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Vocabulario da Laplanche e Pontalis ane eel) SeLO martins PSICANALISE 384 ficar 0 seu mundo pessoal, os seus projetos, os seus desejos, em funcao dessa perda real. Dito isso, em nenhum lugar Freud explicitou essa distingdo, ¢ parece que a confusdo imanente & nocdo de “prova de realidade” se conservou, e até se reforcou no uso contemporaneo. A expressio pode, de fato, levar a tomar realidade por aquilo que vem por a prova, medir, avaliar 0 grau de realismo dos desejos e das fantasias do sujeito, servir de aferidor para eles, Somos levados entdo, no limite, a confundir a cura analitica com uma reducdo progressiva daquilo que o mundo pessoal do sujeito ofereceria de “desreal”. Isso seria perder de vista um dos principios constitutivos da psicandlise: “‘Nao nos deixemos nunca levar a introduzir nas formacoes psiquicas recalcadas o aferidor de realidade; correrfamos o risco de me- nosprezar o valor das fantasias na formacao dos sintomas invocando pre- cisamente que eles nao sao realidades, ou a fazer um sentimento de culpa neurético derivar de outra origem porque nao podemos provar a existén- cia de um crime realmente cometido.” (5) De fato, expresses como "'rea- lidade de pensamento” (Denkrealitd#), ou “'realidade psiquica’"*, vem ex- primir a idéia de que nao apenas as estruturas inconscientes devem ser consideradas como tendo uma realidade especifica que obedece As suas leis préprias, como podem mesmo assumir para o sujeito pleno valor de realidade (ver: fantasia). ‘4 (a) Verifica-se uma certa hesitacdo em Freud quanto situago t6pica da prova de res: lidade. Em dado momento do seu pensamento emite a idéia interessante de que ela poderia depender do ideal do ego (6). (1) Frau (S.), — a) G-W., X, 424; S.E., XIV, 233; Fr,, 184. — 6) G.W. XIV, 235; Fr., 186. — 0 Cf. G.W., X, 4234; S.E., XIV, 232: Fr., 183. 2) FRevo(S), — a) G.W., XVI, 84; S.E., XXIII, 162; Fr. 25 |, 199; Fr., 74-5. — 0 G.W., XVI, 84; S.E., XXL, 1 (3) FRevD(S.), Thiebe und Triebschcksale, 1915. G.W., X, 228; (4) Frsvn (S), Die Verneinung, 1925, — @) G.W., XIV, 14; S.B,, XIX, 237; Fr.. 176 — 0 Ch GW., XIV, M4; S.E., XIX, 237; Fr, 176, (5) Bev (S.), Formulicrungen aber die zwei Prinzipion des psschischen Geschehens, W., VIII, 238; S.E., XIL, 225, (6) CF por exemplo: Feet (S.), Massenpsycholngte und Ich-Analyse, 1921. G.W., XIII, 126; S.E.. XVII, 14: Fr., 128 1911 PSICANALISE = D:: Psychoanalyse. — F:: psychanalyse, — En.: psy niilisis. — [: psicoanalisi ow psicanalisi, +ho-analysis, — Es.: psicoa- © _Disciplina fundada por Freud e na qual podemos, com ele, di guir ¢rés nive A) Um método de investigagao que consiste essencialmente em evidenciar 0 significado inconsciente das palavras, das acées, das pro- duces imagindrias (sonhos, fantasias, delirios) de um sujeito. Este método baseia-se principalmente nas associagées livres” do sujeito, que sao a garantia da validade da interpretacao*. A interpretagao psi- canalitica pode estender-se a produgoes humanas para as quais nao se dispoe de associagoes livres. B) Um método psicoterdpico baseado nesta investigagao e espe- cificado pela interpretagao controlada da resisténcia*, da transferén- cia* edo desejo*. O emprego da psicandlise como sin6nimo de trata- mento psicanalitico esta ligado a este sentido; exemplo: comegar uma psicandlise (ou uma anilise). C) Um conjunto de teorias psicologicas e psicopatolégicas em que sao sistematizados os dados introduzidos pelo método psicanalitico de investigagao e de tratamento. ® Freud empregou inicialmente os termos andlise, andlise pstquica, and: lise psicoldgica, andlise hipndtica, no seu primeiro artigo As psiconeuroses de desesa (Die Abwehr-Newropsychosen, 1894) (1). Sé mais tarde introduziu 0 termo psycho-analyse num artigo sobre a etiologia das neuroses publica do em francés (2), Em alemao, Psychoanalvse figura pela primeira vez em 1896 em Novas observacses sobre as psiconeuroses de defesa (Weitere Bemer hungen iiber die Abwehr-Newropsychosen) (3). O uso do termo “psicanali- se” consagrou 0 abandono da catarse* sob hipnose € da sugestio, € 0 re- curso exclusivo @ regra da associacao livre para obter o material’. Freud deu varias detinicdes de psicandlise. Uma das mais claras encontra-se no inicio do artigo da Enciclopédia publicado em 1922: “Psi canalise é 0 nome: “1. De um procedimento para a investigacdo de processos mentais que, de outra forma, sao praticamente inacessiveis 2. De um método baseado nessa investigag distirbios neurdticos "3, De uma série de concepcoes psicolégicas adquiridas por esse meio © que se somary umas as outras para formarem progressivamente uma nova disciplina cientitica.” (4) A definigao proposta na abertura deste verbete reproduz de forma mais, pormenorizada a que Freud apresenta nesse texto. Sobre a escolha do termo psicandlise, nada melhor do que dar a pala vra aquele que forjou o termo ao mesmo tempo que identificava a sua de coberta: “Chamamos psicandlise ao trabalho pelo qual levamios & conscié cia do doente o psiquico recaleado nele. Por que ‘andlise’, que significa tracionamento, decomposicao, ¢ sugere uma analogia com o trabalho efe- tuado pelo quimico com as substancias que encontra na natureza e que leva para o laboratério? Porque, num ponto importante, essa analogia 6, etetivamente, bem fundada. Os sintomas e as manifestacdes patolgicas do paciente sao, como todas as suas atividades psiquicas, de natureza al- tamente compésita; os elementos dessa composigao sao em tltima andli- se motives, mocdes pulsionais. Mas o doente nada sabe, ou sabe muito pouco, desses motivos elementares. Nos Ihe ensinamos, pois, a compreen der a composigao dessas formagoes psiquicas altamente complicadas, re- 0 para o tratamento de 385 PSICANALISE 386 conduzimos 0s sintomas as mocées pulsionais que os motivam, aponta- mos ao doente nos seus sintomas os motivos pulsionais até entdo ignora- dos, como 0 quimico separa a substancia fundamental, o elemento quimi- co, do sal em que, em composigao com outros elementos, se tornara irre- conhecivel. Da mesma maneira, mostramos ao doente, quanto as mani- festacdes psiquicas consideradas nao patolégicas, que ele s6 estava im- perfeitamente consciente da motivacao delas, que outros motivos pulsio- nais que para ele permaneceram desconhecidos tinham contribuido para as produzir. “Explicamos também a tendéncia sexual no ser humano fracionando-a nas suas componentes, ¢, quando interpretamos um sonho, procedemos de forma a pér de lado o sonho como totalidade, pois é dos seus elementos isolados que fazemos partir as associacées. “Essa comparacao justificada da atividade médica psicanalitica com um trabalho quimico poderia sugerir uma direcao nova A nossa terapia [...]- Disseram-nos: a andlise do psiquismo doente deve suceder a sua sintese! E logo houve quem se mostrasse preocupado com 0 fato de que o doente pudesse receber anilise a mais sintese a menos, ¢ desejoso de colocar © peso principal da aco psicoterapéutica nesta sintese, numa espécie de restauracao daquilo que, por assim dizer, tinha sido destruido por vivis- .1 A comparacdo com a anélise quimica encontra o seu limite no fato de que na vida psiquica lidamos com tendéncias submetidas a uma compulsio & unifieacdo e & combinacao. Mal conseguimos decompor um sintoma, liberar uma mocdo pulsional de um conjunto de relacdes, e logo esta no se conserva isolada, mas entra imediatamente num novo conjunto. “[...] Também no sujeito em tratamento analitico a psicossintese se realiza sem nossa intervencdo, automatica e inevitavelmente.”” (5) A Standard Edition traz uma lista das principais exposigdes gerais so- bre a psicandlise publicadas por Freud (6). ‘A moda da psicandlise levou numerosos autores a designar por este termo trabalhos cujo contetido, método ¢ resultados tém apenas relacdes muito ténues com a psicandlise propriamente dita. (0) Cf Free (8), G.W., 1, 59-74; S.E., TT, 45-68. (2) Ch. Pret 0 (S.), L hentite ct letiolngte des nervroses, 1896, G.W., 1, 407-22; 8.E., Ill, (3) Cf Frevn (S.), (4) FREUD (S2, XVII, 235. 6) Feerp (S), Wege der psvchnanalvtischem Therapie, 1918. G.W., XII, 184-6; S.E. XVI, 159-61; Fr., 1324. (6S. E., XI, 56, . 1923. G.W., XIII, 211; S.E.,

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