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O ato bulimico: possibilidades de construcao de significado Maria Isabel Perez Mattos! Resumo: Pacientes que sofrem de psicopatologia regressiva, como os bulimicos, tém sido um desafio técnico para a psicandlise, considerando-se as dificuldades encontra- das na construcio de uma cadeia de sentido nesses psiquismos carentes de simboliza- 40. Este trabalho apresenta uma revisio de referenciais psicanaliticos acerca da buli- mia, Contribuicées teéricas sio articuladas ao material clinico apresentado, visando a0 desenvolvimento de uma escuta e de uma intervengio psicanalitica do ato bulimico no caso descrito. Partindo do vértice da psicopatologia, os diferentes referencias teéricos abordados sio discutidos 4 luz das questées imbricadas na constituigéo psiquica da paciente: 0 transtorno narcisico, a relagio mie e filha, o luto transgeracional, 0 ‘no sentido’ psicossomitico, os comportamentos automaticos de caracteristicas aditivas, as possibilidades e as dificuldades no proceso de construgao de significado no contexto transferencial. Palavras-chave: Adicio. Bulimia, Construgio de significado. Luto transgeracional. Nar- cisismo. Psicossomatica. “Veneno é comida que faz adoecer” (Freud, 1933. p. 151) 1 Psicanalista ~ Membro Titular em fungio didética pela SBPdePA, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela UFRGS, Doutoranda em Psiquiatria pela UFRGS — HCPA, Coor- denadora do Depto de Transtornos Alimentares ¢ Obesidade do CIPT, Coordenadora do Seminétio de Psicossomstica pela SBPdePA. 150 | Psicandlise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Ysabe Perez Mattos Aportes psicanaliticos acerca da psicopatologia do ato bulimico A bulimia estd entre os transtornos alimentares que tém sido considerados patologias contemporancas. Esses distirbios sio manifestagées clinicas de transtornos narcisicos de etiologia complexa, para os quais conflui a perspectiva psicossomatica, os componentes aditivos, além de sua correlacio com os transtornos da imagem corporal, com a depressio, com a perda e com a falta. ‘A psicopatologia. moderna explica a sindrome bulimia-vomito como uma patologia de cruzamento, porquanto nao pode ser assimilada a nenhum dos grandes tipos de funcionamento psiquico ou de estrutura, aproximando- se, conforme o caso, de um ou de outro: neurético, psicético, perverso ou psicossomatico (Brusset, Couvreur, & Fine, 2003). Semelhantemente ao que Bergeret (2000) afirma a respeito da toxicomania, de que nao existe nenhuma estrutura ps{quica profunda e estavel especifica da adicio, 0 autor encara a adi¢ao como uma tentativa de defesa e de regulagdo contra as deficiéncias ou falhas ocasionais da estrutura profunda em questéo. Encontram-se, na obra freudiana, algumas referéncias diretas aos transtornos alimentares e, mais especificamente, poucas 4 bulimia. Em 1895, Freud cita os acessos de fome entre os sintomas da neurose de angtistia, um “quantum de angistia livremente flutuante”. Considera, em 1912, as neuroses de anguistia como parte do quadro das neuroses atuais (antecipacéo somética das psiconcuroses), como a hipocondria. Em duas cartas a Fliess (1897/1972d), designa a bulimia como uma compulsio substitutiva de uma pulsdo sexual reprimida, um substituto da adigdo origindria. Posteriormente, associa lateralmente 4 bulimia a fungéo anestesiante ‘protetora’ das toxicomanias e da compulséo por beber. A anestesia seria uma tentativa de defesa contra a dor de uma separacéo que nao pode tornar-se auséncia, nao visa a0 esquecimento de uma lembranca (repressio), mas ao silenciamento de um traco doloroso. No Manuscrito G (1895/1972c), Freud compara a neurose alimentar 4 melancolia, naquele periodo considerada no ambito das neuroses atuais. © afeto correspondente & melancolia é 0 luto — ou seja, 0 desejo de recuperar algo que foi perdido, Assim, na melancolia, deve tratar-se de uma perda — uma perda ‘na vida pulsional. A neurose nutricional paralela 4 melancolia é a Anorexia, A famosa Anorexia nervosa das mogas jovens, segundo me patece (depois de cuidadosa observasio), é uma melancolia na qual a sexualidade nao se deseavolveu, A paciente afirma que nao se alimenta simplesmente porque no tem nenhum apetite; nao ha qualquer outro motivo. Perda do apetive — em termos sexuais, perda da libido. Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 151 © ato bulimico: possiblidades de construgao de significado Portanto, nio seria muito errado partir da idéia de que a melancolia consiste em luto por perda da libido (p. 276). No artigo Sobre o mecanismo psiquico dos fendmenos histéricos (1893/1972a), no Caso Emmy Von N. (1895/1972b), Freud relaciona a anorexia ¢ o vomito 3 conversio. Em seus artigos Sobre o narcisismo (1914/1972) e Luto e melancolia (1915/1972g), 0 enigma da melancolia passa a ser chamado de neurose narcisica. Freud considera que a perda do objeto (mée) da bulimica — investido narcisicamente com ambivaléncia —, ao nao se resolver em um processo de luto, é incorporado (devorado) maniacamente ou repudiado. Em O mal-estar na civilizagéo (1972h), Freud refere-se ao aspecto téxico dos processos psiquicos e faz uma abordagem atual, neurofisiolégica, dos transtornos alimentares, mencionando que a investigacéo cientifica ainda néo identificara substancias quimicas interiores capazes de efeitos semelhantes 20 dos téxicos, mas que isso poderia ser possivel no futuro. Na concepgio que emerge nesse momento, Freud conclui que a sensagio esmaga a representaco para mais além do principio do prazer. Freud (1931/1972i, 1933/1972)), a0 abordar o enigma da feminilidade, atribui importancia fundamental relagéo mie e filha e ao fato de algumas mulheres permanecerem detidas em sua ligagdo original com a mae, Assim sendo, passa a dar a fase pré-edipiana nas mulheres uma importancia que até entio nio lhe havia sido atribuida. Freud aponta para a unidade que pode persistir entre a mée € 0 seio que alimenta. “Mais parece que a avidez da crianga pelo primeiro alimento é completamente insaciével, que a crianca nunca supera 0 softimento de perder o seio materno... . O temor de ser envenenada também estd relacionado ao desmame” (Freud, 1933/1972), p. 151). Freud, portanto, considera o predominio da ligacio original entre a excitagao sexual e o instinto nutritive. A partir desse entendimento, os transtornos alimentares representam a perversio das pulsées de autoconservagio, sua subversio pela sextalidade — desejo. Nos textos mencionados sobre feminilidade, Freud (1931/1972i, 1933/1972j) entende que a neurose alimentar corresponde a dor melancélica pela separacdo da mie ao depositar maior importancia as fases pré-genitais do desenvolvimento da libido e as dificuldades de separacdo mie e filha, manifestadas no processo de desmame. No entanto, nos textos prévios acerca da histeria, em uma concep¢éo distinta, ao interpretar como sintoma de converséo a anorexia ¢ os vomitos, Freud (1893/1972a, 1895) indica a agdo do recalque sobre o erotismo oral. 152 | Psicandlise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Isabel Perez Mattos, A fragilidade narcisica e suas vicissitudes na constituigao da imagem corporal na bulimia Introduzindo a perspectiva do narcisismo, temos a crianga que nao se vé separada do meio ambiente, da mie, de quem a olha ¢ de quem a cuida. Lacan (1936/1998), ao descrever 0 “estédio do espelho”, explica que essa etapa designa um momento na histéria do sujeito no qual a crianga forma uma representagao de sua imagem corporal por identificago com a imagem do outro. Esse momento é concretizado, de forma exemplar, na experiéncia que a crianca tem ao perceber a propria imagem em um espelho — experiéncia fundamental ao individuo, em que Lacan localiza a matriz a partir da qual se formard o primeiro esbogo do ego. Ai esd a identificagéo primaria que caracteriza o narcisismo primario (Freud, 1914/1972f), pré-Edipo, o qual formard uma imagem dada por outro. A imagem é estruturante para a identidade do sujeito que, por meio dela, realiza sua identificaco primordial, estabelecendo a representagao do préprio corpo. No estadio do espelho, constitui-se a identificagéo fundamental na qual a crianga faz a conquista da imagem de seu préprio corpo como unidade unificada € promove a estruturag4o do EU, pois antes 0 corpo é disperso, esfacelado, Posteriormente, mesmo na vida adulta, nao bastam reservas narcisicas: busca- se a fantasia de antiga completude. O sujeito se olha no espelho ou espera 0 olhar de alguém, uma palavra, uma situa que evoque o especular materno. Em casos de equilibrio precério do narcisismo — em que o especular, ou seja, a mie, o primeiro espelho (Winnicott, 1967/1975), e seu olhar néo tenham sido capazes de devolver uma imagem percebida em sua alteridade, integrada e, acima de tudo, amada e desejada, mesmo em sua incompletude -, temos uma existéncia aprisionada a uma angtistia que se revela na rela¢ao com a imagem do corpo, vulneravel, assim, ao ingresso do sintoma alimentar. A paciente bulimica sofre uma inversio nesse processo de espelhamento por meio do olhar materno: nao pode se ver e, portanto, constituir-se nesse espelhamento. E a mae que busca espelhar-se nela. Assim, 0 narcisismo dessas pacientes, ao longo da vida, & sustentado quase exclusivamente por objetos externos nas dimensées de apoio ¢ duplo. A bulimia se constitui como uma via de descarga € tentativa de regulagao narcisica. E expressao e tentativa de dominio de uma angistia que o sujeito nao tem condigées de conter e significar. Todavia, essa conduta torna-se fonte de mais angistia ¢ causa de alienaco, um gozo impossivel, um tormento, uma doenga, O paciente sofre de uma adigéo ao comer (Fine, 2003). A pessoa torna- se incapaz de fornecer a si mesmo alivio as préprias angiistias. Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 153 © ato bulimico: possiblidades de construgao de significado Na bulimia, observa-se um problema de identidade com automutilagao dirigida aos aspectos estéticos do esquema corporal. A imagem corporal, como estrutura psiquica, inclui a representagio consciente e inconsciente do corpo, em trés registros distintos: a forma, que corresponde ao esquema corporal consciente; 0 contetido, correspondente & interioridade, ao pré-consciente; 0 significado, representado pelo corpo erdgeno — singularidade do desejo que adquire expressio simbélica e € parte dos vinculos intersubjetivos. Quando essa estruturagio da imagem corporal nao se constitui adequadamente, ha a ocorréncia da soldadura entre forma e significado, ficando o contetido excluido ou confuso em seu registro. A importante relacio entre imagem corporal, autoestima e identidade sucumbe diante da caréncia narcisista, perdendo-se a fuidez entre forma, conteiido ¢ significado, uma vez que a obsessio pela magreza (forma), transformada em ideal que da sentido (significado), implica a abolicao da necessidade corporal (contetido) (Zukerfeld, 1996), Os transtornos da imagem corporal, é importante ressaltar, so considerados um aspecto dentro da concep¢io mais ampla do transtorno do selfou déficit na constituigéo do narcisismo primério. A relacao mie e filha: dificuldades na constituigao da feminilidade na bulimia Em relagéo & conquista da feminilidade, que se encontra perturbada na bulimica, podemos conceber quea menina necessita passar da fase pré-ambivalente oral, na qual sujeito e objeto se fundem, para a fase pés-ambivalente, na qual a vagina toma o lugar da boca em sua fungio oral-passiva de sucga0 (Deutsch, 1925 como citado em Smirgel, 1988). No caso da bulimica, sendo a boca 0 prototipo da sexualidade feminina, esta nao é vivida em termos genitais. Ela se encontra regressivamente atrelada 4 sua relacio com o objeto primério-mae, sendo que o pénis-fungao paterna nao promoveu essa passagem. Na adolescéncia, hé recusa do corpo sexuado pela bulimica, Supée-se, portanto, que. bulimia é um distirbio que se instala muito precocemente na vida ¢ se mantém compensado até a puberdade, quando o surgimento da sexualidade gera desequilibrio, eclodindo assim 0 quadro clinico. A equacio novo corpo adolescente = mulher = mde invasora = comida se forvalece, defensivamente, com a finalidade de poder controlé-la (mée invasora dentro de si), ¢ assim temos um ego corporal cindido de um ego identificatério ¢ submetido ao ideal do ego (Chandler, 2001). O ego corporal passa a representar, entéo, tudo o que é mau, sufocante, ameacador, persecutério, imperfeito ¢ que tem apetite (Bidaud, 1998). Nessa tentativa de controlar os impulsos, falha a 154 | Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Isabel Perez Mattos, bulimica que, de modo ambivalente, expressa sua perpétta busca por um objeto aser consumido ou sobre o qual se podera apoiar. Esse objeto agrava sua angtistia mais do que acalma, por isso necessita ser expelido ‘A dinamica da bulimia é basicamente feminina. Desloca-se para 0 corpo a projecio de um ideal histérico-narcisista, projetado pela cultura atual — ideal nunca alcangado no corpo incapaz de corresponder a essa fantasia de completude: ser o falo da mie. A telagio com a mie na bulimia ¢ manchada por desilusdes precoces, traumaticas por demais para serem absorvidas pelo incipiente psiquismo da crianga. Pode dar-se precocemente com um desmame brutal — em que o objeto bom é perdido logo apés ser encontrado — ou ser resultado de diversas situagées, como 0 nascimento de um irmao, a depresséo materna (a “mae-morta” de Green, 1988), 0 afastamento da mae em etapas maturacionais. A ambivaléncia costuma originar-se em dificuldades da propria mae, podendo ser de ordem depressiva, com sua prépria imagem ou com sua feminilidade. Estas a levam a alternar periodos de sobreinvestimento ansioso e retraimento. Essa falta de sustentagéo prejudica o estabelecimento de um sentido de si mesmo, ocasionando o vazio interno e o sentimento de nio existéncia. A ctianga continua dependente de seus objetos externos em um apego constrangedor ¢ em uma proximidade alienante. Dessa forma, o eu nao se estabelece de forma coesa, e os recursos internos para lidar com os afetos nao se desenvolvem. A ambivaléncia do investimento materno e seu fundo depressivo forjam uma imagem negativa da feminilidade. A imagem do corpo é um ponto de fixacio importante. Nela encontramos a falha da fungéo de espelho da mae e o engate nessa busca de uma imagem ideal. Assim, a identificagéo feminina estd sempre manchada pela insatisfagio ¢ pela marca da incompletude. Na bulimia, o ideal & reduzido a um ego ideal, cuja realizacio inating{vel serve para torturar 0 ego. Jeammet (como citado em Bruset, 2003) considera que a coloracio histérica nas bulimicas é mais um engodo do que uma realidade; a bulimia remeteria mais & dimensio do abandono ¢ da caréncia das primeiras ligagdes. O ‘nao sentido’ psicossomitico € os atos-sintomas aditivos na bulimia A Escola Francesa de Psicandlise ampliou pioneiramente as possibilidades de compreensio do psiquismo. Ela avangou na compreensio dos fenémenos psicossométicos ¢ das caracteristicas mentais dos pacientes acometidos que, segundo Marty (1995), sofrem de uma construcéo incompleta ow atipica do aparelho psiquico, considerada deficitaria Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 155 © ato bulimico: possiblidades de construgao de significado O pensamento desses pacientes ¢ caracterizado como operatério é ampliado para uma concepcio de vida operatéria que implica a diminuicao dos pensamentos em relacio 4 importincia que adquirem os comportamentos. O pensamento operatério € um pensamento consciente, sem ligagéo com os movimentos fantasmaticos representativos, Nao utiliza mecanismos mentais neuréticos ou psicéticos ¢ se apresenta desprovido de valor libidinal. A vida operatdria esta ligada ao que Marty (1995) define como ‘depressao essencial’, caracterizada por sua cronicidade ¢ sobreadaptagéo manifesta na esfera social. Trata-se de um tipo especial de depresséo sem objeto, sem autoacusagéo nem culpa inconsciente, na qual o sentimento de desvalia se orienta cletivamente a esfera somatica comportamentos ligados, em sua origem, aos instintos e as pulsées, tais como a alimentago, 0 sono, as atividades sexuais ¢ agressivas, que ficam reduzidos ao estado de funcionamento automético. Os desejos desaparecem para dar lugar a satisfacdes de necessidades isoladas umas das outras. Lacunas do pré-consciente, isolamento do inconsciente, fragmentacao funcional, prevaléncia do fatico e do atual predominam no funcionamento mental desses sujeitos. As neuroses de comportamento, expressio do automatismo, incluem, com bastante frequéncia, as bulimias. ‘As hipéteses de Marty (1995) permitem considerar o sintoma bulimico como um patamar contra a ameaga de desorganizagio ¢ automagio mais profunda. A bulimia seria uma tentativa de religagao das pulsées destrutivas, um patamar de reorganizacéo, uma manifestagao de vida que conjura um movimento mortifero. Essas descargas pulsionais de tipo regressive podem ter impacto traumético e destinam esses pacientes 4 repeti¢ao, segundo o modo de funcionamento da neurose atual, Com o tempo, nas formas em que o caos alimentar se instala, a compulsio comportamental que implica intensidade de excitacao nao elaboravel reduz esses pacientes a escravos da quantidade, estando condenados a reacées comportamentais. Nos pacientes acometidos de transtorno alimentar, o funcionamento psicossomatico predomina, em maior ou menor extensio, ¢ é sempre manifesto no comportamento alimentar que funciona automaticamente, desconectado de significado, desconectado dos afetos em funcao das lacunas representacionais (ausentes ou raras e superficiais), caracteristicas desse funcionamento mental. Marty (1995) considera essencial, ao tratar essa fragmentagio funcional, a busca do desenvolvimento de uma capacidade de mentalizagao que implica 0 desenvolvimento da possibilidade de maior complexidade mental ¢ a andlise do ego ideal que, nesses pacientes, representa a desmentida, o sentimento de onipoténcia do sujeito frente a si mesmo e ao mundo exterior. io 156 | Psicandlise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Isabel Perez Mattos, © ato bulimico realiza a emergéncia da fantasia de fuséo, negacdo manfaca da falta, seguida de reagées paranéides violentas, refletindo em espelho o cardter intrusivo e persecutério do objeto faltante. O autoerotismo positive da lugar a um autocrotismo negativo, em que a capacidade de devancio ligada ao primeiro se degrada em ato puramente operatério. E nessa func’o desobjetalizante (Green, 1988) do comportamento que situamos 0 efeito mortifero dessa conduta oroagressiva, triunfo do narcisismo de morte sobre o de vida. O ato vem em lugar da rememoracéo, oferece um meio de controle ativo sobre a passividade que adviria. Como expressio de satisfacao alucinatéria de desejo no ato bulimico, o prazer de associar, o desejo de investir, todos os elementos que supdem um jogo da diferenga, da presenga e da auséncia, tal comportamento busca abolir. Celérier (como citado em Couvreur, 2003) afirma, quanto a peculiaridade da bulimia, que esse seria um sintoma de cruzamento: encenagdo corporal entre o néo sentido psicossomatico e o significante histérico. Na ordem do irrepresentavel, a fantasia é atuada na somatizagao, na vida e na transferéncia, ou ainda a fantasia & forcluida por falta de recalcamento estruturante. © corpo é a principal morada do softimento. Ele passa a ser o representante das emogées méximas, o registro mais fiel dos acontecimentos emocionais, ¢ necessita ser lido. Vaza no corpo o que deveria ser contido na mente, que passa, entio, a ser corpo. Miranda (2011) considera que predomina o funcionamento psicético nas perturbacées alimentares, especialmente frente & presenga de distorgées da imagem corporal, de dissociagdes e de contetidos alucinatérios, ¢ destaca também o funcionamento psicossomatico As contribuigées de Ferro (2011), a partir do referencial bioniano, propéem que a questéo central dos transtornos alimentares é a impossibilidade de viver as emogées, por caréncia de elaboracio de protoemogées (precursores néo metabolizados de emogées), impregnadas de sensorialidade. Essas protoemogées geram a necessidade de descarga, expressam a impossibilidade de contengéo que se manifesta em explosio, implosio ou violéncia. Estados protoemocionais podem ser evacuados no corpo em comportamentos ou ficarem contidos em espagos mentais que produzem, portanto, a evitacao das emogées, por impossibilidade de © aparato mental processé-las. O autor destaca a fungéo do analista em relagao a0 desenvolvimento da mente do paciente no campo transferencial, possibilitando transformacées, insight, aptidées para transformar em réverie, em emogées, em imagem o que pressionava como sensorialidade-abcesso, a0 qual néo havia acesso. O que nao pode ser pensado ¢ a incapacidade de articular em palavras encontram, na andlise, um espago-tempo que promoverd a capacidade de pensar e de dizer. Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 157 © ato bulimico: possiblidades de construgao de significado A otigem dessas patologias sempre implica deficiéncia da fungéo alfa ou insuficiéncia do continente. Isso nao significa que existam mentes capazes de transformar toda a sensorialidade em elementos alfa. Hd uma cota de atividades fisiologicas ¢ de atividades evacuativas da mente que sao vitais, nao processdveis, mas essa ampliagéo da capacidade mental pode ser possivel ¢ € central nas patologias psicossomaticas ¢ nos transtornos alimentares. Na bulimica, a vergonha é expresso de um superego arcaico ¢ de um fracasso narcisista frente ao olhar do outro. Na medida em que os desejos ¢ as emogées possam, por intermédio da anilise, tornar-se progressivamente observaveis, além. da desculpabilizacao, pode ser uma grande gratificagio narcisica descobrir que esse ato insensato esté carregado de sentido ¢ que pode ser compreendido. Na medida em queo processo analitico avanga, a conduta aditiva cede, nao raramente, lugar a sintomas neuréticos fobicos ou conversivos. Em outro momento, podem otganizar-se estruturas defensivas capazes de — através de novas possibilidades de introjecéo, de simbolizacéo e objetalizasao — ceder lugar a atividades ¢ relagées menos destrutivas. Osintoma bulimico constréi uma espécie de neoidentidade, pela quala paciente vive seu virtuoso triunfo defensivo. Joyce McDougall (2000, McDougall como citado em Fine, 2003) afirma que, nesses pacientes, predomina a anguistia de despedagamento — de morte. A mie que falhou em sua fungao de ‘paraexcitagio’ (decodificadora e simbolizadora do universo pré-simbélico) cria uma historia sem palavras, na qual o corpo em curto-circuito € 0 campo de batalha, Ha uma ciséo entre o psiquico e 0 soma, Nesse sentido, pode-se considerar que a somatizacio, como versio implosiva do ato, é expressio da desorganizacio e do afeto sufocado, pertencentes a drea cindida do psiquismo. As somatizagées traduzem a falta de elaboracio ¢ de simbolizacéo dos pensamentos ¢ sentimentos inaceitaveis que sofrem forte negaséo — tipo forclusio. Esses pensamentos ¢ sentimentos sio substituidos por aces compulsivas, que McDougall nomeia como ‘atos sintomas’ aditivos, transitérios por falhas na transicionalidade (Winnicott, 1951/1988), como 0 alimento para o bulimico. Esse agir de qualidade compulsiva visa a reduzir, pelo caminho mais curto, a dor psiquica, pois qualquer ato-sintoma substitui um sonho jamais sonhado, um drama em potencial, em que os personagens desempenham papel de objetos parciais ou sio mesmo disfargados em objetos-coisa, em uma tentativa de encontrar substitutos externos para a funcéo de um objeto simbélico que falta ou que est4 estragado no mundo psiquico (o alimento ou a droga como resposta a depressio, o fetiche ou a conduta de fracasso como resposta angtistia de castracio). Nessas patologias, la aonde vai desenhar-se, no espaco psiquico, 0 158 | Psicandlise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Isabel Perez Mattos, primeiro traco de um objeto, encontra-se um vazio. O agit esconde uma historia relacional e passional petrificada em ato alienante. A linguagem do erotismo intrassomética, descrita por Maldavsky (2005), também nos apresenta um viés importante de entendimento dessa via de descarga. Conforme este autor, os investimentos recaem sobre os érgios internos expressos em patologias téxicas e procedimentos autocalmantes, O comer compulsivo teria feito calmante-intoxicante A bulimia aparece como uma tentativa de recuperagio, em um estado de ruptura do sentimento de sie de continuidade de si, de objetos perdidos que eram constitutivos de si, de encontrar nos alimentos partes de si, que 0 tempo arrancou. © ato bulimico procura realizar a apropriagao selvagem de um objeto que é possuido, confundido consigo na fusio priméria, mas simultaneamente destruido pela incorporaséo canibalistica, secundariamente fecalizado e violentamente expulso pelo vémito. O aspecto frenético, maniaco e a precipitago da passagem a0 ato mostram a satisfacio procurada na intensidade e na atemporalidade mais préximas dos processos primérios do inconsciente, ou seja, em ruptura com processos secundérios que caracterizam o funcionamento do ego. Reflexées acerca da técnica ‘A abordagem psicanalitica da bulimia, assim como em outras patologias graves, dé-se por meio de uma atitude empitica ¢ continente por parte do psicanalista, que se mantém atento ao ciclo na relagao terapéutica: o paciente o incorpora vorazmente ¢ exige cura magica, depois 0 ‘vomita’ e passa a um estado melancélico. ‘A bulimica softe de baixa tolerancia & frustragéo, 0 que dificulta 0 proceso analitico. O funcionamento psiquico dicotémico — tudo ou nada — predomina, como também a presenca de polaridades: incorpora ¢ vomita, cheio e vazio, dependéncia e independéncia do objeto. Como primeira fase do trabalho, pode-se destacar a escuta analitica, o estabelecimento do vinculo, a promog4o da consciéncia sobre a enfermidade ¢ 0 auxilio ao paciente no sentido de se colocar como cortesponsavel por seu tratamento. A comunicagao do paciente nessa primeira fase costuma ser concreta © comportamental. O analista necessita ser cauteloso em néo responder em linguagem simbélica muito elaborada, mantendo uma postura ativa, mas nio intrusiva, que reeditaria as relagées traumaticas com o objeto primétio. No segundo momento, pode predominar o acompanhamento na elaboracéo psiquica de conflitos referentes 4 expressio de desejos, & sexualidade ¢ a autonomia. Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 159 © ato bulimico: possiblidades de construgao de significado Trabalha-se para favorecer a uaducéo de sensagées corporais em estados emocionais ¢ a construgéo de uma representagdo interna independente da imago materna, A interpretagdo dos afetos transferenciais e contratransferenciais — impoténcia, hostilidade, sensagéo de invaséo ~ ¢ importante. A tirania do ideal de magreza, da perfeigéo, do corpo sem falhas demanda ser exaustivamente abordada. Torna-se possivel, assim, buscar alternativas as condutas atuadas e patolégicas. Na medida em que a frégil busca de sustentacéo narcfsica no pilar da aparéncia fisica ¢ ampliada para outras areas da vida, 0 sujeito passa a funcionar de maneira mais integrada. Os casos graves de bulimia sio considerados desafios terapéuticos. Hé demandas ¢ recusas de tratamento, podendo gerar sentimentos de impoténcia ¢ frustracao. O atendimento, quando é realizado em equipe ou por profissionais de diferentes dreas da satide, em fungao de riscos ou comprometimentos 4 satide fisica do paciente, pode oferecer vantagens ¢ dificuldades. A atitude continente, oferecida por uma equipe coesa, pode operar como uma rede de sustentagio. As dificuldades podem ocorrer em fungao de dissociagées projetadas na equipe. Pacientes com transtornos alimentares costumam apresentar forte resisténcia ao tratamento porque a retirada do sintoma pode angustid-los por ser essa a sua via de descarga e a forma como eles conseguiram estruturar-se psiquicamente Relato clinico: possibilidades de construsao de significado Sera que a bulimica se expde perigosamente para evitar a depressio de um de seus genitores? Encarnaria ela o objeto de um luto impossivel da mae? Foi seu corpo investido narcisicamente com ambivaléncia na idealizacio e, portanto, no 6édio? (Couvreur, 2003). A seguir sera apresentado um caso clinico com finalidade ilustrativa que teve dados significativamente alterados ¢ omitidos para nao haver identificagio. Uma paciente que sofre de bulimia grave, entre outros sintomas, revela seu sofrimento caético, Suzete Nadir (nome ficticio para fins de publica¢o) iniciou traramento analitico por induzir vémitos diariamente e por sentir-se deprimida. Havia realizado tratamento para um cancer de mama do qual se recuperou. Sentia-se cronicamente preocupada ¢ insatisfeita com seu corpo € com sett peso ¢ estava procurando superar seu divércio. Seu primeiro nome, Suzete, foi escolhido em razio de o pai nao concordar com a escolha do segundo nome, feita pela mae. Nadir era o nome de uma irma da mie que falecera tragicamente na adolescéncia, apés cirurgia na qual teria havido um erro médico. A familia tinha o mito de que essa jovem reaparecia na 160 | Psicandlise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Isabel Perez Mattos, casa como fantasma. A paciente sempre foi chamada de Nadir por todos, menos pelo pai, tinico em quem confiava e a quem idealizava. Segundo a paciente, ele sempre foi um pai para a sua mie, realizando para ela muitas tarefas, por ser ela ansiosa ¢ bem mais jovem do que cle. Quando contava um problema @ mie, esta comecava a gritar e a dizer que no suportava ouvi-lo. Até os 10 anos, quando a mae achava que Nadir nao tinha comido o suficiente, costumava dar-lhe comida, & noite, enquanto cla dormia. Diz que sente raiva, mas “néo pode expressi-la, porque a mae nega tudo”, Intercalava, desde a adolescéncia, episédios de comer compulsivo com jejuns e indugao de vomito “para néo engordar” Suzete Nadir casou-se com um homem bem-sucedido profissionalmente, que idealizava sua beleza, embora cla se sentisse sempre insegura em relagéo 4 sua aparéncia, considerando-se feia. O casal teve uma filha. Nadir adquiriu sobrepeso na gravidez e, aps 0 nascimento, angustiava-se com seu bebé, deixando que dormisse no quarto do casal, durante 0 primeiro ano, para poder verificar se nao havia morrido e se estava respirando, Buscou um cirurgiao que lhe colocou uma banda géstrica, apesar de seu IMC nao caracterizar obesidade, Também se submeteu a diversas cirurgias plisticas, Passou a viver conflitos conjugais, pois demandava muita atencéo do marido, Menciona que buscava o pai nessa relacéo caracterizada por muita dependéncia de sua parte, nada do que ele fazia era suficiente. Por fim, desconfiou que o marido a trafa, fato que se confirmou ¢ 0 casal separou-se. A paciente havia parado de exercer atividades profissionais e, embora recebesse uma pensio significativa, costumava comprar compulsivamente e se desorganizar com as financas. Assim como comprava, comia compulsivamente ¢ induzia © vémito em niveis alarmantes, desenvolvendo lesées gastroesofigicas que ocasionaram sangramentos frequentes. Ela buscou, entio, atendimento médico ¢ nutricional, visando a retirada da banda gistrica que favorecia os vomitos ¢ é incompativel com pacientes que sofrem de bulimia. Lentamente, ao longo do trabalho analitico, a histéria da paciente passow a ter mais significado para ela: a morte advinda de um luto transgeracional presente em seu nome, as barras de chocolate devoradas devido a sua impossibilidade psiquica de “segurar as barras” que a vida lhe apresentou a percepséo de que nio seria uma banda gistrica que conteria seus infortiinios. ‘A seguir, em vinhetas de sessdes, 0s comportamentos compulsivos ¢ 0 sofrimento de Suzete Nadir so expressos na busca pela construcéo de um sentido para sua angiistia, Nesse perfodo da anilise de Nadir, surge um incremento de suas possibilidades associativas em relacéo ao inicio de seu tratamento, periodo Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 161 © ato bulimico: possiblidades de construgao de significado no qual chorava longamente, queixando-se de sua aparéncia fisica por sentir-se “gorda, feia e velha” SN ~ Aili... me atrasei porque estava caminhando no shopping... fazendo compras. 6 que nao devo... tenho até vergonha... tento até esconder 0 cartio de crédito de mim mesma! Mas nio foi sempre assim... Foi mais desde a separacio. A ~Tentas buscar alivio para algo que tu sentes com comportamentos como comprar além do que consideras adequado.* Procurei interpretar o sentido do ato-sintoma — comprar excessivamente — que denuncia sua impossibilidade de metabolizagio ¢ a funcio defensiva contra sua dor psiquica. Essa defesa também se manifestou no atraso para a sesséo mencionada SN ~E verdade... 0 mesmo fago com a comida. Comi como uma louca no fim de sema- na, uma barra daquelas de fazer cobertura de chocolate inteira. Fui visitar a minha mée [vitiva] ¢ tava o namorado dela Id. Eu nio suporto ele, ele é um explorador, nio gosta dela! Nao confio nele. £ um aproveitador! Ta imagina, ele anda com o carro dela e ainda pede dinheiro para a gasolina’ E agora estavam combinando de ir viajar. Adivinha! A minha mie pagando tudo! Fico pensando 3s vezes em reunir minha irma ¢ meu irmao para falar sobre isto. Tu vé, nem foi feito o inventério ¢ esse sujeito esté usufruindo do que meu pai deixou. Isso que a minha mie se dizia uma santa que amava o meu pai! A interpretagéo do sentido do ato-sintoma promoveu ampliagéo em suas associagses. Nadir péde entender que funcionamento semelhante as compras compulsivas ocorre em sta relagao com a comida. A paciente passa a descrever 0 quanto sente seus objetos como inconfidveis, instaveis, agressivos, espoliadores, portanto sente-se desamparada e identificada com essa destrutividade. Depreende-se de suas associagées que seus vazios de uma presenca continente e tranquilizadora séo descarregados nestes atos destrutivos, nestes procedimentos aditivos autocalmantes que se repetem, porque néo tranquilizam ¢ esvaziam ainda mais de sentido o psiquismo A~ Bstds falando da tua dificuldade em confiar, te sentes enganada pela tua mie ¢ prova- velmente sentes dificuldade em confiar em mim, na tua andlise. SN — Sinto dor no estimago... uma angistia.. Sou terrivel, Isabel... A= Percebes que esta angustia que é dificil digerir tu sentes no corpo. SN ~ Sempre fui uma pessoa angustiada... Lembro na adolescéncia, quando menstruei eu tinha s6 nove anos... Fiquei apavorada, envergonhada, para minha mie tudo era 2. Foram mantidas as marcas da oralidade nos rechos das vinhetas utilizados neste trabalho. 162 | Psicandlise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Isabel Perez Mattos, ‘um hortor. Sexualidade era um tabu, e agora ela mal ficou vitiva e jé tem um caste de namorado. Eu me sentia sempre deprimida, néo me achava nos grupos, queria agradar a todos, Como hoje agradar a minha mac, apesar do namorado; agradar a minha irma € 0 meu irmio, que no estéo nem af para mim. Eu assumi que tinha que agradar a coitadinha da minha mie quando meu pai morteu. Abordo a transferéncia destes objetos inconfidveis ¢ a defesa que se manifesta na relacio analitica, Suzete Nadir busca, secundariamente, agarrar-se & imagem. paterna, mas esta néo da conta dos vazios primitivos ¢ dos traumatismos que se alongam em sua vida relacional com a mae, Claramente, Nadir descreve a mée como impossibilitada, desde que se recorda, de funcionar como continente, como alguém que nomeia os afetos ¢ a ajuda a construir sua feminilidade, A paciente, ao referir sua adolescéncia, consegue também demonstrar crescente capacidade de refletir sobre sua vida, neste proceso de construcéo de sentido que leva em conta sua vulnerabilidade naquele periodo. SN — [Chorando...] Eu ndo consegui superar a morte do meu pai e a separagao [do marido] sé piorou ainda mais meu desespero, Depois, quando tive o cdncer, fui trés vezes fazer a qui- mioterapia sozinha porque minha mée tinha ido viajar, passear com seu Julio {namorado da mae). Nem doente ela conseguiu me ajudar.. Depois diz que os filhos sdo tudo para ela! Com a Adriana [fitha de Nadir] me sinto culpada e ansiosa por ver que néo dow conta e fico com raiva e depois me culpo por tudo! Fago tudo errado, até esta banda no estmago que nao adiantou nada, sb td me dando mais vimitos e ainda por cima continua saindo sangue, como eu te disse. Se néo forse a minka filha ew teria vontade de morrer porque as vezes sinto que nada vale a pena A — Deve ser dificil sentir que a andlise vale a pena e possa te ajudar a te sentir mais acom- ‘panhada para tratar essa tristeza, esas faltas que tu sents, Nadir explicita sua desesperanca, trabalho da pulsao de morte, que se relaciona a transferéncia. Em seu discurso, transita de uma descri¢éo de dor corporal, de comportamentos automaticos, bulimicos — expressio psicossomatica — para uma reflexio acerca de sua histéria, demonstrando evolucéo e ampliacio, ainda incipientes, de sua capacidade de pensar. A~E possivel que tu nd te sentiste preparada para te tornar adolescente ¢ depois mae. Te sentiste pouco apoiada por tua mée ¢ depois pelo teu marido. Mas, como diseste, € impor- zante para ti ser apoiada, ajudada. SN'= Sim... O Vinicius (ex-marido) s6 queria saber de trabalhar esair. Me deixava sozinha euidando da Adriana com asma e febries, ¢ eu nunca fieava tranguila. Achava que ela po- dia morrer, parar de respivar a qualquer momento, e por isso a deixei sempre no meu quarto A tinica pesioa que me dew apoio foi meu pai, depois ele ficou velho, ceguink, e figuei mal. Meu pai foi o tinico que me cuidou. E isso de cirurgia me faz pensar que sou uma encarna- Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 163 © ato bulimico: possiblidades de construgao de significado so dessa minha tia... Sabe que isso da minha mée ter posto esse nome em mim também é horrivel... Tenho me apresentado para as pestoas agora sé pelo apelido: “Neo” Suzete Nadir sente-se desamparada/despreparada para as fungées que a vida Ihe incumbiu: adolescer, tornar-se mulher, casar, ser mae, Além disso, uma destrutividade desorganizada e incontida a invade sob a forma de angtistias psicéticas e sintomas psicossométicos, que ela progressivamente procura organizar em atos compulsivos. No entanto, traz a possibilidade de algo novo ~ ‘neo’ — que se manifesta também neste momento ¢ lhe sugere alguma esperanga. A~A tua questio agora é em quem podes confiar e que tu possa construir algo nove, “Neo”. Interpreto a possibilidade de entendimento de ‘neo’ como o novo constituido na relagao transferencial. Tentativa de constituir identidade propria, a partir do proceso de subjetivacao desalienante que a andlise pode proporcionar. No entanto, ao fazer a releitura do material da sesso, pergunto-me: nao seria ‘neo’, paradoxalmente, a expressio de uma neoidentidade (pseudoidentidade), no sentido que descreve Joyce McDougall (como citado em Fine, 2003). Nadir se apresenta como bulimica. Essa pode ser a sua pseudoidentidade, pois refere que realmente nao sabe quem é, se a tia morta (reflexo da impossibilidade de sua mac claborar o luto) ou se uma mulher-objeto, fetiche escolhido apenas por atributos fisicos erigidos em um vazio de personalidade. SN = Me acho uma bultmica bipolar, feia, velha, horrorosa. Nao tenho jeito, fiz tudo cerrado, A ~Essa exigéncia ¢ esse desvalimento te atrapalham ¢ mostram a dificuldade em confiar em algo diferente disto para ti Acsperanca de Suzete Nadir regride, nesse momento dasessio, eo duplo sentido de ‘neo’ parece manifestar-se. Procuro pontuar sua desvalia e culpabilizagao com © predominio do ‘ego ideal’, nessa ldgica do tudo ou nada, perfeicao ou morte. Sessdo seguinte: SN ~ Conversei com minha mite sobre como tenho me sentido, e la disse que ficou preveu- ‘pada comigo ¢ veio junto para depois sairmos. Combinamos de ir ao shopping tomar um café. Mas andei mal no fim de semana, vomitei.. ainda néo liguei para a nutricionista para remarcar, eexsa banda ainda piora os vimitos, eu ndo preciso nem por o dedo na garganta E 36 eu fazer assim [mexe 0 pescogo] ¢ jd vem. Jantei na casa de uma amiga que tem um marido “loucio”. Ele ta de licenga satide, teve internado. Ele disse que néo pode ter expelho em casa porque se ndo a raiva se volta contra ele. Fiquei pensando que eu divia para 0 164 | Psicandlise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Isabel Perez Mattos, Vinicius, quando ele ficou com essa mulher com quem ele me trata, a quem ele & submisso, que ela decerto néo pod ter filhos porque teve muitos homens muitos abortos. No fim eu {que tive cancer. Também fiz. 0 Vinicius fazer vasectomia depois que a Adriana nasceu. Ele do pode ter mais fithos. Enudo ele cuida dos cachorros daguela mulher como se fssem fithos deles, Cheguei em casa pensando nos espelhos porque me olho muito. Cheguei a pensar em tirar os espelhos da minha casa! A ~ As vezes tu busca solugies mdgicas, como colocar a banda gdstrica. Pensas em tivar os espelhos SN ~ E... mas dessa vez néo tirei os espethos, mesmo tendo ficado pensando niso... e com edo. A ~ Isso pode ser a tua esperanga de perder 0 medo ¢ poder olhar para esses sentimentos. SN - Sim, mas cada vee que eu falo de um problema para minha mae ela diz. que vai ter um ‘pivipague’, que néo aguenta, tapa os ouvides. E 0 meu pai era superesigente, dagueles gue nao pode comer doce nem no fim de semana e tinha que ir & missa todo domingo! Era militar! A ~ Te faltou um espelho sranquilizador e confidvel, com 0 qual tu pudesse contar, te espe- Uhar. Neste material mais caético trazido pela paciente, busca-se resgatar a capacidade de construir um sentido para essas falhas na constituigao de seu self’ pela auséncia de um espelhamento integrador. Sesséo seguinte ao procedimento para a retirada da banda géstrica. SN ~ Bom, td feito... Exe médico realmente é bem melhor. Eu néo confiava mais naguele Dr. Tie wé, cheguei a ir nele. Reclamei que ele néo me dew todas as informagées sobre a ban- da, reclamei que ele néo me indicou nutricionisea, nem psicbloga, nem perguntou se eu tinha bulimia. Me respondeu que tina em sua equipe {uma nutricionistal. Se eu pedise...E ele nnéo tinha como saber... E que eu devia pensar duas vezes antes de tirar definitivamente a banda, Sugeriu um ajuste, porque, afinal, eu tinh prego de um carro popular na barriga. Claro que 0 Dr: ea psiquiatra que tu me indicaste foram completamente diferentes Jd reirei até 0: pontos e parei de vomitar daquele jeito. Sé vomitei na noite anterior & audiéncia Ainda tenho um pouco de medo porque ainda sinto dor desse lado. Tenho medo que ainda tenham ficado as aderéncias (de plistica que havia feito no abdémen|. Tenho medo de engordar... mas acima de tudo tenho medo de que a minha mente possa deixar meu corpo doente. A ~O acompanhamento médico vais seguir. Podestinar as ditvidas sobre o que deve ser exta dor. Mas penso que, sim, que tens razito de ter receio de que tua mente te faga engordar, ¢ até contribuir para te adoecer. Mas, tu vé que estds podendo tratar as tuas questies de outra forma, néo sé com cirurgias pldsticas ¢ vémitos. Nadir segue falando sobre 0 medo que sente de fracassar, o que lhe desperta 0 desafio de analisar contetidos dolorosos para encontrar um sentido para sta vida, a qual, por vezes, sente intitil. No entanto, entendo ter havido um movimento Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 165 © ato bulimico: possiblidades de construgao de significado importante com a retirada da banda gastrica, por esta nao surtir o efeito magico desejado. Percebo o surgimento de um sentimento de esperanca de que, através da andlise, a paciente possa entrar em contato com suas angtistias e vazios visando a progressiva ampliagao de seu psiquismo. Consideragées finais O material clinico apresentado, neste trabalho, propée uma discusséo acerca de possibilidades e dificuldades no processo de significagio do ato bulimico que, nesta paciente, apresenta-se como via de descarga de caracteristicas aditivas. A paciente sofre de graves comprometimentos emocionais além do transtorno alimentar. No entanto, para fins de discussao neste trabalho, me ative & andlise das questées relacionadas ao sintoma alimentar. O teferencial psicanalitico aplicado a pacientes que sofrem de graves transtornos alimentares nos brindam com desafios ¢ diferem dos casos da andlise classica de pacientes neuréticos. Nas psicopatologias em que o ato e 0 corpo dominam a cena, como no caso de Nadir, a atividade analitica demanda a capacidade de suportar, no campo transferencial, 0 longo perfodo no qual o paciente fala de forma concreta, desconectada de sentido ou desorganizada. A tarefa, portanto, especialmente no inicio do proceso, é muito mais construtiva do que interpretativa, no sentido de poder ctiar junto ao paciente um mundo simbélico até entéo nio alcangado ou precariamente constituido. Sendo os transtornos alimentares manifestagées clinicas de psicopatologias narcisicas, considerados 0 paradigma das psicopatologias que predominam na contemporaneidade, estes tém provocado diversas publicagées psicanaliticas. A incidéncia cada vez maior na clinica de sujeitos que padecem dessas patologias tem promovido a reflexio cuidadosa e orientada por intervengées analiticas que podem tornar-se surpreendentes e gratificantes, dentro das possibilidades de cada caso em particular. No caso de Suzete Nadir, os momentos dificeis em que ser escutada pela paciente nio parecia possivel, nos quais decifrar 0 simbolismo oculto aos comportamentos parecia indcuo, foram progressivamente dando lugar a solugdes menos atuadas, a partir de entendimentos construidos na relacio analitica, deslindando, assim, possibilidades de constituicao de significados Embora considerando que a psicopatologia moderna localiza o transtorno alimentar como possivel em diferentes niveis de organizacao estrutural e, inclusive, por vezes, como manifestacio histérica com novas roupagens, ha predominancia, 166 | Psicandlise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Isabel Perez Mattos, na literatura, da concepgao de que nao se trata de um sintoma resultante da agéo do recalcamento e, sim, da aco de mecanismos mais primitivos, como a cisio, a desmentida e a forclusao. ‘As contribuigées pioneiras da Escola Francesa de psicossomética ¢ as demais contribuigdes valiosas acerca das somatizacées, que traduzem falta de elaboracao e de simbolizagao dos pensamentos e sentimentos inaceitaveis que sofrem forte negacao — tipo forclusao, entre outros aportes, tém trazido novas possibilidades de entendimento ¢ de acesso a um material que est4 no nivel pré-simbélico. Quando, na histéria de Suzete Nadir, ela teve que se deparar com a perda do pai e depois do marido, sentindo-se também exigida a exercer o papel de mie, os atos compulsivos bulimicos que apresentava desde a sua adolescéncia néo puderam mais dar conta de sua necessidade de descarga de angistia. Gerou-se, entio, uma regressio ainda mais profunda, a somatiza¢io em um cancer que a castro conctetamente, mas ao qual nio recaiu. Depreende-se disto que Nadir péde recorrer & andlise, buscando nao sucumbir psicossomaticamente. As falhas na capacidade de metabolizar afetos, na releitura de autores que trouxeram contribuigées a partir dos princfpios bionianos, como Ferro, com sua rica descri¢ao clinica acerca dos estados protoemocionais cindidos, é um dos refetenciais que também pode nortear o trabalho clinico. A paciente ao longo de sua andlise consegue progressivamente transitar de um relato concreto acerca de sua imagem corporal e de atos bulimicos compulsivos para um relato acerca de sua hist6ria relacional ¢ expresséo de suas emocées, ‘Asconcepgées de McDougall, que nomeia o ato bulimico como “atos sintomas” aditivos, transitérios por falhas na transicionalidade, utilizando a concepgio de Winnicott acerca dos objetos ¢ fendmenos transicionais, sio outro viés criativo. Suzete Nadir buscou, sem éxito, anestesiar-se da dor da solidao através destas descargas calmantes ¢ intoxicantes no alimento ¢ em outros comportamentos compulsivos, como as compras que lhe propiciaram apenas alivio tempordtio, transitério. ‘A transmissio transgeracional de um luto nao elaborado, que nao pode ser processado psiquicamente pela mae de Nadir, e por esse motivo transmitido a0 psiquismo da filha, dé um dos sentidos possiveis 4 sensacéo de neoidentidade da paciente, que demonstra as falhas na constituigio do sentido de uma identidade propria — cla seria 0 objeto do luto, a tia. Considero que se busca auxiliar esses pacientes a criarem uma mente, a partir do progressivo estabelecimento da diferenciagéo eu-outro, na retomada do desenvolvimento da matriz psique-soma, defensivamente _cindida. Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 167 © ato bulimico: possiblidades de construgao de significado Pelo desenvolvimento da capacidade de pensar ¢ de sentir, 0 sujeito passa a ter a possibilidade de substituir a acio pelo pensamento que brinda com possibilidades de construcéo de significado. A necessidade alimentar pode passar a ser reconhecida como representante das necessidades nutricionais ¢ seus componentes de prazer, de autoconservacao ¢ néo mais como produto da subverséo da ordem nutricional, que visa 4 mudanca corporal ¢ a descarga, como tentativa de preencher um vazio de significado. Suzete Nadir sofria de grave impossibilidade de metabolizagio de sua dor psiquica, seu desvalimento expressava-se em comportamentos automaticos, descarregados em atos bulimicos. Explodia em comportamentos alimentares compulsivos ¢ vémitos por nao tolerar a dor que sentia, por nao ter recebido condigées de desenvolver um psiquismo capaz de organizar afetos ¢ representagdes. Deste modo, ela se encontrava reduzida a ser uma escrava da quantidade, condenada a reagdes comportamentais, Isso esté ligado a falhas na constituicéo de seu narcisismo —em que o especular, ou seja, a mae, nao foi capaz de devolver uma imagem percebida em sua alteridade, integrada e, acima de tudo, amada e desejada, deixando, portanto, lugar & desvalia melancélica A bulimia denuncia 0 fracasso da elaboragio mental; busca-se, portanto, 20 longo do tratamento, o desenvolvimento de uma capacidade de mentalizacéo que gere maior complexidade psiquica ¢ andlise do ego ideal que, nesses pacientes, representa o sentimento de onipoténcia do sujeito frente asi mesmo e ao mundo exterior. Suzete Nadir erigia duras criticas a sua aparéncia fisica que teria que corresponder a um ideal sempre inatingivel. A saida do estado de alienacio, no qual Nadir sentia nao possuir uma mente reflexiva, mas to somente um estémago, uma fome, um vazio que a controlavam, comesou a tornar-se possivel. Quando decidiu retirar a banda géstrica, pois esta, no caso desta paciente, causava o agravamento do quadro bulimico, foi possivel pensar que cla se propusera a creditar, no proceso analitico, uma busca de significado para a sua angiistia, ¢ néo mais apenas em algo concreto ou magico para a contencéo de seus vazios, relacionados a falhas primitivas da funcéo materna Para o ingresso ea continuidade desses pacientes no proceso analitico, destaca- se a importincia da disponibilidade do analista em buscar as possibilidades de trilhar 0 caminho do ato 4 fala, do corpo ao simbélico, no proceso que implica a construgio do sentimento de si, da identidade alicersada em diferentes pilares, em bases mais consistentes, nao apenas sobre a imagem corporal que evidencia 0 desvalimento ea pobreza simbilica. 168 | Psicandlise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 Maria Isabel Perez Mattos, ‘The bulimic act: possibilities of meaning creation Abstract: Patients suffering from regressive psychopathology, such as bulimics, have been a technical challenge to psychoanalysis, considering the difficulties encountered in constructing a chain of meaning in these psyche-lacking symbolisms. ‘This work presents a review of psychoanalytical references about bulimia. Theoretical contributions are ar- ticulated to the presented clinical material, aiming the development of a listening and a psychoanalytic intervention of the bulimic act, in the described case. Starting from the vertex of psychopathology, the different theoretical references are discussed in the light of the issues imbricated in the psychic constitution of the patient: narcissistic disorder, mother and daughter relationship, transgencrational mourning, psychosomatic nonsen- se, addition, possibilities and difficulties in the process of meaning construction in the ransferential context. Keywords: Addition. Bulimia. Meaning construction. Narcissism. Pg ‘Transgenerational mourning. chosomatic. Referéncias Bergeret, J. (2000). A personalidade normal ¢ patoldgica. Lisboa: Climepsi. Bidaud, E. (1998). Anorexia mental, ascese, mistica. Rio de Janeiro: Companhia de Freud. Bion, W. R. (1988). Estudos psicanaliticos revisados. Rio de Janeiro: Imago. 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Carlos Gomes, 1001 / 302 90480-004 - Porto Alegre — RS E-mail: misabelmattos@hotmail.com Psicanalise, Porto Alegre, 20 (1), 150-171, 2018 | 171

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