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ISTITUTO SOCIOAMBIENTAL data cod DAD. Estudo preliminar da situagdo de satde das comunidades indigenas do Alto Rio Negro da area de abrangéncia do municipio de Sao Gabriel da Cachoeira - Amazonas Marco de 2.000 Jorge Meireles Amarante 349 13-47 SAO GABRIEL DA CACHOEIRA — CONSOLIDADO 1998* (Jorge Meireles Amarante - Médico Colaborador do DSAI - FUNASA - DF) * Dados oblidos dos Relaéslos Blmoslras da Adinistrecte Regional de FUNAL de S80 Gabilel de Cachoewa- 1998, do Relalrio Arwal de 1999 do Programa de Conitole da Tuberculose (PCT) - SEMSA - Sflo Gabel da Cachoetra e do Relaiio Anal do Depariamento de Sade da FUNAI/IG96. Apresentagaio Este trabalho tem como objetivo fazer uma avaliagao preliminar da siluagao de satide com énfase no controle da tuberculose dos indios da area de abrangéncia do municipio amazonense de S40 Gabriel da Cachoeira, a partir de dados coletados do sistema de informagao em sade do extinto Departamento de Satide da FUNAI de Brasilia (DES) e do relatério anual do PCT da Secretaria de Satide do municipio, visando subsidiar 0 Distrito Sanitério Especial Indigena(DSE!), no ensejo de sua instalacdo, no planejamento das agdes de satide a serem futuramente implomentadas na regido, Os aspectos analisados devem ser criteriosamente ponderados levando-se em conta as dificuldades na obtengo de dados fidedignos sobre a satide indigena em todo 0 territorio nacional, mormente na Amazania onde o acesso as aldeias indigenas ¢ dificil e os recursos humanos e financeiros destinados as agées de satide so escassos e parcos. Em que pesem limitagdes que tais, o presente estudo poderd ser util como paradigma inicial para avaliag6es futuras, que venham a ser feitas a partir de dados mais confidveis gerados pelo sistema de informagao ora em discussao nas hostes devidas, para breve implantacao em todos os niveis de assisténcia Introdugao municipio de Sd Gabriel da Cachoeira esta situado na regio noroeste do estado do Amazonas, em localizacéo equatorial as margens do rio Negro na fronteira com a Coldmbia e a Venezuela, possuindo uma populagao estimada em cerca de 10.000 habitantes, em sua grande maioria de origem indigena, constantemente incrementada pelo afluxo dos militares dos betalhdes de fronteira e pela grande imigragao decorrente do éxodo rural. Os indios do Alto Rio Negro pertencem as familias Aruak, Tukano, Maku e Yanomami, em um tolal de 22 etnias, com uma populacao estimada em cerca de 30.000 pessoas. A maior parte da populagao indigena encontra-se dispersa em aproximadamente 400 comunidades ao longo de cerca de 3.000 km Durante boa parte do ano 0 rio em seu alto curso, apresenta 0 leito pedregoso, replelo de cachoeiras que dificultam a navegagao_ e, consequentemente, o acesso as regides mais distantes, coincidentomente as mais povoadas. Os indios da regio experimentaram seus primeiros contatos com a populagdo neobrasileira ha pouco mais de trés séculos, contalos que se intensificaram durante o ciclo extrativista da borracha, trezendo indeléveis sequelas sécio-culturais @ econdmicas para a populagdo autoctone, além do exterminio direto de grandes parcelas da populagao indigena, seja pela violencia efetiva na lula pela posse territorial, seja pela violéncia presumida com a inlrodugéio de doengas epidémicas, como a variola, 0 sarampo, a gripe, ¢ endémicas, dentre as quais se destacam a malaria, a tuberculose e 0 alcoolismo. A economia local se sustenta na agricultura de subsisténcia {mandioca, abacaxi, banana e outros), na caga, na pesca e No pequeno comércio que emprega a maior parte da mao de obra assalariada, geralmente indigena. Morbidade Os dados de morbidade esto relacionados aos registros de demanda aos servigos de assisténcia, vale dizer, aos pacientes portadores de agravos que, por sua transcendéncia e pela facilidade de acesso ao atendimento, procuraram as unidades de satide no periodo: Tabela 4 - Principais grupos de patologias (CID) na demanda ambulatorial dos servigos de satide segundo o bimestre ~ S40 Gabriel da Cachoeira/AM / 1998 i} MESES | JANIFEV MARIABR MAINJUN JUUAGO SET/OUT NOVIDEZ | TOTAL DOENGA DP 114 196 295 158 80 | 1239 RESP 53 45 214 36 os | aie ‘OPP 10 10 13 8 7 106 cext 0 ° o o ° 0 SINTISIN 0 0 8 a7 0 43 PELE oO 8 18 4 14 2 sos 0 18 5 4 7 sr Nutmet | ‘0 0 ° 5 3 0 8 SANGUE | 24 0 40 0 53 a7 | 207 cre’ 0 ° 6 0 9 0 0 bicest 10 0 4 6 4 a 24 ou. ° 0 0 0 20 24 44 osteo, ° ° 0 ° 7 6 13 ourras | 23 25 19 23 a 20 430 DIP - doongas inleccicsos ¢ parasitérae; Resp - doengas do aparetho respatérl: GPP - atendimento & gravidez, 20 parte 2 a0 puerpéro: C.Ext-causas volenlas (sucio,homickto, acente), ShwSin - sintomas,sinalse aleo;es mol delinidas Pate doengas da pele @ do tecido celtar subeutineo; SHIOS - doenpas do watoma nervosa e dos ergtoe dos sentos; [MUTIMET - doencas des glandulas endécrinas, da outtigaa @ do metabolsimo o wanetotnos Imuntaios: Sante ~ daeneas ddo sangue © dos érgdos hematopolétics, Cire - deengas do oparehho crcuatéro, Digest - deengas de aparalia digestivo; {G.U - doongas do apareivoaBrito-rinéio; Osteo - doencas do sistema osteo-muscular e do tecido conjuntvo. 60 40 % 20 °. DiP_| Resp |Sangue| GPP | swos | Outros Imcrupodoenca | 51,6 | 198 | 66 | 44 | 28 | 128 Figura 4 - Principais grupos de doengas (CID) na demanda ambulatorial - SGC AM 1998 Bs | BS5SSSSShHSESHSSSSDSESSES55SEFGFISSFOVOVOGTOSESETSSOS Mais da metade dos atendimentos ambulatoriais deveu-se as doengas infecciosas e parasitarias incluidas af a tuberculose, a malaria, a escabiose, mas principalmente as diarréias de origem infecciosa e as parasitoses intestinais; ‘As doengas do apareiho respiratério corresponderam a quase 20% dos atendimentos por todas as causas, mostrando sua importancia no quadro nosolégico das comunidades indigenas da regio; As doencas do sangue e dos érgaos hematopoiéticos, que aparecem como a terceira maior causa de demanda aos servigos de salide, correspondem, em sua maioria, as anemias microciticas hipocromicas ferroprivas decorrentes das doengas parasitarias intestinais, Mesmo nao parecendo existir um atendimento diferenciado para as gestantes, @ conspicuo o percentuat de atendimentos dispensado as gravidas, apontando para a necessidade de implantagéo de um programa de atengao especifica a esle grupo de risco, garantindo facil acesso 4 um atendimento sistematizado que independa de demanda; Os alendinentos aos agravos do sistema nervoso e dos érgaos dos sentidos referem-se quase que exclusivamente as conjuntivites, geralmente virais, ¢ as oliles bacterianas, que talvez estivessem mais adequadamente agrupadas entre as doengas infecciosas e as respiratérias, respectivamente, que propriamente entre as doengas dos érgaos dos sentidos Ei ‘Tabela 2 — Doengas Infecciosas e Parasitérias na demanda ambulatorial dos servicos de satide por bimestre — S80 Gabriel da Cachoeira/AM 1998 MESES JAN/FEV MAR/ABR MAUJUN JUUAGO SET/OUT NOWDEZ TOTAL Die DIARREIA 91 10 34 135 12 19 sot VERME 32567 55 14103 54 48 78 3 8 8 8 5 3 30 MALARIA a 5 2 18 2 24 SARNA 25 2B ey 39 2B 6 148, Mi 0 1 0 0 0 o 1 Micose 2 ° 5 0 ° 12 19 ourraAS ° ° ° 0 0 ° TOTAL, «46414 196208 198 901239 60. 40 % 20 0 ee Diarréi |Escabi| 7.8. |Maldria | Micose | Outras [mDoen¢a 243 24 | i9 [45 [ 02 Figura 2 - Principais doengas infecciosas e parasitérias na demanda ambulatorias - SGC - AM 1998 Enlre as doengas infecciosas @ parasitérias as doengas de veiculagao predominante hidrica, como as parasitoses intestinais e as diarréias, e que acometem principalmente as criangas, se destacam sobre as demais, correspondendo a mais de 80% do atendimento por DIP. E previsivel, portanto, © enorme impacto que o saneamento basico e a educagdo para a satide poderiam causar na do padecimento e da demanda por atendimento na area de satide; > E preciso no esquecer, entretanto, que algumas doengas infecciosas @ respiratérias de evolugo aguda, podem incidir mais de uma vez em uma mesma pessoa no periodo de um ano, 0 que, de certa forma, realga sua importancia epidemiolégica, 4 BRESISIESESTSSSSS ES SHS ESITTIIASS Soe EELS: » Impressiona saber que a tuberculose representa a quarta causa de demanda aos servigos de satide por DIP, suplantando inclusive a malaria, apontando para uma possivel incidéncia alta da enfermidade na comunidade indigena, convertendo a tuberculose em um importante problema de satide a ser combatide, mesmo sabendo-se que existe no municipio um Programa de Controle da enfermidade que garante, certamente, um nimero maior do consultas a um mesmo paciente para controle de tratamento, levando-se em conta a evolugao arrastada da tuberculose; bhbSdE E bbb bebe Tabela 3- Doengas do Aparelho Respiratério na demanda ambulatorial dos servigos de satide segundo o bimestre - Séo Gabriel da Cachoeira/AM / 1998 MESES JANIFEV MARIABR MAIJUN JULIAGO SET/OUT NOVIDEZ TOTAL, @ RESP “o iva. 6 8a a PNEUMO 0 ° 2 0 0 o 2 BRON =O 0 ° ° 3 8 1 OUTRAS 0 ° o ° o 0 o & TOTAL 65 53 48 214 96 63476 = = a 100 Cd ae rd ol ed % ® 40 Pd 20. , ol vas Bronquite Proumonia m Respiratéria 97.3 28 4 Figura 3 - Doengas respiratorias na demanda ambulatorial - SGC - AM 1998 » Entre as doengas respiratérias as intecgdes das vias aéreas superiores representam quase que a totalidade dos atendimentos, 0 que deve, em parle, corresponder @ subnotificagdo de casos de asma, de pneumonias e outras patologias, as vezes por dificuldade em diagnosticar. Também é provavel que © grande contingente de pneumonias faga parte muito mais da mortalidade que da morbidade. wEEEESEELEDL a e @ @ 2 i = a 2SSSSSSHSFH4SSSHSSSH5S5S55455SGS5SSSSC TOC EED Mortalidade S80 conhecidas as dificuldades encontradas no Brasil para a notificagdo de ébitos e principalmente para a determinagao de suas causas. Esle fato se agrava quando se trata de populagdes indigenas por razées culturais ( 0 indio mantém uma certa reserva em faiar sobre os mortos; a maioria das mores ccorre na aldeia e ndo é notificada, principalmente as de recém-nascidos nao raramente provocadas), geograficas (dificuldade de acesso as aldeias), politico- institucionais (falta de um sistema de informagéo em satde organizado, dificuldade de transporte das equipes, falta de assisténcia médica permanente as comunidades indigenas, falta de recursos técnicos para diagnosticar o dbito), ete. Ainda que subregistrado o estudo de mortalidade permite, mesmo assim, que se tenha uma boa nogao da situagao de satide das comunidades indigenas de SGC e da qualidade da vida que levam Tabela 4 - Principais causas de morte (grupos CID) segundo faixas etdrias — So Gabriel da CachoeiralAM / 1998 CAUSA DP. RESP cext | PERINAT | NEO SEPSE circ OiGEst OUTRAS Inner | 3 Tora | 9 BdSHHGOASS Hod voodsddIGISSSSSdOLE ee bobEEESELD a ue 60 40 * ie o ss a eR Ta NL ee [oor are louse ae Lae Lae Figura 4 - Principais causas de morte - SGC - AM 1998 Como fora previsto, a principal causa de morte entre os indios de Sao Gabriel da Cachoeira séo as docngas do aparelho respiratorio, principalmente as pheumonias que acometem mais as criangas e as pessoas idosas, mormente 0s desnuutridos; Em razéo das condigdes de vida a que forain submelidos os nossos indios, que fiveram compulsoriamente diminuido seu territério e, em consequencia, suas fontes de alimento; com 0 contato cada vez mais frequente com as cidades e, assim, maior exposigao aos virus @ baciérias até hd pouco desconhecidos de seu sistema imunitario, a vida extremamente gregaria que levam favorecendo 0 contagio, 6 de se esperar que uma grande incidéncia de doengas respiratorias agudas ocorra de forma constante e ciclica nas aldeias; Entretanto uma alta morlalidade por esse tipo de patologia denota falta de uma assisténcia eficaz, que possa fazer uma intervengao eficaz antes da detericragéo do quadro clinico pelas complicagées absolutamente evitiveis que matam. E bom que se diga que esta situagéio nao 6 apanagio dos indios do aito Rio Negro, sendo de toda a populagd indigena brasileiia; E mister, por conseguinte, alertar os profissionais de satide para a necessidade de um acompanhamento cuidadoso do crescimento e desenvolvimento da crianga, contornando, se possivel, os fatores condicionantes de tais dbilos, meliiorando a qualidade e a frequéncia do atendimento, iniciando o tratamento precoce desse tipo de agravo, antes que sobreveriham as complicagses falais; A segunda causa mais importante de dbito entre os indios de SGC foi a afecgao mal definida, a causa de morte “indeterminada’, 0 que aponta, mais uma vez, para a deficiéncia na assisléncia aos doenles por profissional qualiticado a prestar informagao precisa sobre a doenca e sobre o dbito. $0 em geral registros feitos a posteriori, pelos proprios indios, ao organismo institucional; é SBSOSHHEHSHHSHSSHSHHHS EE ESHS445345595SS SOSH OOS >» Embora aparegam em primeiro lugar entre as causas de morbidade as doengas infecciosas e parasitérias represeniam a nona causa de morte entre 08 grandes grupos de patologias, seja pela baixa letalidade de algumas, seja por subnotificagao de dbitos por essa causa, seja polo atendimento eficiente e precoce dos casos, > E oportuno registrar a importancia das mortes ocorridas no periodo perinatal em relagao ao obitudrio geral das comunidades indigenas da regido. Essas mortes podem ser devidas a razdes cullurais (sacrificio por motivos eugénicos ou misticos), por mal formagées congénitas ou falta de acompanhamento adequado gravidez e ao parto; » € até possivel que se trate de dbilos ocorridos no periodo neonatal tardio ou até mesmo pés-neonatal, em fungéo de desnulrigéo ou outros fatores exlrinsecos que, destarte, precisam ser devidamente esclarecidos > Aterceira causa de morte entre os indios de SGC sdo as chamadas “causas externas”, islo 6, as causas violentas de morte que serao, pela sua importancia, detathadas oportunamente; ‘Tabela 5 — Doengas Infecciosas e Parasitarias por faixa elaria como causas de ébilo - SA0 Gabriel da Cachocira/AM / 1998, IDADE <1 tad 5a 1OaT4 1519 20829 30939 40a49 59259 Goer IGN TOTAL, oF. DIARREIA, 1 VERME, 1B. MALARIA HEPAT MEN TETANO OUTRAS. Como se pode ver na tabela 5, apenas um dbilo por diarréia foi nolificado om 1998 em uma pessoa idosa, 0 que Nos parece muilo pouce para uma patologia que desponta como a mais importante no quadro da morbidade, devendo corresponder a subregislro, E possivel que muilas deslas mortes estejam inoluidas no item das causas "indeterminadas" el o bEdLDEEEdIIIIIIFES0 eee s wESEaEALLS 7 ‘Tabela 6 - "Causas Externas" no obituario segundo faixas eldrias - So Gabriel da Cachoeira / 1998 TOE INTOx ALCOOL oFipico VENENO ARMA, ENFORC. AFOGAM, SIINF ‘OuTROS <1 {a4 §a0 10a14 18419 20320 9039 40249 80459 60er IGN TOTAL, Houve um ébito em 1998 por traumatismo craneo-encefalico em uma pessoa de mais de 60 anos, provavelmente devido a acidente de tansito e um afogamento em adulto jovem. Muilas vezes 0 alcoolismo é 0 pano de fundo das mortes violentas; (DADE CExt suicloio omic. ACIDEN, TOTAL Todos o8 Sbitos acorridos por causas violentas Tabela 7 - Natureza do ébito motivado por causas externas segundo faixa elaria - SGC-1998 <1 fad $a9 10214 15419 20429 90439 40349 50459 GOer IGN TOTAL 1 1 1 1 1 1 demonstrado na tabela 7. no ano foram acidentais como 11% faNiacouting Eemninine 83% Figura 5 - Mortalidade segundo o sexo — S. G. da Cachoeira - AM 1998 » Os dbitos aconteceram muito mais em pessoas do sexo masculino (Figura 5). Infelizmente nda dispomos de dados de populacdo por sexo para podermos avaliar melhor o significado epidemiologico deste fato, uma vez que, pode ser grande a razéio de sexo masculino na populago geral e somente por isso 0 numero de dbitos seja maior entre os homens. Entretanto isto € improvavel pelo tamanho da diferenga encontrada, muito embora as causas extemas sejam importante falor de mortalidade e ocorram com mais frequéncia no sexo masculino; Tabela 8 - Natalidade por bimestre segundo sexo — Sdo Gabriel da Cachoeira/AM / 1998 Sexo NASCIDOS Vivos NATIMORTOS TOTAL MEses | MASC FEM SINE FEM SINE i vawrey | " o | o ° 0 6 MaRIABR | 4 1 3 ° ° 3 > MAUJUN | 0 3 ° ° ° ° 3 wuuaco | 6 2 ° ° ° ° a sevout| i749 ° ° ° 0 36 nowoez | 5 5 ° ° 3 ° 10 TOTAL 34 38 ° 0 ° ° 2 a4, 53% Figura 6 - Natalidade segundo 0 sexo - SGC - AM 1998 > Como agravante, pelos dados registrados, em 1998 nasceram mais mulheres do que homens (razao de sexo feminino ao nascer = 111,8%). Este fato, pela sua importancia, precisa ser melhor esclarecido (figura 6); Nao obsevamos sequer um registro de natimortalidade 0 que deve significar subnotificagao de ébitos que ocorrem nas aldeias e que néo chegam ao conhecimento das autoridades de satide nd a a @ @ oe a <1 tad Gat9 20249 60er Falxa otarla =e Mortaldade Figura 7 - Curva de Nelson de Moraes (mortalidade proporcional) SGC - AM 1998 PLELSSSADADSEESSESEEdESDIIS bbb bbw dddTSETIEFISCOSHSOOEE RED ODT BEESSSRSEELD ® Accurva de mortalidade proporcional encontrada para o ano de 1998 em Sao Gabriel, nao difere muito da curva tragada pelo Departamento de Saude da FUNAI para o mesmo ano (ver Relatério Anual DES/DAS/FUNAW/1998) para a populagdo indigena nacional, que mostra um padrao do tipo Il, que reflete um nivel baixo de satide. A curva tende a se assemelhar a um "J" invertido mostrando uma alta mortalidade em todas as idades, predominantemente nas criangas Segundo 0 Relatério Anual do PCT de Sao Gabriel da Gachoeira a populagéo estimada do alto Rio Negro para 1999 é de 30.000 habitantes. Tomando este parametro como verdadeiro, poderiamos inferir, a partir da diferenga entre os dados de mortalidade e de natalidade de 1998, que a populagao indigena neste ano pode ser estimada como algo em torno de 29.957 habitantes, sem considerar 0 crescimento vegetativo. A partir dai poderiamos estimar alguns indicadores, © compara-los aos encontrados pela FUNAI para os povos indigenas como um todo Tabela 9 - Alguns indicadores de satide determinados para a populagao indigena @ para o Allo Rio Negro indicador CMG% —CMI%® —-ISU% ~— TBN%° Iv% Regido. Brasil 77 96,8 26,9 17,4 333,9 sGc 1,0 125,0 37,9 24 248.3 % = por 100; 4° © por 1600 ; HH = por 100,000 ; CGM = cosficiente de mortatdade geral; CMI = coeficenle de ‘martaldade infant ISU = indice de Swaroop ¢ Uemura; TEN = taxa bruta de natalidade, IV = indice va » A primeira coisa que nos chama a atengao na tabela 9 é que os coeficientes brutos, isto 6, aqueles que tém a populacdo geral como denominador (CMG, ‘TBN) encontrados para o Alto Rio Negro sao menores que os detectados para © resto da populacao indigena brasileira; > Embora, em ambos os casos, exista subnotificagéo de dbitos e de nascimentos, essas taxas sugerem uma superestimativa populacional. No momento em que estamos consolidando o distrito sanitério, parece inadiavel proceder-se a um censo populacional para que possamos trabalhar com maior seguranga; O coeficiente de mortalidade infantil, que relaciona os dbitos ocorridos em menores de 1 ano (9) com nascidos vivos no mesmo periodo (72) é coerente com a média nacional para as populagdes indigenas, © aponta para a gravidade da situagao no Alto Rio Negro, pois, uma taxa de mortalidade infantil da ordem de 125 por mil nascidos vivos, significa 12% ou pouco mais de 1 ébito por cada grupo de 10 nascidos vivos. Este mesmo coeficiente para a populagao geral brasileira (indios e nao indios), segundo dados oficial: em tomo de 33 mortes por 1000 nascidos vivos gira Com efeito, o indice de Swaroop e Uemura, que estabelece uma relagaio entre 98 dbitos ocorridos acima dos 50 anos com as defungées verificadas abaixo deste limite de idade, aponta, sem divida, para uma baixa esperanga de vida ao nascer entre os indios do Alto Rio Negro. Este coeficiente de mortalidade proporcional nos paises desenvoividos, onde j4 ndo se morre por diarréia, tuberculose, malaria, e outras causas evitaveis, chega a atingir perto de 80%; . 0 Indice vital 6 um indicador de satide muito pouco utilizado, que relaciona o numero de nascidos vives com o numero de ébilos. Para as populagses indigenas, no entanto, pode ser muito util para avaliar a tendéncia de crescimento da populagdo, uma vez que 6 geralmente pequena a corrente migratéria que contribui para as oscilagdes censitarias. O indice Vital de 337,1% encontrado, significa que nascem 3 vezes mais pessoas do que morrem entre os indios do Alto Rio Negro, 0 que nao deixa de ser estimulante para 0 nosso trabalho Tuberculose A tuberculose constitui-se num dos mais graves problemas de satde publica no Brasil e é um componente destacado entre os agravos que acometem ‘com maiar frequéncia as comunidades indigenas e que compéem o seu abituario Nas populagées indigenas brasileiras a tuberculose significou 22,7% dos dbitos notificados por doengas infecciosas e parasitarias e 2,2% dos dbitos por todas as causas em 1988. Tabela 10 - Coeficiente de incidéncia de tuberculose por regional, segundo a forma clinica - 1998 Foura Clinica Positives Coot100.000 Todas as formas Coetr100.000 Regional Boa Vista/RR ‘AtamialPA B,do CordalMA Gurup/To NaitubarPA, CurtibayPR BaucuiSP AragualnaTO. Guatapuava/PR Marabi/PA, AcaguaiaitaT CollderaT ChapecsiSc. 8 a 3 2 4 7 1 a 3 BRASIL (media) 6 164.3 16 S.C. da Cachoeira 29 95,8 104 3374 > Como ja foi referido os coeficientes brutos nos parecem subestimados possivelmente em virtude de superestimativa populacional. Por conseguinta, os coeficientes de incidéncia da tuberculose também podem estar defasados para menos. Mesmo assim, as taxas encontradas, embora estejam abaixo da média para @ populagao indigena, encontram-se em patamares varias vezes acima da incidéncia nacional, que é algo em torno de 53% para a tuberculose de todas as formas e de 25% para os casos confirmados bacteriologicamente; » Pela propria historia natural da tuberculose as formas clinicas costumam se distribuir em numero mais ou menos igual de casos confirmados e sem confirmagéo. Nas areas indigenas, incluindo Sd Gabriel da Cachoeira, 6 comum encontrarmos um numero exagerado de formas sem confirmagao bacleriolégica, que n&o @ coerente com o comportamento da enfermidade, quase sempre devido a um viés no diagnéstico de formas pulimonares baseado apenas em dados semiolégicos e propedéuticos (radiogratia), ® E preciso entender também que estamos tratando de incidéncia de casos conhecidos, que depende da maior ou menor eficiéncia do servigo e do sistema de informagao. Vale dizer, se 0 servico de atengdo a satide nao existir ou for de dificil acesso, os casos de tuberculose deixarao de ser descobertos e a incidéncia da doenga sera igual a zero. Nao é por outra razéo que a melhoria no atendimento, em um primeiro momento, leva a um “aumento” de incidéncia que é apenas aparente. SGC -AM 1993 . .— oe > 18 anos 20 a 2 2 , , > > 4 > : Tabela 11 - Casos novos de tuberculose por idade, segundo a forma clinica e @ o > 80 < 18 anos © 4 13 "7 1 o 0 3 4 a Total 23 35 18 19 1 o 0 2 2 | 101 % Em 1998 foram descobertos 101 casos novos de tuberculose sendo 79 (782%) pulmonares e 22 (21,8%) extra pulmonares. Dentre os pulmonares apenas 36,7% foram confirmados bacteriologicamente; E curioso verificar que os casos de localizagao extr ulmonar née sejam formas pleurais ou ganglionares, que so as localizagdes mais comuns e de 2 eo m e - od - 2 e a a ee a ® a » mais facil diagnéstico. E um fato no minimo curioso que precisa ser esmiugado. 2 As formas extra-pulmonares sao paucibacilares e, por isso, dificilmente » confirmadas. Pode estar havendo um viés no diagndstico das formas extra- pulmonares também; ® ae a a 2 a a » a a a a a a 9 a Espera-se que no total de casos de tuberculose cerca de 50% sejam formas confirmadas pela baciloscopia dirota e que os restantes 50% sejam sem confirmacao bacteriolégica, incluindo formas pulmonares e extra-pulmonares. Em SGC apenas 18,8% foram formas confirmadas em 1998; EESSSBSSEESAESDSEEDESSTSIIIIOOOSS SELES EHH UT — osTvo (46,7) 70% 2 pumon, }e75) 0% usor ss] 92) Lourintangho (533) [ os con EXTRAPULMONAR — @22.5) 10% 1B Positive (00) 20% Puwon| (61,9) 78% SICONFIRMAGAD (100.9) menor 1s | (0,3) 00% 15% L_____ extrapuimonar (19,0) 25% Diagrama da distribuigdo das formas de tuberculose (casos novos) segundo a idade — DES/1998 Fonte: Gethandt G 1985 (0s percentuais ene paténteses representam as taxas encontradas emn SGC No diagrama acima vemos um percentual de formas de tuberculose em criangas um pouco acima do que seria esperado, principalmente as custas de casos pulmonares negativos; Entre os adultos registrou-se um ntimero exagerado de casos exira- pulmonares em sua totalidade de localizagéo pouco comum. Entre os pulmonares apenas 46,7% foram confirmados pela baciloscopia direta, apontando para um baixo rendimento do laboratério e/ou, excesso de valorizagéo do exame radiogratico © de dados semiolégicos no estabelecimento do diagnéstico; a Boesvseesaeeocs SESSSSSSSSSSSSSSSESSESHASHSESECOSVLVVY > Todos os casos pulmonares em menores de 15 anos foram sem confirmagaio bacteriolégica a maior parte 4s custas de pacientes em que a baciloscopia n3o foi realizada. A obtengéo de material para exame diroto 6 possivel em criangas na faixa etdria de 10 a 15 anos. Tabela 12 — Estudo de Coorte : resultado do tratamento dos casos de tuberculose, segundo a forma clinica - SGC - AM 1998 Forma Pulmonar Extra Pulmonar TOTAL pms Contimado Sem confimagto +-Encerrado 2 55 8 or 11, Cura 20 49 5 15 12. Abandono 2 3 1 6 13. Gpto Te 2 2 1 5 14 Obto outa cause ° a ° ° 15: Transferencia ° 3 o ° 16. Mud. Diagndstico ° 1 0 4 2- Continua ratamento o ° ° | 0 24 Posto ° ° 0 5 22 Negatwvo ° ° 8 jEeeeeE 25, nud Esq. itotrancia ° 3 ° 8 2.4 Faléncia ° 0 ° ° 3- Sem informago ° ° ° ° Total (14243) 2 59 8 a > No estudo de Coorte vemos que no 7° més de tratamento 100% dos casos haviam encerrado 0 tratamento, demonstrando, salvo erro na notificagao, uma boa eficiéncia do servigo e do fluxo da informagées, » No total de casos apenas 27,6% eram formas confirmadas a baciloscopia e 74,4 sem confirmagao (pulmonares+extrapulmonares);, a cura entre os casos positives correspondeu a 83,3% @ a 86,2% no total de casos, mostrando um excelente rendimento do tratamento; * © abandono de baciliferos alcangou 8,3% dos casos que iniciaram o tratamento @, se consideradas todas as formas clinicas da enfermidade, 0 abandono foi de apenas 7,0%, 0 que nao é comum, pois, 0 abandono costuma ser mais frequente nas formas nao confirmadas bacteriologicamente, + O coeficiente de letalidade pela tuberculose alcangou 5,7% quando consideradas todas as formas e 83% se considerados apenas os casos positivos, sobre cujo diagnéstico nao pairam dividas. Esta taxa é alta para os parametros nacionais e indigenas e pode se dever a um retardo no diagndstico BVMRSPGSSSBSSSSVLSSsSSSSSSSsSSoesvessyssveene” a 3 a a das formas pulmonares positivas que podem estar chegando ao servigo jé em fase muito avangada da doenga; a © percentual de casos com mudanga de diagnéstico (1,1%) 6 muito pequeno em relag&o ao que poderia ser esperado, tratando-se de um servigo que diagnostica muitas formas extra-pulmonares e pulmonares sem confirmagao bacteriolgica. O mesmo seja dito para os casos sem informagao (0.0%) em uma regido de dificil acesso as aldeias geraimente muito distantes da sede. Conclusées > Os indicadores de satide para as comunidades indigenas da area de abrangéncia de Sao Gabriel da Cachoeira apontam para uma baixa qualidade de vida e de satide; > Existe grande incidéncia de doengas infeciosas ¢ parasitdrias resultantes das precérias condigées de saneamento basico observado nas aldeias e dos baixos niveis de higiene coletiva; > Abaixa qualidade de vida favorece 4 desnutrigaio na infancia, pano de fundo para altas taxas de mortalidade infantil por causas quase sempre evitaveis, como pneumonias e diarréias infecciosas; As causas violentas acidentais contribuem significativamente para a mortalidade, tendo como fator determinante 0 alcoolismo, introduzido nas comunidades indigenas como corolario ao intercambio cultural do indio com a populagdio do municipio; » Existom consistentes indicios de que a assisténcia seja ainda insuficiente irregular, principalmente em nivel de aldei > A tuberculose representa um sério problema de satide para as comunidades indigenas, com altos coeficientes de incidéncia conhecidos, mesmo na vigéncia de uma possivel superestimativa populacional. Sugestées > Proceder um censo populacional para ajuste de indicadores de satide para que sejam verossimeis © permitam acompanhar com alguma margem de seguranga a eficiéncia das ages de satide desenvolvidas; » Descentralizar 0 atendimento utilizando Auxiliares de Enfermagem e Agentes Indigenas de Satide devidamente treinados na assisténcia aos agravos

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