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Géneros textuais Na constituicao dos capitulos anteriores, estivemos expostos — nos capitulos seguintes, também estaremos ~ a textos diversos: historia em quedrinhos, tirinha, charge, cr6nica, miniconto, fabula, poesia, antincio, cartaz, artigo de opiniao, artigo de divulgacao cientifica, piada, bula, hordscopo, dentre outros. No processo de leitura e construgao de sentido dos textos, levamos em conta que a escrita/fala baseiam-se em formas padrio e relativamente estéveis de estruturacio e é por essa razdo que, cotidianamente, em nossas atividades comunicativas, so incontaveis as vezes em que nao somente lemos textos diversos, como também produzimos ou ouvimos enunciados, tais como: “escrevi umacarta”, “recebi oe-mail”, “achei o Gmincio interessante”, “oartigo apresenta argumentos consistentes”, “fiz oresumo do livro’, “apoesia éde um autor desconhecido”, ‘li oconto”, “piada foi boa", « quetirinba engracadal”, “alista é numerosa’. Ealista € numerosa mesmo!!! Tanto que estudiosos que objetivaram _ Glevantamento ¢ a classificacio de géneros textuais desistiram de _ pee ‘mM parte porque os géneros existem em grande quantidade, &m parte Porque os géneros, como praticas sociocomunicativas, sao amicos @ sofrem variacdes na sua constituigao, que, em muitas P°2si0e5, resultam em outros géneros, novos géneros. Basta pensarmos, otis. tara Eas 1102. Ingedore Vitae Koch + Vanda M e-mail ov. no blog, priticas socias © comunicaa, por exemplo, no me cueansmutacdes") 2 cana e do decorrentes das vari be acti als, Pe iene comunicativa €, portanto, @ Constituiicas da, Sobre a nossa géneros, Baxi (1992: 301-302) afirma que: tio, Para amornos sempre dos géneros do discurso, em outras Fearon ssa de eu Forma pad reluivamente estivel de estruturagio de um todo. ea um co repert6rio dos géneros do discurso orais (e escritos). Na Pritia, samo, los com seguranca e destreza, mas podemos ignorar totalmente a sua cexisténcia te6rica |...) (grifos do autor) Fundamentada na afirmacio do autor, Koc (2004) defende a ideia segundo a qual os individuos desenvolvem uma competéncia metagenérica que Ihes possibilita interagir de forma conveniente, na medida em que se envolvem nas diversas priticas sociais. E essa competéncia que possibilita a produgio e a compreen: sgéneros textuais, ¢ até mesmo que os denominemos, conforme explicamos "no pariigrafo inicial ¢ reiteramos, agora, com o texto 1, cujo enunciado estaca a denominacao do géneto “curriculo”, e, com o texto 2, em que na “fala” do garoto revela-se a denominagiio ao género textual “recado” Produzido em suporte nao esperado — a parede — do pai. Vejamos: + para desaprovacio Texto 1 «NAO 6 EScREVI No Ey UeRictio ave'soo “ALTAMEN- b TE CRIATIO™, coo INVENT) ° CORRICULO INTEIRO | Lerecompreender 103 Texto 2 Fonte: Folha de S.Paulo, 24 set. 2005. Como vemos, se, por um lado, a competéncia metagenérica orienta a producao de nossas praticas comunicativas, por outro lado, € essa mesma competéncia que orienta a nossa compreensao sobre os géneros textuais efetivamente produzidos. Para exemplificar que essa competéncia é de fundamental importancia para a produgao de sentido do texto, selecionamos os textos a seguir. Texto 3 Em relacao ao texto 3, a seguir, nossa competéncia metagenérica nos diz que, por sua composi¢ao, contetido, estilo, propésito comunicacional e modo de veiculacao, estamos diante do género SROBARAREA constituido sob a forma de outro género: [AAuRASeazaeag 104 ngedore vias Koch + Vanda Mara Eas Texto 3 | cRUZADAS HoRizonTA's: 1. Sita de came, conforme Li Hous. 2 nem endes ae gone Ba he bate 2.0 die chee abo con ne ME srmtnganeorn oes MEET 5. Simboo do cube que verte Ul rbronegra ut), ‘mate ns Ml ea rae SS one eos Ml 2 Dang folrica alana acomperheda plo ruta dos ui 3, Sens, foruna, eit usada pala cartomante battepaema cM sta ME ean tract icon ME pte fer ue vert. pimeio que desatar tod us mo (dim, Pode imaginar. Aqui ter, He Fonte: Revista Veja. Sao Paul: Abi, ed, 1929, 7.44, 2 nov. 2008, Lere compreender 105 Fonte: Falha de S Paulo, 28 abr. 2001 Também, no texto 4, é de fundamental importancia a competéncia metagenérica para a produgio de sentido, uma vez que estamos diante de uma charge que revela em sua constituicio 0 género “piada” em dois momentos: primeiro, pelo efeito de tiso produzido por um enunciado que “passou a fazer parte do repertério de piadas"; segundo, pela apresentacio, apés 0 riso, de um enunciado que, na sequéncia, anuncia outra piada, esta, porém, situada em um quadro (re)conhecido, esperado: trata-se de uma piada de portugués. ‘A nocao de competéncia metagenérica — e de sua importincia na para a producdo/compreensio dle textos — esta implicitada no ponto de vista de Baxin (1992:301-302), segundo o qual: lamos nossa fala 4s formas preci ‘vezes mais maledveis, Na conversa mais desenvolta, mold: géneros, s vezes padronizados e estereotipados, ais plésticos e mais criativos. (...] Aprendemos a moldar nossa fala as formas do género e, 20 ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem 106 ingedore vilaga Koc” * ‘Vanda Maria Elias divinhar-Ihe 0 volume ¢ a +s palavras, pressentitne © genero, ea gicursivo) 1 dada etrutr.COmPOsicions rete o inicio, somos sensiveis a0 todo dscurivg fala, evidenciari suas diferenciagdes Mio aiscurso e se nao os domindssemos, se ra vez no processo «la fa fados, a comunicacio verbal seria nas primeira extensao aproximad dot preverthe o fim, ou sei no processo da em seguida, istissem os generos iilos pela primeit de nossos enunei que, Se nao ex! tivéssemos de ct: de construir cada um npossivel tivéssemos quase a ideia de que 0S géneros textuais ~ priticas ruidos de um determinado modo, com uma de atuago humana, © que nos possibilita sempre que necessario. Se no fosse (re\conhecé-los € produzi-los, assim, haveria primazia de uma producto individual ¢ individualizante ddesprovida dos tracos de um trabalho construido socialmente, 0 que dificultaria (e muito) 0 processo de leitura e compreensio, segundo os pressupostos assumidos por nds nos capitulos anteriores. ‘Afimmar que os generos sio produzidos de determinada forma na implica dizer que 180 sofrem variacdes ou que elegemos a forma com« . aspecto definidor do géneto textual em detrimento de sua funcao. A\ = chamamos a atenco para o fato de que todo género, em sua on oe, possui uma forma, além de contetido e estilo ~ segundo ae Uementos indlissociaveis na constituicio do género. “ No trecho, destaca-se jocomunicativas ~ S40 constit certa funcio, em dadas esferas soci Composi¢ao, conteudo e estilo Na perspectiv: a iva bakhtiniana é u caracterizado: oun Sher or pode Seigeer © sio tipos relativamer ee ee estiveis de enunciados presentes em cada roca: os géneros pos: suem uma fc c« ich um plano composicional; jorma de composica0, * além do plan 0 composicional, disti 7 , distinguem-s tematico e pelo estilo; tinguem-se pelo contetido Lere compreender 107 * trata-se de entidades escolhidas necessidade tematica, tendo em vista as esferas de © conjunto dos participa a vonta ug? " ntes € a vontade enunciativa 6u a inte ey Wa intencdo do locutor, sujeito responsavel por enunciados, unidades reais e concretas da comunicacio verbal. Desse modo, todo género é marcado por sua esfera de atuacao que promove modos especificos de combinar, indissoluvelmente, contetido tematico, propdsito comunicativo, estilo e composicio. Veremos como se constitu essa combinagio nos exemplos apresentados a seguir: Texto 1 Pecado Que raiva que da Quando a Chica se pinta toda 56 pro Neno Ela que é toda assanhada Ele que come qual urso Eu que deitado na sombra Queria ter um carro igual Fonte: Euss Neto, Moysés.Poeta de Gaveta, Onze/USP. Texto 2 Sete Pecados do governo Lula Lula disse na semana passada, depois de comungar sem confessar, que nao tem pecados. Bem, cada um sabe de sua vida particular. Mas, como governante, ele e seu governo tém pecados que nenhum frei, nem mesmo da Teologia da Libertacéo (aquela que alguns chamam de "progressista’) pode expurgar em pouco tempo. Vou me limitar aos pecados capitais: Soberba ou Vaidade - “Made de todos os vicios", segundo Tomas de Aquino, se manifesta toda vez que o presidente diz que, por ser de origem proletéria, veio salvar o Brasil de 500 anos de inferno capitalista. Ou quando 108 ingedore Villaga Koch * Vanda Maria Elias desdenha a educacéo formal porque nao precisou de diploma UNiversitarig para atingir 0 maior cargo politico Ce ras ue considera o melhor do mundo, Ou quando seus asseclas principais 0 comparam com Jesus, Mois, e outros personagens. Preguica ~ Ou: Macunaima no poder. O presidente, para nao falar de seus filhos, e os ministros, para ndo falar de suas mulheres, nao trabalham, Despachar, para eles, 6 um verbo do dicionério de candomblé. Ocupam 4 tempo com discursos, viagens, factoides, lobbies, nomeacées para todos os escalées - sem critério exceto 0 do interesse. Falam em reforma, mas jamais metem a mao na massa. Nao estudam seus assuntos e nao conseguem cortar gastos, aprimorar gest6es, administrar planilhas. Claro, a dispersdo convém. Inveja - Esse 6 © menos disfarcado dos pecados do atual governo. Lula quer ser ruc, Dirceu quer ser Serjao, Palocci quer ser Malan. Ficaram tantos anos atacando o governo anterior que, numa reversao que sd a inveja explica, hoje incluem no programa de partido todos os pontos que atacavam: meta de inflacdo, superdvit fiscal, dolar flutuante, boas relagdes com o Fui, etc. A tal ponto que nao sabem como derrubar os juros, pois, como a divida caiu pouco e os investimentos continuam baixos, ndo dé para tirar o olho do risco-pais. Luxcria - Esse pecado também é visivel por toda parte. Por exemplo, quando © presidente viaja em seu Boeing “sob encomenda", o Aerolula, para ser santificado como inimigo da fome por ditadores africanos, em meio a gafes e bravatas. Ou em seus roupées de algodo egipcio e jantares regados a Chateau Pétrus. Ou quando se gaba de seu desempenho sexual. ra- No 6 apenas uma explosao de raiva, mas o sentimento de orgulho que sé converte em desejo de vinganca. Aos inimigos, os petistas sempre dedicam a ita; em vez de contrapor argumentos e exercitar a tolerdncia, tratam de desqualifica- los moralmente ou cerced-los juridicamente. E, novamente como de habito, ‘ninguém conhece melhor a ira do governo petista do que os antigos aliades quer “radicais" quer “historicos”. Essa pastura nao raro aparece travestida de “regulamentacao” de setores como a imprensa e a cultura. Gula ~ No sentido estrito, basta olhar as barrigas do Executivo. No sentido amplo, € a voracidade com que o governo avanca no bolso 405 contribuintes, engolindo toda migalha que vé pela frente. OS impostos sobem, a arrecadacso dispara, os agiotas comemoram. E é também 2 gula por mais e mais poder, expressa na maneira como todas a5 e5t2t0¥ Ler e compreender 109 Go ocupadas por politicos € 0 numero de fu incion. 4 Fea entar \arios publicos ndo para Avareza ou Cobica ~ Esse pecado seria o mais negado pelo atual governo, ja.que anuncia “generosidades” a toda hora. Mas, ao mesmo ene que esbanja em juros luxos, ee é avaro, extremamente avaro na prestacdo de servcos socials. Oferece “bolsa-esmola’, que frequentemente cai em mas abastadas, mas deixa o ensino, a said e a seguranca (cadé 0 “maior plano nacional de seguranca jamais feito"?), por exemplo, piorarem » cade dia Quanto mais dinheiro extrai da sociedade, menos [he devolve. Ave Maria, rogai por nds. : Fonte: Pes, Daniel. Sete pecados do governo Luta, 17 abr. 2005, hitp:fxtestado.combrcoluistsfiza htm ‘Acessado em 26 mai. 2005. tp: ‘colunistas/piza.html. Texto 3 'AMANHA VOU FAZER UM SERMAO_ Fonte: 0 Estado de 5 Paulo, 9 mar. 2005. Sabemos, pela nossa competéncia metagenérica, que o texto 1 é uma Poesia, que 0 texto 2 é um artigo de opinido e que o texto 3 é uma tirinha. Por qué? Porque esses géneros tem um modo de composicio Cestruturacio, esquematizacao) que lhes sio proprios: a poesia se estrutura em estrofes e versos, com rimas ou sem rimas; por sua vez, 0 artigo de opiniaio se estrutura em torno de um ponto de vista e da argumentagao em sua defesa; e a tirinhha se estrutura em enunciados curtos, constitufdos €m bal6es, para representar a “fala” de personagens, destacando-se nessa composigao 0 imbricamento entre verbal e nao-verbal. Portanto, do ponto de vista da composi¢ao dos géneros, deve-se levar em conta a forma de organizacao, a distribuicao das informagoes 110. ingedore villaca Koch © Vanda Maria Elias e os elementos nao-verbais: a cor, 0 padrao grafico ou a diagramag alo tipica, as ilustra des. e ; ‘ Do ponto de vista do conterido tematico, na poesia predomina q ao dos sentimentos do sujeito, § jeito esse que fala de si e da va Ao nderantemente, na primeira pessoa, ‘0, veiculado em revistas ou jornaj express. a emocoes, constituindo-se, prepo! Por sua vez, no artigo de opinia © contetido, geralmente, consta de acontecimentos de ordem politica, econémica, social, historica ou cultural, e raramente sobre acontecimentos Por ultimo, na tirinha, o contetido esperado é a 3 do mundo, modos de comportamento, ou vivéncias pessoai critica bem-humorada a cois valores, sentimentos. Coincidentemente, os trés textos selecionados estruturam-se em torno do mesmo tema — pecado - porém o fazem de modo diferente. Em se tratando de estilo, na poesia, hd a expressio maxima do trabalho do autor nas escolhas realizadas para a constituicao do dizer; no artigo de opiniao, geralmente, exige-se caracteristica do estilo de comunicagao formal, dirigida a um grupo privilegiado social, econdmica e cultu- ralmente; na tirinha, apesar da escassez do espaco, que exige do autor uma producao breve, h4 forte expresso do trabalho do autor marcada, geralmente, por maior grau de informalidade. Subjaz a essas consideragdes 0 fato de que, nas escolhas que realiza, © autor imprime a sua marca individual, mas nao pode ignorar a relativa estabilidade dos géneros textuais, o que nao 0 caracteriza como um sujeito inteiramente livre, que tudo pode dizer em descaso as regulacdes sociais, nem como um sujeito totalmente submisso, que nada pode dizer, sem fugir as prescrigdes sociais. Para entendermos melhor a relacao estilo/género textual, vamos ler Os textos a seguir: ere compreender 111 Texto 1 Noticia: Final Feliz “Apos pecener: 9 rim da mae, Anna Paula Reinelt Marques deixou o hospital ontem. A mae, lzilda (com Anna na foto), teve de escolher qual das trés filhas ira receber 0 61940", EE ee ee FINAL FELIZ eee Apos receber o rim da mae, da (com Anna na foto), teve de| Anna Paula Reinelt Marques dei- —_ escolher qual das 3 filhas iria xou 0 hospital ontem. A mae, Izil- __ receber 0 Orgo. @ PAG. a30 Fonte: 0 Estado de S.Paulo, 5 mar. 2005, p. Al 112. ingedore Villaga Koch * Vanda Maria Elias Texto 2 Final Feliz? Ingredientes: + 3 filhas com grave problema renal, que ha quatro anos fazem ly um 6rgio na fila de transplante; #7 me que possui apenas dis rinse, deste modo, apenas um Fe © ep eFam, di rs para transplante; spongy 1 Hospital do Rim, na vila Mariana, zona sul de S30 Paulo; + 1 médico especialista em transplantes de rim; * 7 equipe de apoio para este médico. Modo de fazer: 1. Pegue as filha, leve-as a0 médlco e faca-as descobrira grave doenca, dees em banho-maria. 2, Pegue entdo a mae e dé a noticia a ela, dizendo também que ela terd de escolher a qual das filhas doaré seu rim, reserve. 3. Pegue novamente as filhas, dé também esta noticia a elas. 4, Este procedimento causaré grande ebulicdo de sentimentos (angustias, ansiedade, tristezas etc...), espere entéo que esfrie. 5. Convoque entao as quatro para que decidam juntas qual das filhas receberd orim. 6. Aguarde um certo tempo para que elas se resolvam, enquanto isso va juntando o dinheiro necessdrio para o transpiante. 7, Resolvido? Entao leve a made e as filhas ao Hospital do Rim e faca com que encontrem o médico e sua equipe. 8. Entre entao com a mée e apenas uma das filhas na sala de cirurgia. 9. Faca 0 transplante e deixe as outras duas filhas esperando na fila do transplante. 10. Retorne, entao, com a filha transplantada e a mae para casa, € leve 2 outras duas filhas para o hospital fazer didlise. 11. Final feliz? ‘Autora: JUlia Portella, aluna do curso de Comunicacao e Multimeios da uc-s. Lerecompreender 113 Nao temos dtivida de que o texto 1 é uma noticia: a funcao. preponderante é informar, 0 texto foi veiculado em jornal, em sua onganizacao & estilo destacam-se 0 modo de distribuicao das informacées, os elementos nao verbais (diagramacao tipica, ilustracdes) e a “objetivaclo” do discurso. Por sua vez, 0 uso de uma estrutura composicional como a do texto 2 pode ocorrer — porém € pouco comum — no dominio jornalistico. Trata- se, nesse caso, de uma produg¢io textual em que o trabalho do autor se evidencia na mobilizagio de duas formas composicionais para fazé-las funcionarem simultaneamente superpostas uma a outra: um artigo de opiniao construfdo sob a forma de receita. A partir dessas consideracdes sobre estilo, conteido e composicao dos géneros textuais, podemos afirmar que: * anogao de géneros textuais é respaldada em priticas sociais € em saberes socioculturais, porém os géneros podem sofrer variagdes em sua unidade tematica, forma composicional e estilo; © todo e qualquer género textual possui estilo; em alguns deles, ha condicdes mais favoraveis (géneros literarios), em outros, menos favorveis (documentos oficiais, notas fiscais), para a manifestacio do estilo individual; * 0 géneros nao sao instrumentos rigidos e estanques, 0 que quer dizer que “a plasticidade ea dinamicicade nao sao caracteristicas intrinsecas ou inatas dos géneros, mas decorrem da dinfmica da vida social e cultural e do trabalho dos autores” (Atves Filho, 2005: 109. * os géneros nao se definem por sua forma, mas por sua funcao. O texto EIRENE, por exemplo, é representativo de que um género pode assumir a forma de outro e, ainda assim, continuar pertencendo aquele género (no caso do exemplo, 0 artigo de opiniao assumiu © formato de receita, mas continuou, por sua funcao, um artigo de opiniao). Esse fendmeno alusivo 2 hibridizagao ou mescla de géneros é denominado de intertextualidade intergéneros (cf. Maxcuscut, 2002: 31) e € disso que traremos a seguir. vi Eas 114. ngedorevitaca Koch © Vande Maria El Géneros textuais & intergenericidade Jo ou a intertextualidade intergéneros € 0 fendmen, assumir a forma de um outro género nicacdo. Nao raro, pode ser verificadg rtigos de opiniao. A hibridiza¢ segundo o qual um genero pode sta o propésito de comu! até mesmo em a tendo em em antincios, tirinhas & Vejamos os textos a seguir: Fonte: Folha de S.Paulo. O texto 1, embora tenha as caracteristicas de uma receita, de fato nao o é, porque o leitor nao o levara a sério, a ponto de efetivamente realiz4-la, Dito de outro modo, o texto tem a forma de receita, mas nio a fungao de receita. A sua fungao é aquela que se atribui as tirinhas. Temos, portanto, no exemplo, uma mescla de dois géneros: 0 género teceita esta a servigo do género tirinha, mas este preserva a sua fun¢io s6cio-historicamente constituida, a saber: a de revelar um posicionamento critico sob a perspectiva do humor. Ler ecompreender 115 Texto 2 abemos. O texto 2 nao consiste em um problema matemitico cuja solugio é solicitada aos leitores. Nao!!! Nenhum leitor maduro, conhecedor de charge, tentaria resolver o problema, pois sabe que esse género é uma forma humorada de criticar e zombar de fatos ou situacdes reais da politica, de modo geral. Vemos, novamente, a concretizagao do fendmeno da intertextualidade intergéneros: a charge constituida sob a forma de problema; 0 problema a servigo da charge, sem, contudo, alterar a fungao desta. 116. ngedore villaca Koch + Vanda Maria Elias Texto 3 Fonte: Folha de Palo, 20 ago. 2005 Vemos, no texto 3, 0 quanto é interessante a mescla de géneros como um recurso de que dispde 0 produtor de texto para alcangar 0 seu propésito comunicacional e a que deve estar atento o leitor para a construcao de sentido. Nossa competéncia metagenérica nos diz que nao estamos diante do. género telegrama, nao em termos de sua funco no contexto em que © insere, mas do género antincio. E a parte que se encontra abaixo do telegrama: € uma forte sinalizacao disso. ere compreender 117 Texto 4 Pico TS STESTAMENTOS Fu, TEREZA BATISTA, portadora da carteira de Adentidade 26.511.172-x, enumero meus bens pessoais ¢ nomeio os seguintes benefictarios abaixo: Para a secretaria, deixo minha Ri. para ela deletar todos os meus compromises. Para o meu chefe, deixo o kit de MBBS com 21 pecas para ele trabalhar feito um pedo. Para o cachorro do meu marido, deixo a MBM ao Rex Ganhei na loteria, Vou desta para una melhor. Pode imaginar. Ault. Fonte: Revista Veja S80 Paulo: Abril, ed. 1926, ano 88, n. 41, 12 out. 2006, p. 111 ... ninguém levaria a sério um testamento como esse, naio é mesmo? Isso evidencia que, de fato, nao estamos diante do género testamento, embora assim seja anunciado no alto da primeira linha tal como € praxe nesse tipo de documento. A forma a que se recorreu para compor o texto 4 equivale 4 de um testamento; porém, pela fungao que Ihe é atribuida, considerando 0 modo de composi¢ao, 0 estilo, 0 contetdo, © propésito comunicacional 118 Ingedore vilaga Koch + Vanda Jo, verifica-se tratar-se de uma propaga e omeio de veicul sob a forma de testamento. E quanto a isso, ndo temos diividy 0 comunicativo, mais do que a form Anda cong; ity a funcao ou propésit & preponderante na definicaio do género. Texto 5 eee TenSniner Sen 2 So Oca Lares CS ne se ent eerie Mer reecteaLd Be IAS YIHTTGD Re eee ee tere compreender 119) Verificamos, no texto 5, a estrutura composicional do género ca palavras na composi A0 da propaganda. Dito de outro modo: o género propaganda se apresenta sob a forma de outro — caca-palavras -, mas continua com a funcao que Ihe cabe, a saber: divulgar um produto, no caso, Belissima, novela global ¢: oito. Sabemos disso uma vez que a esfera de circulagd0, os propdsitos comunicativos, o tipo de interagao em jogo, @ materialidade linguistica e as palavras em destaque so indicagdes, para que interpretemos 6 texto como propaganda e nao como um passatempo, ainda que aceitemos a proposta e busquemos encontrar no texto as palavras destacadas. A leitura do texto confirma, pois, que © seu propésito principal € anunciar a novela e a forma escolhida para fazé-lo atender bem a esse propésito. Géneros textuais e heterogeneidade tipolégica Os géneros sao formados por sequéncias diferenciadas denominadas tipos textuais. Portanto, devemos ter em vista que a nogdo de género niio se confunde com a nogao de tipo. E partindo desse pressuposto que Apaw (1991) afirma que uma narrativa ou uma descrigaio diferem uma da outra e também de outras narrativas € outras descrigdes. As sequéncias reconhecidas como descritivas, por exemplo, compartilham um certo ntimero de caracteristicas do conjunto — uma sensagao familiar que incita 0 leitor a reconhecé-las como sequéncias descritivas mais ou menos tipicas, mais ou menos candnicas. O autor propée ainda situar a tipologia de sequéncias em um conjunto mais amplo e complexo dos planos de organizacdo da textualidade. Concebendo o texto como uma estrutura sequencial heterogénea, o autor afirma ser possivel observar a diversidade e a heterogeneidade do texto, bem como defini linguisticamente alguns aspectos dessa complexidade Por sua vez, Marcuscra (2002:23) afirma que “os tipos textuais constituem Sequéncias linguisticas ou sequéncias de enunciados € nao sao textos empiricos”. Teoricamente, 0s tipos sao designados como narrativos, descritivos, argumentativos, expositivos ou injuntivos. 120. ngecorevilaca Koch + Vanda Maria Eas © autor enfatiza que os géneros textuais sio constituidos por dois oy mais tipos, em geral. A presenca de viirios denomi desse fendmeno nos textos a segu Texto 1 TROCO ESPOSA 25/45 anos / Cozinha/varre / / Excelente estado. ESPOSA PROCURA Familia que valorize / entenda necessidades e AJUDE a limpar a casa. Oe Rees) ie aaa one PARTICIPE! www.peopleandartsbrasil.com tenhamse) reesei 22°) 414 188 Fonte: Fotha de S Paulo, 27 jul 2005, de heterogeneidade tipolégica. Verifica pos textuais em um génerg ¢ Dé MOS A existenc O género textual acima € composto por diferentes tipos textuais Descritivo Lerecompreender 121 Texto 2 No texto a seguir, produzido por um garoto de sete anos, ha a presenca de varios tipos textuais, conforme especificado na legenda apresentada ao final. 122. Ingedore Villaga Koch * Vanda Maria Elias ele tinha crescido uel chamou Pedro Alvares Cabral India que passar porum pais inimigo. Garoto nao, Bom, Dom Man' Para ser capitéo do navio para 4 Mas 0 que eles nao sabiam era para ir para a India era preciso Quando finalmente partiram Ventos terriveis... e por causa disso, viraram a esquerda E, assim, Pedro Alvares Cabral No va pensando que esta historia acabou. Pedro passou esta historia de geracao em geracao. Esta historia tem varios jeitos de se contar, como este de Jodo Marcelo da Silva Elias. ao invés de virar a direita, descobriu o Brasil. Fim Fonte: Joo Marcelo da Silva Elias, 7 anos, aluno do Colégio Madre Alix. Lecenba. Tipo narrativo Tipo descritivo Tipo argumentativo Tipo injuntivo Como observamos, 0 estudo dos géneros constitui-se, sem diivida, numa contribuigio das mais importantes para o ensino da leitura redacdo. Para reforcar esse posicionamento, afirmamos que, somente quando dominarem os géneros mais correntes na vida cotidiana, nossos alunos serio capazes de perceber o jogo que frequentemente se faz pot que pressupdem esse dominio. meio de manobras discursiv

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