-sombra: Espera, deixa-me ver se Percebo primeiro a causa das Coisas, de eu estar em ti, agora e depois, na companhia que me as naste... Por agora, acho que ja entendi qual € a estética Visionarig que vos guia na casa de Julho e Agosto, a vés, mulheres livres que cruzastes o tempo. Gostei do modo como o Texto, neste livro, vos vé: «enigmas ponderados e resplandecentes» (de mim, diz apenas que escrevi um «Livro de ponderacao», espécie de contraponto nacional da Biblia Poliglota que o astuto Plantin vos deu a ler), Soube depois que tu, Texto — tenho de me habituar a ideia de que posso falar contigo — continuards a escrevé-la no “Litoral do Mundo”, a trilogia que se segue, porque em ti nao ha principio nem fim. Nao és tu prdprio, Texto, quem afirma que «a experién- cia de morte é talvez 0 indicio do comeg¢o da obra»? Ideia estra- nha para quem, como eu, escreveu esse livro de ponderagao, que logo foi visto como livro definitivo. 136 aa (Texto? ; ha, de fac’ Em mim nao ha, de facto, nada de definitive, ». No corpo de um dos 0 a Senhor de a unica frase do «Per flogo» que, no titulo, regre: an paumeraats a esse Lugar que? mim préprio me viu emergir para a vida (© m, iO) Livro das Comunidades), & «Era o fim do t eu nome era exto, mas fim meus filhos, a quem dei o nome de O oat) provisorio. Mulher-luz: Repara, Luis, como este Texto se suspende e se Tet oo ae oma, respiragao longa do trago e no precipicio da virgula. A tu ad la. a ter- ceira carta, que abre Na Casa de Julho e Agosto, j4 mos também tu aprendeste a pér em pratica dispositivos ee ae menos mentais. Um dos mais argutos legentes tan ‘Texte ee ” ‘Augusto Mourao, liga este dispositivo textual ao clinamen i csacaminha para outra coisa que no o mesmo, anunciand ma mudanga de sentido» ou indicia mesmo a inutilidade aS busca do sentido. Para voltar ao nosso tema (nao ha tim, tudo é ritmo): 2 chegada ao sentido significaria 0 fim da produtividade textual, 0 fechamento de um livro seria uma recon: Gao a que se chega por chantagem, como no romance. Viste como nas ulti- mas paginas deste livro — que no ser§o as suas ultimas, mas as primeiras de qualquer coisa ja em devir ai — tu préprio inicias a mudanga para Comuns/pobre, e o jovem rei Sebastiao se pre- para para se tornar Dom Arbusto, porque os velhos do seu pais, na sua «mascara feroz», O mandaram para a guerra? Vés como a causa do amor livre das beguinas nesta Casa de Julho e Agosto, na dobra de um livro, opera uma transicao sem costura para a Causa Amante do seguinte? E como os seus saberes, os seus poderosos ndo-poderes, ressumando heresia e promesssas, serao retomados nos Contos do Mal Errante, livro da afirmagao de uma arte muito nossa, da inteligéncia e do amor, e de praticas de uma relagao impar e de um conhecimento sem limites, embora nao infinito? 137 Homem 30m para a minha carta-prélogo e entendo ty, ongu v0 podia screver s0DFe © YOSEO OPO, nancy ss® melhor. jdas. O Texto nado mo permitiria, e, além disso, ee as vossas a contar das beguinas, se s6 conhecemos o perf vida se ome do sopro espiritual que as animou na sua deriy, do seu ae que importa é «a vida crescente das vossas ree a unic . paradoxo éluminoso. Mulher-luz: . . : E, sim. O que nés, afinal, Sees mostrar é que cTescer no ser é sair da morte. Mas tu também 2 disseste, de outro Modo, ao falares de coisas tao intimas e essenciais como as «bermas» quel nosso corpo, «singular simples», foi deixando no mundo, Homem-sombra: Dizes bem: interessou-me 0 que ele deixou em bermas e mar- gens, apesar de nao ter continuado. Mas o deixar alguma coisa coloca-me outra questao, mais geral, ada heranga. Durante Muito tempo pensei nela apenas em termos de sangue ou de posse e Poder, Texto: Sancta simplicitas! Se pensaste sé isso, pensaste mal, ou pouco. Nao é essaja heranga que elas a mim me confiaram! A que eu transporto é a dos lugares, territérios da visio; a dos objectos, depositdrios de uma potencial for¢ga libertadora, porque nao exi. gem nada de nés, e podem até ser catarticos, quando se libertam das suas origens; e a da lingua se nao sequestrada e se falada | ap dentro, a partir da distanci Mulher-luz: Sim, mas a questdo da distancia e da lingua coloca-se de modo diferente para ele, Luis M., que vem la do pais de Portugal, 138 beguina Margarida (ou as mulheres que ha em uzam nos espace da Europa do Norte). Porque. fim CET estd a questo das raizes. Deste livro se diz que é nod ja gitac4° sobre as raizes». Raizes portuguesas nas «visdes ame raizes, origens — mas a confusio é perigosa! — rias visoes do Brabante? E a busca das raizes, ou das on das pro neste livro instiga 4 viagem, a deriva e aos encontros... im, 4 ra mt ov PA ese a uma Panter OU Texte nos por partes. A busca € miltipla, na «paisagem terri- yrov € 2 propria nogdo de paisagem (alias, essencial, me confirma novamente O Senhor de Herbais) se define como jvimentos entre espagos muito diversos e muito afins. O a ae leva a concluir, para me relacionar com os livros que edem este, que Na Casa de Julho e Agosto € o livro das rela- prec ue leio como um roteiro de viagens, tal como O Livro das Comunidades foi o livro das mutagées, que se pode ler como um previdrio, € A Restante Vida 0 Eka da batalha perdida e da via- gem de sentido unico para 0 exilio da Histéria, que se seguiu e se \—_Nesta Casa de Julho e Agosto, eu — e tu comigo, Margarida- Eleanora — ja dei resposta a essa pergunta. Resposta pela nega- tiva, porque «ser sé a mulher que escreve é impossivel». HA outros compromissos, porque a minha paisagem nao é s6 de escrita, éa \ de uma textualidade «~permanentemente marejada de pensame 4 / tos». Por isso a minha escrita se descentra e des-lé, des-figura (o nome das figuras) para re-pensar e abordar o ieee uae | nascente, para desfazer (falsas) ideias de uma nostalgia utépica| que me serviria de alimento, ou de um experimentalismo sem 150 me poria diz porizonte que me p. ante dos oles oe m ensimesmamento textual. O mew done - s z or isso sempre retomada. eP © BUtotélico de »€0de «p $80 impossivel cscrever a Regra do desejo matuo, estigma € © meu estimulo s80 os de ermanente (mas studa © que eS rigor. Esta também dito em cerceiams¢ OS utanaae S€ NO nos abeiramos do exacto, d _se a rede e esvai-se 0 mituo». » Mulher-luz: Pensando nessa tua tensao, poderemos ler a luz da imagem, que em ti Parece querer nascer, de um homo sacer scribendi (o h Agamben, o scribendi acrescento- sempre, € a condigao do individuo anido da histoas oo doe seres banidos do ser, € por isso em estado — sagrado, on a religiao? — de excep¢ao, ou_de graca. Mas, por outro lado, nao seres ou as tuas figuras a quererem ser individuos de vejo os teus r : cepcao. O que acontece é que eles sao empurrados para essa ex - 4 a F s ituacdo pela propria duplicidade, sem saida, imposta pela teoria , i ela pratica politicas deste nosso mundo ocidental (ha outros, is este é 0 que nos coube), entre, de um lado, a soberania e o a e do outro, diz Agamben, a «vida nua» dos individuos. Tu er. > a ni ea eces-me, com uma forga de conviccao que assusta e recon- clar -me, r a dizendo-me, agora mesmo, em O Senhor de Herbais, que forts, corpo é a minha paisagem terrestre, cuja nascente é a eu Cc i es ip ia estelar» e que «o que 0 texto tece advira ao homem i teri: aoe pa i FE eu sei que esse corpo de que falas nem morte cool ee i nele como que por acaso, e segue 0 seu caminho. morte cai ne! ae “€ 7 su me também eu tenho dividas. Nao sei quantos nem FE, no entanto, ta eerorantaae Pergunto- i i sse es) uais serao aqueles que podemos incluir ne: q' S chamas «o homem». 151 Textor Nem eu o sei ao certo. Mas sei, e tu também. falas nesta Casa de Julho e Agosto, que ha uma > Porque ass; que nio deixa rasto, € uma restante. Lembro-te o que dj ml Lisboa, fio centro de um lugar simbélico (a cozinha isseste oa mundo) que tantas vezes nos faz perceber melhor = Umbigo do tante vida (como quando eu dizia: «O meu real é estas. Teal res_ estas ervilhas e ouvir Bach»). Tu dizias: «Desnudej a descascay cozinha, sentei-me nesse centro a escrever; o meu ro da mir que ha uma vida de que nao se fala, e nao se ee il é expri- no entanto, enche, escondidamente real, o seio da pri Sente e que, O que eu sei, e me faz continuar, esta numa per; nora Vida», legente meu (José Tolentino Mendonga) me eerie nta que um de Boas-Festas. Nao a li como pergunta-duvida, eae Postal gunta-desejo, € é nessa qualidade que aqui a deixo, eee Per- m corpo capaz deh: ee esta nossa conversa:|«Seremos ul I fandidade que lhe pertence?» Lisboa, 31 de Dezembro de 20 O22 Joao Barrento 152

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