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Colegio Primeiros Passos Uma Enciclopédia Critica Mais que uma doutrina filoséfica, 0 existencialismo passou a ser identificado como um estilo de vida, uma forma de comportamento que designava atitudes excéntricas e caracterizava seus seguidores como depravados, promiscuos e morbidos. Tudo que infringisse as regras estabelecidas, a linha diviséria entre o certo e 0 errado, era considerado existencialista. O autor, despojando-se dessas idéias preconcebidas € fantasiosas, caracteriza os tragos gerais dessa doutrina, seus antecedentes filos6ficos ¢ sua relagdo com o marxismo. Area de interesse: Filosofia Joao da Penha a ae O QUEE > Ill S511 | = ISTENCIALISMO I MI ih Copyright© by Jodo da Penta, 1982 Nenhuma porte desta publicagao pode ser gravada, onmazenaia em sistemas elerinics,folocopiada, eprazida por meis mecdnicos ou outros mauterizacto priv do editor qaiguer say 85-1-01080-0, Primeira edict, 1982 1# reimprssio, 2001 o: Carlos Roberta de Carvalo ¢ racy R Bastos Musiracdes: Eni Damiant ‘Capa: Newion Mezquita, SUMARIO Dados temacions de Catlgapio n Pblicato (CIP) (Cimon Bike dative, Se, Bri) Olga cexitenitson / oo dP So ao sis 01 = (COR Introcugao 7 rigor do terme cio thlaengntene Te Se AiMeisoraeteeiicoe feo 43 ‘As correntes existenciaistas 25 ‘Quis correntes existenciaistas 79 axasss Existencialismo © marxismo I 22 Indioagées para leitura 85 Trai pre catogn sisters * 1 Pistecilismo Floria a ceitora brasiliense s.a. Rua dir 22 - Tatuapé (CEP 03310-010 - Sao Paulo SP Fone ¢ Fax (112181488 E-mail brasiieseedt@wo.com br Home page: www.editorabrailiense.com br INTRODUGAO Logo apés 0 término da Segunda Guerra Mundial, numa Eu- ropa merguhada nas seqUelas 6o confito, sufecada numa crise {oral (pola, social, esondmica, moral, inanceira, etc), ia ia-se do continenta auropeu, espraiando-se por todo o mundo, ‘0 movimento Hoséico existoncilsta. A experidncia traumatica ‘oa guerra gerou um ambiente de desanimo e desespero, sen timantos quo atingiram partoularmente a juventude, descrenta ‘dos valores burgueses tradcionaise da capacidade de o homem Solucionar racionalmente es coniradigbes da sociedad, jo Teperculingo & medida que Su on iam e esclareciam © momento histico sobrevindo @ guerra. j, Dai, certamente, 9 motivo por que o movimento s@ propagou ‘to rapidamente, Sua repercussao nao se limitou as discussdes lacadémicas nem aos debates nas paginas das publcagoes es: Desiree pecalzadss. Tan quarto uma doutina flossfca, 0 exs- ees ‘ancialismo passou também a ser identiicado como um estilo aizardo © 26 @ de vida, uma forma de comportamento, a cesignar toda atitude 0 Dr, Adzuoto Hissa Elian, texcéntriea, que os meios de comunicacaa divulgavam com @s- fraterno amigo @ tardalhago, clando uma auténtca mitologia em toro do mov! kictkegaardiano amoroso. mento € seus adeptos. A imaginago popular caticeturava a ligura do oxistoncialsta; aparéncia descuidada, catelos abun- antos © desgrennados; brusco nas maneiras; mal asseado; oss &s normas estabelecidas; amoral, sobretudo, pois 0 exis Kncialistatipico, inimigo da hipocrisia, recusava a’ moral trad: olonal: depravado e promiscuo, promovia orglas,entregando-se 808 prazeres mais degradantes, (Os existoncialistas eram acusados de pragar idéias dissol- Wonios, Sua reliexto fiosdica, dzia-se, ora morbiga, sombria, Jamarge, preocupada em explorer o lado sérdido da existéncia uumana, fixando-se nas excecbes da vida. Corruptos, a Mgr tes, em replica, afrmavam lie seu comportamento no podia ser julgado mediante os pa- Ios vigentes, pois tinham como orojete (uma das palavras- cave co vocabulrioexstencalta)justamente anger as bases (0 interesse de que 0 existenciaismo se tomnou alvo espa- house até mesmo em manifestagdes genuinamente populares, Jeomo 0 carnaval brasilero, Em incios dos anos Ginqenta, so. yavindo a tadigao tipica do repertéro cammavalesco de satiizar Jpoontecimentos da atvaidade, uma marchintia fez snorme Su Hooiio abordando o assunto. Aleta da misica exaltava a figura je_uma muher que 86 acoitava cobti-se com uma casca de. JPanana narica, pois tratava-se.de uma “existencialista, com toda zlo/s6 faz o' que mandale cou coracto" Dave-se salentar, a bem da verdade, que @ idéia popular Inonio civuigads do existencaista, 9 dstorcida, tinha uma nota 0 ifoia © humor que possiveimenie irtasse menos os lidares Ho movimento —inimigos do “esprito de seriedad’ tao cukivado pelos bugueses — que os aeques orkndos dos ‘tom ponsan- 0 fldsofo francés Henri Lélebvre referu.se as idéias do IMAls ominente fidsofo exstenciaista, Jean-Paul Sante, como Juma *motatisica da merda’. Por sua vez, seu compatiata Jae. jus Martan (1882-1972), calico, classifeava a flosofia do jie do uma, “mistica do infemo", No Brasil, o pensador Trstio | le ee de Athayde escrevia: “Sarre, sem divide, & detestavel”. O es itor russe liya Ehrenburg (1881-1887) nao fez por menos: con fessou que inicialmente Sartre he insprara pledade, para depois, Ine despertar desprezo. Finalmente, o papa Pio Xil,na eneiclca ‘Que dedicou as correntas losoficas medemnas, casiaoou 0 exis- {encialisme como uma das doutrnas que mais ameagavam 05 fundamentos da f6 erst. Mas, final, o quo 6 svistencialismo? ‘Cabe assinalar, primeiaente, que 0 vocabulo existencialismo” pertence aquela categoria de palavras que, ganhando em ex iste, pro cone erst. Aaa ae ESTO aerate pr eer toon = las, a linha dlséria entre 0 certo © 0 errado, fa considerado existenciasta. Algo semelhante com 0 mov ‘mento hippie, onde bastava a recusa de alguém em cumprit os ‘mais elementares precelis de higiene e ja se via Incluido corso integrante do grupo. (© emprego arbirério do voedbulo ‘existoncialista” acabou, ‘assim, por transformé-lo num dos mais equivocos do léxico fe losético, Nao ¢ facil, prtanto, num trabalho introdutrio, defini ‘om todos os seus aspectos @ nuances, despojando-o das idéies preconcebidas # fantasiosas que ainda hoje o cercam. Pode 90, ‘contudo, caracterizé-lo em seus rapos gerais. Para isso, del- miteremos 0 amoito de nossa exposigg0, contrando-a nos tomes bbasicos da doutrina existencialisia, eminando os pormenores dd interesse secundatio. As referércias biogralicas dos princt- pais autores citados ao longo destas paginas seréo minimas, ‘eduzidas ao estitarente necessaro, O leltor ineressado em ‘estender sua letura sobre o assunio encontraré ao final do vo a indicagdo de uma biblogratia basic, q V ORIGEM DO TERMO CO ciitco francis Jean Beautrot, num ensalo dedicado ao tera ssaienta que, 20 pronunciarmos a palavra existenciaismo, 0 {Que primeito'so 0: téncia O sufxo Indicaria tratar-se de uma doutrina. por sua vez, Jago eveca sua con- tapane ai eet, veeros que essa corp Sie fo pine lrdamenal do easenoaisme eet eka ase, Olan oF irs so ene lana, deriva do veo ces lanes oe ent. gavamn & meditacto flesdtica, a pensar aquilo que é, diziam star pensando na esséncia da coisa. $6 muito mais tarde sut- iia em lati a palavra exsterta, existOncia, derivada de exis- fere, que significa sar de uma casa, um dominio, um escondenio. Mais precisamente® exisi2ncia,na origem, 6 sinénimo de mos {tar-se, exibirse, mavmento para fora. Da, denominar existencialismo, conse f ica que centra sua rellexdo sobre a existéncia humana con ‘iderada em seu aspecto partcuiar, individual e concreto, ‘Embora a denominagao mais ditundiéa, nem sempre ola & aceila como a mais correta. Mesmo enire Seguidores co movi- mento existencialista ha os que rejitam formalmente o terme para designar sua douttina, preterindo, alguns deles,a expressio Miosoria da existincia, Mas axplicaro existencialismo exclusivamente em termos et moldgicos poueo esclarece. Além disso, tal explicagao sugere: {Que anteriotmente ao aparecimento do miovimenta nenhuma ou- ta Hosoi prorupouse em anasar a extncla hua, 0 {Que seria falco, A lembranga do conselho socttico, expresso pelo loma “conhece-te a ti mesmo", jf assegura improcedénca a hipdtese também dasmertida pel afrmagao de Aistoieles de ‘Que a flosefa @ a cenca co existonte anquanto existe. No Discurso {do Método de René Descartes (1595-1650) também se pode en ‘contrar passagem de cunho acentuacamente exstencialista, como tua confssto de que apds vatas experioncas, resolvou ostudar fi si proprio, decicando-se a partir de enta0, com todo empenho, fhoscolner os oainhos a sequr. Outro exemple que merece ciao 1.0 de Volate (1694-1778), que aconseihava a que nao perdés fiemos a medida hurana das coisas (Os autores acina releridos ciaram, sem divida, doutinas ‘com vida propria © dstinias entve si, Mas nem por isso podom folas sor desvineuladas de ceri elementos comuns qua termi hhariam por desaguar no que modemamente & designado exis: onicalsmo, Se quiséssemos, por conseguinie,estudar essa cor ante desde suas mais rematas origons, dascrevendose 3 evo: Hiigdo 20. longo do temo, acabariamos por recapiular toda a Hatta de flosofia. No é preciso, contudo, recuar a datas tao Tonginguas, pois quando alguém se refere 20 existencialsmo Hh querenda indiear, de forma precisa, um movimonto fiosético Inistorloamante ber recente (0 existenciaismo medama, enquanto movimento, sugis na FPanga ha quase quareria anos, ¢ ainda prosseque em sua tra jl, embgra sem ostentaro mesma vigor do suas manifestagdes, ficals. Tampouco perdura, com a intonsidado de antes, sua in- flubncia ideoibgea. Flosofcamente, & opiigo unénime, 0 ex: Tandalismo mecero procede, em linha deta, da meditacao rel {ldsn do ponsacor dinamarquis Soren A, Kirkogaard (1813-1855), Dulas Kblas principals passamos a resumir no capiulo segunte ANTECEDENTES FILOSOFICOS Kierkegaard E bastante diundida a opiniao de que na fiosofia exis- tencialista, pla propria natureza de seus temas, a contribuigao pessoal predomina sobte os derrais aspectos. De acordo com bese raciocinio, existam varios lipos de existencialisma, cada tim correspondence a determinado autor, sua visao individual dos problemas humanos, & particularicades da vida privada do fibsofo, Por isso masmo, 0 existerciaismo seria menos uma do- ‘tna, no sentido proprio do term, do que um flosolar, uma mancia ‘de 6 homem se expor a si mesmo, reconhecendo-se autentioa- ne ness rte, portant, Kierkegaard € um dos fldsofos que mais exemplamente c respondem a semelnante descigdo. Pensador soliaro, suas ‘desveriutas pessoais,o ambiente em quo se formou, de rigaroso puritanismo luterane, exerceram infludncia determinants. em sua fiosofia, mera tentatva, segundo alguns, de explicar seus infor- “ sonoonPe WWnios, as relagées confituosas com 0 pai @ a noiva, protago- histas de acontecimentas cucais do sua oxistincia Criado dentra dos rigidos principio da raligiao luterana, que pproclama a natureza pacaminosa do homem @ sua itravogavel fondéneia a corromper-se, Kierkegaard viveu obcecado pelo sen limonto do pecado. Isso no o impadiu, durante cota fase de fila vida, de entregar-se a prazeres desregrados, onde 0 con- humo de lcool @ a exbigao do toupas vistosas ooupavam 0 (ooniro de seus interasses, Esse periodo, quando contava vinte fo cinco anos de idade, inicou-se logo apés a more de seu pal ‘Suporada a fase de dissipacao, Kierkegaard retoma os estudos: lniverstrios e pouco depois fomna-se pastor lutorano. Do pai, fl de herdar 0 temperamento sombrio e a devocao pietsta forma de extremado fervor raigioso do luteranismo —, Kier- ogaard edquinu também 9 sentiments de que uma maldigao 0 abatera sobre sua familia. Seu pai, quando adolescente, pas- {or de ovelhas nos gélios campos dinamarqueses, oadecendo ome e fro, blasfemou contra Deus, episédlo, revela Kierko- ‘gard, no Didrio de um Sedutor, jamais esquecido, e que 0 pal arregou como uma culpa até o final da vida. ( outro acontecimento que marcou negativamente a exisén- fla de Kierkegaard foi 0 fompimento de seu naivado com a Jovem Regina Olsen. A medida que amadurecia suas idéias des- ‘eobrindo entéo sua vocagéo para o isolamento, percebeu sor ‘ncapaz de adaptar-se & convivéncia matrimonial, 0 que 0 levou fa desmanchar 0 compromise, ‘Mas as desventuras de Kierkegaard no se linitaram ao cit- ‘culo familar. Embora mantendo-se fiel & confissao religiosa na {qual fo1 educado, suas desavencas com a igrejaluterana oficial lacusada por ele de ter-se burocratizado, distanciando-ce da re llosidado interior, fundamental, dizia, a todo verdadeiro isto, Impoliram-no a enirar em choque com a hierarquia eclesiéstica ‘Os pastores luteranos, protestava, haviam se tornado oficiais ‘dos re's, por conseguinte, totalmente desligados das verdades bhasicas 0 cristianismo, couse xarereatens ® E impossivel, nao resta divida, issociar a fosofa de Kier kogaard das vicissitudes pelas quais passou. Mas no é menos verdadeiro, também, angustias e inquietacdes latentes em sua Gp0ca, que £6 muto mais tarde s@ manifestariam de maneira tramatica, Poseivelmenta rasida aqui a explicacao para a revi Vescéncia de suas idéias no século XX, dopois de confinadas durante longo tempo nas frateitas de seu pais natal. Deverse fvitar, portanto, confer um carater absoluto A etBaica bio- réfica ‘de Kierkegaard, como se os acontecimenios que the marcaram de manera pungento a existéncia fossem o funda. ‘mento Unico de ssu pensamento. Ao longo da historia, muitos fidsolos padeceram Indmeros inforinios pessoais, @ nem por isso é licto alrmar que suas doutrinas $30 simples lustragao esses fatos. Para citar os exempios mais notéveis, basta lem brar os apuras em que Platao vil-se envolvido, culminando com © exllo que the fol imposto. J& Baruch Spinoza (1632-1677), {além dos formentos da tuberculose que o vitimou, fo! excomun: ‘gado, execrado, © por fim expulso da comunidade judaica de ‘Amsterdam, punido por suas iias tidas como hersicas, Para prover seu sustanto, tomou-se polidor de lentes. Georg W. F. Hegel (1770-1831), por sua vez, um dos pontos maximos do jpensamente humana, sofreu a hurilhagao, na adolescéncia, de Ser considerado inapto para @ tlosofa 'Nenhuma abordagem da pensamento de Kierkegaard dispen sa a referéncia a Hegel, cujasIdeias sao totalmente opostas as suas. Sem exagero, pode-se alimar gue a doutrina Kerkegaar- Giana surgiu como teapdo drela 20 hegelianismo, Inicialmente empolgado, como a maicria de seus contompo- rneos, pelas déias de Hegel, Kierkegaard logo depois se oporia, fenercicamonto 20 intento hegelano de condensar a realdade um sistema. Megiante o sistema, pretende-se explcat tudo, abarcar tudo, de modo a estabelecer uma viséo total da reali dade, em seus minimos aspecios, a parti de determinados prin Ciplos que se interigam ordenadamente. A ambicao de Hegel foljustamente a de intograr, no que denominou de tdeia Absolut, toda a realidade do mundo, No processo que conduz a essa Cculminaneia, 0 indvigua nada mais 6 do que uma de suas fases Desctonto da possiblidads de algum sistema resowver as dite. fencas entto. os indviguos, Kierkegaard insurgiu-se contra tal concepgio. (lel © ero de Hons cia eonereta do individu. ‘Sua avets8o a qualquer sistema impelu-o a coniessar no prélogo de Temor e Tremor nao se considerar um fidsofo, mas Bpenas um amator. Afangava desconhecer qualquer sistema & uavidava que existisse algum, comprometendo-se a nao escrever erkogaat jm sistoma, insiste, prometa {Udo, mas no pode oferacer absolutamente nada, pois & in ‘Capa de dar conta da realdade, sobretudo da realidade humana, O'sistema é abstrato, a realidade @ concrota. O sistema 6 ra- ‘onal, @ realade itacional. A realidade é tudo, menos sis- tema.’No\ Dida, ele escreve que diante de uma stuagéo con- Cela due enseja salugao, mesmo um fildsofo tenta resohé-k. fora do sistema a que se ila. As solugdes preconizadas polos Sistemas nao sé0 seguidas por seus criadores quando se en- ‘contram em apuros. Na vida cofiiana, 08 ctiadores de sistemas Se valom de aletativas diferentes daquelas que recomendam para os outros por que esse procedimonto? Porque a realidad da qual os individuos 8m maior conhe: ‘cimento 6 sua prépria realicade, a unica que interassa de fat S6"2 realidad singular, concreta interessa, e apenas esta 0 Indvidvo pode connecer esc real, dz, Nao passa 9Stragao do singular. O pensamento abstrato £6 com- precnde o concreto abstratamente, enquanto que o pensamento, Eentrado ne inguidue busca cempreender concratamente 0 abs- finto, apreendé-lo em sua singularidade, caplévio em sua ma filestagao subjelva. © individuo, por Isso mesmo, jamais pode ser cissolvido no anonimrato, no impessoal. Todo conhecimento Sele igar-se inapelavelmenta a exisiércia, a subjetvidade, nun. G2 a0 sbsiralo, ao racional, pois se assim proceder iracassard 3 intonto de penetrar no sentdo profunde das coisas, logo, de Bingir a vercace. (0 singular 6 o homem. Contrariamente ao que acorte entra os animals, © homem singular vale mais que a espécr. Apenas Se tom conaconcia de sia sngvnféade, Porao,o Hane 3S eysinan, Asst pow 20 a concabe Kie’ vida, cispensando Ser x Dicada racionaimente, conforme pretendia Hegel. Contra a cen- Eepede hegeliana do’ homam, valorizado apenas naquilo que Gpresonta de gerale abstrato, Kierkegaard exalta 0 concreto, 0 Shgulet, o homem enquanto subjethidade. O pensacor dina rarqués atrbuiy @ si mesmo a missao de defender o singular Frat © gatal, tereta que, no Dido, compara & de LeGnidas, © herdi das Termsplas, a quem coube resist as investidas do fnimigo, No caso de Kierkegaard, o inimigo, ninguém duvida, € toda forma de sistema, Chegou mesmo a manifestar 0 dessjo 1 ter Como epitafo a expresso: "Aquele singular” para Kierkogaard? to? Oespitte 6 0 ev. O.eué aquele que nao estebeiece rolacdo com nada que ihe é aheo. como se processa a existincia do homem?. Kierkegaard a divide am trés estigios: 0 estético, 0 ético © 0 toigioso. Ne primero esto, @ ett, o homem buscajum sento Engoan ivostga as azbes do 52 pert ial dominio dos sentidos, dos sentimentos. Convete de que ¢ inteiramente lve, vive 60 sabor dos imoulsos, procurande destrutar, extraindo © méximo de prazer, cada ins- tanto da vida, entegande se a tos os prazores © sonsagoes, Visio cue percebe ave tudo 6 tion, passagero, que as anceoes Mivida jamais so rpetran, Faz que he od na taka, nao, vWsso popular. Nessa fase, 0 ndvuo vive 3 0 signo da cna onoolo que ocupara lugar de dectaqua na doutrna rcialsia, em especial na coronta sarteana, conforma ne ramos mais adano A escolha Kerkenaariana expressa, com ofoio, a fata de antrios para onentar a agéo humana, Nao exten, seganse Korkogaard,raz6os lepicas que ceteminem como’ cats Gn dye 80 conduc na vida. Raonament,& impoesivel se fo nom encontrar os motvs ustieadores costa cu dala fora ‘i ver. Inexstem onteras que estabelogamn a pe oats ts 4 aqui. No nto, entretano,ohamem serte que a permanente cs- ponbiiiage pera agr segundo sous cartes pessoas ran he Maz sastapo. As exporencias vensora,rekdas na mondee como ama dat © momento ue paca noe recon Arecompensa amejeda ou soa, srevelapae do sonisode ne bustin Fusvado.em seu abelv,tonase mesrotes a fiodado, Retugia-se, enti, et) soy passage, tare Mas toga mostase ind, pots através dela holo ae lnc cada vez mas da sougzo de su probleme, Pemrances Indetnamente no estigo esetco & condenarae a Told on pravace, Em vez de lberarse, mais 0 hone ce dois hua exsténcia vai, Insatsfeto nessa busca esti, © homam atormonia-so ¢ fauladesspta as cessor, de acto com Keto Mo algo que rebaxe 0 ndvidv. Em. © Doscopore Retna 10 oscreve gue a syperarsace cs Famom eesre’e miter ‘eiste em sua capacidade de se desesperar. E através do de- Sepa que o homom alanga oestago sequina’¢ fice so 80 assim abandonara as exetencas deciadotan en ss Passva dante da realidad, Vvondo elcarente sara Gres fasio extencial om que so encontrava. Mantshos snes fea Indvusldade, descobiré, no entanto, quo nao pode se cue BusTeNCMLBUO ® SEmeae enneasirn anaes Pee cre epee erica ae ie gee eters Ae soe eat apes cen ns See eee tna Gera eats meray tetas cog ee are nares een Ee pena sears Se ee ieee cena eae seen ate rete ene eee SS cee caer cee eae as eee ee eras Saal ae ste ean 0 oko on Pea ha perspectiva kierkegaardana, 6 impotente para guiar nossas fagoes. (© pensamento de Kierkegaard, menconamos antes, s6 neste século conseguiu efetivaments repercussdo fora das fronteiras dinamarquesas.Inicialmente, na Alamanha, Nas décadas de vin te 6 trinta, na Franca, gracas a divulgagao de suas idéias por ‘omigrados russos, especialmente através dos escrtores Nicolau Bordidev (1874-1948) e Leon Chestov (1868-1838). Pouco de- pois, seus lvras comecaram a ser traduzidos para o francés. a douttina de Kierkegaard, os exisloncalisas exralram os tomas pasicos ce us reflexdo, O métoro para analied-los = discut-losihes sera fomecido pelo fidsoto alemao Edmund Hus- woir, companheira de Sartre @ sua mais fil ‘soguidora,relata em suas memérias um episédio que s@ tornou. luma espécie de lugar-comum todas as vezes que a palavra lenomenocya ¢ associat a exsercalsmo,Contaa escitre francesa que seu compariota Raymond Aron, de retorno a Paris ‘apés um ano estudando em Beri, passou uma noitada com ‘ola © Sarre num bat. Pediram para beber coquetel de abcd, ‘ospociaidade ca caea. A carta altura, Aron, apontando 0 cop0, iss9 para Sartre: “Como vé, meu caro, se voc® é um fenome hnologisia, € capaz de falar deste coquetel e fazer flosofia dele.” Narra de’ Beauvoir que Sartre empalideceu de emocao dante Go que uv ra, iso 0 ave ele procrava h valios ans jescrever 08 objetos coma 0s Via @ tocava’ @ asso “extra” foesere i iocavar # isso “entra 0 ilosofo cujas id6ias provocam em Sartre semeante rea (lo fol Edmund Husser: Huser é eriador do métedo fenomenolégico, insprado nas istingbes entre fendmenos fisicos ¢ fendmenas psiquicos es- tabolecidas por seu antigo protssor, 0 ex-sacerdte Franz Ber {Bro (1850 1017). Maternateo de formacto, Hussel comegou SMfestr as alas do flosoia minisvadas por Breptano, que Gestrutave nos metos acachmcas alemiaes do grande presto emo esoevelta om Arable. Abs poucos, descobre que {locoea podotia ser um campo fecundo do estudos, Basava Sbonae que cla ose tornada va iii plenamonte rgorosa, Pave, actava eo, nao tra ocordo al entao, Decco & Gscicarse neramene a8 pesausas fosbfioas, Huser est etcou paras cor dea undarnentar ionticamente a o- ofa ou cna, lala uma cianca em sou seni pln, cor {Stnds ne um stauto do aber. A flosola, na acepcao Aue ‘Sitanat dovarisvansfomar-se numa cic universal quer &- Sor nada ficara fora do cou cago de iestgacao, A flosota, snl, tornarsera uma espéoe do cere das enc O pont de para do Musso & acca que diigo as tetas cionticas, pateulatments as do nspragao posivata, excess amente apogadas 4 objetvdace, a crenca 00 que a realidad we Todus Sguis que percebomos pelos seni. Tamanho apego ser Sado Shetros ler com quo sclincafosse encareda como Sno corrocimarto possve,enraizanco-se a corvicesO ot Gus'sé mosiante seu aurio poderaohomem doriar alanis SPeatrosa 9 oscooiro coriéo ce sua exsitnca, Postror inonts, 6 ut exraornane vericado no desenvahimento dat Ginice Sepecainerte no campo da fsio-matemates, dev fahdo antigne concepgoes, fomau muitos desses pnp ob Seetos A pat dal a Gsopinas cortfias, anteranment e5- Soleadac'a um obetvsme entremado, que excia‘ nievan- Gio do homem, paceam a neoesstar da paricparan humana Gero omens eleonal ico. A mectnica relavisia, por mela, dishes que tado movimon 6 relaivo ao obser vader A contbuedo subjtva, por consaguint, fn se apresentava mag como slemano ncompaivel om © rigor ciate, nosse contoxto do ansigao — ou de Gige, co afrmar aiqune =~ no campo 0 conhocivonts, cee que Hussed asenvolve suas Dols. A fenomenologia Sugeno processo de otooaraein Tovisto de verdades tas como cientifcamente inabalaveis, no momento em que as céncias, ao nivel da investigagao, assumem lum significado numano. [Em consondincia com essa “humanize serl invodur @ ogi 6 das citncias, Hus: omc it mania Sn ee Cots hp cena esha Becerra iene oscar gence tion Ses ramn sr ete ain” ive onan ne Fac onto a ee arent Pcie tas see crae ‘80 depositando como uma espécie de conteudo. E como se os eerie tron acs a on olan mnt igretindas attach Sg benbrsie Eas ice mi ‘oause ExsTeNcALso 2 psiquicos, tudo © que se passa om nossa mente, visa a um bojet0, 1090, no ocorre no vazio, “através Go método fenomenodgico, Husser! pretends ter su- pe‘ado 0 que se he afigurava o carétor parcial tanto do mate- filismo quanto do weaismo. No estabelacimento do elemento primordial a partir do qual o mundo foi crado — se a matéria bu a idéia —, Musser! acredtava ter encontrado um tercero Caminho: a fenomenciogia, As idéias s0 existem porque S80 \dsias sobre ocisas, amas consltuom um Gnico fendmeno, por isso esto indissoluvalmente igadas. A fenomenciogia busca ‘captara essdncla mesma das cosas, desorevendo a experiéncia fal como ela Se processa, de modo a que se atinja a reabdede: ‘exaiamente como ela &, Para quo ce possa chegat a isso, Hus: ‘seri prope que o individu suspenda todo o julzo sobre os ‘bjetos que o cercam, Mais precisamente: nada alirme nem no- {Que sobre. as coisas, adolando una espécie de abandono do Fund @ recolhimento dant de si mesmo, o que na linguagem fhusseriana é denominado de teducao fenomenolégica’ ou epo- ‘qué, palavra grega que significa suspensdo, cessagso. Hussert ‘ol buscar o terme na flesotia medieval, que chamava de epoqué 0 estado de repouso mental aavés do qual nada afrmamos hem negamos. 'A famosa exonagio de Husser para que voltemas as coisas ‘mesmas tem como meta superar a cléssica oposigao entve 85> Sancla @ aparéncia, As co's, diz 0 criador da feriomenclogia, ‘380 tals como os fendmonos ac aprosontam & nossa conscién- ‘da. Os fendmenos, a0 mesmo tempo que s80 objetvos, $6 nos Tevelam assa condigao quando se maniestam em nossa cons- Géncia. Dal, sua tese, jd relerda antotio‘mente, de que as ideias 96 existom porque séo idbias sobre coisas. Sintotizando: consciéncia e fenémeno nao existem sepatados um do oUt. ‘Através da epoqué, o mundo objetivo, real, 6 colocado, na expresso de Husser, entre parénteses na experiencia fenome- nolgica, permanecendo na consciéncia apenas aqullo que, por ua evidencia, 6 impossivel de ser nogado. Por exemplo, “eu “ olocarewin ‘xisto". A realidad, portanto, deve ser descria tal como se faprosenta & observacao pura. ‘ho lado de epoque, Hussertutliza ainda dois outros termas: owse 6 nova com os quais designa, respectivamerte, 0 per: famento @ 0 objeto desse pensamento, 'O método fenomenolégico veio a $® constituir no elements bilsico para o assentamanto do uma ontologia existencialista. © burda fiosoto alemao Martin Heidegger (1885-1876), antigo alu- fo de Hussar, de quem foi assstente na eatedra de fcsofia, O primero a util2a-o come instrumento de anaiise Heidegger {JA tive oportunidade de assinalar, no capitulo dedicado a crigem do termo, que alguns fldsofos recusam a denominagao Guetenciaisme na designagao de suas douttinas. O rept mais veemente part da Hadegger Inconformado com a insis- tancia de muitos am classtcé-lo de existencialsta, preocupou-se fom fixar as dfetengas quo 0 separavam do existenciaismo pre- pramente oto. Pata tahlo, escteveu um opiscuo, Carta Sobre E Humanism, no qual deixa claro que seu intento, deste a publcacdo de sva obra mais famosa, Ser e Tempo (1927), foi Side elaborar uma analtica existencial ‘Mas qual a dferenca entre as duas posigies — exis toncialismo e analfica exstencial? Em que se baseia Heidegger pata distngut uma da oua? Cabe perguntar.iquaimente, pelas Fazbes Gagueles que, mais do que ciasslicarem HeWdegger de fxistenciaista, 0 apontam como iniiador do movimento. ( existencialismo, notei antes, é uma filosoia que tata di retamente da exstencia humana, Sua feflex2o esta centrada na fandlise do homem particule, individual, concrete. A analiica toon rw, ‘oxistoncial, por sua vez, nenhum interesse demonstra pela exis- {Wocia pessoal, © os problemas dela oriundos, Em Ser e Tempo, ‘Sequindo a recomendacao husseriana, o propdsito da Heidegger {6 discubr 0 Ser, 6 estabolecer uma ontolagla geral, descrovenco 10s fendmenos que o caracterizam tais como se apresentam & Consciéncia. Trata-se, enfm, de elaborar uma teoria do Ser Mas 0 que 6 0 Ser ? 0 Ser pertence aquele rol de napses evidentes por si mes- mas, embora indefiniveis. Traia-se da mais abstata de todes ‘a3 idéias, dill de ser devidamente esclaracda, Sao muitos 08 Sous signiicados, mais ainda as interpretagdes que cada um doles tem recebdo. Sendo o mais universal, o mais geval dos ‘eonceitos, a simples mengao do vocdbulo supe desnecassaio lacrescentar qualquer nota expkcativa. Por isso mesmo, a track (Gao filos6fica estabeleceu que 0 Ser ¢ algo indetinvel, Logo, lo ha interesse em discutr aquilo que, por principio, & sem dotinigao, Essa nagao do Ser é acelta por Heidegger” Nao. Ao contrério, fle delineot sua teoria do Ser em oposigao & ontologa cassica, inclusive a de Hegel Paral Heidegger, hd uma “questéo do Ser, questao que n&o foi resolvida. Por qué A ‘orga de consideré-o algo por si s8. fovidento, a tradgéo fllosfica impos a idéia de que o Ser nao Hecessita ser discutdo. Ocorreu, ent, o que Haxdegger deno- mina de esquecimanto do Se, fal, segundd ele, bastante grav P9's a questao do Ser coincide com proprio destino oy Os: onte. Gue signa isto? E que a histéa do Ser, oz 0 fi6so10, (6 @ propria histéia do Ocidente. © pensamanto ocidental jamais Tosolveu a quast4o do Ser, que ¢ Seu propria tundamento. Por {ue fundamento? Porque no alvorecer do pensamento ocidental na Grecia antga, a questdo do Sor ora a preocupacao basica, primordial. E, 58 assim era, deve-se ao fato de que os fdsotos pré-soerdtices néo coneebiam 0 Ser como aigo evidente por si mesmo, como alguma coisa cujo signiieado eta de imediato ‘eompreencido por todos, mas sim como algo obscure, inquie. ante. Portanto, de todas as questées flosoficas, a mais funda: oe EERETENCILIENO 2 ‘menial é a inerogagéo sobre 0 Ser Deve-se, por conseguinte, discutla ‘A exemplo de Hussorl, Heidegger nfo se ocupa de perguntar © que @ 0 Ser, qual sua definicao, O intoresse de ambos 6

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