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8 je SANT AN de Remini’ Bra lane, i a Lacos de familia e Legiao estrangeira 4 gee, alguma coisa se escreveu pescou a enirelinha. p as ai cessaa cepretere 0 texto expressionist, simbilico e complexo. O fato de gt \,, Seus Contos serem localizados especialmente nos mais diversos bair- NP ros catiocas e ela mencionar certos locais publicos, nfo a transfor. \y_ma em autora interessada na producto mimética. A localizacdo es- pacio-temporal ai € totalmente aspectual sem jamais subir & estrutu- a dos contos. "~~ Fugindo (ou incapaz) de associar-se aos cédigos ja estal dos, a narradora ja assinalara: “escrever é tantas vezes lembrar-se| do que nunca existiu”.” E instada a manifestarse sobre a chama- da literatura realista e de participagdo diz no saber como se apro- social”. ximar de um modo “literdrio™ da “6 Desde que me (O°, comhero o fato Social reve em mim im que qual- quer outro: em Recife os mocambos foram a primeira verdade pa- ao “ra mim Muito antes de sentir ‘arte’, senti a Beleza profunda da lu- ‘6 ta. Mas € que teiic umm modo simplario de me aproximar do Tato Fy social eu queria era azer”algunta coisa, como se screver ado fos. © s€Tazer."O que no consigo é usar eserever para iss0, por mais que os aincapacidade me doa e me humilhe."* A seguir, neste trecho, de- > @ fine sua egcritura como tim gesto de “procura” — tema que desen- YS oF volveremos mais adiante O texto de Clarice e a série literdria — Uma vez considerada sua assimetria em relagdo a série social resta ver seu relacionamen- to dentro da série literdria. Os eriticos e historiadores so unanimes em marcar a(ingularidade do estilo de Clariee) mesmo que tentem ari srie/flloséfica a/dar releiSeeia ach relaciond-la com outros ficcionistas chamados de ““intimistas"” ou modelos conscientes em detrimento dos modelos inconscientes de composigdo que, parece, sZo os vigentes em sua obra. Para um maior reforso do que estamos dizendo e esclarecimen- to de seu processo criador é necessario voltar sempre aos textos on- psicoldgicos"’ surgidos em nossa literatura na decada de 40. A “performance” de Clarice, para usar termo de Antonio Candido, é insélita, e gla € to “diferente” como suas personagens. Dai que, |) estilisticamente, sua obra possa ser concebida como um “‘estranha de ela explicita pelo depoimento o que implicitamente ja disse nas imento-dentro do quadro de nossa ficcdo. estdrias. Referimo-nos principalmente aos textos reunidos em ‘Fun- No entanto, € 30 assinalar que ela nao se identifica na do de gaveta"’, parte final de Legiao estrangeira. Ai se confirma praxis com as correntes de vanguarda dentro da literatura. No sen- sua fidelidade a uma voz inconsciente e ai esta professada sua arte ie escrever vinculada a certos processos magicos de apreensao do | | do nem vanguardista nem vanguardeira dentro do consenso ideols- gico-literario, ela ndo se exaspera ludicamente articulando solugdes niundo, O que se diz repetidamente @ de manciras varias € que ese ansiosamente novas para um texto concebido como inven¢ao conti- ereveré uma {sibs no paces '20 proceso”, Exemplificando: *‘o proces- nua. A explicagdo que se tem tentado dar a sua obra através de so de escrever € 1600 Teito de erros — a maioria essenciais — de co- um processo de contiguidade, isto é, aproximando-a de Joyce, Faulk- ragem e preguica, desespero e esperanca, de vegetativa atencdo, de ner ¢ Virginia Woolf néo parece levar a uma maior compreenstio sentimento constante (ndo pensamento) que no conduz a nada, de seu texto, Evidentemente que Joyce também tematiza (principal- no conduz a nada, e de repente aquilo que se pensou que era ‘na. mente em The portrait of the artist as young man) a problemética da’ era o proprio assustador contato com a fessitura de vive e es- 2 da epifania.? Joyce recebe o termo de Tomas de Aquino, significan- ” se instante de reconhecimento, esse mergulliar andnimo ha tessitu- 1a andnima, e356 Tastanie de reconhecimento (igual a uma revela- do epifania a associagdo de irés estados: integritas, consonantia ¢ Irene Hendry lembra que o estado de epifania identifica $40) precisa ser recebido com a maior inocércia, com a inocéncia ve elaritas. %e liricamente havendo uma(fusdo de Eu e o Mundo: Diz ainda que de que se é feito. O processo de escrever dificil? mas é como cha- 2 epifania ndo é peculiar s6 a Joyce, que virtualmente todo escritor mar de dificil 0 modo extremamente caprichoso € natural como || Jp experimenta 2 revelagdo, mas a obra de Joyce crastviea se por sr uma flor é feita” (p. 178). Safi pace aeons ees ed ea ae ib piasl poder A epifania — Transcrevendo esse depoimento da autora e nos so fe elhor ser aproximado dela € Guimaries Rosa, ambem recptécu, referindo aos modelos inconscientes de elaboragdo da narrativa esta- v Ie aeeeitenere, onlay ee eee mos jd tratando do ponto central deste trabalho que é: a escritura No entanto, diferin. » apesar do largo espago que ce como epifania. E para uma maior clareza do termo vamos sua de- ao tema do mistério ¢ do inexplicavel, executa um trabalho de lin- oe cs 10 vamos a sua de- ) pode ser compreendida num sentido mis- na linguagem, levando a pesquisa vocabular e estilistica a Enifenia (jpiphan: remos pouco vistos dentro ¢ fora de nossa literatura, enquanto tico-religioso € num sentido literério."" No sentido mistico-religio- Clarice, como veremos mais adiante, insiste na “‘naturalidade”’ de 80, epifania ¢ 0 aparecimento de uma divindade ¢ uma manifesta- sua eseritura. so espiritual —e € neste sentido que a palavra surge descrevendo ‘Da mesma maneira que nao basta uma leitura de Clarice que aaparigio de Cristo aos gentios. Apl Term Si procure nela os sinais do “romance intimista’” ou que queira apro- fifica o-Telato-de tina experiencia que a principio ¥€ mostra sim- ximé-la das obras de vanguarda, também uma leitura interessada ‘\y ples © rotineira, mas que acaba por mostrar toda a forea de uma em fazer conferir seus textos com os principios de uma critica ideo- innitaaa-vevelagdo. Ea percepaio de uma Teakdade sroraoante ogica, sub specie filoséfica, corre 0 perigo de reduzi-la a meia di: GUando OF Objetos mals simples, oF BestOs Tals zia de preceitos convertendo sua obra numa narrativa simples. Evi- $Ber mais colldlanas componan Tiaminagko siblia ha cons dentemente sua obra nao ¢ uma metdfora evistencialista, conquan- ranted,” ¢ @ grandiosidade do extasé pouco tem a ver com o Conferir seus ingredientes com 0 elemento prosaico em que se inserev Tsonagem. to seja uma fnetafora existenci Ainda mais especificamente em literatura, epifania ¢ uma ‘obra ou parte de uma obra onde se narra o episédio da revelacdo. E nesta acepcao que empregamos o termo epifania ao porma de Carlos Drummond de Andrade — “A maquina do mundo”? — que nio é s6 um poema, mas uma parte de um livro, composto de dois poemas (“A maquina do mundo” e “Reldgio do Rosario"), que relatam uma experiéncia aparentemente rotineira, que é 0 poe- ta andando por uma estrada de Minas num crepiisculo até que se The depara a estranha maquina ofertando-Ihe todo o conhecimento da verdade e a solugdo dos enigmas. Em Clarice o sentido de epifania se perfaz em todos 0s niveis: Jacko & 0 que autenticamente se narra em seus contos ¢ r0- mances, Revelagdo a partir de experincias rotineiras: uma visita “ao zool6gico, a visto de um tex0 na rua, a relagao de dois: dos ow a vistorde uma baraia dentro da casa. Nos romances isto Se conta com mais Torga e Targueza, como a longa trajetéria de Martin em A maga no escuro em seu processo de “descortinar” mundo em patamares ¢ ir adquirindo a linguagem através dos sent dos, do pensamento, das palavras orais ¢ escritas. A linguagem, in- clusive, como uma luta contra a razo, linguagem antilégica, lon- ge dos logos de /Aristoteles perto dos logos de/Herdclito, ria para trabalho mais amplo e detalhado levantar a problemdtica da epifania na prdtica ¢ na teoria do romance em Clari- ce. Como sintese, no entanto, nio podemos deixar de referir 20 tex- to “A explicagdo inutil”, que se refere a técnica que usou na compo- sigdo de seus contos em Lagos de familia. Contando a génesis de ‘um por um, notamos as palavras-chave de todo 0 depoimento, expres- sdes como: “‘transe’', ‘timpresséo"’, ‘‘descobri"’, ‘*novelo”, ‘“falt de dificuldade”, “hipnotizedas”, “nascia jd feita”, “o conto ali Gite me f ald de observagées como “e Houve tudo 0 mi nao sei”, “‘ainda ndo entendo, o professor de matematica””.— ~Considerada a narrativa de Clarice como uma epifania, locali- 2a-se melhor a problemdtica da escrita enquanto um sifo que se cum pre como fornia dé “submissdo ao processo™. Na parte final deste trabalho retomareni6s as relagbes da excrifa epifanica ¢ do rito. Por hora, basta assinalar que enquanto rito, essa narrativa epifani- ca se repete a si mesma, repetindo seus mesmos lugares, com a qua- se rigidez do rito sempre velho e novo, como a girar uma série de simbolos em torno de um mesmo eixo enfatizando sua insuperdvel circularidade. Leuura sintagmatica e paradigmdtica — Procederemos a dois tipos de leitura desses contos. Num sentido horizomal e sintagmati £0 tentaremos ler quais as fungdes principais que se estabelecem nesses 26 contos de LF e LE, Num sentido vertical e paradigmati 0 Lentaremos isolar uma série de motives que mostram uma articu Jago selada das estérias. O sentido da andlise decorrerd da inter-r- lagdo critica desses dois niveis de leitura. a) Leitura sintagmaditica. Essa leitura opera no Ambito das iden’ tidades e semelhangas segundo a linearidade da composigao dos con 105 de Clarice. Excecao de trés deles aos quais nos referiremos adian te — 05 23 outros preservam as seguinte identidades. = Warrador na 17 e 3? pessoas do singula). O foco narrati- \o nao traZneniama movado ou Tuptura violenta em relagdo aos métodos tradicionais de narrar. Em LF, excecdo apenas de ““O jantar"’. todos os demais contos so narrados na 3? pessoa do sin. ‘gular. No entanto, mesmo esse conto, por ser anotagdes de uma personagem-narrador, assume tom idéntico da narracdo na 3? pes soa do singular desde que o personagem-narrador elege “‘o outro” como objeto de sua narracdo. J4 em LE, 7 dos 13 contos vém na L¢ pessoa do singular. Acresce a essa técnica convencional 0 uso im clima de do estilo indireto livee ligeiros didlogos dentro de naturalidade. = Gasineia de cortes es icio-iemporaidviolentos que tornem cata de efeitos expressivos. Os con. ‘dos, privilegiando os mais diver- tos transcorrem por lugar sos bairros cariocas numa marcagao cronolégica de ‘Dados e doMtingos, tase vindas dos personagens sem maiores so- bressalios. ©) fermeontincis de Ey Gaara Sele eaten Sie os conas revelando uma armadina pareada Amusasetapas dispos ‘as for 1 Orcinas pron bias ge acalidenay® ~- aude oe recem os {adlses do confko ¢-a proparanis dos aurantes para de sempenho: a {PFOva principal’) — onde © personagem ¢ tesiado no climax da estoria; © [‘prova glorificante") — que aporta o des- fecho com a solugdo da estoria- Essas anotagdes seguem uma otica critica que busca situar as semelhangas entre os diversos contos. Elas realmente existem ovo € agalinha” e “A quima histéria. As derais seguem as ob- servagdes anteriores.!? Dai se poder chegar a seguinte formaliza- sao das unidades sintagmaticas através de um quadro das fungdes baisicas = 1. Colocagao do personage numa determinada situacdo. 2. Preparagdo de um evento ou incidente discretamente presseatido. 5 3. Ocorréncia do ineidente ou evento. Desfecho em que se mostra ou se considera a situayao do personager apés 0 evento ou insidente, —4. ‘Tome-se um exemplo aleatoriamente — 0 canto “Aimar” (LF: 1, Colocacdo do personagem em determinada situagdo: Ana sobe no bonde com um volume de compras ¢ enquanto o bonde corre ela devaneia sobre sua vida. 2. Preparagio de um evento ow incidente discretamente pres sentido: ela vé um cego no ponto de bonde e se poe, absorta, & con- rempli-lo até que o bonde parte subitamente assusiando-a ¢ derra mando suas compras. A narradora indicia: “o mal estava feito” (a personagem percebe um certo desequilibrio entre Ecolsas que H40 via antes, € a palavra ™ “explica 0 novo esta- do da criatura. - — 3. Ocorréncia do incidente ou evento: atordoada com a im: gem do cego, ela entre no Jardim Boténico onde, em contato com Enimais e coisas, descobre um mundo antes imperceptivel Ocorte- The a “‘ndusea’’. Repetisa, enquante indo, @ cegueira do ce- go. Dé-se a epifania ¢ sua consciéncia se abre para outra realida 4, Desfecho em que se mostra ou se considera @ situagdo do personagem apés 0 evento ou incidente: terminada a expei iniciada através de um gesto rotineiro, retorna a casa ¢ a visto do cego ¢ do jardim vai se diluindo: “acabara-se a vertigem da bonda- de, E, se atravessara 0 amor ¢ 0 seu inferno, penteava-se agora di te do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coragdo. An~ tes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena fla- ma do dia’ Como dissemos, essas fungdes permanecem praticamente ‘em todos os contos. Insistir em sua aplicacdo como esquema da andlise nos levaria ao exercicio das identidades, fazendo-nos es- quecer as possiveis diferencas evistentes entre os contos. Mas as excegdes ndo podem ser esquecidas, nao s6 porque valorizam a re~ gra, mas porque dao um sentido maior ao conjunto da produrio da contista. E nesse sentido que merecem citagao a parte: “*O ovo ea galinha", “A quinta histéria’”, € “A repartigdo dos paes™ ‘A rigor —"O ovo ea galinha™ e ““A repartigao dos pies” situam- se numa frontcira intermedidria entre 0 que se convencionow cha- mar conto ¢ crénica, e ‘“A quinta historia” ¢ um evidente traba- Tho sobre as variantes de uma Miesma estdria. Esses textos nao querem ser contos ou no Se esforcam para tal. Mostram a criati- vidade solta ¢ descompromissada da autora. Em ‘‘O ovo ¢ a gali- nha”, por exemplo, aquilo que Greimas chamara de ‘‘actantes’” atinge 0 méximo da abstracdo, pois o que ha é uma enovelada pe- roragdo sobre a fungi que une dois elementos (A ¢ B) sob 0 no- me de ovo/galinha. Esses textos, dada a sua singularidade, mere- ceriam andlise a parte.'* b) Leitura paradigmdtica. Trata-se de ler num sentido vertica- lizante uma série de elementos simbélicos que a autora inscreve re- correntemente em suas estérias e que poderiam ser considerados ‘em duas perspectivas: primeiro, marcando-se a semelhanga e 2 dife- renga de seu emprego em relagdo a outros escritores, e, em segun- do lugar, mostrando como eles se articulam sistemicamente € ga- nham seu sentido no modo'como se arranjam no interior de sua narrativa. Efetivamente 0 levantamento dos motivos recorrentes selecio- nando os dez mais usados so, em nosso entender, os mais significa- tivos para o estudo da narrativa de Clarice come linguazem e epifa- nia, E uma técnica de anilise que utilizamos também em Vidas se- cas de Graciliano Ramos. No entanto, a diferenca entre os dois pro- sadores é que Graciliano trabalha muito mais ao nivel do conscien- te, enquanto Clarice desenvolve uma escritura centrada no incons- ciente, Isto acarreta uma maior ordenag3o dos motives por parte de Graciliano. Mesmo assim, esses motives fluem e refluem recor rentemente fornecendo material para uma andlise da camada simbs- lica desta narrativa, (Os dez motivos recorrentes mais usados ¢ significativos para a compreensio dos problemas da escritura enquanto epifania em Clarice so: Lespelho 6, objeto 2 olhos 7. jogo/tito 5. bichos 8. pal 4. inguagem 9. eu x outro S. familia 10, epifania Os outros motivos certamente existem ¢ podem (¢ devem) ser localizados por outros analistas. Por exempio: o siléncio e a fala, © mistério ¢ 0 inexplicével, o menina sébio (este um motivo ji apon- ‘ado por Curius), @ macd, a montanha, anor @ dio, perda e ga- “nko, Alguns desses serio reteridos no correr desta analise, outros, conquanto localizaveis, perdem-se devido ao carter assistematico como surgem. Num quadro da freqiiéncia dos motivos, assinalando a presen- ga deles em cada um dos 26 contos de LF e LE teriamos: 6. eux outre 1. eape 2.alhos 3, animal 7. objeto LAGOS DE FAMILIA ——— 4 A LAGO™ DLT SMHLNE ENO SEE AStY ta s LEGIAO ESTRANGEIRA =| tal x [x[x]x | tat f x | 3] [xx [ay fx Lx ls] [x |x pel {tx A pel ft x | [es aa x 0 mr 100 |e | ee |e aft | [xix zo Tx | x frfajsjolels vape ala|«|u Umestudo detathado desses motivos deve ultrapassar essa quan- tificagdo exposta no quadro. Ai se fixa a presenca ou ndo do moti ‘vo, mas ndo ha como indicar a forga com que é empregado em ca- da conto. Essa anotagao quantitativa ¢ apenas introdutdria a inter- pretagdo qualitativa dos contos. Por ai se percebe a rede dos moti vos ¢ sua freqiéncia, mas o sentido ¢ 2 forca devem ser estabeleci- dos numa andlise alongada. ‘Como introdugio apenas a esse tipo de andlise daremos aleu- mas caracteristicas minimas de cada motivo. Cada um mereceria desdobramento pormenorizado, Dada a natureza deste trabalho, no entanto, nos limitamos a essas indicagdes introdutdrias. 1, Espetho. Nao € usado simbolizando a passagem do tempo nem marcando simplesmente 0s reflexos narcisistas da personalida- de como poderia indicar uma estilistica inspirada em Bachelard. Apesar de certa freqiiéncia, principalmente em LF, o espelho é um objeto que ganha mais sentido quando correlacionado com outros t6picos através de um sistema da contigilidade: os olhos, os ani- mais, Eu x Outro. 2. Olhos. Motivo articulador de pelo menos 11 dos 26 contos, abre-se por um campo semantico definido recorrentemente por ter- mos como:Gegueira, dculos, estrabismo, miopia) E um cego que de- sencadeia a epifania em Ana (LF-2) O cego/cegueira volta nos con- 10s LE-1, LE-3, LE-9 como personagem ¢ metafora. O conto “O buifalo"’ (LF-13) é todo montado no relacionamento da mulher com 0 animais através dos olhos. Os olhos af vazam amor e ddio. Em “Evolucdo de uma miopia’” (LE-9) 0 motivo se distende para ilus. trar o conflito entre o racional/irracional ou a inteligéncia apenas exercida através de lentes. O personagem cresce para assumir sua ce- gueira, para a partir dai ver alguma coisa no mundo: “foi como se a miopia passasse e cle visse claramente 0 mundo”. 3. Bichos. Sdo a denominagao genérica para toda sorte de in- setos, aves ¢ animais que infestam sua simbologia. A barata — mais largamente usada em Paixdo segundo G, H.—, a galinha sacrifice. da, 0 pinto assassinado, 0 c&o imaginario, o elefante, borboleta, la- gosta, escorpises, besouros, gato, rato, cavalo, enfim toda uma fau- na magica que && vezes ocupa um largo espaco da narrativa como nna descrigéo do zoolégico em LF-13. ‘‘Parece-me que sinto os bi- chos uma das coisas ainda mais préximas de Deus, material que ndo inventou a si mesmo, coisa ainda quente do préprio nascimen- to". A identidade entre homem e animal, como variante do dualis- mo Eu x Outro, aparece implicita ¢ explicitamente em praticamen- te todos os seus trabalhos, e até mesmo naqueles onde cla no se re- fere diretamente aos bichos. Pois sobre "“A menor mulher do mun- do” (LF-9), ela diz: “‘creio que também este conto vem de meu amor por bichos"*. 4, Linguagem. A linguagem ¢ referida implicita e explicitamen- te. Implicitamente vai se vincular a problematica da epifania ¢ sur- ‘ge como decorréncia da “‘procura”” e do “‘encontro” do Eu ¢ do ‘Mundo, Em contos como “Mensagem” (LF-3) realiza um trabalho de linguagem na linguagem isolando certas palavras com aspas e grifo. Em torno desses termos se monta a narrativa. O envolvimen- to do personagem com a linguagem expressa um ritual presente em seus romances. A magd no escuro parece set 0 melhor exemplo disto. Alguns vocabulos server de eixo e tem um sentido especifi- co no léxico de Clarice. Fora isto, seria de se estudar também a uti- lizagdo ou aproximacao de sua linguagem da linguagem biblica e ca- balistica e a maneira de tirar dai alguris dos topos de sua composi- do. Esse aspecto — a linguagem — para ser melhor traiado teria que ser vinculado aos textos-depoimentos da romancista reunidos, por exemplo, em “Fundo de gaveta” 5. Famitia. E bem apropriado o titulo — Lacos de Familia Ai pelo menos 9 dos 13 contos centram-se em personagens no am- biente familiar. Mas a familia em Clarice ndo ¢ pretexto para andli- se de relacdes psicolégicas entre pai-mae-filho ou para conclusdes sociolégicas e discussdo dos costumes. Ela surpreende o trivial, 0 corrigqueiro da situagdo familiar e espreita atrds do cotidiano o ad- Vento de uma epifania qualquer. a 6. Objero. Uma insistente dialética de sujeitos ¢ objetos se monta em todas as Sua¥ narrativas, ora 0 sujéito vertido, ofa 0 Ob- Jeo converlido-enr sujetto. Essa identidade € parte da ocorréncia epifanica quando 0 individuo se poe ao nivel das coisas, @ dos outros Homens. Animais € plantas se antropomorfizam num re" HieiOhamento onde os elementos perder suas caracteristicas mi raise vegetais ese convertem num outro Eu € num outro “Ti Exemplo €"O ovo ea galinha”, onde se anuta ideta de prece cia de um elemento sobre o outro e se confirma a presenga do “pro- cesso”” que ultrapassa a todos os elementos. esses tépicos se deveria estudar também um recurso formal presente em diversos contos, que é a referéncia a objetos recorrente- mente, Em LF-1 refere-se varias vezes ao ‘‘chapéu da mulher", em LF-2, ao saco de compras, em LF-3, ao copo de leite ¢ a0 vesti- do marrom em LF-8, ao énibus, em LF-9, ao chapéu, em LF-13, a0 casaco marrom, Em LF-2 0 objeto ¢ a mesa, em LF-3, casa, em LE-8, o chocolate. Se esses objetos sfo citados varias vezes den- tro de cada conto, outros sao citados através de varios contos, co- mo € 0 caso dos éculos. Poder-se-ia fazer um estudo da presenga ¢ significado desses objetos, agrupando-os segundo certas caracteristi- cas sémicas assinalando-se, sobretudo, 0 efeito formal que ai se obtém através da repeticao.'§ Jogo/rito. Esse aspecto vem ligado também a outros © +ai ter seu sentido completado quando vinculado a epifania. Os limites entre 0 jogo ¢ 0 rito sio térues. Esse jogo/rico que envolve 0s perso- agens surge como uma atividade involuntaria, como realizagao da. quito que -@-ficcionista chama de “proceso. © jogo ai é elemento in. tetior a0 Tito. Toda a acdo se manifesta como um ritual que compor: 1a jogos curtos, No ritual o resultado ¢ sempre previsivel, com pou cas sariagdes. O aleatorio existe, mas ndo disturba as regras basicas da composigdo. Ai estdo: a tensio, a sensagao de liberdade. a evasao da vida real, @ representacao — ¢ uma série de outras caracteristicas que Huizinga'® aponta na natureza e significado do jogo. A relacdo entre Sofia e 0 professor (LE-1) ¢ enirevista como algo Hidico, pois cla desenvolve ‘'o jogo de torné-lo infeii2". Em LE.9, a relacdo entre o menino € a prima é indiciada pelo “:abulei To de damas” e pela “‘quadritha de dangas"’. Fora essa referencia direta a0 jogo, a ludicidade manifesta-se na narrativa, em geral no ritual que 0 Eu ¢ 0 Outro estabelecem sob disfarces varios, que nao esconde a bipolaridade e a transcorréncia de uma partida. que pas- sa pelos estagios que apontamos na leitura sintagmatica. Esse jogo em Clarice ndo vem revestido de fanfarras e formas exteriores dind- micas. As vezes o jogo paira sobre o “nada” ¢ é 0 “nada” que se atinge no paroxismo do rito. O nads como a outra face do “tudo” complementando a epifania e a visio das coisas 8. 0 Pai. Muitas vezes referido sob o nome de Pai mesmo, ow tra de Me, Deus, ““o par mais velho" ou outros, permanece essa imagem subjacente, que ja invocara claramente no final de A ma- ¢4 no escuro num insolito dialogo entre Pai/Filho, num plano total: mente simbélico. Variante dessa imagem é muita vez “‘o professor". presente em cinco desses contos (LF-8, 10, 12 e LE-1, 3) e marcada mente em romances como Uma aprendizagem e Perto do coracio selvagem, além de A magd no escuro.'” of x Ouro Em pelo menos 24 dos 26 contos tematize-se © con! S figuras ou dois elementos, sendo que em al- guns, 05 termOs “eu” € “OUUrO"” vEMT deSaCHdOS emt Grifo ou aS gue se opéem inversamente em sua feitura podem ser visios mais de perto sob este aspecto: “A mensagem" (LE-3) ¢ Os obedien: tes" (LE-12) Em "A mensagem" (LE-3) trabalhando sobre a linguagem, a narradora contraponteia um rapaz ¢ uma moca que se articulam por um eddigo especial. Classificam o mundo ¢ a si mesmos atra- és de palavras comuns. a que dio um sentido especial: “coinei déncia", “‘evoluindo™, “superei", “auténticos”, "verdade", “nor malidade"’, “mensagem"", “poesia, etc. Numa primeira fase ra paz € moga se consideram diferentes dos ‘‘outros"’. Tanto se iden- tificam entre si que séo sexualmente chamados de “hibridos”. De- ois que thes ocorre a epifania — ladeados por um Onibus que avanga, uma fachada de casa e um cemitério — descobrem a arti- ficialidade de sua consitituigao. O resto do conto é 0 desmonte dos personagens, fazendo-os perceber melhor o seu proprio mun do e 0 mundo dos “outros”, até que aproximando-se dos animais atingem 0 maximo de desamparo. A mosa é vista sob a forma de um macaco de saias e o rapaz desnorteado pela revelagao acaba aclamando por “mamae “Os obedientes"’ (LE-12) utiliza o mesmo esquema dual (A in- teragindo com B), mas sezue caminho inverso, O casal antes identi ficava-se com a “‘normalidade’’, avessos & palavra “‘essencial"’, atin- gem a “dade critica”, Aré entdo “a simetria Ihes era a arte possi- vel”, O resto da narrative mostra como “a mulher, tendo dado uma mordida numa maga, sentiu quebrar-se um dente da frente” Rapidamente descreve como os dois sucumbem tragicamente ao pas- so do desequilibrio descoberto. 10. Epifania. Como o dissemos anteriormente este termo tem aplicagao especifica dentro da literatura. Em Clarice a palavra epifa- nia no aparece, mas toda a atmosfera se citcunssreve por outros vocabulos ¢ pelo ritual da propria escrita. Vocdbulos surgem expli- citando © campo senvintico da revelagio: “crise”, “ndusea”. Tero”, “mensager”, “RSEnatO", "edlera” 2 = “mos relerenctactores da epifania, Se em alguns contos 03 persona- ‘gens mal conseguem TORIPET a pele do cotidiano e vislumbrar uma revelagéo qualquer, em outros o fato se da com bastante clareza. E todo um jogo de equilibrio ¢ desequilibrio entre um antes ¢.um depois marcando a submissio a um processo que ultrapasse os ac- tantes. Esse tépico sintetiza todos os demais. © movimento que articula esses motivos recorrentes se tor- 1na mais claro quando passamos do nivel dos personagens e desco- brimos que a recorréncia ¢ um processo que a narradora usa pa- ra fixar seu unhverso simbolico, Na andlise C006 eTeno € na con firmagao de sua técnica vejamos como isto se cumpre no nivel se- guinte PERSONAGENS Conjuntos de personagens Até agora em nossa analise percorremos as seguintes eta- pas: a) consideragdo das leituras mais significativas de Clarice por parte da critica; b) proposigio de quatro itens principais para anali se; ¢) consideracdo da especificidade da narracao de Clarice ¢ 0 sea- tido da epifania; d) leitura sintagmftica/horizontal das principais fungdes dos contos no pélo das identidad 2) consideracao das di- ferencas investigando na cadeia paradigmatica os motivos recorren- tes que se aglutinam solidariamente. No nivel dos personagens deve-se acentuar inicialmente que 0 petsonagem aqui nao € “persona” no sentido tradicional. Se fosse essa a diregdio de nossa anglise estariamos lidando com modelos psi- coldgicos e psicanaliticos tentando sondar os “‘interiores'’ ¢ a “‘pro- fundidade"* do pensar e sentir dos personagens dessas estorias. Para efeito de andlise, os personagens aqui acham-se convert ‘dos em elementos que interagem dentro de uma estrutura configura Ga pela narragdo de Clat ice. Tome-se “O ovo € a galinhia™ como @xemplo bemr-acabado dessa observacdo. Despersonificados, esses elementos dizem mais amplamente do modo como a simbologia de- senha seu espectrum. E a maneira mais eficiente de localizar o sen- tido da articulacdo desses tipos é agrupa-los segundo suas identida- des em conjuntos que se definem a si mesmos na medida em que exigem propriedades semelhantes. Estudar, portanto, os persona: gens aqui nao é tomar Joana, Alice ¢ Almira, Sofia ou Catarina © conjecturar sobre suas motivagées psicoldgicas ou os seus pensamen- tos em determinadas situagdes, Este estudo consiste em ver além dos nomes as similitudes dos elementos. Se estivéssemos a analisar G. Rosa, certamente 05 nomes implicariam um sentido ¢ diriam alk 80 especificamente sobre a natureza dos personagens. Nele, © P nagem desde o nome tem Sua genealogia ¢ estrutura determinadas. Em Clarice 0 sentido onomistico, se existe'’, nao é sistematico. Por isto ha que ver por detrs de todos os nomes dos personagens outros tragos que os agrupem e déem sentido ao seu desempenho. ___A primeira abservacio sobre 0s personagens dessas estorias € @ predomindncia quase que, absoluta de tipos feminineg. Em-LF ti Tante “O crime do professor de matemtica”, que tem obviamente a figura do professor em primeiro plano e do garoto de “*Comesos de uma fortuna’, todos os demais giram em torno de figuras femi- ninas. Em LE a situagdo pouco se altera, a Gnica estéria que s6 tem personagens masculinos é “Uma amizade sincera" (LE-11), nas de mais mulher. quando néo estd sozinha, confronta-se com uma crian- a ou um Homent. Comr essa preponderante quantidade de elemen- tos femininos nado parece haver, se analisamos as estérias, nenhum interesse da autora em estabelecer diades entre homem/ mulher, pa- recendo que as diferencas sexuais pouco sentido tém, uma vez que wrevalece mais a alteridade sempre entre dois elementos sejam quais, J focem: homem mulher, mulher/animal, crianca/crians: / | criansa, homem7crianca, etc. "Melhor seria, talvez;entar a compreensao do sistema confor- mador dos personagens agrupando-os segundo outras caracteristi- cas, Fagamos outra tentativa: ver indistintamente que tipos mais se repetem nag estorias. Teriamos seis grupos de personagens: 1. professor 4. casais 2, meninos-adolescentes 5. dupla de amigos 3. velhos 6, homem animal Fazendo uma investida para configurar esses conjuntos assim teriamos: 1. Professor. “Preciosidade” (LF-8), “Comecos de uma fortu- na” (LF-T0ye principalmente “O crime do professor de mateméti- ca’” (LF-12) tratam desse personagem que volta em ‘Os desastres de Sofia” (LE-1), Essa figura oscila entre dois significados: ora é 0 individuo experirientado, HADI no Jogo da vida € dos seaiimen- tora "9 outro” (LE-1), ora € reftigio da racionalidade, um representant® do raciocinio Togico © matematico. Seja, 10 €ntanto, Srante de Sofa ou de outros alunos, seja diante do cio, o que se e- tabelece & um contraponto entre o(€a € © Outro} onde professor tanto pode ser 0 Eu quanto o Outro. 2. Meninos-adolescentes. Sio 0s tipos mais comuns depois das mulheres. At esto desafiadores confrontando-se com os adul- tos. Veja-se Sofia diante do professor (LE-1), menino Artur dian- te da familia e da escola (LF-8), a moca ¢ sua visio fantastica dos mascarados no jardim (LF-11), 0 confronto entre 0 Menino € a pri- ma (LES5) ¢ 4 Tensd0 entre a menina Ofelia ea vizinha por causa do pintinbo (L 3.Veihos)Significando sempre os excluidos da comunidade ¢ ‘enfrentam os outros com seu surgindo manipulados pelos Jovens, olhar ja internado 1a em outra realidade, Veja-se a velha que tem seu aniversdrio comemorado por todos os familiares (LF-S), 0 velho © sigiado ¢ analisado pela jovem enguanto jania (LF-7) ¢ a selhi nha que é levada de casa em casa como indesejavel até morrer de- baixo de uma arvore em Petrdpolis (LE-7). 4,[Casais] Construidos numa relagao medial entre o Eu ¢ 0 Ourro, O5 casais se espelham em si mesmo na busca de identidade © identificagdo. A portuguesa em devaneios no fim de semana o- “Geada domatido ¢ de um casa! amigo (LF-1), 0 regresso de Ana a casa e ao marido depois da visio epifanica no Jardim Botanico (LF-2), 0 rapaz e a moga que queriam ser escritores ¢ tanto se con. fundem que chegam a ser um par hibrido (LE-3) e, enfim, o sasal obediente que sente a desintegracdo de sua vida siméirica quando perdem 0 ponto comum de referéncia (LE-12). S{Duplas de amiigo3. Repete-se aqui o esquema do Eu e do Outro entre 0s casais. Veja-se o relacionamento entre Laura ¢ Carlo. ta através das rosas (LF-8), 0 explorador ¢ a menor mulher do mun: do (LF-6), a filha que conduz a mie a estacdo (LF-9), @ relagao agressiva de Altamira e Alice que acaba em crime e priséo (LE-8) € 08 dois amigos que se esforgam por manter uma amizads insusten- tavel (LE-11) 6. Homem/animal, Um e outro se complementando e servin: do de se espethar ¢ de se identificar, ai estdo 0 homem ¢ 0 animal se completando, Toda a familia se movimenta em torno da galinha que acaba sacrificada (LF-3); 0 professor de matematica enterran do a imagem de seu cdo (LF-12), a mulher no zoolégico procuran- do identidades (LF-13), a menina ruiva e o basser também ruivo (LE-6), a mulher ¢ seu envolvimento mortal com as baratas (LE-10). lém de muitos outros trechos € contos que se referem ora ao pin: to, ao ovo e a prépria galinha. Esses agrupamentos sao provisérios, mas ja abrem espaco pa. ra. uma formalizagao maior do raciocinio. Ja nesses grupos hetero: géneos sumariamente descritos, percebe-se a solidariedade entre dois elementos. Esses seis contos mostram’a invariancia de uma dualidade (Eu_x Outro) sob disfarces varios, Procurando estabele- cer um paradigma através de elementos aparentemente distintos. obteriamos os seguintes pares em oposigao dentro da situasao dos contos: LAGOS DE FAMILIA LEGIAO ESTRANGEIRA 1. Rapariga > muther de 1, Sofia Profesor (+) chapéu ~ 2. Ana x cego (CF) 2. NOs x mesa o 3. Galinha x familia (—)_—3. Rapaz x moca Ww 4, Laura x Carlota (4) 4. Mae menino -) 5. Velha x familiares (+) 5S. Ove » galinha w 6. Explorador x menor 6. Menina x basset = (+) muiher do mundo (+) 7. Moga x velho (+) 7. Velha x outros - 8. Menina x assaltante (+) 8. Altamira x Alice (+) 9. Catarina x mie (+) 9. Menino prima (+) 10. Menina x outros (=) 10. Mulher baratas (+) 11. Menina x mascarados (+) 11. Amigo ~ amigo & 12, Professor x cao (4) 12. Marido x mul w 13. Mulher x bifalo (+) 13. Mulher x Offia (+) Essas oposigdes néo tém a mesma forga em todas os contos. Hi as oposigdes fortes (+) e as oposigdes fracas (—). As fortes se- tiam aquelas mantidas através de todo o conto pelo confronto en- tre dois elementos permanentes funcionando come eixo da narrati- va; as fracas seriam oposigdes eventuais, ou entdo, em relago va- ga 2 todo um conjunto de outros personagens. Perfilando esses elementos aos pares estamos dando maior ri- gor as anotagdes anteriores e marcando a rigidez da construcao das estorias e as invariancias. Essa operacdo verticalizante deve ser par- te de outra anotagao no nivel da horizontalidade. Ou seja: a conver- so de todos esses elementos em dois elementos simbélicos A x B ou Eu x Outro deve vir articulada com a leitura anterior ja feita no plano sintagmatico. Esses pares em alteridade ndo se acham esta- ticamente dispostos, tém uma trajetéria que coincide com as fun- GBes que estabelecemos anteriormente. So dois movimentos que se complementam. Tome-se como exemplo o préprio conto — ““A- mor” (LF-2), jé considerado anteriormente. ‘Num primeiro lance (colocagao dé personagem numa determi- nada situagzio) o Eu achava-se pervagando entre memérias ¢ cohje- turas amenas, pois 0 Outro, sob a forma do cego ainda nao despon- tou. Numa segunda etapa (preparacdo de um evento ou incidente discretamente pressentido) 0 Outro surge como potencial de amea- ¢a, mas ja “‘o mal estava feito", e ela nao pode mais descartar-se de seu par. Sucede a terceira fase, ocorréncia do incidente ou even- to onde arremessada num novo mundo de formas e forgas primiti- vas ela expde-se a epifania. Ocorre-Ihe a “‘ndusea"” do mundo, sen- te um fascinio pelo proprio nojo ¢ pelo mundo “sujo” que acaba de vislumbrar. Gragas ao cego agora sofre o transe de ver as coisas e seres. Na fase final (desfecho em que se mostra ou se considera a situagdo do personagem apés 0 evento ou incidente) ela retorna de sua “‘vertigem"’, afastando-se do “*perigo de viver” ponto de maior intensidade entre 0 Eu ¢ 0 Outro situa-se no terceiro estigio onde ocorre a epifania — certo momento neces- sério e insustentavel de tensdo. Depois do evento 0 personagem ou se deixa definitivamente perturbado ou regressa a0 repouso inicial. ‘Mas continuara para sempre “ferido nos olhos”. LINGUAIGEM) A critica logo que leu 0 primeiro romance de Clarice Lispector (1944) foi undnime em ressaltar a novidade de seu “estilo”. Dai pa- 1a frente tem se preservado esse espanto e se tem prometido um estu- do dessa lingua to individualizada, Importante, além disto, é obser- var que 0 “estilo” ou modo de Clarice escrever permanece quase inal- terado nesses trinta anos. Rigorosamente, todos os efeitos frasicos que conseguiu em Perto da coragéo selvagem repetem-se insistente mente nos demais romances e nos contos. Essa escrita que se repete faz da repetigéo seu modo de construgdo. Repete-se circularmente um exercicio de modelos inconscientes dos quais a autora nfo se desgarra, antes, cultiva insistentemente, tanto mais professa a idéia de que escrever ¢ procunar: “esse modo, esse ‘estilo’ (), ja foi che. mado de varias coisas, mas nao do que realmente e apenas é: uma rocura humilde) Nunca tive um s6 problema de expressio, meu pro- blema é muito mais grave: € 0 de concep¢a0” (p. 114). © giro desse novelo narrativo sobre seus fusos, essa procura do tecido e da teia, faria da repeticao seu recurso natural: “a repe- tigdo me é agradavel, e repeti¢ao acontecendo no mesmo lugar ter- mina cavando pouco a poco, cantilena enjoada diz alguma coisa”” (. 175). E essa recorréncia se da, pelo menos, em dois niveis: no nivel estilistico propriamente dito, pela utilizacdo de andforas no nivel simbdlico, reempregando as mesmas imagens convertidas em motivos recorrentes. Nesses contos tomem-se dois exemplos. Primeiramente “O ovo ea galinha’, Desenrola-se af toda uma cartilha de alteragdes onde as palavras se repetem exaustivamente, porque € uma sensa- sao-idéia que ela exaustivamente “procura’. ““Sé vé 0 ovo quem Ji o tiver visto. Ao ver 0 ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdi- do, Ver © ovo é a promessa de um dia chegar a ver 0 ovo” (p. 55). E assim vai se compondo a estéria dentro da estéria, a palavra den- tro da palavra exatamente como aquela caixa chinesa que contives- se outra caixa, que contivesse outra caixa, etc Se uma estoria se repete na outra, se a invaridncia permanece, as estérias ndo so mais que uma s6 est6ria que se procura a si mes. ma desesperadamente como aquela “Quinta Intermindvel porque “Esta histéria poderia chamar-se ‘As estétuas’ Outro nome possivel é “O assassinato’. E também ‘Como matar ba- ratas’. Farei entdo pelo menos trés historias, verdadeiras porque n: nhuma delas mente a outra. Embora ume tnica, seriam mil e uma, se mil e uma noites me dessem” (p. 91). Como uma Scheherazade a fazer ¢ refazer o novelo da natracdo, a retomar seus motivos re- correntemente. “A quinta histéria”” ¢ a narragdo de pelo menos seis est6rias, mais, portanto, do que sugere o titulo. Ai estdo indica- das as cinco estérias, mais a estéria de como as cinco se contam. E a narragfo se curvando sobre si mesma. 434 diante de um tema tnico para desenvolver, Sofia (LE-1) percebe a multiplicidade de estérias dentro da estéria: “Meu enk vem de que um tapete ¢ feito de tantos fios que no posso nar a seguir um fio 56: meu enredamento vem de que uma histéria é feita de muitas historias” (p. 11). A repetigao em Clarice esta presa a um processo instintivo € irracional de firmar a “‘procura”’. Por isto merece atencao a distin- ‘do que ela faz entre “expresso” e “‘concepydo” adiantando que 4 expresso enquanto rebuscamento formal nao Ihe interessa. Inte- ressa-lhe, isto sim, a concepedo geral, a grande génese, a pesquisa interior e surda efetivada por radares nada racionais e inteligentes Por isto € que a constituicdo da frase em Clarice tem que ser estuda- da a partir da compreensao geral da estrutura de sua ficgdo. Sem essa visio de conjunto, de “concep¢ao™ como diz, hi o perigo de se fixar restrito ao elemento pequeno da frase sem subir ao plano geral de elaboracao da obra. E importante para encaminhar esse aspecto reler a série de ob- servagdes que faz nos contos € romances € nos seus depoimentos so- bre o lugar que a inteligéncia ocupa na elaboragio de sua obra. pana gssandaizar que ela diz gue “ewce.o pe aoe enrender, sem ser através do processo de exe @ inspecting ee a as ras 0 efor de 388 int one sentido, pois. que escrever me € u Nina que soe um paradoxo, portant, es em absoluto, inteligente, ¢ o aves: se cy costes "para compreender mink so in i ja a ine tornar inteligente’™ (P. 142). Sac eit Clarice. to inteligente cow soa. | ante das medidas convencionais da in Sy romance podia aver frases asin: “era fundos) — quebrando 0 convencie: Oo ee rnla win clemento intermtedidrio no pensamen- sal TS gata constr, Tnustad, mo egg Ae to. ak imagitiew ¢ semantico, oa sintaxe, E esse mes se mam aparvate empresa reincdanterente £218 sees Lind no escuro possui uma frase, que fe Fear ete are stra total nonsense: "O melhor women to de minha vide foi quando as tropas de Napoledo entraram em tnuitas outras frases tocam o leitor por Qual, por exemplo, o sentido desta eX de Sofia’ (LE-1)?... “famava-o como: mente proteger um adulto, com ade ¢ 8 umn homer farie de om de e a comparacie 0 Nao é simph | po-las em pal necessidade™ (9. 148) rita inreligente de Clative mo & so da nao inteli teligéncia fai obrigada 28 Nao estrantia que af gja na verdade intel sejn na verdade teligéusia bcm sew prime @ FOpai morrcis somes MALE dos os s Paris (p. 131). Canto esi eos transversos ¢ esto. Fey. Hd). Or teteH0s eSlet CON vy ateatoria, consttuindo insslita abs ot et suds, paradxos¢absraNe im ere Heh lace a imposibilidade de se medic st I teas, parma, pet grannatica do diaa-dia, pela semdntica lisa. Bor ito due, esteanbamene, 0 sentido de suas fra Fa iat oi sah Frases, mas dese da eoneepsto™ geal se eure” Lae into fosse@ mesmo que diver QUE Ne Foran eu n geoe! pata particular munca do particular pe ta Hae pane at cue anda dina, Sa era as a. aoe ear elds ge Fatam nto pla do enunciado. Assim Nima ee cepa Nati € muitos outs, que chegany & eptania come Pe ina dace, romance que dsra: “exp so mgm feconece © a) gom € ue unt pe sesue Oo 0 wgnem reconhece o ants” © some a WU TS asa qu ors que wal de ‘ ‘ ye esmaguem com palavras as. entrelinhas creer ge a9 Ne cee € ae, Bo eta bros tie curves parecer em sinter & ve ser captado de algum modo. A palavra cheia contra o nada. Escre ver como uma maneira ruidosa de captar 0 siléncio: “Entao escrever 0 modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando 0 {que ndo é palavra. Quando essa no palavra morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, podia-se com alivio jogar a palavra fora. Mas ai cessa a analogia: a nao palavra, ‘ao morder a isca, incorporou-a. O que salva entdo é ler ‘distraida- mente’ " (Legido estrangeira, p. 143). ‘0 texto de Clarice repde um problema para a critica enquan. to fazer racionalizante. Implicita e explicitamente, na ficgdo € nos depoimentos ela afirma a supremacia de um “‘processo"" que nos ul- trapassa a todos: ‘Quem sabe se 0 nosso objetivo estava em ser mos © processo. O absurdo dessa verdade entdo o envolveu. E se assim for, oh! Deus — a grande resignas: aceitar que nossa beleza maior nos escape, sé nds formos apenas 0 processo"” (4 magd no escuro, p. 193). Assim posto, 0 personagem @ transpassado por um sentido além e aquém dele, 0 qual nunca compreende por inteiro, apenas por reflexo platénico — como no mito das sombras da caverna. A posigiio do personagem é, entio, essencialmence simbolista, no sentido que ele apenas se aproxima de uma verdade, sempre ausente ¢ inatingivel. Nessa situagio ele penas “alude” a verdade: “seria essa nossa maxima concretizagdo: tentar aludir a0 que em siléncio sabemos?”” (Idem, p. 192). ‘A narrativa seria essa constante alusio, esse reflexo de uma verdade impossivel de ser configurada, nio obstante insistentemen- te projetada aos olhos avidos dg uma visdo epitanica. A epifania mostra-se, entio, como o momento de excego através do qual o in. dividuo tem uma nogdo do que poderia ver ¢ ter semelhante a posi gio do proprio narrador diante da coisa que narra, ou do narradoi diante da linguagem. A linguagem alude, é a possibilidade do im- possivel, 0 éxito do fracasso, a tentativa de fala diante do silencio. Quando a epitania ndo ocorre o silencio cobre © personagem, ele rndo atinge a linguagem. Perseguindo a linguagem 0 narrador pode chegar a entender alguma coisa, compreender ndo inteligentemente, procurar, pescar nas entrelinhas, apanhar o elo que falta, aludir Aquito que todavia ausente, no entanto, rebritha na letra. Sintetizando se poderia por: ndo epifania = siléncio. A cur va que a maioria dos personagens traga ¢ essa incluso ¢ exclustio daepifania, a lembranga de um certo momento atingido ou por atin: gir. E assim a obra vai se formando de momentos epifanicos, trans- SALISH ESTHL TURAL DE ROW ANCES ASHE FRO formando-se ela mesma na materializacao da epifania — em — pro- e880 apesar dos elos vazios que (também) compéem 0 todo. A critica tem diante de si a tarefa de ler tanto a linha quanto a “entrelinhg”, na medida em que pretende compreender a obra sin- tagmatica e paradigmaticamente, resultando desse eixo modelos de apreensfo de sua estrutura. A simplicidade da sintaxe parece ajuntar- sea complexidade da semantica de Clarice. Sua sintaxe parece estar do lado simtagmatico ¢ da simplicidade e nesta ficgZo a semantica erfila-se com 0 paradigmatico e com a complexidade. Considere-se, Portanto, a necessidade de se pesquisar o léxico sistémico e funda. mental de Clarice, uma vez que as palavras aqui t@m um sentido es- ecifico. Assim como o rapaz ¢ a moga de “A mensagem” constitu ram uma senha especial para se comunicarem, em oposigio ao cédi 0 vigente, também a narradora refaz o sentido de certas palavras or- dindrias da lingua, jé insinuando seu sentido com aspas e grifos. A “‘mensagem”” pode ser localizada ainda que no seu sentido inverso, correndo o sentido do contrario da légica do cotidiano, como nesses contos onde ela consiréi “‘contrariando o sentido real da histéria” (p. 17). Em suas consideragées analiticas embriondrias, Sofia jé ‘‘es- tava comerando a tirar a moral das hist6rias”” s6 que 0 sentido que dava era diverso do que previa o professor e 0 resto da classe. Tal era a estéria ordindria: “to que ele contou: um homem muito pobre sonhara que descobrira um tesouro ¢ ficara muito ri- ©0; acordando, arrumara sua trouxa, saira em busca do tesouro; andara 0 mundo inteiro ¢ continuava sem achar o tesouro; cansa. do voltara para a sua pobre, pobre casinha; ¢ como nao tinha 0 que comer, comecara a plantar no seu pobre quintal; tanto planta- a tanto colhera, tanto comegara a vender que terminara ficando rico” (p. 15), Tal é a leitura diferente que Sofia faz da estéria: “Provavel- mente 0 que o professor quisera deixar implicito na sua histéria tris- te € que o trabalho drduo era o tinico modo de se chegar a ter fortu- na. Mas levianamente eu concluira pela moral oposta: alguma coi Sa sobre 0 tesouro que se disfarca, que estd onde menos se espera, Que é 86 descobrir, acho que falei em sujos quintais com tesouros"” 17). Tal ¢ a leitura e tarefa do critico: pode ir em busca do senti- do ordindrio da estéria, querendo tirar a mesma moral de que “o trabalho arduo era 0 nico modo de se chegar a ter fortuna”, ‘Mas esta bem pode ser uma “‘hist6ria triste” que convém ao pen. $i rin reir rvetien samento racionalizante ¢ devorado: de sua prépria pobreza. A descoberta de Sofia — “0 tesouro que esta escondido onde se espera” é que fascina o professor. Leitura nao das linhas, mas das entrelinhas. Leitura inversa ao tema proposto. Leitura que bem pode servir de parabola ao ato de criticar e analisar. Pode se dar que o critico ande também o mundo ficcional de Clarice ¢ nao Ihe descubra 0 tesouro onde ele aparentemente mais se exibe. Pode a riqueza estar do lado de fora, no vazio insituavel. Pode até ser atingido aleatoriamente, estar escondido onde menos se ¢ pera, por exemplo, nos sujos quintais ou na impureza dos méto- dos aplicados na andlise. NOTAS BIBLIOGRAFICAS ntonio, Varios escritos. Sio Paulo, Duas Cidades, 1970. 1 Caxpivo, Liss, Alvaro, Os mortos de sobreeasaca, Rio de Janeiro, Civilizasto Brasicira, 1963, p. 191 * Scuwanz, Roberto, 4 sereia ¢ 0 desconflado. Rio sao Brasileira, 1968. p. 41 + Lisia, Luis Costa, “Clarice Lispector” de Janeiro, 1970. \. Vp. 61. S NUNES, Benedito, O dorso do tigre, Sto Paulo. Perspe: “Este estudo foi preparado para o “Seminirio Nacional de Litera Curitiba, dezembro 1972, onde diversos confereacstasepresentaram (ra, bathos sobre o conto no Brasil * Lispector, Clarice, lepido strange: $ Ider, ibidem, p. 149. Ver além desse romance de Joyee os seguintes: “Joyce's epiphanies por Irene Hendry em James Joyee two decades of eniicim —~ Eugene Jolas ¢ outros —, New York, Vanguard Press, 1963. Ver também James JJovee the critical writings, editado por Ells Worth Masoa e Richard Ell man, New York, 1959, 1 Esse tema pode ser desenvolvido em Guimaries Rosa principalmente em torno dos prefacios de Tutaméia e de sua entrevista “Literatura Ge. ve ser vida" concedida @ Gunter Lorene e publisada no catalogo Expos ie do novo liv alemao, 1971. 1 E-piph-a-ny (1) a. Cristian festival observed on January 6 commemora ting the manifestation of Christ to the gentiles in persons of the Masi janeiro, Chviliza- in A literetura no Brasil, Rio 2. Rio de Janeiro, Sabla, 1964, p13. 2). (1.¢.)an appearence or manifestation, esp. of a deity 3 (I.c.) Literatw ve. a: a suden, intuitive perception of or insight into the reality or essen tial meaning of something, usually initlated by some simple, homely oF commonplace occurence or experience. 3. a literary work or section of 8 work presenting usually, symbolically, such a moment of revelation and insight. The Random House Dictionary S, V. } SaNT’ANNA, Affonso Romano de, Drummond: 0 gauche no tempo, Rio de Janeiro, Lia Editor, 1972, } Dizemos trés ou quatro fungdes porque as vezes a “prova qualificante”” € expressa juntamente na formalizagao do “‘contrato” ou daquilo que ‘chamamos: colocago do personagem numa determinada situacio. Quet dizer: as vezes os itens 1 ¢ 2 de nosso esquema vém fundidos 4 Seria interessante em trabalho de outra natureza publicar alguns estudos de alunos-professores do Mestrado da Literatura Brasileira da PUC, Rio de Janeiro. No segundo semestre 1972 varios trabalhos foram feitos so- bre 0s contos de Clarice, destacando-se o da prof. Marilia Rothier Car + doso — “Contribuigdes para uma analise da narrativa de estrutura com: plexa’” — onde analisa “A quinta historia” e “Evolucao de uma miopia” 'S Indicamos aqui nesta andlise alguns rumos para o estudo do t6pico *re- Petigdo”. Seria interessante ver Contribuigdes para ume estilstica da re. etisao de Maria Helena Novais Paiva, Lisboa, 196] Drummond: a estilstica da repetigéo de Gilberto Mendonca Teles, Rio de Janeiro, José Olympio, 1971. 1S Huwinca, Homo Ludens, Sao Paulo, Perspectiva, 1971, Este livro con. tinua a ser 0 cldssico sobre 0 assunto, e num trabalho miais longo sobre Clarice © livro deveria ser aproveitad® com mais énfase. im A maga no escuro, o professor surge como 0 individuo que jé sabe todas as respostas. Saber tudo impossiblita-o de eserever um livro, por. ue a eserita ¢ uma descoberta continua e ele, justamente porque tem a chaves nas mos, ndo se interessa (ndo pode) abrir as portas Sobre isto além dos estudos criticos ja realizados ver suas cartas para 0 tradutor italiano, Ai cle explica @ constituicso onomastica de muitos per- sonagens, J4 em Clarice o trabalho nao ¢ sistematico. Levantando, 10 entanto, a eventual énfase entre o nome e © personagem, veja-se 0 estt- do de Amariles Hill ~ ““A construg3o do nome" — em Cadernos da PUC n. 6, 1971

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