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CONSELHO EDITORIAL Alexandre Catharina Antonio Celso Alves Pereira Antonio Pereira Gaio Jinior Carlos Eduardo A. Japiassi Cleyson de Moraes Mello lena de Carvalho Gomes Guilherme Sandoval Gées Gustavo Silveira Siqueira Joio Eduardo de Alves Pereira José Maria Pinheiro Madeira Leonardo Rabelo Marcelo Pereira Almeida Mauricio Jorge Pereira da Mota Nuria Belloso Martin Rafael Mario lorio Filho Ricardo Lodi Ribeiro Sidney Guerra ‘Theresa Calvet de Magalhaes ‘Vanderlei Martins Vania Siciliano Aieta Direito Ver 1 me Direito Penal COORDENACAO: Carlos Eduardo Guerra de Moraes. Ricardo Lodi Ribeiro ORGANIZACAO: Patricia Mothé Glioche Béze AUTORES: Artur de Brito Gueiros Souza Carlos Eduardo Adriano Japiassd Christiano Fragoso Davi de Paiva Tangerino Hamilton Ferraz J030 Guilherme Leal Roorda Jorge Luis Camara Luiza Chaves Varela Marcela Siqueira Miguens Nilo Batista Patricia Mothé Glioche Béze Rodrigo de Souza Costa Sylvia Chaves Lima Costa Vera Malaguti Batista Copyright © 2015 by Carlos Eduardo Guerra de Moraes / Ricardo Lodi Ribeiro ‘Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998, E proibida a reprodugio total ou parcial, por quaisquer meios, ‘bem como a produgao de apostilas, sem autorizago prévia, SUMARIO Por escrito, da Editora. Dircitos exclusives da em ae ‘clusivos da ego distrbuigd em ngua portugues: vins sobre a criacdo ¢ histéria da Faculdade de Direito Sen one ae Janeiro e sua incorporagao a Universidade do Distrito (UDP), a Pereira Lira Editor: Isaae D. Abulafia Capa: Alex Lethy / Comité Direito Uerj 80 Diagramagdo: Jair Domingos de Sousa Jolhé Glioche Béze DADOS INTERNACIONAIS PARA ‘CATALOGACAO NA PUBLICACAO (CIP) resis. 398 bn mal ¢ a Faculdade de Direito da UER) Direito penal /organizago: Patricia MothéGlioche Beze a eriacionsl es autores: Artur de Brito Gueiros Souza ... [et al.|. ~ Rio de (0 Adriano Japiassti Sanciro : Freitas Basis, 2015. a 210 p. ; 23 em. — (Direito UERJ / coordenagao: Carlos Eduardo ‘€ 0 Direito Penal Econémico ‘Guerra de Mores, Ricardo Lodi Ribeiro: 1) BP Scien ISBN 978-85-7987-228-0 1. Direito penal ~ Brasil. I. Béze, Patricia Mothé Glioche TL. Souza, Artur de Brito Gueiros II, Série, cop 34581 de liberdade: uma leitura fenomenologica. administrativa e a desfiguragio do Direito lB 4 partir do Direito Penal do Ambiente .... Costu Tangerino / Jodo Guilherme Leal Roorda Freitas Bastos Editora . Tel./Fax: (21) 2276-4500 yento condicional: ha legitimidade para freitasbastos@freitasbastos.com vendas(@fetasbastos.com ‘win. eitasbastos.com, 102 Direito Penal 6. Conclusio Conforme se viu, ao longo do triénio de pesquisa, muitos campos foram explorados e desbravados no sentido de produzir uma compreensio maior sobre o direito penal segundo uma eidética cunhada na natureza impar de sua intervengao sancionadora na sociedade. Descartou-se as pretenses, {que se mostraram despidas de congruéncia com verdades empiricas (ideo- logias, crengas e abstragdes), preservando-se o compromisso fenomenols- ‘gico fundamental de buscar as esséncias, as coisas mesmas, e, nas consci- éncias por elas informadas, as maneiras pelas quais produziriam seus sen- tidos, Nada ha nesse trabalho que vise desabonar as crengas, abstragdes ou ideologias, apenas a preocupagao de ater-se a passivel de aferigdo logico- empirica fez prevalecer 0 viés adotado. De tudo, posso deduzir que nosso sistema ainda tem enorme dificuldades de afastar-se de crengas associadas a prevengio negativa eas ideologias sociais de indole critica. Ambas pecam ‘em suas pretensGes generalizantes e no alheamento que promovem quanto ‘a0 que se pode e deve fazer para revestir a ideia de sangao de um sentido. 0 hhomem é um ser que vive segundo sua capacidade de doar sentidos as suas percepedes. Pretender inseri-lo em um contexto em que estes sentidos se- jam estranhos as suas percepcdes ¢ ignorar a premissa fundamental da fe- nomenologia pela qual a consciéncia humana é o fundamento de todos os processos cognitivos. Mas nao é simplesmente uma consciéncia humana {que o faz, mas toda consciéncia que se emancipou do estado natural ¢ ado- tou a atitude reflexiva, atitude de se perceber percebendo e indagar 0 que 60 Antes de afirmar qualquer proposigdo. Dizia Aristételes que o ser se diz de muitas maneiras, mas sua esséncia, para que seja percebida e comu- nnicada, é unificadora desses diversos sentidos, Naturalmente esses senti- dos vao se distanciando conforme o mundo circundante em que este ser se apresenta vai, igualmente, se distanciando de seus contornos essenciais. Na ‘moderna sociedade brasileira, que rende a dignidade da pessoa humana e ‘a seu corolatrio, a fraternidade, o reconhecimento de valor fundante do Es- tado, vetor determinante das relagdes sociais e motor primeiro da constru- Gao juridica, 0 direito penal deve buscar ultrapassar esse momento de per- plexidade por auséncia de sentidos, redescobrindo-os no ambito da pré- pria humanidade, sem instrumentalizagio do homem, sem olvido da per- sonalidade humana como fruto de fatores que a transcendem, sem ignorar ‘0s aspectos meramente econ6mico e que deve buscar no aflorar da consci- éncia humana para o interesse social legitimo, toda finalidade de interven- io corporal do estado na vida de seus cidadios. A ACESSORIEDADE ADMNISTRATIVA E A DESFIGURAGAO DO. DIREITO PENAL: ANALISE A PARTIR DO DIREITO PENAL DO AMBIENTE Davi é¢Paiva Costa Tangerino" JoaoGuilherme Leal Roorda?” 1. Introdugao Muitos nomes foram empregados para a desctio grosso modo da super: posigdo do Direto penal ao Direito adminisaivo (a exemplo ae vr etintivizagdo do Direito penal, de Alessandn Baratta (1994, p. 1) 1) ui tutela penal de condutas meramente arrisadas (Direito penal do ris: co. ef Prittwitz (2004, p. 37-41)), ou, ainda, é lexibiizagao das cate#0- rine do delito (e, porque ndo, das garantias cmstitucionais) para PNT tar um alegado eficientismo da aplicagdo delet penal (Direito Pave tnimigo, de jakobs (2008, p. 32-38); Direito pnal de diferentes veloc > nlamiBe iva: Sancher (2002, p. 144-147), ee). Chega-se mesmo a (lar mm dieito pena liquido, invocando-se a molernidade Liquida de Bove mann (SILVA-SANCHEZ, 2015). Todas as abordagens parecer comet” para uma crescente zona cinzenta entre iguras penais © administra- a Pe omadoras, sobretudo no (igualmesteconcetualmente Opaco) Direito penal econdmico, de sorte que, parafins do presente estudo alt nnhar-se-a A perspectiva que Direito penal ¢administrativo-sanione! diferem apenas em escala, sendo, de qualquet ca exercicio do poder sunitivo por meio da aplicagao de sangoes-cstigo. rane aren faildade ness i no thonovo momento do poder pu: nitivere dite Direto Penal do Ambiente alds,com certa centralidade, 'o- “tute, como ramo do dirito punitivo, assim como o Direito Penal ds Eeo- jor em Direto penal 7 Drolessor adjunto da Faculdade de Direto da UERK mestre ¢ dou penal pela USP com estigos outorlepés-doutoral na Univesklade Humbolds eas Instituto Max Planck de Direto Penal Internacional Comparado (Aleman) 2 Mestrando em Digéito Penal no Programa de Pée-Graduacio em Dieta) Dt tt 2 Mestran do dade de Diet da UERY, Bachar! em Dito pela Universi Federal do Rio de Janeiro. 106 Dirito Penal noma, € relativamente novo, nao apenas por seu objeto de protesa seni nee a a geral justificada pela prépria natureza do objeto juridico de protecio, isto 6,0 bem juridico meio ambiente, recorre-se a uma técnica legislativa deno- ‘minada “acessoriedade administrativa’, ___Patte-se da assungio de que nao se deu a devida atencio as consequen= te eine de tes oa ache ee ne ee Ma do que mera forma de articulagio dos tipos penais, a acessoriedade adminis- trativa se traduz em verdadeiro fendmeno descaracterizador daquilo que se percebe como Direito Penal. Esta a hiptese da qual parte este trabalho, ‘Toma-se a afirmagio de Prittwitz de que o Direito Penal Ambiental seria um protétipo do Direito Penal do Risco, para coloca-lo no centro da presente anilise. A fim de perquirir as formas de descaracterizacao do Di- reito Penal, busca-se, em um primeiro momento, identificar brevemente como essa técnica legislativa ¢ uilizada para a definigao dos tipos penais. Em seguida, passa-se a uma curta exposigao do que vem sido percebido ‘como Direito Penal do Risco. Por fim, intenta-se demonstrar como a aces- soriedade administrativa atua no sentido de descaracterizar 0 Direito Pe- nal, obliterando as suas fronteiras com o Direito Administrativo, principal- ‘mente através da emergéncia de um paradigma da desobediéncia e um ou- tro paradigma da regulagio. 2, Acessoriedade administrativa enquanto técnica legislativa Em geral, os autores que trabalham com a acessoriedade administrativay ‘ou a0 menos, aqueles que a tomam nominalmente como objeto central de seus trabalhos, costumam trata-la como uma técnica legislativa que é vista como a forma indispensivel (CARVALHO, 2011) de tipificagio dos “novos delitos’ Ito porque, no que toca a regulagao de atividades econdmicas es- pecficas, exige-se um elevado nivel de conhecimento técnico para definir aquilo que é proibido e 0 que esta permitido. Assim, por exemplo, naquilo que toca a regulacio do ambiente, existe toda uma l6gica técnica (tecnicista) para = eee «em quais condigSes se pode emir substincias, pescar ou realizar o corte da ve- getagio. B & assim, alega-se, porque “seria absurdo proibir a emissio de qual- quer substancia, proibir a pesca em todos 5 ocais e épocas e proibir qualquer corte de vegetagio em todo o territério brasileira” (COSTA, 2009, p. 190). ‘A acessoriedade administrativa, percebida enquanto técnica legisla- tiva, nada mais € que o emprego de reenvios da norma penal i norma ad- ministrativa, que lhe dé maior concregao. Essa técnica, em geral, apresenta Direito VERI | 80 Anos 105° trés formas distintas: a acessoriedade conceitual, a acessoriedade ao direito administrativo e a acessoriedade ao ato administrativo. "A menos complexa, Ou, Ao menos, a menos problemitica das formas de acessoriedade éa conceitual, Isto porque nada mais é que a complemen tacio de sentido do tipo penal com conceitos que s4o proprios do direito ‘dministrativo. Por exemplo, conceitos como “floresta de protegao perma- wrente’, “Unidade de conservacio” ou “Bioma Mata Atlantica’: Aqui ndo hé tnaiores problemas, pois nao hd, propriamente, reenvio a uma normativa ‘specifica, se nao 0 uso de conceitos trabalhados no ambito do direito ad- ministrativo (CARVALHO, 2011). "As outras duas formas de acessoriedade sio mais probleméticas. Tra- ta-se de modalidades de reenvio a normativas especificas, a atos admini trativos, de caréter geral e individual. Segundo Greco (2006), a denomi- hagao “acessoriedade ao ato administrativo” & enganosa, pois, em verda- de tanto na acessoriedade ao ato (Verwaltungsaktakzessorietit) quanto na ‘cessoriedade ao direito administrativo (Verwaltungsrechtakzessorietat) ha feenvios a atos administrativos. Enquanto na primeira 0 referido ato é, via dde regra, individual, tal qual a concesséo de licenga ou autorizacdo para a pritica do ato, a segunda diz respeito a atos administrativos geras,ditecio~ ados a todos, como regulamentos, resoludes e portarias (sendo, de fato, ‘exemplo de normativa penal em branco). ‘De modo que, segundo o autor, melhor seria falar em “acessoriedade a0 ato geral” e “acessoriedade ao ato individual” (GRECO, 2006). De fato, ambos os modelos de acessoriedade dizem respeito ao exercicio de poderes da administracdo. O primeiro (ato geral) decorre do poder regulamentar; 0 segundo (ato individual) é expressio do poder de policia. ‘O uso da acessoriedade administrativa traz consigo uma grande quan- tidade de problemas as serem resolvidos pela doutrina, Talver.o princi seja sua compatbilizacao com o principio da legalidade, Uma resposta fa- Cil, em geralutilizada como argumentacio contra o uso da norma penal em branco, diz que o uso de normas emanadas pela administragao para funda- ‘mentar uma incriminagio seria violador da garantia da reserva legal. ‘No entanto, tem-se que o principio da legalidade desdobra-se em trés postulados:irretroatividade, reserva legal e taxatividade (ou determina- Gio). Quando o tipo penal realiza reenvio & norma emanada pela adminis tragdo ele, de modo geral, o faz para garantir maior determinacio a0 con tetilo do injusto penal, Assim, a0 mesmo tempo em que garante &adminis- tracao o papel de determinar o contetido do injusto, garante maior certe~ za20 destinatirio da norma quanto Aquilo que esta proibido ou permitido. ‘Em que pese a importancia deste e de outros problemas dogmiticos concernentes & acessoriedade administrativa, no € objetivo do presente

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