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FARA AAA AAAAAAAAABARAD RADAR AADARR AA RA ARRAS JESSE SOCIO REISE SOE SRETE EME A MORADORES DO CEARA Tribunal do Santo Officio Estudos de valia para a nossa Historia tem appareeido de ultimo a respeito do Tribunal do auto Olficio nas terras do Brasil, Excemplos, as Coufissdes (1928), as Denuneiagdes na Visitagaio feita pelo Licenciado ILeitor Furtado (1925), uinas e outras pertencentes a serie Eduardo Prado, a gue Capistrano de Abreu empreston o britho de sua pepna em magistral introducedo, ¢ as inves- tizaches com tanto fructo reatizadas por Autonio Baido @ Lucio dAzevedo nos Archivos da Torre do Tombo de Lisbéa. Sabende da minha correspendencia que La cio PAgevedo, men confrade, como Antonio Baide, do Jnstitute do Ceara, estaya com o ardor de sem- pre a proseeuir nas suas pesquizas na ‘Torre do ‘Fombo, ousei aproveitarane da sua gentile,a para mais amplo esclarecimento de um trecho da chro- ni¢a Cearense, e lhe endereesi uma carta. Pratava eu de couhecer o que se poderia co- Ther cos archivos a respeifo de Antonio Correa de Araujo Portugal, entathador, e Antonio Men- des cht Cunha, pedreiro, aquelle morador ein led e este em Quixeramohim, os quaes om Setembro de 1761 haviam figurado num auto de f6 em Lis- bda.—-Pouco se sabia dees: as edaces ¢ os logar- es do nascimento. DO _INSTITUTO DO CEARSL 205 Sabia-se mais que eram accusados de biga- mia. A resposta de Lucio d’Azevedo nao se fez es- perar; como contava, meu pedido foi bondosa- mente satisfeito com a remessa de copias dos Pro- cessos N.°s 6269 e 6274, que ora offereco A curio- sidade dos leitores da Revista. Quero fazer ligeiro reparo a um trecho do fi- nal do Processo 6269; nelle se diz que a sentenca comminada a Ataujo Portugal the foi publicada a 20 de Novembro em auto, que se celebrou no claustro do convento de 8. Domingos. Ora, muitos dos que escreveram, eu inclusive, sobre o caso tém consignado uma s6 data, 20 de Setembro, para o auto em que figuram os dous reus. Nao houve, portanto, dois autos, mas um tio somente, Persisto na minha affirmativa, corroborada agora pelas pesquizas de Lucio. Si Araujo Portugal foi condemnado a degre- do para Castro Marim por cinco annos ¢ alli apre- sentou-se a 23 de Outubro, como podia ser sen- tenciado a 30 de Novembro? Anachronismo Glaris- simo, positivo. A palavra Novembro 6 erro na co- pia ou mesmo no original, deve ‘scr substituida pela palavra Setembro. Daqui envio a Lucio d'Azevedo a expressia do meu reconhecimento. Bakio DE STUDART. 206 RE VISTA TRIMENSAT. Antonio Correa de Araujo Portugal © Acorlaio os Inguisidores, ordinario, e Depu- tados da Santa Inquizicio que vistos estes autos, culpas, e contissio de Antonio Correa de Araujo Portugal, entalhador, natural da freguesia de Sao Migucl de Seide, coutos de Landim, Arcebispado de Rraga, e morador na Villa de 1e6, comarca do Seard, Bispado de Pernambuco. Porque se mostra gue sendo chiristao bapti- sado, € como tal obrigarlo, a ter, ¢ crer tudo o que tem, cre e ensina a Santa Madre Igreja de Roma, e sentir bem cos Sacramentos da mesma Igreja, elle o fez pelo contravio, a de certo tempo a esta parte esquecido de sua obrigacfio com pouce te- mor de Deus, e da Justica, em grave damno e prejuizo de sua alma, e injuria do Sacramento do matrimonio, se cazou segmida vez, sendo ainda vive sua primeira e legitima muther. Polas quaes cul sendo, o Reo preza nos earceres do Santo Officio, e na Meza do meso com muita charidade admoestado as quizesse con- fessar para a descarga de sua cousciencia, salva- gio de sua alma, e© bom despacho de sua cauza Disse que queria confessar suas culpas, as guaex ero; que sendo cazado por palavras de preceme ita forma do Sagrado Concilio Triden- () Apresentor-se ne lugar do degredo a 23 de Outubro de 176, Km Gutubro de 1762 requerewperdan da pena alia de ir ao Ceava, onde a segunda mulher ja tinha lalecide, de que mostra cerlidan, para recalher np bens de casal, sequestrados por dividas 4 fazerda do Estalo, © prestar coutas de duas tea- famentarias © trsbrnal nao perduan, mas concedeu licenca para ir 40 Byasil, tcixando tiador, ¢ abiigado a vellarno Tim de dois anaos. Em’ 1763 estando nu Ceara pedi! praragagao do prazo, se foi concedide por mais dais amos, Jindos os quacs, teria de aprescalar-se. Nada mats consta do processn, podendy ser gue o homem morresse. ou com © tempo Tosse esquecida a pena. DO INSTITUTO Do CEARA 207 tino recebido na freguesia de Santa Marinha de Chorence, concelho da terra de Bouro, Arcebispa- do de Braga, em presenga do Parocho e testemu- nhas com Fillipa da Silva, com a qual fez vida marital por tempo de sete ou oito annos, e teve trez filhos, auzentandosse com licenga da mesma sua mulher, veyo para esta cidade com animo de hir para o Brazil; © indo com effeito para a Ci- dade da Bahia, nella assestio, e no seu reconcavo, sendo a sua mayor assistencia na Villa de Itapi- curt, trabalhando pelo seu officio, e dahi se pas- sou para a Villa de Icé comarca do Seard para cobrar algumas dividas, que se the deviio, aonde recebeo huma carta de hum seo irmao, que tao bem assestia na dita Villa de Itapicurd, na qual The dizia ser falecida a dita sua mulher, por as- sim lho mandar dizer Pedro Barboza, entalhador, morador na.cidade da Bahia, e divulgandosse esta noticia na dita Villa de Teé, se vio obrigado a vestir-se de luto, a qual noticia se confirmou ainda mais porque chegando nesse tempo algumas pes- soas a dita Villa asseveraraio que com effeito era morta a dita sua mulher; e justificando ser veuvo com as mesmas pessoas, que lhe derdo a referida noticia da morte de sua mulher, se recebeo com Joanna Rodrigues do 0’ na capella do Senhor do Bomfim perante o Parocho, e testemunhas na for- ma do mesmo concilio, com a qual fez vida ma- rital desde a Paschoa do anno de mil sete cen- tos, e sincoenta e sinco, athe ode sincoenta e nove, fempo em que faleceo a dita sua segunda mu- Ther da qual quinze dias antes se havia separa- do, por ter recebido humas cartas da Cidade da Bahia, em que so lhe dizia ser viva a dita sua primeira mulher, e a cauza que houve para se di- zer que cra morta, com a qual noticia conhecen- do elle o mal, que tinha obrado, e receando o eastigo, que se lhe podia seguir, por haver caza- REVISTA DO INSTITUTO 14 208 REVISTA TRIMENSAL do segunda vez, sem mais certeza da morte de sua primeira mulher, do que as noticias que tem declarado, foy logo a Pernambuco procurar hum comissario do Santo Officio, ao qual declarou o que lhe havia socedido, e as razées que para isso o obrigariio, dizendo-lhe que queria desencarregar a sua consciencia, para 0 que estaya prompto, e desejava vir a este Tribunal confessar as referi- das culpas, e executar tudo o que se lhe ordenas- se; e como o dito comissario lhe escreveo a sua aprezentagao, que lhe assignou, entende que a remeteria a este mesmo Tribunal; e que estas erfio as culpas, que tinha que confessar, as quaes cometera por sua mizeria, ¢ fragilidade, e por en- tender serem verdadeiras as noticias, que tivera de ser morta sua primeira mulher, e no por sen- tir mal do Sacramento do matrimonio e de as aver cometido esta muito arrependido, e dellas pe- dia perdao, e mizericordia. E pelo Reo nao ter feito inteira confissio de suas culpas, pois nio declarava a verdadeira ten- ¢fo com as que cometera veyo o Promotor Fis- eal do Santo Officio com libello criminal acuza- torio conira elle, que lhe foy reecbido siet in quan- tum, ¢ o Reo o contestou pela materia de sua con- fissio, e nao vindo com defeza foy della Jangado, e havendo por repetidas as testemunhas da Jus- tiga, se The fez publicagéo dos seus ditos confor- me o estillo do Santo Officio, a que nao veyo com coniradictas, e dellas foy tio bem Jangado, pre- zestindo, e afirmando nao tivera outa tengaio mais que a havia declarado. QO que tudo visto, e o mais que dos aulios consta, @ a presumpeao que conforme o Dircito re- zulta de o Reo sentir mal dos Saeramentos da Igre- ja, e em especial do matrimonio, e ter o erro dos que afirmado ser licito cazar segunda vez sendo ainda vivo o primeiro marido, ou muther Mandiio que o Reo em pena, e peniteneia das ditas culpas va ao Auto publico da Fé na forma costumada, DO_INSTITUTO DO CREARA 209 nelle ouga sua sentenga, e faga abjuracio de leve e o degradao por tempo de sinco annos para Cas- tro Marim, e de mayor condemnagio 0 relevao, atendendo a varias ponderacgies, que no cazo se tiverfio: Sera instruido nos misterios da Fé ne- cessarios para a Salvagao de sua alma, e comprira as mais penas, e penitencias espirituaes, que lhe fo- rem impostas, e pague as custas. Luiz Barata Lima—Joachim Jansen Moller— Jeronimo Rogado do Carvalhal e Silva. Publicada foi a _sentenga asima ao Reo An- tonio Correa d’Araujo Portugal no Auto publico de Fé que se celebrou no Claustro do Convento de S. Domingos desta Cidade de Lixboa, em 20 de Novembro de 1761 estando prezentes os Se- nhores do Conselho Geral, os Senhores Inquisi- dores e mais Ministros muita Nobreza_ e povo.— André Corsino de Figueiredo o eserevi. Torre do Tombo—Inquisieio de Lisboa—Pro- cesso N.° 6269. Antonio Mendes da Cunha (*) Acordio os Inquizidores, ordinario e Deputa- dos, da Sania Inquizig&o, que vistos estes autos, -culpas e confissio de Antonio Mendes da Cunha, pedreiro, natural da freguezia de Linhares, Con- selho de Coura, Arcebispado de Braga,e morador () Sujeito, ao que parece. de proceder irregular, Denun- ciado, poucos dias apés o segundo cazamento, ao paroco © tinha celebrado, por Pedro Francisco da Cunha, morador em Aguiraz e natural da mesta freguezia de Linhares, como o reu. Era falso ter éste ido para o Brazil de menor idade. Cum- pri a pena de galés (trabalho forcado no arsenal etc. e nao de remo) durante 3 anos. Em Agosto de 1764 requereu comu- ta¢do da pena para degrede, onde possa tratar suas molestias. O cirurgido atesta que padecia ruptura.c sua vida perigava cm iais trabalhos, Perdoado do resto da pena em 15 de Setembro de 1764, 210 REVISTA TRIMENSAL na de Quexarambim comarca do Searé Bispado de Pernambuco, Reo prezo que prezente esta. Porque se prova que sendo christao baptiza- do, e como tal obrigado a ter e crer tudo o que tem cre e ensina a Santa Madre Igreja de Roma, e sentir bem dos Sacramentos da mesma Igreja, elle o fez pelo contrario, e de certo tempo a esta parte esquecido da sua obrigagaéo com pouco te- mor de Deos, e da Justiga em grave dammo e pre- juizo de sua alma, e injuria do Sacramento do matrimonio se cazou segunda vez sendo ainda viva sua primeira e legitima mulher, Pelas quaes culpas sendo o Reo prezo nos carceres do Santo Officio e na Meza do mesmo com muita charidade admoestado as quizesse con- fessar para desencargo de sua consciencia, salva- cio de sua alma,e bom despacho de sua cauza Disse que, queria confessar suas culpas as quaes erio, que sendo casado por palavras de prezente na forma do Sagrado Concilio Tridenti- no e recebido na freguezia de Sao Mamede de Tencira do mesmo Conselho de Coura, em pre- zenca do Parocho e testemunhas com Theodozia Fernandes com a qual fez vida marital por tempo de hum anno, e passado este, se auzentou para esta cidade e della se embarcou para Pernambuco, e@ passando para a povoacéo de Santo Antonio na Ribeira de Quixarambim comarca do Searé, aonde assestia lhe entregario huma carta de huma sua Tia, na qual lhe dizia que Ihe mandasse elle Reo huma procuragio para se venderem algumas terras que possohia porque tinha falecido a dita sua muJher, e persoadindosse elle que era verda- de o que a dita sua Tia lhe mandara dizer, sem fazer mais averiguacao alguma, para se certeficar se era oul nao morta a dita sua mulher, se ajus- tou a cazar com Anna Maria Valeria, para cujo effeito fez huma justificagao em como ora livre, 6 dezembaracado, na qual jurarao tres testeriunhas q era solteiro, por elle mesmo assim Jho segurar DO_INSTITUTO DO CEARA at e dizer que naquelle Cert&éo sempre assim se tra- tara porque para elle tinha hido de menor idade, dando fianga aos banhos se recebeo com effeito com a dita Anna Maria Valeria na Igreja de San- to Antonio de Quixarambim em prezenga do Pa- rocho e testemunhas na forma do mesmo Conci- lio, e com ella fez vida marital por tempo de nove ou déz mezes; e que estas erfio as culpas que ti- nha que confessar, as quaes cometera por sua mi- zeria @ fragilidade e nao, por sentir mal do Sacra- mento do matrimonio. E que de as haver cometi- do est4 muito arrependido e dellas pedia perdiéo e mizericordia. E pelo Reo nao ter feito inteira confissio de suas culpas, pois nao declarava a verdadeira ten- gaio com que as cometera, veyo o Promotor Fiscal do Santo Officio com libello criminal acuzatorio contra elle, que lhe foy recebido sict in quantum, © que o Reo contestou, pela materia de sua con- fissio, e nfo vindo com defeza foy della langado, @ havendo por repetidas as testemunhas da Jus- tiga, de seos ditos se the fez publicagio na forma do estillo do Santo Officio, a que nio veyo com contradictas e dellas foy tambom langado, prezes- tindo e afirmando nao tivera outra teng&io mais que a que tem declarado. O que tudo visto, e o mais que dos auttos eonsta, e a prezumpcdo, que conforme a Direito rezulta de o Reo sentir mal dos Sacramentos da Igreja, e em especial do matrimonio e ter o erro dos que affirmio ser licito cazar segunda vez sen- do ainda vivo 0 primeiro marido ou mulher Mando que o Reo em pena-e penitencia das ditas culpas v4 ao Auto publico da Fé na forma costumada nelle ouca sua sentenca e faca abjura- gio de leve, sospeito na Fé e por tal o declario, seré agoutado pelas ruas publicas desta cidade citra sanguinis effuzionem, e o degradio por tempo de sinco annos para as galés de sua Ma- gestade, seré instroido nos misterios da Fé neces- 212 REVISTA TRIMENSAL sarios para a salvacio de sua alma, e cumprira as Mais penas e penitencias espirituaes que lhe forem impostas, e pague as custas. Luiz Barata de Lima Joachim Jansen Moller Jeronymo Rogado do Carvalhal e Souza, Luiz Pe- dro de Bartholomeu Caldeira, Publicada foi a sentenga asima e atras eserita ao Reo Antonio Meniles da Cunha, nella contheu- do no Auto publico da Fé que se celebrou nos claustros do Convento de Sic Domingos desta Ci- dade aos vinte de Setembro de mil sete centos sessenta ¢ hum annos estando prezentes os Senho- res do Conselho Geral, os Senhores Inquizidores, e mais ministros da Meza munta Nobreza e Povo, Manoet Francisco Neves o escrevi. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Inquizicio de Lisboa. Processo 6274. ANTONIO MENDES DA CWWMA. Sentenga. Re IS

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