You are on page 1of 76
ELOGIOS A JOHN A. SANFORD “Ble me lembra alguns dos primeiros padres da Igreja que procuravam provar os mistérios e contradigdes das Escrituras fe tornd-las agradévels ao mundo pagio através do emprego da linguagem intelectual da época, que era a filosofia grega. ‘Sanford tanta fazer algo semelhante para néa, utilizando alin iguagem peicoldgice dominante na nossa era, que éapsicolgia, Junguiana. (ichal MeNierney,Ghoie Magasin crea de Mytcal Cristianity “Uma vez mais, John Sanford] demonstra sua profunda capacidade para descobrir insights nas escrituras, sua divide ‘para com Jiing e sua independéncia com relagio'a ele e sua ‘rofunda compaixo por nés, faliveis seres humanos.” (Gite Wink, Anbar These Seminary rticn de Healing Body ond Soul) “Procure em ‘Soul Journey’ a maneira tinica de Sanford reunirintuitioamente as coisas... trata-se de urna concretizagto ‘agradavel de ser lida da promessa da sobrecapa: ‘Um autor de best-sellers explora as idéias que estfo por trés da reenearna Ho e mostra 0 valor de vivermes espiritualmente no aqui € F a (ational Catalie Reporter erties de Soul Journey) ‘uaa stividedes em Sen Diego, ‘ezoito livros sobre psicologi,religia eindividuagto. Servia camo pastor episcopal com Reverend Morton T. Kelsey ee=- {dou picologia profunda com ofalecido Fritz Kinkel, M.D. CConcluu seu treinamento em andlise janguiana no CG. Jung Tratitate em Low Angeles o Passa | JOHN A. SANFORD — DESTINO, AMOR E EXTASE b DESTINO, AMOR E EXTASE a sabedoria das deusas gregas menos conhecidas John A. Sanford Digitalizada com CamScanner NOTA SOBRE 0 TEXTO Neste lero, an referdncias& Biblia sto da Revised Standard Version, As referéncias h Iteratura eliscca sio da Loeb Classeal 1Sirty cdligne pblcadn porlfeinemanne The Harvard University PARAS lige binges Labifenomana esto aepanivels na Teoria das ina ecm nero a pod ia & TLruptiel entre as dienes radugSes des exon cisco grape arate rae sto fomeedas pelo mero de ln cpr ea tain sds value quando necesnar), de modo que oe itores Tendo examin ots texton por si meson eo desire, Thea orto ae eecdiay edo fees 4 namero de ha. O llr aie ai todas eens fonts, de utras obras erud- tan andi. INTRODUCAO ‘Accaga o Peive Roxo ¢as deusas menos conhecidas dos gregos Corto dia, enquanto eu explorava alguns dos misté- rios da Ingua grega em um dos meus léxicos grego-in- glés, meu olhar pousou por acaso sobre uma palavra até entio para mim desconhecida, uma palavra que tinha ‘um significado tdo peculiar que ela deu um passo a fren- te, por assim dizer, e atraiu minha atengéo. Com efeito, a palavra tinha dois significados, o que nao 6 raro em gre- 0, ando ser que neste caso os significados néo pareciam estar relacionados. O primeiro significado da palavra for- necido do meu léxico era “procurar 0 peixe roxo.” O s «gundo significado era “procurar nas profundezas da men- te” Que mistério era esse? Por que deveria um peixe ser chamado de “o peixe roxo”? E qual a relagdo entre o “pei- xe roxo" e procurar nas profundezas da mente? Foi um pouco trabalhoso, mas finalmente descobri a solugio do mistério. A palavra em questo era a palavra grega kalchaino. A palavra kalche 6 roxo em grego. A pa- lavra kalchaino significa aproximadamente “procurar 6 Toxo.” Parece que na antighi oxo.” Parece que na antighidade os gregos extrafam uma refinada tintura roxa de um molusco que podia ser en- sonirada.no fundo do mar, a0 redar das Indmerae ilies 9 Digitalizada com CamScanner que existom nas duns gregas A.caga a ese “pixe rox" era feita por mergulhadores, que freqientemente des- Gam a grandes profindsas pra encontrar ote 3 superficie on vallosos molusces a partir des quote er fabricada a refinada tintura roxa. pe os a “ A lingua grega é rica em imagens, o que a torna psi- ‘cologicamente fértil. Quando os gregos pensaram em mer- lor no mar para buscar velco pmo elas ror, cles accovaram essa opfo umn mentee Fundeaas de si mosmos, para trazer A supe tics da cece (te os valiosos tesouros de sua vida interior. 8 A ‘Omar interior quo antigos greg estavam aco tumacose explorar6oque charmarionehajede"ine: ciente coletivo”; com efeito, o inconsciente coletivo freqiien- uaniaapiivon n0s| some sony coay estate algum outa ertonse meseafdgua, Deum mo gore ineonselento se reforea tudo Owe de respeta eu por tence h nossa personalidade ode que normalmente mo {cmon conseitncin: Eaves elementos da nossa personal dade que derivam da nossa experiencia de vida anterior, thas que esquecamos au reprimimos,conatitemn on: Tonsclunte Possoal” Mas existe tami dentro de nés ne ovepocltérn das"momériasde tod a raga hie sae a: Carl Jung chemava ecsaeserainconscentsden- tro de nés de “inconsciente coletivo,” porque ela é com- i .dos os seres humanos. Os 38 e prim esd e resmo moldam aener= trode nds que, ao mesmo tempo, evoeam e moldam a enet— _gia psiquica de acordo com as formas caracteristicas deseo. ;rquétipo particular, ara ns ns experiencing de vida importantes, © fre ientemente repetidas, tém seus arquétipas no incons- coletivo, Quando uma situagdo na vide particular 6e mani “ sistema de energia do arquétipo apropriado 6: Jo, Tornando-se disponivel ao ego de mansira t40 poderosa “que o arquétipo pode governar ou dominar uma grande (Parte da vida do ego. Assim, existe um arquétipo para o amor, para a guerra, para avida, para a morte, para ser. eaFa, pari a dizer adous, Intorminavel a lista das grandes experiéncias da vida, ‘que se repetiram ininterruptamente nos seres humanos, muitas centenas de milhées de vezes, desde a alvorada da vida humana; e, para cada experiéncia dessas, existe ‘um arquétipo. : “Acpinido da psicologia junguiana é que por trés dos -mitos que encontramas em tado-o mundo existem esses arquétipos do i ivo; por conseguinte, os de css hua. cue mala pots ils «no )Os arquétipos so personificados e exemplificados wa mitologia, porque os arquétipos se apresentam natu- ralmente a consciéncia sob a forma da imaginagao. Tudo a desde fantasias, aparentemente fortuitas, a histérias| ‘ criagdes épicas o draméticas —tem suas rafzes na qua- lidade imaginativa do mundo arquetipico E por isso que 4 psicologia de Jung encontra nos mitos um depésite de Ticossignificados, pois os mitos encerram clomentos vi- tais da nossa vida psicoldgica e espiritual interior. Eles_ ‘so, como os sonhos. o"éarsinho real” para oinconsciente, Poderfamos pensar que essa abordagem da mitalo: sia seria valorizada no mundo de hoje; eel, de fat, 0 6 Por aqueles que sfo abertos a idéia dos arquétipos e es- tdo familiarizados com eles. Muitos psicdlogos, contudo, repudiam a idéia dos arquétipos e do inconsciente coleti- vo, descartando essas ideias como moro misticismo. La- rontavelmente, essa atitude, baseada em um esreito u Digitalizada com CamScanner materialismo e racionalismo, impede as pessoas de te- rem acesso as eamadas mais profundas da sua psique. Analogamente, a maioria dos mitélogos parecem se opor igualmente & abordagem de Jung, talvez porque a acei tagdo da teoria junguiana exigisse que eles reconsideras- sem drasticamente suas opinises anteriores com relacao € origem e ao significado do mito. Um dos mais recentes livros sobre a origem da mitologia, Approaches to Greek ‘Mythology, faz. um resumo de sete teorins atuais sobre a origem da mitologia, incluindo um capitulo sobre a teo- ria psicanalitica, sem nem ao menos mencionar o nome de Jung (Edmunds 1990). Uma das objepées feitas a idéia dos arquétipos de Jung como sendo a origem das antigas mitologias, com seus pantedes de deuses e deusas, é que essa idéia “poe Deus na alma e ali o encerra.”? Esta escolha de lingua- gem — encerrada na alma, como se ela fosse uma priséio —revela o preconceito moderno contra a alma, Ora, nos sa alma no 6 uma prisio, e sim, uma vasta esfera psi- quica interior que, embora exista como uma entidade psiguica dentro de n6s mesmos, esta em contato com tudo ‘o mais na vida que partilha a natureza da alma, Aesfera psiquica na qual os arquétipos existem nao é, portanto, nenhuma prisdo; a prisdo 6, por defini¢ao, um lugar res- trito e limitado, enquanto 0 mundo da alma, embora 0 ‘menor dos menores, também 6 tio profundo quanto cea no e tio vasto quanto 0 céu. Por esse motivo, o3 misticos ¢ videntes de todo 0 mundo viam a alma como a morada de Deus. Para os cristaos primitivos, 0 Logos divino de Deus vivia na alma, motivo pelo qual Tertuliano, um dos primeirosfilésofos © to6logos eristios, declarou eerta ver: “Desde 0 inicio 0 conhecimento de Deus é 0 dote da alma, sendo o mesmo entre os egipeios, os sirias eas tribos do Ponto” (Tertuliano 1957, 278). Os antigos gregos também pensavam da mes- 12 ima maneira, ¢ Platéo declarou ceorta ver: “Depois dos aaa inna Ga mais diving” Patio 1984b, 726). E 0 “Aramaturgo grego Eaquilo_péde dizer. “O poder diving reside até na al hea os ‘A teoria dos arquétipos de Jung, a mitologia pode ser salva do monte de refugo no qual as atitudes rect malistas modernas a langaram. Os mitos néo mais precisam ser encarados meramente como historias esqui- titas, talver apreciadas pelas criangas, mas que no po- dem ser levadas a sério, nem precisam ser deixados nas maos de eruditos que os tratam de uma maneira ampla- mente racionalista e espiritualmente pouco edificante. Em vez disso, a mitologia pode ser compreendida como uma literatura de primeira qualidade que encerra uma valio- sa fonte de conhecimento a respeito da vi ique Vico e eapiritual, de calusar surpresa, portanto, que vérios auto- res junguianos tenham escrito extensamente sobre 03 deuses e deusas da antiga Grécia. Em sua maior parte, esses autores usaram esses deuses e deusas como repre- sentagées de certos tipos de personalidades, Assim, “uma mulher Deméter” é uma mulher euja principal configu- ragio da personalidade é moldada pelo arquétipo da Gran- de Mae, enquanto um “homem ou mulher Afrodite” seria ‘uma pessoa para quem 0 amor ¢ 0 relacionamento sio absolutamente fundamentais.* Néocbetante, varias deusas na mitologia groga tem sido quase que inteiramente eaquecidas, Chamamos es- Entre elas esto as Parcas, ou Moiras: as Fil a gas divans divisiedesoos oo pemmn de comopartedreustait, cnn astrés Gracasau Chris 8 problematica divir fe Ate; a aterradora divindade da _nesessidade, Arianke;ea douse de tid que é misterioso, 13 Digitalizada com CamScanner Uécato, B preciso acrescentar também a essa lista uma divindade cujo nome é masculino, mas que também pode ser considerada parte das divindades femininas por ser ‘mplament feminina: o deus Dionisa, pxistem varias outras razées pelas quais essas di vindades foram eaqueeidas, Unit dlas € uo, com exe 40 de Dioniso, elas representam as divindades mais an- tigas.da cultura _grega; elas sio déusas da antiga era striareal que precedett e foi eclipsada pelas divindades mais famosas do Olimpo como Apolo, Afrodite, Hera, Artemis, Posfdon, Hades e, é claro, o proprio Zeus, Essas lltimas divindades, conhecidas como olimmpicas, sfio as divindades da era amplamente patriarcal da Grécia que sucedeu a uma era matriarcal anterior. As dousas olim- picas recebem todos os louros, por assim dizer, enquanto as dousas menos conhecidas foram relegadas a segundo plano. As deusas olimpicas também se prestam pronta- mente a uma tipologia psicol6gica, ao passo que este néo 6 0 caso das mais antigas divindades matriarcais. Tam- bém é mais fécil aprender a respeito das deusas olimpi- cas, visto que para cada uma delas existem histérias nas ‘quais elas sio as figuras principais. Para obtermos da- dos a respeito das deusas menos conhecidas dos gregos precisamos examinar minuciosamente muitas histérias, ‘peas e poemas gregos — como um minerador que penei- Fa aareia que repousa no fundo do rio— para descobrir © reunir fragmentos de informagSes que faréo com que es- sas deusas readquiram vida em nossa mente. Existe ainda outro motivo pelo qual essas deusas _menos conhes negligenciadas: ia “vida” que elas personilicam também o foram, Essas di Vindades personificam realidades arquetipicas que ‘valecem mii propriamente dita do que es “res humanos ¢ pa suaestrutura-psiqui isamos _compreender que.os arquétipos sie padrécs vivosde vida 4 soas, como também om toda a natureza e na realidade “espiritual. Por conseguinte, quando contemplamosessas “divindades menos conhecidas, também estamos olhando Tam, Isso confere a essas divindades um lugar de funda “a al importéneia, pois 6 com a vida espirituale a na: tureza que devemos nos relacionar. Com efeito, enquanto as divindades do'Olimpo tendem a receber os louros, uma das principais teses deste livro é que, no que tange & vidi humana, essas divine menos conhecidas realmente ‘comandam o espetdculo. Além disso, elas nfo apenas di- Figiam o espetdculo na antiga Grécia, mas também o di- ‘rigem nos nossos dias, pois essas divindades, bem como as forcas auténomas da vida e da natureza que elas re- presentam, determinam a maneira como a vida continua neste planeta. Nao é exagero afirmar que nossa sobrevi- _xéncia, enquarito comunidade humana e espécie, depen de de como nos relacionamos com as energias que essas antigas divindades personificam, ‘Estamos agora prontos para conhecer essas deusas, essas antigas divindades das quais devemos nos aproxi- mar com mente receptiva e reverente, pois elas sio, de fato, impressionantes. Talvez. as mais impressionantes sejam as divindades do Destino e da Necessi iniciaremos cuidadosamentte nossa exploragao examinan- do primeiro as mais delicadas dessas divindades: as deu- sas menos eonhecidas que fazem parte do séqiite da deusa Afrodite, 16 Digitalizada com CamScanner 1. O SEQUITO DE AFRODITE Afrodite, deusa do amor e do deseio erétieo,é jus- tificadamente famosa ontro as deusas gregas, mas que tipo de amor ela preside? Essa Pergunta poderd nos dei- xar perplexos? Nao 60 amor, quer dizer, apenas o amor? © que mais existe a ser dito? Todos nés ndo sabemos o ‘que 6 0 amor, de uma maneira mais ou menos instintiva que néo requer explicagées? Os gregos, contudo, inhara trés palavras para o amor; cada uma denatava um tipo especial de amor que era diferente dos outros. A pale, vra strage, por exemplo, se referia ao amor A familia em Particular, © A devogdo e & afeigdo em geral. A palavra Agape, que 0 Novo Testamento coroou como o tipo mais elevado de amor, denota um amor livremente oferecido, sem desejo de recompensa; na Biblia, o amor de Deus era considerado agape. A terceira Palavra para amor, com a qual estamos mais familiarizados, era eros. Essa alavra era usada para o que chamariamos de amor” -2t6tico, © esse amor pertence A esfera de acio de Afrodi- te. A pala a.cros também & 0 name da filha de Afradi- Gros) sobre quem iremos falar, Eros é de tal ‘modo fundamental para Afrodite que neste caj ‘nao ser que seja especificado de outra maneira, quando nos referirmos ao “amon” seré eras que teremos em WwW Digitalizada com CamScanner Afrodite governou o coragao tanto dos mortais quan- to dos deuses, ¢ todos cles — excoto as deusas Atena, Artemis ¢ Héstia — estavam sujeitos ao poder dela de desperté-los para o amor. Sob a influéneia amor com desejo e paixéo podiam conquist ‘até 0 coragio do poderoso Zeus, bem como o dos homens e mulheres mais humildes. A influéneia de Afrodite sobre ‘oda a vida natural jé 6 menos conhecida. Dizia-se, por exemplo, que enquanto a deusa Deméter fazia todas as iplo, que_eng Ze coisas crescerem, era Affodive que fazia as flores florirem: -¢.os frutos amadurecerem. Por esse motivo, os jardins e a5 flores eram consagrados & deusa — especialmente a “fosaa qual, com suas cores profundas e florescéncias ‘voluptuosas e convidativas, era considerada uma expres- ‘sao sagrada e tinica da esséncia da deusa do amor, O poe- ta romano Lucrécio captou a magia do poder de Afrodite sobre os seres humanos e sobre os animais na comovente introdugao ao seu poema “On the Nature of Things,” Ele eserever lee revela e a fértil bis do vento do oeste se solta da prisfo e sopra com forge, 08 passaros nos eéus anunciam a ti, 6 deus, ecom tua apro- ximacio, seus coragoes vibram com teu poder. Entéo as feras domadas se mostram ardentes e galtam sobre os abundantes pastes, e nadam nos rios que correm eéleres; lilo seguramente acorrentados por teu encanto cada um te-segue com ardente desejo aonde tu vais adiante condu- indo. Sim através de mares, montanhas, ros impetuo 08, dos abrigos folhosos dos passaros e das planicies ‘verdejantes tu langas o amor extremoso no coragéo de to- dos, e 03 fazes sentir o ardente desejo de renovar a links {gem das suas ragas, cada um de acordo com sua espécie. (ucrécio 1982, 1.10ss) | Quando a face do dia primave | Essa parte é bastante conhecida, Menos conhecido é ‘0 fato de que quando Afrodit mar, caval lo uma grande concha — vinda do lugar em que ofelo dese- 18 pado do deus pai Urano havia cafdo fazendoo bi ‘har espumar rodopiar —ela fo recbidaporammatea Ae deusas. Essas dousas a receberam jovialmente- eo partir de entao, passaram a acompanhé-lae zelar perela em suas idas e vindas sobre a terra. As primeiras‘e san, darem Afrodite foram asCtrés Hora com diademes de ouro, que a vestiram com fino’ trajes. O pocta Hesiods nos conta o seguinte: ES las a vestiram com vests celstii; em sua exbega colvaram ua crea de cur bers eda ae at thas perfradas ean isin adores santo den enfeltaram seu dlcado pescge © ee So somo a neve com alate douradoy as suc ae Hora com dlademas de ourousveenquahdolne ee caan do pai delas para pariiper des Sena ean sas on douse, Gloinde To8ze 515, Segundo esse relato, as primeiras a saudarem Afro- tis eam ap ele Horan rentantn oedema woe, “eas por fazer parte do seu séqhito, nao ficaram muito ‘tras. Entre ossas estava a deus cr ome & deusa da “dolicndn persuasto”.comefa, sen sone Geriva de uma palavra groga qua significa “oloyiencs Macho rece ia eieeepe tee ‘gzo e inapiragdo de Afrodite, confere ao amante os in trumentos pereuasivos ¢ palavras vitriosas que en cantam 0 coragao e obtém o consentimento da amada Peito 6a divindade que ajuda expecialmente os homens aque desejam conquistar o corapto de uma mulher, por Que, ao quo tudo indica, as mulheres, aia do que ch. quanto os homens, ao contrrie, ete amabalados bale Visio da beleza que contemplam. Observe, contudo, que ® persuasio de Polo 6 poderos, porém suave; enbora seje df resstr ds palavras de eit, ela sempre pro cram eonguistar 0 amor atravée do‘consontimonto 6 19 Digitalizada com CamScanner nunea pela forpa. O.ato amoroso quando forgado nd per- ‘tence desfera de Afrodite, pois 0 amor, quando verdadei- fp para consigo mes, precisa seinpre ser Iivremente ‘Embora a persuasio de Peito possa ser suave, seus poderes nao devem ser subestimados; ela empresta 20 fascinio de Afrodite um poder de persuasio que pode fa zer com que a amante se descuide de suas obrigagées © doveres. Sua energia empresta a Afrodite o poder de li- gar ocoraeao e a vontade da amante néo apenas ao ama- do como também ao préprio amor. E por isso que Lucrécio ddiz em seu poema: “tao seguramente acorrentados por teu encanto cada um te segue com ardente desejo aonde tuvaisadiante, conduzindo-o.” Apersuasio de Peito éuma persuasdo aglutinante, que domina a vontade e, as ve- 22s, conduz a agées que posteriormente parecem incom- preenaiveis para a pessoa a quem a deusa do amor dese- jou tornar submissa a ela. Essa 6a origom da frase grega: “Tunha a coragem de amar, um deus o determinou” (Eu- Hides 1979, 476). Por conseguinte, Afrodite em seu aspecto de Peito 6 f divindade da persuasio aglutinante e do poder com- pulsivo, e por esse motivo ela esta associada a correntes fe cordas que simbolizam seu poder: sobre o coragéo do amante, de unir o amante j.amada-e também de unira alma so.corpo. Por essa razao, um dos epitetos de Afrodite ‘era “Afrodite das correntes.” Ease aspecto da deusa esclarece muitas das fanta- sins aparentemente extravagantes que inundam a me te da pessoa “inspirada por Afrodite.” Temos a tendén Ge supor, na nossa cultura, que existe, ou pelo menos quo Geveria existir, algo como um ato sexual bom, limpo e direto, Ofato & que um nimero bem maior de pessoas do srs aderamos imaginar tm fontasiae erie gue sue Bieumonte Mantidas em segrodo.por parecerem 20 we extremamente estranhas. Hé ur século, é'medo talver fosse que 0 puritanismo da época olhasse de soslaio para nossas fantasias sexuais caso essas viessem a eer conhe- cidas. Agora 6 mais provavel que uma pessoa que tenha certas fantasias sextais, tema ser identifieada no DSM 11 (um manual de distirbios psiquidtricos) como “esqui- sita,” e talvez até definitivamente perturbad: Por esse motivo, as fantasias erdtico-semaisdemui- tas pessoas so mantidas euida cescondid [reqlientemente até do analista. Muitas dessas fantasis envolvem cordas, correntes e coisas semelhantes e, por conseguinte, sao clinicamente classificadas como “maso- quistas"e algo a ser “curado.” Um estudo do séqtito que acompanhava Afrodite mostra, contida,queesse "Grate. So dame ee aT ae ee “Yogra a naturoza do arquétipo do amor que a tradigao de Afrodite personifica e expresso. A analista Lynn Cowan salientou em seu magistral livre, Masochism: A Jungian View, que por mais estranhas que essas fantasias poscam parecer, elas sto, nao obstante, de da alma de “sofrer” o amor.' Essas fantasias simboli- vam a exigineia de que o ego, com freqaénela orjulhoso, ppretisa se submeter a todas as Torgas do amor, da devo, ‘do patos que sao na verdade filhos efilhas do Afro. “ite Pogo pao sor TOMS Ee ‘separados, ~~~ Também entre aquoles que receberam Afrodite quan- do esta emergiu do mar estavam trés deusas de quem ‘uta a graga e uma benevoléncia graciosamente oferec!, a. Quando permitido ao amor ser verdadeiro para can- igo mesmo, le & graciosamente dado ¢ consi ‘Slementos de charme e graca. Nao é de causar surpresa, Portanto, que Afoditefosse acompanhede watts mene dades menos cones 21 Digitalizada com CamScanner Ges da necessida- } Hava tts dela, de aeordo com oespeciatita em agsun- tos gregos C. Kerényi, porque a mente grega associava 6 }_fominino a lus, ea lus tem trésfases:o quarta crescents, ) alta chein eo quarto minguante, De acorda com Keréngr | Analureza triédiea das Cérites au Gracas, bem come a natureza triddien do outras deusas, nlo é um anident; Shs foammetinade- urge mam uma Trindade, um genuinotiésem unsere | Pardvol a trindade erst de Deuscamo Pai, Bilhee Bape ‘Tito Santo: trés "pessoas" distintas, porém uma tinica es. séncia.? Q no a d an ~doverbo grego charein —reinbilar-se—e do nome charis, due se refere a uma graca ou favor que é livremente o recido.’ A palavra charis é a mesma usada no Novo Tes ‘tamento para a “graca de Deus,” encarada pelos cristios primitives como um favor que Deus fez livremento a hu manidade, um derramar da abundancia do amor divine Em conformidade com sua natureza graciosa, os no: mes individuais das Cirites eram Agléia, que significa “espléndida beleza"; Eufrosina, que significa “pensamen- ‘Tos alegres, boa disposicdo”; e Talia, que significa “abun- cia, fartura.” Também é interessante que enquanto “as Cirites eram geralmente consideradas filhas de Zeus com sua terceira esposa, Eurinome, alguns disiam que elas eram filhas do deus do rio Lete, cwjo nome significa “um esquecimento ou olvido.” Isso significa quena Cérites \ , seuniram a P ilopara congurirosmertaisasumstoamo- “roso no qual nfo apenas-as dares eas magnas da vida “eotidiana, como também os limites costumeiros estabe- | esos pea dover, ea leaded pea ovine, periam | “ser dissolvidos no esquecimento e éxtase do abraco amo- ~~ mencionamos que enquanto Deméter fazia ag _plantas crescerem, o toque de Afrodite as fazia Mlorescer. Bla realizava iss0 através das Cérites, eujo toque fazia com que a planta florescente deitasse botées e depois flo- 22 N i rescosse. Era também o toque das Caérites que faziam com que os frutos amadurecessem nas érvo das Céri /antes de ele estar pronto poderé nos deixar com um gosto Jécido ou amargo, ou uma sensagao de vazio; além disso, jole pode se mostrar indigerivel. A deusa do amor e as |Cérites que a acompanham néo podem ser forcadas ou spressadas para que nos déem o prazer ot os frutos que i is ja verdade que os frutos do amor do livremente concedidos, também é verdade que seu smadurecimento néo pode ser foreado, it sm_tinham um parentesco com trés Musa as deusas da miisiea, do canto, da danca, da poesia e da fala elogtiente de eujo nome derivamos as _Palavras miisica, muisico e museu, bem como 0 verboGm “inglés “to muse” que significa meditar, refletir A some Thang dis inp Masa or Gane wvam danear, e tinham especialmente o habito de danear juntas nas noi. tes claras ¢ enluaradas. A arte grega freqlentemente re- ‘Presentava essa triade de trés dousas em uma de mios dadas ou tocando levemente umas as outras no ombro enquanto dangavam em linha owem efrculo, eseassa, po. rém graciosamente trajadas em seus quitées ou vestidos. Assim, ao lado das Musas, as Cérites derramavam sobre ‘Bim da meméria pois qual sn ante que jamais esqueeeu um amgy? adetx.amante que Carites também ue, como veremos em um capitulo posterior, entregou a Seus seguidores as dédivas da paixao divina e do éxtase. Basta dizer no momento que sob a influéncia de Dioniso, 23 Digitalizada com CamScanner cs mortais abandonavam seus escripulos ¢ costumes, vivenciando uma alegria extética quando as estruturay usuais de seus egos eram criativamente dissolvidas no poder mégico do deus. Analogamente, Afrodite oferece seus devotos pelo menos um vislumbre desse éxtase no arrebatamento do abrago amoroso ao qual as Cérites nos convidam. {Uma funcao especial das Cérites era cuidar da toa- /lete da deusa do amor, banhando © untando su ‘corpo [oom 6leo e doces perfumes. Quando Afrodite queria fazer amor com o mortal Anquises, lemos que “as Gragas a ba. | nhavam com o éleo celeste que floresce no corpo dos det | ses eternos — um dle divinamente doce, que ele ies 40 seu lado, cheio de fragréncia” (Hesfodo 19822, 61-3). Analogamente, depois do escandaloso caso amoroso de ‘Afrodite com Ares, durante o qual seu vingativo marido Hefestolangou intricada rede sobre os dois amantes quan. do os pegou deitados juntos em seu ilicito abrago, lemos que as Carites “a banharam e untaram com 0 éleo imor- tal, que reluz sobre os douses que sio eternos. E elas a vestiram num adorével traje, maravilhoso de ser contem- plado” (Homero 1984, 8.364-5). Assim, todaestilo. ungiien- tos sedutores e perfumes, enfim qualquer coisa que acres- conte charme & maneira como as outros nos percebem 16s percebemos a nds MEsmos, extrai sua inspiracdo des rite ~ Se considerarmos as Céritos a manifestagao triplice do uma tinica divindade, entao a tereeira dousa a ser con- siderada como pertencendo ao séqiiito de Afrodite ¢ deuse(AideSya divindade da modéstia, do auto-respeites da vergonha. Com efeito, Afrodite € Aidos estavam de tal ‘modo associadas que onde quer que a.deusa do.amor fos- 50, Aidos nfo estava muito atras. Aestreita associngSo do ‘amor com a vergonha na imaginagéo dos gregos, pereebi- da ligngaio de Afrodite com Aidos, pode nos surpreender 24 hoje em dia; em nossa cultura tentamos o mais possfvel eliminar da sexualidade qualquer elemento de vergonha, assim como procuramos esvelorsaro elemento da 0. déstin no ato amoroso.A psiologin nfo nas ensina qe lovemos ter vrgoiia da nossa semualidade, quo gen- fir vergoria do sore significa primo fens em-con- eq diase, ajelten ume neurooe? No noo iberta- ‘hos Tnalisente da eseura sombra langeda sobre o alo ttrorowo pelos nossonanowstaie puritans, para qu poe semos agora deafrtar'a Livre e rrestrita expresedo da nossa sexualidade ; 0 fardo da culpa ou da vergonha? uitos den6snto olhamos invejosamente para a cultura groga como uma época ne qual a serualidede, o corpo e 6s instintos ee expressavam livremente, sez Tarde fnitante do um crstanismo puriane vst como so pon. joa todas as alogrias da carne? ‘Em noosa cultura atuel, parecemos, de fate, estar livres de empecilhos aos nosses prazeres como a Vergo. nha, pols oatxo desprovide de vergoua nto apenas pode ser desfritado em nossa vida particular, como tambera elo agora estd presente em nossa vida plies, Hoje por demos ir a cinema e ver amantes nus) Deloss pore: monte proporcionados fazendo amor diante dee nesses clhos sem nenhuma sigestao do vergonha us pecee soa brivar do nosso prazer Se seamen sinsioc cone noe sesmos, prém, talver pudéesemos nos seat uence inadequadios, visto que nosso corpo e noses ia ee hem sempre esté& altura do ata amoroes qua ese ‘os sugerem que deveriamos realizar. Analogamente, tres jes antigamente caractersticos do prostates ee, Stas de cano alto ovestidos agarrados coreg 1 ramsealualmente a moda do din, Alegeie soe tos do sno €ierestrta, a no er plo eaten es ie ano se a 25 Digitalizada com CamScanner amantes eom.c los atores e atrizes seme ‘nantes a deuses que aparecem nos nossos Aline Nossa cultura fez grandes esforgos para afestar a modéstia © a vergonha, esforgos esses que visavam ini, cialmente a eliminar a represséo sexual e que agora pro. curam fazer com que possamos aleancar 6 maior pricey sexual possivel. Pode ser_uma surpresa aprender que Afrodite, a deusa do a L : ia, se fazia acompant} era para os gregos a.deusa do.qute-respeito, bem como a deus da verounha. A pricologia & ue a formas dear ia capacidade de sentir vergonha, também sere- ‘mos desprovidos da capacidade de sentir auto-respelto. “0 fato de Aidos acompanhar de perto Afrodite nos mos. tra que a capacidade de sentirmos vergonha e auto-res- 30 Hebe nay nn Seeman oa Se ape eee Sane eeermeeie ori ee ooo eee arcennn oie ee sear pan int eins Dateoopia wer ianes seca lo es coon aches ee feet serene ae ee Sanaae Um oxomplo conereto do poder e da realidade de Aidos pode ser encontrado no ato de enrubescer. Imagine ‘um menino que esta prestes a se tornar homem. Ele est passando por todos os tipos de alteragées glandulares que wem acompanhar de muitas emogdes novas e estra- has. Uma das mudancas 6 que ele dé consigo agora no- tando a mocinha que 6 sua vizinha e, com efeito, fieando fascinado por ela. Antes, ela fora apenas uma companhei- a de folguedos, ou talvez objeto do seu desprezo ou das ‘suas brincadeiras de menino; mas agora ele se sente estranhamente atrafdo por ela. Com efeito, ele niio con. : inemos entio que ‘mdia—quando ojvem estéclhandofurtiane gga a1 Digitalizada com CamScanner 8 menin do outro Indo da rus — um “perro mas velho, sue pera clrumenta’s ere mio tend, 0 provoea na frente dos utes Sagan Seete amin eee ron coe ruber visivel envolumtaio a condo eran Scars of ssa sd amateiogagl camuuee Seeeeis" ‘CO mars umn demonstra i ju os arquétipe seas tacts a ap gute se eae he “ina tamira mais Getic: on arduatiog ne gues manifeiam tantonosistamateres ee tonas imagens e fantasies que pateam glen te. E preciso observar, contudo, que or ocorre prin _paliments nos joven cla alma nine ima ea eagtada ~o que parece asnines meine fee om dia — esta monifestagse eapntinee na dina de set possive A douoa, som aot acnan denen tia lbortadara so bem aque do voto dolorore agente ‘oprecervarapuresa da slam Aiden taht se da coutincara ver the laradaquads pots aie te peceiilta que amor eo ato emoresoinfundigo tn nia por Afrodite seja uma experiéncia religiosa e espiritual, ptt legen reemenlrmh Seuguis coun epengunans “dade oprofundo sentiments qué tems na presenga do que 6 sagrado e nos ingpii admiragao reverenta, © que é, portanto, divino, Guardadas e protegidas dos olhos ‘profanos por Aidos, Afrodite e sua esfera divina esto a0 lado dos amantes em todo o mundo. No entanto, sola te se separar da sua companheira Aidos, a naturezasutile _divina do eros que.a deusa do amor pode infundir em nés estar ausente.. ., Aidos, como salientou Lynn Cowan, Stan jantasoraligin, cextticn eo divino, ito que “ido sutonta o sored ea privacidade do sexo oases 32. ae | | | Como jé vimos, quando Afrodite e suas. deusas com- Cn cians amar poaue un Sa nn ae pains Prat psx. Sea a eeridadedeanar, bee elemen- a SeeaTini nosh Areca dame su ire. ‘mos analisar: “a grande Ananke,” a deusa da Necessidade. M9 be ageEe Gyre (13 ob by | arn oh yp) ernpran ee he @ [a Fann Digitalizada com CamScanner 2, ANANKE E OS DAIMONES Idobservamos aseguinte declarapio na pega Hipélito ‘ Lcoragem de amar, um deus 0 de- <- ra a mente grega, precisamos fazer o que um deus determina, ou pagar uma dolorosa penalidadé! “Psicologicamente, esse poder compulsive deeueees ‘uma maneira mitolégica de descrever o poder dos arquc tipos sobre o ego humano,/Nessa “vontade dos detes” repousa o elemento da.necessidade, um fo presente em nossa vida que és seres humanos, freqlentemente que- remos evitar, mas que nos prende em um aperto impla- civel. Considerando poder da necessidade sobre nés, nfo 64de causar surpresa descobrirmos que os gregostinham uma deusa da necessidade; “a Grande Ananke: a prépria Necessidade" Harrison, 1955, 592)A neces -tada pela palavea ananke inclui todas necessidades impostas de dentro de nds mesmos pelas inexoréveis exigéncias de nossas necessic za, Para os gregos, também estavam incluidos os vine is de sangue, relacionamento e afinidades © Asemelhanga de outras divindades gregas|Ananke tinha uma afinidade com muitas das outras deusas/Ela -est4 especialmente rolacionada coma deusa Témis e-as 34 {trés Moiras, ou Parcas'jque seréo consideradas em um ‘capitulo posterior. Embora nunca fazendo permanente- Cee ee Ante tieceoe Gana cra andes coma deus doar Eats Als acta fndade comand. gmes Pomme, camo ss tepunba 2 accented a mr oe Hess oy nee a ier oe ae esa nal ana a aa ae een Seas ise ae reams “presos” ao amor. (Ananke abraca amais humilde das necessidadesea mais sublime, as neoessidades do corpo € a8 De acordo com Platao{Ananke era o poder em acto nas des dos deuses relatadas por Hesfodo 30 que 0 poder do Amor emersisss5 o poder dela foi imposto aos deuses e aos mortais desde os pri- mérdios./Até masmo o obstinado deus da guerra, Ares, teve que considerar.o pader de Ananke, que era chamada de "Necos quela_a quem © 4 tncia” (Plata 1984e, 196D), Outra nenessidade que ~Ananke lanca sobre nés 6 a necessidade de criar da ma- ‘neiraque seja apropriada pars que quando aener- : Jona a partir eum pont de vita pscliico, 6 comproeadermes importante papel desempenhado na nossa vida pelo que corner deo " A idéin do daimon recua bastante na historia grega; encontramos uma antiga descrigio dos daimones em He. iodo, que se rfere a eles come“espiritos puros que habi- tam a terra.” Ele diz quo eles so henévolos e“guardidies ‘dos mariais.” Eles vagam pela terra, embora seja difieil jue cometem at i is a ‘gue cometem atos cruéis, eantorganda tiquezas Aquoles ‘que eles protegom (Hesfodo 198b, 122-6). No inicio: ne 35 Digitalizada com CamScanner itologa greg um daimon era experimentado comouma forga ou energia propulsora que prontamenteseomores tava a personiicacho Comosiae Figo a um poder desse tipo, mais semelhante a um daimn ds ‘que a um deus, uma energia propulsora que inspira ¢ -gmarem © participarem da-criagfo de uma nova vida. Assim, Affodite, seu flho Eros e Anamke estio ligados entre si Sendo um poder espiritual maior do que um per hu- mano, porém menor do que um dous, uma dae principals fungbes doldaimon é servir de mediador entre a estore ivina dos-deuses e a esfora humana doe mortals! crates, ao roferir-se a Brody como ui dation, ena ‘asa habilidade do daimon de deslocar-so entre ‘Gina ea humana, bom como sos gas de eabeees ‘uma rolagio entre as duas. Falando de Eres, quo cle cha- ava de um daimon megas — espirito poderoso — disse que o Amor (Eros) ostd sempre: Taterpretando e transportando seres humanos para os deuoco ecole ivinas pare os homens wopicns easel Ghs'yndn do bao reglament eapenes vin Sow do cima; estando a melo caminko ele faz com gue un Salant stro de mao ave 9 os mo cme te ain Por que Deus (7heol nto se mistura comes homens, tans expital{datmontn!¢inermetaro dtl so TTedadeintereurse dos homens em es duses do es Sere Sarhomens; quer no estado desperto ou do on GPiatbo 1984, 20383, Desde sua mais antiga origom como um poder exira- tnumano a idia do damon parece tr evluid para de : cual que podria tor um relacionament ayeihualchm um ser humano, Plata, especialmente, ave divino que po. arava o damon eorn um poder a pear ai nlc a ama hus ‘ha, Quando, por-exemplo, uma pessoa morris, era 0 36 dlaimon dessa pessoa, que Ihe fora designada desde ont “Gocomo uni guia, quo sonduzia a alma eo eeu lugar ade- Sado no mundo abtorneo, Platte escreve 9 eegUate> B ca dna qu pl da mora hf lar {dimon| do coda foson'a quem de fra Seige Ginter aut lupatonde oo mero estioSeanon ie‘ etl, jugs» pein pare ont cs ero gis ohioal oq stece ldaiahoee nao eerste (beie 11D. Na qualidade de espirito tutelar de uma pessoa, 0 daimon podia néo apenas ter um importante relaciona- ‘mento com a alma em vida como também ser o guia da alma no mundo subterrdneo. Sécrates, por exemplo, nos fala a respoito do seu daimon pessoal, ¢ de.como ele era a Sonade ertnaptapto lecdlee Ssestendivosepente ‘a respelto da sua capatidade de tor idéias inepiradas: Mas a razio para isso...é que algo divino o espirtual (Gimenion) se aproximsa de nim...Bu tenho isso desde a Jnfinca;é uma espécle de vor que vem até mim, e quando vem, ela sempre impede de fazer o que estou pengando em fazer, mas munca me incentiva a prosseyuie soo aque eu me envalva na plitie (Platao 1964, O relacionamento singular que Séerates tinha com seu daimon criou nele uma personalidade de tal modo criativa e livre em sua maneira de pensar, que ele teve problemas com as autoridades que o acusaram de intro. duzir novas divindades na mente das pessoas, gerando assim, a descrenca nas tradigies estabelecidas do Esta do. Com base nessa acusasio, Séerat@d foi condenado & morte, pois se recusou a renegar sua fé em seu daimon, preferindo morrer a submeter sua mente a escravidao, Niio foram apenas as conviogées de Sécrates que Ihe cau. saram problemas com as autoridades, mas também a qua lidade nica da sua personalidade, que perturbava os que a7 Digitalizada com CamScanner Simals nna ti: 9 lsonameni der ngonl ee eelrz ho enn pen crane a ae ean ames eg gn i arb he sips a fdivinho egipeto, um daqueles que eaeulavam horésoo of, que dclarou ace que embora sorte que se ape: ‘porque eruginin diese ol, tome o dele; longe dele, eeu gtnio 6 orgulhoso e bravo, mas na presenga dele & 38 ld," «incidents que Ih gorreram parecerazn ‘vier Que o ep falvn verdad Fou seeps ga vo ort verso onan das, ar ano ainds era pertedon «ropetidamen i ‘unbansem uta gigs de brgn pc cndarna Se Clears inl] ata toon? ‘A histérja demonstrou que oegipcioestava corto;na batalha de Actio as forgas de Antonio foram arrasad pelas de Otévio, e essa derrota ecabou provecand oe tidio de Anténio. “A idéia do daimon ou “génio” era uma parte funds- ‘mental da antiga psicologia, pois no era pessfvel com- preender o que uma pessoa, era enquanto nao se conhe. tease a natureza do seu ge Hoje em dia, contudo, os maneira do compreender ima pessoa praticamento de. saparecou. Parte da causa disso pode ser fata de o cris. tos terem confundido a iia do daimon com algo neces: sariamente maligno. Ora, 6verdade que algumas pessoas tinham um daimon que podia conduzi-las ao mal. E. R. Dodds salienta que um daimon podia até produsir 00s. {ado de confuséo moral eo comportamentoirracional que os grogos chamavam de ate (um estado que vamos anal. sar mais profundamente em outro capitulo. Algumas pessoas parecem, de fato, ter em si um “genio” para pra ticar o mal, e por esse motivo — por mais que seam pu nidas por seus crimes ¢ por mais quo eo tente reali. Jas —elas persistem no erime a vida intoir Como 0 daimon é uma fungao do inconsciente, esta Pode ser uma das razées polas quais muitas pessoas des- conflam da idéia do inconsciente, como se fato de nfo tomarem conhecimento da realidade do ineonsciento pu. desse fazer com que ele fosse embora.O fildeofo eristto Primitivo Tertulano, por exemplo, numa diseuseso sobre leménios, diz que Sécrates, desdo uma tonra idade, oi “encontrado pelo espirito do deménio.” Ele prossegue: : 39 Digitalizada com CamScanner i “Assim, também, é que a todas as pessoas seus genii so designados, que é apenas outro nome para deménios. Por conseguinte, em nenhum caso — estou me referindo 20 enti, 6claro—existe qualquer natividade que seja pura ‘Tertuliano 1957, 3,39). ue ofato deo cristianismo primi- tivo desconfiar da idéia do daimon & que a psiologia con. temporinea, de um modo geral, nao tem lugar para a idéia do daimon ou do genius existente dentro de nbs. Jung e alguns de sous cologas registraram a idéia, mas 56 a mencionaram de passagem; a tnica referéncia im- portante da partede Jung foi feta em um de seus semind. Flos sobre a anélise dos sonhos no qual ele diseute breve- mente aidéia dos gregos de que todos tinham um daimon, ¢ que essa idéia foi transportada pelos romanos para & {deia do genio, Jung eita 0 exemplo de Sécrates, que jé comentamnos,e observou que o daimon [genius era pode- ‘oso, mas que por si s6 nfo era nem bom nem mai. Ele prosseguiu observando que nesses tempos antigos supu ha-se comumente que todas a8 pessoas tinham um unopados (companheiro) que as acompanhava, eque essa Ge origem do génio que habitava a pessoa. Marie-Louise von Franz expand poco mai sa ia, suger do que a idéia bisica do daimon /genius era uma manei- +a de representaro relacionamento da pessoa com 0 Eu. ‘Apesar do preconceito que os cristios primitives rnham com relagdo & idéia do daimon [genius, o penss- mento fundamental da Sia inseru-e no ertanieno na nogio do anjo da guarda, designado por Deus no me: tents du concapyaode alma para sero ajudante auiiar guia dessa alma a vida inteira. Essa noglo 6 muito se- rmelhante 8 idéia de Plato a rospeito do daimon como tim prestimoso companheiro do ogo. Essa crenea no anjo dda guarda surgu bem eedo no pensamento cristo e tor~ nou-ee bastante difundida. Um poueo mais tarde no cris- 40 tianiomo, véros santos adquiriramo status de forgas ospi- rituals indopendentes que, como osdaimones, eram mais ddo que humanas, embora menos do que Deus. Os santos ‘oforecom ajuda, orientacao.e inspiragao para alma atra- ‘és da vida da pessoa, ¢ em momentos de afligio ou con- Fuso a peosoa pode rezar para seu santo especial pedin do ajuda, Muitas descas fungées dos anjos e dos santos no pensamento cristdo sio andlogas & antiga idéia do daimon ou genio. ‘Outra idéia compardvel Ado daimon [genius 6 acren- ‘ga nos Antepassados, crenga essa bastante viva hoje em dia na maior parte do continente africano. Ao sul do De- serto do Saara, acredita-se que se a pessoa viver uma vida exemplar, na hora da morte ela poder ser nomeada um dos Antepassados por Umlukulu (onome zulu para Deus) ‘A ungao dos Antepassados era oferecer orientagdo © pu- nigéo aos seres humanos. Eles tentavam especialmente ‘manter a pessoa no caminho correto na vida, e ajudar a pessoa a evitar a doenca e o mal. Se a pessoa comesasse & seguir o caminho errado na vida, os Antepassados podiam ‘andar avisos através dos sonhos, nos quais eles podiam. parecer em forma teriomérfica, freqilentemente como serpentes; se 08 avisos nfo fossem considerados, os s0- thos podiam se intensificar; os sonhos comuns podiam se transformar em pesadelos, e em casos ainda mais gra- vves o gado podia comecar a morrer, a pessoa podia softer tum acident, ou uma desgraca ainda mais aéria podia ccorrer® Dessa mancira, os povos da antigtidade e de sar le nr pea Gu sa ionte nfo apenas seja a origem de toda a eriatividado e assisténcia, como também nos corrija quan. donos desviamos do caminho certo na vida — enviando- as sonhos que servem de avis & noite eprovocando i eran eee podem ocorrer nas horas em que 4L ee ee “a Digitalizada com CamScanner A idéia do daimon genius 6 especialmente importan- te para uma completa tipologia psicol6gica. A psicalogia Junguiana fez muito pela tipologia com sua teoria ta extroversio eda introversdo, ¢ as quatro fimgées do pen. samento, sentimento, sensacio e intuigao; mas isso nao é suficiente. Também precisamos conhecor'a natureza do nosso génio para que possamos compreender o que s0- nomen ary ue asgrioy compounds o que truir casas ou montar motores de automovel, ele precisa seguir um caminho na vida muito diferente do que se tiver um génio para a arte ou para a psicoterapia, Muitos Jovens especialmente se atrapalham no inicio da vida adulta por néo terem identificado seu génio, ow porque as ambigdes de seu génio foram frustradas por circuns- tancias da vida interior ou exterior. Existe também um relacionamento entreo daimon/ {genius © nosso sono e nossos sonhos. Se, por exemplo, nos depararmos durante as horas em que estamos acordados, com um problema que nao podemos resolver, nosso daimon /genius procararé retalvé-lo enquanto dormimos. E por isso que o provérbio “consultar otravesseiro” 6 psi- cologicamente correto; no nosso sone, o daimon /genius {que existe dentro de nés freqiientemente encontra a so- lugéo de um problema que nao conseguimos resolver, de ‘modo que quando acordamos de manhi, o probleme que parecia insolivel na noite anterior tem agora uma res- ta clara ost também édurante o sono, as vozes diretamente atra- ‘vés dos sonhos, que o daimon /genius pode nos fornecer ‘uma idéia nova e inventiva que jamais teria nos ocorrido fom nossa vida desperta. Robert Louis Stevenson, por texemplo, nos diz que a trama do se famaso romance médico ¢ 0 monstro Ihe surgi em um sonho. Nesse o- ho yhavia duas figuras diferentes: uma aparentemente ‘hoa e a outra elaramente mé. Stevenson nos diz que sua 42 histéria O médico e 0 monstro surgi nesse sonho, ¢ 0 tema central da histria, a transformagio do “bom” Dr, Jekyll no sinistro Mr. Hyde, foi extraido diretamente do sonho. ‘No entanto, para que ogénio posta ter éxito em seus empreendimentos, ele precisa da cooperacao do.2g5.Edu- “Gaydo e treinamento, por exemplo, sero provavelmente éssenciais para ofuncionameito erative do génio. Alguém poderé ter um génio para realizar eirurgias, mas sem um extenso treinamento médico ¢ uma vasta experiéncia, 0 potencial do genio nao poderd ser satisfeto. Essa é uma Gas razdes pelas quais a educapao é uma parte extrema- mente importante do desenvolvimento psicol6gico. Ela também ilustra a maneira pela qual um criativo relacio- namento de trabalho se desenvolve entre o desenvolvi- ‘mento consciente do ego e 0 funcionamento criativo in- consciente. “Algumas vezes a figura do génio aparece diretamen- te em um sonho, Certo homem, por exemplo, relatow um sonhono qual ele encontrou algumas moedas de uro. No sonho, no momento em que ele descobriu as moedas, ou- tro homem, desconhecido do homem que estava sonhan- do, surgiu do chéo, pegou as moodas, e desapareceu. O hhomom que estava sonhando pereebeu que essa figura desconhocida era.o génio, eas moedasos valores e insights arquetipicos que ele havia recentemente adquirido. As- sim como o deus grego do trabalho edo artesanato crati vo, Hefesto, tinha uma forja debaixo da terra onde flores- cia sua inventividade, o homem desse sonho parecia ter ‘um lugar oculto nas profundezas do inconsciente onde lese absorvia no trabalho da imaginagao criativa, Robert Louis Stevenson, por exemplojrelata em sua autabiogra- fia que ele no escrevia suas histérias, Elas eram, na ver- dade, criagées do seus “homenzinhos”; eles faziam o tra- Dalho criativo e apresentavam as tramas e as idéias, ¢ 43 Digitalizada com CamScanner cle simplesmente as punha no papel e as refinava um pouee. ‘A idéia dos “homenzinhos” como simbolos do génio criativo que trabalha a noite esta bem expressa no conte de fadas “Os elfos c o sapateiro.” Nesse conte, um saps, teiro trabalhador, porém, pobre se vé reduzido a tal pos breza que s6 tem couro suficiente para fazer um tinico par de sapatos, e depois tudo estaré acabado. Muito tris. te por causa do seu estado de extrema pobreza, ele fol dormir sabendo que na manha seguinte estaria fazendo uum dltimo par de sapatos. Ao acordar, contudo, ele perce. be que o couro que ele deixou sobre a mesa se transfor. ‘mou num par de sapatos incrivelmente belos e habilmente confeccionados. Os sapatos séo to bem feitos e atraen- tes que o sapateiro nao tom dificuldade em vendé-los por ‘uma consideravel quantia, com a qual consegue dlimen- tar sua familia e ainda ficar com bastante dinheiro para comprar mais couro. Uma vez mais, quando o sapateiro vai dormir, ele deixa o pedago de couro sobre sua mesa de trabalho, e, uma vez mais, ao acordar pela manhé, ele pereebe que um belo par de sapatos foi feito com o couro ‘que ele deixou. Na verdad, desta vez ha varios pares de sapato porque havia bastante coure, Ele também consegue vender esses sapatos por uma srande quantia, , dessa vez, quando vai dormir, ele pode deixar uma maior quantidade de couro sobre a mesa de trabalho, e descobre na manhé seguinte que o couro se transformou em maravilhosos sapatos. Isso continua du- rante algum tompo até que o sapateire fiea abastado. Fi- nalmente, contudo, 0 sapateiro fica curioso a respeito dos misteriosos poderes que trabalham tao diligente ¢ criativamente na noite para ele, de modo que fica acor- dado para espiar © que acontece. Quem aparece no silén- cio da noite sao elfos que répida e habilmente se péem a trabalhar e comecam 2 fabricar sapatos maravilhosos com 44 © couro, Mas quando os elfos percebem que estdo sendo observados, eles desaparecem—e nunca mais voltam! Os elfos personificam o génio criative do sapateiro; eles trabalham & noite pois representam predominante. ‘mente uma atividade ineonsciente. O efeito negativo que corre quando os elfos compreendem que estio sendo ob. servados pode ser interpretado como um simbolo do que acontece quando nosso processo eriativo se torna excess. vamente racional, ou quando o ego se coloca no caminho, tentando controlar o processo eriativo a fim de satisfazer suas ambigées egocéntricas. , Ahistéria de “Os elfose o sapateiro” mostra queuma dasimuitas necessidades que nos so impostas, pelo me- nos para muitas pessoas, é a necessidade de criar; par- que se néo criarmos, ficamos empobrecidos psicolégiea e espiritualmente, som moncionar economicamente/Assim, as necessidades da vida, que expressam a re: «nos causar problemas psicol6gicas, com 8 a propria Ananke estivesse zangada conosco por fermos deixado derealizar 0 quo existe em nossa nat ian ~ Com muita frequnicia-Tazemos objepao a Ananke ¢ fs exigéncias que ela nos impde, porque.e £6, enquanto esté preso.em set egocontrismo, quer fazer o que ele quer fazer. Por éonseguinte, como observamos, a necessidade ¢ amide 0 objeto de nossas queixas, @ ais pessoas Af ve- lem um tempo ¢ energie considerdveis ten- tando se libertar do abraco de ferro de Ananke. Na época das cleigses nos Estados: Unidos frequentemente ouvi- ‘mos falar em algo chamado o “Sonho americano.” Exata- menteo que 6 esse sonho americano néo$ explicado, mas com freqiiéncia parece nio ser nada mais do que nos tor- narmos financeiramente to bem sucedidos a ponto de nos libertarmos da necessidade de trabalhar e podermos 45 Digitalizada com CamScanner nos dedicar completamen semos infelizes o sufici das necessidades finan: nte ao Inzer. No entanto, se fos lente a ponto de nos libertarmos ceiras e de outras necessidades na lescobrirfamos que nossa vida co- megaria a dar errado de maneira misteriosa, E com co num grande nim do sinnonme scapes aia atormentadores, ou circunsténcias externas desalenta, ‘ trabalhar, to- renin que enfentar uta ncozsiade a neesidde de encontrar uma vida criativa apropriada nosea persones lidade particular. Caso contrario, podemos decenvoleey sintomas negativos: bober demais, um tédio que s6 pode ser aliviado por estimulos cada ver mais viciadores, sel cionamentos que acabam deteriorando por exigirmos de. mais deles, e finalmente, talvez, ameacas a nossa salide, ‘Temos aqui um paradoxo: exatamente no ponto em que © ego supée que est “livre, ele correo maior perigo, Aunica verdadeira iberdade ¢ servir ao Ser Divino, de quem ‘Ananke é uma parte viva. | {Ananke também é um importante elemento clinico em certos distarbios psicolégios. Ela 6 encontrada nos distiirbios ligados ao vicio como. aaa 0 vicio das: drogas, Nesses casos, a vitima do distirbio vivencia uma poderosa compulsao que equivale a necessidade de beber 4leool ou consumir a droga. A experiéncia da personali- dade viiada 6 que ola precisa de uma quantidade cada ver maior da substincia viciadora a fim de experimentar 2 cerago da dr ou tera sansago de bemestar Ass dada cura para a maioria das pessoas com Gestibio¢ eubttur a nogosidnde negatiadasube tancia viciadora por uma necessidade | positive a ista ule mma pode ser ou inclur a freqiéncia regular a encon Ue anos Andnimos ov srgaizaoeeeomelnante, 46 além da cctopso dos anudéves printpioeeppirtuaae Prlongicos dessesgropos. A iferenga entre uma neces Sida negative (vie) © uma nocealdade poliva (re framas de jude) € que, enquanto a primeira édestrative, ‘a tiltima conduz ao crescimento pessoal, a uma conscién- tia mais ampla ao desenvolvimento do carter, pois os individuos que seem aprendem ave dedicaraviver em fangdo de certo prineipis de vida. Outro distirbio psicolégico, no qual Ananke esté visivelmente envolvider6 coaiseldo ha paquata Samo Aistarbio compulsive obsessive (OCD). angustiante disttirbio se véem compelidas a se envolve- fem om padrées do compartamento ritualfetion re: potlivos aparentomente infrutiforos, que precleam™ set Erecutadoode uma determinada mantra e quo nao tm nenhum objetivo proveitoo a nao sor livin tempor tents, opacients do oofimenta 6 sbaticla k relg a continuam até quo ovituol apropriads saa execs O individuo que sore dessa compulato detest intonanman teorritvns, 00s executa contra ua vontade apansa pon. ‘que no existe outra maneira de sentir alivio. - ‘guns casos de OCD podem certo loves, que les mal podem mereeor sr clasificados como um tirbio psiguatrce, Depos, por exemple, que aa pessoas flan Abertamente a respeito de algo bem que Ines acontece, elas podem, meio brincando mas também meio séian, “Sater na madeira,” Essa “superstigaa"recua& pecs om gue as pessoas aceditavam ativamentenodiabe Aidéia € que o diabo poderia ouvir o que esta send dite a respeito da sorte da pessoa o vir bused lacatuando tina devastagéo na vida dessa pessoa. A madeira nn uel Pessoa bateu era originalmente considerada a madeira da Cruz de Cristo, a tinica a ter 0 poder de eviter as ma- quinagées do Ente Maligno, que tha muito edanes do Temestar eda feicdade hassanos a7 Digitalizada com CamScanner Esse remaneseente dos dias mais supersticiosos da humanidade difieilmento mereco uma elaceilicarte pat aquiétrica, mas em outros casos as eoiaas ee tornem tats graves. Alguém pode softer, por exemplo, da compulsio de examinar repetidamonteofogio antes de dormir para certifiar-se de que ofogo esta apagade, Vorifcar ofrete tuma ver para certificar-se de que cle esta desligado Suen boa medida de precausio, mas se o ato for repetido doz, vinte ou com vezes, Ananke tera feito oua aparigdo de un modo negativo. Por esse motive, 0 distirbio compulsivo obsessive pode ser um grave estado psiquiitrieo porque limita ex. tremamente a vida e impde uma necessidade torturante a suas vitimas. No easo de uma pessoa que me procurou para que eu a ajudasse com relagio a esse distrbio ede {quem eu tenho a permissao para relatar o caso), os Fi. tuais a serem executados consumiam muitas hores do dia, interferindo drasticamente com seu trabalho, sua vida, familiar e sua auto-estima, Ela sentia quo esses rituais ram uma necessidade absoluta que The eram impostos por forgas do mal que prometiam se vingar dela provo- tando acidentes, por exemplo, se o8 rituais nao fossem executados, ‘No caso dessa jovem mulher, por exemplo, um alivio significativo dos sintomas foi alceangado através da subs- tituigdo dos rituais pela imaginagéo ativa. Bsta dltima também tinka que ser feita para que ela so Kbertasse da compulsdo de anular a vida, mas ela consumia muito menos tempo do que os rituais que a mulher original- ‘monte so via compelida a executar, além de conduzi-la de ‘uma forma extremamente interessante a uma experién- cia significativa com seu mundo interior. Poderiamos di- er que a cura para cssa mulher ainda exigia 0 servigo a ser prestado a Ananke, porque a imaginagéo ativa era brigatéria para que ela pudesse vivenciar um alivio das 48 suns compulsdes, mas como ela encontrara uma maneira criativa de prestar esse servign, ela obteve um beneficio. positive, Aimaginagéo ativa exccutada poresea mulher 6uma forma do que poderia ser chamado “trabalho interior” Muitas poscoas que estio teenicamente livres de sinto- mas’, descobrem que sua vida eaminha muita melhor ‘quando.um trabalho psicoldgico e espiritual interior & regularment exeeutado. Parece que, assim como 3 corpo tem certas necessidades que precisam ser eatsfetas, a alma também tom essas necessidades para poder perma nocer saudével e eriativa. : Anecessidade dos mortais de servir aos deuses é 0 _mativo pelo qual os gregos también associaramn Ananke 8 ‘ura pois quando uma pessoa peresbe que precisa viver deuma certa maneira,ela serve a Ananke ea saide pode ter lugar. Quando, por exemplo, nés compreendemos que precisamos dar otipo certo de comida ao nosso corpo para ermanecermos saudaveis, a side do corpo (e da alma) pode ocorrer. Quando sabemos que precisames vive cia tivamente ou cair em depressdo, a said espirtual pode ccorrer. Quando o alcodlatra pereebe que precisa viver ‘uma vida honesta ou ser compelido beber, acura torna- se possivel. Assim 6 que a satide do corpo e da alma 6 alcangada quando cumprimos as exigéncias de Ananke, rquétipo vive dé“o que preci ser feito.” ‘Além disso, a idéia de que cura para muitas das nosis alligbes reside na accitagéo criativa da necessida- de, é uma parte integral do procesco de tornarse uma pessoa completa que C. G. Jung ehamou “individuspdo Embora oD. Jung tenha identificado e descrito o proces sode individuagao, 6 claro que ele nioo inventou, Existe, na verdade, “hisricos” de peesoas que passaram pela individuagio recuando no tempo pelo menos até aa hist6- ras biblieas deJacé eJosé,e,talvez, a primeira pessoa a 49 Digitalizada com CamScanner ensinar esse processo com toda sua complexidede psico- lbgica © profundidade espiritual tenha sido Jesus de Nazaré.* Nos tempos modernos, contudo, devemos a idéia da individuagéo basicamente a C. G. Jung. A idéia ocor- reu pela primeira vez a Jung quando ele observou um processo psicolégico que tinha Iugar em muitos de seus pacientes, bem como nele mesmo, que nio era desenea. deado pelas preocupacées do ego e sim a partir de um centro interior mais profundo. Jung percebeu que, nes- ‘ses casos, a satide do individuo exigia uma concentragio sobre esse processo. Jung chamava esse processo de “individuagdo” porque ele parecia estar voltado para o desenvolvimento de uma personalidade total, completa e individual. A meta do processo de individuagao, contudo, nao coincidia necessariamente de modo nenhum com as metas declaradas do ego. Com efeito, como mostrou Fritz Kunkel, 0 processo de individuagao est sempre em opo- sigdo as nossas metas egocéntricas; ele s6 pode ser reali- zado quando o ego egocéntrico finalmente aceita a neces- sidade de se subordinar as éxigéncias do Centro maior interior, ou, propondo a questo em uma linguagem reli- siosa, a necessidade de reconhecer o poder superior da vontade de Deus. Pensar como um grego da antigiiidade e reconhecer © poder de Ananke gera uma atitude acentuadamente diferente da atitude “consiga o que vocé quer,” predomi- nante no apenas na cultura atual como um todo, como também até em certos tipos de sistemas psicolégicos. A ‘mensagem de Ananke, contudo, é de que existe uma ca iberdade: servir a Deus da maneira pela qual a Divin- dade se apresenta a nés. Assim, o paradoxo 6 que a libe- ragio, no caso do ego, nao consiste de uma vida levada sem restrigées ou exigéncias, e sim do fato de aceitarmo: voluntariamente a necessidade: as necessidades que nos so impostas a partir do interior é do exterior que a vida, 50 cexige de nés, Por esse motivo, a individuagéo néo é um “faga como quiser” libertéro, ¢ sim exatamente o oposto: significa satisfazer as exigencias das Forgas Superiores que os seres humanos sempre chamaram Deus. Nisso re- side a cura.)Com relagio a isso, vale a pena observar que 1 palavra'grega thepapewo, da qual derivamos nossa pa- lavra terapia, nao apenas significa curar como também ‘prestar servigo aos deuses.” “Ananke significa que existem represses ¢ limites interiores que precisamos experimentar. Em nossa cul- tura atual, temos a tendéncia de esquecer que existem limites legitimos que precisam ser observados; os gregos ram bem informados sobre eles, e por esse motivo eles diziam que Ananke tinha uma irma—a deusa Témis — ccuja fungdo era estabelecer e dirigir todas as fronteiras e limites que nés, mortais, precisamos observar. Voltamo- ‘nos agora, portanto, para Témis. 61 Digitalizada com CamScanner 3. TEMIS E SUAS FILHAS ‘Nossas cidades do interior parocom estar se desinte- grando, a medida que nossa populagio se desloca do cam- po para cidade, e ondas de imigrantes chegam & nossa costa, dirigindo-se aos centros urbanos. Nesse interim, 0 niimero de filhos ilegitimos tem aumentado como nunca antes na nossa histéria, enquanto a vida familiar, em goral, esta desgastada em virtude da eomplexidade da vida moderna, e, em muitos casos, por um grande ntime- +0 de filhos que os pais no tém como sustentar. Nossas prises estéo superlotadas; e, por mais rapido que uma nova priséo seja construida, ela também ficha cheia, pois ‘um creseente nimero de pessoas menospreza a lei e 05 direitos legais e morais das outras pessoas. Devido ao nimero cada vez maior de lares desfeitos, a pressdo social 4 falta de uma influéneia religiosa positiva, cada vez ‘mais pessoas precisam de ajuda psicol6gica ou psiquid- trica, esgotando os recursos da assisténcia médica. O nimero de pessoas desempregadas faz com que os mais, ‘dosos se Iembrem da Depressao dos anos trinta, e mes- mo até entre os que estio empregados, o salério parece freqientemente inadequado para atender as exigéncias financeiras de uma sociedade e modo de vida complexos. ‘Alguma coisa parece estar errada com os Estados Unidos, mas, embora diferentes pessoas tonham opinibes 52 distintas, nonhuma delas parece acertar no alvo. Os an tigos gregos, contudo, teriam tido uma explicagdo para esse fendmeno, O problema, teriam ditocles, que adeusa ‘Témis foi desconsiderada, e porter sido ofendida, ela re- Jama o pagamento da parte de uma raga humana que s@ contaminou de tal modo com um orgulho arrogante que agora desconsidera a honra e a prerrogativa dos deuses. Quem 6 essa Témis que era téo importante para os gre- {gos a ponto de eles atribuirem a culpa dos males da nos- sa sociedade na nossa negligéncia arrogante dos direitos e exigéncias dela? Como j& observamos, muito antes das divindades climpicas, com sua tendéncia essencialmente masculina, entrarem em cena na Grécia, a antiga ordem matriarcal emanava de Gaia—a prépria Mie Terra. Mas quase tao importante quanto Gaia era a deusa Témis, tine din. dade tao antiga que era virtualmente uma s6 com a Deu- sa Mie; com efeito, ela era chamada “oespiritoe a vonta- de de Gaia” e era considerada a personificagéo da justica ‘ea vor da propria Gaia. Muito antes de Apolo assumir 0 assento oracular em Delfos, ele pertencia a Gaia, mas era ‘Témis que freqlentemente falava em nome de sua mae: “Primeiro nesta minha prece,” declara a profetiza no inf- cio de Bumenides de Eaquilo: “eu concedo o lugar de maior hhonra entre os deuses & primeira profetise, Terra (Gaial; © depois dela a Témis, pois ela, como se diz, tomou em segundo lugar ete assent oracilar de sua ma 1983, Q.nome Témis deriva da rais da palavra grega them, Que significa colocar no lugar, assim, Témis se fore a.tudo o que ¢ colocada como carreto @ necessério, ‘Témis é, de fato, a deusa de “aquilo que 6 Correto” — em_um sentido moralista, mas no sentido da “

You might also like