Professional Documents
Culture Documents
Habilidades de Memória de Trabalho e o Grau de Severidade Do Desvio Fonológico
Habilidades de Memória de Trabalho e o Grau de Severidade Do Desvio Fonológico
2005
Introdução
acerto apenas quando a criança repetiu substituiu algum fonema ou sílaba nas palavras que
corretamente a série de dígitos apresentada em uma normalmente substituía na fala espontânea,
das duas tentativas. Quando dois itens conforme verificado pela avaliação fonológica da
consecutivos eram errados, em ambas as tentativas, criança (AFC). Quando a criança apresentou trocas
encerrava-se a aplicação do subteste. e omissões de fonemas e sílabas na repetição das
Para obter o escore bruto, utilizou-se o critério palavras sem significado, que normalmente não
recomendado por Bogossian e Santos (1977), realizava na fala espontânea, a tentativa foi
atribuindo-se dois pontos para cada item acertado considerada incorreta.
na primeira tentativa, um ponto para cada item A análise das respostas por lista foi realizada,
acertado na segunda e nenhum ponto para os itens então, considerando-se a lista com o maior número
errados em ambas. Com o escore bruto obtido, os de sílabas, na qual houve a repetição correta dos
resultados foram transformados em Escore Escalar, cinco itens. Esse foi o critério para determinar o
conforme as instruções do ITPA. O escore escalar desempenho das crianças da amostra na habilidade
esperado para a idade pesquisada, segundo as de memória fonológica.
instruções do ITPA, é de trinta e seis pontos, No final, os resultados foram analisados
podendo estar situado seis pontos abaixo e seis conforme os diferentes graus de severidade do
pontos acima deste valor, ficando, portanto, entre desvio para a prova de repetição de seqüência de
trinta e quarenta e dois pontos. dígitos, verificada através do Escore Escalar, e para
A avaliação da memória fonológica foi realizada a prova de repetição de palavras sem significado.
a partir da Prova de Repetição de Palavras Sem Após a realização de todas as avaliações, os
Significado, elaborada por Kessler (1997). O teste dados foram agrupados e transformados em uma
consiste na repetição de trinta palavras sem tabela e três figuras. Para a análise estatística, foram
significado, organizados em seis listas, cada qual empregados o teste estatístico de Kruskal-Wallis e
com cinco palavras sem significado, que variavam a Análise da Variância através do Teste de Duncan,
conforme o número de sílabas, de uma a seis sílabas, ambos ao nível de significância de p > 0,05 (Siegel,
constituídas por estruturas silábicas simples, 1975).
privilegiando estruturas do tipo consoante-vogal
e consoante-vogal-consoante. Resultados
O procedimento de realização da prova consistia
em apresentar todos os itens das seis listas, um a Na análise dos resultados, em relação ao grau
um. A criança, sentada ao lado do examinador, ao de severidade do desvio fonológico, foi calculada
ouvir cada item, deveria tentar repet í-lo a média e o desvio padrão, para as respostas obtidas
imediatamente, tal como enunciado pelo examinador. na repetição de seqüência de dígitos, verificada
Nessa tarefa, a tentativa de repetição foi através do Escore Escalar, e para as respostas
considerada correta, quando a criança conseguiu obtidas na repetição de palavras sem significado, o
repetir o item tal qual foi apresentado ou quando que pode ser visto na Tabela 1.
TABELA 1. Valores obtidos nas provas de repetição de seqüência de dígitos e de palavras sem significado, em relação ao grau de severidade do
desvio fonológico evolutivo.
FIGURA 1. Valores obtidos no Escore Escalar em relação ao grau de severidade do desvio fonológico.
29,4
29,2
29
29,3
28,8
28,6
28,4 28,8
28,7
28,2
28
27,8
28,1
27,6
27,4
média
FIGURA 2. Valores obtidos na prova de repetição de palavras sem significado em relação ao grau de severidade do desvio fonológico.
4
3,5
3
3,6
3,4
2,5
2 2,8
1,5
2,2
1
0,5
0
média
FIGURA 3. Comparação dos resultados obtidos na prova de repetição de palavras sem significado em relação ao grau de severidade do desvio
fonológico.
5,5
4,5
A
BC
número de sílabas
AB
3,5
C
2,5
1,5
máximo
mínimo
0,5 média + 1 d.p.
médio
Médio moderado / severo médio // Moderado
Médio moderado severo
Moderado / Severo Severo média
classificação do grau de severidade do desvio
Análise: Letras diferentes é porque as médias diferem estatisticamente (p < 0,05) - Análise de Variância (teste de Duncan).
Comentários
Os resultados foram descritos e analisados, fonológico, deve ser melhor pesquisada através de
partindo-se da Tabela e das Figuras apresentadas. outros testes, em um estudo posterior, para verificar
Com base nestes resultados, algumas questões a existência de relação entre o executivo central e o
importantes referentes a memória de trabalho e ao grau de severidade do desvio.
grau de severidade do desvio fonológico foram Quanto a memória fonológica, verifica-se na
levantadas. Tabela 1, pela aplicação do teste estatístico de
Com a aplicação do teste estatístico de Kruskal- Kruskal-Wallis, que o desempenho da memória
Wallis, na Tabela 1, verifica-se que o desempenho fonológica, apresenta relação positiva com o grau
obtido na repetição de seqüência de dígitos, que é de severidade do desvio, pois, as crianças que
um dos testes que vem sendo utilizado para avaliar repetiram palavras sem significado com um menor
o executivo central, não apresenta relação número de sílabas, apresentaram a fala mais
significativa com o grau de severidade do desvio, ininteligível. Esses resultados confirmam, o
como pode ser visualizado na Figura 1. Estes pressuposto, de que há uma associação entre a
resultados sugerem, que o desempenho do memória fonológica e o grau de severidade do
executivo central, componente da memória de desvio fonológico, como pode ser visualizado na
trabalho, pode não ter influencia na verificação do Figura 2.
grau de severidade do desvio fonológico. Pode-se Cabe ressaltar que a memória fonológica é
justificar este achado, pelo fato, de o executivo responsável pela estocagem do material fonológico,
central ser responsável pelo processamento de pela produção da fala espontânea, e representa
informações e pelo desenvolvimento da linguagem. mentalmente as características fonológicas da
Bull et al. (1999) referem que o executivo central, linguagem. Por isso, alterações nas habilidades de
componente da memória de trabalho, está memória fonológica podem influenciar o desvio
relacionado à aquisição do vocabulário. Baddeley fonológico em maior ou menor grau. Acredita-se,
e Hitch (1974) referem que o executivo central é então, que a relação encontrada neste estudo, entre
responsável pelo processamento e armazenamento a memória fonológica e o grau de severidade do
de informações. desvio, pode ter ocorrido, devido as habilidades
Cabe ressaltar no entanto, que a avaliação do de fala estarem mais relacionadas com a memória
executivo central em crianças com desvio fonológica.
Conclusão
A análise dos resultados permite concluir que uma bateria de testes, para confirmar se o
o desempenho da memória fonológica apresenta desempenho do executivo central não influi na
relação positiva com o grau de severidade do desvio obtenção do grau de severidade do desvio.
fonológico. Isso permite aceitar a idéia de que a Cabe ressaltar que a relação entre a memória de
memória fonológica está relacionada com a trabalho e o grau de severidade do desvio
produção da fala e com a escolha dos fonemas para fonológico tem sido pouco explorada na literatura.
a produção das palavras. O diagnóstico de alterações na memória de trabalho,
Com relação ao executivo central, os resultados muitas vezes sutis, podem ter um papel importante
permitem concluir que o desempenho na repetição na reabilitação das crianças com desvios
de seqüência de dígitos que vem sendo utilizado fonológicos.
para avaliar o executivo central, pode não ter relação Acredita-se que em um programa de prevenção
com o grau de severidade do desvio. Pode-se fonoaudiológica, a identificação de alterações nos
justificar estes resultados pelo fato de o executivo componentes da memória de trabalho pode
central estar mais relacionado com o minimizar ou impedir que distúrbios da comunicação
desenvolvimento da linguagem. No entanto, humana venham a ocorrer posteriormente na vida
sugere-se para um estudo posterior, a realização de do indivíduo.
Referências Bibliográficas