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"©. ida a intima vincula- ent somente o instru- des asso que fica quase sempre oe do Realismo com a ‘mel to, mas o proprio ol derdncia da metétora sobre a ditas. De vez que a bargeor Ms: dtica visa ao , a Prost figuras essencialmente como procedimentos oles ap milaridade domina a potiiaa fee eas sos ou a equivalénci as impdem 0. problema da similitude ¢ do contraste, semi con a8 jor exernplo, rimas gramaticais a eee oe ea emanee rings ageamateals Peo cot, se gira essoncialmente em toro de relagies de contisticst sia, tc Portanto, a metifora, para 3 ear resistencia, © que ex tituem a linha i ie ok aro as pesquisas acerca dos tropos postions 3° ae plica avesipalmente para a metifora. A es rare, bio ie Taulve. foi substituida ee = ae, ta evan eoguora nipolar emputado, que. andre m ‘incide com uma das fo na Ba tiresta ‘0 distérbio da contigiiidade. mi > i f i yrepon- io objeto da anélise explicam a prepon- pip avi ‘metonimia nas pesquisas eru- isa ao signo, a0 passo que @ estudaram-se os tropos poéticos e as . © principio de sis ASPECTOS LINGUISTICOS DA TRADUGAO* « Segundo Bertrand Russell, “ninguém poderé compre- ender a palavra “queijo” se nao tiver um conhecimento nio- lingiiistico do queijo.”* Se, entretanto, seguirmos o precei- to fundamental do préprio Russell e dermos “relévo aos aspectos lingiifsticos dos problemas filosdficos tradicionais”, soremos entéo obrigados a dizer que ninguém poder com. preender a palavra queijo se no conhecer 0 significado atri- buido a esta palavra no cédigo lexical do portugués. Qual. quer representante de uma cultura culindria que desconheca © queijo compreenderd a palavra portuguésa queijo se sou- ber que, nesta lingua, ela significa “alimento obtido pela coagulagao do leite” e se tiver, ao menos, um conhecimento lingiifstico de leite coalhado. Nunca provamos ambrosia ou néctar © temos apenas um conhecimento lingiifstico das pa- lavras ambrosia, néctar, e deuses — nome dos séres miticos Que os usavam} entretanto, compreendemos ossas palavres e sabemos em que contextos cada uma delas pode ser em- pregada. O significado das palavras queijo, maca, néctar, conhe- cimento, mas, mero, ou de qualquer outra palavra ow frase, é decididamente um fato lingiifstico — ou para sermos mais Precisos © menos restritos — um fato semidtico. Contra ©s que atribuem o significado (signatum) nio ao signo, mas (1) Publicado em inglés em: R. A. Brower, otg.: Ox Transle- tion, Havvard University Press, 1959, (2) Bertrand Russel, Pbilosophie, IV (1950), 1 | Positivism’, Revue Internationale de ais veraz seria 4 isa, o melhor argumento ¢ 0 m “ia rd akogoken jamais sentiu 0 gdsto ou ebetro a8 a nifieado de queijo ou de mard. Nao 1 signatum sem sie © significado da palavra “quejo” nfo pode ser in'e, ido de um conhecimento no ington do roquefort 08 bert sem a assisténcia do cSdigo verbal. Ser ne- cos rome ta una sie do signs Lngiios se Se quiser fazer compreender uma palavra ni sponta cea objeto nio nos fard entender se queifo é o raps ime dado, ou de qualquer caixa de camer eer ce der camembert ‘em geral, 00 0 gualquer queje. a jalquer produto ldcteo, alimento ou relieson, on tlver te eee: ioere aesigna simplsmet di te, serd que a palav ae ea ‘em questo, ou imple Sgnifiados coma fers bi igdoP (Apontar com eu ae eae culturas, particularmente na significa : ica, 6 um gesto agourento). ; ; a Iingtista como para o usuirlo comum das Be laveasn Sgniftoado de um Signo Tingiistioo nfo é mals cue moa tradugéo por um outro signo que Ihe pode fer subst tuldo, especialmente um signo “no qual ele ge sche desen- walvido de, modo mals cor invesigador Ga osbucl it sirce, o mais ct fos dznon'* 0 temo “solo” pode se converio numa sapere mais explicita, “homem psc ue come piaue maior clea fo retvibal lo pode set tedurdo em il si verbal: > goes da pes Ungu em outra Kngus, ou, em Outro sistema de simbolos.ndo-verbais. seas trds esp Ge tradugio devem ser diferentemente classifica 1) A. tradugio intralingual, ou reformulacdo (rewor. ding) consiste na interpretacdo dos signos verbais por de outros signos da mesma lingua. “Peisce’s Theory of Linguistic Signs, Thought, sod Pan ote Ponts of Bhiesophy, MLK (1946), 3 “4 2) A tradugio interlingual ou traduedo propriamente dita consiste na interpretagio dos signos verbais por melo de alguma outra lingua. ~ 8) A tradugfo inter-sémistica ou transmutagdo consis- e na interpretagio dos signos verbais por meio de siste. mas de signos nao-verbais, * A tradugéo intralingual de uma palavra utiliza outra palavra, mais ou menos sinénima, ou recorre a tum circum léquio. Entretanto, via de regra, quem diz sinonimia nao diz equivaléncia completa: por exemplo, “todo celibatrio & solteiro, mas nem todo solteiro é celibatétio”. Uma ‘pala, de unidades de eddigo, isto é, por meio de ama mensagem referente a essa unidade de eédigo: “todo solteiro é um homem nfo-casado e todo homem ni -casado é solteiro”, ou “todo celibatério esté decidido a nio casar-se e todo aquele que esteja decidido a nfo casar-se 6 um celibatério” Da mesma forma, no nivel da tradugio interlingual, nao hd comumente equivaléncia completa entre as unidades de cédigo, ao passo que as mensagens podem servir como in. lerprotacées adequadas das unidades de cédigo ou monsa, Bens estrangeiras. A. palavra portuguesa queijo nio pode ser inteiramente identificada a seu heterénimo em russo cor. rente, sur, porque o requeijio é um queijo, mas nio um Si OS russos dizem prinest syru i toorogu, “traga queijo ¢ (sic) requeijéo”. Em russo corrente, o alimento feito de codgulo espremido sé se chama syr se for usado fermento. Mais freqiientemente, entretanto, ao traduzir de uma lingua para outra, substituem-se mensagens em uma dea linguas, nao por unidades de eédigo separadas, mas por mensagens inteiras de outra lingua. Tal tradugdo é uma forma de discurso indireto: 0 tradutor recodifica e transmite uma mensagem recebida de outra fonte. Assim, a tradugio envolve duas mensagens equivalentes em dois cddigos dife. rentes, A equivaléncia na diferenca é 0 problema principal da 'inguagem e a principal preocupacdo da Linglilstica, “Goma 65 is, 0 lingiiista se comporta todo receptor de mensagens verbais, 0 -ompor Como interprete dessas mensagens.” Nenhum cspéeime lin gilisteo pode, ser interpretado pla cléncia da linguagem tradugio dos seus signos em outros tenceter ao mesmo ou « outa sistema. Em qualguer co aragio de linguas, surge a questio da possibilidade de fradugio de uma para outra e vice-versa; a pritica gene ralzada da comunteacio interlingual, em particular 4s, ati vidades de, traducio, devem ser objeto de, atencio, iene i jerd sobrestimar a tante da ciéneia lingiistica. Nunea se poderd sobrestimar, a neces de mite, a importincia tedrica e pratic: ase Cimetos ‘aferenciais, que. definam cuidadosa. ‘comparativamente tédas as unidades correspondent, om sua extensio e profundidade. Da mesma forma, i ilingties di i finir aquilo que aproxima bilingtes diferencias deveriam definir aquilo que aproxima diferencia as duas Iinguas do ponto de de tegac's da delmitagio dos conceltos gramatiais ble- ftica © a teoria da tradugo abundam em prot itsrilene as gusts gam quando, a é i roclamando o im tides as eas Sr. Todo-Mundo, de Ligon ma tural”, téo vivamente imaginado por B. L. ae, teria suposiamente do raciocinar a seguinte maneira: “Os fatos sio ierentes para pesoas, cus Jeruoct abet fen Thee formulagio diferente r tais fa ee sionérios fanéticos que advogaram, nos periddicos sovisticos, tuna revisio radical da linguagem tradicional, e em part cular a supresslo de express6es enganoras como 0 “nascer” ou “pér? do-Sol. Entretanto, continuamos empregar essa imaginésia ptolemaica, sem que isso implique a rejeicio da doutrina coperniciana; e féel, para nbs, passar de nossas conversagées costumeiras sobre o Sol nascente on cee ropresentagio da rotacio da Terra, pura e simplesmente porque qualquer signo poder ser traduzido num oul ign (4), Benjamin Lee Whorf, Language, Thought, and Reality (Cam- bridge, Mass., 1956), p. 235. 66 em que ele se nos apresenta mais plenamente desenvolvido e mais exato. — A faculdade de falar determinada lingua implica a fa- culdade de falar acerca dessa lingua. Tal género de opera- gio ““metalingiifstica” permite revisar e redefinir o voca. bulério empregado. Foi Niels Bohr quem evidenciou a complementaridade dos dois niveis — linguagem-objeto ¢ metalinguagem: todo dado experimental bem definido deve ser expresso na linguagem comum, “onde existe uma relacdo complementar entre 0 uso prético de cada palavra e as ten. tativas de dar-lhe definicio precisa.” *. Toda experiéncia cognitiva pode ser traduzida e classi- ficada em qualquer lingua existente. Onde houver uma deficiéncia, a terminologia poderé ser modificada por em- préstimos, calcos, neologismos, transferéncias semanticas « finalmente, por circunléquios.’ & desta forma que. na re. cente lingua literaria dos Chunkchees do nordeste da Sibé- tia, “parafuso”. € expresso por “prego giratério", “ago” pot {ferro duro”, “estanho” por “ferro delgado”, “giz” por “sa. bio de escrever”, “telégio” (de bolso) por “coracdo marte. lador”. | Mesmo circunlocugdes aparentemente contraditérias, como elektrigeskaja konka (‘‘velculo a cavalo elétrico”), ¢ Primeiro nome russo do bonde sem cavalos, ou jenaparagot (“vapor voador”), © nome koryak do aeroplano, designam simplesmente o andlogo elétrico do bonde a cavalos ¢ 0 andlogo voador do bareo a vapor, e nao estorvam a comuni- cago, do mesmo todo que n&o hd perturbagdo ou “rut. do” semantico no duplo oximoro: cold beef-and-pork hot dog (“cachorro-quente frio de carne de vaca e de porco”) A auséncia de certos processos gramaticais na lingua gem para a qual se traduz nunca impossibilita uma tradugdo literal da totalidade da informag&o conceitual contida no original. As conjungGes tradicionais and (e) e or (ou) veio juntar-se em inglés um novo conectivo, and/or {e/ou), que foi discutido ha alguns anos no espirituoso livro Federal (5) Niels Bobr, “On the Notions of Causality and Complemen- tarity”, Dialectica, I (1948), p, 317 as. 67 i “A Prosa Write in and/or for Washington (“A Prosa Paste Goan) extener eno ou, Para Weantnatod ?. Dessas tr€s conjuncbes, somente a ‘ima existe numa das iédicas'. Apesar dessas diferencas ae eonjungses, ‘os trés tipos de pene jeexvedos “prosa federal” podem traduzir-se distintament n inglés (ou em portugués) tradicional quanto na lingua sa meibtie deatgeesiio. Suponhamos. em eee a iio; 2) Joo ou Pedro vird; 3) 01 i ee Pedro virdo, ou entio s6 um deles. E em, sameiedo? 1) Jodo © Pedro virdo ambos; 2) Jofio e/ou Pedro, um aos dois viré. Se alguma som actical ae ioe eas ngua dada, seu sentido pode ser traduzi a ajuda de meios lecicas. Formas dua ee ajuda antigo brata serdo traduzidas com a adjtive mame: : “dois irméos”, & mais diffcil permane ° al ees trata de traduzir, para uma lingua provida Se determinada categoria gramatical, de uma lingua carente de tal categoria. Quando tradaritiog a setae a Ba a “ela tem irmdos” para uma lingua qué See ee coining on «solic entre, dua, ora ges! “ela tem dois inmaos” — “ela tem mais de, dois fr mos”, ou a deixar a decisio ao ouvinte, © dizer: “ela tem dois ou mais de dois irmaos”. Da mesma forma, go trad zimos, de uma lingua que ignora oingmero gramatical, para q s brigados a escolher sabhedes _"drmto on temtos — ou a colocar 0 receptor da mensagem diante de uma escolha bindria: “ela tem ‘ou mais de um imao”. 5 ea Com i ramat Boas observou finamente, o sistema gi J do uma lingua (em oposigdo a sou estoque lexical) deter tina os sxpectos de cada experiénela que devem obrigato, riamente ser expressos na lingua em questéo: pl (6) _James R. Masterson and Wendell Brooks Phillips, Federal Prose ‘Chapel Hill, N.C., 1948) p. 40 ss. 7 . ‘ 7). Ct, Kout Bergland, “Finskugrsk, og slmen sprakvitenaap”, Norsk Tidsskrift for Sprogvidenskap, XV (1949), p. . 68 escolhermos entre esses aspectos, e um ou outro tem de ser escolhido” *. Para traduzir corretamente a sentenca inglesa 1 hired a worker (“Contratei (-ava) um operdrio / uma ope- réria"), um russo tem necessidade de informacGes suple- mentares — a acao foi completada ou nao? o Operdrio era um homem ou uma mulher? — porque éle deve escolher entre um verbo de aspecto completivo ou nfo completivo —— nanjal ou nanimal — e entre um substantive masculino ou feminino rabotnika ou rabotnicu. Se eu perguntar ao enum. ciador da sentenga em inglés se 0 operario é homem ou mu- Iher, ele poderd julgar minha pergunta ndo-pertinente ou indisereta, ao passo que, na versio russa dessa mesma frase, @ resposta a tal pergunta é obrigatéria, Por outro lado, sejam quais forem as formas gramaticais russas escolhidas para traduzir a mensagem inglesa em questo, a traducdo nao dard resposta a pergunta de se I hired ou I have hired @ worker, ou se operario (ou operéria) era um operétio determinado ou indeterminado (“o” au “um”, the ou a), Porque a informacio requerida pelos sistemas gramaticais do russo e do inglés 6 dessemelhante, achamo-nos confron. tados com conjuntos completamente diferentes de escolhas bindrias; € por isso que uma série de tradugdes suceseivas de uma mesma frase isolada, do inglés para 0 russo e vice- versa, poderia acabar privando completamente tal men. sagem de seu contetido inicial. © lingiiista genebrino S. Karcevski costumava comparar uma perda gradual desse geénero a uma série circular de operages de cambio des. favoriiveis. Mas, evidentemente, quanto mais rico for 0 con. texto de uma mensagem, mais limitada serd a perda’de in. formagao. As linguas diferem essencialmente naquilo que devem expressar, € nfo naquilo que podem expressar. Numa lingua dada, cada verbo implica necessariamente um conjunto de escolhas bindrias especificas, como por exemplo: 0 evento enuneiado 6 concebido com ou sem teferéncia & sua con. cluso?; © evento enunciado é apresentado ou néo como {8} Franz Boas, “Language”, Generel Anthropology, Boston, 1938, pp. 132 ss, 69 i rocesso da enunciagio? Naturalmente, a ater- ho. Bs enunciadores e ouvintes estard constantemente a gentrada nas rubricas que sejam obrigatérias em seu -c90igo verbal. ; Em sua fungio cognitiva, a Tinguagem depende muito pouco do sistema gramatical, porque a definigio de nossa experiéncia esté numa relacio complementar com ope- asses metalingtifsticas — 0 nivel cognitive da Tngwaget hido s6 admite mas exige a interpretagio por meio de ovtsce cddigos, a recodificagio, isto & a tradugio A hips! yd Glades cognitivos ineféveis ou intraduzivels seri me, ot tradigio nos térmos, Mas nos gracejos, nos sonhos, ns ON Hii enfim, naguilo que se pode chamar de mitologia verri SIM dos os dias, e sobretudo na poesia, as categorias gt ‘naticais tam um teor semantico elevado. Nessas cot” goes, a questio da traducio se ‘complica e se presta mi mais a discussdes. si Mesmo uma categoria como a de género srasaniel, que tio amide foi tida como puramente formal, esempe- Sha papel importante nas atitudes mitolégicas de ma cote hidade lingiiistica. Em russo, 0 feminino nfo pote raetenet tima pessoa do sexo masculino, e o masculine nf pode ot faoterizar uma pessoa como pertencente espectiicarentt, 1 sexo feminino, As maneiras de personificar on Se i” pretar metaforicamente 08, substantivos inanimac oe - ts Fireneiadas pelo género déstes. No Instituto Psicolégicn Se Moscou, em 1915, um teste mostrou que russos Propensit & personificar os dias da semana representavarn ates mente a segunda, a terca @,8 quartafera como, cee i ‘a quinta, a sexta-feira e 0 sibs Sunnos, sem peresber que ssa Aistbuito baaicer, = ro masculing dos trés primeiros p ee vtornik, Getverg) que se opde 20 seo eee Gos outros trés (sreda, pjatnica, subbota). © fato de A hee favra que designa sexte-feira ser masculina em certas ust eslavas e feminina em outras reflete-se nas tradicoe popu farer dos respectivos povos, que diferem em seu rival 0 sextafeira. A supersticao generalizada na Russi ae — sont feca caida pressagia um convidade € um gario 2 uma convidada, é determinada pelo género masculino de nok (“faca”) e pelo género feminino de vilka (‘“garfo”) em russo. Nas linguas eslavas, e em outras linguas em que “dia” & masculino e “noite” & feminino, o dia € representado pelos poetas como o amante da noite. O pintor russo Repin se desconcertava de ver o pecado representado como uma mulher pelos artistas alemies: ele nfo se dava conta de que “pecado” & feminino em alemao (die Siinde), mas mas- culino em russo (grex). Da mesma forma, uma crianga russa, ao ler uma tradugdo de contos alemaes, ficou estupe- fata ao descobrir que a Morte, seguramente uma mulher (em russo smert’, feminino), era representada por um velho (em alemao der Tod, masculino). Minha Irma a Vida, ti tulo de uma coletinea de poemas de Boris Pasternak, é na- turalissimo em russo, onde “vida” é feminino (Zizn’), mas foi o bastante para fazer desesperar 0 poeta checo Josef Hora, que tentou traduzir tais poemas, pois em checo esse subs- tantivo é masculino (Zivot). Qual foi o primeiro problema que surgiut logo nos primérdios das literaturas eslavas? De maneira assaz curiosa, a dificuldade do tradutor em pre- servar 0 simbolismo dos géneros, e a falta de pertinéncia dessa dificuldade, do ponto de vista cognitivo, parecem ser © tema principal da mais antiga obra original eslava, 0 pre- facio & primeira traducdo do Evangeliarium, feita pouco depois de 860 pelo fundador das letras e da liturgia eslavas, Cons- tantino 0 Fildsofo, e recentemente reconstituida e interpre- tada-por A. Vaillant." “O grego, traduzido para outra lin- gua, nem sempre pode ser reproduzido de maneira idén- tica, e € 0 que acontece com toda lingua ao ser traduzida”, diz 0 apéstolo eslavo. “Substantivos como potamos, “rio”, e aster, “estrela”, masculinos em grego, sio femininos em outra ingua, como reka e zvezda em eslavo.” Conforme o comentario de Vaillant, essa divergéncia anula a identifi- cago simbélica dos ios com os deménios e das estrélas com os anjos na tradugio eslava de dois versiculos de Mateus (7:25 e 2:9). Mas a esse obstéculo poético Sao (9). André Vaillant, “Le Prefice de I'Evangelisire vieux-slave”, Revue des Etudes Slaves, XXIV (1948), p. 5 ss. 7 Constantino opée resolutamente o precelto de Dionisio o Gacopagita, segundo o qual deverse estar atento, sobretudo ‘aos valores cognitivos (sil razumu), © 1&0 As palavras pro- priamente ditas. Em poesia, as equacées verbais sio elevadas a categoria de principio construtivo do texto. As ccategorias sintéticas ce Holdgieas, as ralzes, os afixos, os fonemas sous ‘com- onentes (tragos distintives) — em sama, todos os consti- tuintes do cddigo verbal — sio confrontados, justapostos, Nelocados em relacio de contigiiidade de ‘acordo com 0 prin- covocatie similaridade e de contraste, € transmitem assim Sma significagdo propria, A semelhance fonolégica ¢ sen- tida como um parentesco semintico. © trocadilho, ou, para empregar um termo mais erudito e talvez mais preciso, a paronomésia, reina na arte poética; ques esta dominacao seja absoluta ou Jimitada, a poesia, por definigio, ¢ intra- srimivel. $8 6 possivel a transposicao criativa: ‘transposigao tevalingual — de uma forma poética a outra — transpo- sigdo interlingual ou, finalmente, transposicao inter-semid- tiga — de um sistema de signos para outro, Pot exemplo. Ga arte verbal para a musica, a danca, 0 cinema ou @ pintura, Se fosse preciso traduzir para 0 portugués a formula tradicional Tradutore, traditore por “O tradutor é um trai- dor”, privariamos o epigrama rimado {taliano de um pouco Ge sew valor paronoméstico., Donde uma atitude cognitiva que nos obrigaria a mudar ésse aforisme nit proposigao mais explicita e a responder As perguntas: tradutor de que mensagens? traidor de que valores? 72 LINGUISTICA E TEORIA DA COMUNICACAO * Norbert Wiener se recusa a admitir “ ga sid RAINS teas’ oduct cogartinte encontram na medida da comunicagao © os problemas de nossos fildlogos”*. E fato que as coincidéncias @ conver- géncias sto notéveis entre as etapas mais recentes da ané- lise lingifstica e @ abordagem da linguagem na teoria ruse: mitica da comunicagéo. Como cada uma dessas duas dis- ciplinas se ocupa, embora por vias diferentes e assaz aut6- nomas, do mesmo dominio da comunicagao verbal, um estrefto contato entre elas revelou-se til a ambas nfo hd divida de que se tornard cada vez mais proveitoso. © fluxo da linguagem falada, fisieamente, continuo, co- Jocou em principio a teoria da comunicagéo diante de ‘uma situagio “consideravelmente mais complicada” do que no caso de um conjunto finito de elementos diseretos que, linguagem escrita apresentava*. Entretanto, @ anélise lin- ullstiea conseguiu resolver 0 discurso oral ‘numa série fi nita de unidades elementares de informacio, Estas unidades discretas finais, os chamados “tracos distintivos", acham-se (*) Trabalho apresentado ao “Symposium on, ‘Structus o Lang od Ie ‘Mathematical Aspects”, Nova otque, 15 de ‘abel we ao Cee Bead, com o too de, “Linguistics ‘and ‘Communication Theory” em ats lings of Symposia in Applied Mathematics, ‘XI (1961). oft) Joma of te ‘Acoustical Society of America, vol. 22 (1950), (2) C.E. Shannon e Weaver, The Mat! itical wai thoc Weaver, Mathemtical Theory of Com- iy i (U: , The University of Illinois Press, 1949), pp. ae 73

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