You are on page 1of 34
HARRY BRAVERMAN TRABALHO E CAPITAL MONOPOLISTA A Degradacao do Trabalho no Século XX Ploa beiss CapiruLo 1 TRABALHO E FORCA DE TRABALHO Todas as formas de vida mantém-se em seu meio ambiente tural; assim € que todos desempenham atividades com 0 pro de apoderar-se de produtos naturais em seu proprio proveito. or regetals absorvem umidede, mi alimentamse de vida vegetal ou da rapi materiais da natureza tais como sio nio é trabalho; uma atividade que altera 0 estado natural desses materisis para melhorar sua utilidade. PAssaro, castor, aranha, abelha € térmite, a0 fazerem ninhos, diques, tcias ¢ colméias, wabalham, por assim dizer. Assim, a espécie humana partilha com as demais a ativie dade de atuat sobre a natureza de modo a transforméla para melhor satisfazer suas necessidades. Entretanto, o que importa quanto ao trabalho humano nao thanga com o trabalho de outros animais, mas as diferengas que o distinguem como diametralmente oposto. “Nao ‘ando agora d-quelas primitivas formas instintivas de nos lembrain 9 mero animal", escreveu Marx no primeiro volume de O Capital, “Pressupomos 0 trabalho de um modo que 0 assinala como exclusivamente humano, Uma aranha desempenha operagBes que se parecem com a de um tecelio, ¢ a abelha enver na construgio de seu cortigo. 10 da melhor das abelhas € que nstrugio antes de transformé-la rbalho aparece um resultedo do trabalhador. Ele 30. Trasatzio £ Caprrat, Monorouista TRABALHO & Forga DE TRABALHO 31 . Em conttasiz com isso, no trabalho humano o mecanismo STE Ce SNS OB Ogee Seana regulador & 0 poder do pensamento conceptal, que tem origem em Oreivbalke -Hatisne 4 cnasiahe © peepaited, xs ‘pune, au todo um excepto! sens nervoso cent, ’Como obsrvran os is Sh desi aniropélogos, a e:trutura fsiea do macaco antopsi See eee eee cbesAin Ud Gutta mente inadequada para que ele faga ferramentas € as u tyes so) inate een: 4 Se do macaco ¢ um instrument adequado, embora relativamente gros releaments the pesrasliberes. Jos wean lige scito, € devido a que tanto os membros inferiores quanto os supe- especificos. Observou'se, por exemplo, que uma lagart eee es pletado a primeira metade de seu casulo prosseguiri c segunda sem se importar mesma que a primeira seja ‘Uma ilustragio mais nitida do trabalho instintivo é dada pelo que ragem do set humano. 2s dos homens e dos macacos est o 4 as partes do eérebro, © em especi volume das partes © que € mais importante para explicar a capacidade hu balho conce to." “Homens que como escreve Oa dos fins para os qu: resultado dessa £ certo, como exper demonsirado, que os capacidade de apren. resolver problemas simples. netvoso to primutiva como a minhoca pode aprender um habi Entre as ages is nfo sio conceber comportamer totalmente dest im, @ wabatho am ssa form. humins 6 % indo obstante sea esforgo baldado pa mnseqile logos concluiram que a diferenga imal humana e siohumane € nfo em especie, ‘mas em grau. Mas q1ando uma diferenga de grav é imensa como incia que existe entre o aprender e capacidades conceptuais ddos humanos e 0 mais adaptével dos outros animais, pode ser ade- is da presente anélise, como diferenga Kom o que te faz, € 0 que ee pode 32 ‘TRABALHO = CaprraL Moopouista jam quais forem as. capaci- is mediante as engenhosas formas de tutelagem humana, nfo se mostrou possivel estimular. thes a capacidade de manipular representagio simbéliea, sqbretudo fem suas formas superiores como a linguagemn articulads. Sem slam. bolor ow linguagem o pensamento conceptual deve permanccer rudimentar e, ademais, nio pode ser vzemente transmitido através do grupo ow as geragdes seguintes: im, 0 trabalho como atividude proposital, orientado pela facia, € produto especial da espécie humana. Mas esta, pot forma de trabslho. “Ao agic assim nsformélo, le 20 mesmo tempo " escreveu Marx.” Escrevendo em 1876, Engels expés, nos termos do conhecimento antropolépico do + “Primeiro o trabalho; de acordo com estes foram 0s estimulos fundamen- cérebro do macaco gra “A mio”, suste apenas 0 drgio do trabalho, € também produto do trabal ensaio, intitulado “A parte desempenhada pelo trabalho na’ transi- ‘gf do mi homem", estava limitado pelo estado do conhe. cimento cientifico do seu tempo, e em alguns pormenores pode set lacunoso ou equivocado — como por exemplo sua implicagio de que a “latinge no desenvolvida do macaco” ¢ inapropriada para produzit os sons da fala, Mas est fondamental de novo . sobretudo a luz de de peda as "Num attizo sobre instni- mentos € a. evolugio humana, escreve Sherwood L, Washburn: “Anteriormente a que o homem © trabalho que ul a forga que nidade ctiow 0 mera atividade instirsiva € assim ana. a forga pela qual a huma- conhecemos las as diversas que sure tu reza ¢ impressa no gei € capaz de uma c a de fungoes com base nas is. Em todas as demais esp. dade resultante, instinto 8 exer rede de acordo com esta fungio a outra ios de os aforads peas forms te dos ani em si mesmo, A pode ser dissolvida. A concep¢ 4 execusto, mas a cuteda por por wma pessoa pode ser exe- ‘a do trabalho continua sendo a a TRABALHO E CariTAL Monoporista consciéncia hur vna, mas a unidade enue as du: pida no individu € restaurada no grupo, na ofi dade ou na sociedade como um todo. i a capacidade humana de executar trabalho, que ‘Marx chamava “forsa de trabalho”, néo deve ser confundida com © poder de qualguet agente nioshumano, seja ela natural ou feita pelo homem, O trabalho humano, seja diretamente exercido ou armazenado em produtos como ferramentas, maquinatia ou animals domesticados, representa 0 recutso exclusive da humanidade para enffentar a natureza. Assim, Para os hum em sociedade, a forca de trabulho € uma c: distinta © nio inter gambidvel com qualquer outra, sinplesmente porque & buma $6 quem for o senbor do trabulbo de outros confundicd {orga de trabalho com qualquer ou jo de executar uma tarefa, porque para ele, vapor, cavalo, igua ou misculo humano que movem seu moinho slo vistos como equivalentes, como *fatores de produgio”. Para ‘Of gue :mpregam sew préprio trabalbo (ou uma comunidade que fas 0 mesmo), a diferenga entre utilizar a forga de trabalho em aposigo a qualquer outra forga é uma dife- toda a “economia*. E do ponto de vista da , esta dliferenga € tmbém decisiva, desde individuo € © proprieriris de uma porgio da forsa de trabalho total da con u-idade, iedade € da espécie. Esta consideragio constitui o ponto de partida para a teoria do valor do trabalho, que 0s economistas burgueses acham poder seguramente desprezar, porque estdo interessados nfo nas relagbes sociais mas nas relagdes ‘os preyos; no no trabalho mas na pro- dugio, no no ponto de vista humano mas no ponto de vista burgués, Tsento das sfgidas trithas ditadas pelo instinto nos animais, © trabalho humano t0tn: rmunacio, € seus diversos det minantes constituem, dai por , produtos nao da biologia mas das complexas interagécs entre ferramentas € telagdes sociais; tec nologia e sosiedade. O objeto de nossa anilise nio € 0 trabalho em geral”, mas 0 trabalho nas formas que ele assume sob as listas de producio. dorais © dinheiro, mas sua dijer de forga de trabalho. Para esse wercimbio de relagdes, merca- 16a especifica & a compra e venda condigies bis lade. Em pri trabalhadores sio separados dos meios com os quais a producto € realizada, e $6 podem ter acesso a eles vendendo sua forga ‘de ‘TRABALHO E Forca DE TRABALHO 35 trabalho a outros, Em segundo, os trabalhadores estio livres de onstrigdes legais, tis como scrvidio ou escra gam de disper de sua forga de trabalho, Em do emprego do trabalhador torna-se a expansio de capital pertencente a0 empr fo, 0 props de uma unidade ho comega, port ‘contrato ou acordo que estabelece as condicdee. de E importante notar o caniter histdrico ‘deste fendercne, Em bora a compra e venda de forca de trabalho tenha ‘ lidade*, até © século XIV nao com € ela no se tornow talismo ler da. tend rdas as dem: ae formas de trabalho ‘rabalho porque as condigées a ganhar a vida, empre. de uma unidade de ral issO converte parte dele aro proceso pa especificimente um processo gador, por que ele se esforca par salérios. Desse inode ura. Contado, 36 TraBaLHo © CarrtaL Monorouista capital, para a criagao de um lucro.” A partir desse ponto, torna-se temeritio encarar 0 processo de trabalho puramente de um ponto de vista técnico, como simples modo de traba! 1ém do mais, te tltimo aspecto que do: vidades. do. capi: Cujas mifos passou o controle sobre 0 processo de trabalho. tudo 0 que se seguir, por sstaremos considerando a ira pela qual o processo de trabalho & dominado e modelado icumulagio ce capital.** © tnabalho, como todos os processos corpo, ¢ uma propriedade inaliendvel do culos cérebros no podem ser separados de pessoas que os por- suem; niio se pode dotar alguém com sua prépria capacidade para © trabalho, seja a que prego for, assim como nio se pode comer, dormir ou’ ter relagdes sexuais em lugar de outra pessoa. Deste modo, na troca, 0 trabalhedor nfo entrega so capital capacidade para © trabalho. O trabalhador . € 0 capitalista 56 pode obter vantagem na barganha se fixar o trabalhdor no tra- balho. Compreendese claramente que os efeitos valiosos ou pprodutos do. trabalho. pertence que o trabalha- dor vende © © que 0 capi io é uma quantidede contratada de trabalho, mas « forga para trabalhar por um perlodo contratado de tempo. Es lade de comprar trabalho, que € uma funcio fisica e men ea necessidade de comprar secuté:lo & tio repleta de conseqiéncias para todo sta de produgiio que deve ser estudada mais: de perto, Quando © proprietitio empress carga no seu proceso de producio, de canalizar a forga e resistén ‘TRABALHO e Forga pz TRABALHO a7 ‘bactérias para fermentasio do vinho ou camneiros para produzir If, 26 pode tirar vantagem das atividades instintivas ou fungGes bio- W6picas dessas formas de vida. Babbage deu um fascinante exempl trabalho, porquanto os dois, mais ou menos idénticos na pritica, & podem obter da forga de trabalho do iagSes do trabalho concreto trabalho humano, por outro lado, devi i 10 que foi apenas minimas va- a. ser esclarecido Os processos de que residem em pote de trabalho dos homens sio tio diversos quanto 20 de desemp para todos os fins priticos podem ser considerados podem set fi ctiades mais ropidamente do que explorados. © capitalists acha esse cardter infinitamente plist do trabalho humano recurso essencial pots a expans3o do seu E sabido que 0 do que consome, ¢ esta vezes trarada como um dote especial « mistico da humanidade ou 38 TRABALHO E CaprtaL Monopotists de seu trabalho. Na verdade, nio € nada disto, mas. tdo-somente uum prolongamento do tempo’ de trabalho para além do ponto em Feproduziu ou, em outras palavras, produziu seus pré- subsisténci, ivalente. Esse tempo v. ‘dade do. teaba ", mas pars qual capacidade “peculiar” da forca de trabalho para produzir em favor do capitalista depois que ela se reproduziu é, portanto, nada mais que a extensio do tempo de trabalho para além do ponto em que ele poderia ter parado, Um boi também terd essa capacidade, ¢ moeré m: trigo do que come se mantido no servigo por adesttamento e compulsio. © que distingue « forga de trabalho humano é, portanto, no sua capacidade de produzis gente © propos 5 condigdes sociais © vidade, de modo que seu prod: lo. Do ponro de hut € uma duragio determinad: é a base sobre a ampliasio do seu ¢: Ele, portanto, empreende todos 0s meios de aumentar a producio da forga de ho que comprou quando a pZe em acio, Os meios que cle podem variar desde o obrigar 0 dot a jornada mais longa possivel, como era comum 0, até a ttiliza¢do dos mais produtivos. ins ho e a maior tas a produzir a forga de trabalho © mais valioso que Ihe renders 0 maior exce- Mas seo cap potencial de forga de tral [por sua prépria_indeterminas’ maior desafio e problema, A m rambém esta a diane dele o seu mesmo tempo comprando nadas, O que cle compra é por suas condigées sociais gerais sob as como pel jas di empresa € digGes wéenicas do seu 0 realmente executado serd afetado por esses © muitos outros farores, inclusive a orga- nizagio do processo ¢ as formas de supervisio dele, no caso de existirem. TaeaLHo FoRga DE TrasaLno 59 Isso € tanto mais certo tendo em vista que os aspectos técni- tabalho sio agora dominados pelos aspectos isto 6, as novas relagdes de obrigados a vender sua outro, os trabalhadores também entregam seu batho, que foi agora “alienado". O pracesso de trabalho tornou-se responsabilidade do capitaliste, Neste estabelecimento de relagdes de prodicte antagénicas, 0 problema de obter a “plena u da forga de trabalho que cle comprou tora'se exacerba intetesses opostos daqueles para cujos propésitos 0 processo de trabalho & executado © daqueles que, por outro lado, © executam. Assi matérias-primas, 2 com figor seu lugar no Processo de ibe que certa parcela de seu desembols lade de produgio e sua c 's ¢ depreciagio. Mas quando ele compra tempo de trabalho, o resultado esté longe de ser tio certo © to determinado de modo que possa ser computado desse modo, com if tecipacao. Isto signif jimplesmente que a parcela de espendido na forga de trabalho € a porcio que softe um aumento no processo de produgio; para cl tio € de quant rd © aument ‘Tora-se portanto fundam trole sobre o proceso. de rocessos de producdo do trabalhador; , apresenta-se como o problema de geréncia. } ‘TraBALHO = CaprraL Monorozisra omy af Mochinery and Menufecturts i wimpressio, Nova York, 1963). ph 10-11 CapituLo 2 AS ORIGENS DA GERENCIA smo industrial comega quando um significativo alhadores € empregado por um tinico capitalista. © trabalho tal como the vem das jores de producio, executando os processos de traba- tho tal qual eram executados antes. Os trabalhadores jd estio ades- ados nas attes tradicionais da indis i103 offcios produtivos que executavam como diaristas nas guildas © como artesios independentes. Essas primeitas ofick ‘nas exam simplesmente aglomeragées de pequenas unidades de pproducio, refletindo pouca mudanga quanto aos métodos tradicion nais, de modo que trabalho permanecia sob. im: rodutores, nos quais estavam encarnados con de seus oficior. Em primeiro lugar, pelo préprio exercicio do trabalho: ivo. Até mesmo uma reunifo de artesios atuando inde. pendentemente exige coordenas sidade de ter-se uma oficina e oF processos, no interior del cio do suprimento de materi das priotidades, atribuicio de fu 0s de custos, folhas de pgimento, mat primas, produtos acabados, vendss, cadastro de crédito e os efleulos de Tuctos e perdas. Em segundo’ lugar, empresas como esuleizes surgiu 0” i Trapatiio & Carrrat. Monoro! © courdenagio q geréncia. © capitalisia assumiv éssas fun de sua propriedade do. capital : © tempo dos trabalhadores assalariados era propriedade dele tanto- prima fornecida © os produtos saidos de sua to nao era compreendido, como o atesta legais, comuns 20 modo’ feudal ¢ corporativo de produgio, persis- ticam’ por algum « iveram que ser gradualmente banidos tas, Foi em parte por esti razio que tendiam a transferitse para novas regulamentos das derar a diferenga entre a forga de tabalho ¢ o trabs ser obtido dela, € pata comprar trabatho do mesmo mode como ele adquitia suas ma as: como uma determinada quanti- dade de trabalho, completa ¢ incorporada no produto. Este empe- ho assumiu a forma de uma prande variedade de sistemas de subcontratagio e “desl * Era encontrado sob a forma de trabalho domicillar na. tecclagem, fabricagio de reunas. obi de metal (pregos ¢ cutelaria), rel € couto. No caso, cempreitada 05 tral Onicens DA Genencia 6% em indistrias que nio podiam ser levadas para casa € mints de cokes, o¢ péprios miners ‘ tamente balho na mi portamo, de produc: isto é, no curso dos

You might also like