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3 Escrita e praticas comunicativas Géneros textuais: 0 que sao? Para que servem? Para dar inicio ao desenvolvimento do t6pico deste capitulo, vamos ler os textos a seguir: Texto 1 Fonte: 0 Esado de 5 Pavi, 7 nov. 200. 54. ingedore Vilaga Koch * Vanda Maria Eis Fonte: Foha de 5 Paulo, 11 jun. 2006. Nas tirinhas, notamos que a producao escrita foi denominada de ho- réscopo (texto 1); bilhete (texto 2) ¢ didirio (texto 3). De nossa parte, nao estranhamos a “rotulagao”, uma vez que essas praticas comunicativas, de tao comuns, propiciam-nos a construgao de um “modelo” sobre o que so, como se definem, em que situagio devemos produzi-las, a quem devem ser enderegadas, que contetido é esperado nessas produgdes & em que estilo fazé-lo. Em outras palavras, todos nés, falantes/ouvintes, escritores/leitores, Cons- truimos, ao longo de nossa existéncia, uma competéncia metagenérica, que diz respeito ao conhecimento de géneros textuais, sua caracterizacao e funcao- E essa competéncia que nos propicia a escolha adequada do que produzir textualmente nas situagdes comunicativas de que participamos- Por isso, nao contamos piada em velério, nem cantamos hino do noss© time de futebol em uma conferéncia académica, nem fazemos prelecoes em mesa de bar. 1 : | a Lereescrever 55 Ainda, é essa competéncia que possibilita aos sujeitos de uma interac nao 86 diferenciar os diversos géneros, isto é, saber se estio diante de um horéscopo, um bilhete, um didtio (como vimos nas tiras anteriores) ou de uma anedota, um poema, um telegrama, uma aula, uma conver- sa telefonica, etc., como também identificar as priticas sociais que os solicitam. Além disso, somos capazes de reconhecer se, em um texto, predominam sequéncias de cariter narrativo, descritivo, expositivo e/ou argumentativo, conforme veremos mais adiante. Isto €, 0 Contato com 0s textos da vida cotidiana, como antincios, avisos de toda a ordem, artigos de jomais, catdlogos, receitas médicas, prospec 10s, guias turisticos, manuais, etc., exercita a nossa capacidade metatex- tual, que vai nos orientar quando da construgio € inteleccao de textos. Segundo Baxi (1992), o pensador russo que deu inicio a toda a pesquisa atual sobre géneros, todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, esto relacionadas com a utilizagio da lingua. Nao € de surpreender que o cariiter © os modos dessa utilizacdo sejam to variados como as préprias esferas da atividade humana [..., © enunciado reflete as condigdes especificas e as finalidades de cada uma dessas esferas, no 86 por seu contetido te- mitico e por seu estilo verbal, ou seja, pela selecao operada nos recursos da lingua — recursos lexicais, fraseolégicos e gramaticais ~ mas também, € sobretudo, por sua construcao composicional. Dessa forma, todas as nossas producdes, quer orais, quer esctitas, se baseiam em formas-padrio relativamente estaveis de estruturacao de um todo a que denominamos géneros. Longe de serem naturais ou resultado da aco de um individuo, essas priiticas comunicativas so modeladas/ remodeladas em processos interacionais dos quais participam os sujeitos de uma determinada cultura Visto que as esferas de utilizagao da lingua géneas, também os géneros apresentam grande heterogeneidade, incluin- do desde 0 didélogo cotidiano 2 tese cientifica. Por essa razio, Baxtn distingue os géneros primdrios dos secundarios. Enquanto os primeiros (didlogo, carta, situagdes de interagio face a face) sao constituidos em situagdes de comunicacio ligadas a esferas sociais cotidianas de relacao humana, os segundos sao relacionados outras esferas, puiblicas € mais complexas, de interagio social. Estes se formam a partir dos géneros siio extremamente hetero- 56 ingedore Villaga Koch * Vanda Maria Elias primarios, absorvendo-os e transmutando-os, e apresentam-se frequen. temente de forma escrita. Géneros textuais em perspectiva atual Recentemente incorporados 4 agenda de trabalho de muitos pesqui- sadores situados no campo da Linguistica Textual, os estudos sobre os géneros textuais vém contribuindo significativamente para ampliar a com- preensao do processamento cognitivo do texto (recepgao € produgao). Partindo da concepgao bakhtiana segundo a qual os géneros sao enunciados relativamente estaveis em cuja constituigao entram ele- mentos referentes ao contetido, composi¢ao e estilo, Marcuscut (2002) afirma que é impossivel pensar em comunicagao a nao ser por meio de géneros textuais (quer orais, quer escritos), entendidos como priticas socialmente constituidas com propdésito comunicacional configuradas concretamente em textos. Por sua vez, Kocu (2004a) defende a ideia segundo a qual os indi duos desenvolvem uma competéncia metagenérica que lhes possibi interagir de forma conveniente, na medida em que se envolvem nas versas praticas sociais. E essa competéncia que orienta, por um lado, a leitura e a compreensao de textos, e, por outro lado, a producio escrita (e também oral). Para pensar um pouco mais sobre essa questao, vamos ler 0 texto a seguir: Lereescrever 57 Gora gue pata Gora Que who Gora QUE Passa. LA.No PoRTAO. Gora Que esrneca Gots our nto Gora Que sont No rscapio. Gora Que Gora Que ctiona Gora QUE Passa Gota Que vat Gora QUE ENxERGA Gora Que Nko Gorn Que passa LA No porao, Fonte: Leonardo Campos Yunes Elias, 6 anos, Escola Puett Regnum. Do ponto de vista da leitura, nao temos dificuldade alguma de re- conhecer que 0 texto acima é um poema, nao s6 por sua forma de es- truturacao como também por seu estilo e fungao. Do ponto de vista da escrita, a pergunta que nos fazemos é 0 que € que possibilitou a crianca a produgao do poema? Para responder a essa questo, respaldamo-nos em Bakimin (1992: 301-302), para quem a atividade de fala ou de escrita sempre exige do sujeito produtor “uma forma padrao e relativamente estivel de estru- turagao de um todo, que constitui um rico repert6rio dos géneros do discurso orais (e escritos)”. ‘Ainda segundo o autor, “em nossas praticas comunicativas usamos os géneros com seguranca e destreza, mas podemos ignorar totalmente a sua existéncia teorica”. Em outras palavras, aprendemos no dia-a-dia a “moldar” a escrita (e também a nossa fala) “as formas precisas de géneros, as vezes padronizados e estereotipados, as vezes mais maledveis, mais plasticos € mais criativos”, pois, no existissem os géneros do discurso € Livéssemos de crié-los pela primeira vez no proceso da fala, se tivésse~ mos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicacao verbal seria quase impossivel. se nao os dominassemos, se 58 IngedoreVilaca Koch + Vanda Maris Eas Voltando-nos para o texto da crianga, podemos afirmar que as situa. des em que foi exposta a esse género possibilitaram-Ihe a construgig de um “modelo” que € ativado na escrita e na leitura, ainda que 0 garotg nao tenha consciéncia disso. Assim sendo, subjazem seguintes pressupostos: * escritores produzem textos com base em “modelos” construidos so. cialmente, razao pela qual, de um modo geral, nao temos dificuldade de produzir, por exemplo, um bilhete ou um e-mail, ja que se trata de géneros textuais bastante comuns em nossa comunicacio diatia, Caso bem diferente, porém, seria se fssemos solicitados a produzit uma peticao, um género proprio do dominio juridico, tarefa muito dificil para quem nao € desse campo de atuagao, porque desconhe- 6 a organizacao desse texto, seu contetido e modo de cons. s nossas atividades de producto escrita o5 ce nao participamos. A producao textual solicita a ativacao de modelos(s) para a organizagao do texto, selecao de ideias e modo de co tui¢ao do dizer, posicionamento enfatizado quando se concel relacao linguagem, mundo e priticas sociais. O que significa di em outras palavras, qu ¥ quando escrevemos, no somos totalmente “livres” utilizar indiscriminadamente qualquer forma textual; ¥ como qualquer outro Produto social, os géneros textu- ais nao sao formas fixas, mas esto sujeitos a mudancas, decorrentes das transformacées sociais, de novos proce dimentos de organizacao e acabamento da arquitetura verbal, bem como de modificagdes conforme 0 Iu atribuido ao ouvinte. Géneros textuais: composicao, contetido e estilo Em termos bakhtini nos, um género pode, pois, ser assim c * sao tipos relativamente esfera de troca: os géneros possuem uma forma de composi 59 ‘aracterizado: estiveis de enunciados presentes em cada a0, um plano composicional. Se pensarmos, por exemplo, no género cartao-postal apr sentado a seguir, postal post CARD tx, lev. awveqgsros Rae em Sm. Awol vo PeTHS LASS EM ToBes og SENTIDOS. ME SUuTe Gear MOMALDS NA Gaon TANTA GwavDezs Suonnamce E FEUD com Tanta otoq, GRABLE Re wvoave wer ses ight, porwr conee Fonte: revista Dufry World, n. 2 sobressaem em sua composicio os seguintes elementos: destinatario, informagio contida em um campo & parte, além da saudagao inicial, mensagem, saudacao final e assinatura. 60 ingedore villaga Koch * Vanda Maria Elias * Além do plano composicional, os géneros distinguem-se contetido tematico ¢ pelo estilo. © contetido tematico diz respeito ao tema esperado no tipo de pro dugio em destaque € 0 estilo esti vinculado ao tema e contetido. Ny; palavras de Baxuttn (1992), 0 estilo esta indissociavelmente inculado a determinadas unidades tematicas e, o que ém determinadas unidades composicionai importante, de estruturag (08 outros parc com 0 leitor, com 0 inibebcaicn, com o discurso do outro, etc). Na pritica, is © significa dizer que, se tratamos do género contrato, exemplo, em termos de contetido, é esperada a descricao de cléusul referentes a deveres € direitos das partes envolvidas, e essa expecta € valida para todo e qualquer contrato. E 6 contetido tematico associad 4 composi¢ao e ao estilo (formal) que vao constituir 0 contrato comt contrato e nao como uma declaragio, um requerimento, um relatéri ou coisa que 0 valha. Para explorarmos mais um pouco os elementos (composi¢io, tetido tematico ¢ estilo) que entram na constituicao de um género te mos ler a tirinha a seguir: Fonte: 0 Estado de S.Paulo, 7 mar, 2006. Na tirinha, a personagem Calvin esta escrevendo um cartao de D dos Namorados para Susi. O “modelo” que temos de produgao de tao (no caso, de Dia dos Namorados) nos diz que essa producao d conter uma declaragao de amor, em mensagem breve e estilo int Lereescrever 61 informal, com identificacao de quem o remete e de para quem se destina. Em nenhum momento, passa por nossa cabeca a ideia de que alguém produza um cartao de Dia dos Namorados cujo contetido, ao invés de amor, seja uma declaragao de 6dio. Como vemos, 0 autor da tirinha, no tiltimo quadrinho, rompe com o esperado e, ao fazé-lo, reforca “o modelo” que construimos socialmente sobre a tematica que orienta o tipo de produgao em foco. * Trata-se de entidades escolhidas de acordo com as diversas praticas sociais, tendo em vista as esferas de necessidade temitica, o conjun- to dos participantes e a vontade enunciativa ou inten¢ao do locutor. De acordo com Scunruwty (1994), os géneros podem ser considera- dos ferramentas, na medida em que um sujeito - o enunciador — age discursivamente numa situagio definida — a aco — por uma série de parimetros, com a ajuda de um instrumento semistico — 0 género. A escolha do género se di sempre em funcao dos parimetros da situacao que guiam a acao e estabelecem a relagdo meio-fim, que € a estrutura basica de toda atividade mediada. Dominar um género consistiria no proprio dominio da situagao comu- nicativa, dominio esse que se pode dar por meio do ensino das aptidées exigidas para a producdo de um género determinado. O ensino dos gé- neros seria, pois, uma forma concreta de dar poder de atuacio aos edu- cadores e, por decorréncia, aos seus educandos. Isso porque a maestria textual requer — muito mais que os outros tipos de maestria — a intervengao ativa de formadores e o desenvolvimento de uma didatica especifica. Ao comunicar-se socialmente, o produtor escolhe no intertexto o gé- nero que Ihe parece adequado. O intertexto é constituido pelo conjunto de géneros de texto elaborados por geragdes anteriores ¢ que podem ser Utilizados em cada situacio especifica, com eventuais transformagées. Seria uma espécie de “reservatério de modelos textuais” portadores de valores de uso determinados em uma certa formacao social. A escolha do género devera, portanto, levar em conta, em cada caso, 08 objetivos visados, o lugar social ¢ os papéis dos participantes. Além disso, 0 agente devera adaptar “o modelo” do género a seus valores Particulares, adotando um estilo proprio, ou mesmo contribuindo para a Constante transformagao dos modelos. Pensar em praticas relativamente 62 Ingedore vilaga Koch * Vanda Maria Elias estaveis significa contemplar nessa definicio um espaco para a instabjp dade, a plasticidade, que pode ocorrer em se tratando: ’ * da auséncia de uma das categorias previstas na composico do texy (pensemos, por exemplo, que, a0 produzir uma carta, geralmeny © fazemos em termos de cabecalho, saudagao inicial, mensagem sauucagao final e assinatura), No entanto, as vezes, é produzida eq inatura, passando a ser considerada “carta andnima", ainda assim, uma carta; sem) * da intertextualidade entre géneros que ocorre quando aquele quyg escreve produz um género em formato de outro, mantendo, tudo, a funcao do texto-base, conforme abordado no capitulo Scunsuwty & Dorz (s/d) desenvolvem a ideia de que o género éom compreender, interpretar e/ou memorizar um conjunto organizado enunciados orais ou escritos, isto €, um texto. discursivas) e de dominar as operacdes psicolinguisticas e as unidad linguisticas (capacidades lingufstico-discursivas). ‘Assim, as diversas priticas de linguagem podem ser relacionadas, ensino, por meio dos géneros — vistos como formas relativamente tomadas pelos enunciados em situacdes habituais, entidades cult intermediarias que permitem estabilizar os elementos formais e rit das praticas de linguagem. Os géneros ligados a cada uma dessas cas s4o um termo de referencia intermedisrio para a aprendizagem, “megaferramenta” que fornece um suporte para a atividade nas situagt de comunicagao € constitui uma referéncia para os aprendizes. Sequéncias textuais De acordo com as postulagdes de Avan (2008), Scrnsuwty & Do} fendem que todo texto é formado de sequéncias, esquemas ling Lereescrever 63 basicos que entram na constitui 40 dos diversos géneros e variam menos em fungao das circunstancias sociai Cabe ao produtor escolher, dentre descritiva, narrativa, injuntiva, explicativa, dialogal — a que Ihe parecer mais adequada, tendo em vista os pardmetros da situacdo. A par da familiarizagao com og géneros, € possivel levar o aluno a depreender, entre determinadas Sequéncias ou tipos textuais — narrativas, descritivas, expositivas, etc. as sequéncias disponiveis — argumentativa, — um conjunto de caracteristicas comuns, em termos de estruturagio, selecao lexical, uso de tempos verbais, ad- vérbios (de tempo, lugar, modo, etc.) e outros elementos déiticos, que permitem reconhecé-las como pertencentes a determinada classe. Segundo BeauGrAnDe & Dresster (1981), € pela comparagao dos tex- tos a que se acham expostos os falantes no meio em que vivem, e pela subsequente representagao na memoria de tais caracteristicas, que eles constroem modelos mentais tipolégicos especificos, a que Van Dyk (1983) denomina superestruturas, os quais vao lhes permitir construir e reconhecer as sequéncias dos diversos tipos. As superestruturas mais frequentemente estudadas sio a narrativa, a descritiva, a injuntiva, a expositiva e a argumentativa (stricto sensu). As sequéncias narrativas apresentam uma sucessao temporal/causal de eventos, ou seja, ha sempre um antes e um depois, uma situagao inicial € uma situacao final, entre as quais ocorre algum tipo de modificagao de um estado de coisas. Ha predominancia dos verbos de acdo, nos tempos do mundo nar- rado (WenricH, 1964), bem como de adverbiais temporais, causais e, também, locativos. E frequente a presenga do discurso relatado (direto, indireto e indireto livre). Predominam nos relatos de qualquer espécie, €M noticias, romances, contos, etc. Como exemplificagio, apresentamos 0s dois textos a seguir: 64 Ingedore Villaca Koch © Vanda Maria Elias Texto 1 Por baixo da mesa \ariaclas quando 0 primeiro de nds se foi. Sem muito alarde a mao banca) com anéis dourados verificou o pelo, a destreza, o olhar ¢ pronto! Escolheny Eu nao. sei bem, mas fui ficando para depois. Até ficar absolutamens te $6. Minha mae, embora me lambesse costumeiramente: depois) folhas da mangueira no quintal. © Unico contato com meus provi; Esqueci de contar! Sou um Pinscher. Preto com detalhes amarelos nos pelos g dos olhos, pescogo e patinhas. i Meu latido é alto e inoportuno. Na verdade, nasci para ser um cao de guarda, Ninguém acredita, j4 me acostumei. Sou uma raga propria para criangas, porte pequeno, amoroso. O meu destino nao foi minha escolha, mas pre- | cisio do dono que me trocou por um punhado de moedas. Nao faz mal! — Hoje, conto essa historia deitado numa cama especial para cachor-_ ros. Minha dona € essa ai da foto, 0 outro, é claro, sou eu. E 0 ges to que mais emociona essa minha vida de cachorro sdo os peda- cinhos de carne que ela me oferece por baixo da mesa de na Na verdade, somos ctimplices. Fonte: Marisa Pereira Elias Benvenuto, Lereescrever 65 Texto 2 0. Le Mose Cheepumatisies seis TS mine cane 210 Lenses = > ees eran ee apd 3 2-2 Socata Cee ESE cemercie snl Nere . enw gponde eau 2 men aiuelo Te Donor = anplorore ‘Elie Sea pei, bios dato tee Ae poke Lapintas spore Ter Dunia « « Salto ee tye ey aby carts oat nearest Tiras ee Degod 2 oi acimes ov _ de valtkones avngutim ocradton no. Baprews fant! Fonte: Leonardo Antonio Bareira Siva, 4” serie, Colégio Mack Alix A sequéncia descritiva caracteriza-se pela apresentacao de proprie- dades, qualidades, elementos componentes de uma entidade, sua situagao Ro espaco, etc. Nela predominam os verbos de estado e situacao, ou aqueles que indicam propriedades, qualidades, atitudes, que aparecem fo presente, em se tratando de comentirio, € no imperfeito, no interior de um relato. Predominam articuladores de tipo espacial/situacional. Exemplo sao os textos a seguir: Sams ca Vera Inscrigdes abertas FACA POS-GRADUACAO NA UNIBAN www.uniban.br {gue 33 UMIBAN Fonte: otha de S.Paulo, 28 jun. 2006, Lereescrever 67 Texto 2 “ Al mamoracta. Golial.” i ho wam porto att uaili, a mullin. toleal oleiee + coke Liaw ae, Emer Ae lt oo vue © home: = ee soual em qu tn of oe + g i Fonte: André Ales, 1° ano do ensino médio, Escola Estadual Perera Barreto, por sua vez, tem-se a andlise ou sin- tese de representages conceituais numa ordenagao légica. Os tempos verbais sao os do mundo comentado (WeINRICH, 1964) e os conectores, predominantemente, do tipo légico. O texto a seguir € marcadamente formado por esse tipo de sequéncia. Vejamos: Nas sequéncias expositivas, Estudolconfirma preferéncia feminina pelo rosa ‘Agora esté confirmado: mulleresipreferemro53) Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de ‘eurocigncia da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, este traco tiplcamente feminino indicaria uma caracteristica evolutiva obtida @ Dartir de milhares de anos coletando frutos avermelnades. Pera chegar 2 esta conclusSo, os neurocientistas ‘Anya Hurlbert e Yazhu Ling reyniram 171 atinicos e 38 imigrantes da Asia, tados com Idades entre 20 ¢ 26 anos. Os voluntérios foram Colocads em frente a uma tela de computador para que escolhessem sua cor preferida. ‘Segundo os especialistas, os seres humanos hnumanos determinam as cores a partir de duas fescaias: vermelho-verde.e azul-amareto. Em fungSo disso, Anya e Ling escolheram as cores da ‘experiencia & partir desses parametros ‘compararam as preferéncias de cada Sexo. losresuitados) que esto publicados na revista CCurrentibiology, Indicaram que, pare a escala ‘Szul-amarelo, homens e mulheres preferiram o ‘Baul, No entanto, na hora de escolher entre as ores da oultra escala, as mulheres ficaram com {tons avermelhados, ¢ 0s homens, com 0 verde. De acordo com'as pesquisadores, a0 optar pelo {azul e tambem pela parte mals avermelhada do tespectro de cores do azul, 0 5ex0 feminino mostra uma forte indinegso pelos tons ie rosa elds, Com isso, a partir da cor escolhida or um voluntario, Anya e Ling consegulam alibrer a probebiicade de idertiicacao de seu ‘sexo. Nés pensamos que esta é a primeira grande Wa 8 respelto da diferenca entre os sexos na fra de escolher as cores’, disse Anya. Ela e seu colega especulam que ‘al diferenca determine um = ‘evoluglo, pois as mulheres passaram milhares de anos aperfelcoando sua capacdade {de coletar frutos avermethados no melo de locals fem que a cor verde era a predominante, Redacdo Tera Fonte: Fotha de S-Paulo, 26 ago. 2007. As Sequéncias injuntivas apresentam prescricbes de comportam ou acdes sequencialmente ordenadas, tendo como principais marcas verbos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente e articula adequados ao encadeamento sequencial das acées prescritas. Nos @ a seguir destacam-se essas sequéncias: Lere escrever Milhoes de maes estarao recel lendo estas link: Sio telefones celulares, lengos, bolsas, sa 5 08, bolsas, sapatos, DVDs, CDs (alguns pirata ¢ toneladas de flores. Algun (alguns piratas) sie ou mao ce hea ts estartorecebendo livros (para quem m0 , 3, livro € um objeto feito de papel impresso, muita imaginag’o € um pouco de sabedoria), 4 pergunta que no cala: por que tio poucos dao livros, tanto para suas aes quanlo Para parentes € amigos nos aniversérios, ou por ocasiio do Natal? Antonella di Renzo, uma jornalista italiana, afirma que livro é algo muito pessoal ¢ que € muito mais facil dar um presente impessoal, mes ‘mo que entregue com o infalivel “ele tem a sua cant", De fato, a cara das maes deve ser muito parecida pelos presentes que recebem... © que hi de pessoal num LG ou num Nokia, por exemplo? O fato € que as pessoas nado quetem errar’, ou seja, nio querem se expor a falar de si mesmas a0 ofertar um objeto. Um lenco € um lenco ¢, no méximo, fala de nossa disposic’io em gastar mais ou menos. Ja um livro... E, contudo, um livro tem tantas vantagens: ocupa menos espago do que lum vaso, so apenas 23 centimetros de altura por 16 de largura € ndo mais que 2 ou 3 de profundidade, que se acomodam em qualquer Iu- gar, seja na nobre estante de madeira de lei, no criado mudo ao lado da cama, ou mesmo em algum canto do banheiro. Ao contririo do celular que fala quando quer, o livro dialoga conosco quando n6s queremos. Em vez da TV que se atem a uma programagio definida por terceiros © livro nds comandamos: pode ser lido na ordem na velocidade que nés desejamos, ¢ ter trechos chats saltados, pedacos interessantes repetidos a nosso bel prazer. Ele tem restrigoes, € claro: enquanto dé para se assistir bovinamente um programa de TV, 0 livro tem um dispositive antibovino. Com ele temos que nos manter ativos, uma vez que ele nao se Ié por si s6, mas precisa ser lido, seus cédigos deciftaclos, os personagens que ele descreve imaginados. E presentear livros é, como dizia acima, tarefa de alto risco. Implica em fazer escolhas e fazer escolhas é sempre se arriscar. Claro que podemos entrar numa livraria (livrarias so locais agradaveis calorosos em que livros sao expostos € vendidos) espiar 0 primeiro baleao pedir um livro “de mae’, “de namorada’, “de amigo metido a intelectual” € deixar a arriscada missio nas mios do vendedor. Desaconselho esta opcdo. Voce € que conhece @ pessoa a ser presenteada o presente vai definir uma relacao entre 0 modo como voc® se percebe € 0 modo como percebe o presenteado. E evidente que voce pode trocar uma ideia se iver diante de si um raro exemplar de vendedor que conhece livros, mas nao entre na conversa de alguém que € apenas... um vendedor. ‘bendo presentes enquanto meu leitor estiver 69 70. Ingedore Villaga Koch * Vanda Maria Elias Claro que podemos dar um livro cujo titulo vimos num jornal ou na revista _ tempo de ler. Ai a gente pode se semanal, mas cuja resenha nao tivemos enganar redondamente. Raizes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda, apesar do titulo, nao € um livro de botanica, Cultura & Elegdncia nao ensina a se vestir, e Rumo a Estacao Finlandia nao € obra sobre turismo na Escandinavia. Nao tem Coelho, se vocé acha que ele é um sradlar O pres E cabimento oferecer uma obra de Paulo ‘ou de James Joyce, se vocé 0 considera um chato. O presente ra relagao entre vocé € 0 presenteado, no representar um. leitor, seja para o ofertante. O livro € uma homenagem, hece aquele que vai recebé-lo. O tempo que é um tempo em que vocé esté pensando picareta, deve estrei sacrificio seja para o | uma prova de que vocé con! vocé passa escolhendo o livro no amigo, como leitor. No colega que deu de aniversario um livro de Eric Hobsbawm, autor que mudou a sua vida. O dia dos na- morados esta chegando. Que tal dar a ela (ou a ele) um bom livro sobre. © amor, mais barato do que um bom buqué de flores? E se ele(a) gostar: de politica, nao seria md ideia a Hist6ria da cidadania, Que homenagem maior a um politico do que achar que ele leva a cidadania a sério? Fonte: Pisky, Jaime. Mamae merece mais. Correio Braziliense, 14 maio 2006. ereescrever 71 Texto 2 VENHA APROVEITAR UMA FESTA FEITA ESPECIALMENTE PARA A SUA FAMILIA, = CONHEGA 0 JARDIM SUL, UM BAIRRO. REURBANIZADO PELA CAMARGO CORREA. pela Camargo Corrina Defenvelvimente imebitidrio om, Sde diversas atividades, das 12 25 19 horas mos dias Ie ty de junho, come jogos, brincadeiras ¢ muite mais, Ald He comidas tgicas, mnitas misicas ea profenge. da dupa de repentistas Cain ¢ Castamha. para conhacar tudo sobre aise bairre, renrbanizade Parqueh pragas, viveire de plantas, muite contate com a natarene ¢ infrasstrntura completa de combrtia e Serviges. € as ops bes fhe mnitas, diverses empreendiomentes, com agartarentes de %y a the mh, todos com Lazar complate para todas as idades. Informap Soe (19) 3602-288 ‘a Nason Gara de Of 1.101 “sy Sl Meenbt (onead P681260 4 Goer eet Fonte: O Estado de S.Paulo, 27 jun. 2008. 72 Ingedore Vilaga Koch * Vanda Mana Eas As sequéncias argumentativas stricto sensu sio aquelas que a sentam uma ordenacao ideolégica de argumentos e/ou Contra-argum, tos. Nelas predominam elementos modalizadores, verbos introduy de opiniao, operadores argumentativos, etc., como podemos Notat texto a seguir F no, LESCLARECIMENTOS SOCIOPOLICIAIS Ha tropas e hi elite; as primeiras poderio ser numerosas, mas a outra seni 4 minima possivel VISANDO LeMERAR © nivel indigesto do debate saudavel, vimos por meio desta alimentar a explicagao, expiagao ou confusio... E informar que: Hi tropas ¢ hé elite. AS tropas costumam ser policiais, mas a elite & sempre politica, As tropas poderto ser numerosas, dependendo da quanticaideyaey conllitos para distribuir ou injustica para administrar entre os multe) Pobres pelos mais ricos; mas a élite destes Ultimos seri a minimajpos sivel, para que os altos luctos geridos em sua posi¢io nao conf Uns dependem dos outros diretamente para ficar onde est disseram de antemiio os marxistas mais antigos € conse ninistas ou Ienientes. Alias, faz tempo que € assim, me meio inconsciente, por mais moderno que 0 velho nos Assim, por mais sutil que pareca, uma tropa de elite € s tropa da elite, sejam honestas ou duvidosas, disciplin Ihadas ou perigosas as circunstincias em que a Isso mio quer dizer que os membros de Uma tr coletes & prova de bala, fuzis de grosso eali das, enquanto a tropa da elite ha de pref tereescrever 73 O uniforme de uma tropa de. lite deve ser funcional, formal ou camuflado, dé acordo com cada ocorrénc hipotética, enquanto o traje da tropa da elite po- deri até ser informal, cosme ‘ico ou espalhafatoso, Preparado num corte char- moso pelos estilistas elitistas de plantlo (em tempor as costureitas belivianas sao recrutadas por licitagdo manjada, sem carteira assinada pela imigracao), Uma tropa de elite normalmente atinge essa posiclo por mérito de sua experiéncia policial ou deve ser recrutada por concurso pa- blico, enquanto a tropa da elite se dedica ao conluio privado e in- formal, onde impera o mandato e © jeitinho congénito, genético ¢ hereditério dos monarquistas, conforme atestam as biografias € herancas dos capitaes do mato ¢ demais arrivistas desta Reptblica Uma topa de elite desis poderd ser ricista em seus conceitos de atu- aclo, mas Serao capitalistas os recursos financeiros empregados em sua sustentacao pela tropa da elite, que € por natureza preconceituosa, fa que esté na situagio daqueles que sio melhores do que 0s outros. As piores tropas de elite poderio ser promisctas com o Estado, mas € a tropa da elite 0 Estado ele mesmo, mesmo que possa t@-o cedido em co- modato ou aluguel subsidiado aos operirios e doutores pseudo-socialistas, Emrelagao.estastropas sempre estdionum sere ndioser quenao resolvea questo. Independentemente dos monélogos tediosos que fizermos e das justificati- vas filoséficas que tivermos desses casos e vers0es, 6 fato que uma tropa de elite © as tropas da elite tém em comum esses Foruns de privilegiadlos... Uns porque serio julgados em segredo pata a satisfagio de seus parceiros de ar- mas, outros porque se protegerao das armadilhas da legislacao vigente sem vergonha das imunidades obscenas que ganharam de presente na eleicio. Um tropa de elite precisa Ser um tinie bem Unido, mas “muito amigos” nés Fonte: Bonass, Fernando. Esclarecimentos sociopolicias. Folha de S.Paulo, 30 out. 2007, Cada género vai eleger uma ou, 0 que é mais comum, algumas dessas sequéncias ou tipos para a sua constituicdo. Assim, ies exemplo, num conto ou num romance, vamos encontrar, a par das sequéncias narrativas, tesponsiveis pela acdo propriamente dita (enredo, trama), sequéncias descritivas (descricdes de situagdes, ambientes, personagens) € expositivas (intromissées do narrador); pecas juridicas como a peticao inicial ou a Contestacao vao conter, normalmente, sequéncias eee descritivas, expositivas e argumentativas; num manual de instrugdes encontrar-se- a0, pelo menos, sequéncias injuntivas € descritivas, e assim por diante. ‘= Vanda Maria Elias 74 ingedore villaca Cabe, pois, a escola: * possibilitar a0 aluno 0 dominio do género, primeiramente, para melhor conhecé-lo ou aprecid-lo, de modo a ser capaz de com. preendé-lo, produzi-lo na escola ou fora dela; para desenvolver capacidades que ultrapassam © género € sao transferiveis para outros géneros préximos ou distantes. Para realizar tais objetivos, — torna-se necessaria uma transforma¢ao, ao menos parcial, do gé- nero: simplificagao, énfase em determinadas dimensées, etc; colocar os alunos, ao mesmo tempo, em situacdes de comunicacio que tenham para clesum mo realmente sao. © mais proximo possivel das verdadeiras, sentido, para que possam dominé-las co! Assim, quanto mais precisa a definigiio das dimensOes ensinaveis de um género textual, mais o trabalho didatico facilitara a sua apropriacao como (mega)instrumento e possibilitara o desenvolvimento de capacida- des de linguagem diversas a ele relacionadas. Quanto mais claramente 0 objeto do trabalho € descrito € explicado, mais ele se torna acessivel aos alunos nao s6 nas praticas linguajeiras de aprendizagem, como em situagdes concretas de interacao pela linguagem. Acredita-se, pois, como também enfatizam os Parametros Curriculares Nacionais, que o ensino de leitura/produgao textual com base nos ge zi neros poderd trazer importantes contribuigdes para a mudanga da form a de tratamento da producio textual na escola.

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