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IVR DP&A editora Croslutse : Tomug Tadim de Sits) OE Guasteie, bop brod2) AA DENTIDADE EM QUESTAO questo da identidade esta sendo extensamente discutida na teoria social. Em esséncia, o argumento é 0 segainte: as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram 0 mundo social, estdo em declinio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando © individuo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada “crise de identidade” € vista como parte de um processo mais amplo de mudanca, que esté deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas ¢ abalando os quadros de referéncia. que davam aos individuos uma ancoragem estével no mundo social. 0 propésito deste livro é explorar algumas das questdes sebre a identidade cultural na modernidade tardia ¢ avaliar se existe uma “crise de identidade", em que consiste essa crise e em qe diregdo ela esté indo. 0 livro se volta para questies como: Que pretendemos dizer com “erise de identidade”? Que acontecimentos recentes nas sociedades modernas precipitaram essa crise? Que formas ela toma? Quais so suas conseqtiéncias potenciais? A primeira parte do livro (caps. 1-2) 7 ‘Aoisnane CatUeAL WA PSNODEEMORDE lida com mudancas nos conceitos de ientidade e de sujeito. A segunda parte (caps. 3-6) desenvolve esse argumento com relagio a identidades culturais ~ aqueles aspectos de nossasidentidades que surgem de nosso “pertencimento” a cultures Ginicas, raciais, Linglifsticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais. Este livro ¢ escrito a partir de uma posigao basicamente simpatica @ afirmagiio de que es identidades modernas esto sendo “cescentradas”, isto 6, deslocadas ou fragmentadas. Seu propésite 6 0 de explorar esta afirmacao, ver 0 que ela implica, qualificd-la ¢ disculir quais podem ser suas provaveis canseqiiéncias. Ao desenvolver 0 argument, introduzo certas complexidades © examino alguns aspectos contraditérios que & nogdo de “descentragio”, em sua forma mais simplificada, desconsidera. Conseqtientemente, as formuiagdes deste livro sdo provisérias ¢ abertas A contestagaio. A opiniao dentro da comunidade sociolégica esta ainda profundamente dividida quanto a esses assuntos. As tendéncias sé demasiadamente recentes ¢ ambiguas. 0 proprio conceito com o qual estamos lidando, “identidade”, 6 demasiadamente comiplexo, muito pouco desenvalvido ¢ muito pouco compreendido na ciéncia social contempordnea para ser definitivamente posto a prova. Como ocorre ‘com muitos outros fendinenos sociais, é impossivel oferecer afirmagées conclusivas ou fazer julgamentos A roxomane on questo seguros sobre as alegagies e proposicdes teéricas que estio sendo apresentadas. Deve-se ter isso em mente ao se ler 0 restante do livro. Para aqueles/as tedricos/as que acreditamn que as identidades modernas esto entrando em colapso, 0 argumento se desenvolve da seguinte forma, Um tipo diferente de mudanga estrutural esta transformando as sociedades modernas no final do século XX. Isso esté fragmentando as paisagens culturais de classe, género, sexualidade, etnia, raga ¢ nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido solidas localizages como individuos soviais, Estas transformagies esto tainbém mudando nossas identidades pessoais, abalando a idéia que temos de ns proprios como sujeitos integrados. Esta perda de um “sentido de si” estavel € chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentracdo do sujeito. Esse duplo deslocamento - descentragio dos individuos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos — constitui uma “crise de identidade” para o individuo. Como observa 0 exitico cultural Kobena Mercer, “a identidade somente se tora uma questo quando esta em crise, quando algo que se supde como fixo, coerente e estivel € deslocado pela experiéncia da divida ¢ da incerteza” (Mexcer, 1990, p. 43). Esses processes de mudanga, tomados em conjunto, representam um processo de transformacdo tio fundamental ¢ abrangente que 9 ronsanace Cura na rOS-HOOLENIADE somos compelides a perguatar se no & a propria modernidade que esta sendo transformada. Este kivro acrescenta uma nova dimensio a esse argumento: 2 afirmacdo de que naquilo que é deserito, algumas ‘vezes, como nosso mundo pés-moderno, nés somos também “pés” relativa lquer concepe#o essencialista ou fixa de identidade ~ algo que, desde © Tluminismo, se supe definir 0 proprio nicleo ou ‘esséncia de nosso ser ¢ fndamentar nossa existéncia como sujeitos humanos. A fim de explorar essa afirmagao, devo examinar primeiramente as definigdes de identidade e o carter da mudanga na modernidade tardia, Trés concepgées de identidade Para os propésitos desta exposicao, distinguirei trés concepgdes muito diferentes de identidade, a saber, as concepgdes de identidade do: 2) sujeito do Luminismo, b) sujeito sociologico e ©) sujeito pés-moderno. O sujeito do Huminisino estava baseado numa concepgao da pessoa humana como um individuo totalmente centrado, unificado, dotado dis capacidades de razio, de consciéncia e de aco, cujo “centro” consistia num niicleo interior, que cemergia pela primeira vez quando 0 sujeito nascia 10 com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente 0 mesmo ~ continuo ou “idéntico” ale ~ ao longo da existéncia do individuo. O centro ‘essencial do eu era a identidade de uma pessoa. Direi mais sobre isto em seguida, mas pode-se ver que essa era uma concep¢ao muito “individualista” do sujeito © de sua identidade (na verdade, a Jdentidade dele: ja que o sujeito do lluminismo era usualmente descrito como masculino). ‘A nocdo de sujeito sociolégico refletia a erescente complexidade do mundo moderno ¢ a consciéncia de que este niicleo interior do sujeito no era autdnomo e auto-sufciente, masera formado na relagio com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para. sujeito 0s valores, sentidos ¢ simbolos - a cultura - dos mundos que ele/ela habitava, G.H. Mead, C.H. Cooley e os interacionistas simbél ‘sdo as figuras-chave na sociologia que elaboraram esta concepgdo “interativa” da identidade e do eu. De acordo com essa visio, que se tomou a concepgio sacilégica cléssica da questo, aidentidade & formada na “interagio” entre 0 eu ¢ a sociedade, © sujeito ainda tem um nécleo ou esséncia interior que € 0 “eu real”, mas este & formado e modificadio num dislogo continuo com os rmundos culturais “exteriores” ¢ as identidades que esses mundos oferecem. A identidade, nessa concepgao sociolégica, preenche o espaco entre o “interior” ¢ 0 “exterior” entre 0 mundo pessoal e o mundo pliblico. O fato u de que projetamos a “nés préprios” nessas identidades culturais, a0 mesmo tempo que intemnalizamos seus significados e valores, tornando- 8 “parte de és", contribui para alinhar nossos senfimentos subjetivos com os lugares objetivos que ‘#cupamos no mundo social e cultural. A identidade, entio, costura (ou, para usar tina metafora médica, “sutura”) o sujeito & estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizfveis. Argumenta-se, entretanto, que sfo exatamente ‘essas coisas que agora esto “mudando” 0 sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estivel, esté se tomando fragmentado; ecomposto nfo de uma tinica, mas de varias identidades, algumas vezes contraditérias ow néo- resolvidas. Correspondenterente, as identidades, que compunham as paisagens sociais “Ié fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as “‘necessidades” objetivas da cultura, estiio entrando em colapso, como resultado de mudangas estruturais e institucionais. O proprio processo de identificagao, através do qual 0s projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisério, varidvel e problemstico. Esse proceso produzo sujeito pés-moderno, conceptualizado como néo tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade 12 Awesrouoe en Questia torna-se uma “eelebragao mével”: formada e transformada continuamente em relagio as formas pelas cruais somos representados ou intexpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall, 1987). E definida historicamente, € nao biclogicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que nfo so unificadas a0 redor de um “eu” coerente. Dentro de nés hé identidades contraditérias, empurrando em diferentes, diregies, de tal modo que nossas identificagées esto sendo continuamente deslocadas, Se sentimos que ‘cimos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte 6 apenas pordue construinos uma cémoda estéria sobre nés mesmos ‘ou uma confortadora “namvativa do eu” (veja Hall, 1990). A identidade plenamente unificada, completa, segura ecoerente é ‘uma fantasia. Ao invés disso, & medida em que os sistemas de significagio ¢ representacio cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante ¢ cambiante de identidades possiveis, com cada uma das quais poderfamos nos identificar ~ ao menos temporariamente, Deve-se ter em mente que as tres concepgées de sujeito acima sio, em alguma medida, simplificagses. No desenvolvimento do argumento, elas se tormarao mais complexas e qualificadas. Nao obstante, elas se prestain como pontos de apoio para desenvolver o argumento central deste livro. 13 © caréter da mudanga no modernidade tardia Um outro aspecto desta questo da identidade cat rclacionade ao cardter da mudanga na modernidade tardia; em particular, ao proceso de mudanga conhecido como “globalizagao” e seu impacto sobre a identidade cultural. Em essGncia, o argumento é que a mudanca na modernidade tardia tem um cardter muito especifico. Como Marx disse sobre a modernidade: 40 permanente revolacionar da produgio, © hala inimterrupto de todas as condighes seca, 4 incerteza e 0 movimento eternos ... Todas a Telagies fxas e congeladas, com seu cortejo de etustas ropresentacées © concepeses, 880 Aissolvidas, todas as relagdes recém-formadas ennvelhecem antes de poderem ossifiearse. Tudo ‘que é lida se desmancha Marx Engels, 1975, p. 70) As sociedades modernas so, portanto, por definigio, sociedades de mudanga constante, rapida e permanente. Esta é a principal distingao entre as sociedades “tradicionais” © as “modernas”. Anthony Ciddens argumenta que: nas sociedades tradicionais, 0 passado &venerado 08 simbolos sio valorizados porgue contém © perpetuam a experiGneia de geragbes. A tradiga0 6 um meio de lidar com 0 tempo © 0 esparo, inaorindo qualquer stividade ou experiéncia particular na continuidade do passado, presente 14 «futuro, o= quai, por sua ves, so estruturadas por prticas socinis recarrentes (Giddens, 1990, pp. 37-8). A modernidade, em contraste, no é pida aponas como a experi8neia de convivencia com a mudanga répida, abrangente ¢ continua, mas é uma forma altamente reflexiva de vida, na qual: as prticas sociais so constantements exarninadas ¢ veformadas luz das informagies recebidas sobre aquelas proprias prticas,altecando, assim, consttutivamente, seu cardter (ibid, pp. 37-8) Giddens cita, em particular, 0 ritmo © 0 alcance da mudanga ~ “A medida em que 4reas diferentes do globo so postas em interconexio tumas com as outras, ondas de transformagio social atingem virtualmente toda a superficie da terra” € a natureza das instituigdes modernas (Giddens, 1990, p. 6). Essas iiltimas ou so redicalmente novas, em comparacio com as sociedades tradicionais (por exemplo, o estado-iagao ou a mercantilizagio de produtos e o trabalho assalariado), ou tém uma enganosa continuidade com as formas anteriores (por exemplo, a cidade), mas sio organizadas em torno de principios bastante diferentes. Mais importantes so as transformag&es do tempo e do espago eo que ele chama de “desalojamento do sistema social” ~ a “extragtio” das relagBes sociais dos contextos locais de interagio ¢ sua reestruturagdo ao longo de 1s Asmnwave canuant na yOsoneenonoe escalas indefinidas de espaco-tempo” (ibid., p. 21). Veremos todos esses temas mais adiante. Entretanto, o ponto geral que gostaria de enfatizar 60 das descortinuidades Os medos de vida colocados em agzo pela modernidade nos livraram, de uma forma bastante inédita, de todos os tipos tradicionais de ordem social. Tanto em extensio, quanto em intensidade, as transformagBes envolvidas na modernidade si0 mais profundas do que a maioria das mudancas, ccatacteristicas dos periodas anteriores. No plano daextensto, elas servratn para estabelecer formas de intezconexdo social que cobrem o globo; em termos de intensidade, elas alteraram algumas das caracteristicas mais intima e pessoais de nossa existéncia eotidiana (Giddens, 1990, p. 21). David Harvey fala da modernidade como implicando ndo apenas “um rompimento impiedoso com toda e qualquer condig3o precedente”, mas como “caracterizada por um proceso sem-fim de rupturas © fragmentago internas no seu proprio interior” (1989, p. 12). Ernest Laclau (1990) usa 0 conceito. de “deslocamento”. Uma estrutura deslocada & aquela cujo centro é deslocado, no sendo substituido por outro, mas por “uma pluralidade de centros de poder”. As sociedades modernas, argumenta Laclau, no tém nenhum centro, nenbum principio articulador ou organizador finico © nao se desenvolvem de acordo com 0 desdobramento de uma nica “causa” ou “lei” 16 Awomoaue on questo A sociedade nif é, como os sociélogos pensaram inuitas vezes, um todo unificado e hem delimitado, uma totalidade, produsindo-se através de mudangas evoluciondrias a partir de si mesma, como o desenvolvimento de uma flor a partir de seu bulbo. Ela esta constantemente sendo “descontrada” ou deslocada por forgas fora de si mesma As sociedades da modernidade tardia, argumenta ele, terizadas pela “diferenca”; elas so atravessadas por diferentes divisbes ¢ antagonismos sociais que produzem wna, variedade de diferentes “posigies de sujeito” — isto 6, identidades ~ para os individuos. Se tais sociedades nao se desintegram totalmente n&o é porque elas sfo unificadas, mas porque seus diferentes elementos ¢ identidades podem, sob certas circunstancias, ser conjuntamente articulados, Mus essa articulagii é sempre parcial: aestrutura da identidade permanece aberta. Sem isso, argumenta Laclau, ndo haveria nenhuma historia, Esta é uma concepgtio de identidade muite diferente e muito mais perturbadoca ¢ provisérie do que as duas anteriores. Entretanto, argument: Laclau, isso nao deveria nos desencorajar: ¢ deslocamento tem caracteristicas positivas. Ele desarticula as identidades estaveis do passado, mas também abre a possibilidade de novas ‘A corneum acuta a #05-HoogRNIDAOE wwtieul es: a oriagio de novas identida prodluzio de novos sujeitos e 0 que ele chama de -omposigao da estrutura em torno de pontos nodais particulares de artieulagao” (Laclau, 1990, p. 40). Giddens, Harvey e Laclau oferecem leituras um tanto diferentes da natureza da mudanga do mundo pés-modero, mas suas énfases na descontinuidade, na fragmentagdo, na ruptura © no deslocamento contém uma linha comum. Devemos ter isso em mente quando discutirmos impacto da mudanca contensporanes conhecida coino “globalizagao”. © que esté em jogo na questéo des identidades? Até aqui os argumentos parecem bastante abstratos. Para dar alguma idéia de como eles se aplicam a uma situagio concreta ¢ do que esta “em jogo” nessas contestadas definigdes de identidade e mudanga, vamos tomar um exemplo que ilustra as conseqiiéncias politicas da fragmentagéo ou “pluralizagao” de identidades. Em 1991, 0 entio presidente americano, Rush, ansioso por restaurar uma maioria conservadora na Suprema Corte americana, eneuuinhou a indicagao de Clarence Thomas, um juiie negro de visées politieas conservadoras. 18 Aromoaoe tt custo No julgamento de Bush, os eleitores brancos (que podiam ter preconceitos em relagio a um juiz negro) provavelmente epoiaram Thomas porque cle era conservador em termos da legislagéo de igualdade de direitos, ¢ 08 eleitores negros (que apéiam politicas libernis em questées de raga) apoiariam Thomas porque ele era negro. Em sfntese, 0 presidente estava “jogando o jogo das identidades”. Durante as “audiéncias” em torno da indicagao, no Senado, o juiz Thomas foi acusado de assédio sexual por uma mulher negra, Anita Hill, uma ex-colege de Thomas. As audiéncias causaram um escdndalo piblico e polarizaram a sociedade americana, Alguns negros apoiaram ‘Thomas, baseados na questo da raga; outros se ‘opuseram a ele, tomando como base a questéo sexual. As mulheres nogras estavam divididas, dependendo de qual identidade prevalecia: sua identidade como negra ou sua identidade como mulher. Os homens negros também estavam divididos, dependendo de qual fator prevalecia: seu sexismo ou seu liberalismo. Os homens brancos estavam divididos, dependendo, nao apenas de sua politica, mas da forma como eles se identificavam com respeito ao racismo € ao sexismo. As mulheres conservadoras brancas apoiavam Thomas, ndo apenas com base em sua inclinagao politica, mas também por causa de sta oposigao aa feminismo. As feministas brancas, 19 Aros mooeaninent que fieqiientemente tinham posigdes mais projressistas na questio da raga, se opunham a Thora tendo como base a questo sexual. E, uroa 16 0 juiz Thomas era um membro da elite jwlicidtéa ¢ Anita Flill,na época do alegado incidente, ‘uma funcionéia subalterna, estavam em jogo, nesses saygumentes, também questoes de classe social A questio da culpa ou da inocéncia do juiz ‘Thomas ndo esté em discussio aqui; 0 que esté om discussdo € 0 “jogo de identidades” € suas conseqiiéneias politicas. Consideremos os seguintes elementos: « Asidentidades eram contraditérias. Elas se ‘cnieavam ou se “deslocavam” mutuamente + As contradigées atuavam tanto fora, na seciedade, atravessando grupos politicos estabelecidos, quanto “dentro” da cabega de cada individuo, + Nenhuma identidade singular — por exemplo, de classe social ~ podia alinhar todas as diferentes identidades com uma “jdentidade mestra” Gnica, abrangente, na qual se pudesse, de forma segura, basear uma politica. As pessoas nao jidentificam mais seus interesses sociais exclusivamente em termos de classe; a e néo pode servir como um dispositive discursivo ou uma categoria mobilizadora através da qual todos os variudos interesses e todas as variadas 0 Atommioant on questa identidades das pessoas possam ser reconeiliadas ¢ representadas. + De forma crescente, as paisagens politicas do mundo moderna séo fraturadas dessa forma por identificagdes rivais ¢ doslocantes - advindas, especialmente, da erosio da “identidade mesta” da classe ¢ da emergéncia de novas identidades, pertencentes & nova base politica definida pelos novos movimentos sociais: o feminismo, as lutas negras, 08 movimentos de libertagao nacional, os movimentos antinucleares e ecoldgicos (Mercer, 1990). + Umavex que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado, a identificagfo nao é automatica, mas pode ser ganbada ou perdida. Ela tornou-se politizada. Esse processo é, as vezes, descrito como constituindo uma mudanga de ina politica de identidade (de classe) para uma politica de diferenca, Posso agora esquematizar, de forma breve, © restante do livro. Em primeiro lugar, vou examinar, de uma forma um pouco mais profunda, como o conceito de identidade mudou: do eonceito ligado ao sujeito do Huminismo para o conceito, sociolégico e, depois, para o do sujeito “pés- moderno”. Em seguida, o livro explorar aquele 2 aspecto da identidade cultural moderna que & formado através do pertencimento a uma cultura nacional e come os processs de mudanga — uma mudanca que efetua um deslocamento ~ compreen-dides no conceit de “globalizagio” estdo afetando isso. 22 2 NASCIMENTO £ MORTE DO SUJEITO MODERNO este capitulo farei um esboco da descrigiio, feita por alguns te6ricos contemporaneos, das principais mudancas na forma pela qual o sujeito e a identidade so conceptualizades, no pensamento moderno. Meu objetivo é tracer 08 estgios através dos quais uma versdo particulat do “sujeito humano” ~ com certas capacidades humanas fixas ¢ um sentimento estivel de sua propria identidade e lugar na ordem das coisas ~ emergiu pela primeira vez na idade moderna; como cle se tornou “centrado”, nos discursos ¢ préticas que moldaram as sociedades modernas; como adquiriu uma definicgdio mais sociolégica ou interativa; e como cle esta sendo “descentrado” na modernidade tardia. O foco principal des capitulo é conceitual, centrando-se em concepedes mutantes do sujeito humano, visto como uma figura discursiva, cuja forma unificada e identidade racional eram pressupostas tanto pelos discursos do pensamento moderno quanto pelos processos que moldaram a modernidade, sendo- Ihes essenciais. 23 A smoanecuruna a Os-moDeeMOsDE Tentar mapear a histéria da nogio de sujeito moderno é um exercicio extremamente dificil. A idéia de que as identidades eram plenamente unificadas © coerentes ¢ que agora se tornaram totalmente deslocadas 6 uma forma altamomte simplista de contar a estéria do sujeito moderno. Eu a adoto aqui como um dispositive que tem 0 propésito exclusive de uma exposigio conveniente. ‘Mesmo aqueles que subscrevem inteiramente a nogtio de um descentramento da identidade nao a sustentariam nessa forma simplificada. Deve-se ter essa qualifioagao om mente ao ler este capitulo. Entretanto, esta formulagao simples tem a vantagemi de me possibilitar (no breve espago deste livro) esbogar um quadro aproximado de como, de acardo com os proponentes da visdo do descentramento, a conceptualizagio do sujeito moderno mudou em trés pontos estratégicos, durante a modernidade. Essas mudangas sublinham a afirmagao basica de que as conceptualizagdes do sujeito mudam e, portanto, tém uma historia. Uma vez que o sujeito moderno emergiu. num momento particular (seu “nascimento”) e tem uma historia, segue-se que ele também pode mudar e, de fato, sob certas circunstancias, pademos mesmo contemplar sua “morte”, & agora um lugar-comum dizer que a época moderna fez surgir uma forma nova e decisiva de individwalismo, no centro da qual erigiu-se uma 24

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