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SONOLENCIA, ESTRESSE, DEPRESSAO E ACIDENTES DE TRANSITO Maria Helena Hoffmann ‘Eduardo José Legal 1. Intropu¢ao No ano 2000, mais de 1,2 milhées de pessoas morreram como conseqiiéncia de acidentes de transito, fazendo desta a nona causa mais importante de morte no mundo. Hi previsio de que no ano 2020 esta cifra praticamente duplique. Além das surpre- endentes taxas de mortalidade, os traumatismos por acidentes de transito constituem uma das prineipais causas de perdas da satide ¢ vultosa despesa para o sistema de satide (WHO, 2003). Em Londres, dia 11 de fevereiro de 2003, durante uma Confe- réncia organizada pela Fundagdo FIA para o Automével e Organiza- ao Mundial da Satide (OMS), a Diretora Geral desta Organizagio, Dra. Gro Harlem Brundtland, declarou que o Dia Mundial da Saiide 2004 sera dedivado a Seguranga para o Trdnsito. Este dia ser uma ocasitio para apresentar um relat6rio mundial sobre prevengio de ‘traumatismos por acidentes de transito, elaborado conjuntamente pela OMS e Banco Mundial, no qual se facilitarfo dados sobre a magnitu- de mundial do problema ¢ serdo apontadas algumas diretrizes para prevenir traumatismos por acidentes de (ransito, “O sofrimento das vitimas de traumatismos por acidentes de trinsi- to € de seus familiares € inexplicavel. Em termos estritamente eco- ndmicos, o custo associado as intervengdes cinirgicas, os periodos prolongados de hospitalizaySo e a reabilitagao a longo prazo das vitimas, unido & perda de produtividade delas, pode-se quantificar em bilhGes de détares anuais, Este custo coloca gravemente em perigo as perspectivas de desenvolvimento”, afirma Brundtland (WHO, 2003). rw verrrlvTeree ‘CoNPORTANENTO UUMANO NO TRANSTTO. © que provoca um scidente de transito ¢ explica 0 gigan- tesco panorama de mortos e feridos anualmente? A resposta nio & facil, pois sio muitos e complexos os fatores que se encon- dos num sinistro de circulacao. acidente deve ser considerado o resultado final de um pro- cesso em que se encudeiam diversos eventos, condigdes ¢ condutas. Os fatores que resultam urn sinistro surgem dentro da complexa rede de interagdes entre o condutor, 0 veiculo ¢ a vis, em determina- das condigées ambientais ¢ cultura. Lamentavelmente, ainda ha uma série de interrogagdes que preocupam a todos que trabalham ou se interessam pela seguranga da locomogio humana. Pesquisas evidenciam que uma boa parte dos acidentes de transito é desencadeada por fatores sociais ou ‘pessoais, denominados falhas humanas, cuja importincia parece que a de outros components classicamente implicados : veiculo © ambiente. Entre os erros mais importantes que precedem um acidente, encontram-se trés grandes categorias: erros de reconhecimento eiden- tificagSo-percepgdo; erros de processamento ¢ tomada de decisio- inteligéncia, conhecimentos ou atitudes; ¢ erros na execugo da ma- nobra (habilidades psicomotoras), Entre as falhas humanas mais comuns provocades pela ago simples ou combinada, cabe destacar as seguintes: causas fisicas (fa- as (pressa, falta de atencdo, agressividade, competitividade); busca intencional de risco ¢ de emogdes intensas; condutas interferentes ¢ as dista- (¢5es; a experiéncia, por excesso ou falta, a respeito do veiculo ou da via: estados psicofisicos transitérios (uso inadequado de élcool, firmacos, sonoléncia, depressio, estresse). Sabemos que nao s6 as falhas de resposta e 0s erros na execu- ¢40 da decisdo so os énicos implicados nos acidentes. Hé também ‘0s ertos incorridos na busca, selecdo € coleta da informagio ¢ 0 posteriores de processamento desta informagao ¢ da tomada de deci- sfio. Além dos dados objetivos, a interpretagéo subjetiva da situago 34d [ Car, 19 — BoNOLENCHA, ESTRESSE, DEPEESSAO E ACIDENTES DE TRANSITO ..- influencia a decisio a adotar para fazer frente as situagies proble- miticas que vo surgindo durante a condugao do vesculo. ‘Apresentamos a seguir 0 papel que, na condugio do veiculo, desempenham as alteragdes produzidas pela sonoléncia, depressio ¢ pelo estresse. 2. A SONOLENCIA E OS ACIDENTES DF TRANSITO Em muitas ocasiées, por ser a condugdo de vefculos uma ativi- dade de pritica habitual disria, se perde a consciéucia de que ela € ium processo complexo, no qual se tomam decisties com grave Perigo para a vida, de uma mareira répida, num meio constantemente ‘mutante, inundado de uma enorme estimulagdio ambiental. Isto exige que toda nossa cupacidade psicofisica esteja em perfeito estado quando realizamos a atividade de conduzir, Estados alterados de consciéncia, como a sonoléncia, diminuem & capacidade de provesvamtento sensorial, reduzindo a eficécia das respos tas a0 ambiente, A sonolencia, por sua vez, pode ser resultante de hiibitos inadequados ou de cutros distirbios que podem afetar tanto a qualidade ‘como a qualidade do sono. No caso do trinsito, a soncléncia esté fore- mente associada a acidentes (Canani et al, 2001; Tarkington et a, 2001; ‘Weber e Montovani, 2002; Wright e Sheiden, 1998). Em um dos dinicos estudos brasileitus sobre 0 assunto, Rizzo (1999) enurevistou motoristas, dos quais 25.4% ja haviam softido algum acidente automobilistico; destes, 20,1% apontaram a sonoléneia excessiva como a causa dos acidentes. Dentre os disturbios do sono, os que mais aparecem correlacionutlos aos acidentes de transito so a apnéia e a narcolepsia. ‘A apniia caracteriza-se pela obstrugéo da respiraydo durante 0 sono , por sua vez, provoca diminuigao da oxigenagao sensagio de sufocamento, diminuindo a qualidade dele. Em conseqiiéncia desta péssima qualidade de sono, € comum 0 individuo apresentar mais ‘sonoléneia durante o dia, principalmente em atividades mondtonas. 345, CoMPORTANENTO HUMANO NO TRANSITO. Weber e Montovani (2002) revisaram estudos sobre doengas do sono e sua associagio com acidentes de trinsito. No referido antigo, ‘uma série de estudos demonstrou que indi tém maior probabilidade de sofrer um 19s com apnéia do sono nte de transito do que como aponta Wright © ‘Sheldon (1998), na maioria dos estudos, a incidéneia de sonoléncia entre 08 individuos com apnéia do sono ou outros distirbios niio & amente maior do que na populagdo sem este transtorno, O problema do terceiro faror!? pode contundir os dados destas pes- quisas. Geralmente, a apnéia do sono esti associada & obesidade, uso de alcool ou fumo, idade, hipertensdo arterial e uso de medicamen- tos que deprimem o funcionamento do sistema nervoso central € que, ‘por sua vez, podem causar a apnéia (Wright & Sheldon, 1998; Canani & Barreto, 2001). Neste caso toma-se dificil saber o que realmente esté associado aos acidentes, se a apnéia do sono ou outros proble- mas de satide nos quais a apnéia é um sintoma comum. Independen- te de sua origem, de modo geral, a apnéia diminui a qualidade de sono ¢€ um fator de risco para a condugio de veiculos. Tanto que em paises como Estados Unidos, Canada e Reino Unido, por exemplo, existe regulamentagdo que considera pessoas com apnéia do sono ou outro transtomo do sono que provoque sonoléncia diura como no ‘qualificadas para dirigir quando nfo estéo em tratamiento (Weber & ‘Montovani, 2002). Das pessoas em tratamento destes transtomos, 0 departamento de trnsito destes pafses exige 0 nico para a manutengdo da licenga de nao qu (Weber & Montovani, 2002). ficadas para dirigir A sonoléncia pode ser causada também por dificuldades em ‘manter ou iniciar 0 sono (insénia). A insOnia estd associada a mui- tos fatores entre os quais destacam-se os seguinles: o estresse, a 13, O problema do terceiro fata refere-se& questo dos estudos de corelagio. Era uma comelagio diz-se que duas variveis estéo relacionadas porque muda conjuntarnente mm eterminado perfodo de tempo. No ertaro, esta sssociagZ0 nas os dia em termos de quem ‘usa o qué. Uma terceiza varvel ngo mensurada poce estar foryando esta assoviagdo € rovocando a correlagc de arnbas, 346 Cap. 19 SONOLENCHA, FSTHESSE, DEPRESSAO E ACIDENTES DE TRANSITO .- dade laboral, a ansiedade, a existéncia de alguma ‘enfermidade — como apnéia obstrutiva do sono (Weber & Montovani, 2002), 0 consumo de estimulantes (como café, anfetaminas, guarand, etc.) eo ruldo, Os estudos na érea também apontam que mulheres € pessoas idosas so mais afetadas por este distirbio (APA, 2000). ‘A insonia € precisamente um dos estados que deteriora de ma- neira notivel as capacidades necessérias para conduzir 0 vefculo. Montoro (1991) sintetiza algumas das conclusdes € dados mais im- portantes de estudos sobre insOnia realizados na Universidade de Michigan, no Transport and Road Research Laboratory (TRRL) de Ingluterra, no Institut National de Recherche sur les Transports et leur Sécurité (INRETS) de Paris, no Centro de Investigagdo em Se- guranca Vidria da Universidade de Groningen na Holanda, a seguir resumidos: ~a insonia provoca diminui¢ao da capacidade de resposta do condutor, gerando movimentos automuiticos mais retardados ¢ com maior probat ividuo perder milésimos de segundo em relagdo a resposta motora que. As vezes, € to impres- cindivel para evitar 0 acidente; lade de erro, o que faz 0 —provoca, também, alteracdes motoras que podem afetar tanto a perfvita sincronizacao, necesséria entre todos 0s 6rgios implicados nna condugo, como gerar uma lentificago geral das respostas; = produz um ineremento das distracdes ¢ diminuigdio da capa- cidade de concentragdo, condutas consideradas entre as quatro cau- sas mais importantes implicadas nos acidentes de transito; — tem incidéncia sobre os drgdos dos sentidos, em especial a visdo. A insOnia altera algumas imporantes fungées sensoriais, re- percutindo especialmente na fadiga ocular, o qual é altamente grave, se levarmos em conta que a maior parte da informagao recebida pelo condutor é visual (Visual Expert, 2001); — pode ocusionar disfimedes na percepeao da velocidade ¢ da distincia, propria ou alheia, criando problemas de identificagio dos est{mulos significativos, para uma condugdo isenta de risco. 347 ConpoxtamiinTo HSIANG NO TRANSIT = gera também importantes reper ‘mento, podendo aumentar 0 nivel de de levando a um incremento de condutas arriscads, tamente relacionadas com o acidente e também com agressio; — a insdnia incrementa consideravelmente a fadiga. Outta causa fundamental implicada na maior parte dos acidentes. isses sobre © comporta- menta o mimero de erros nas motrizes, ao mesmo tempo em que manobras, gerando levando assim & aceitagao inconscieate de maiores niveis de riscos, ‘Na maioria das vezes, a insOnia pode ser manifestagao da exis- téncia de algum tipo de transtorno, que por si sé pode implicar em risco para a condugao. A insOnia é, entio, sintoma ¢ nao diagnéstico principal. Depressio, ansiedade, estresse, tratamento medicamentoso (comoa quimioterapia) ¢ 0 uso de substincias psicoestimutantes (como a cocafna, crack e anfetaminas) esto associados fortemente a casos de insOnia (Holmes, 1997). 3. A DEPRESSAO E OS ACIDENTES DE TRANSITO Desde principios do século XX, psiquiatras e psicdlogos experimentalistas jé manifestam a relevancia dos transtomnos comportamentais como causa importante de acidentes de tnsito. Existem numerosas pesquisas que demonstram, em que pese as dificuldades de experimentages e coleta de dados, que quase todos 0s transtornos mentais, transitérios ou permanentes afetam de algu- ‘ma maneira a condugo ¢ podem ser causa grave — direta ou indireta —de acidentes de circulagdo humana (Elkema et al, 1976; Armstrong & Whitkock, 1980; Alvarez & Del Rio, 2002). 348 Cap. 19 SONOLENCHA, ESTRESEE, DEPRESSAO I ACIDENTES DF TRANSITO su. |A depressao & considerada, entre os especialistas, 0 resfriado dos transtornos meniais por ser mais freqiiente entre a populacko em geral (Holmes, 1997; Pinto € Nascimento, 2000). Par isto, ela deve merecer uma especial atengio por parte dos pesquisadores brasilei- 105, em temas relacionados com a cigculagdo humana e sva seguran- ga. Estima-se que a proporgio de individuos com depressdo ou que paddeceram de depressio esteja entre 8% e 20% na populagio (Holmes, 1997; APA, 2000). Para os casos mais graves de depressio maior (transtorno unipolar) estima-se uma proponydo de 4,9% da popula- ‘slo (Pinto & Nascimento, 2000). Murtas das pessoas que desenvol- ‘vem depressio sdo usuuirias habituais de veiculos automotores ¢ em geral estio bastante desinformadas da incidéncia desta alteragao nas capacidades psicofisicas necessdrias para conduzit, Dente as altera- gGes que os estudos destacam estdo: = diminuigdo da atengdo: a pessoa que padece de depressio, possivelmente, por estar bastante preocupada pela problemética de seu mundo interno, sabe que Ihe falta em geral bastante atengio i estimulagio provedente das vias por onde circula, com 0 consequente risco de softer ‘um acidente, conforme apontam Montoro, Tortosa e Soler (1988); ~ por outro lado, a tendéncia suicida de muitos depressives (presente em cerca de 20% dos individuos que padecem deste trans- torn) faz com que utilizem 0 vefculo como meio direto para acubar com a sua vida ou, entdo, em conseqiiéncia de seu estado de humor, sfio conduzidos a um desrespeito irrefletido do risco, sem importar- Ihes excessivamente as conseqiiéncias e os resultados de uma con- dugdo. Sob estas circunstincias sio freqiientes os erros de controle tomada de decisies. Neste sentido, sdo interessantes os estudos de MeDonall (1964) ou de Schmidt et al (1977), 0s quais asseguram que 1% ou 2% dos acidentes so suicfdios ou tentativas de suicidio, Holmes (1997) também aponta que seguradoras tém se preocupado em investigar casos de acidente de transito nos quais nos quais © envolvido possa té-los provocado deliberadamente. Esta seria uma forma do suicida de deixar alguma compensagZo financeira para @ familia apés sua morte; 349 Conporastento unas No THNSTO — em pessoas depressivas pode haver incremento de casos de ‘usando para isto um veiculo, como resultado de contégio soci- al, Um eurioso estudo realizado em Chicago hi alguns anos (Montoro, 1988), demonstrou que apes a publicago da noticia na imprensa local de um suicidio com automével, de uma importante personalidade da cidade, aumentou sensivelmente naquela zona o niimero de vefeulos que se chocarain contra muros, drvores ¢ precipicios; ~ também as alteracdes do sone que ocorrem no depressive geram um conjunto de disfungdes ao volante, tais como: aumento da fadiga, aparecimento de micro-sonos € outros tanstornos anterior- mente descritos, que so verdadeiros riscos objetivos para a coudu- gfe (APA, 2000); — outro problema nfo menos importante do individuo com de~ presso so as alleracdes na sua capacidade de tomada de decisiio ao volante. A ientidao, inseguranga e indecisiio que caracterizam 0 comportamento de muitos depressivos se convertem em uma forte deficiéncia nas situagdes de condugdo, em que as manobras rdpidas € ajustadas so vitais; ~ outro efeito da depressio, especialmente grave para a condu- io se refere as alteragdes sensoriais, em especial & diminuigio do campo visual. A depressio pode afetar os recepiores sensoriais em virtude da diminuigdo significativa do processamento de informagies, ‘em especial a diminuigo da capacidade de reconhecimento visual de mudangas sutis e répidas no ambiente. Com efeito, estudos com depressivos demonstraram que @ capacidade de responder a estimu- los visuais como os da face (geralmente ripidos e sutis) sfo retarda- dos em relagao a individuos sem depressdo (Satler et al, 1996), Cer- tos depressivos, em determinados momentos, sofrem importantes desajustes na visio, com redugdo notével de seu campo visual que, no caso de alguns destes doentes em fase aguda, alcanga niveis de verdadeiro perigo para a condugdo (Montoro, 1991). Aos efeitos prejudiciais da depressao para a atividade de con- durir um veiculo, somam-se também aqueles derivados do lcool & psicoférmacos em pessoas depressivas. Estima-se que aproximadamente 350 ge Cap. 19 — SONOLENCIA, ESTRESSE, DEPRESEAO E ACIDENTES DE TRANSITO ... 10% das pessoas envolvidas em acidentes de trinsito fuziam uso de algum medicamento psicotrpico (DeGier, 1999 in Alvarez & Del Rio, 2002). Barbone et al (1998) e Neute! (1998) encontraram corre- lagSes positivas entre acidentes de tnsito e uso de benzodiazepini- Js triefclicos, tradicionalmente utilizados para Ramaekers (2003) aponta a ‘entre drogas sedativas, antihistaminicos, antidepressivos tai- cfelicos ¢ maconha que foram fortemente associadas ao prejufzo na capacidade de conduzir veiculos automotores ns situagdo de labora- totic. Apesar disso, o referido autor comenta a falta de dados os telacionando acidentes de trapsito ao uso destas 4, O ESTRESSE E SUA IMPLICAGAO NOS ACIDENTES DE TRANSITO Oestresse ¢, talvez, uma das caracteristicas que mais define a atual civilizaydo. O estilo de condugdo tio ligado aos fatores psicossociais, como uma manifestagio e uma atividade a mais da vida cotidiana dos seres humanos, ndo é também alheio a este estado psicobiolégico, De fato, saberos que o estresse esté intimamente vinculado com o manejo dos veiculos, pelo menos em dois sentidos. Por um lado, 0 estresse modula em certa medida a forma de dirigir das pes- Soas e € 0 agente causal, direto ou indireto, de considenivel porcen- tagem de acidentes, como veremos posteriormente, Por outro, 0 pré- prio sistema de circulagéo massivo com todos 0s seus efeitos, em certas ocasides, contribui de maneira notével para aumentar os nf- eis de estresse, que por si s6 gera nosso proprio sistema de vida. © estresse € ao mesmo tempo, um fendmeno bem conhecido, ‘mas maicompreendido. Doublet (2000) critica 0 uso indiscriminado que se tem feito do termo sugerindo a revisdo deste conceito, pois 351 ConPortaMeNTo HUNANO NO TRANSITO “Rather than being a useful explanation of what concept of stress confuses and causes more prol (p.1) [Mais do que uma explicagao dail para o que © conceito de estresse confunde e causa mais problemas do que con- segue resolver'*}, Tambeém hé importantes problemas metodolégicos para isolar corretamente © papel — tanto positive quanto negativo ~ que este estado psicoldgico em na condugio e na causa dos aciden- tes de transito, como jé demonst anos quarentas. Ha mais de 30 anos, as pesquisas j4 apontavam que para os individuos que haviam tido préximo ao sinistro algum acontecimen- to estressante importante, o risco de acidente era cinco vezes superior a0 do resto da popullago (Brenner e Selzer, 1969). A pes- quisa de McMurray (1970) revelou que, nos dias ¢ até mesmo nos meses anteriores € posteriores a situagées altamente estressantes mente e, em alguns casos, ela duplica Existem outras situagées da vida didria, por exemplo: pequenas discussées, rufdos, nao encontrar estacionamento, congestionamentos de transito, que emmbora nfo sejam to graves, geram um estresse nada benéfico para 0 condutor, produzindo mudangas nas batidas cardia- cas, na secrecao de cateculamina ou alteracées na constituigao da pele. ‘Asso tudo, em algumas ocasides, se acrescenta um impressio- nante aciimulo de sinais de informacao ou proibigao na propria via, impossiveis de ser processados em sua totalidade pelo condutor, ge- rando o denominado estresse perceptivo ~ diretamente relacionado coma taxa de acidentes ~e que tem motivado a necessidade da reti- rada massiva de sinais de udnsito em determinadas zonas. Atualmente, Legree et al (2003) pediram a individuos que ti- nham se envolvido em acidentes de transito para relatarem 0 que 14, ‘Traduglo adapta pelos autores. 352 Car. 19 ~ SONOLENCIA, ESIRESSE, NEPRESSAO F ACIDENTES DE TRANSITO ... havia acontecido com eles antes do acidente, e eventos estressantes, antecedenies foram altamente correlacionados a eles. Norris et al (2000 in Lancaster & Ward, 2002) em estudo 10 qual correlacionaram vatidveis comportamentais e situacionais com acidentes de wansito observaram que 0 estresse relacionado ao trabalho foi um dos mais, significativos preditores destes acidentes. Dobson et al (1999 in Lancaster & Ward, 2002) também acharam forte telagdo entre aci- dentes automobilisticos e sentir-se pressionado, estresse ¢ baixo ni- vel de satisfagio com a vida, Ha, contudo, uma série de fatos que podemos assumir como com- provados e generalizd-los, considerando que nem sempre se dio na mesma proporgdo, nem afetam da mesma maneira as pessoas, segun- 6o 0 tipo de estresse ou fase dele em que um individuo se encontra. O estresse niio é ura fendmeno por si s6 eficiente para provocar ico, ja que o evento estressante depende de is de personalidade e da situagdo em que tal evento ocorre. observancias podem conduzir a uma superestimativa ou ‘va do efeito do estresse sobre 05 acidentes de tansito. (Os estudos apontados anterionnente sempre correlacionam os niveis de estresse entre individuos que sofreram acidentes de transito outros que nao passaram por ttl experiéneia, Nio € possivel, nestes casos, saber se 0 estresse j4 nfio € um pés-efeito do acidente (trau- ma) ou se jd estava presente antes do sinistro. Fumban e Saipe (1993 apud Lancaster & Ward, 2002) revisaram uma série de estudos que utilizaram medidas de personalidade. Os resultados destes estudos apontam que os individuos mais propensos ao estresse tinham menor associago com acidentes de transito do que os que obtiveram esco- res mais altos na escala de Psicoticismo (que mede caracteristicas anti-sociais). Individuos com escares altos de psicoticismo tém maior probabilidade de infringir leis e de trafegar em alta veloc Marin ¢ Queiroz. (2000) realizaram uma revisio da literatura sobre as causas de acidentes de trinsito. Neste estuco apontam um trabalho de Evans et al (1987) sobre padres de comportamento de motoristas de Snibus na India ¢ nos Estados Unidos. Os autores 353

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