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Espero que tenham lido o filme do Sérgio Bianchi, Cronicamente Inviavel. Precisamos examinar 0 que somos. O que nos identifica e permite reconhecer as coisas e os seres, da forma que aparecem ao individuo (ego), pra verificar o que é e como foi que aprendeu sobre cidadania, diversidade e direito. Ser cidadao numa reptblica é ser de um modo diferente do sidito em uma monarquia. Os direitos sao garantias legais de segurancga e protecao a quem recebe deveres da lei. Lei humana, claro. Mas quem e como elabora as leis? E possivel sabotar a republica e instalar o terror para garantir a paz perpétua? Paz perpétua 6 0 mesmo que guerra permanente? Diversas sao as formas de ser humano, e ser humano é uma coisa s6: a forma humana é a busca. Ninguém nasce pronto, Nenhum ser humano se da a vida, todos, cada um, encontra a sua propria vida depois que ela j4 comecou, quando se encontra a si mesmo. Quem encontra a si 6 quem se sente perdido no mundo social. S6 quem se perdeu pode se encontrar, O encontro consigo mesmo sé acontece quando se vira as costas para o mundo social e se volta pra dentro de si. Isso tem um nome, é a contemplacao, introspeccao. Capacidade de parar para olhar e ver sem ser de passagem. Ia dizendo que ninguém nasce pronto, E preciso se produzir. Mas ninguém nasce sabendo como e nem pra qué fazer isso, Nés nos produzimos para nods nos adaptarmos a ambientes e circunstancias, incluindo nossos corpos em constante mutacao, O stdito de um rei nao muda. Nao tem esse horizonte, logo, nado cria expectativas de mudanga em sua vida, que alias nao é sua, mas do rei pra quem o sidito vive. O stdito nao aprende a ser mimado com individualidade e singularidade que o faz perceber que é tinico e insubstituivel no mundo. Ja o cidad&o é levado a crer que é possivel mudar de posicao, progredir. Desde que obedeg¢a as regras do jogo democratico e jogue pra valer, apostando em projetos de vida individual e feliz. O Brasil teve stiditos do rei, E escravos. O Brasil que da certo ha mais de 500 anos é um ponto comercial de paises desenvolvidos para fazerem negocios, é o Brasil que estupra, mata, rouba e vai embora deixando escombros pra quem fica. Se ele é viavel nao sei. Eo que temos de heranga pra hoje. Claro que existe o Brasil que serve de mimo, como sorvete de c6co com pinguinhos de chocolate amargo. Mas esse pouco importa, a nao ser como amostra do que se conta sobre nos. Publicidade pra vender mercadorias, tal qual mao de obra. A cidadania exige que se conheg¢a as leis do lugar onde se vive. Como aprendemos sobre as leis do nosso pais? E se a cidadania nao for nacional, mas global, como é que aprendemos sobre as leis do mundo social global? Direito Comercial, Internacional... Os governos sao diferentes em todo 0 mundo. E quem governa? Quem governa o mundo? Empresas transnacionais criam suas proprias legislagdes e as impde aos povos do globo... Através de formas dissimuladas de vida publica, Elegemos espantalhos e hologramas que distraem o publico que dificilmente percebe o real poder soberano das empresas sobre os paises. Estamos num jogo. E preciso aprender as regras e jogar. Metaforas visuais a parte, estamos longe de individuos que saibam o que é cidadania, e muito perto de individuos que usam a cidadania e o direito pra delirar como monarca absoluto que exige seus direitos e ponto final. Egocracia... Estamos falando de desigualdades varias em relagdo aos acessos e permanéncia em espacos publicos e privados, além do intimo. Que ninguém se engane sobre a mentira que vivemos, e nao subestime o poder que nos enche de palavras (alfabetizacao para todos!) até tornar cada individuo um escravo de cada palavra que pronuncia ou cala... Pra onde vao as palavras que a gente engole? Que armas cada um de nos tem pra lutar em defesa da propria liberdade? Quando a forc¢a fracassa em sua missao de aprisionar 0 homem (o individuo, 0 ego), quando a forca bruta e a mentira transmitida ao vivo nao conseguem dobrar o homem, nem quebra-lo e nem domestica-lo com focinheira e trancado na casinha, aplica-se a seducao. Doses de seducao. Como é que o poder seduz? Pela coacao, s6 que interiorizada, cuja forma é a da boa consciéncia, baseada na mentira: 0 masoquismo do cidad&o honesto! Chamam de desprendimento 0 que é a castracao Chamam de liberdade, livre arbitrio, a escolha entre varias formas de servidao. Imperativos categéricos, o ter que e o dever ser/ter. Como? O sentimento do dever cumprido faz de cada individuo vitima e carrasco de si mesmo Ja nao é preciso achar culpados pelo fracasso pessoal, o fracasso ja é o préprio si mesmo que se acha mutilado e nem sente mais nada, em parte alguma... Lembrando que a dialética do senhor e do escravo implica o sacrificio mitico do senhor e o sacrificio real do escravo, O senhor sacrificava seu poder real em nome da coletividade, do viver juntos. E 0 escravo sacrificava sua materialidade, sua vida real, para obter um poder que ele partilha s6 na aparéncia. Ja nem mesmo o sentido do sacrificio precisa fazer sentido no mundo de aparéncia, projetado pelo poder que ensina a enxergar cavernas e entrar 14 pra ouvir que se é um "aluno" ou sem luz propria e que por isso precisa sair, mas nao pode porque esta preso ao mundo das sombras,. Até que seja salvo, liberto, finalmente levado a ver a luz. Que o cega, claro, porque ficou tempo demais no escuro e bla bla bla bla Lembrando que a alegoria da caverna é uma alegoria... [11/6 12:29] Prof Nélio UEG: Sobre a Ciéncia e o mundo social

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