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|A Colegdo Educapio para Tedos, langada pelo Mristério da Educagao e pela UNESCO em 2004, 6 um espaco para divugacéo de textes, documen tos, relatos de pesquisas e evertas, estudos de pesquisadoresias, académicoslas © educadoresias racionais e interacionais, que tem por finalicade aprofundar o debate em tomo da busca da educapo para todos, ‘A partir desse debate, espera-se promover a in terlocugao, a informacao e a formagao de gestores, ‘educadores ¢ demais pessoas iteressadas no cary po da educapto continuada, assim como reatima 0 Ideal de inclursocialmente 0 grande nimoro de jo ons @ aduls, excluidos dos processos de apron <ézagem formal, no Brasil © ro mundo. Para a Secretaria de Educapio Contruada, Alfa: belizapio e Diversidade (Secad), drgio responsével, ro dma do Minstério da Educaglo, pela Cal ‘a educagio no pode se separar, nos debates, de ‘quest6es. como desemuchimerto socialmerte justo © ecologicamente sustentivel; género, identcade e género e orientagao sexual, escola protecdo a crlangas @ adolescenes; sade © preveneao; aver: dade étnlcowacial: poles afratvas para arodes svendentes e populagées indigenas; educarto para as populagdes do campo; qualficagio prfssional ¢ ‘mundo do trabalho; democraca, dees. humanos, justga, tolrdncia paz mundial. Na mesma diecio, 1 compreensio @ o respeito pelo ciferene @ pala d. versdade s30 chmensies fundamentals do proceso educatv, Esto volime, o 1? 82 da Colepio, prope uma série consstone @ ariculada de reflexses sobre a Produgdo a reprodupao da homofobia na educapao, ‘especialmente no contexto da escola © nos espages ligados a ola Rigorosa © minuciosamente examinada a partir os instumentos fornecidos polas ciéncias socials f¢ hurranas, a homotobia (compreendidas também f letbotoba, a transfobia e a biobia) evidenca-te como um grave probloma social eyo entrantamento ‘io pode ser mals adiade. (© espago escolar aparece aqui como uma poder: cosa instnca de repredugdo das lgicas nomotcbicas. Al, a homofobia 6 consentidae ensinada, produzndo fotos devastadores na formacso de todas as pes: ‘A homofobia compromete a incisdo educacional «© 8 qualidade do ensino. incide na relapaa docerte festudante, Produz desinteresse pela escola, cticuta a aprendizagem e conduz & evasio e 20 abandono escolar. Aleta a dotingdo das careias protssion 15 0 aificuta a insergio no mercado de trabalho “hig ppg Diversidade Sexual na Educagao: problematizacdes sobre a homofobia nas escolas Organizador: Rogério Diniz Junqueira jontagto Ministerio da Educagao Brasilia, 2009 Edigdes MEC/Unesco jepresentagao no Bra: 5AS, Quadra 8, Bloco H, Lote 6, d. CNPQIBICT/Unesco, 9 andar 0070-914 ~ Brasilia, DF — Brasil 5 Tel (66 61) 2106-3500 $ Fax: (58 61) 3322-4261 E Sito: wwaw.unesco org.br {E-mail grupoediteral@ unesco org.br Ministério da Educasio ‘Secretaria de Educarao Continuada, Alfabetizagao e Diversidade (Secad/MEC) Esplanada dos Ministéros, BL, 2* andar 70087-900 ~ Brasilia - DF Tel: (55 61) 2022-9217 Fax (85 61) 2022-9020 “Es oo e. 05-0" 2 3 2s Fo pat Diversidade Sexual na Educagao: problematizacdes sobre a homofobia nas escolas Organizador Rogério Diniz Junqueira a Il Representagio Mi no Brasil ro Brasilia, 2009 © 2009. Secretaria de Educagao Continuada, Altabetizagao e Diversidade (Secad/MEC) ‘Organizacao das Nagées Unidas para a Educagdo, a Ciéncia e a Cultura (UNESCO) Conselho Editorial ‘Adama Quane Alberto Melo Célio da Cunha Dalila Shepard ‘Osmar Favero Ricardo Henriques ‘Coordenagao Editorial: Maria Adelaide Santana Chamusca Revisio: Maria Licia de Resende Barreto Viana Projeto grético: Publisher Brasil Diagramagao: SecadMEC Tiragem: 8.000 Edigéo Eletrénica Dados itemactonale de Catalogasio na Pubieacho (CP) Diversidade Soxsal na Eaveapao: problemalizagées sobre a homolabia nas escolas | Rogério Diniz dunquera (organization. Brasilia» Mnistéro da Educarto, Secretaria de Educarto Contnuada, Alabetizagio © Dhiersisade, UNESCO, 2008, ISBN 97@-05-00721-948, 458, (Coleg Edvcagto para Todos, vl. 82) 1. Educapio - Soxualdade. 2. Homossoxuaidade. 3, Homofobia. 4.Diteitos Humanos. 5. Diversidade Sexual, I-Rogéri Diniz Junquera. cbu:37.0153610.885 (0s autores sao responséves pela escolha @ a apresentapio dos fos contidos neste Into, bem como pelas opinées nelo expressas, quo nao séo nocessariamente as da UNESCO e do Minstério da Eaucapao, nem comprometem a Organizaca0 ¢ 0 Ministéio. As indicapdes de nomes e a apresentarao {do material a longo deste lvro ndo mplicam a maniestagao de qualquer opin por parte da UNESCO € do Mirisério da Educagao a respeito da condigao juriciea de qualquer pals, tetério, cidade, regiao 0 de suas autoridades, tampouco a delimitapao de suas fronteiras ou limites. A sociedade brasileira vive profundas transformagdes que ndo podem ser ignoradas por nenhuma instituigéo democratica. Cresce no pais a percep: ¢40 da importancia da educag4o como instrumento necessério para entrentar situagées de preconceites e discriminacao ¢ garantir oportunidades efetivas de participagao de todos nos diferentes espagos sociais. A escola brasileira vem sendo chamada a contribuir de maneira mais eficaz no enfrentamento do que impede ou dificulta a participagao social e politica e que, ao mesmo tempo, contribui para a reprodugao de légicas perversas de opressao e incre- mento das desigualdades. Nao por acaso, em nossas escolas, temos assistido ao crescente inte- resse em favor de agées mais abrangentes no enfrentamento da violéncia, do preconceito ¢ de discriminagao contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis ¢ transexuals. Cada vez mais a homofobia é percebida como um grave pro- blema social, ¢ a escola € considerada um espago decisivo para conttribuir na construgao de uma consciéncia critica e no desenvolvimento de préticas pautadas pelo respeito a diversidade ¢ aos direitos humanos. Reside ai a importancia de se promoverem agées que fornecam a pro fissionais da educagao diretrizos, oriontagées pedagégicas e instrumentos para consolidarmos uma cultura de respeito @ diversidade de orientagdo sexual @ de identidade de género. Para isso, resulta igualmente indispensével estimular a produgao ¢ a difusdo de estudos e pesquisas nestas areas Este livro, que reine parcela significativa dos/as maiores especialistas brasileiros/as no tema, foi produzido pelo Ministério da Educagao para discu- tir, especiticamente, educagao e homofobia. Com ele, o Ministério nao apenas avanga no Ambito do Programa Brasil Sem Homofobia, seus artigos, escritos com rigor ¢ linguagem acessivel, contribuem para a ampliagdo e o aprofunda- mento desse debate e também para uma melhor compreensao da homofobia, seus efeitos @ suas relagdes com outros tipos de discriminagao. Além disso, ao fornecer subsidios para a formulagdo de politicas piblicas na érea da educagao ¢ do reconhecimento da diversidade, torna-se leitura indispensavel para profissionais da educa¢do, gestores, estudiosos/as, estudantes, agentes dos movimentos sociais e todos aqueles e aquelas interessados/as na cons- trugéo de um modelo de sociedade democratica. Agradecemos a todosias os/as autores/as, assim como ao organizador des- te livro, a cesso ao Ministério da Educagdo, sem énus de qualquer natureza, dos direitos de reprodugao para disseminagao em melo eletrénico e distribuigao gra- tuita as bibliotecas piblicas de universidades e demais instituicbes que lidam com Educago e Direitos Humanos. Secretaria de Educasio Continuada, Alfabetizasio. ¢ Diversidade do Ministério da Educagio Liberdade, essa palavra que 0 sonbo humano alimenta que nao ha ninguém que explique e ninguém que nao entenda! Cecilia Meireles Romanceiro da Inconfidéncia Introdugao Homofobia nas Escolas: um problema de todos Rogério Diniz Junqueira .. 113 Homofobia na Perspectiva dos Direitos Humanos e no Contexto dos Estudos sobre Preconceito e Discriminagao Roger Raupp Rios 53 Heteronormatividade e Homofobi Guacira Lopes Louro Teorias sobre a Génese da Homossexualidade: ideologia, preconceito e fraude Alipio de Sousa Filho 95 Equivocos e Armadilhas na Articulacao entre Diversidade Sexual e Politicas de Inclusdo Escolar Fernando Seftner 125 Construgao de Comportamentos Homofébicos no Cotidiano da Educagao Infantil Jane Felipe, Alexandre Toaldo Bello 144 AEscolae @s Filh@s de Lésbicas e Gays: reflexces sobre conjugalidade e parentalidade no Brasil Luiz Mello, Miriam Grossi, Anna Paula Uziel 159 Ambientalizacao de Professores e Professoras Homossexuais no Espaco Escolar Paula Regina Costa Ribeiro, Guiomar Freitas Soares, Felipe Bruno Martins Fernandes . 183 Corpo, Violéncia e Educagao: uma abordagem de género Dagmar E. Estermann Meyer 213 Cenas de Exclusdes Anunciadas: travestis, transexuais, transgéneros e a escola brasileira Wiliam Siqueira Peres 235 Sexualidade, Deficiéncia e Género: reflexes sobre padrées definidores de normalidade Ana Claudia Bortolozzi Maia 265 Direitos Humanos, Direitos Sexuais e Pedagogia Queer: o que essas abordagens tém a dizer & Educacao Sexual? Jimena Furlani .. . 293 As “Diferencas” na Literatura Infantil e Juvenil nas Escolas: para entendé-las e aceité-las Lucia Facco . 325 Orientagao Sexual nas Escolas Publicas de Sao Paulo Antonio Carlos Egypto 341 Por uma Nova Invisibilidade Denilson Lopes 355 Educagao e Homofobii sexual para além do multiculturali Rogério Diniz Junqueira .. 367 Sobre autores e autoras 445, Introducado Homofobia nas Escolas: um problema de todos Rogério Diniz Junqueira Todo preconceito impede a autonomia do [ser humano], ou seja, diminui sua liberdade relativa diante do ato de escolha, ao deformar e, conseqiientemente, estreitar a margem real de alternativa do individuo. Agnes Heller (1992: 59) Escola e reprodugao da heteronormatividade Diante do anseio de construirmos uma sociedade e uma escola mais justas, solidarias, lives de preconceito e discriminasio, & necessério identificar e enfrentar as dificuldades que temos tido para promover os direitos humanos e, especialmente, problematizar, desestabilizar e subverter a homofobia. Sio dificuldades que se tramam € se alimentam, radicadas em nossas realidades sociais, culturais, institucionais, hist6- ricas e em cada nivel da experiéncia cotidiana. Elas, inclusive, se referem a incompre- censées acerca da homofobia e de seus efeitos ¢ produzem ulteriores obsticulos para a sua compreensio como problema merecedor da atengio das politicas piiblicas. ‘Ao mesmo tempo em que nés, profissionais da educagao, estamos conscien- tes de que nosso trabalho se relaciona com o quadro dos direitos humanos ¢ pode contribuir para ampliar os seus horizontes, precisamos também reter que estamos cenvolvidos na tessitura de uma trama em que sexismo, homofobia ¢ racismo pro: duzem efeitos © que, apesar de nossas intengdes, terminamos muitas vezes por pro: mover sua perpetuagao. ‘Teriamos que nos perguntar como nés que clamamos por justiga, pelo fim de preconceitos ¢ violéncia estamos, mesmo sem saber, envolvidos com aquilo contra [Doutor em Sociologia das instiugses dursieas Polltens (Unveridades de Mo ¢ Macerata- I) Psquicador do Inttuto Nacional Ge Estudos @ Pesquisas Educacionals Aristo Tees (I ~ Agradoro altura prelimina’ de Alpi de Sousa Filho, Marco Auréo Prado, Sérgo Carrara, Marco Anlénio Coutono Jorge, Siva Ramos, Chane Ma, Mara Euina Pessoa de Carval, Paula Regina da Costa Fiber, Claudia Vianna, Jeane Falx da Sive, Rosana Olvera, Rachel Dina Junqueia e Leonardo Vilres 44 Ameida Afonso 6 0 apoto, a confanga e’a ampenho de pessoas promasas de meu coro, elzes © {onerosos encontros que fazem da vida invengoes de Iberdade, 8 ‘© que procuramos lutar. Nao podemos perder de vista que intervengdes centradas, tinica ou principalmente, em nossas boas intengdes pedagégicas ou no poder gene- ricamente redentor da educagio costumam contribuir para reproduzir 0 quadro de ‘opressio contra o qual nos batemos. Em outras palavras, com freqiiéncia, colocamos nossas boas intengdes ¢ nossa confianga em uma educagio a servigo de um sistema sexista ¢ heterossexista de dominagio que deve justamente a essas intenses ¢ con fianga uma parte significativa de seu poder de conservagao. Ora, desde os estudos de Bourdieu ¢ Passeron ¢ uma numerosa série de ow tos, as visdes encantadas acerca do papel transformador ¢ redentor da escola tm. sido fortemente desmistificadas. Temos visto consolidar-se uma visio segundo a qual a escola nfo apenas transmite ou constr6i conhecimento, mas o fiz reprodwzin- do padrdes sociais, perpetuando concepgdes, valores e clivagens sociais, fabricando sujeitos (seus corpos e suas identidades), legitimando relagdes de poder, hierarquias «¢ processos de acumulasao, Dar-se conta de que 0 campo da educagao se constituiu historicamente como um espaco disciplinador e normalizador é um passo decisivo para se caminhar rumo a desestabilizasio de suas Iégicas e compromissos. Ao longo de sua histéria, a escola brasileira estruturou-se a partir de pressu- postos fortemente tributarios de um conjunto dinamico de valores, normas e cren- as esponsavel por reduzir a figura do “outro” (considerado “estranho’, “inferios”, “pecador’, “doente”, "pervertido”, “criminoso” ou “contagioso”) todos aqueles e aque- las que nao se sintonizassem com 0 tinico componente valorizado pela heteronor- matividade? e pelos arsenais multifariamente a ela ligados ~ centrados no adulto, masculino, branco, heterossexual, burgués, fisica ¢ mentalmente “normal”, Nao por acaso, conforme aquilata Guacira Lopes Louro, no espago da educagio escolar, [Jos sujeitos que, por alguma razio ou circunstancia, escapam da norma e promovem uma descontinuidade na seqiiéncia sexo/ xénero/sexualidade serdo tomados como minoria e serio colo- cados & margem das preocupasées de um curriculo ou de uma educagio que se pretenda para a maioria, Paradoxalmente, ¢s- ses sujeitos marginalizados continuam necessitios, pois server para circunscrever os contornos daqueles que sio normais e que, de fato, se constituem nos sujeitos que importam (LOURO, 2004b: 27, gritos nossos) T Para uma Tellerio sobre 2 fabricagdo dos sujetos, vide: FOUCAULT, 1975 (1997: 143-161]; FONSECA, 41995: 190-131 e,eapeclaimente na educagao: SILVA, 1983, 1996 2. Por melo da heteronormatvidede, a hetersexualace 6 insttuda e vvencada come Unica possbliéade legitma de expressao lenttiae sexual (WARNER, 183), 4 A escola configura-se um lugar de opressio, discriminagio © preconceitos, no qual ¢ em torno do qual existe um preocupante quadro de violéncia a que estéo submetidos milhdes de jovens e adultos LGBT? — muitos/as dos/as quais vivem, de maneiras distintas,' situagées delicadas ¢ vulneradoras de internalizagio da homo: fobia, negasio, autoculpabilizagio, auto-aversio. E isso se faz. com a participasao ou a omissio da familia, da comunidade escolar, da sociedade ¢ do Estado. Diante disso, em 1998, as autoridades britanicas instituiram 0 School Standards and Framework Act, que obtiga os dirigentes escolares a adotarem medidas para evitar toda forma de intimidasao entre estudantes. Em 2007, foi aprovada a regulamentagao do Equality Act voltada a climinar discriminagoes por orientagio sexual no acesso, no fornecimento e na utilizagio de bens e servigos piiblicos e privados, e 0 governo determinou que até mesmo as escolas religiosas deverio ensinar o respeito A livre ex- pressdo sexual.5 Nos Estados Unidos, onde trés em cada quatro estudantes LGBT da igh school declaram viver rotinas de assédio c violéncia verbal, fisica ou sexual, ha uma cerescente mobilizas2o para fazer das escolas ambientes seguros, lives e educativos para estudantes, profissionais e familiares, independentemente de suas identidades sexuais ¢ de género (JENNINGS, 2005; xiv; PERROTTI ¢ WESTHEIMER, 2001), No Brasil, em 2004, 0 governo federal langou, em conjunto com a sociedade civil, o “Programa Brasil sem Homofobia’, voltado a formular e a implementar po- lisicas integradas e de cariter nacional de enfrentamento ao fendmeno.” O progra- ‘ma traz, no seu cerne, a compreensio de que a democracia nao pode preseindir do pluralismo e de politicas de eqiiidade e que, para isso, é indispensével interromper a longa seqiiéncia de cumplicidade e indiferenga em relagao & homofobia e promover Tigh aes vez as morgan pair ca malade cor aoe 190 folmana lank poles de identdade, LGBT possul mutas varlantes, inclusive com of tos das fas Em algumas deles, Screscents-se um Ou dos T (para astngur travesti, ancesuais« tansgénetes) £m oitfas, um ou dole © para que’ questioning’ a vores aoreviado com um porto de inlerogacte. Upara “unsure” incor’) 57 ara “intergoxo™.No Brasil ompregam-se lambem 0.9 (simpatzantes) © 0 F [lamilares) Nos EUA uo T (ou TS au o numero 2 "wo-spit)@ A alados/ae hers) A revista Anything That Moves (p= fada entre 1900 e 2002} cunhou a sila PABGLITTER (letish, aladala blssexual, gay, lesoica, nereex Iwansgénero, Vansexual engendenng revolution, que nao entou no uso eomum. 4 Vivincias de jovens @ adulos/as LGBT podem ser muto dsinias, Inclusive em tuncdo de gneve, cor, condigso econémica et. Vide: RYAN e FRAPPIER, 1988, SINOES, 2004; ABHAMOVAY et al, 2004 5 Emum lovantamento ente mais de 4 mil homens e mulheres homossexuais no Reino Unido, csnsiatou-se ue, nos cinco anos anterores, um torgo doe gays © um quarto dae febicas foram vitmas de, 20 menos, tim ataque violn'a. Um treo soau algum assedio (nauindo ameapas ou vandalsme) @ 73% solteram sbusos veoats em publice (RICHARDSON e HAY, 1998). 66 Nos EUS, cegundo a Anis Internacional, eetudantas LGBT recebem em média 26 ineutos por cia, 80% Sottem “grave iglamento social S2% auver comentarios homotsolcos por parte de protessores @ da Admnistagao, 28% dela a escola antes de oe” 0 aploms (a evasio entre heterossenuals¢ de 117), {op sho viimas do agressto fica na escola Em 87% dos casos, ndo se registra intervengSes por pare esorea/as pacer ser demfidoeas por serem LGBT. 7 Inlogravam © BSH os Ministéios da Educagio, Cultura, Sade, Justiea Tabaho @ Emprego, Relagées Exteriors, ae Sectetaras Eapecits dos Drewos Humanos, Palicas para Mulheres, Palitas ge Promopso 4a Igualdade Racial No tal de 2007, por ecasiao da proparapao da | Corverenla Nacional GLBT, arom 56 ot Minisléios evoWides, 18 ‘o reconhecimento da diversidade sexual e da pluralidade de identidade de género, garantindo ¢ promovendo a cidadania de todos/as.* ‘Ao envolver autoridades, profissionais da educagio, membros da comunidade escolar ¢ da sociedade em geral em esforsos de desestabilizaso da homofobia, tam: bém seri necessério no esquecer que o poder e as instituigdes (entre elas, a escola) fancionam produtivamente em termos de interdigdes ¢ de estimulos.” A repressio sexual (enquanto pritica institucional, da qual a homofobia é uma de suas expres- ses, embora a transcenda) opera nao s6 pelo conjunto explicito de interdigdes, cen- suras ou por um cédigo negativo ¢ excludente, mas se efetiva, sobretudo, por meio de discursos, idéias, representagées, priticas e instituigdes que definem e regulam 0 permitido, distinguindo 0 legitimo do ilegitimo, o dizivel do indizivel, delimitando, construindo ¢ hierarquizando seus campos." Guacira Lopes Louro observa que, embora néo se possa atribuir & escola 0 poder e a responsabilidade de explicar identidades sociais ou de determiné-las de forma definitiva, € necessério reconhecer que “suas proposigées, suas imposigées ¢ proibigées fazem sentido, tém ‘efeitos de verdade’, constituem parte significativa das historias pessoais” (LOURO, 1999: 21). Sobre a homofobia, acrescenta: “Consenti- da c ensinada na escola, a homofobia expressa-se pelo desprezo, pelo afastamento, pela imposigio do ridiculo”(ibid.: 29). ‘Ao ser nao apenas consentida, mas também ensinada, a homofobia adquire nitidos contornos institucionais, tornando indispenséveis pesquisas que nos permi- tam conhecer a fundo as dinamicas de sua produgio e reprodugao nas escolas, bem como os seus efeitos nas trajetérias escolares e nas vidas de todas as pessoas. So: mos também desafiados a construir indicadores sociais de homofobia nos sistemas escolares para, entre outras coisas, formularmos, implementarmos ¢ executarmos politicas educacionais inclusivas."* {uipes para avatar Ivos ddtcos e elminaraspectos csscriminaténs por oflentagao sexual e deridade 4e gonero: estmular a prosuigso de materials educatvos sobre oienagao sexval dentsade de género ® Stperagie da homofoba. apears cvulga” a producdo de materials espectfoos para a formagao de pofes- Safes divlga inormagées cenfeas sebre sexualcade, estmulat a peaquea a dfusao de connecimen= tos quo conirouam para © entenlamenta da volonea 0 da aizerminagso de LGBT: instiir um subcomits, ‘com parcipapae do movimento LGBT, para acompanhar avalar 2 mplomenlazao o BSH. Para um Faleério das ages de MEC no biér 2005-2006 no Ambo do BSH, vide: JUNQUEIRA etal. 2607 8 FOUCAULT, 1876 [1888 Vide também: BUTLER, 2008: 101-102. 10"A inguagem, as tia de organizagSo 0 de classiicagSo, os distnios procedimentos das ciscipinas scolaes sao, tds, campos de um exercicic (desigual) de poder. Curieslos, regulamentos, ncvumentos fe avalagao e orcenamento divider, Merarguzam, swbordnam, logtimam ou desqualicam os sujetos (OURO, 20085" 4°85) Vide também: SILVA. 1996 17 A inesstincla de um arsenal consistente de dados acerca da homofobia nas escolas basleas no & indice da Inoxsténia do problema, Polo contro, a Romolabia isitucional tem almentado, etre mutos 16 Homofobia na escola: dados preliminares ‘Tratamentos preconceituosos, medidas discriminatérias, ofensas, constran- gimentos, ameagas ¢ agressdes fisicas ou verbais tém sido uma constante na vida escolar ¢ profissional de jovens e adultos LGBT: Essas pessoas véem-se desde cedo 4s voltas com uma “pedagogia do insulto”, constituida de piadas, brincadei- ras, jogos, apelidos, insinuagdes, expresses desqualificantes — poderosos meca~ nismos de silenciamento e de dominagio simbélica. Por meio dessa pedagogia, estudantes aprendem a “mover as alavancas sociais da hostilidade contra [2 ho- mossexualidade] antes mesmo de terem a mais vaga nog30 quanto ao que elas se referem” (SULLIVAN, 1996: 15) A esse respeito, Denilson Lopes (2003) observa que um garoto pode ser ob jeto de escémnio por parte de colegas e professores (“o veadinho da escola”) antes, mesmo de identificar-se como gay. Em tal caso, tender a ter seu nome escrito em banheiros, carteiras e paredes da escola (CAETANO e RANGEL, 2003), permane- cendo alvo de zombaria, comentérios e outras variadas formas de assédio e violéncia 20 longo de sua vida escolar. A pesquisa “Peril dos Professores Brasileiros”, realizada pela Unesco, entre abril e maio de 2002, em todas as unidades da federasio brasileira, na qual foram entrevistados 5 mil professores da rede piiblica e privada, revelou, entre outras coisas, que para 59,7% deles é inadmissivel que uma pessoa tenha relagées ho- mossexuais ¢ que 21,2% deles tampouco gostariam de ter vizinhos homossexuais (UNESCO, 2004: 144, 146). Outra pesquisa, realizada pelo mesmo organismo em 13 capitais brasileiras ¢ no Distrito Federal, forneceu certa compreensio do alcance da homofobia no espa- 50 escolar (nos niveis fundamental e médio). Constatou-se, por exemplo, que: ~ © percentual de professores/as que declaram no saber como abordar os ‘temas relativos @ homossexualidade em sala de aula vai de 30,5% em Belém 2. 47,9% em Vitoria; ~ acreditam ser a homossexualidade uma doenga cerca de 12% de professores/ as em Belém, Recife e Salvador, entre 14 ¢ 1796 em Brasilia, Maceié, Porto Allegre, Rio de Janeiro ¢ Goifnia e mais de 20% em Manaus e Fortaleza; ~ nao gostariam de ter colegas de classe homossexuais 33,5% dos estudantes de sexo masculino de Belém, entre 40 e pouco mais de 42% no Rio de a postura de mareada indforenga ou tabor © quadto de preconceit,sserminagao.e volene' homotabe, Ineapacidade de per- 7 Janeiro, em Recife, Sio Paulo, Goidnia, Porto Alegre ¢ Fortaleza e mais de 44% em Maceié e Vitoria; ~ pais de estudantes de sexo masculino que nao gostariam que homossexuais fossem colegas de seus filhos: 17,4% no Distrito Federal, entre 35% ¢ 39% em Sio Paulo, Rio de Janeiro ¢ Salvador, 47,9% em Belém, e entre 59 a 60% em Fortaleza e Recife; ~ estudantes masculinos apontaram “bater em homossexuais” como o menos grave dos seis exemplos de uma lista de agdes violentas (ABRAMOVAY et al., 2004: 277-304). ‘Uma pesquisa sobre o perfil sociopolitico dos/as participantes da Parada do Orgulho GLTB na cidade do Rio de Janeiro, em 2004, revelou, entre outras coisas, que a discriminasio de cariter homofébico nas escolas “assume dimensdes de uma epidemia grave quando as vitimas sio muito jovens”: “Nada menos do que 40,4% dos adolescentes entre 15 ¢ 18 anos foram vitimas dessa experiéncia. Entre jovens de 19 ¢ 21 anos, 31,3% referiram-se a discriminagées na escola ou na faculdade” (CARRARA c RAMOS, 2005: 80). E inegavel a importincia de novas sondagens para verificar, por exemplo, se tais cifras ndo poderiam apontar para cenirios ainda mais draméticos se os universos considerados fossem paisagens interioranas, cidades situadas em regi es economicamente deprimidas, centros educacionais de formagao teenolégica © agricola, entre outros. Seria necessério poder comparar as possiveis diferengas nas manifestagbes € nos em escolas publicas, confessionais ¢ militares, no sistema formal e informal de educagao de adultos ete. ‘os da homofobia em escolas de periferia e de elite, ‘Um meticuloso confronto com 0 panorama internacional também seria al- tamente recomendado. O crescente mimero de pesquisas realizadas em larga es- cala sobre juventudes LGBT em diversos paises oferece no apenas informagies, mas metodologias de investigagao e de atuacio. Em muitos deles, organizam-se T7 Ouvas peaqulas revelaram incidénciaigualmente elovada de homotobia nas escolas braleras. Na 8 Parada Livre de Porta Alegre, em 2004, 2 escola compareceu em primeira lugar como esparo de ce- tfminagae conta LGBT. Cerca do 40% do jovens do 1s a 21 anos aporlaram cserminagte por pare Ge docentes © zolegas (KNAUTH et al, 2008) Em 2005, na 9" Parada GLBT de Sao Paub, 326% cas Pessoae (447% dos homens bssevuale) denticaram escola ¢ facadade com espages de marginelza- flo © exclusdo de LGBT « 32.7% colrram diseiminagao por parle de docontes ou colegas (CARPARA Stal, 2006: 40-42) No mesmo ano, na 8" Parada de Belo onzone, a escola igurou como a inatiuigso om macrfrequéncia de man‘estacdes home'sbicas: 345% declararam softer aleauertes ou eventuais ‘izermmnagcas ~ 2 escola perde apenas para espapos nacinsitucionas locals pulleos e de dvarese (PRADO etal, 20085), 18 redes de ativistas e educadores! ¢ implementam-se politicas pitblicas antidiscri- minatérias,"* na esteira de uma agenda dos direitos humanos promovida cada vez mais em niveis extranacionais.® Género e homofobia: o caso da masculinidade hegeménica Orquestrados pela heteronormatividade, os processos de construgio de sujei- tos compulsoriamente heterossexuais'® se fazem acompanhar pela rejeigio da ho- ‘mossexualidade (LOURO, 1999: 27), expressa por meio de atitudes, enunciasdes € comportamentos, no raro, abertamente homofébicos. Disto resulta que “homem que é homem bate em veado”. E embora para a instituiso heteronormativa da se~ qiiéncia sexo-género-sexualidade concorram diversos espasos sociais ¢ institucionais, parece ser na escola ¢ na familia onde se verificam seus momentos cruciais. Assim, é razoavel supor que, na escola, a homafebia produza efeitos sobre tado 0 alunado Neste ambiente (c no s6 aqui), os processos de constituigo de sujeitos ¢ de produsio de identidades heterossexuais produzem e alimentam a homofobia e a mi- soginia, especialmente entre os meninos ¢ os rapazes. Para eles, o “outro” passa a ser principalmente as mulheres ¢ os gays e, para merecerem suas identidades masculinas © heterossexuais, deverio dar mostras continuas de terem exorcizado de si mesmos 4 feminilidade ¢ a homossexualidade (LOURO, 20042: 82; DIAS e GAMBINI, 1999: 176-179). A disposigao deles estara um inesgotivel arsenal “inofensivo” de piadas brincadeiras (racistas, misoginas e homofobicas)."” E eles deverdo, entre utras coisas, ser cautelosos na expresso de intimidade com outros homens, conter T3 Por ex; The Global Aliance for LGBT Edveaion (GALE): Gay. Lesbias (GLSEW), nos EUA: Gay and Lesbian Educators of Brith Columbia (GALE-BC), ro esti educational Equly (GLEE Projet), na Undo Europea Tanster of Information to Combat Dis enmnaton Against Gays and Lesbians in Europe (TRIANGLE), na Alemanna, Austra, Holanda e Ila Fespocime, no Reino Unise. centanas de programas coms: larvay Mik Senco! em Nova York, Tangle Program. etm Toronto, Camp fYrety, em Edmonton (Canada) ete 14 Com cistnios graus de consisténcia, medidas om favor dos des de LGBT vém sendo adotadas em SFerertes nivale governamertais admiisraves em multos pases: Unido Europsla, Austral, Nova Ze Hindi thas Fl, Area do Sul, EUA, Canad, Argentina, Colombia, Equador e Mesico, erre outs. 15.0 “Prineipas de Yogyakarta” (2006) 20 um bom exemple (www.yogyakeriapincples-oalprinciples_ spd Valo observa” ainda quo 0 Brasil tom sioo um importante ator neste conde. O pals fovou o toma para a Conlerancia Regional das Améicas (Santiago, 2000) defendau-e na Conterénaia Muna conta S-Racismo, a Discrminacso Racial, a Xenc‘abia ¢ Formas Covelatas de Intlerancia (Durban, 2001). Em 2008, apreseniou a Resolugso Orientagse Sexual © Dieios Humanos’ no Canselho de Diels Humanoe da ONG e 6 signatiio das ‘Declararoes” da Nova Zelindia (2008) ¢ da Noruega (2008). © programa ‘Brasil som Homotobia" const um marco para‘ formulagaa de policas publeas nesta area. 16 Score a *helerossoxualzapio compute’, wae: BUTLER, 2003, 17 ais brincadeiras camullam inirias 6 nsuls, auténics instrumentos de objtvario (BOURDIEU. 1983 73), Sto joges de poser gue marcam a conscignea,acrever-ve no corpo'e namemora e moldam Ae Telagaes cam o munde (ERISON, 2008:27-26) Sobre inculos, Vide ‘amber FLYNN, 1977: PRESTON, © STANLEY, 1987. Sobre a ambigidade do papel do humor ni altmacao ou na eiea a esteredipes & hrerarauizagéos opressivas ido, por ox: POSSENTI. 2001 72-74, 20088 « 2002b: 227-238, 19 a camaradagem e as manifestagdes de apreco ou afeto, e somente se valer de gestos, comportamentos ¢ idéias autorizados para o “macho” (LOURO, 1999: 28). A revelia, portanto, de toda a problematizag’o das nogées correntes de masculino ¢ feminino ¢ das transformagées no plano das subjetividades (GID- DENS, 1993; HEILBORN, 2004), ainda prevalece, na cotidianidade escolar da maioria desses rapazes, um arsenal heteronomativo (composto de enunciagées, dis- cursos, representag6es, significados ¢ adogées priticas) que, ao ensejar a constru io € 0 exercicio da masculinidade, os vincula a um conjunto de representacoes € priticas ligadas a um modelo de “homem de verdade” (NOLASCO, 1995, 1997; WELZER-LANG, 2001: 468). Nesse universo, um modelo especifico de mascu- linidade € considerado como algo a ser duramente conquistado pelos individuos do sexo masculino, a0 passo que a feminilidade, com certa freqiiéncia, é percebida como um “componente natural [e exclusivo] da mulher”, reafirmada nas gravidezes «¢ nos partos (BADINTER, 1995; ALMEIDA, 1995). Ao longo desse processo, ocorre a internalizagdo de um conjunto de dispo- sigdes sociais que se naturalizam nas dindmicas das relagées cotidianas tomam formas visiveis nas maneiras de ser, portar-se, andar, falas, gesticular, manter 0 corpo, pensar, sentir e agir das pessoas (BOURDIEU, 1983, 1999). Os rapazes s20, assim, continua e insistentemente submetidos a vigilantes avaliagSes e negociasées com vistas a reafirmarem de maneira performética suas masculinidades heterossexuais ¢ obterem a aprovasio e a validasio por parte de outros homens, ja que “nada garante sua confirmagio para todo o sempre” (NASCIMENTO, 2004: 107). Miguel Vale de Almeida (1995) mostra que a masculinidade hegeménica se constitui, entio, como um modelo ideal, praticamente irrealizavel, que subordina ‘outras possiveis variedades de masculinidades ¢ exerce um efeito controlador no processo de constituisio de identidades masculinas. Realizadas em Pardais (vilarejo alentejano), suas pesquisas encontram eco em outras produzidas no interior brasilei- 10," que mostram rapazes permanentemente submetidos a “processos de provasio” que, em geral, se constituem de LJ demonstrasées de forga, destemor e vrilidade que constro- em a honra de um homem perante a sociedade ou grupo em que vive. A falta de um desses itens obviamente coloca em risco a honra masculina, construida em contraposigio a determinadas caracteristicas femininas que um “homem de verdade” jamais deve dar indicios de ter (SABINO, 2000: 92), ‘Te Para um convaponto, el: FERREIRA, 2006, 20 Com efeito, como nota Roberto Da Matta (1997) em um estudo sobre a construsio € 0 exercicio da masculinidade em uma pequena cidade brasileira, os rapazes, 20 serem submetidos a rituais inerentes ao “ser homem’, ficam expostos a dividas, incertezas ¢ angistias relativas 4 confirmagio de “néo ser mulher” ¢ “nem ser veado”. Assim, a0 longo da construgio de repertérios de masculinidades adolescentes, “o siléncio masculino acerca dos afetos ¢ das emogdes, como um, territério nao explorado, muitas vezes ¢ causador de atitudes e de comportamen- tos ligados a violéncia, 4 cultura do risco ¢ da coersao” (NASCIMENTO, 2004; 109). Qualquer enternecimento ou preocupagao com a seguranga podem ser vis~ tos como atributos desvirilizantes. A construsio da mascunilidade dentro do quadzo das normas de género © da heteronormatividade (¢ outros arsenais) configura-se, portanto, em um processo dotado de altas doses de cerceamento, fazendo com que a parte dominante (0 ele- mento “masculino”) seja ironicamente “dominada por sua propria dominagio”, O privilégio masculino € também uma cilada e encontra sua contraposigio na tensio © na contensio permanentes, levadas por vezes ao absurdo, que impoe a todo homem o dever de afirmar, em toda ¢ qualquer circunstincia, sua viilidade. [..] ‘A virilidade, entendida como capacidade reprodutiva, sexual social, mas também como aptido a0 combate © a0 exercicio da violencia (sobretudo em caso de vinganga), é acima de tudo, uma carga (BOURDIEU, 1999: 64). Por isso, dentro e fora do espago escolar, a construgao do modelo hegeménico de mascunilidade costuma obrigar os que estio sendo provados a afirmarem diante dos demais suas virilidades por meio da violéncia fisica (SCHPUN, 2004), de de- monstragées de intrepidez ¢ de atos voltados a degradar ¢ depreciar o “outro” por meio de insultos ¢ humilhacées de cunho sexista, homofébico ou racista, que agem como mecanismos psicolégicos ou ritualisticos voltados a instituir ou a reforsar ‘suas auto-imagens ¢ identidades sociais masculinas ¢ viris (LEAL ¢ BOFF, 1996). A masculinidade ¢ disputada, construida como uma forma de ascendéncia social de uns ¢ de degradagao de outros. ‘Tenta-se, na competisio, feminilinar os outros: pelos gestos de convite sexual que transformam a vitima em “nmulher simbéli TW Sabre @Gaminago masculina’, vide: BOURDIEU, 1998, 1999 e BADINTER, 2005. Para uma refexso sobre a "masculindade hegeménica”e oulas masculnidades, vide: CONNEL, 2005, 2 ca’, pelas brincadeieas [.] pela competigio monetéva (J. Em todo caso, o recurso 20 tropo da homossexualidade ¢ recorrente. Psta é entendida como desempenho de um papel passive, pe- netrado, numa relasio fantasiosa, em que o “ativo” e penetrador rio perde, pelo fato, masculinidade (ALMEIDA, 1995: 189). Assim sendo, néo deveria surpreender que as ansiedades, as angiistias ¢ os medos de se perder o reconhecimento da virilidade sejam fontes inesgotiveis de sofrimento, Como, de resto, jé observava Bourdieu: Certas formas de “eoragem”[..] ~ como as que, nos oficios de construgio, em particular, encorajam e pressionam a recusar as medidas de prudéncia e a negar ou a desafiar o perigo com condutas de exibigio de bravura, responsiveis por numerosos acidentes ~ encontram seu principio, paradoxalmente, no medo de perder a estima ou a consideragio do grupo, de “quebrar a cara” diante dos “companheitos” e de se ver remetido 3 cate- ori, tipicamente feminina, dos “fracos’, dos “delicados”, das ‘mulherzinhas’, dos “veados”, Por conseguinte, o que chama- mos de “eoragem” muitas vezes tem suas raizes em uma forma de covardia:(..] basta lembrar todas as situagdes em que, para lograr atos como mata, torturar ou violentar, a vontade de do: rminagio, de exploragio ou de opressio baseou-se no medo “vi- nil" de ser exeluido do mundo dos “homens” sem fraquezas, dos que sio por vezes chamados de “duros” porque sio duros para com o proprio softimento e sobretudo para com o sofrimento dos outros [..] (BOURDIEU, 1999: 66). Os efeitos disso se faze sentir de modo transversal ¢ exponencial. O preju ino € geral; o desconforto, permanente; ¢ o risco de violencia paira constantemente no ar. E preciso, assim, atentar para o fato de que a légica de “homossociabilidade homofébica” propria de determinados espagos sociais (como bares, times e toreidas organizadas de futebol, forsas armadas, internatos, conventos, seminarios ete.) pode encontrar, no interior das escolas, novos meios e oportunidades para produzir, re- produzir ou alimentar mecanismos de discriminagio e violéncia contra estudantes mulheres, LGBT, bem como todo individuo cuja expressio de género parecer des- toar da tida como convencional. 22 ‘Vale lembrar ainda que, também em virtude desse processo de construsio de rmentes ¢ corpos afinados com tal modelo heteronormativo, se verificam a producio a distribuigio desigual social do “fracasso escolar” entre meninos € meninas. Tais produsio e distribuigio apresentam nexos com as diferencas inerentes aos processos de socializagio de meninos ¢ meninas (e, por conseguinte, de construgio ¢ hierar quizacio de identidades de género), alimentadas por estruturas curticulares € coti dianidades escolares que, por sua vez, reforgam ulteriormente ou sdo continuamente reforgadas por concepsées heteronormativas, Assim, nfo por acaso, meninos € ra- pazes tém apresentado maiores problemas em suas situagdes ¢ trajetérias educacio~ nais.2° Ou seja, a escola, ao discriminar formas nao hegeménicas de masculinidades, paradoxalmente, produz maiores dificuldades no desenvolvimento de capacidades comumente entendidas como atributos femininos, tais como ler e narrar histérias (WILSON, 2004).”! As meninas, por sua vez, sio geralmente levadas a adotar cer- tos tipos de condutas mais valorizadas naquela ambiéncia: passividade, obediéncia, calma, siléncio, ordem, capricho e mimicia (SILVA et al., 1999)”. E importante observar, no entanto, que pesquisas tém apontado que, aliada a outros fatores, a formagio escolar pode contribuir para promover movimentagSes neste cenétio, Mesmo no universo rural e em pequenos centros, verifica-se entre os rapazes que apresentam maior interesse e logram prosseguir os estudos uma ten- déncia a incorporagéo de modos de agir que os afastam do centro gravitacional que ‘© modelo masculino hegeménico representaria (ALMEIDA, 1995). Isto também vale para as mulheres em ainda maior proporsdo. Afinal, nota Bourdieu (2000: 105), por se encontrarem “menos apegadas do que os homens [...] & condigzo camponesa © menos empenhadas [..] nas responsabilidades de poder”, nao s6 se acham “menos presas pela preocupagio com 0 p se mostrar “mais dispostas em relag2o a educagao e as promessas de mobifidade que triménio a ‘manter”, como também acabam por 20 CORRIGAN, 185i; WEST, 1999; ROSEMBERG, 2001: 65. 2% Exstem ainda outros fatoree que, com frequéncla, vam menings erapazes a apresentarem plores rend- nts escolares @ a interompe‘ern au a abandonarem deitvamente seus estidcs Merecem mencéo 3 twplorapao do tabalho infant joven masculine romunerado o os lendmenosligados A-marculruragto 42 violncia", em que vemos sobretudo rapazes sevom avades para a crminaldade vena, exclundo-os 4a escola, na rao, prematuramente vida, Vide, por ex: WAISELFISZ, 2002: DOWDNEY, 2003, Para Uma erica das intorpratagaes que vincular, do modo mectnicoe linear, © nsucesso escclar das mer 30 rabaho doméstco, vide: ROSEMBERG, 2002: 217 22 Embora minora, © mau rendimento escolar femiino, por outro lado elorea 0 precanceito segundo © «ual as mulheres no dever fazer parte dos espajos ue consirupto do sabe. A reprovacao dos meninoe beluma ser pereacida coma “clea do moleque’ coisa da dado "Yobald’ a dag moninas, como smal fe "surice”« "neampelanci”, o que evdenciia que elas ‘neo dao para a colse’e-restarhes apenas Siar (ABRAMOWICZ, 1995.45}. Alem dasa, rao poderos esquecer que, mesmo quando as meninas Spresentam indees de desemponho escolar relatvaronte superior aos de moninos. ambos connuam Stbmetidos aos canones heteronormatvos. A corstupdo das Temiiidades o das rasculnidades na e Sola careve de estudos mals abrangertes aprotundacos, bem como de re'erenclaa mais plas @ Senaivels 4 desestalizarao e a superapio des desigualdades de gonero ras rlagées escolares (REAY, 2001; CARVALHO, 2005: 271), 23 ela contém’ e ~ 0 que é crucial ~ mais motivadas 2o trabalho de reestruturasao de suas percepsdes do mundo social ¢, com isso, de relativizasao das referéncias rigidas ¢ absolutas que 0 povoam.> Homofobia e estudantes LGBT” Embora produza efeitos sobre todo 0 alunado, € mais plausivel supor que a homofobia incida mais fortemente nas trajet6rias educacionais e formativas ¢ nas possibilidades de insersao social de jovens que estejam vivenciando processos de construgio identitiria sexual e de género que os situam & margem da “nor- malidade”. E dificil negar que a homofobia na escola exerce um efeito de priva- io de direitos sobre cada um desses jovens. Por exemplo: afeta-Ihes 0 bem-estar subjetivo;? incide no padrio das relasdes sociais entre estudantes e destes com profissionais da educagao (HUMAN WATCH, 2001); interfere nas expectati- vas quanto ao sucesso ¢ a0 rendimento escolar; produz intimidacio, inseguran- ‘a, estigmatizagao, segregacio ¢ isolamento; estimula a simulagao para ocultar a diferenga (MARTIN, 1982, CAETANO, 2005); gera desinteresse pela escola; produ distorgZo idade-série, abandono e evasio; prejudica a insergao no mercado de trabalho; enseja uma visibilidade distorcida; vulnerabiliza fisica e psicologi- camente;”* tumultua 0 processo de configuras2o ¢ expresso identitaria; afeta a construgao da auto-estima; influencia a vida socioafetiva; dificulta a integrasa0, das familias homoparentais e de pais € mies transgéneros na comunidade escolar « estigmatiza seus filhos/as.” 25 Tambam hos giandes cents brasletos © ginero @ as normas de género reatrman-se como orgaiza- ores da ‘apreensio sobre a homossexualdade, aiculandovse com ouras varavols, lis como nivel de ‘ecolaridage chsse, ragaleina,religso, ade ole A pesquien Gravad confmou Uma meno” rejogso & homossexuaidase ene as mules: cerca de um targa delas a ojeltam, coma a quasa metada dos ho- mens (apenas entre perteccsalsascitas quase se igualam).A acetaao da homcssevualgade aumeria & mmoada que se elovam os nivels de escalandade e de enda, mas em proporgdes asinias segundo ® S0Xa) {onero: aprosentam postura mais aberla cetea de 80%. das mulhores'e 697 do homens curas maes tom vel superior. Eire os homens, mantém-se alta a defi da Remossexualidaco como "doonga"= 22.7% Conta? das mulheres, ecremamenre ata algae ene os hemene com Daixaescolardage entre ‘be que Anda nao se mesaram sexualmente: 72,0% © 657A pesqusa lo fealzada, rm 7002, com overs 6& 482.24 anos. em Port Alegre, Flo de dani e Salvador. Vide: HEILBORN etal, 2008: 224-227 © segs 24 Fallam pesquieas no Brasil sobre 08 efioe da homotabia sobre o profesorado homosexual, bissoxu lravest transexual, mult embora se possa supor que vio mulfoalém ce questdes de order tabalhsta Para um conjunto estimulante de festomurhos de professoresias LGBT nos EUA, vide: JENNINGS, 2005, 25 Sobre berestar subjetivo, vide: HAYDEN e BLAYA, 2002; RANGEL. 2004: eobre “bullying”: TATTUM, 1999, 26 A comunidade escolar, em geval, tom ge demonsiado mals aberta para dculr a sexualdade no plano Ga provencao e nia na da premogao da sade ou no dos atts Mumanos. As difeuleades da escola om Uanscende’ esses Iinites © abordat mals corajosamente questoes relaivas = sewvaldade, dversidade Sexual, sexlemo, miogina, homafobla'e raclemo expoem ovlesestudantes a svagées de mao" vlnera: bildage liven e psicoleges,nclusve om rolagao & sade soxval eroprodutya, 27 Vide: BRICKLEY ot al, 1999; BAUER ¢ GOLDSTEIN, 2003, 24 Inegavelmente, os casos mais evidentes tém sido os vividos por travestis ¢ transexuais, que tém, na maioria dos casos, suas possibilidades de insersao social seriamente comprometidas por verem-se privadas do acolhimento afetivo em face as suas experiéncias de expulsdes ¢ abandonos por parte de seus familiares ¢ amigos (DENIZART, 1997; PERES, 2004; ST] se somar outras formas de violéncia por parte de vizinhos, conhecidos, desconheci dos e instituigdes. Com suas bases emocionais fragilizadas, elas e eles, na escola, tém BCZ, 2003). A essas experiéncias costumam que encontrar forsas para lidar com o estigma e a discriminagio sistematica ¢ os tensiva por parte de colegas, professores/as, dirigentes e servidores/as escolares. As experiéncias de chacota ¢ humilhasio, as diversas formas de opressio e os processos de exclusio, segregasdo e guetizag2o a que estio expostas travestis € transexuais constituem um quadro de “sinergia de vulnerabilidades” (PARKER, 2000) que as arrasta como uma “rede de exclusio” que “vai se fortalecendo, na auséncia de ages de enfrentamento a0 estigma e a0 preconceito, assim como de politicas piblicas que contemplem suas necessidades basicas, como o direito de acesso aos estudos, & profissionalizagio e a bens e servigos de qualidade em saiide, habitagio e seguranga” (PERES, 2004: 121; BOER, 2003). Nas escolas, néo raro, enfrentam obsticulos para se matricularem, participarem das atividades pedagégicas, terem suas identida- des minimamente respeitadas, fazerem uso das estruturas das escolas (os banheiros, por exemplo) e conseguirem preservar sua integridade fisica”” E acaciano dizer que tais dificuldades tendem a ser ainda maiores se pessoas homoeréticas e/ou com identidade ou expressio de género fora do padrio con- vencional pertencerem ainda @ outros setores também diseriminados e vulneriveis (mais pobres, menos letrados, identificarem-se como mulheres, negros, indigenas, soropositivos, possuidores de uma assim dita deficincia fisica® ow mental etc.) ¢ nao puderem (ou nao quiserem) manter um estilo de vida sintonizado com a cele- bragao hedonista do “ser jovem” e ter um corpo “sarado”.* iaatem em dizer que ainda h4 escoles sem banheirs e que essa ceveria ser noseapriot- lg pouco adiantara a Wavests Vansexuals consturmos banelfos em eacolas nas quale nao hes serd gafantdo © dreto de acesto, Valo lembrar que a espacialzagt, que pressupee Interdibes'e naturalzagdes, ¢ um dos procedimentos crucas dos dlspostvos de poder 28 € preciso, no enlanto, embrar de importantes experdncias educacionas de inclusio e permanéncia de travesti © tranconis. O “Crealo de Letras ~ Um Sonho Possivel na Intusto do Tranegbneros, de= Semvolvdo pela Secrearia Municipal de Educayéo de Sao Paulo, om 2003. chegou a receber © sek da UUnesce como projeto que pode ser apresentads come modelo (SAO PAULO, 2008 sid), 30 E necesséro atontarse para as ifculdades de pessoas homassexuais com defiiéniatisca para encon- ‘tatem parceros/aeerealzarer-aeafstva e sexvalmente em comundadet gays. no meror dae quae vige luma ulfavalizagao da beleza fs, Tal quadro fol mt bem Vatado em dois doeumentaros: “one Night St" (Carmelo Gonzales @ Diana Natal, 2UA, 2004) 0 “Untold Desires” (Sarah Barton, Auctaia, 1984), Evidentements alfendmeno nao se enconita creunssrto a essae comuniaavee, 131 A obsessio pel corpo “earado” nfo necessaramente saudivel) gravita em torro de uma nova moralida: de que, paradoxalmente, quanto mais propugna 2 autonoma individual e 2 Hbettagaofsea ® sex mats 58 susmote e se conorma a um determinade padrao ostéico corporal: da ‘boa forma’ (GOLDENBERG, 2002: 28), Sobre & ese, 0 amor 8.4 amizade no “universe gay", vide: EUGENIO, 2008, 158-176 28 Ademais, é preciso no descurar que a homofobia, em qualquer circunstancia, é fator de sofrimento™ e injustiga. Também por isso, 0 astucioso argumento de que cla seria “menos grave quando nio produz baixo rendimento, evasio ou abandono escolar” deve ser enfaticamente repelido, Afinal, inseridos/as em um cenario de stress, intimidagio, assédio, nao acolhimento ¢ desqualificagio permanentes, adolescentes € jovens estudantes homossexuais, bissexuais ou transgéneros sao freqiientemente levados/as a incorporar a necessidade de apresentarem um desempenho escolar ir- repreensivel, acima da média. ‘Tal como ocorre com outras “minorias”, esse/a estudante tende a ser constan- temente impelido/a a apresentar “algo a mais” para, quem sabe, “ser tratado/a como igual’.®* Sem obrigatoriamente perceber a internalizagio dessas exigéncias, € insta- do/a a assumir posturas voltadas a fizer dele/a: “o melhor amigo das meninas’,"“a que di cola para todo mundo", “um eximio contador de piadas", “a mais veloz nadadora’, “0 goleiro mais 4gil” ete. Outros/as podem dedicar-se a satisfazer a estar sempre A altura das expectativas dos demais, chegando até mesmo a se mostrarem dispostos/as a imitar condutas ou atitudes convencionalmente atribuidas a heterossexuais. ‘Trata-se, em suma, de esforgos para angariar um salvo-conduto que possibi- lite uma incluso (consentida) em um ambiente hostil. Uma fragil avolhida, geral- mente traduzida em algo como: “E gay, mas é gente fina’, que pode, sem dificuldade ¢ a qualquer momento, se reverter em “E: gente fina, mas é gay”.** E af, o intruso é arremetido de volta a0 limbo. Como nota Marina Castaieda (2007: 152-153), essa frenética busca de “supercompensasio” ~ fonte de ansiedade, autocobranga ¢ TORAIGAN, 1991 @ BLUMENFELD, 1992. € preciso lembrar que importantes aetudo ‘ona Amica do Norte mostam que a inadénca do sco Go sulcalo maior entre homossexuals (om Tung29 da homolebia © no em Viti 4e de uma implausvel associagao raturalzante entre homossenualdace e comportamento sulla) NOs BUA, 62.5% dos adcletcentes Gue fertam eu sto homosexuals Ale no Canada, pescoas ene 1S 34 ance homoseenuais tom de 4 27 vezes mais neces de se suedarem oo que seu coetaneos nee Tossexuas. se raco ¢ acrosedo de 0% no easo das lovers lesbieas [BAGLLY © RAMSEY, 1997). Na Franga, onde 9 tui 6 a segunda causa de moves entre pessoas de 15 a 34 anos, a8 possoidades {de um homessexualterminar com sua visa 6 13 vozes maior do quo as de um seu coetang0 heterosexual fe mesma conaiqao secal De cada vés navidues que cometem ua ‘ertaiva de suclaa, um & homos- Sexual (Libérabon, 07/03/2005). Al a tentarem sucido pelo menos uma ver 27% cos joven menores 4e 20 anos que so declaram homocsexunis. Cela cia velalzn-se om tomo dos (de todo modo ats) {Ses ene omaceexusis com male de 25 anos. Togas eas, porém, 2ofrem um incremerto nae cagce ave se verica rejeigc famiare. ainda mas, nagusles em que ofa jovem fenha sido viima de agresst0 Romafébea (VERDIER e FIRDION, 2003) Alasta-so, ass, todo vinculo causal ee homossexualdado omportament sucis a contaria, 0 que se observa 60 impacto da homfoba na denga dos insces fe suciies (WILLER. 1982). 138 Sobre as estralégias adotadas por LGBT am lace das sungSes de violéncia homolébica no cotano tescdlar vice, por ex: HUNAN WATCH, 2001: Rem IV: GAETANO, 2005; RAMMIAES NETO, 2006: cap. 4 134 Nio so tala apenas de uma dierensa de estilo. Esta frase e a antrior. embora pertenpam & mesma “ormagao idelogia’ integram dferertes “ormapses decursvas™ ambas exoressar-se lgualmente he ‘motdoles, mas apor'am para a producao de elotesdfrentas Vale anda notar que legal porque & 327” ‘ambém exprave proconceio em relagso & Romossexualsaso, Vise: ORLANDI, 4987: 195-739, passim, 26 perfeccionismo exagerados ~ ndo impede que qualquer insucesso do candidato seja logo traduzido como sinal inequivoco de seu “defeito homossexual”.’* “S6 podia ser gay mesmo!";“E assim que eles sio!"® Alheamento e intolerancia selvagem Outro nitido trago de homofobia se expressa na indiferenga cultivada em relapio a0 sofrimento e aos demais efeitos da homofobia na vida de nossos/as estu- dantes (homo, hetero ou bissexuais).” Na escola, mas nfo apenas ali, [clomo se a homossexualidade fosse “contagiosa’, eria-se uma grande resistencia em demonstrar simpatia para com sujeitos homossexuais: a aproximasio pode ser interpretada como uma adesio a tal pritica ou identidade (LOURO, 1999: 29) ‘Mais do que uma mera indiferenga, produto de uma difusa negligéncia, o que se ve aqui assume mais os contornos de uma vedagdo a manifestagao de simpatia ou solidariedade, Uma proibigao socialmente sancionada que, entre outras coisas, contribui para fortalecer os processos de internalizasio da homofobia. Uma vez introjetada, ela pode conduzir a pessoa a se sentir envergonhada, culpada ¢ até me- recedora da agressio sofrida, mantendo-a imobilizada, em siléncio, entregue a seu destino de paria social. A violéncia propriamente dita soma-se a “violéncia simbéli- ca’ fazendo com que a propria vitima contribua para a legitimacio da agressio ¢ favorega o agressor ¢ os seus difusos ciimplices A falta de solidariedade por parte de profissionais, da instituisa0 ¢ da comu- nidade escolar diante das mais corriqueiras cenas de assédio moral contra estudantes LGBT pode produzir ulteriores efeitos nos agressores ¢ nos seus ctimplices. Além de encorajados a continuarem agindo, aquiescendo ou omitindo-se, sio aprofunda~ dos em um processo de “alheamento” que, segundo Jurandir Freire Costa 5 Iésbicas, a adogao de préteas compensattias deriva em gtande pare da presto eda ‘olorea a que esto submeidas no amvontefamiar (ALMEIDA, 2005 161,279), S80 comune o¢ dopa Tontos que apresoniam pessoas LGBT come "fihos dodicados™, mae atencosas”, amos do fami, 36 114 muitos relatos sobre estudanes superaelados,chamalios demas, provocanes’, "retadgos, “sempre pronos para responder & menor insmuaga'Tata-se de alguém em contin (e desgacant) estaco deals {erternando auges quo, 20 més merecaam ser acalndas como um decteperado pec de ayuda 47 0 termo “indterenga” 6 neste caso empregado como sinGrimo de auséncia de intereste ou preacupagso f nao no sentido auctad por Halvorsen (1996), que oportunamente, em outa conte, relere-se 8 vis. dade inaterene” como resulado da congulsta pelosias homossoxuals da igualdase de dieloe 38 Score volénea sknbélea, vide: BOURDIEU, 1983, 1989, 1992 6 1999. Sobre “homotaba iteviozada’ ‘ide! BORRILLO, 2001: 167-111; CASTANEDA, 2007: 182-156, 27 [.-] consiste numa atitude de distanciamento, na qual a hos- tilidade ou 0 vivido persecutério sto. substituides pela. des- qualificasia de sujito come ser moral. [..] significa nio vé-lo como um agente auténome [...] um parceito [..] ou, por fm, como alguém que deve ser respeitado em sua integridade fi- [uJ No estado de alheamento, o agente da vio- Iéncia ndo tem consciéncia da qualidade violenta de seus atos (COSTA, 1997: 70) Este alheamento esvazia o sentido da vida, alimenta o cinismo, anestesia as sensibilidades em relasio as injustigas, conduz & naturalizagio do inaceitavel, pro duz uma resignagio ao intoleravel ¢ mina os parimetros éticos ainda subsistentes. ” nao exclui o estado Importante observar que a “indignagio narcisica”™ de “alheamento”, mas costuma, a0 contrétio, acompanhé-lo, realimenté-lo ¢ ser um forte indice da sua existéncia, pois € uma forma de indiferenga ¢ de negacio em relagio 20 sofrimento de toda pessoa que nao ¢ identificada como uum dos seus “iguais” Na Franga, pesquisas com jovens vitimas de injiria de natureza abertamen- te homofébica revelaram que, em todos os casos, foi uma constante a indiferenga ou a passividade dos adultos circunvizinhos. Isso foi, com certa freqiiéncia, expe- rimentado pelas vitimas como mais traumatizante do que o préprio traumatismo em si (VERDIER e FIRDION, 2003). Nunca ¢ demais sublinhar que este estado de negasio constitui, pelo menos, uma forma passiva de homofobia, Ao lado disso, ¢ preciso lembrar da “violencia selvagem’, que Umberto Eco (2000: 18) avalia como a mais perigosa. Trata-se daquele tipo de intolerancia que, “na auséncia de qualquer doutrina, nasce dos impulsos mais elementares” e, por isso, ¢ dificil de ser combatida, uma vez que apresenta alta capacidade de sobre- viver a qualquer objecéo critica e, assim, de resistir aos fatos que a desmintam. Parafraseando Tzvetan Todorov (1999: 37) quando este aborda 0 anti-semitismo, podemos afirmar que, especialmente em situagdes como essas, sujeitos homosse- xuais sio perseguidos nao pelo que fazem, mas simplesmente pelo que sdo: pessoas, homossexuais. Nao por acaso, parte importante das expressées de édio homofébi- co encontra-se precisamente no terreno dessa forma de intolerincia {By Expreseds adtada por Mara Aparecida Berto para denominar um estado de descontorte,inconformisade furreota vvereado por alguém somente so asuposta ilme de alguma inustiea 6 por elela Iotiieada ome pertencente a0 Seu mosrro grup Vide: BENTO. 2008: 25:57, 28 Uma pessoa que carrega um cartaz dizendo “Deus odeia as bi- cas"; que acha repugnante qualquer associas0 com homos sexuais simplesmente porque eles sio atraidos por pessoas do mesmo sexo; que maltrata, despreza ou procura prejudicar os homossenuais porque acredita que eles néo sio completamen- te humanos; que persegue, assalta ou assassina homossexu- 2is por paixio, por medo ou por um ddio inexplicivel, nfo & uma pessoa com um argument E uma pessoa com um sen~ timento. Nao ha nenhum argumento possivel contra tal pes soa, pois um argumento no seria uma resposta apropriada (SULLIVAN, 1996: 28). ‘Mesmo diante da dificuldade de dissuadir racionalmente alguém embebi- do de édio homofébico, uma sociedade democritica e suas instituigdes (inclusive a escola) devem envidar esforgos para coibir ¢ impedir que a sclvageria intoleran- te cause ulteriores sofrimentos © para diminuir os efeitos que cla possa ter (até mesmo na alimentagio do desprezo ¢ do édio em relasio a outros grupos) Como casos extremos como esses ndo costumam ser a regra, ¢ importante criar, nos espagos de formagao, oportunidades de fala e de reflexdo com vistas a fornecer recursos simbélicos as pessoas envolvidas nos encontros ¢ nos de- sencontros com a diferenca. Sistematicamente se negligencia, porém, que isso deve valer especialmente para aquelas com enormes dificuldades para lidar com © sentimento de insuportabilidade que 0 contato com a diferenga thes provoea = sobretudo em fungio do “retorno do recalcado”. Por mais dificil que seja (e para algumas pessoas isso é ultrajante), € preciso reconhecer que, muitas vezes, 4 pessoa preconceituosa apega-se As suas crengas, aos sistemas de disposicées socioculturais, para procurar responder a “ameaga” que a diferenga the parece representar, Tais sentimentos de insuportabilidade e inseguranga também cons- tituem uma forma de sofrimento, e recusar-se a percebé-lo equivale a desconsi- derar o papel da educagio e a continuar pensando e agindo segundo a légica do “narcisismo das pequenas diferencas” (FREUD, 1930 [1976: 81-171]), moralista, simplista e auto-referente. Esforgos pela promogao de uma cultura do reconhe cimento que nfo envolvam ou cativem atores situados em diferentes condigoes ¢ posigies nesse cenério tenderio certamente ao fracasso.”” 4B Rlocorhece a evcléncia desse sotimento no compora legitmar © nem mesmo atenvar a gravidade da ‘olancia conta pessoas LGBT, iso, nfelzmente, lem coomnco em agune paises fem especal nos EUR ‘tem acolhido a tese do “panico homossorual Segundo ela, por parte de um/a romossexual’seva respansavel po levar ala agfes" Sofa, do mareira sibita incontornavel. "perder 0 auloconol@ ataear a vitmaleulpada, 29 Regimes de (in)visibilidade ‘Todo esse quadro concorre para fazer da escola, como observa Guacira Louro, L.-J sem diivida, um dos esparos mais dificeis para que alguém “assuma” sua condigio de homossexual ou bissexual. Com a su- posigio de que s6 pode haver um tipo de desejo e que esse tipo = inato a todos ~ deve ter como alvo um individuo do sexo oposto, a escola nega ¢ ignora a homossexualidade (provavel; mente nega porque ignora) e, desta forma, oferece muito pou- cas oportunidades para que adolescentes ou adultos assumam, sem culpa ou vergonha, seus desejos. O lugar do conhecimento mantém-se, com relagio & sexualidade, como lugar do desco- nnhecimento e da ignorancia (LOURO, 1999: 30) O processo de invisibilizagéo de homossexusis, bissexuais e transgéneros no espago escolar precisa ser desestabilizado, Uma invisibilidade que é tanto maior se se fala de uma economia de visibilidade que extrapole os balizamentos das disposi goes esterotipadas e estereotipantes. Além disso, as temnaticas relativas is homos- sexualidades, bissexualidades e transgeneridades sio invisiveis no curriculo, no livro didatico e até mesmo nas discussdes sobre direitos humanos na escola. Essa invisibilidade a que estdo submetidas lésbicas, gays, bissexuais, travestis «€ transexuais comporta a sua exclusdo enquanto tais do espago pilblico e, por isso, configura-se como uma das mais esmagadoras formas de opressdo. E inquietante notar que alguém que nao pode exist, ser visto, ouvido, conhecido, reconhecido, considerado, respeitado e tampouco amado pode ser odiado.*! A tendéncia jé detectada em pesquisas consagradas segundo as quais a escola se nega a perceber e a reconhecer as diferengas de puiblicos, mostrando-se “indife- rente 20 diferente”, encontra, no caso de estudantes homossexuais, bissexuais ou transgéneros, sta expressio mais incontestavel. Professores/as costumam dirigir-se a seus grupos de estudantes como se jamais houvesse ali um gay, uma lésbica, um/a bissexual ou alguém que esteja se interrogando acerca de sua identidade sexual ou 4 Rnatogamente vale observar que, a0 conrrio do que erBem alguns, o racism e outas crengas¢ formas “oul” para vigorarm. O anda foto ant= "a evdoncia dio, O pals quace chaga aso” um cago do “ar-semtismo em judevs" por antonomaes, A maior eomunidage hebraica da Disepora (com mals de 22 minses Ge judous. om 1838) no passava, nos anos 190, de 215 ml incividuos. Nao por acaso, ambém & um pals de fries manestagSes homotdbless Para una andige do quado polonés vide: LIEGE, 2000, 42 BOURDIEU e PASSERON, 1870 (1982}: BONNEWITZ, 2008: 178, 30 de género. Impera, nesse caso, 0 principio da heterossexualidade presumida, que faz. crer que nao haja homossexuais em um determinado ambiente (ou, se houver, devera ser “coisa passageira’, que “se resolver quando ele/ela encontrar a pessoa certa’). A presungao de heterossexualidade enseja o silenciamento ¢ a invisibilidade das pessoas homossexuais ¢, a0 mesmo tempo, dificulta enormemente a expressio € © reconhecimento das homossexualidades® como maneiras legitimas de se viver ¢ se expressar afetiva e sexualmente (BECKER, 2005) ‘A promogio da exclusio das pessoas homossexuais, bissexuais transgéneros do campo de reivindicagées de dircitos € sistematicamente acompanhada pela cons: trugo de um conjunto de representagées simplificadoras ¢ desumanizantes sobre clas, suas priticas sociais seus estilos de vida. A invisibilidade aliada a uma visibi- lidade distorcida pode tornar-Ihes ainda mais titubeante ¢ doloroso 0 processo de construgio identitiria. Nao por acaso, entre muitos jovens e adolescentes verifica-se certa resisténcia ao emprego dos termos gay e lésbiea como forma de autodesigna~ ga0 identitaria (RYAN e FRAPPIER, 1994). As descobertas ¢ as experimentagdes sexuais vividas na adolescéncia, por me nos repressivo que seja o contexto em que se dio, nao costumam ser encaradas com ‘muita tranqiiilidade. Evidentemente, as dificuldades de se viverem as homossexu- alidades nesse periodo podem ser ainda maiores. Poucos/as jovens se sentirio vontade para se exporem ¢, nao raro, muitas dessas pessoas enfientario processos de profunda negasdo de sua orientagio sexual. Com isso, alimentardo as légicas de in- visibilizasao e, involuntariamente, reforgario as crengas alimentadas pelo “principio da presungio da heterossexualidade”. Essa presungio pode ser ainda mais forte em relasio fs jovens e faz. com que as estudantes lésbicas (e nao apenas elas) se tornem ainda mais invisiveis. O fato de a sociedade accitar certas manifestagoes de afeto entre as mulheres contribui para © reforgo de tal presungio. No entanto, tal aceitaso nio pode ser confundida com uma maior tolerdncia em relagio 4 lesbianidade. Pelo contririo, basta notar que 0 fato de as mulheres serem sujeitos historicamente relegados a um plano secundé: rio em praticamente todos os campos sociais agrava-se ulteriormente no caso das {By Rose desconaidoar un universe muito mas plurliaado, mliploe dindmico do que as eategoras “homes- sexual. "pomossexualdade”, ene outas, geralmente super, também se controul para produ invstbdago om rolazio as Homossowaldades. A esto popes Casa (1982: 44) cbsarva: “como a Me rossexualidade 6 ume rubiea que serve para designa fates tao Gsparatades (1, assim tamoam hom {enualaade designa experincias [em que] sequer @atrapto pelo mesmo sexo & suerte, enquamo pre= ‘eade datnitaio de cada uma dels. A dvrsidade do ine, sentmantose aulodelnigaes Ieluisos nessa ftiqueta, quando examinada de perla, mosta que a suposia homog eter] naca toma ver com a heterageneidade vida". Uma cola ¢ a valorzarao das identdades, fs ldabien para foralecdlas Carte o proconcete; oura 6 altar 2ue eis para todos 0s rdviduos homoerocamente a1 mulheres homossexuais. A invisibilidade lésbica (mais do que a feminina em geral) foi construida ao longo da Histéria (¢ na historiografia), nos discursos sobre a se- sualidade, a homossexualidade, a militincia ¢ a diversidade em geral. Vetores dis- criminatérios que operam no mundo social contra as mulheres em geral acirram-se rno caso das mulheres lésbicas (e ainda mais se forem lésbicas pertencentes a outras “minorias", produzindo em turbilhdo de vulnerabilidades).* E preciso perceber que, em reldo a lesbianidade, ests se tor nando mais aceito socialmente 0 tipo de par que reiine mi heres brancas,“casadas® (em relapio estivel), disparidade de classe ou gerasdo, ou seja, mais proximas aos ti- ‘pos socialmente valorados (BORGES, 2005: 23). O cerceamento do campo das possibilidades legitimas de expresso de uma identidade sexual nao inteiramente sintonizada com a heteronormatividade tam bem implica a invisibilidade e a dificil inclusto das pessoas bissexuais no campo das reivindicagbes de direitos civis. Nesse caso, as tensdes oriundas da construsao de uma identidade fronteiriga (comumente estigmatizada entre as figuras do “libertino”, do “indeciso” ou do “en rustido”), conduzem muitas pessoas bissexuais a operagdes em que alternam cons- tantemente o que tornar visivel ou invisivel (SEFFNER, 2004: 97). Isso, porém, ino significa que apenas bissexuais adotem (conscientemente ou nao) priticas de visibilizagao ou de invisibilizagao estratégica. Afinal, é acaciano lembrar que todas as pessoas vivem processos a0 longo dos quais se tensionam o piblico ¢ o privado. E preciso notar que o binarismo ¢ o essencialismo produzem, em relasio as pessoas bissexuais, dois fendmenos contraditérios ¢ complementares. De um lado, ha pessoas que, ao dividirem os contingentes humanos em “gays ou héteros”, de- ‘ER abidade Weblcas materialza-se ainda “tanto no menor nimero de estudos @ pesqulsas sobre a ‘vénclalsbica~ quando comparades aos estudos sabre homossexsaldade mascalna= quanto no alot Iiumare de homens com visi ado social © mitaneia homauvexdal osteneivas” (MELLO, 2008: 201), Vide [ALMEIDA, 2005: MUNIZ, 1892: PORTINAR, 1989, AICH, 7984, SWAIN. 2000, 45 0 que se dz por ox. acerca das lésbicas nogras? Quals representagses crculam sobre julas, mupulma- nas ou chinesae lebias? Seo tvtnlas as eronomiae de vstiideds, em face da raciahzagao da sexual dade do ou, 46 Sobre as lésbicas ‘mais masculnizadas”. iz Almeida (2005. 166): As Yanchas'[..][ém] cada vex menor lugar no cendsio das novas exlgenetas colocadas as lesoices. "| Embora ela posea curoeamente [eon sorvat um] lugar substanivo na cultura sexual das lésblea, [| ela 6 mabvinda,expocisimonte nas oa mmadas medias. para o eslabelecimento de rola;des duradouras o publcas. sso score lanfo por rejeicao steica das propriae parceiras, quanto por acusi mals viswelmente © Paco de relarges assimeticas ou ad, bo ening ws posibances de manpuleao do exigma (1 (pr mao) ae eatategan de 32 monstram dificuldades em aceitar a bissexualidade e véem-na como estratégia de ocultasao de uma “real homossexualidade”. De outro, uma ver. que, segundo a doxa prevalecente, “todo gay é afeminado” (ou que “toda Iésbica ¢ masculina’), nao é in- comum que entre homens bissexuais costume ser rechagada qualquer proximidade com as identidades homossexnais. Assim, nao raro, a construgio da masculinidade bissexual passa pela negaio de uma semelhanga percebida como ameaga. Com feito, entre os bissexuais, Seffner nota: A aproximasio com a homossexualidade, especialmente na sua face de homem efeminado, com trejeitos, € recusada de forma peremptéria, ¢ isto se expressa de forma muito clara nos antin~ ios, nos quais sio freqiientes referencias como “descartam-se bichas efeminadas, pré-travequinhas, entendidos afetados ou ‘outros metidos a mulher” (ibid: 99).7 Como podemos observar, aqui também as questdes referentes 20 género cemergem com grande forca, intrinsecamente vinculadas a outras relativas 4 orien- tagao sexual, em um campo minado por preceitos, preconceitos € tensdes, fon tes de ulterior sofrimento. Nao por acaso, dependendo, por exemplo, de como se delineiam as possibilidades de reconhecimento (entendido como aceitasio ¢ auto-aceitagao) das diversas orientagdes sexuais ¢ identidades de género, jovens ¢ adolescentes poderdo preferir atribuir-se ora uma ora outra identidade, inventar outras, recusar todas, ou aprofundar-se em um angustioso siléncio. Nao surpreen- de que muitos poderio autodesignarem-se “heterossexuais” mesmo quando man- tiverem quase somente relagdes homoersticas. © preconceito, a discriminagZo ¢ a violéncia que, na escola, atingem gays, Lésbicas e bissexuais e Ihes restringem direitos bsicos de cidadania, se agravam fem relagio a travestis e a transexuais. Essas pessoas, a0 construirem seus corpos, suas maneiras de ser, expressar-se e agit, ndo podem passar incégnitas. Por isso, indo rato, ficam sujeitas as piores formas de desprezo, abuso e violéncia. Nao por caso, diversas pesquisas tém revelado que as travestis constituem a parcela com maiores dificuldades de permanéncia na escola de insersio no mercado de traba- Iho em funsio do preconceito e da discriminasio sistemitica a que estio submeti- das (PARKER, 2000; PERES, 2004). Tais preconceitos ¢ discriminagées incidem diretamente na constituigao de seus perfis sociais, educacionais ¢ econdmicos, os ‘studos sobre as tenses relatvas & produgso de configuragbes dentaias rire ‘issoxuale na eocledade brasileira, 33, quais, por sua vez, serio usados como elementos legitimadores de ulteriores dis- criminagées ¢ violéncias contra clas. A sua exclusio da escola passa, inclusive, pelo silenciamento curricular em torno delas. Escola e desestabilizacéo da homofobia Sem prejuizo do que foi considerado acerca do papel da escola na reprodu- ‘gio dos mecanismos relativos & dominasio masculina ¢ heteronormativa, é preciso nao esquecer que ela é, a0 mesmo tempo, elemento fundamental para contribuir para desmantelé-los. Profissionais da educaga0, no entanto, ainda nao contam com suficientes di- retrizes ¢ instrumentos adequados para enfrentar os desafios relacionados aos di- reitos sexuais ¢ A diversidade sexual. I. comum que tais profissionais declarem nfo saber como agir quando um estudante é agredido por parecer ou afirmar ser ho- mossexual, bissexual ou transgénero. O que dizer a ele ou a uma turma geralmente hostil? © assunto deve ser levado a pais ¢ mies?" E, quando sim, de que modo? Como se comportar quando uma crianga declara, em sua redagio, seu afeto por um/ a colega do mesmo sexo? A troca de gestos de carinho entre estudantes de mesmo sexo ou alteragées no modo de se vestir, falar, gesticular devem receber algum tipo de atensio particular? E legitimo o pedido de uma pessoa para nao ser chamada pelo seu nome do registro civil, mas por um nome social de outro género? Como Ihe garantir acesso a cada espago da escola e tratamento adequado por parte da comunidade escolar? E possivel abordar temiticas relativas aos direitos das pessoas LGBT nas reunides entre docentes? Como introduair tais questdes no curriculo escolar de uma maneira nao heteronormativa? Que medidas podem ou devem ser adotadas em defesa das prerrogativas constitucionais do profissional homossexual, travesti ou transexual? Que fazer quando em uma daquelas reunises de “pais ¢ mes- tres” comparecerem duas mies ou dois pais para discutir a situacio de um mesmo aluno ou luna?” E se um deles é travesti ou transexual? Por isso, é inquestionavel aimportincia de medidas voltadas a oferecer, sobretudo a profissionais da educasio, {8 Diante aa arse da familia patsarcal eda ecosto de novos arranosfamilares (BERQUG e OLIVEIRA, 1989: CARVALHO, 1095: CASTELLS, 1909: cap. 4: RIBEIRO e RIBEIRO, 1995; ROUDINESCO, 2003: VATSWAN, 1994, MELLO, 2005), eabe questiona’ a peingncia de a escola. a mida'ecuttos espacos socias comin arom calcandé as celebragées dos Dias das Maes ¢ dos Pals no modelo famfsiaadeona 49 Fendmencs como ot da “nomoparentaidade” (terme cunhado, em 1997, pela Association de Parents et Fulurs Parants Gays ot Lesbiens fazem com quo até mesmo as crangas tragam para denio da. sala Go aula a dscussda do temas relalves aos novos arvanlos familares, 4 homoateigade, ace dais anugais e parentals, ene autos. Sobre homeparentalaade, vide: HALVORSEN, 1996, GROSS. 190 FERAEIAA, 2004 HEILBORN, 2004, MEDEIROS, 2004, TARNOVSKI, 2004 @ UZIEL, 2004. Sobre palticas ‘educacionalsincusvas de fariias horoparentas: BRICKLEY ota, 1988, BAUER © GOLDSTEIN. 2003, 34 diretrizes consistentes; a incluir de modo coerente tais temas na sua formasio ini- ial ¢ continuada; bem como a estimular a pesquisa ¢ a divulgagio de conhecimento acerca da homofobia, da sua extensio ¢ dos modos de desestabilizé-la. ‘Agora, esforgos voltados a problematizagio e & desestabilizaio da homofobia nas escolas tenderio ao fracasso se nao observarem o cariter estruturante ¢ nio resi- dual do preconceito e da violéncia homofébica ¢ seus vinculos com outros fenmenos sociais. O insucesso poderd ser mesmo se tais iniciativas apenas visarem a instilar nos profissionais da educagio certo "senso de culpa” (ou fornecer-Ihes um meio para aliviarem-se dele). Tais enfoques tenderiam a desorientar e a imobilizas, pois ensejam a confusio do individual com o social, do episédico com o histérico, do pessoal com © politico, da suposta generosidade com o reconhecimento de direitos. Sera preciso também reconhecer a multiplicidade ¢ a dinamica das constru- ses identitirias ¢, 20 mesmo tempo, ir além das medidas assentadas em premissas bbem-intencionadas ¢ comumente limitadas a economias lineares, bindrias e moralis- tas do “politicamente correto” ¢ da “guerra dos géneros". Suely Rolnik adverte: [..] Figuras se desmancham, outras se esbogam; géneros ¢ iden- tidades se embaralham, outros se delineiam —¢ 2 paisagem vai mudando de relevo. Uma logica das multiplicidades dos devi- tes rege a simultaneidade dos movimentos que compéem esse plano. Estamos longe dos binarismos (ROLNIK, 1998: 64). L.] se quisermos evitar que a guerra politicamente correta dos «pelos géneros se transforme numa guerra politicamente nefas- ‘a para a vida, seré preciso travar simultaneamente uma guerra contra a redusio das subjtividades a géncros,a favor da vida ¢ das suas misturas (ibid. 67). Na escola, 0 trabalho voltado a problematizar e a subverter a homofobia (e outras concepgdes preconceituosas e priticas discriminatérias) requer, entre outras coisas, pedagogias, posturas e arranjos institucionais eficazes para abalarem estru- tturas ¢ mecanismos de (re)produsio das desigualdades e das relagbes de forsas. E ‘mais: que também permitam a busca por alternativas as estratégias de invengio ¢ fomento de vinculos identitarios pautados por vitimismos, ressentimentos ¢ ddios. Estes tltimos, oriundos de auto-representacées narcisicas, desatentas & modulagéo da propria alteridade (¢ de suas relagées de poder) e avessas 4 necessiria ampliagio das possibilidades de identificagio ¢ de aliangas (quer com os “diferentes” invisibili: zados dentro do grupo, quer com os de fora). 38 ‘Ao lado disso, é preciso atentar-se para as possiveis reagées. Pedagogias medidas institucionais voltadas a questionar a homofobia, uma maior visibilidade da diversidade sexual, juntamente com politicas de reconhecimento, valorizagio ¢ respeito as homossexualidades ¢ as miltiplas identidades de género, podem se fazer acompanhar pelo acirramento de manifestagdes homofébicas. E. possivel ocorrer, por exemplo, a organizag4o ou a mobilizagio de violentos grupos hiper-masculinos, assim como podem ter lugar campanhas conservadoras por parte de diferentes gru- pos politicos ¢ sociais (muitos dos quais terao na homofobia um dos seus poucos los comuns). Afinal, observa Norbert Elias (1990 [2001: 136]), para alguns pode ser motivo de forte mal-estar se um grupo socialmente estigmatizado passar a exigir igualdade nao s6 legal e social, mas principalmente humana: Um profuundo ressentimento pode igualmente surgir[..] sobre- tudo entre aqueles que tém a impressio de que sew status esta ameagado, aqueles cuja consciéncia de seu proprio valor esta fe rida e que nfo se sentem em seguranea [..] a ordem das coisas que aparece para os grupos estabelecidos como natural comeca entio a vacilar. Seu status social superior, que € constitutive do sentimento que o individuo tem de seu proprio valor e do orgu Iho pessoal de diversos de seus membros, € ameagado pelo fato de que os membros do grupo outsider, na verdade desprezados, reivindicam nao apenas uma igualdade social, mas também uma igualdade humana (bid: 135-136). Mais uma vez. seré central o papel da educagao. Mesmo com todas as di- ficuldades, a escola é um espago no interior do qual ¢ a partir do qual podem ser construidos novos padrées de aprendizado, convivéncia, produsio e transmissio de conhecimento, sobretudo se forem ali subvertidos ou abalados valores, crengas, representagées € priticas associados a preconceitos, discriminasées ¢ violéncias de cordem racista, sexist, miségina ¢ homofébica. ‘Assim, sio indispensiveis estudos mais aprofundados e abrangentes que contribuam criticamente para a tessitura de articulagées politicas e a construcio de pedagogias voltadas, 20 mesmo tempo, para desestabilizar o “narcisismo das pequenas diferengas” e para ensejar a amplia sociais ~ especialmente com aquelas dispostas a colaborar na invengio de socia bilidades e subjetividades mais livres e, ainda, comprometidas com 0 avango da democracia e da consolidagao dos direitos humanos em uma perspectiva intransi- gentemente emancipatéria das aliangas com outras forgas 36 A homofobia, com sua forsa desumanizadora, corréi a nossa formagio ¢ com- promete a construgdo de uma sociedade democritica ¢ pluralista. Ao desestabilizarmos postulados heteronormativos, poderemos fazer faros na superficie dessa (ir)racionalidade que tem na homofobia uma das suas mais poderosas e cruéis expressbes. E nessa diregao que as autoras ¢ os autores aqui reunidos esperam contribuir. Sobre os artigos Em Homafobia na perspectiva dos direitos humanos ¢ no contexte dos estudos sobre preconceite ¢ discriminagao, Roger Raupp Rios faz uma indispensivel refle xo sobre 0 conceito de homofobia. Mediante uma exposigto do estado da arte dos estudos psicolégicos e sociolégicos sobre preconceito ¢ discriminagio, pro: cura compreender a disctiminasa0 homofébica no quadro da reflexio acumulada sobre outras formas de discriminasao, tais como 0 anti-semitismo, 0 racismo ¢ © sexismo, Valendo-se de categorias do direito da antidiseriminagao (tais como 0s conceitos de discriminaso direta e indireta) e da identificasao das formas de violencia homofébica engendradas pelo heterossexismo, 0 autor arrola possiveis respostas juridicas @ homofobia, no horizonte do paradigma dos direitos huma- nos, valiosas para se pensar em agdes no espago escolar. Da otica dos estudos gays e lésbicos e da teoria queer, Guacira Lopes Louro, em Heteronormatividade e bomofobia, analisa 0 processo histérico a partir do qual se verificou uma proliferacao de discursos sobre a sexualidade e a necessidade de se marcar a homossexualidade e a heterossexualidade como bastante distintas, separa- das. Na segunda metade do século XIX, enquanto a sexualidade se convertia numa “questio”, a norma heterossexual era produzida, reiterada ¢ tornada compulséria, sustentando a heteronormatividade. Médicos,filésofos, moralistas ¢ pensadores pas: saram a fazer proclamasées ¢ “descobertas” sobre 0 sexo, a inventar classificagdes de sujeitos e de priticas sexuais e a determinar o que seria ou nao “normal”, “adequado”, “sadio". Disso surgiram 0 “homosexual” ¢ a “homossexualidade”, e as priticas afeti- vvas € sexuais entre pessoas de mesmo sexo ganharam nova conotagao, estabelecendo- se o par heterossexualidade-homossexualidade. Para garantir o privilégio da heteros- sexualidade, sua normalidade e sua naturalidade, investimentos de toda ordem foram ppostos em ago, em diversas instancias. A manutengio da légica que supe que todas as pessoas sejam (ou devam ser) heterossexuais favorece a homofobia e, 20 mesmo tempo, 0 medo e o fascinio pela homossexualidade. A pedagogia da sexualidade que dai emerge mereceria ser desestabilizada, reinventada ¢ tornada plural 37 Alipio de Sousa Filho, em Homassexwalidade e precomceito: pelo fim das fraudes que precuram causas ¢ curas para a homossexualidade, procura demonstrar que uma longa hist6ria de colonizagio pelo preconceito, por meio da qual se representou a homossexualidade como uma excecio, um desvio ou uma inversio no quadro de uma pretendida (c compulsdria) normalidade heterossexual, se fez acompanhar pelo desenvolvimento de estudos ¢ teorias em busca de uma causa especifica da ho mossexualidade, © autor sustenta que as formulagdes que procuram determinar a génese da homossexualidade, dissimuladas como “teorias cientificas’, configuram auténticas fraudes de ordem intelectual e moral, Enfatiza que estas teorias resultam da profunda ago da ideologia na cultura (e, nesse sentido, de uma visio social nao inteiramente consciente) e que, por isso, sua desmistificasio requer empenho siste- mitico. Afinal, mesmo quando denunciadas como obras do pensamento preconcei- ‘tuoso, elas tendem a nio deixar de produair efeitos no imaginario e de exercer sua influéncia deletéria sobre todas as pessoas, dentro e fora da escola, Em Equévocos ¢ armadithas na articulasio entre diversidade sexual e politicas de inclusdo escolar, Fernando Setfner analisa os desafios na implantasio de politicas ceducacionais inclusivas que considerem os temas da diversidade sexual. O autor observa que 0 aparente consenso em torno da adogio de um modelo educacional deste tipo tende a desaparecer quando se depara com as demandas de inclusio de determinados piblicos, especialmente 0 de estudantes homossexuais. Defensor do cariter laico da escola publica, considera as dificuldades resultantes de resisténcias relativas a questdes morais ¢ religiosas e da tensio com os movimentos organizados na defesa dos direitos de LGBT. Sugere ages que contribuam para a insergio dos temas da diversidade sexual nos curriculos ¢ a inclusio e a permanéncia de estudan- tes cuja orientagao sexual ¢ diferente da heterossexual Com 0 objetivo de discutir 0 conceito de género ¢ de identidades sexuais e, ais especificamente, a construg2o das masculinidades na infincia e na escola, Jane Felipe ¢ Alexandre Toaldo Bello propaem 0 artigo Construsdo de comportamentos bomoftbicos no cotidiano da Educasao Infantil, O trabalho suscita olhares sobre os sujeitos infantis masculinos e analisa de que forma determinadas representagoes de homem que se pretendem hegeménicas sio acionadas e percebidas por criangas e educadores/as, especialmente no ambito da Educagio Infantil, produzindo nelas, desde a mais tenta idade, um esbogo de homofobia e de misoginia Em A escola « @ fitb@r de lésbicas ¢ gays: reflexes sobre conjugalidade e parenta lidade no Brasil, Luiz. Mello, Miriam Grossi e Anna Paula Uziel discutem a incluso das familias homoparentais na nossa escola, considerada instituigo central na cons 38

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