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Gotthold Exhraim Lessing asqueroso no devido ao asqueroso; ela 0 quer, assim como 4 poesia, para reforcar com de o ridiculo e o terefvel, Assu= :mindo os riscos! © que eu afirmei nesse sentido sobre o feio vale tanto mais para 0 asque-oso. Ele perde incomparavel- ‘mente menos do seu efeito 1a sua imitagio visual do que na auditiva; e, portanto, ali ele pode misturar-se de modo menos intimo com as partes do ridiculo ¢ terrivel do que aqui: assim que a surpresa se ‘oi, assim que o primeiro olhar ‘vido foi satisfeivo, ele se separa novamente completamen- nna sua propria figura crua. tee resta Fonte: Goold Ephraim Lessing, Lavcoonte ou Sobre as fon teivas da poesia eda pineur,tradusio de Marcio Seligmann- 1. Sto Paulo, lluminuras, 1998, pp, 89-92, 259-61, 265- Sir Joshua Reynolds (1723-1792) Discurso sobre a pintura wm Iho ¢ neto de pastores anglicanos, Reynolds foi aprendiz do retratista Thomas Hudson. Vive na Itlia durante alguns anos «,em Roma, estuda as obras-primas da Antiguidade e copia tra- balhos dos grandes mestres itaianos, Ticiano,Rafeel, Guildo Reni, Michelangelo. Visita Florenga, Parma, Bolonha, Veneza e Paris. De volta a Londres, em 1752, Reynolds logo se destaca como retra- tista, tornando-se o pintor preileto da aristocraciainglesa, Seus precos logo superam 0s de Gainsborough ou de Romney; com enor- me quantidade de encomendas, freqUentemente deixe aos seus assistentes a tarefa de terminar seus quadros. Em 1768, torna-se presidente da Royal Academy, que acabava de ser fundada em Lonares. Tomado pelas tarefas administativas por uma vida social, Reynolds dedica cada vez menos tempo a sua ra, que afunda num academiciemo que the vale duras c ja para a Holanda e Flandres, onde encontra nos quactros 0. 18 acometido pela surdez desde sua estada na Italia, Reynolds fica eego nos iltimos anos de sua vida. Cada vez mais contestado como presidente ds Academia, ele morre em 1792. De 2 de janeiro de 1769 2 10 de dezembro de 1790, quando deixa a Academia, Reynolds pronuncia quinze discursos di aos estudantes, por oasizo da cistribuigao dos prémios. No primel- ro discurso, le define seu programa pedagdgico e tebrico: "Gos- lugar, que se exigisse dos alunos sua confor Sir Joshua Reynolds magio tacita as regras da arte tais como estabelecidas pela pri- tica dos grandes mestres. Gostaria que se lhes apresentassem es- 5e5 modelos, trazidos até nés pea apravactio dos tempos, como ‘Quias infaliveis perfeitos, como abjetos para sua imitagdo. Gos- taria que nenhum deles os tomasse unicamente como objetos ofe- mundo, e por esse mesmo metodo os senhores, que tém coragem de tilhar 0 mesmo caminho, podem adquirir seraelhante reputagzo. Essa é a idéia a que se atribuiu o epitero de divina, € que parece ter dircito a ele, jé que se pode dizer que presi- de, como um juiz supremo, a todas as produges da natu- reza. Nela habita como que a vontade e intengio do Cria- dor quanto a forma externa dos seres vivos. Quando um hhomem possui essa idéia em sua perfeiglo, nao ha como ndo ser ele préprio animado por ¢a, € assim produzit obras ca- pazes de animar ¢ cativar todzs as outras pessoas. Portanto, éa partir de uma experiéncia reiterada e de ‘uma exata comparagio entre os objetos da natureza que um artista se torna possuidor da icéia daquela forma central, em relagio & qual qualquer des- é deformidade. Mas a investigacio dessa forma, garan- *0, édolorosa, e conego apenas um método de encurtar 0 tores. Infatigaveis discfpulos da escola da natureza, eles dei- xaram atrds de si modelos daquela forma perfeita que qual- quer artista elegeria como os mais belos se thes dedicasse tama exaustiva contemplagio. Mas se tal dedicagao os levou tao longe, ndo poderiam também os senhores esperar pela ‘mesma recompensa a partir do mesmo trabalho? Temos aberta para nés a mesma escol que estava aberta para el pois a natureza nao nega suas ligdes a ninguém que deseje se tornar seu aluno. Estou ciente de que essa trabalhosa investigasio pare cerd supérflua Aqueles que pensam que todas as coisas de- vem ser feitas pelo acaso e pelos poderes do génio inato. Até ‘mesmo o grande Bacon ridiculariza a idéia de submeter as ue Discurso sobre a proporyées a regras, ou de produzir a beleza por meio da selegdo, “Nao saberia decidir” diz ele, quem foi mais levia- 0, se Apeles ou Albrecht Durer: um por querer fazer um petsonagem com proporgies zeométticas; 0 01 do as melhores partes de diversos rostos para fazer um ros- to perfeito. "O pintor”, ele acrescenta, “deve fazer isso por uma espécie de felicidade, ¢ no por regras."! Nao é seguro questiona: a opinido de to grande es- ctitor e tio profundo pensador, como Bacon sem ditvi foi. Mas € certo que esse grande hamem procura a bi dade em excesso e, portanto, sua opinigo é &s vezes duvi- dosa. Se ele quer dizer que a beleza no tem nada a ver com regras, estd enganado. Hé uma regra tirada da nacureza em geral que no se pode contratizer sem cair na deformida- de. Sempre que alguma coisa é feita a despeito dessa regra, 6 € em virtude de alguma outra regra que se exerce 20 mes- ‘mo tempo que a primeira, mas nfo a contradiz. Tudo o que E eico com acerta € feito sob algum principio. Se nio é, no pode ser epetido, Se por felicilade ele quer dizer algo como sorte ou acaso, ou algo nascido com o homem, € ndo por cle adquirido, nao posso concordar com esse grande fil6so- fo. Todo objeto que agrada nos agrada em virtude de algum prinefpio: mas como os objetos que nos agradam sio qua- se infinitos, ento seus principios variam interminavelmen- te, ¢ aquele que os descobre. no o faz por felicidade ou acaso, mas & forca de aplicagzo ¢ inteligéncia. ‘Ao principio que expus. de que a idéia de beleza em cada espécie de ser é invariavel, pode-se objetar que em toda espécie particular hi varias formas centrais, que so sepa- radas e distintas umas das outras, e ainda assim inquestiona- toman- 2 Ensaio sobre beleca v7 Sir Joshua Reynolds vvelmente belas; que na figura humana, por exemplo, a be- Jeza de Hércules é uma, a d> Gladiador outra, a de Apolo uma terceira, que constituem as is iddias diferentes de beleza E mesmo verdade que cada uma dessas figuras € per- feita em seu género, embora de diferentes caracteristicas € proporcées; mas ainda assim nenhuma delas é a represen- tagio de um individuo, e sim de uma classe. E como ha uma forma geral que, como eu disse, pertence & espécie hu- ‘mana cm sentido amplo, eatio em cada uma dessas clas- ses hé uma idéia comum e forma central, que é 0 abstrato de varias formas individuais pervencentes Aquela classe. As- sim, apesar das formas da infincia ¢ da idade adulea dife- rirem grandemente, hé uma forma comum na infincia e uma forma comum na idade adulta que é a mais perfeita, j€ que €a mais alheia a todas as peculiaridades. Mas devo dizer ainda que, embora as mais perfeitas formas de cada uma das divisbes gerais da figura humana sejam ideais e superiores a qualquer forma individual daquela classe, ain- da assim a mais perfeita figura humana no seré encontra- daem nenhuma delas. Ela ro esté em Hércules,? no Gla- diador,? nem em Apolo,’ mas na forma que se tira de to- ddos ees, e que combina a viva atividade do Gladiador, a de- cadera de Apolo e a forga muscular de Hércules. Pois a beleza perfeira em qualquer espécie deve combinar todos os caracteres que sio belos naquela espécie. Ela no pode consist e tinica desias caracteristicas com excesio 21No museu Pré-Clementin 30 Gladiadrcombetende en (Nova de Louis Dimien) $0 Apolo do Belvedere. (Nos de Louis Dimi) (Nota de Louis Dimies) Vi Borghese, hoje no Louvre ne Discurso sobre a pinture de todas as outras: nenhuma, portanto, deve ser predomi- nante, para que nenhuma seja deficiente. O conhecimento desses caracteres diferentes ea capa- cidade de separi-los e ios so sem diivida neces- formas e proporgées, embora nunca perca getal de perfeicio de cada espécie. Hii, do mesmo modo, um tipo de simetria, ou propor- so, que se pode dizer apropriadamente que pertence & de- formidade. Uma figura magra ou corpulenta, alta ou baixa, cetta unio das varias partes que contribua para fazer com que no todo nao seja desagradivel. Quando o artista adquiriu por atengio idéia clara e distinta de beleza e simettia, quando ele redu- ziu a variedade da natureza & idéia abstrata, sua tarefa se- suinte sera conhecer as formas genuinas da natureza e dis- ingui-las daquelas da moda. Pois da mesma maneira, ecom 0s mesmos principios com que adquiriu 0 conhecimento sobre as formas reais da natureza, di de acidental, ele deve esforgar-se para separar a natureza simples e casta dos ares ou <¢bes forgados, afetados ou ad- venticios, com os quais ela ¢ sobrecarregada pela educacéo moderna. Talvez eu nio possa explicar melhor o que quero di- zet, senao lembrando-0s 0 que nos foi ensinado pelo pro- fessor de anatomia, a respeito da posigao ¢ movimento na- turais dos pés. Ele observou que a moda de viré-los para fora era contréria A intengio da natureza, como pode ser visto pela estrutura dos ossos e pela fraqueza que procede dessa maneira de portar-se. 2odemos adicionar a isso a po- siglo ereta da cabesa, a projecio do peito, o caminhar com. joclhos retos © muitas agdes semelhantes que sabemos se- intas da deformida- ng Sir Joshua Reynolds rem meramente resultado dé moda e que a natureza nun- iu, como sabemos que nos ensinaram quando Fonte: Sit Joshua Reyrolds, Dicause on Ar, inodvgio e notas de Robert R. Wark, Londres, Yale University Press, 1997, pp. 43-48, 20 Charles Baudelaire (482!-1867) O pintor da vida moderna (1303) Esta seqiéncia de artigos sobre o pin’ contém sem divida alguns dos textos sobre estética mais conhe- ciidos de Baudelzire'. Eles séo cedicados a um aquarelista, Cons- reconhecer que M. G. € mais um pretexto que permite ao escritor desenvalver uma concepeao radicalmente nova da arte e do belo. ele exige da arte que ela seja moderna, isto €, que represente as, cenas € 0s atores da vida moderna. Com isso, ele inventa simul- taneamente 0 belo moderno, a'tifical, efémero, convulsivo, ner- voso transit. A nova Helena do pintor-fléneur & uma tran seunte, uma imagem fugidia vislumbrada por um instante no meio ‘da multidao e perdida para sempre. amoda a felicidade Hi neste mundo, até mesmo no mundo dos artistas, pessoas que vo ao museu co Louvre, passam rapidamen- * Sobre Baudelaire, vero volume 1, O mito de pinta 121

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