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23 A TERRA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO Thomas R. Fairchild Ce ey los capitulos precedentes, foram abordados Jos principais processos que constitufram ¢ modificaram a Terra — plutonismo, vulcanismo, tectonismo, metamorfismo, intemperismo, eros%o, transporte, deposigio ¢ litificasio, entre outros. Des de que a Terra se diferenciou em litosfera, hidrosfera ¢ atmosfera hi mais de 4 bilhdes de anos, esses pro- cessos ditaram a evolucio geolégica e biolégiea. Por causa disso, costumamos dizer que o “presente & a chave do passado” € com isto podemos vislumbrar 0 vasto registro geolbgico de eventos passados. No en- tanto, como vimos no Cap. 15, diversas observagies indicam que o presente & muito diferente do passado, ainda que os processos geolégicos atuais e do passa- do obedecam is mesmas leis fisicas e quimicas. Por exemplo, estudos de planetologia comparada (Cap. 1) nao deixam davidas de que nossa atmosfera era originalmente muito parceida com as atmosferas de ‘Venus ¢ Marte (Tabela 23.1), apesar de hoje ser com pletamente diferente. Fvidéncias geologicas de todo tipo comprovam que a geografia atual dos continentes representa ape- nas 0 mais recente arranjo entre crosta continental, a ¢ nivel do mar num planeta dinimico. Da mesma maneita, sabemos que o clima global ji variou muito ao longo do tempo. Isto € exemplificado, pelas numerosas oscilagdes entre periodos glaciais ¢ interglaciais nos thtimos trés milhdes de anos, Similar- mente, a biosfera, em constante mudanca ¢ interacio ‘com a atmosfera, hidrosfera e litosfera desde que sur: gi, transformou nosso planeta, diferenciando-o de todos os outros do Sistema Solar. paleontélogo sueco Stefan Bengtson apresenta uma visio interessante sobre esse tema, Para ele, 0 a 0 “buraco da fechadura do pasado” do que para a “chave”, ou seja, © presente nfo abre a porta do passado, deixando-a eseanearada para nossa inspecao ficil e completa da historia geo lbgica de nosso planeta. Muito pelo contritio, a visio presente est mais do pasado que © presente nos propicia, embora ra 2oiwel, algo limitada. A li € que devemos atentar defrontarmos, em nossa a ‘que Bengston nos ensina ara a possibilidade de nos lise do pasado, com si tuagdes € fendmenos estranhos & nossa experiéncia ao mundo atual, Se 0 presente nos permite desvendar pelo menos parte do passado, entao € igualmente verdadeiro que a andlise deste passado pode nos ajudar a entender o presente € vislumbrar © futuro geol6gico. Trata-se de uma percep¢io nada trivial, especialmente no que diz, respeito a ocorréncia de desastres naturais (terremo: tos, enchentes, vulcanismo ete.) ou catastrofes induzidas pela humanidade (diminuicao da biodiv: dangas no nivel do mar, alteragdes climaticas ete.) Assim, devido 4 visio abrangente de nosso planeta, 0 Jélogo desempenha um ps ‘nas na identificagio € prevencio de riscos geolbpicos, como devera ter uma atuacao cada vex mais impor tante na resolugio de grandes problem: humanidade enfrentara nas proximas décadas: supri mento de gua potivel, uso racional e degradacio de solos, fornecimento de energia, exploragio de recur S08 minerais tradicionais ¢ alternativos e planejamento (€ reorganizagfo) urbano. Neste capitulo, identifieare mos algumas das linhas-mestre da hist6ria geoldigica sidade, mu: el fundamental niio ape da Terra para que o leitor possa se situar, historica ‘mente, no presente ¢ avaliar, criticamente, o que poder ocorrer no futuro préximo. Afinal, como saber para conde vamos sem conhecer de onde viemos? Tabela 23.1 Comparagéo das otmosferas de Marte, Venus e Terra ey 3.5% Argénio. 70 ppm Temperatura da supericie (°C) 459 RT Sener) ere 27% 19% 79% 16% 01% 1%. “53, 240 0 340, 13 “A Formacio ferrifera bondada (Quadrlétero Ferrfero, MG}, testemunho da oxidacdo dos moteriais geolégicos na supertcie, ‘quondo de liberagao de grande quantidade de oxigénio pela biosfera. Foto: TR. Foirchild Capituto 23 * A Terra: Passapo, Presente € Futuro 495 23.1 O Ritmo e Pulso da Terra Antes de discutir processos € fendmenos especifi- cos, faremos algumas consideracdes sobre a superposi¢ao dos ciclos, tendéncias seculares € even- tos singulares na histéria de nosso planeta — resultado do ritmo e pulso da ‘Terra. Mesmo reconhecendo a utilidade do conceito do atualismo (Cap. 15), sabe- mos pelos registros geolégico e fossilifero que 0 passado nun de scis mil anos de histéria da civilizagio documenta- da por escrito, ¢ fato que 0 ser humano, desde que se socializou, ainda nao experimentou toda a variedade € magnitude dos fendmenos geolégicos mais comuns da Terra, Por exemplo, nem em tempos histéricos nem haireg des terremotos no Sudeste do Brasil. Contudo, nos ‘limos 10,000 anos, no vale de Taubaté, préximo a Sio José dos Campos (SP) 0 regolito sofrew filhamento com deslocamento vertical de 6 m certa- tremores, deslizamentos € destruicao em toda a regio (Fig, 23.1). (01 igual ao presente. Mesmo com mais nas lend sindive shi registros de ocorréncia de gran- mente acompanhado de forte: Pode-se pensar ainda nas muitas vezes em que 0 mundo foi paleo de inundacd ou furacdes ti dos como inieos na meméria do povo local ou nos ec registros hist6ricos das regides afetadas, Embora es- ses eventos nos paregam muito Faros no contexto de nossas vidas, sio muito comuns, até corriqueinos, na historia geol6gica, Muito mais do que tempestades, davais, que comumente modelam a paisagem da Terra, esses eventos modificam as linhas de costa ¢ deixam marcas no registro sedimentar atra- vés da sua repentina ¢ tremenda capacidade para crosio, transporte ¢ deposicio (Fig. 23.2). estiagens € vi Segundo especialistas, cada segmento da costa norte 3olfo do México é atingido por um furacdo pelo do menos uma vez por século. Embora pouco freqiien: tes em termos humanos, em um milhZo de anos (um periodo de tempo curto da histéria da Terra) seriam 10.000 vezes! trada nas lendas, escritura cculos, fornece-nos um guadro getal da freqiiéncia, duraga0 © magnitude dos eventos da dinémica externa e inter- na da Terra. Muitos dos relatos dos terriveis flagelos biblicos encontram fundamento cientifico na instabili- dade tecténiea do Oriente Médio. A destruigao das cidades de Sodoma e Gomorra pode ser explicada, A saga humana tigas ¢ literatura cientifica dos tltimos doi Fig. 23.1 Deslocamentos tecténicos normais, ocorridos nos ‘ilies 10.000 anos nos proximidades de Touboté (S],isolo rom esie bloco trapezoidal farsi} de sedimentos tercidrios no meie do regolito homagéneo. Foto: C. Riccorini por exemplo, por atividades sismicas ¢ vuleanicas na zona de filha do Mar Morto (limite entre as placas africana ¢ asitica), onde essas du: zam, Historias deste tipo, interpretadas cientificamente, juntamente com inferéncias obtidas da prépria anilise do registro geoldgico, permitem-nos compreender melhor a dindmica da Terta em termos da freqiiéncia s manifestacdes, como mostram as iat cidades se locali em joules) = 2 3 = & = 10° 10° 10° 10° 10° 10° 10° Intervalo de recorréncia (anos) Fig. 23.2 Grafico de energio versus trequéncia de diversos pprocessos importantes do dindmica extema. Quanto mois enargatice © processo, maior a chance de deixar sua marca no registro sedimentor. CT ee Tabela 23.2 Freqiéncia de eventos recorrentes na dinémica da Terra rere r) Crain 1. sl ano Deposicdo de varves Furocées © ses eeioe erosivos e deposicioncis 2.100 100 eros _Tempeslades e inundogbes excepcionals ~_Corentes de tirbider normais Erupgées vulefinicas cataclismicas 3. 10° 9 10' anos Oscilagdes climéticas Correntes de turbider gigantescas 4-108 0 10% anos i 5. 10° 10? anos ‘Oscilagées climaticas maiores ‘Alteragées no sistema de correntes ocednicas profundas Inversées dos pélos magnéticos ‘Mudangas erticas no movimento e reorgonizagaa de placas litostéricos Principais ciclos de mudanga do nivel do mar (dezenas a centenos de meirot) 6. 10% 10" anos Ciclo de Wilson Ciclo de Supercontinente Poclemos ter uma idéia da magnitude de eventos geoldgicos pelos resultados impressionantes de um (Tabela 23.5) Terra, a falha transcorrente de San Andreas, estende se por mais de 1.200 km na California (EUA) ¢ apresenta 560 km de deslocamento cumulative desde terremoto A falha mais estudada da que surgiu, hi 15-20 milhbes de anos (Fig, 23.3). Na poreio sul da falha, roch: antes contiguas estio sepa: radas hoje por 240 km, Com base nas informagdes da Tabela 23.5, podemos extrapolar que seriam ne- cessirios quase 5.000 terremotos com os efeitos daquele que destruiu a cidade de San Francisco em 1906 para obter essa separacio. Um terremoto de ele la magnitude é registrado em certos trechos dessa Tabela 23.3 Processos dit 1. Evolugéo biolégica gradual leradualism fltica) 2. Eroséo de um rio meandrante 3. Compactocéo de sedimentos “4. Crescimento de recifes 5. Subsidéncia 6. Soerguimento. 7. Diopirismo 8, Deposigio pelagica (em oceanos profundos) 9. Fluxo térmico do interior da Terra 10. Formacéo de assoalho ocednico 11. Geragao do campo magnético terrestre 12. Fluxo de raios césmicos Impacios de bélidos (meteorites, cometos, asterSides) maiores que 100 m de didmetro falha, em média, a cada 140 anos, Com base nesta freqiiéncia, o tempo minimo para obter os 240 km de afastamento seria de apenas 700,000 anos, meros trés ou quatro por eento da idade da falha. Podemos con. cluir, portanto, que os terremotos maiores foram menos freqiientes do que se is ava e que foram as centenas de milhares de abalos menores que possibil taram a maior parte da separacio lateral ao longo da falla de San Andreas Por outro lado, ocorrem movimentos que, embo: ra geologicamente bruscos, passam desapercebidos porque sua ago é continua ¢ relativamente pouco notada durante a vida de uma pessoa. Sio os movi imicos continuos e descontinuos oo Evolugo biolégica em saltos (equillorio pontuado) Inundagoes torrenciais Colopso interno de sedimentos Remodelamento do foixa litoral durante tempestodes 5. Escorregamentos 6. Teremotos 7. Falhamentos 8. Deposigéo de turbiditos 9. Infrusdes 10. Coliséo entre continentes 11. Invers6es dos pélos magnéticos 12. Impacto de meteorito Carituto 23 * A Terra: Passavo, Presente E Futuro 497 Tabela 23.4 Duracdo de eventos importantes na historia de Terra Cents ers segundos: local globol 2, Mudengas na velocidade segundos Deposigdo de ume lémina de sedimento de comrentes de 6guo 3, Tempasiodes (inclusive races), minutos, hores ou Deposigéo de uma comode (9. ex., correnies de furbideze grovitacionais, dios, dependendoda fempestio, turbidito, tsunamito), tsunamis: magnitude do evento com espessura e extensdo de ocordo ‘com @ magnitude do evento 4, Erupgées vulcénicos: horas, dios Derrome de lave ou depasigéo de uma comade pirocéstca 5. Inundagées semanas Deposigéo de camadas tipicas (inunditos) 6. Mudangas climéticas sazoncis meses, ano Formagéo de um varve (varvtos]; anéis de crescimento em érvores 7. Mudonges climéticas regionals 10-10? anos “Assinature cicica” em sedimentos pelégicos 8. Alleracdes em processos no ndcleo da Tera —_10°-10* anos erage de anomalies magnéticaslineares no assoelho ocednico 9. Mudangas no velocidade de formacso 10-108 anos Eleyacéo ou abatimento do nivel do mar «¢ separacao de assoalho ocetnico _{Gez0nas oté ume centena de metros) 10. Mudangas no regime climético global 10F-10* anos Extingdes, inovog6es evolutivas, mudan {G08 sedimentolégices e faciolégicos Tabela 23.5 Magnitude de movimentos geolégicos bruscos ~ deslocamentos provocados por terremotos historicos ‘Ano Local Deslocamento vertical provecado por grandes terremotos 1899 Bolade Yakutot, Alasca_—_15 m (maior movimento vertical documentado) 1960 Chile CConfinente desceu 2 m, plataforme continental subiv 1-3 m; ilha Mocha subiv 2,5 m 1964 Anchorage, Alasco Une ihe subiv 10 m; continente regstrou movimento vertical de oté 8 m ae Deslocamento horizontal provocado por grandes terremotos 1906 Son Francisco, Colifémia 7 m 1940 Vole Imperial, Califémia 5,5. m 1964 Anchorage, Alasca 8 m {maior movimento horizontal documentado) 1980 AlAsnom, Argélia 6,5 mem falha com ago de 30 km de comprimento 498 DeciFrRanvo A TERRA mentos verticais glicio-isostaticos da crosta (Cap. 11) que ocorrem em virias regides do hemisfério nor conseqiientes do derretimento recente das espess coberturas pleistocénicas de gelo, Foram registrados soerguimentos com taxas anuais milimétricas a decimétricas. Na E nos iltimos 10.000 anos ak andinavia o soerguimento total }cou cerca de 250 m, Para compensar esta forte elevagio, as repides adjacentes da Riissia € Holanda apresentam taxas de subsidéncia também al abela 23.6). A cidade de Amster registrou 20 em de subsidéncia em apenas 40 anos. Nao € 4 toa, portanto, que os holandeses chamam sua pittia de “Paises Baixos” (Nederland. Fig. 23.3 Falha de San Andreas, Planicie de Carrizo, Califérnio, (EUA\. Foto: David Parker/SPL/Stock Photos. Surpreendentemente, entre os movimentos verti cais da Terra, é 0 soerguimento que costuma ser mais ripido do que a subsidéncia, Flu caps. 3, 4, érmico, espessura valores entre 04 € 0,6 mm/ano. Atualmente, a cadeia da crosta e isostasia comumente supe: ian: ito Paquissd: eprcsene ic ae arakoram, no norte do Paquistio, apresenta a maior ee Spaviacions] Cees mov OIE, Fe = taxa de soerguimento conhecida, de 10 mm/ano, que taalt sipido o sdetguimento das:regiGes/de mieiot fi ge matteraios ac longo oe limos 500,000 shoe xo térmico do que o abatimento das regides tidas Eagle td sciatist como estiveis (de fluxo térmico baixo). Mesmo as ieee eeey oh Pace op oma no estivei nix). : ‘nos Himalaias e nos Alpes (0,6 mm/ano). Em regides sim, as taxas de soerguimento em regides orogencticas estiveis das placas litosféricas, longe de suas margens (de formagio ativa de montanhas, prineipalmente nas = : ativas, os movimentos, prineipalmente de subsidéncia, imangens atlas das placss ~ Cap. 6) no slo tio espe- 3, ainda mais lentos, de 1 a2 mm/ano a cutto praza, taculares quanto s curto prazo as fases Ye apenas 0,1 mm/ano a longo pruza, de soerguimento mais ripido, oscilam, normalmente, ‘Seapeces Oil mies eye entre I e 3 mm por ano, o que é quase imperceptivel Por que os fendmenos geokigicos — erosio, sedimen A longo prazo, considerada toda a historia de uma soerguimento, subsidéncia, ete, ~ quando cadeia de montanhas, a taxa de soerguimento cai para. —_observados a curto prazo, quase sempre apresentam ta 23.1 Quao altas as montanhas? Existem limites na altitude maxima que uma cadeia de montanhas pode atingis? Parece que sim, pois quando as partes mais elevadas de uma regiio sobressaem de 2.2 4 km acima dos terrenos circundantes, 0 proprio, peso da cadeia comeca a impedir a continuidade de sua elevacdo através de abatimentos tectonicos (falhamentos normais ou gravitacionais), que juntamente com as onipresentes forgas crosivas se opdem ao soerguimento. E, ‘sso que acontece atualmente na parte central da cadeia Andina, por exemplo, onde se encontram grandes vales de origem tect6nica (gralen:), como o Altiplano Andino na Bolivia e Peru, onde se localizam o Lago Titicaca e La Paz. Acredita-se que a cadeia Himalaia, com altitude maxima de 8.840 m acima do nivel do mar, no cume da Monte Everest, bem como as ilhas do Havaf, com 0 vulcio Mauna Loa se elevando a quase 9 km acima do assoalho ocednico, jé estejam no limite maximo de altura para cadcias montanhosas em nosso planeta. O mesmo ‘io parece aplicar-se ao planeta Marte, onde 0 vulcio Monte Olimpo (Cap: 1) atinge uma altura de 26 km acima dos terrenos adjacentes, 0 que 0 torna o maior pico conhecido no Sistema Solar. Esta elevacio, entretanto, no tepresenta o soerguimento da crosta mas a evasio de materiais magmiticos derivados de uma imensa pluma ‘mantélica que, na auséncia de um regime ativo de movimento de placas em Marte, permaneceu no mesmo onto geogrifico durante toda sua duragio. © mesmo fenémeno na Terra, por outro lado, produz volumes equivalentes de rochas valcinicas, s6 que expalhados sobre areas muito maiores devido & Tecténica Global, ‘como nos casos di cadeia de vuledes que constitui as ilhas do Havaf ou os espessos derrames da bacia do ‘Parand no Brasil ¢ Etendeka na Namibia, hoje separados pelo oceano Atlintico. eee ae Wie ed Tabela 23.6 Deslocamentos verticais provocados por movimentos glacio-isostaticos ‘como resposta eldstica da crosta frente ao derretimento de grandes massas de gelo Fenoscéndia (Golfo de Boi, Escudo Batico) Platoforma Russo (adjocente 6 Escandinévio) na Fenoscéndio) ‘Conodé Groenlénia Logo Bonneville, Nevado, EUA (lago glocial, agora completamente seco) Movimento vertical decorr ‘Soerguimento de 250 ma uma taxa de 2,5 m/século Subsidéncia de 2-3 mm/ano (movimento. compensaiorio do soerguimento eT Sorguimento de cerca de 5 mm/ano Soerguimento de até 105 mm/ano Soerguimento de 70 m durante os climos 10.000 anos em funcio da evaporacdo lacusire e como resposta ‘sostotica regional devido ao desoporecimento dos geleiras que olimeniovam o lage. xas maiores daquelas calculadas a longo prazo? Isto de corre do fato de a intensidade ¢ a magnitude desses fendmenos nio serem constantes ao longo do tempo geoldgico. Analisados de perto, observam-se os efeitos mas ao interpretar todo o registro de milhes ou de dezenas de milhdes de anos de atuaga0 do fendmeno, os surtos de atividade mais intensa ficam diluidos pelos muitos periodos longos de quietude 23.2 As Linhas-Mestre da Historia da Terra Para entender a historia da Terra, € importante nto se prender a detalhes locais ou eventos particulares de um periodo geol6gieo qualquer, por mais marcantes que possam parecer. Sinteticamente, essa histéria pode ser contada em termos de trés inhas-mestre da histé= ria da evolugio de nosso Planeta + tendencias sec * processos ciclicos; * eventos singulares. No Ambito das tendéncias seculares estio inchui- os os processos que, partindo de determinado estado fisico, quimico ou bioldgico, _progridem unidirecionalmente, sempre afastando-se da condicio original. Atuam durante longos perfodos de tempo, ou scja, por muitos “séculos”, milhares, milhbes ou até bilhdes de anos, Nem sempre a progressio das tendéncias pode ser resumida por uma fungi n maitica regular, uma linha reta ou uma curva regul pois a complexa interagio das miltiplas partes do sis- tema Terra costuma introduzir irregularidades na tendéncia normal. As vezes, porém, essas irregularida- des podem demorar para desaparecer ou serem tio ‘marcantes que eriam seu proprio sinal distinto, como se fosse um desvio do caminho normal de eventos, com significado zeoldgico ¢ temporal proprio. Anali saremos no decorrer do capitulo as tendéncias seculares relacionadas a quatro elementos importantes da histo: ria terrestre: 1) impactos de meteoritos; 2) decaimento radioativo, que gera o fluxo térmico; 3) evolucao bio- Logica; e 4) evolucio do sistema Terra-Lua e seus efeitos, Quanto 20s proce icos, vale lembrar que o Jo pelo menos de trés manci ras diferentes na Geologia: como uma série de eventos, normalmente recorrentes, que perfazem parte de um proceso mais amplo que se inicia € termi menos no mesmo estado, como, por exemplo, os ciclos das rochas (Cap. 2) ¢ da gua (Cap. 7); como um perio do de tempo para completar uma sucessao mais ou menos regular de eventos (por exemplo, 0 cielo de evo- lugio do relevo ~ Cap. 9}; 04 como um conjunto de uunidades litolgicas que se repetem sempre na mesma cordem (por exemplo, cielotemas ¢ varvitos — Cap, 11 Aqui enfarizaremos os fendmenos do primeito tipo, 08 eventos ciclieos da primeira geandeza na histéria da Ter ra, especificamente 0s ciclos astrondmicos ¢ geoligicos. Eventos singulares, no sentido empregado aqui no representam necessariamente acontecimentos tn cos na hist6ria do planeta — embora a reagio nuclear natural ocorrida ha 2 bilhdes de anos em Oklo, Gabi, no Oeste da Africa, tenha sido realmente singular mas eventos imprevisiveis que se destacaram por sua magnitude excepcional ou pelo efeito que tiveram no desenrolar da histéria do planeta. O mais importante destes eventos foi, sem diivida, a origem da vida, Com ie Oe ey Solar (Fabel Tam ece atengio 0 Veen cratbliteemme ses a leanGnek 9 23.3 Tendéncias Seculares na Histé- ria Geolégica Siesta senclencang pera es nn Naresh Fe rade Mas nao é, porque em termos cosmicos, q ou co b de anos, toda a complexidade 23.3.1 A fase césmica de impactos meteoriticos na superficie terrestre \ Terra, como tode tr0s corpos maiores Sistema Solar, formou-se pela aglutinagio de A amanho de po até asterdides (Cap. 1 c nesmo depois de formada, a Terra conti er bombardeada por uma chuva de poeir te cometas das mais variadas composigies amanhos. Muito alta inicialmente, com impactos 100 nos constante, prdximo ao atual, em de Je anos atris, Durante 0s primeiros K es ¢ fa historia de n aneta, ca 2 g 8 gs” 8 2 gs 5 5 88 8 & ae a w HE Fig. 23.4 Gratico do freqbéacla rela \ do a temperatura atmosférica globalmente a ponto de causar a evaporagao dos mares da época, extin. guindo qualquer tipo de vida precoce que porventura tivesse surgido até entio. Constituiram, assim, verda- deisos impactos esterilizantes, Por outro lado, hi quem assegure que boa parte da hidrostera ou até a propria vida possa ter sido trazida & Terra pelo im- pacto de cometas nessa época. Nao é de estranhar, portanto, a dificuldade que os gedlogos tém tide em encontrar vestigios de crosta terrestre desta fase da historia da Terra, Por estas #27es, 0 periodo anterior ‘a0 registro mais antigo de rochas terrestres (ha mais, de 4 bilhdes de da Terra ou 0 eon Hadeano, do grego hades, 0 nos) foi designado a fase césmica submundo da mitologia geeco-romana, um termo ain da informal, mas muito sugestivo. © niimero de metworitos € cometas que colidem com nosso planeta mantém-se mais ou menos cons- tante ha quase 3 bithdes de anos, ¢ hi pelo menos 3.8 bilhoes de anos no houve nenhum impacto esterii- zante. Apds 0 Hadeano, portanto, este bombardeio ter importincia mais localizada, Embora nio existam mais coxpos cele ra, 0 impacto de qualquer meteorito ou eometa maior de uma cen- césmico passou s errantes capares de extinguir toda a vida na regionais nunca antes vistos pela humanidade. Impac- tos de metcoritos dessa magnitude ¢ maiores deixaram dezenas de crateras na Terra desde que os animais sur- giram © pelo menos um deles causou um dos maiores o do fim do Creticeo. Contu- do, devido a sua imprevisibilidade, podemo: eventos de extingao -onsiderar impactos deste tipo como eventos singulares que se- rio abordados mais adiante. 23.3.2 Fluxo de calor radiogénico ¢ a forma- gio de crosta continental Da mesma forma que a taxa de impactos de meteoritos foi muito maior di fase cdsmica da Terra, o fluxo de calor gerado por decaimento radio- ativo (Cap. 15) também o foi, por causa da maior abundancia dos (Fig, 23.6). A energia gerada dessa maneira na Terra de 4,5 bilhd por quilograma (pW/kg), quatro vezes superior a0 valor atual de 13 pW/kg. Essa € a principal fonte de calor que movimenta as placas litosféricas, funde as rochas ¢ promove a desvolatizagao do interior do ante a ementos de meia-vidas mais curtas de anos atris equivalia a 53 picowatts TULO 23 * A Terra: P, eT planeta responsivel pela liberacio de grande parte da atmosfera ¢ hidrosfera. Portanto, podemos imaginar um tenebroso mundo primitive hadeano de intenso vulcanismo — um cenirio que também € aplicivel a todo o eon Arqueano. De fato, 0 registro geoligico do Arqueano confirma essa expectativa (Tabela 23.7), tema ver. que muitos dos magmas mificos (komatiitos) riginaram-se em altissimas temperatura ¢ pela pre dominincia de material mantélico na composicio das rochas graniticas € gndissicas, Estas evidéncias apon tam para um regime tectonico de frenética reciclagem de placas pequenas (mictoplacas), envolvendo conveccio do manto estimada em cinco a dez vezes mais ripida do que a atual Possivelmente, 0 maior volume da crosta conti a historia gcol6gica da Terra, correspondentes aos éons Hadeano nental se formou nos primeiros 40% ¢ Arqueano, Neste periodo, contorme mostra a Ta bela 23.7, 0s basaltos, as rochas sedimentares eas rochas _graniticas adquiriram carater geoquimico ¢a la vez mais Fanerozdico Proterozoico Calor produzido (calorias por ano x 10") Idade geolégica (bilhdes de anos) Fig. 23.6 Cura representando 0 somatério do co lor produzido pelo decoimento radioative dos principois. elementos radioatives a0 longo de histérie da Tero. ‘Observe que o calor gerado, responsével por grande: parte da dinémica do planeto, era irés a quatro vezes maior no Hadeane do ave atualmente, Re a Oe ry diferenciado, enquanto as microplacas, ao colidiren 20 final do Arqueano com a aglutinacio de grandes massas silicas de dimensdes verdadeitamente conti- nentais, as macroplacas, ¢ciclos tectnicos mais lentos Desde entao o ritmo de diferenciagao ¢ formagio de ova crosta vem diminuindo de modo geral, em con- sonincia com o decréscimo na produgio de enengia 3 Evolu: biolégica Nogées bisicas da evolucio biolégica, de fosseis ¢ histéria da biosfera, foram uatulus brevemente nc Cap. 15 © estao resumidos no “Ano-Terra”, na contracapa deste livro, Jé vimos que o registro féssil do Paneroréico ditere fundamentalmente do registro do Pré-Cambriano por causa da expansio global ex plosiva de metazofrios com conchas ¢ outras partes aras (carapacas, escamas etc.) pouco depois de 550 milhdes de anos atris. Quando se comparam os fs mos que produziram estes FOsseis nessa duas fases distintas da histéria da biosfera, percebe-se como © prdprio modo ¢ ritmo da evolugio se modi ficou com a expansao dos animais nessa época (Tabela '8 do tempo g co (Pré-cambriano) foram dominados por formas microsedpicas de vida procari seus habitos e morfologicamente simples, com repre du jo apenas assexuada ¢ taxas evolutivas lentas, © Fanerozdico, que representa apenas a oitava parte mais recente da historia do plancta, viu surgirem organis- mos eucaridticos de tamanho macroseopico, de hibitos especializados, morfologia complexa, reproducic Muitos eventos de diversificagio © extingiio das espécies eucarioticas, tanto as macroscopicas como as microscopicas (microalgas, protistas © outros reram na hist6ria terrestre. A evolugao biol mareada, na verdade, por uma série de saltos na com. plexidade da biosfera provocados por inovagées, Tabela 23.7 Contrastes entre os registros geolégicos do Arqueano (>2.500 milhoes de anos) e do Proterozdico e Fanerozsico (<2.500 milhdes de anos) ford uy Rochas graniticas e gncisses No versus K ‘mais comum Rochas vulednicos Na> K: plagioclasio sédi Comumente ultraméficos 'Nos processos metabélicos bisicos 4 vida, inclu a forossintese sive a vida moderna, com destaque par: Com 0 aparecimento da fotossintese & base de didxido de carhono e gua para formar compostos orginicos ¢ liberar oxigénio ha pelo menos 2,7 bilhdes de anos eet) (€ provavelmente antes) a litosfera, a atmosfera, hidrosfera ¢ a propria biosfera nunca mais foram as Embora a reagio da fotossintese seja reversivel com 0 oxigénio reagindo com a matéria orginica para formar dgua é diéxido de carbono, isto nao se di instantang parte desta maréria orginica for Fig. 23.7 Distibviggo de crosta continental por idade (Arqueano, Proterodico ¢ Fanerozbico). Coberturas sedimentares mais recentes forom retiradas para mostrar as rochas rustais do embasamento eS ey soterrada ¢ colocada fora do aleance do oxigénio, uma parcela equivalente de oxigénio sobrari, No Arqueano, este oxigénio em excesso reagia quase que imediata- mente com compostos quimicos reduzidos no meio ambiente, principalmente com gases vuleanicos, mi. nerais € compostos quimicos dissolvidos na hidrosfera, anto nic pasando diretamente para atmosfera, No periodo entre 3 ¢ 2 bilhdes de anos atris, esse proceso foi responsivel pela oxidacio da superficie ra ¢ pela deposicio de dezenas de bi Ihoes de toneladas de minério de ferro, sob a forma de formagoes ferriferas bandad constituir importantes depésitos de ferro (Fig, 23.8) Cap. 21 Depois da oxidagio da hidrosfera da superticie tettestre, © oxigénio comegou a acumular-se paulat namente na atmosfera € a exercer forte pressio nos rumos da propria evolucio biolégica. Como resulta > process metabélico de respiracio, que apr oxigénio para produzir energia e permitia 6 desenvolvimento dos eucariotos con suas células naires © mais complexas e suas fungdes metabélicas compartimentadas em organelas intracelulares, inchi- indo um micleo distinto. Diversas evidéncias coquimicas ¢ paleontolégicas sugerem que © teor josfera para o surgimento eucatiotos (1% do nivel atual) tenha sido atingido antes de 2 bilhdes de anos atriis. Mesmo assim, os cucariotos, ainda microscépicos, s6 co destacar no registro paleontoligieo em torno de 1 bilhao de anos atris como conseqiiéncia, aparentemen Fig. 23.8 Formacto ferriiera bandade do Quadilitero Fer fero (MG). O nome se refere as comadas alternadas ricos, D minério e deformado, Foto: T.R. Fairchild te, do aparecimento da reproducio sexuada, A diver sidade genética ¢ morfoldgica proporcionada pela sexualidade deve ter levado 20 surgimento dos pri: meiros metazoirios megasespicos, representados pel fauna de Ediacara (Cap. 15), entre 590 © 565 milhoes is. Pouco depois, entre 545 © 525 milhdes de anos, ocorreu a explosio cambri: com conchas ¢ carapacas (Fig, 23.9), que estabeleceu « modo ¢ 0 ritmo fanerozoicos da evolucao biol Fig. 23.9 Um (6ssil tip invertebrados no Cambrian, um anelideo (polig sm detalhe no folhelho Burgess, de idade mbio Bi pinosa, preservado cambriane, do Col ica, Canadé, Os leixes de S. Conway Morris/Cambridge Universiy A julgar pela composigio da biota cambriana de pouco mais de mei dos a concluir que a transformacio da atmostera terrestre, originalmente indspita a vida complexa (1 bela 23.1), ja tinha se completado em funcao da ntervencao biologica nos ciclos da dinamica externa da Terra durante 0 Pré-Cambriano, Desde o inicio do Fanerozdieo, a atmosfera ji era oxidante o suficie para sustentar muitos filos de invertebrados marinhos ainda bem representados nos mares modernos, como artrépodes, moluscos, braquiépodes, esponjas ¢ equinodermes e até os primeiros cordados primit vos. A tremenda quantidade de CO, da atmosfera original ja tinha sido seqiestrada e escondida sob a forma de rochas earboniticas (caleérios) e matéria or quatro bilhdes de anos de intemperismo (Cap. 8) € processos vitais (Fig 3.10). Com isso, a alta temper tura da superficie terrestee, resultante do forte efeito estufa exercido ps ginal, diminuiu a ponto de permitir a formagio de calotas de gelo de modo esporidico na ‘Terra no ini cio do Proterozéico ¢ de forma mais ou menos regular 1 partir de 800 milhdes de anos atris (como veremos mais adiante). Ao mesmo tempo, a atmosfera tornou: Capiruto 23 + A Terra: Passapo, Presentee Fururo 505 Oxigenio carbone as a poeas a an SB, a 580 10g Fig. 23.10 Distibuicgdo atvol de Oxigénio e Carbone na su perce do Tera. Veja quanto carbone originalmente no atmosfera Tabela 23.1) {4 fo! incorporado na hidrosfera, na biosfere e, se menos densa ¢ a pressio atmosférica caiu para 1 60 de seu valor original, favorecendo o aumento de gases como nitrogénio, pouco reativo, € oxigénio, oriundo da fotossintese Ao longo do Fanerozdico, a biosfera sofreu no: vos saltos em sua complexidade com a conquista dos sedimentos do fundo dos mares por animais da infauna, no Cambriano, o surgimento dos peixes n0 Paleozsico médio €, em especial, a invasio dos conti nentes pelas plantas vasculares, pelos artrépodes e pelos vertebrados também a partir do Paleozéico inferior ¢ médio (ver contracapa do livro). O sucesso atual dos arteépodes, com milhdes de espécies $6 de insetos, ¢ das plantas com flores (angiospermas), que somam quase 300.000 espécies, sugere que a Terra vive 0 seu periodo de maior complexidade bioldgica, 4 Sistema Terra-Lua e seus efeitos Atualmente, a teoria da origem da Lua mais accita considera-a como derivada da propria Terra pelo impacto tangencial de um asterdide ou planctésimo (Cap. 1) muito cedo na fase e6smica da Terra. Desde enti, s indo essa teoria, os dois corpos constituem um sistema dinimico responsavel tanto pelas marés nos oceanos da ‘Terra como, em menor escala, pela distoreao aniloga das partes sélidas da Lua ¢ da Ter ra, Estas marés atuam como uma espécie de freio na rotagio da Terra, transferindo momento ang} 1 La, Como resultado, atualmente a Lua se afasta 4 em por ano da Terra, Com isso, a velocidade da rota ao da Terra diminui, aumentando a duracio do dia em dois segundos a cada 100,000 anos. Isto significa que ha 600 milhdes de anos, no final do Proteroz6ico, © dia tinha 20 horas ¢ 40 minutos, Contudo, uma vez ‘que a volta da Terra em torno do Sol nio € afetada pela dinimica do sistema ‘Terra-Lama, o ano tem permanec do constante, com periodo de aproximadamente 8.766 horas; assim, nessa época, o ano devia conter 424 dias, quase 60 a mais do que atualmente Algumas observagies paleontoligicas so coeren tes com a idéia do aumento linear na duragio do dia e na diminuigio do niimero de dias no ano pelo menos desde 0 final do Proterozoico, Os pesquisadores J. P. Vanyo ¢ S. M. Awramik, na década de 1980, constata ares na curvatura ¢ laminacio de estromatolitos colunares australianos (Cap. 15) suges tivas de anos com duracio de 410 a 485 dias, ha 850 milhdes de anos atris. Suas pesquisas vieram ao en contro de outras, realizadas anteriormente por Joba, Wells, que detectou mais linhas de crescimento did rio em corais devonianos de 350 milhdes de anos de idade (em torno de 400 linhas) (Fig. 23.11) do, que em corais modernos (360 linhas), uma obser Fig. 23.11 Linhas didrias de crescimento no coral devoniane Holophragma calceoloides, do norte da Europa. Ao contor es s08 linhas, John Wells demonstrou que o ano, no possado, continha mais dias do que alvalmente, Foto: Steven M, Stanley. Pl a er vacio perfeitamente eoerente com o aumento do dia em dois segundos a eada 100,000 anos desde 0 Devoniano. Enntretanto, a extrapolacio desta tendéncia no ou: tro sentido, ou seja para o pasado anterior ao Devoniano, esbarra num paradoxo referente a estabi- lidade do sistema ‘Terra-Lua no Paleoprotero2sico, ha mais de 1,6 bilhio de anos. Pelos cileulos que se péde fazer, a Lua ¢ a ‘Terra, nessa época, teriam estado tio proximas que a Lua teria sido despedagada e destruida por fortes marés internas provocadas pela atracio gravitacional da ‘Terra. ‘Todavia, como se sabe, este satélite tem sido companheiro da ‘Terra desde muito cedo na fase cosmica de nossa historia (Cap. 1). Para pela Lua teria sido compensa provocado pela accleracio da atmosfera pré ‘camibriana eausada pelo eampo g equilibrio dinimico teria mantido a dura tacional solar. Este > do dia Jamente 21 horas durante a maior parte em aproxim do Pré-Cambriano. 23.4 Ciclos Astronémicos e Geolégicos Ciclos astrondmicos dizem respeito a0 movimen- 10, posigio e inter: corpos do Sistema Solar (Tabela 23.2), Tais ciclos po- dem influir na dinamica externa de curto prazo, determinando o trabalho das marés ¢ a distibuigio do planeta Terra ¢ dos outros tia € sazonal de calor e luz sobre a face do plancta, com fortes reflexos nos padres meteorol6gicos. Inchuem ain- da ciclos plurianuais, como o ciclo de manchas solares, relativamente curto (I1 a 12 anos), que pode afetar as s do tempo globalmente, bem como ciclos de periados muito maiores (dezenas de milhares de anos) condiga como os da precessio dos pélos, da varlacio na lipticidade da érbita da Terra e da inclinagio do palo terrestre (0s ciclos de Milankovitch discutidos em Cap. 11) (Fig, 23.12). Seu efit mais espetacular ocorre quan: do tornam os vertes to frios que o gelo dos invemnos anteriores niio se derrete as geleiras e caloras polares avangam, iniciando uma “idade de gelo”. De acordo Fig. 29.12 A superposigio dos ciclos astronémicos (ciclos de Milonkovitch) envolve @ exceniricidade da érbito terrestre {0}, © precessdo (b) € a inclinacao [c} do eixo de rotacéo, tid como um dos fotores influenciando o clima terrestre, especialmente, « ciclcidade das elapas frias e momas da alual “idade de gelo” (),iniciade hd 3 ou 4 milhoes de anos. com os efeitos deste tipo em conjungao com condigies paleogeogrificas, esses ciclos mais longas, ora dominadas por climas frios ora por esultam em etapas ainda climas quentes, numa alternagio conhecida como o c= clo estufa-refrigerador. i he ‘rbita terrestre (6) Excentricidade da 0 300200 Mihares de anos Capituro 23 * A Terra: Passapo, Presente & Futuro 507 Dos muitos ciclos geolégicos do planeta, 0 mais importante nado a Teetdnica Global ea todasas suas conseqiiéncias orogenéticas ¢ paleogeogrificas (Cap, 6). Trata-se de um conecito mais abrangente do que o ciclo de Wil- son (homenagem ao geofisico canadense J. Tazo Wilson que o' descreveu), que explica a formagio € 0 iparecimento de grandes bacias oceanicas. O ciclo de supercontinentes no somente engloba essa idéia, ‘como inclui também 0 fendmeno mais amplo e de- é 0 cielo de supercontinentes, relacio- des morado da agregagio ¢ desmantelamento das massas continentais ao longo da histéria da Terra, Como ve: remos, envolve ainda mudang: ciclicas na atmosfera, 1no clima e no nivel do mar, todas com conseqiiéncias notiveis na modelagem da superficie terrestre © no cariter do registro geologico. Os gedlogos reconhecem a formagio ¢ desmantclamento de varios supercontinentes 20 Ton= go dos tltimos dois bilhOes e meio de anos, desde que 0 regime geotecténico de microplacas, tipico do ee Arqueano, cedeu lugar para o atual regime de ‘mactoplacas inieiado no Paleoproterozsico ¢ que con tinua até o presente. F ficil vislumbrat 0 formato do iiltimo supercontinente, a Pangea, que se formou no fim do Paleozéico, ha 250 milhOes de anos, aproxi madamente (Pig, 23.1 atuais de acordo com sua disposigio em relagio as, cadeias meso-oceiinicas que os separam como se fos: sem pegas de um quebra-cabeca afastadas umas das outras sobre © tabuleiro (Cap. 6), Num 3 detalhado, podemo: pegas, quebra-cabecas paleogeogrificos ainda mais tes Panndtia (Form: |. Basta juntar os continentes me mais entifiear, em cada uma dessas antigos, como os supercontin do ha 600-550 milhdes de anos), Rodinia (formado ha 1 bil reconstituicdo dos supercontinentes mais antigos € ficil, porque ji desaparece oceinicos, bem como muitos dos registros de anos) € outros (Fig, 23.13). A am todos os assoalhos paleomagnéticos ¢ geoeronologicos de sua existéncia (Cap. 4). A grande maioria da eros oceiniea daque: Fig. 23.13 © surgimento e desaparecimento dos principals supercontinentes ao longo da histéria de Terra (a). Os nimeros entre porénteses em o representam a idade aproximada, em bilhSes de anos, do formacdo de alguns dos supercontinenies. Os trés principais supercontinentes do dhiimo bilhio de anas (Radinia, Panntia e Pangea) estdo ilysrados em b. Fontes: a] J.J. W. Rogers, 1996; b) M. Yoshida aa ee ee ubduecio entre les tempos foi reciclada em zonas de placas, com algumas poucas lascas desta crosta ineor- poradas na zona de sutura entre antigos continentes, Sao estas laseas — verdadeiros “Hésseis” de oceanos antigos ~ que permitem determinar as margens de paleocontinentes e saber quando o oceano existiu, Estas informagdes, juntamente com estudos paleomagnéticos © geocronoldgicos de rochas nos continentes ¢ com= paragdes entre provincias estrucuras e, quando possivel ‘no Fanerozsico principalme: paleobiogeogrific 6), entre provineias permitem vislumbrar © que res- tou dos diversos fragmentos de paleocontinentes mais, antigos © que foram sucessivamente recortados e cada otigi- vex mais dispersos em telagio as suas pos nis. Para © periodo anterior « um bilhio de anos, cesses quebra-cabegas si0 muito mais dificeis de re~ ‘mootar ¢, portanto, a reconstituigio paleocontinental torna-se um exercicio especulativo. 23.4.1 O ciclo de supercontinentes e seus efeitos CO desmantelamento de um supercontinente con tendo a maior parte da crosta continental de uma Epoca qualquer inici rifteamento interno, como resposta ao actimulo de calor (ponto quente ou plum durante centenas de milhdes de anos, Com a conti se com uma fase de ibaixo do continente nuidade desse fendmeno térmico, o continente se racha em dois ou mais fragmentos € se inicia a pro- ducio de assoalho ocednico entre eles. Logo oeorrem invasdes de aguas dos oceanos que circundam 0 supercontinente, formando oceanos interiores, & semelhanga do atual oceano Atlintico, por exemplo. Do outro lado dos fragmentos hi os oceanos ex- iores, como o atual occano Pacifico, por exemplo. Durante aprosimadamente 200 milhdes de ano ‘oceanos interiores se expandem na medida em que progride a criagio do assoalho occinico por conta da atividade vulciniea e tecténica nas eristas meso oceinicas (Fig, 23.144). Acompanhando todo 0 proceso, espessas pilhas de sedimentos se acumu: lam nas margens tectonicamente passivas banhadas pelos oceanos interiores. Esta é a chamada fase de dispersio no ciclo de supercontinentes. Apos apro- 's de anos, as partes mais antigas da erosta dos oceanos interiores, ou se, as pa ximadamente 200 milhé tes mais prosimas das margens dos fragmentos do antigo supercontinente, tendem a afundar no manto uma vez que ocorre aumento de densidade em fungio do resffiamento ao longo do tempo (Fig, 23.14b). Esta etapa de subduceio da crosta oceinica gera magmas profundos debaixo das margens antigamente dos oceanos interiores, Estes magmas, por se tes, tendem passivas rem menos densos do que as rochas circunda a ascender pela erosta e extravasar sobre 0 continente em vuledes. A subduccio também pode afetar a crosta ocednica dos oceanos exteriores, do outro lado dos frag, mentos do supercontinente, gerando uma atividade vuleinica periférica na forma de ihas em arco a0 largo dos fiagmentos do supercontinente (Cap. 6) J meta au find call doe natin nine € consumida, os figymentos do supercomtinenre comegam ss entrar na fase de coliso, Soerguem-se entio montanhas, em exten faixas dobradas muito deformadas (Fig 23.140), como as cadeias paleozdicas conhecidas como os Caledonides (Fscandingvia, Gei-Bretanha, Groentindla & parte nordeste ch América do Nort), Hercnides (Fauropa central, Apalaches (parte leste da América do Norte), Mon- tes Atlin (sate nocoea ta. Alta) Maina Urals (oe vide a Europa da Asa, na Rissa) ¢ as eadeias eenozdicas clos Alpes até os Himalaias. A jungio e elevacio do now supercontinente em formacio resultam em intensa erosio, alteragiies nos padibes de circle’ umvosférien © mudan. ‘gas no clima no seu interior. Zonas de subxluecio do lado cestesor dos fragmentos merguilham debaixo do eontinente agora, causando extenso vuleanismo em toch a bord exte rior do novo supetcontinente. Enqyanto isto, ihas em arco ‘também sio acrescidas ao continente em sucessinas colisdes Finalmente, 2s atividades vulcinicas e tectéinicas Sio atenun- as, a erosio reduz as montanas € 0 explibri isostticn se estabelece. A fase orogenética passa © um novo supereontinente esti Formac, Muitas dezenas ou até uma ou duas centenas de milhdes de anos passario antes que o calor gerado no manto debaixo do supercontinente possa se acumular a ponto de iniciar novo proceso de rifteamento des: sa massa continental (Fig, 23.14). © novo supercontinente nunca tem a mesma confi gunigio do anterior, pois as fases envolvidas no operam simétrica e contemporaneamente. A fase de sifteamento comega em momentos ¢ partes diferentes do supercontinente; alguns dos riftes originals podem ser abortados em qualquer fase de seu desenvolvimento; a velocidade de dispersio e de reaproximacio varia consi deravelmente; as colisdes podem ser obliquas, sem subduceio, como ao longo da fa California. Com isto, os processos de separagiio ¢ jungio dos fragmentos de um supercontinente no sio a de San Andreas na sinerdnicos mas diacrinicos, isto &, espalhados 20 longo de dezenas de milhoes de anos. Capituto 23 » A Terra: Passapo, Presente & Futuro er) Evidentemente, 0 ciclo de supercontinentes afeta muito mais do que a simples distribuigio © forma dos continentes no mapa do planeta, Envolve a abertura € fechamento de oceanos ¢, conseqiientemente, 2 reorga- nizacio da citculacio oceiiniea © atmosférica, alterando ‘os padifies climsticas glahais. A diminnigi on aumento, no niimero de continentes isola ou aproxima ecossistemas distintos, ora estimulando, ora impedindo a dispersio ¢ evolugio dos animais ¢ plantas do planeta. Nos perio. dos de maior atividade vuledniea, ocorre aumento no moste aa ser consumido, logo em seguida, por processos volume de gis carbonico na ‘mas este come: intempéricos € crosivos, especialmente quando acle-q pesmantelamento do supe vacio continental é relativamente alta, A intu: mescéncia das cadeias meso-oceinieas duran rip vuleanismo mais intenso al fiases de disper’ tera 0. nivel do mar mundial, deslocando égua das bacias oceinieas sobre 6s continentes (transgres slo). O processo inverso, ‘ou seja.o retomno da agua dos continentes (regressio) para as bacias oceiniea resulta do abarimento das cadelas meso-oceinieas durante periodos de quie tude vulednia (Tabela 23.9), Efeito semelhante ocorre «quando as massas continen- tals se deslocam sobre os polos, favorecendo a for- magio de caloras gl custas da icinis is «yconsegiientemente,a que- da do nivel do. mar jobalmente. ‘Todas estas mudancas sio muito interligadas, como se pode ver pelos 1D Desmantelamento do novo efeitos de transgress5cs © esenaaa ay regressbes rel cionadas a0. ciclo de supercontinentes. ig. 23.14 O ciclo de supercontinentes, segundo JB ‘Murphy & R, D, Nance, 1992. Sovbsgserae Quando os mares Jem os continentes, a presenca de ‘Agua no seu interior tende a amenivar 6 clima, elevando a temperatura méci c¢ rediuzindo a diferenca de temperatura entre 0 polo © equador. A ele imi continental suita eros c, conseqentemente Sob tas a-mais lenta, fi alargando a isa latitudinal tropical -agio do nivel do mar, por sua ve 4 quantidade de mutrientes que ch condigies, a crculagio oceinica se vorecendo a estratificagao das guas em camadas, ¢ a estagnacio das dguas do fundo que nao se misturam com as outras, mais oxigenadas. As taxas evolutivas di minuem, ficando em compasso de espera. =—=— { SORA Do a ‘cod ines wus ab zon ce Woeansro Stoeueeto treme sccdueea0 Caso de montarhas steruee supercontinente ‘Nevo cesanorteror 7 ae ow te tagrriahe mini com nov cata

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