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34° caRioTAsoTO alcance humano a dor de um determinado povo ow nagio, ass essa experiéncia ao sofrimento de outros” (ibid., p.53). De maneira, a tradugdo acontecera quando se for capaz de proc a0 esforgo dialégico de se colocar no lugar do outro. S6 assim p subsistir a atualidade da defesa de um ambiente intelectual no lar com a categoria da universalidade. (O Iluminismo foi um fenémeno intelectual surgido na Europa, especificamente em meados do século XVIII. Tinha por princi balizaa referéncia da critica, compreendendo 0 mesmo conceit critica como o reconhecimento das possibilidades, mas tam! clos limites, da capacidade humana de conhecer. Mais do a\ os iluministas acreditavam que a instrugao conduziria ndo aper legios da aristocracia e do clero; critico, enfim, das uma ordem politica considerada arcaica, propunha-se a refundar a nacionalidade, e, para tanto, propunha-se a contribuir para a fun= dagio de um novo pacto civil. ‘Apostando no avango do espirito humano, no avango do conhe: ‘cimento, no progresso dos povos enacaminhada do género humano rumo a.um indefectivel percurso de aprimoramento —a que chama va perfectibilidade ~ 0 Iluminismo foi também um movimento de f: na raziio, no futuro, fé na flecha de um tempo, fé no comér- admite ter sido essa f€ na racionalidade critica que — transformad: quase religiosa— firmou no Ocidente, para o bem ¢ para forin, 1988, p.88) T delineau a agao de seus letrados de maneira Ihes conferir a missto de esbocar ~ a luz dos interesses do Estado ‘seus prospectos e visdes de mundo. Foi isso.o que fizeram. E possi- vel dizer que os homens de saber enciclopedistas foram intérpretes de sou tempo e organizadores do moderno Estado-nagio e, como tal, coube a eles colocara pubblico seus pensamentos e seus projetos, alguns dos quais serdo estudados neste 1 MINISMO EM TERRITORIOS POMBALINOS: A FORMAGAO DE FUNCIONARIOS COMO ALICERCE DA NAGAO Eo Mitod o primaire eqisite do Esto, para, par rio dele se poder ade , adianta-te pouco na Estrad tropera a cada passo e perde um Compéndiohistirico do estado da Universidade de Coimbna (1771) © Marqués de Pombal no palco do Iluminismo ombalina dos Estudos Maiores — especialmente no wio dos novos Estatutos da Universidade de Coim- ado portuguesa: d. Luis da Cumha (1662-17: Ribeiro Sanches (1699-1782) e Luis Anténio Ver- 792). Coma finalidade de destacar esse aspecto j abor- neros outros autores — dentre os quais eu destacaria + este capitulo buscaré analisar algumas das matrizes s propostas pelos referidos tedricos iluministas e sua 36 cantorasoTo INSTRUGAO PUBLICA PROJETOCIMUZADOR 37 apropriagio nos atos do ministro portugués, Sabemos que a at dos Estatutos elaborados iés de Pombal para a un sidade ja foi bastante trabalhada pela historiografia, ma do presente estudo reside nas diretrizes de programas de ensin ‘rientagdes da pedagogia do pombalismo a luz do tragado d: centrais do pensamento ilustrado em lingua portuguesa, © presente capitulo pretende estudar o projeto da ago balina em matéria de ensino superior levando-se em conta s .s como ambientes, dira John Ziman (1979) —6, fundame le ser compartilhado; cujas regras sao passiveis de jos resultados podem ser submetidos critica. Nesse o de conhecimento pablico supde a existéncia de ativas onde os conhecimentos possam ser trans. ‘em gerago,[...] A medida que os conhecimentos dos, eles se tornam mais ordenados, formaliza man, 1979, p.89). Isso possibilita a construgio pesquisa, De alguma maneira, pode-se considerar liretriz da universidade que o Marqués de Pombal quando decidiu reformar os cursos de Coimbra ‘moderna alicergava o projeto pombalino. E, aquele ‘seus fatos e teorias fticas ¢ de Pombal no tempo de sua atuagao px aqui pensado considerando-se a intersecsdo entre os ideais pol ses Dom Luis da Cunha, Antonio Nunes Ribeiro Sanches e L. Antonio Verney ~e a reforma dos estudos empreendida pelo qués de Pombal. A agio de Pombal como ministro do reino por gués fo, wedida, embasacla por reflexées tedricas a de Portugal e da crise do império portugués. Como disse Laet Ramos de Carvalho (1978, p.29), “a introdugio da filosofia moder na em Portugal se efetuou, dentro das condigdes sociais da ép pot intermédio de um programa do qual nao estiveram ausen| © espirito e 0s interesses do despotismo esclarecido”. Ao expull 6s jesuitas, a0 idealizar 0 modelo das aulas régias e ao reform estudos da Universidade de Coimbra, a pratica da ago pom indicava sua filiagdo te6rica ao pensamento ilustrado, Como a la Manuel Augusto Rodrigues, “Ribeiro Sanches, Verney e outros, ctiticam duramente o declinio enorme da docéncia universitaria” (Rodrigues, 1984, p.213), Isso acontecia basicamente em virtude daorientagio rel pedagégica do Marqués de Pombal, entre ou- ssinalava como uma necessidade histérica 0 Estado controle das questdes do ensino em todos os seus iosa que di vi tava, portanto, de uma mera questio 1 assunto que se pudesse reduzir & dimensdo peda- ago de um sistema de ensino que os iluministas portugueses consideravam escolistico-peripat bre a institucional o futuro de criatividade e ~ como também destaca Manuel Augusto Rod autores edos mestres sobrepunha-se ao papel da critica e da a objetiva dos textos" (ibid. p.213). No limite, todo ensino era cor trolado pelo medieval argumento de autoridade. 38 camiotasoTo Secularizagéo e homens de saber no século XVIII A compreensio da secularizagao a luz do pensamento weberia- no — como bem sublinha Giacomo Marramao (1995, ta-se a algumas praticas: “o principio da agao eletiva (ou prin da autodecisio individual); 0 principio da diferenciagao e espe cializagdo progressiva (que atinge fungdes, status e instituigdes); o principio da le tiva da individuagao entrelaga-se, nesse sentido, com uma dinam 2 obreira da realidade social que passa, todavia, pela elivagem da racionalidade, O processo de secularizagao em Weber € pautado longa duragio, mediante a clivagem da racionalizagdo do mundo e da concessio, nesse mundo, de alguma marca da impessoalidade. © “desencantamento do mundo” € dado também pela obsessio por controlar suas variaveis. Sendo assim, ainda que com o risco anacronismo, talvez.seja possivel considerar que a secularizagao stitui um longo caminho para, nos termos de Catroga (2006, ‘acelerar uma desmagificada cosmovisio” ~ 60 alicerce que ancora o primado da moderna burocracia de Estado. E essa buro. smbrar, com Weber ~ estrutura-se sobre atividade, a partir de regulamentos e cédigos de dominio piblico. Tal distribuigdo da racionalidade mundo das relagdes objetivas de producto exigiré um corpo de fun- cionétios e de fungées especializadas, expresso em uma hierarquia funcional, na troca de informagées e na articulagio dos cargos. Se aracionalidade da rede de informagées estruturada pela burocracia que, por um lado, protege o sistema contra os invasores e contra os riscos, bem como oferece os a construgao de um saber do Estado, expresso pelo controle de documentos. A ideia de cargo piiblico oferece ao mundo moderno um desenho que confere outra logica as relagdes de poder. ‘A.administragdo de um cargo moderno se baseia em documen- tos escritos (“os arquivos”), preservados em sta forma original ou INSTRUGAOPUBLICAE PROJETOCMILZADOR 39 4, porém, um quadro de funcionarios e escreven- icado pioneiro: obrigado a substituir a Com- sria de ensino, o Marqués, “através das 59 ¢ 172, langa as bases de um sistema estatal de pando a ideia de instrugio publica, tal como ela se ‘a Revolugio Francesa” (Névoa, 2005, p.23). As , no “continente” lusitano e em suas . a forma piblica de ser escola. “Publica” significava Contudo, no ambito dos Estudos Meno- iseram unidades de que nao se articulavam com as outras. Ndo se dispunha — pelo modelo pom iaestrutura de instrugioem rede, que viesse dar hugar de sistema escolar — como propugnaram posterior 10 da escola piiblica da Revolugio Francesa. Sobre 0 cdescreve Tereza Fachada Levy Cardoso: ‘era uma unidade de ensino com um professor. O termo izado com o mesmo sentido de cadeira, ou seja, uma ide Gramética Latina, ou uma Aulade Primeiras Letras wisease, no havendo articulagio entre as mesmas. De |, chamavam-se mestres aos que ensinavam as prime professores aos de todas as demais eadeiras, (Cardoso, onstitutiva da instrugao pombalina talvez nao fosse esma que ordenaria, anos depois, o modelo francés ~ que, apés a Revolugio Francesa, teria significativa res- 40 carorasoro sondncia no mundo ocidental. A escola da Revolugo Francesa pensada como um sistema graduado, no qual cada nivel dependia do que vinha antes, preparando para a etapa seguinte. Mais do que seriada, essa escola era estruturada como uma arquitetura em de protecao e provisdo da Repiblica. Tratava-se, como diziam os, contemporaneos, de formar a cidadania. A escola seria, assim, 0 lugar por exceléncia da formas do homem novo. Havia uma id de regeneragdo que embasava 0 projeto educative francés. Pi Revolugio, 0 passado se havia esboroado ¢ caberia as instituigées engendrar uma nova ordem social e politica. Por detras dessas feréncias estio as ideias de laicidade, de repiiblica, de cor de democracia, de cidadania. H4 um prospecto de emancipagio humana no universo revolucionério francés ~ e 0 mesmo prospect traduziu-se pedagogicamente nos diversos planos elaborados na época acerca da organizacao da instrugio nacional. Seja como for, a acepgio de publica para essa escola pomb toma o conceitoem seu sentido originatio: pablico como aquilo q icado, que pode se dara ver, cujas normas de orde- ‘0 880 compartilhadas. Nesse sentido, a escola A referéncia de ensino piiblico engendrada pela ago de Pom. bal tina caracteristicas proprias: tratava-se de um artefato es truturador da forca e da poténcia do Estado, Sem divida algun rascunhavam-se ali ~ como sublinha Anténio Névoa~, “as cond ses para o processo histérico de uma sociedade de base escolar” (Névoa, 2005, p.23). O Estado tomava para sia tarefa de selecionar, nomear e fiscalizar professores. O Estado co1 serem ensinadas. Mas nio havia intuito de, por meio da educagio, alterar a base politico- O projeto pombalino (¢ a Ilustracéo portuguesa que o emb: sara) nfo se inscteveu ~ como observa Catroga (2006, p.36 laria as matérias a sum processo de seculatizagiio das instituigdes e dos costumes. Tal percurso tradi lusitano, Porém, assinala Catroga, na luta contra uma Igreja que se se como a Modernidade possivel para o mundo INSTRUCAO POBLICAEPROJETO CMUZADOR 41 se autoapresentava como supranacional, 0 processo Tagrado por Pombal “néo deixava de pretender re- de reaportuguesar Portugal, projeto que exigia erces sociais e culturais que tinham sustentado (ibid. ;cas do Iluminismo portugués foi a dimensdo r dos as s. Pode-se dizer que “se toda a laicidade é uma idade” Siio conceitos com significados diversos. Como diz, conceito de secularizagdo passou @ conotar a izadas, da posigdo-chave itucionalizada ocupava na produgdo ¢ na repro- iguel jd assinalara a necessidade de se definir criteriosa- no da secularizacéo: ia do Ocidente, a sec ‘o mundo e a gociedade entram, pela primeira vez, ssracionaisde compreensio humana, o que significa fun- teque omundoc a sociedade fogem a tutela exclusiva, Religifo, isto é, comecam por si mesmos a projetar seu proprio futuro. (Pereira, 1990, p.53) rizagio € um acontecimento deixa de ser a viga mestra da cultura, sua pedra de 1. Jaa laicidade supde - de ‘a institucionalizagao da diferenca entre o espiritual 0 Estado e a sociedade civil, 0 individuo e 0 cidadao” A escola pombalina nio foi conduzida ropia da emancipasao ambém recordar que a grande maioria dos pen stas ~ nos varios paises da Europa — no chegou a postas para estender a todas as criangas uma instru- InsTRUGA -AgpROuETOCMUZADGR 43, 42 camorasoro iSTRUGAO PUBLIC 0 pablica, oferecda e financiada pelo Estado, Principalm ivo superior foi criar a escola itil aos fins do Estado te, inexistia 0 ideétio de uma escola tnica, que conferisse a igualdade de acesso a escola, Essa escola tinica — que vem acopl 4 ideologia da igualdade de oportunidades, como bem retra Eliane Marta Teixeira Lopes (2008) — se originaré no tran: sco Francesa, O Iuminismo nao chegou até lé, Sob e aspecto, pode-se talvez verificar algum pioneirismo em Pombal embora 0 projeto fosse outro, dirigido a um Estado de stiditos e ‘uma patria de cidadaos. O fenémeno da secularizagao é um dos alicerces do Tuminismo eda modernidade. Junto ao progressivo ordenamento de instit ‘ses de carter piiblico, vinham os emblemas da racionalizag! aga de costumes” (Elias, 1993, 1994) e do que We , pretenderam os homem de intes de servir aos interesses da Marques destaca que despotismo esclarecido foi jismo régio, muito mais em conexiio com as grandes curopeu foram oriundas nao tanto das ideias ilu- Jbretudo, daqueles que a historia chamou de “dés- Guilherme Mota define 0 homem da Ilustragio como da Razio, da Légi om |, da Experimentagio, da Ciéncia, do Direi sri e universal nos reinados ‘issia (1740-1786) e Maria Tereza da Austria }, Pode-se lembrar que Frederico Guilherme I, nda em 1717, um decreto que propugnou 0 ‘igatoriedade escolar e estabeleceu parametros para c professores primérios. de ensino arquitetado para Prussia e Austria tinha mum o atendimento das necessidades do Estado tegra o movimento que separa a moralidade da r gio, que marca os limites entre Estado e Igreja, “que deter eira, 1990, p.7). Roberto Romano também destaca 0 nos quais os signos da impessoalidade eda igualdade jur tornassem as grandes ideias-forga da cultura politica moderna: natural, razdo, vontade geral, povo ete.” (Romano, 2003, p.22) ‘Trata-se de um movimento no qual, progressivamente, por etapas, 0 Estado-nagio viria a “vassalizar” a Igreja (Morin, 1988, p.48). Por isso, vale para o caso portugués, sob a égide de Pombal, acarac- terizagio de Edgar Morin (1988, p.45) sobre a situagao francesa do Antigo Regime: “a monarquia absoluta foi relativa”, Laerte Rainos de Carvalho destaca também o intento transformador impresso na reforma pombelina dos estucos menores. Diz o historiador que: Jos pela escolarizagéo ~ especialmente a priméria ~ sentimento de dever e presteza na » de regras, Tratava-se ~ pode-se dizer ~ de modelos wa a formagio de stiditos esclarecidos, mas nio de rernos absolutistas, ¢ ndo os mais progressistas re- landés, procurassem por em praticaa educagio do isso, fossem coerentes com o principio do ecumenismo defendido em teoria?” (ibid.). Seja como for, esses 44. - cae are, NSTRUGAOPUBLCAEPROLETO.CIVLIZADOR 45 monarcas orientavam-se inequivocamente por uma compreensi diversa acerca da potencialidade da educagdo na produgao do trole social. Mas, talvez, os mesmos soberanos compreendes: que o desenvolvimento da escolarizacio teria algo ver com a pros peridade dos povos. Em 1774, Maria Teresa proclamava a obrigatoriedade escolar partir dos seis anos paraa Austria ea Bohemia, Em 1777, a medid seria estendida para a Hungria ea Eslovaquia. Naquele mesmo an “Maria Teresa promulga seu decreto Ratio Educationis, que fixa duracdo da escolarizagdo, mas a obrigatoriedade deveria: der-se até o momento em quea crianga pudesse efetuar os trabal domésticos” (Denis, 1997, p.98). Embora nao fosse imediata aplicado, o mesmo decreto constituiu marco decisivo no desloca mento do problema pedagégico da Igreja ~ qualquer que fosse a igreja — para o Estado. Sob a mesma légica, ao expulsar os jesuitas o sistema de aulas régias,' o Marqués de Pombal estaria tamb ‘transferindo para a responsabilidade do Estado a ago edu ‘que, antes, era praticamente monop. Jesus. A modernaescola lo despotismo esclarecido a portuguesa, é o Mar- que teve por referenciais politicos alguns tedricos anos: d, Luis da Cunha, Anténio Nunes Ribeiro ento do olhar. A ambiguidade proficua dessa situa- rado adviria da observagao da realidade estrangeira leuém que tem em seu pais de origem a referéncia. A » com outros paises parecera, nesse caso, irresistivel e ds estrangeirados portugueses do século XVIII preocu- 1 do pais. Consideravam que a situa- ses mais avangados da Buropa; decadéncia & luz dos ados pela colonizagao; decadéncia perante 0 poder que, acreditou possuir. fam reerguer 0 pais altura do que caracterizavam como zados do globo. Alias, como jé sublinhava o verbete ca Enciclopédia francesa de Diderot e d'Alembert: “a um Estado ¢ sempre relativa a de outros Estados com mantém relagées. Uma nagao é poderosa quando pode independéncia eseu bem-estar contra outras nagdes que apazes de prejudicé-ta” (apud Diderot; d'Alembert, 2006, ). Mais do que uma situagio de pessoas que, de fato,tiveram idade de viver no exterior, a representagao de estrangeirado 1759 e insti prover e gerira educacio, © ensino, progressivamente, tornat-se-ia rmatéria de tratamento pi 0 pio es da sociedade lusa” (Falcon, 1982, p.319). Falcon discor- xe 0 tema, dizendo o seguinte: ‘© proceso de reformar a educacio se inicia na Polénia ena Russia” (Cardoso, 2004, p.181). Em Portugal, o percurso da escola estatal principia, entéo, em 28 de junho de 1759 com 0 Alvar Régio que programa a Reforma dos Estudos Menores. © protagonista da mesma reforma, personi- também foi estrangeirado. Estrangeirou-se ao distanciar: tua castiga e apreender-Ihe, a partir de sua propria expe: incia, o retardo e as limitagdes, Foi estrangeirado, no sentido de 1c ha um processo de rejeigdo por intermédio do qual a cul a, ndo se reencontrando na imagem que dela projeta o outro, irado 6 ao mesmo tempo aquele que se estrangeirou, 46 cariorasoTo INSTRUGAOPOBLCA EPROUETO CMILizADOR 47 ‘o mundo exterior, denuncia-a como falsa, perigosa,e faz dos seu adeptos elementos estranhos, estrangeiros a uma verdade da s6ela éjuiz. ibid., p.321) a0 ser indagado pelo rei sobre o que fazer diante da fizera ruir mais da metade dos prédios de Lisboa, 0 ‘0 dos Assuntos Exteriores e da Guerra (desde 1750) — i de Carvalho e Melo — teria respondido: "enterre os e 03 partos e cuide dos vivos”.* A partir d As ideias circulavam. Do exterior elas ‘Tratava-se, nas palavras de Dermeval Saviani, de “criar aescola it aos fins do Estado em substituigao aquela que servia aos interes | ses eclesiasticos” 2008, p.107). Muitos fatores exy © poder do ministro; a maior parte deles compre eatia secretirio de Estado dos Negécios wrtugal.’ O rei, com esse ato, daria a Sebastido José e Melo ~ futuro Conde de Ociras, em 1759; futuro em 1769 ~estatura de primeiro-ministro do especificidade identificado. / veira Ms 1e deu a Pombal o impulso para 0 poder virtualmente le conservaria por mais de vinte e dois anos, até a (Maxwell, 1996, p.24). Dos fumos da ca joao Litcio Azevedo ~ emergit a lideranga pombalina ele nivelou as ruinas, tragou as ruas, dese- zou a estitua terrestre e, triunfador, fez-se 10a Nova que, dentre os destrogos ressur: o fator acaso, e talvez no estivesse errado quando disse que uma das sas da ascensio do Marqués foi a atuacao deste durante o terremoto \ de Lisboa, que fez morrer de 10 mil a 15 mil pessoas. O terrem¢ ‘ocorteu em 1" de novembro de 1755, dia de Todos os Santos, ¢: seguiiram-se ineéndios e enchente. (Os habitantes de Lishoa se encontravam sem se conhecerem, rtamente os tragos de estadista que fizeram com que chocaram-se mutuamente sem verem, e s6 saem deste primeiro le modo répido, eficaz e impiedoso para esta- espanto, para perguntarem uns aos outros se a ardem da natureza situagdo” (Maxwell, 1996, p.24). Como disse Pierre de se havia transiornado. Os grandes estavam confundidos com 03 ‘ se tratava de restabelecer algumas partes da admi- Pequenos, ¢ os ricos com os pobres: a morte fere indistintamente. A ma inteiramente nova” (Cormatin, esposa perece nos bracos do esposo: o filho ¢ esmagado ao lado do destreza, agilidade, firmeza ¢ poder pair as ctiangas sucumbem no seio das mes. Lisboa fic os corpos das vitimas do terremoto foram reunidos ra- amontio de ruinas, com as ruas juncadas de cadaveres. ‘om a permissiio do patriarca de Lisboa, levados para corpos dilacerados a cada passo se encontravam: aqui se divieava uma mulher exalando o derradeiro suspiro, acola um homem ren= dendo a alma ao criador. Parecia que todos os elementos se cons- piravam para a ruina da desditosa cidade: o incéndio acabou de consuinir o que escapara ao terremoto, © mar, saindo do seu leito, ameaca absorver o resto dos habitantes de Lisboa. A noite que sucede a este dia deploravel $6 serve para tornd-lo mais terrivel (Cormatin, 2010, p.192) res palavras pode ser que as no profersse. Mas, da istzia, oinexat é mais verdadero qu 48 camoragoro INSTRUGKO PUBLICA E PROJETOCIMLZADOR 49 ‘o mar, amarrados a pesos e jogados no eceano” (Maxwel .24). Mais do que isso, quando da reconstrugio de Lisboa, vez de ordenar a reedificagdo da cidade de acordo com a tras terior, o futuro Marqués de Pombal decidiu que ela se fizess gundo conceitos totalmente novos em urbanismo e arq) (Marques, 1984, p.342), também na época, procurara oferecer ele tos para a compreensio das causas naturais dos terremotos, segundo ele, so as mesmas “das auroras boreais, das estrelas c dentes, dos globos de fogo, dos relampagos, dos trovées e dos Todos esses meteoros provém do enxofre e das matérias oleosas (Sanches, 1966, p.382). Estas, porsua vez, s8o exaladas das pla des animais, dos minerais, dos vuledes, Tudo isso tem como d no aatmosfera, como se ficasse encerrado em uma caverna, até com aagao do s sda de tantas vidas e animais pela ruina das casas, fazendas fi imensa; porque ou por acaso ou de props: dia apareceu toda a cidade em flamas, con oléncia por quatro dias. As aguas do Tejo que lade seretiraram da praia com impeto;e, como o lugar de sua corrente tem ali uma légua de largo, 0 refluxo mpeto na parte baixa da cidade que des- os de terra com menor violéncia, havendo-se jé -aparam retirado para o campo, onde ainda vive a maior toriograficamente a Lisboa pés-terremoto, José demonstra que toda ela é tributéria da planta Pombal. Era como se, caso nio tivesse ocortido 0 teria havido o Estado pombalino, cespirito universal dcido espalhado pela atmosfera e por bo terrestre © com a v a Iso dos ventos, ve com essas exalagbes a agitar causam flama q conhecemos pelos relmpagos, causam estrondo que conhec pelos trovées, e, seas exalacées sulfireas so densas e pesadas, ‘do se dissiparem totalmente na sua deflagragio tocam os terrestres que destroem ou pdem em fusio, efeitos que conhece! pelo nose dos reios, Estes derretem metais, derrubam os edi « fazem arder todas as matérias inflamavei pombalina é a imagem do Estado pombalino: cons- tariamente, com planta retilinea ¢ geométrica, projeto xdos os prédios destinados aos particulares, proibigio inal exterior reveladora de classe ou le fachada das igrejas pela restantes edificios, No local onde estivera o palécio real ~ Pago da Ribeira — foi construido 0 conjunto das secretarias Sao essas exalagées, portanto, que, provenientes do interior da terra ou exaladas dos corpos em sua superficie que fario tempes tades e redemoinhos, Foi também isso que ocorrera em 1755 — diz Ribeiro Sanches ~“estando o céu claro e sereno e a atmosfera quente do que requeria a sesso, comecou o terremoto em Lis lento que, em sete minutos, derrubou ou abal parte dos majestosos edificios que crnavam aquela capital” (ibid., p.385). Fica claro —nos testemunhos da época ~ que, para além de uum relato de dor e de perda humana, o terremoto de Lisboa tor- yue deviam comércio seria, na concepeio de Pombal, a base do Até o nome da grande praga foi mudado: em vez jo Pago, nome secular, passou a designar-se a Praga do , no pavimento térreo, estabelecimentos 50 camorasoro INsTRUGEO PUBLICAE PROJETO.GHRLZADOR 51 terremoto, ter-se-ia tornado Seb: So Marqué f vivos sob os escombros. O que dirio esses filésofos ‘Teria sido o terremoto imprescindivel para firmar aimagem cenas de dores initeis? Poderdo dizer, por exemplo, da biografia do minists ua cidade, e que a morte é0 prego de seus crimes. 1e cometeram as criancas esmagadas sobre o seio de A decisio do que Lisboa seria mais criminosa do que Londres da sua forca, conquistando-the para logo a absoluta obedii dessas questdes, os fil6sofos entio responderio rei Dom José. Lisboa era um acampamento; e tudo havia ar «cessrio neste mundo, e que Deus nao poderia t@-lo tudo se podia executar, nesse momento Ginico de destrui Mas, pergunta Voltaire, como podemos do passado, O terremoto era o fim de um mundo. ‘sa ponto de dizer que ele nao poderia ter feito um Porém, 0 ministro precisava consagrar a destruigao, nas esfi seileres etesremnpion (oor Ee onde a natureza no ch ana sociedade, nas i que 0 terremoto 6a expresso mais acabada de izagio no trouxeram necessariamente rma de vida dos homens. As pessoas construiram, nuitas delas com varios andares, a beira de um rio, stivessem mais dispersas, mais distantes umas das ou. n softido de maneira tao cruel os efeitos do tremor de remoto fora, nesse sentido, um mal provocado pelos ho- snas a manifestacio de uma forga da natureza. Rous- evidenciar que foi o homem e no Deus o grande corrido: que a futura Salento fosse uma cidade nova em todos os se © terremoto fez-se pois homem, e encarnou em Pombal, se (Martins, 1991, p.351) (© capitulo do terremoto de Lisboa adquire uma conotasio ex tremamente polémica em todaa Europa daqueles tempos do rismo. Voltaire escreveu sobre isso, Rousseau escreveu sobre isso Rousseau, na verdade, responde ao escrito de Vol aeste em 18 de agosto de 1756, Dizia ali que nao fazia qualq sentido culpar a natureza ou Deus pelo desastre. De alguma for Rousseat rd se contrapor ao profundo pessimismo que o poe! Voltaire despertara nos contemporaneos ao indagar que Deus: aquele que dizima uma populagao Iheres € ctiangas que jamais pecaram destaca que, a partir do desastre de Lisboa, o tema do mal torn ‘uma obsessio do pensamento de Voltaire. A perspectiva voltai na era a de que o terremoto teria sido uma prova de que Deus existe, pois se existisse nio teria permitido que tamanha fatalidad provocasse tanto mal a tanta gente. Souza, ao coments o texto Voltaire, afirma: tantes dessa grande cidade tivessem sido d iments, vivessem de mancra mais modesto dano (0 menor, e talvez mulo, Todos teriam fugido ao pri- ,€ poderiam ser vistos no dia seguinte a vinte léguas legres como se nada houvesse acontecido; mas é preciso wer, obstinar-se ao redor das habitagées, expor-se a novos yue 0 que se abandona vale mais do que o que se pode tos infelizes pereceram nesse desastre por querer pegar spas, outros seus papéis, outro seu dinheiro? Acaso no a pessoa de cada homem tornou-se a menor parte dele 1ue quase no vale a pena salvé-la quando se perde todo Rousseau, 2005b, p.123) © poema se inicia com uma convocaglo aos filésofos do ‘mismo para que venham contemplar as ruinas, o8 destrogos, as cinaas da cidade de Lisboa, os mortos, 08 mutilados, 0s que foram 52 cartorasoro INSTRUGAOPUBLCAE PROJETOCMILZADOR 53 \letiva de catequizagio e de ensino. Os jesuitas sao Papado do que a realeza. Ao fazer isso, ‘ra tida como uma corporagio insubordina- reais, j& que se estruturava intrinsecamente ransnacional. Em um tempo de valorizagao dos lugar politico ocupado pelos jesuitas certamente squer interesses da monarquia. Seguira-se a ex- lizago de todos os membros da Companhia de -s08 ou expulsos, a Companhia se- idade de retomar o controle de seus ieia que presidia a agdo pombalina. A nova no, sob controle do Estado, seria, a principio, 1 um diretor geral dos Estudos, cargo para o qual foi a, 0 conego da Sé patriarcal de Lisboa, ida, que ocuparia o lugar de responsivel pelos as- rucio, Era delea incumbéncia primeira de consolidar s régias que deveria substituir o vazio pedagégico sxpulsio dos jesuitas, iretor da agdo pombalina certamente passava pela ‘atava-se de firmar uma empreitada de or- lade industrial portuguesa, sem a qual se com- pretexto de um atentado. cutou varios integrantes da nobreza. Alé expulsou os jesuitas do pais e dos demais dos Saraiva, 1989, p.92). Pombal modernizou Portugal; e acabou com a distingio ctistios novos cristios velhos. Al des comerciais, dando nova ica 4 economia portuguesa, assegurando o monopélio do Estado, Dimit Inquisicao, pasando para Real Mesa Censoria aatividade de sura intelectual. O “cométcio foi declarado atividade nobre, em tos grandes comerciantes receberam os seus brasées Qualquer critica que se possa fazer & p da pot Portugal sob a direcdo do Marqués de Pombal nio © métito do estadista: com Pombal, pela py do nacional o grande responsavel pela j dos assuntos da educagio, Portugal expulsaria os jesuitas ant Franga. O sistema pablico pombalino constitui, no projeto de arquitetura, um antecessor do sistema piblico que posteriorm seria propalado pela Franca revolucionéia, © Marqués de Pombal se notabilizaria, educasao luso-brasileira, quando, como jé menci lagdo aos demais paises da Europa, toma inic! de expulsat a Companhia de Jesus de Portugal e suas colénias, © poder da Igreja era, por todas essas medidas, secularizado, p do para as maos do Estado. A reforma do ensino abarcou os ra, tendo em vista o aumento de lucro dos Menores e os Maiores. © Marqués de Pombal representava, a somércio externo necessérias para a metrépole por 1. Nesse sentido, a modernizagao era crucial para a nova que o Marqués de Pombal pretendia deflagrar. smbal assim acreditava—constitufam um obsté- ica externa portuguesa, que ficara mais dificil apés, vocadas pela agdo do terremoto de Lisboa, em 1755. vada uma tarefa de ponta, Entre os te nos, o Brasil era tomado como um centro agluti- ‘io e de produgio, com destaque para as atividades -senvolvidas pelas capitanias exportadoras do agti- no petiodo, por Pernambuco. Tratava-se de fomen- Itura agricola que pudesse, para além disso, diversificar jinismo e razao de Estado. Sentindo-se afrontado, como representante do rei de Portugal, Pombal pretendia retirar dos suitas 0 controle exercido pela Ordem sobre coragdes ¢ met 54 caRtoraboro INSTRUGAO PUBLIAE PROUETO.CMLIZADOR 55 se dizer que a ago de Pombal visava, de alguma pratica a reforma j projetada por esses trés quais o despotismo esclarecido portugués dire~ A ordem jesuitica, para o caso portugués, era tida quase com poder paralelo ao Estado, sendo que, por isso mesmo, uma ameaga sempre presente contra a consecugio dos interes nacionais. Foi em 28 de junhoe 1759 queorei Alvari que contemplava certamente apri 3s jesuitas eram drasticamente expulsos, nos termos rescrito os autores do iluminismo portugues. P leraclo pela ago do ministro, uma renovagao da a cia cultural portuguesa e um controle sistemiético da agao ed por parte do Estado, criando um sistema de organizacio e de uma escolatizagio de Estado, Note-se que, acerca do tema, a ag pombalina era predecessora do grande debate com o qual a Revi «@o Francesa abordaria a matéria do ensino pablico e gratuito do pela acio do Estado, tendo em vista formar a alma da nacéo, "a e econdmica desenvolvida pelo pom! lade a racionalizagdo e a centralizacio da ago d tado. Pombal pretendia arquitetar uma forma de organizagio d Estado que pudesse confetir ao governante maior dominio sobre dados de sua jurisdigao. Era isso que prescrevia o pensament Anténio Nunes Ribeiro Sanches, que defendia a existéncia di ios especialmente criados para a fiscalizagao centralizada da. do Estado nos diferentes dominios de agio. No caso, a inst de tais aparethos de inspegio possibilitaria a obtencio de d; sobrea satide, as condigdes de higiene, as doencas, as caracterist da populagao. Acreditava-se que a satide dos povos se preserva informagao e com intervengao do Estado para suprir necessidades ¢ ‘caréncias. No caso da educagao, a analogia estava posta. Sendo P ‘tugal um dos paises europeus em que a Contrarreforma teve m: presenga, a Companhia de Jesus desfrutava de privil Epoca, nao seriam mais vistos como legitimos, especialment olhar estrangeirado dos arautos do Tluminismo portugués. Vozes como as de Luis Anténio Verney, Ant6nio Nunes Ribeiro Sanches, ed. Luis da Cunha advertiam contra os perigos contidos na culdade que o Estado evidenciava quanto ao controle dos dados 1a dos Estudos Menores seria acompanha- -a de aulas régias, pela izagfio do ensino jesuitico, me- apela quale Estado concederia ‘ subsidio necessario para autorizar professores rentes areas do conhecimento a abrirem aulas € poca dirigiam, em Portugal, 34 faculdades e 17 |, sob 0 controle dos jesuitas, havia 25 colégios, rios. O alvaré que expulsava os ‘nao deveria principiar pelo latim, im nas classes iniciantes. A o professor falar 0 inclusive alguns compéndios escolares, que de- \dos nas escolas. Acreditava-se que um dos aspectos sprendizado dos alunos era a necessidade, ex iento jesuitico, de que os jovens aprendessem a ria lingua, valendo-se, para tanto, de wma lingua im que os jesuftas ensinavam as normas gramati- strados do period, tal método irracional. Por isso a énfase na necessidade em primeiro lugar, valendo-se método. Apenas isso jé abreviaria o tempo desti- izado e proporcionaria maior eficécia nos estudos. nstrugdo para se utilizar o catecismo smo de m como o uso da gramattica de Anténio Pereira de itonio Felix Mendes. E possivel verificar o signifi- » da agzo pombalina como diretamente acoplado a ica do lugar simbélico a ser ocupado pela cul- nago da nacionalidade moderna. Pe enn IstRUGAOPUBUCAEMOLETOCMuZADOR 57 10. Em qualquer dos casos, para as aldeias (Oalvard de 28 de junho de 1759 explicita que a organiza Faas a tied aseladfepaligeen Gas daicetea as tantas escolas, qualquer uso d Estudos Menores tinha por finalidade ra dos jesuitas, com 0 propésita de sec ‘a ver como agéncia moralizadora e provedora 1 sea ela fosse dedicada uma tarefa de, a um ar e inculcar cédigos culturais supostos sociedade portuguesa, no esperaria de ,. tor geral dos Estudos foi estabelecido também “ao basica de fiscalizar os estabelecimentos de ia ampliada em 1771, quando foi criada a para tratar especificamente das aulas régias em srritérios inos. Para isso, tornara-se sucionalizacao de um plano nacional que vigorasse ico com um todo, envolvendo as atividades de mento de dados sobre as escolas e de elaboragaio suaco do ensino, Cada regido seria estudada icas socioecondmicas ¢ tais dados seriam entre- mages sobre as escolas locais, as quais, por sua ir métodos clatos e eficazes para o ensino nas diferente ias, com o propésito de europeizar Portugal e colocar a na altura dos paises mais desenvolvidos do mundo. O alvaré tin Pressuposto @ conviegio de que a reforma do reino, com tudo isso implicasse em termos de politica e de economia, passava mordialmente por uma renovagdo cultural. Para tanto, vist va-sea necessidade de tornar culta aaristocracia politica que vir 3 verboipenvedene dette governar tanto o territério portugués quanto as terras coloniais, rasa manutengfo, verb proveiene ae intuito presidia a criagdo, pelo mesmo alvara, do cargo de ells eral dos Estudos, em cujsatribuigdesconstavam tanto a om ee fo da rede de escolas quanto os critérios para examinar e novos professores, autorizando o ensino, sempre pela conce: ‘mediante concurso da licenga-docente A reforma pombalina, que tem lugar a partir do referido var de 1759, expressava o intento da coroa portuguesa de ct © papel da educayio como matéria de Estado a ser, pe ados na profissio professor, i, sendo vedadas, por esse tribuigdes financeiras sistema de ensino que se pretendia construir a partir d larizado e expandido para as camadas médias e majoritarias da pulacio. O curriculo incluiria, no que entéo se chamava primei letras, a conjungio entre o ensino da leitura, da escrita e do c normas da doutrina crista para os meninos. Para as menin: ‘de bdenovembro de 1772, d qual o pove pagava 58 canLoTAaoTO INSTRUGAOPOBUCA EPROUETOCMLIZADOR 59 D. Luis da Cunha e seu testamento: decadéncia, sangria e politica ha discorreria sobre “a lastimavel situagao de Por- 35). Mota compreende que, id., p.38), d. Lufs da Cunha véxima do pensamento costnoy metade do século XVIII, antecipando a Tlustra~ D, Luis da Cunha (1662-1749) formou-se em Cénones 1695, atuou como diplomata portugués. Como sublinha José Calazans Falcon, “seus escritos, numerosos e variados, e reformista sive sua correspondéncia vastissima, revelam a dilatagao di rizonte mental, a perspectiva infinitamente mais aberta eav que informa seu pensamento, fazendo-o entrar, logica rol dos estrangeirados" (Falcon, 1982, p.233. gao de d. Luis da Cunha, a bibliografia costuma subl ss de Portugal e os seus remédios" upado com o presente e com o futuro do territério jue 0 monarea assemelha- ‘Todo pai de familia tem res e dependentes — das rante sua casa, seus fam furtar: xador. Ao olhar do exterior para seu pais, Luis da Cunha ac anecessidade de se fortalecer o papel do rei. Além disso, preo pava-se com a dependéncia portuguesa da Gra-Bretanba, coi dificuldades comerciais enfrentadas pelo pais e, especialme ompetente sucesso a sua casa para que no passe a (Cunka, 1976, p32); sm tegradoo servigo da sua casa, para que cada qual dos os faga as fungtes que Ihe competem, conforme a 1p ido de que entre ela no haja dissensGes por nao per- mnomia da sua casa; de que se segue que o principe, com certa “fraqueza autoimposta de Portugal no tocant (Maxwell, 1996, p.16). 6 tema, Carlos Guilherme Mota (24 0 de d, Luis da Cunha — escrito nos 40 do século XVII, um pouco antes da subida do principe d. a0 poder — orienta o monarea sobre quem deveria ser escoll como principal ministro do reino. Ele sugere mais de um n\ dentre os quais sublinha o de Sebastido José de Carvalho e M “cujo génio paciente, especulativo eainda que sem vicio, um p difuso, se acorda com o da nagio” (Cunha, 1976, p.27). Mot sinala que d. Luis da Cunha teria se destacado também por visio metcantilista inovadora para seu tempo, tendé sido, indy tavelmente, um dos idealizadores da modernizagao econé: Reino: “seu discfpulo Pombal tornar-se-ia a figura central des constelacio da qual d, Luis era o mentor” (Mota, 2006, p.47).* populagio e de espitito de i as do seu reino, deve interpor a sua autoridade para ierengas que acontecerem entre umas e outras, porque cr prejudiciais aos seus Estados” (ibid., p.36); sua casa endividads; porque ninguém é rico senio bid., p37); suas teras para ver se elas estio ber das, ou musurpado alguma porgdo, afim de que Ihe néo faltea sirava para sustentar a sua casa, (ibid., p41) ambém as obrigagées do soberano com relagdo a into, as metiforas do discurso de Luis da Cunha 60 cantovs soro sobre Portugal nao se detinham a essa reflexdio sobre o pat reis com os pais de familia, Portugal era compreendido co ‘organismo doente, a quem se deveria observar os sintomas, mores ea debilidade; de modoa buscar identificar “o con! da causa do mal que aflige: isto nfo s6 para remediar a st mas para prevenir o de que pode estar ameacado” (ibid., p. ‘A causa primordial da fragilidade portuguesa residiria na es teza dos limites de seu territ6rio, Tal debilidade era, ainda, a da quando se comparavam “nossas forgas & proporgio das situacdo geografica que — esta sim Ihe era favord do mar. Porém, a aventura das navegagdes nao teria sido capi conter © mau uso das terras do reino: terras incultas, prop que nao cultivavam seus tertenos ¢ até mesmo “porgdes de t ‘usurpadas ao comum das cidades, vilas ¢ lugares” (ibid., p.61). As terras incultas, fosse por desinteresse dos donos ou dos rend deveriam Ihes ser retiradas para serem entregues a pessoas tocante falta de populagio ede esp taleeconémica, lea atribuia ao némero exce Inquisigao 8 expulsdo INSTRUGAOPOBLCA EPROJETOCMUZADOR 64 .essem cultivé-las (Falcon, 1982, p.254). O problema ico sobre o qual d. Luts da Cunha se debruga residia le verificar as “causas de existirem tantas povoagies (0 ¢ Covilha na Beira Alta; Guarda e Lamego em Braga; em todas elas as suas manufaturas foram a a desenvolve a tese de que as razdes que levaram apequenar perante os demais pafses de Europa con- m conjunto de fatores que ele intitulou sangrias.* rovocaram, entre outras coisas, 0 despovoamento do sangria que destruia e despovoava o reino portugués to de pessoas de ambos os sexos que procura- tos. Ao tornarem-se frades efreiras, renunciavam ao abalhavam para o pais, nfo procriavam e nao contri- woar 0 reino. sangria que ~ segundo o autor ~ “niio deixa de enfra- 10 do Estado, ea que niio acho remédio, 60 socorro da mente se manda para a India” (Cunha, 1976, p. Imente marinheiros que, ao Fazer isso, deixavam mulheres sozinhas que, em outra sit tos filhos. © Brasil estava também inc ia: para Ki iam todos os que ~ sem passaporte~se en- a promessa das minas 0 desejo de fazer nova vida. da economia e da cultura, um modo de povoar 0 sem despovoar Portugal seria: wnento &a questo de base, os fatores queo determinam ass 62 canorazoro INSTRUGAO POBLICAE PROLETOCIIZADOR 63 Lu] permitir que os estrangeiros com as suas familias estabelecer em qualquer das suas capitanias que escolh examinar qual seja a sua religio, recomendando aos g confiscados fariam com que os judeus contri ibrar o comércio portugués.”” io comercial ~ preocupacao com que Luis da xxto- pode ser compreendido como a quarta san- for ea poténcia do reino portugues, ja remete ao que Roberto Romano caracteriza orginicas” (Romano, 2003) que, nessa época, ir interpretagbes da vida social a partir de uma lo que se sobrepde as partes constitutivas do terri- .dugio de um elemento maior — situado para além das diversas instancias que alicergam a vida social. jura de um pais sangrando configura estratégia icado a ages que representariam o cixo de novas ropagariam, € em poucos t bons portugueses e bons catdlicos romanos em 0 caso q avés fossem protestantes, no que no acho algum inconv i, p75) 1pos os seus descer A terceira sangria do Estado portugues viria dos atos da sigio relativamente &queles que eram — por causa dela ctistios-novos.” A essa terceira sangria, d. Luis da Cunha teriza como “insensivel e cruelissima” (Cunha, 1976, p. poder, mediante o primado do Estado nacional. riamente saem de Portugal essas pessoas que, em solo porte, sangria — j@ abordada pela bibliografia sobre Luis nao teriam qualquer oportunidade. Assim, o reino e1 inscreve-se em um cendrio de construgao de um pais, por isso, despovoado. Uma forma de extinguir esse problema sitar sua propria identidade, a luz de um télos. Ne~ dar aos judeus a possibilidade de viverem sua ‘etagio do passado poderia contemplar 0 lugar de da Cunha expressava s fosse perseguida, acusada e punida, maior seria, ainda, o nimero judeus travestidos de cristdos-novos. Além disso, quando ce sem as perseguigdes, deixaria de haver “tantos sacrilegos qua sendo no coragio judeus, frequentam os santos sacramentos, pat no serem descobertos’” (ibid., p.91), Finalmente, sem as cliva que retiram das pessoas oporttnidades que seriam justas, os jude) (convertidos entio em cristaos-novos), caso pudessem assumir su verdadeira identidade religiosa, permaneceriam no Reino, fazend com que seu capital girasse em torno dos negécios portugu intelectual como fenfimeno da devadéncia de Portugal tornat- as causaa da decadncia? Para Antero de Quental, seriam trés |, oto palitico eum terceiro econs- ‘aque era compreendido como pior todos eves fatorescontrariavamn idiu o desenvolvimento das nagéescivlizadas conquistada pola era dessa tradigio que vinha da século XVII 64 cartoTazoto interpretagio de mundo saeralizada, possi desmagificada cosmovisio, ade que a crescente ci urbana patenteou ainda mai roga, 2006, p. Para reerguer esse pais despovoado, era pre: sangrias e, de algum modo, todas elas reportavam.-se a p dlescomunal do poder da Tereja Catoica. Como diz Fao) éncia das pr capitais, que atemoriza investidores, que impede em Por consolidagio plena do modo de produgao capitalista. As pombalinas, tomando como ancora teérica o pensamento ticas discriminatérias de todo tipo ainda existentes e, no discurso reencontra seu tema basico: a Inquisig&o” (Falcon, is da Cunha, como Verney e Ribeiro Sanches, intelectual de novo tipo, sol as reformas, tidas como necessirias ao pais. Ribeiro Sanches e 0 cédigo politico do novo Estado: educagao e medicina Aspectos biograficos de Anténio Nunes de Ribeiro Sanches A partir de pressupostos que revelam sua época, 0 Humi portugués verterd as préprias indagagdes para buscar re INSTRUGAOPUBLICAE PROJETO CwiLIZADOR 65 do. Expoente privilegiado do movimento ilumi- de tratados de medicina e educacio, Ribei- siderado também o suporte teérico das reformas ‘como se nota em seus escritos, primordialmen- 10. Sua obra é marcada pelo ecletismo e lo, Escreveu sobre medicina, economia, educagao uma teoria das emogoes, smacor, em Portugal, Anténio Nunes Ribeiro iasce praticamente na fronteira entre o sécu- wrma-se em Medicina pela Universidade de onde se transfere apés os primeiros anos cursados Rémulo de Carvalho (1986) que ele sai do pais wunca mais regressou. Muitos bidgrafos atestam que definitivo do solo portugués deveu-se ao receio de ‘ou mesmo de contar com intransponiveis dif rersidade de Montpellier. Em 1 Leiden. Na Holanda frequentao curso: minseado ue setorna uma de suas grandes referéncias ci ico. Foi Boerhaave quem o indicou para a Corte wecido na Riissia entre 1731 ¢ 1747, ai obteve ex- , onde realizou grande parte de cientificas. Foi também médico da Escola Mili- ‘sburgo, o que — segundo consta— proporcionow-| as para refletir sobre a pratica da escolarizacio. 1u como médico particular da czarina Ana Ivanovna, transferindo-se para Paris, Ribeiro Sanches presencia ior efervescéncia do movimento iluminista, tornan. 10, amigo dos principais organizadores da Enciclopé- 66 cartotasoro INSTRUGAO PUBLICA EPROJETOCMLZADOR 67 dia ou Diciondrio raciocinado das ciéncias, das artes e dos .grupos s40 0 povo, a classe média e a nobreza”” Diderot e d’Alembert. Esse contato resultaria na sua pi 439-40). A educacio estaria, sob tal perspecti- subordinada aos interesses econémicos, politicos, ares do Estado portugues, xcional esbogado por Ribeiro Sanches pretendia te ediligente a cumprir suas obrigagées, ‘anches, [s.d.Ja, p.125). Havia de se en- requereria: bom exemplo dos pais, bom -acima de tudo—leis no Estado “que premiem bem-criad considerado um dos mais expressivos projetos editoriais tados. Redigiu na Enciclo Jadie vénérienne chroniqui Quando soube que Pombal havia publicado o Alvar d Junho de 1759, expulsando a Companhia de Jesus, Ribeiro ayo. Publicada ern 1760, etsa obra, como titulo Cartas educagdo da mocidade, constitui um importante optisculo pat ‘uma ideia do que foi, em matéria educativa, eno territ6rio do Marqueés de Pombal. ‘A mocidade néo era preparada para ser boa nem para ser atria, Pelo contrétio: o fidalgo era educado para tratar com vos todos os que lhe fossem subalternos ~comoseas pessoas: no fossem proprietérias de seus corpos e de sua honra. A fi @ ainda criticada porque acostumava mal as pessoas. Aqueles « desfrutavam do epiteto de fidalgos nao poderiam, por exemplo, presos por dividas. © resultado do privilégio era frontalmente: trdrio aos interesses do reino: “o senhor é dissipador, nem sabe tem, nemo que deve; perde toda. ideia de justiga, da ordem, d rnomia; pede emprestado com mando, maltratae arruina a q recusa” Sanches, [s.d.Ja, p.97). Além disso—prossegue o autor pela religiao crista, todos seriam iguais perante os mandamentos: Igteja, como justificar essas desigualdades de tratament pessoas? Como justifiar as regalias? Ribeiro Sanches cone propria Igreja teria parte nisso: “como dos pri da nobreza procedeu a escravidao, assim das imunidades ecles cas procedeu a intolerancia id. p.105), ‘Mesto assim (e contraditoriamente), 0 plano das Cartas, sando um retrato do que seria adequado ao ensino portugues Estudos Menores e nos Estudos Maiores ~ “dividia a moci em trés grupos sociais cujo destino escolar nada tem a ver co capacidades dos componentes dos grupos, mas apenas com a s\ ue castiguem a quem no quer ser sua pati d., p.126). O que estava em jogo uma dada nogdo de reino portugués, de seu de- c, em alguma medida, de sua modernizagao, Formar ispostos a cumprir suas obrigagées civis para for ficava, de algum modo, destruir as estruturas .s quais estariam as prerrogativas da nobreza e do ar a nagao seria, portanto, atacar priticas subterra- le pensar presentes no cotidiano das pessoas 1da a ideia da igualdade, da justiga e do bem comum. ada portugués quer ser senhor do seu estado: 3 que vai cantando pela rua, porque Thendo ageada; autoridade para fazé-lo emudecer. Esté em com: va alguma ago que Ihe nio agrada? Ci ide o repreende eo mal © 0 Fidalgo faz 0 mesmo € 0 € \3es que ndo soda sua competéncia \ches era cont 4 escravatura; ele propunha que estratégia de distribuigdo demogratica das popula- anas ¢ coloniais com 0 propésito de fortalecer uma a mais adequada ao fortalecimento do reino, Para 3 preservar o império colonial idade de Portugal vir a 68 camtoTaRoro perder suas c jas, muito particularmente o Bra: a extragdo da riqueza das colénias, com a consequente au: cultivo.e produgio capazes de equilibrar a balanga comer Havia—de acordo com Ribeiro Sanches — uma" entre Portugal e Inglaterra com probal ‘gunda poténcia, Recorde-se de que, no antigo sistema coloni presidia a economia mundial nesse periodo, o Brasil tinha se\ pelas mios de Portugal, que imediatamente trat transferir essa riqueza para quitar suas divides com a Inglate ‘quem —ainda para mais - importava cereais. Ora, paraa perspec do médico iluminista, era essencial - a bem do Estado por garantir mecanismos de fortalecimento de atividades ps capazes de aproveitar (tendo em vista o desenvolvimento da nay © potencial agricola que permanecia inexplicavelmente imév necesséttio, nesse sentido, engendrar esforgos para a central de priticas politicas piblicas, em diego a duas prioridades vo das para regenerar a patria em perigo: educagao e medicina. A questo demogréfica era uma de suas preocupagées estabelece uma analogia entre a pratica ie denominava medicina social. Era preciso que o Est controlasse stias populagdes com o propésito de cultivar e fort a satide dos povos. Isso significava obter uma coleta sistema informagdes sobre as doengas, especialmente as epidemias, 0 requereria compreender a logica de reparticao das pessoas ritério. Em 1763, Ribeiro Sanches publica Método para aprend estudar a medicina, Em 1773, Portugal promulgaria a lei que anu lava qualquer discriminagio entre cristaos-novos e cristios-velhos. Apontamentos sobre a educagdo da juventude Giente da necessidade de centralizagio institucional do Est ‘em matéria de organizacdo das escolas, Ribeiro Sanches ~ de al ma maneira ~ atenta para a importancia do dominio pal INSTRUGAO POBLICA EPROUETOCMLZADOR 69 sse pensador lusitano para Portugal “a separagao total entre a Igreja e swell, 1996, p.102). O controle estatal sobre a pra- “se ~ para o autor — a trés objetivos primordiais: itos preparados e disciplinados em fungio das do reino; criagao de um universo de poder sim- ‘ole centralizado pelos poderes da monarquia; pre- cestratégia direcionada para altear Portugal rumo ‘o, mediante a superagao de estruturas de pensar e josas, compreendidas como insuficientes para 0 cocupado pelos paises no cémputo mundial. Sendo 1 educagao deveria esculpir um diferente esboco de ainda cristo, deveria corresponder, como sujeito scessidades do Estado. Ribeiro Sanches propugna ‘cular cimentada pelo estuco da agricultura e do fito de proceder ao fortalecimento das capacidades -as do reino. Era preciso, por meio da educagio, nsensos sociais favordveis a expansio do reino portugués. sm assegurar que a educagio bem planejada fosse ‘aa preparacio de oficios necessarios para elem piiblica tensdes na ideia de Estado que aparece no texto de . Para ele, o pais tem lugares distribufdos, ea logica ssa distribuigdo nao pode ser excessivamente alterada, poe que as escolas elementares sejam concentradas em or populagdo. As escolas de regides menos povoa- ichadas. Nesse sentido, embora todo 0 argumento de hes viesse na dirego de uma ruptura com a heranga tocratica, ele nao rompe com a dimensao estamental ‘or considerar que o fortalecimento da monarquia ia @ eficaz distribuigao dos stiditos no Estado nacio- \ches estrutura um modo de organizar a escola, bem nela 8, com 0 fito de favorecer a formagio rofissdes necessérios ao Estado, sem todavia estabe- 70 canorecto INsTRUGAO PUBLICA PROJETOCWRL2ADOR 71 lecer ruptura com a formagio da fidalguia e das camadas 5 privilegiadas. As transformagées apontadas s4o expostas com cessidade historia para o desenvolvimento do Estado, «que fossem fechadas escolas de aldeias, Ribeiro Sanches a necessidade de haver uma dimenséo racional para o « conjunto das escolas do Reino, Essa centralizagio obedec gras condizentes coma diferenciacao e com a especializago di ses do Reino, Cabe apenas ao Estado fiscalizar a licenga dot alo para 0 ensino nio deveria partir de nenhuma civil ow religiosa. Apenas ao setor puiblico caber controle da distribuigio das escolas, dos critérios de seu func ‘mento e do conjunto de funcionérios s. Tratava-se de concentrar, no Estado, a di- Reino. ‘ocurow anteriormente assinalar, 0 esforgo pedago- imbito de uma estratégia norteada para suprir as as do reino, Nao se tratava de propugnar escolas iro Sanches nao consegue chegat to longe. Antes, inde a supressao das escolas das aldeias, conside- ja critérios diferenciados para pensar a educagio, -om 08 miltiplos oficios socioprofissionais a serem pelas varias camadas da sociedade. ‘stado a ser modernizado tinha necessidade de le- sultos e médicos, caberia também preparar secre- es, assessores de varios escaldes administrativos. ima parcela da populagdo cujo rude trabalho na ais do que o esforgo bragal. Para esse “povo”, hes dira: “que filhos de jornaleiro, de pescador, de 10s oficios vis e mui penosos, sem os quais néo pode viblica, quererao ficar no offcio de seus pais, se sou- vida em outro mais honrado e menos trabalhoso?” , p-127). Além disso, acrescenta 0 autor: “o povo Jos seus maiores. A gente das vilas imita o trato das ; as cidades o trato da capital; ¢ a capital o da corte, .e a mocidade plebeia tenha ou nao tenha mestre, 08 fer serdo sempre wgdo do que virem dos seus » do ensino que tiveram nas escolas” p-131). sob tal perspectiva ~ precisariam ser estrategica- jag, Existiria - pelo plano de Ribeiro Sanches — um trole estatal sobre quaisquer iniciativas sistematizadas di para a educagao da mocidade. Um secretario de Estado par: pecionar, fiscalizar e estabelecer as diretrizes de acio das es torna-se um requisito da maior importancia: E da obrigagdo do Soberano cuidar da Educagao da moci yada a servir a ria em casos de paz e guerra; destinad , tanto para o bem dos povos como pa ensinar legitimamente em escola piéblica sem autoridade Re: aqui se segue que um secretario de Estado deveria presidir a tod las nos lugares e Aldeias do Reino) como as es ética, geografia, geometria, colégios seculares eclesifsticos seculares e universidades. (Sanches, [s.4.]b, p. m ministro que ordenasse especificamente as coi- o; e, assim, “que em nenhuma aldeia, lugar ou vila ssse duzentos fogos no fosse permitido, a secular Essa ideia de um secretério de Estado responsivel pela arquil tara técnica e administrativa das escolas sera decisiva para a cepcio norteadora da prépria Reforma Pombalina da Instr Publica. A figura do diretor dos Estudos, indicada no Alvar 1759, bem como a posterior instituigéo da Real Mesa Cens6i varias dessa acepgio centralizadora das ati 1, ensinar por dinheiro ou de graga a ler ou aescrever" Por qual motivo? Diz o autor que a instrugao cr » certa altivez, inadequada para a maior parte das pes- vente para aquelas destinadas as lides do trabalho. jém do mais, requereria um esforgo diametralmente INSTRUCAOPOBLICA EPROUETO CMLZADOR 73 72 caromsoro ‘igo de lugares no territério portu- jca de seu pensamento. luministas ~ inclusive os franceses ~ ndo propuse- versal, Ribeiro Sanches nao estava sozinho. Como a época, temia que a expansio ilimitada da cultura ranizasse a agricultura, prejudicando 0 comércio e, desestruturando as finangas do reino. Por isso, leis pequenas nio deveria existir escola, Nesse a demonstrar que, com um minimo de escolas bem .0 estar melhor servide do que com um gran- carvalho, 1978, p.140). Critica severamente 0 latim por aereditar que a maior parte de jovens, in- sem social, de nada se valeria desse aprendizado No fundo, até parecia ~ como assinala o autor ~ que “o ussaporte para entrarem no Parafso tertestre” (Sanches, contratio ao esforgo fisico, fazendo com que a juventude px on © vigor ea forca, “aquela desenvoltura natural; porque a a © movimento e a inconstincia sio préprios da idade da mer {ibid.}. O excesso de estudo enfraqueceria o corpo, jé que, os meninos ficam “assentados, sem bulir, tremendo e id.). Por causa de tudo isso, Ribeiro Sanches conclu q todos deveriam frequentar a escola: "nfo convém uma ed to mole a quem ha de servir a repablica, de pés e de méos, por (ibid.). Para 0 povo mitido, de acordo com o encicloped Portugués, no convinhaa escola, Esse foi o limite de suas A contradisio do discurso das Luzes ~ pelo argumento de lamente expressa, Como estabelecer um parm universal de aprendizado de todos sem que isso viesse a ios, dados como inamoviveis, previamente estipula Pensar o Estado era projetar a distribuigao dos lugares pal Era estipular os critétios que permitiriam a perspectiva estraté rrucdo de um reino capaz de fazer frente a uma nova lo —que parecia clara 20 olhar iluminista. O novo Estado construido mediante a organizagio de um quadro de funciona funcionatio organiza sua vida a partir da profissdo e esta e a partir da “ocupacto de um cargo” (Weber, 1982, am preparo. Mas nao seria por meio do ensino do 1 estaria instrumentado para as profissbes moder- ias, Por causa disso, sugere o estrategista Estado a instituir cargos para promover a agricu clas familiares ou de agrupamentos particulares. Para compor cendrio moderno, efetivamente centralizado pela figura do Est ‘era preciso que 0s funciondtios do Estado ocupassem espacos anteriormente eram reservados a ages tépicas, representativas de interesses de grupos de poder saminhos de carros; mande desentupiras fozes dos rios 1 do mar, para se desalagarem os campos convertidos em juinistas, contadores, inspetores, escrivies e secreta- rrande nimero de gente empregada nestas obras para ‘a, Sem elas nfo é possivel que interior e agricul nem trabalho no reino. (ibid.) organizam uma dada racionalidade, cuja marca pretende ser a da impessoalidade da norma. Mas Ribeiro Sanches, a despeito de ser 74 eantorasore INSTRUGAO PUBLCAE PROIETOCIVLZADOR 75 esenta em dominar rapidamente aforma oral desua * Mas € fundamental que no nos esquesamos que, ice, sera necessirio “o mestre Ihe falar na lingua Para as escolasaserem criadase controladas pelo Estado, k ro Sanches propés que ~ particularmente na instrucdo pak primeiras letras -, em vez do aprendizado por vias religiosas, claborado catecismo de novo tipo — aquele voltado para ensinat i crianga “as obrigagdes com que nasceu” (ibid. p.133). Dever ensinar a juventude resignagao e obediéncia perante o cum; o portugués da Universidade de Coimbra. Ali reito Canénico, Jurspr e Medicina. Porém, segundo o autor, todos os cu: wados e obsoletos, Note-se que nio havia sequer um ~compreendendo-se esse estuco como uma per- - Torando o caso do Direito Canéni- Sanches assegura que as referéncias todas leis. A vida civil devia ser apreendida — assim pensava o ilu. trado portugués ~ como se de um catecismo se tratasse, por obra exemplos ¢ ages. O significado da escola era primordialmente de fazer exercitar a vida -m alg m a vida da coletividade em seu cardter plural. Nao h se houver a reserva de territério a este ou aquele estar sua légica é exatamente a que romperé com os limites sociedade estamental Ribeiro Sanches sugere a utilizagéio de escolas com o propésito de introduzir preceitos de ci ‘mando, desde a mais tenra idade, regras sobre como se comp. perante as outras pessoas. Tais livros seriam “impressos em por 1és, por onde os meninos aprendessem a ler, onde se incl principios da vida civil de um modo tio claro que fosse a doutrina compreendida por aquela idade” (ibid.). A isso, o autor denomi “catecismo da vida civil” (ibid.). Conhecimentos, valores regra de condutas aliimpressos seriam ensinados as criancas “com casti ‘gos ecom prémios, acostumando aquela idade mais a obrar confor: me arazdo do que a discorrer” (ibid. Através do livro escolar, as criangas seriam instruidas quant comportamentos e ages para com o8 mais velhos, os colegas ¢ vida social. Pelo compéndio, se haveria de compreender “que ‘guém na prosperidade e na grande alegria se deve desvanecer ne ensoberbecer, porque somos nascidos para viver uma vida cerceada : sempre pela alegria e pela tristeza; que nenhum bem € sem mistura \ ree shangnerage ood de mal, nem nenhum mal sem mistura de bem" (ibid., p.135). Tudo i ‘isso — saberes ¢ costumes ~ poderia ser ensinado meninice; 0 que, aliés, nao era dificil, como demonstra a facilidade natural que qual- rigam a jueimporta que.os escolésticos afirnanem que vivente sio acidentes que resultam da forma jo que é um perfeito artificio que nao trem nada 1ma, pois que existe partida adita? Se eu“ vejo que ros humores mostra distintamerate queo maravilhosa, @q_ual pode SeV.P. ouvisse um homem que, sem ter ido a India, ou ram bem aquela peninsula, ainda assim pe cuido que nao deixaria de se rir. Pois também eu me dos que, sem irem ao pats da fisiea, falam e decidem sobre as partes; ¢ fago tanto caso deles quanto V.P. faria daquele his E como vejo que todos os peripati pois, se bem admitem alguma experiéncia ‘maneira tal que perde toda a sua forga~ por isso entendo que t a sua fisica se deve desprezar. E 0 mesmo juilgam comigo todo: homens doutos. (ibid., p.176) mente que de nfo considerar assin™ 0 corpo cos enganos. E depois que, postas de parte ass preocu- ‘garam a considerar o corpo humano como & em si, € cas eis do movimento, tém-se descoknerto coi- oravam, Queto ainda supor que esses filésofens fossem mens clo mundo: nada disto basta paraque ew naoceda despreze a sua autoridade. (bid, p.179-180) O autor insiste em declarar varias vezes que apenasa experi Poderd conduzir ao conhecimento. Somente, pois, a luz da obser io € que se poderd discorrer sobre qualquer coisa. Diz Verne “ns nfo temos conhecimento imediato das naturezas; unicamente temos dois meios para o conseguir: observar as propriedades; ¢ ver se, mediante alguma resolucio, podemos chegar a conhecer ios de que se compée esta ou aquela entidade fi ssim, 0 conhecimento partiria no sentido contrério do que se costumava fazer a época. Nao se deveria continuar tomando por Ponto de partida um saber abstraido da realidade para, somente depois, confronté-lo como real. O caminho seria outro: “observare discorrer" (ibid.). Mais do que isso, “no devemos querer que a na- tureza se componha segundo as nossas ideias; mas devemos acomo. dar as nossas ideias ans efeitos que observamos na natureza’ (ibid.). Finalmente, Verney argumenta que ac télica—enredada 10 ~ nao possui aparato lidades descortinadas pela ica quanto a razao escolis: idadedocorpoe tomar secularizadaapréiticamé- 10. Assim como fizera o médico Ribeiro San- icina galeno-drabe” (Guerra, 1983, p.28 3). Além Vistas portugueses destacam a necessidade: da “ob- pratica da anatomia e da rioso substituie — como se dizia 8 época ~a ex: periéncia lc pela autoridade da experiéncia, conceitual para aprender, de fato, as 1 ceigncia moderna, Tanto a légica aristot 106 camoravoro ‘Ao referir-se as mazelas do ensino da medicina, Verdadeiro método de estudar principia pela dentncia da auséncia do conheci- ‘mento de anatomia. Na Universidade de Coimbra ~ delata o texto inda que haja uma cadeira de anatomi duas vezes no ano fazem a tal anatomia em um carneiro, jas partes se mostram na escola” (Verney, [s.d.], p.205). Verney “querer saber a anatomia do homem pela do carneiro é uma ideia nova” (ibid.), A disseca- S80 de cadaveres era proibida em Portugal ¢ a solucdo encontrada. lo, entdo, a de “abrir” os animais: “observe V.P. a tulea ou 1e chamam —de uma cadela, de uma corga, de tuma coelha, ¢ achar que, nao sé sio diferentes entre si, mas dife- tentes do titero da mulher” (ibid., p.206). Contudo, era interditado a professores e a estudantes abrir cadaveres humanos; proibicéo que, do ponto de vista médico, chegava a ser ~nas palavras de Ver- hey —heresia: “por pouco que esses homens considerassem a ma- ‘éria, conheceriam que saber 0 uso das partes do corpo humano é indispensavelmente necessério na medicina” (ibid). Verney identificava desdobramentos de uma ignorancia a outra: ‘0 desconhecimento da fisica e da ido tem exercicio, relata que escreve isso a rir, e ironizs madre jica acarretava também a erravam-se 08 diagnésticos ¢ abusava-se de remédios errados. A sirurgia era um saber apenas pratico, sem qualquer estatura tebrica, Ji que esta requereria a 0 texto reconhece que o bom pratico 6, de fato, aquele que do- mina a “causa particular dessa determinada enfermidade” (ibi P.207) para poder curé-la, Porém, o proprio saber pratico~ por isso mesmo ~ sé seria enriquecido pelo dominio da anatomia. O corpo uma maquina a ser esquadrinhada; e nao se cura “as apalpadelas” ibid., p.208). Nas palavras do autor: Formard melhor conceito da causa de uma enfermidade quem no sabe onde ela se forma do que quem o sabe? Entenderé melhor ‘a causa de qualquer dor do corpo quem nunca viu um corpo aberto do que quem & pritico nas entranhas? Que homem de juizo se per- insrrugAOPdBUCAE PROuETO cMLZADOR 107 suadira desta proposigio? Como € possfvel que possa um homem, ‘io dos olhos, se no conhece a estrutura dele emendar algum walgar que coisa é um aneurisma na aorta, na celfaca, liacas etc., se ignora a situagdo e estrutura das par- que modo chegard a conhecer se em alguma parte se acha um defeito orgénico nas partes da geragiio, vg., a boca do ste ou coisa semelhante, sem ter perfeitissimo conhecimento da anatomia das partes? Certo é que, sem este conhecimento, podera aplicar mil remédias, mas todos p.207)" to mente. ( Alertando contra os perigos do amadorismo na matéria médica, sobre a cirurgia — considerada por Verney como medicina pritica — 08 préprios cirurgiées portugueses reconheciam a época que “os es trangeiros tém mais pratica das operacées de maos, e mais ligeireza” ibid., p.210), Em Portugal, a pratica cirdrgica estava confinada a neros sangradores. Sabem dar alguns pontos; eos que sabem. pogos de ciéneia, murmuram alguma coisa sobre os quatro el id., p.210-211). Faltando-Ihes, era comum — como jé afir- mentos ou qualidades ocultas” portanto, os fundam¢ enfermidades que nao sabiam interpretar. Verney destaca que, no tempo de Hipécrates, “médico, cirurgiao, boticétio eram a mesma ‘pessoa; e por muito tempo a Medicina ndo se separou da cirurgia’ iram as tarefas, Mas é gia ental ~ argumenta o texto — que médicos conhegam e que cirurgides tenham te6rico dominio do conhecimento médico. 24 Esse trecho remete, em alg ‘egos, publicada por Diderot e dotema, tratava-te de uma questio que d 108 caorasoro Até porque “o cirurgitio é um médico operativo, cujas operagées nao Pode fazer sem conhecer 0 como, Enisso quero dizer que o cirurgiéo deve ser um perdeito anatémico, e conhecer todas as partes, ainda Aveia ibid., p.213), Além de nao se dissecarem os cadiveres, havia bastante ignordncia nas préticas do ensino ministrado: “porque s ensinam a sangrar homens vivos, sem Ihes mostrar primeiro @ Aisposigtio das veias nos cadaveres. De que vem estes aprendiz. tes doentes, ou Ihes fazem padecer dores terriveis” gio que no conhece a medicina acaba por curar 88 apalpadelas. E como conhecer @ anatomia um cirurgido que se formou sem jamais ter visto um cadaver aberto?* Pois nao se pode dominar a anatomia humana sem se ver o corpo humano por dentro: Certamente sem ver di famente 08 oss0s no seu estado natu: ral, econsiderara sua figura e 0 modo com que se encaixam uns nos ‘outros; como tam sem conhecer de quantes modos se podem deslocar, e que coisa se relaxa ou rompe quando se deslocam. (Ver- A destreza necessétia ao cirurgiao é vista por Verney como abso- |utamente tributaria de seu conhecimento de anatomia. O autor da ‘exemplos de como o desconhecimento poderia ser funesto na pra- ‘ica ciriirgica: “conheci uma senhora a quem um clérigo deslocou Gas costelas, querendo consertar-Ihe uma; e ficou toda a sua vida ‘com uma deformidade nas costas” (ibid.). Finalmente, para con- clusio desse t6pico, Verney assinala que, de todos os perigos, o pior seria o de recorrer aquelas pessoas que, dizendo possuir poderes 'magicos, arrogam-se para sia virtude de curar, Era necessério tor- 25 'Eobocrvei uma coi InsTRUGAOPURLICAEPROJETO CMLZADOR 109 nar racional o aprendizado da medicina e, em especial, era urgente introduzir a maféria da anatomia a pi estudo de cadaveres humanos. $6 assim seria superada a ignordncia do conhe do corpo humano, de suas enfermidades e de suas possibilidades decura ‘Aescola na formagao do carater © Verdadeiro método de estudar veiculava—além do debate sobre co conhecimento médico ~ um discurso sobre o tempo escolar ¢ sobre os saberes da sala de aula, que de alguma maneira—revela- ria sua propria percepgao sobre a historia cultural de seu tempo ede seu pais, O retrato da escola da época coloca a vista do leitor para além da escola: buscava-se fazer ver Portugal em seu ~ tido por ~ lizatério, Verney registrava, em sua obra, a au- séncia de projeto cultural e de prospecto educativo; e, sendo assim, © descaso dos poderes piblicos perante uma dada programagao de futuro. Nao se daria atengio as escolas de primeiras letras, A socie- dade nio cuidava como deveria do estratégico oficio de mestre-es- cola. Caberia, pois, formular um plano educacional capaz de alterar ‘ entao pifio estado das letras em Portugal. Para o caso das escolas menores ~ especialmente no nivel ele- mentar ~ Verney declara que bastava examinar o interior das ins- tituigdes de ensino para verificar que os mestres sobrecarregavam, ‘a meméria das criangas “com coisas desnecessarissimas” (Verney, na vida es- as coisas importantes e da in- itar o caminho para entendé id.). Recomenda Verney que, em vez. dos longos perfodos em lat levia o mestre ensinar ao discfpuilo compor bem uma oragao por .guesa breve ~ uma carta, um cumprimento, ou coisa semelhant {ibid., p.78). O estudante faria isso com muito maior facilidade do izava suas composigées em latim, jd que, a pattir de entéo, m uma lingua que sabe, na qual 0 mestre pode clatamen- " (ibid.). Verney advertia os contempord: 110 cartorasoro heos para o que compreendia sera real m homens que, além de nao saber lade dos colégios, dos quais, , ndo eram sequer capa- zes de redigir uma carta em portugués (ibid., p.79), Para abarcar a situagao da maioria das escolas de seu tempo, a Aescrigo eraa seguinte: Entre no Colégio das Artes, corra as escolas baixas e vera as :muitas palmatoadas que se mandam dar aos pobres principiantes. Pen re, porém, com a consideragio o interior das escolas; exa thes ensina o que deve ensinar; se Ihes facilita © ccaminho para entendé-I; se no lhes carrega a meméria com coisas desnecessarissimas. Eacharé tudo o contr este peso esté fora da esfera de um principiante, Ora, nfo hélei que obrigue um homem a fazer mais do que pode, e que castigue o& efeitos que se nao podem evita. (Verney, [8.4], p.76) Luis Antonio Verney parte de pressuposto jusnaturalista para defender sua concepcio de ética e, ao mesmo tempo, sua proposta de educagio escolar: “os homens nasceram todos livres, ¢ todos sio nhecido a necessidade de se conferir racionalidade & vida em comum, além de ordem e obediéncia. Para isso, era indica- do meditar sobre os costumes. As pessoas depender umas das ou ‘ras, Os mais virtuosos entre os homens tendem a se destacar tanto em tempos de guetta quanto em tempos de paz. Sendo assim, cos- ‘tumam ser mais prestigiados do que os outros. Esse éo verdadeiro Principio da nobreza. Por isso, talvez.erroneamente, acreditou-se ‘que as pessoas transmitissem a seus filhos suas proprias virtudes.”* INSTRUGAO PUBLICA PROJETOCIMMZADOR 111 Verney recorre ao argumento burgués, que ja estivera em voga as da Renascenea (Montaigne, Erasmo, Vives), ser filho de um homem ilustre nfo é 0 mesmo que mney, (s.d], p.195). Tendo por base a convicgéo de que a verdadeira nobreza nao se dé pelo sangue, mas pela virtude e pelo dominio da cultura letrada, o iluminista acusa a venalidade dos titulos e a vangléria por eles trazida, Acerca dos critérios de concessio dos mesmos titulos, aponta haver naquilo algo de aciden- de arbitrério. Muitas vezes, era pelo dinheiro que se reputava a nobreza, Em outros casos, a obtengdo de um cargo importante como embaixacior—fazia que o agraciado fosse estimado por todos. Porém, “sea nobreza de um titular ou fidalgo nasce da vontade do principe, que quer que aquele homem seja honrado, isto é, Fidalgo, ‘o mesmo principe ~ que da o titulo ou nobreza a um — pode dé a.cem mil; e consequentemente todos ficam igualmente nobres” (ibid., p.198). Iss0 no sucede quando a nobreza deriva di deira virtude: “pois nem o principe m'a pode dar nem tirar” ‘Assim ~ conelui Verney ~o que confere ser principe, mas, sim, a educagio recebida: “se conduzirem esta ctianga a um pais inedgnito, e for criado por vilées, hi-de ser vil ‘endo principe, e em tudo se parecer com quem a criou’ 200), Além disso, assinala critérios definidores da verdadeira no- breza, dizendo qui {que Ihe perguntava como distinguiria um nobre de quem no o era, neva ao sujeito, néo é -spondeu com galanteria uma pessoa a outra, deste modo: despi-los ambos nus e ouvi-los falar” (ibid., p.197), A pedra de toque do carter e da verdadeira estirpe da alma setia, nesse sentido, a educacao recebida; jé que “os inteligentes sabemn muito bem que o sangue do pai poder comunicar ao Filho alguma enfermidade hereditéria, como gota, escorbuto, gilico, epi- lepsia ete.; mas denenhum modo lhe comunica nem vi tudes” (Verney, [s.d.], p.202). Muitas vezes, pelo contrério, aqueles que sio socialmente reputados como nobres freq quirem habitos afetados, quando nao pouco ci “tnuitos, para fingirem uma nobreza mui elevada, até so descor- teses: no cumprimentam quem os sata; nao respondem a quem jos nem vir- temente ad- izados. Inclusive, 112 catorasoro. lhes escrere; ou, se 0 fazem, é de uma maneira mais injuriosa que ia, p.203 Verney — aqui também como Ribeiro Sanches ~ é defensor da instrugio das mulheres. Serdo maes de familia; e, portanto, instruidas na cultura das letras. Além disso, o estudo formara seus costumes, Exatamente por no terem assunto com suas mulheres ignorantes (porque as julgam "tolas no trato”) 6 que homens casa dos “vdoa outras partes procurar divertimentos pouco inocentes” (ibid., p.217). Nesse sentido, instruir as mulheres seria uma forma de obtengig de paz e de harmonii liar. Além disso, cada don- zcla deveria “aprender a ter o seu livro de contas, em que assente a receite e despesa, porque sem isso nao ha casa regulada” (ibid., P.223). Muitas vezes, as senhoras ficam vitivas e os bens sio ar tuinados exatamente porque elas néo possuem qualquer nogio do “modo deconservar e aumentar as rendas de suas fazendas" (ibid). Por tudo isso, os trabalhos manuais especialmente as prendas de saldo" seria menos importantes do que os conhecimentos rudi- mentares da leitura, da escrita e do calculo. Desse modo, Verney rop3e que. ensino ferninino seja, tanto quanto possivel, o mesmo quese dey aplicar aos rapazes: Oprimeiro estudo das maes deve ensinar-lhes ~ por siou, tendo Possibilidade, por meio de outra pessoa capaz os primeiros ele- mentos da fé podem fazer desde a idade de cinco anos até os sete. Depois, ler corretamente. Isto é 0 que rara mulher sabe sxplicando-Ihes bem todas estas coisas, o que de Verney nao foi 1986, p417). Ao jas de salio que INSTRUGAOPUBLICAEPROVETOCMUZADOR 113 fazer em Portugal. pois ainda nio achei alguma que o fizesse; mas digo que pouquissimas saben. digo eu escrever corretamen ler ¢ escrever; ¢ muito menos fazer ambas as coisas corretamente. Ortografia e pontwasdo, nenhumaas conhece. As cartas das mn res sio escritas pelo estilo das bulas, sem virgulas nem pontos; & algumas que os poem, pela maior parte, é fora do seu lugar. Este & sum grande defeito, porque daqui nasce ono saber ler e, por conse- quéncia, ondo entender as coisas. (ibid, p.218) Enfim, cobrindo praticamente todos os campos da instruc, dos de seu tempo uma var nani Cidade pondera que, se Verney, de fato, ndo foi “o tinico apés- tolo dos novos métodos de estudar e ensinar, nem Pombal foi Xinjco reformador que 0 pés em execucéo” (Cidad tanto um quanto 0 outro despenderam esforgos p nistrativos e pedagégicos para impr ‘ura portuguesa “um ritmo e uma eficiéncia antes desconhecidos" (ibid.). A escola piiblica tracada pelo Marqués de Pombal Sebastido José de Carvalho e Melo, 0 Marqués de Pomby em Portugal, pela velhaaristocracia, comoum novo 1996, p. mica que desem [Nao obstante, Dermeval Saviani (2008) vincula a origem do futuro ‘Marqués de Pombal & nobreza togada, mediante a qual o prestigio decorre fundamentalmente dos cargos ocupados. Formou-se em. Direito pela Uni Foi diplomatana Inglaterra, onde se impressionara com os progres- sos da burguesia, especialmente a partir da organizagio comercial do pats (Saraiva, 1989, p.90). Depois disso, exerceu, também, a di- Sua perspectiva politica, bem como a agio econé- , favoreceré uma burguesia de comerciantes. \siderava atrasada, nsidade de Coimbra, que c 114 cariotssoro plomacia na Austria, onde se aproximou da imperatriz Maria Tes sa. Consta que ele, entdo, se imbuiu “das ideias do absolutismo real e esclarecido que bebera na corte austriac |. p.90-1). Recor- ni (2008, p.80)—que “Maria Teresa empreendera a reforma da instrugio, submetendo-a ao Estado e afastando-a da influéncia da Lareja”. ‘Quando d, José I sobe ao trono, em 1750, Sebastiao José de Car valho € Melo toma posse como ministro da Secretaria do Exterior eda Guerra, Ele trouxe consigo a experiéncia diplomatica e 0 que ra durante anos com uma “comuni- dade de expatriados portugueses” (Maxwell na grande maioria das vezes, deixaram o| guidos ou tolhidos pela ago inquisitorial. Mas houve outro aspecto também fundamental: “as preocupagdes de Pombal também refle- tiam as cle uma geragao de funcionérios pablicos e diplomatas por ‘tugueses que haviam meditado muito sobre a organizagao imperial eas técnicas mercantilistas” (ibid.). © padrao econémico mercantilista ~e nao ainda a economia de mercado —era compreendido pelos contemporineos como o grande responsavel pelo vigor politico e pela riqueza econémica dos paises centrais da Europa.'* Em 1756, ap6s0o terremoto, Sebastido José as- sumin 0 cargo mais importante da monarquia: secretario de Estado dos Negécios do Reino. Jé aleado a fungdes de primeiro-mi responsivel por todas as medidas decisorias do governo de d. José de-se—com S: observara no exterior. Coi tro, INSTRUGAG POBLICAEPROJETOCIMMZADOR 115, I, recebeu o titulo de Conde de Ociras em 1759 e de Marques de Pombal em 1769 — como jé foi anteriormente assinalado (Saviani 2008, p.801), Laerte Ramos de Carvalho (1978) consagrou no Brasil a ideia de que teria havido a0 menos duas reformas pombalinas da instru- fo publica, posto que vincula o ano de 1759 4 Reforma dos Estu. dos Menores ¢ o de 1772 a Reforma dos Estudos Maiores (ou da universidade). Mas, a luz da interpretagio de Ruth Gauer (2001; 2004) e Tereza Fachada Levy Cardoso (20 compreendermos a existéncia de dois (ou mais) momentos de uma yesma Reforma dos Estudos; até porque as medidas implantadas ivamente aos Estudos Menores continuaram a set elabora~ das até a década de 1770 —e, do mesmo modo, algumas diretrizes, norteadoras dos Estudos Maiores sdo anteriores aquela década, O propésito de Pombal — nisso ha consenso na literatura — foi o de “europeizar Portugal” (Antunes, 1983, p.125). E “europeizar ficava, na ética de Carvalho e Melo, modernizar as artes e as industrias, desenvolver e monopolizar o comércio pela criagao de grandes companhias, a imagem e semelhanga da grande Compa inglesa das Indias orientais” (ibid., p.125-6); além de subordi- nar vigorosamente a Igreja ao Estado. Pode-se dizer que a Reforma dos Estudos gestada e executada por Pombal, em do ensino portugués. Fechou os colégios da Companhia de Jesus; expulsou os jesuttas do Reino e de seus dominios —sob pretexto de que eles teriam participado de alguma maneira de um suposto aten- tado contra o rei; confiscou seus bens. Muitos membros da Com- panhia foram deportados. Como jé assinalou Joio Léicio Azevedo, a propésito do tema, “o que se fazia ativamente era extirpar tudo quanto provinha dos jesuitas” (Azevedo, 2010, p.338), Por Alvara de 28 de junho de 1759, 0 futuro Marqués de Pom- bal reestruturou os chamados Estudos Menores. Criou-se, a partir dali, a acepgao de aulas régias, compreendendo tanto as classes de primeiras letras quanto as de humanidades, ), seré mais adequado diferentes etapas, revolucionou a estrutura 116 catotagoro Assinala Tereza Fachada Levy Cardoso que "a palavra régio tem um carter ambiguo, porque, ao mesmo tempo que remete a fi- aura do monarca, reiterando uma tradigio absolutista, que persiste perfodo afora, representa também o avanco que o termo traz, pela contraposigéo a tradi¢ao de ensino por parte da Igrej zacao dos professores de gramitica latina, de grego e de retérica (Saviani, 2008, p.82). Todavia, contemp! primeiras letras: inc! va também classes de ura, da escrita, da arit- e dos preceitos da civilidade (Marques, 198, 1.337). Em todas elas, era proibido aos mestres e professores va- lerem-se dos livros e materiais de ensino utilizados pelos jesut ( alvard parte da constatagio de que existiria uma decadéncia «em todos os campos dos estudos do reino, Tal decadéncia era atri- bbuida 20 “escuro e fast padres jesuitas introduziram nos colégios sob sua responsal O projeto da reforma era, entio, o de reaver 0 que Pombal deno- mina método antigo: “reduzido aos termos simplices, claros e de p.32). Esse diretor dos Estudos ~ au inspecionariam as escolas ~ dever fessores, o que deixavam de fazer bid), quando isso se fizesse necessario, Eram subordinados a0 diretor dos Estudos todos os professores das escolas menores (Gomes |. Por isso, caberia a ele controlar os progres- 29 Coma conata da abra de Laeste de Carvalho, os comiasévios eram lugares do reino de seus dominios, “para fs levantamento do nimero de professores exstentes, trando informagao sobre INSTRUGAO PUBLICA E PROJETO CWILZADOR 808 dos alunos. © projeto previa também que o diretor deveria ter “todo o cuidado em extirpar as controvérsias e de fazer com que haja entre eles [professores] uma perfeita paz e uma constan- te uniformidade de doutrina, de sorte que todos conspirem para 6 progresso de sua profissao e aproveitamento de seus discipulos’ (Alvaré-1759, p.32). Nao deixa de ser revelador o fato de o Alvaré de 1759 se referit ao oficio do magistério como profissio (Mendon «@, 2005). O alvaré de Pombal indicava também as matérias que deveriam constituiras aulas régias e, além disso, prescrevia quando e onde elas deveriam ser abertas. Chegava a recomendar uso das escolas, de modo que fossem escolhidos compéndios alter- nativos aqueles utilizados pelos colégios jesuiticos. As aulas régias seriam abertas a todos, sem distingdes de classe. Para o caso, por exemplo, das classes de gramética Alvaré de 28 de junho de 1759: Ordeno que em cada um dos bairros da cidade de Lisboa se estabelega logo um professor com classe abertae gratuita, paranela ensinar a gramatica latina, pelos métodos abaixo declarados, desde nominativos até construgdo inclusive, sem distingao de classes, como até agora se fez. [...] Ao tempo em que crescer a povoasao desta cidade, se a extensio de algum dos bairros rofessor,darei sobre esta matéria toda oportuna ia. E porque a ordem e a irregularidade com que pre- sentemente se acham alojados os habitantes da mesma cidade néo permitem aquela ordenada divisio dos bairros, determino que se estabelegam logo oito, nove ou dez. classes repartidas pelas partes que parecerem convenientes ao Diretor dos Estudos, a quem, por ‘ora, pertenceré a nomeacio dos ditos professores debaixo da minha Real aprovaclo. Para a subsisténcia deles tenho dado toda acompe- p.32) la fizer neces- tente providénci (O controle das mesmas classes caberia ao referido diretor dos Es. tudos, responsivel inclusive pela nomeagiio dos professores. Fin: mente, 0 Alvard de 1759 atribui aos professores a obrigatoriedade 118 cartotasoro do uso de um compéndio intitulado Novo método da gramatica la- 10 havia sido compo: do Oratério ~ Ant6nio Pereira. referido compéndio, poderiam também recorrer ao livro de um pro- fessor de Lisboa chamado Anténio Félix Mendes ~ Arte da grama- tica latina, De qualquer modo, o Alvard proibird terminantemente: por um padre da Congregacio nidade nestes reinos. E todo aquele que usar na sua Escola a dita Arte ou qualquer outra que niio sejam as duas acima referidas, sem preceder especi ser cast ido ao meu real ar rio, e nfo poderd mais abrir classes nestes reinos e seus Dominios. ..] Os ditos professores observardo guuma por serem as mais c -ado por mais iteis para oadiantamento dos que frequ estes estudos, pela experiéncia dos homens mais versados neles, ‘que hoje conhece a Europa. (ibid., p.33) © catecismo composto pelo jesuita Padre Marcos Jorge ~ um 10 professor de teologia da Universidade de Evora ~ era texto geralmente adotado pelos colégios para ensinar a catequese as primeiras letras as eriangas. Tendo sido publicado originalmente em 1561, teve acréscimos advindos da pena do também jesuita Ind- cio Martins, Era conhecido como a Cartitha (Leite, 1983, p.45) ou Cartitha do Padre Indcio. Pombal proscreve o uso daquela cartilha, substituindo-a por um cate: Joaquim Colbert sob 0 comportar: a 10), penso que INSTRUGAOPOBLICAE PROJETO CMILZADOR 119 escolar alternativo a Cartitka do Padre Indcio. Aquele teria sido posto no Index dos livros proibidos a partir de decreto de 1721 Pombal reabilitou-o e, mais ainda, cuidou que dele fossefeita atra- ducao portuguesa, disso, como também indica o texto do Alvar de 1759, ninguém mais poderia ensinar semallicenga do diretor dos Estudos: publica nem particularmente, sem aprovacio e licenga do Dire- tor dos Estudos, o qual, para concedé-la, faré primeiro examinar © pretendente por dois professores régios de Gramatica; e, com aprovagao destes, Ihe conceders a di qual concorram cum: icenga, sendo pessoa na amente os requisitos de bons ¢ provados e prudéncia; e dando-se-Ihe a aprovagéo sre sem por ela ou pela sua assi menor estipéndio. Todos os ditos professores levard mi xa se the levar 0 de nobres, ineorporados em direito comum, ¢ esp Cadigo Titulo de Professoribus e Medicis, (Alvara 1739, p.33) Os alunos que frequentassem as classes de grego e, nelas, ti vessem aproveitamento notério, reconhecido e atestado por seus sm disso, passassem com mérito pelos exa- ‘mes paiblicos seriam “preferidos em todos os concursos das quatro Faculdades de Teologia, Canones, Leis e Medicina, aos que nao houverem feito aqueles proveitosos estudos, concorrendo neles as outras qualidades necessérias, que pelos estatutos se requerem” (Alvaré-1759, p.33). Jé os estudos de retérica eram considerados (os para habilitar todos os que pretendessem ingressar nas universidades e, por isso, “ninguém seja admitido a matricular-se na Universidade de Coimbra e alguma das ditas faculdades maiores sem preceder a exames de Retérica feitos na mesma cidade de Coim- bra perante deputados para isso nomeados pelo conste notoriamente a sua aplicagéo e aproveitament Em 11 de janeiro de 1760, outro Alvard institui exames para os professores se candidatarem a lecionar. As diferentes cadeiras

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