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‘06/07/2021 POF js viewar Revista Geogrijfica de América Centrat Nimero Especial EGAL, 2011- Costa Rica IT Semestre 2011 pp. 11S CONCEITOS FUNDAMENTAIS NOS PROCESSOS DE APRED ‘DER GEOGRAFLA “Adriana Maria Andrcis! Resumo Apresento uma discussio sobre a investigagio que realizo que tem como foco os conceitos cientificos da Geografia, seus desafios e possibilidades nos processos de aprender e ensinar. Presentes como percursos na administrac&io das situagSes de aprendizagem, os conceitos se peculiarizam na Geografia por sua estruturagio considerar a espacialidade como viés para a anzlise. Desenvolvo a discussio com base em trés coneeitos fundamentais para a Geografia escolar, a saber: orientagio, eseala e mapas. Esses conceitos tém relagao dindmica de implicago como espago real e representado, sendo, na escola, passiveis de elaboragao, potencializagao, sistematizagao, recontextualizagao e ressignificagdo. Essas generalizagdes construidas sao fundamentais, especialmente em se tratando de uma proposigfio ao encontro da educagdo geognifica, Podem se configurar como vias prospectivas no pereurso das formas superiores de pensamento, pois oportunizam 0 descolamento do concreto, entendido como retrospectivo. Nessa reflexiio sobre a aprendizagem dos conceitos, atento, também, ao obsticulo epistemolégico, que se configura como resisténeias cognitivas que dificultam 0 processo de abstragio e a atribuigdo de significados outros, Assim, empreendo uma anilise de conceitos geogrificos e seus desafios nas construgdes propostas escolares, referente is rugosidades manifestadas no espago, Palayras chave: Conceitos geogrificos. Aprendizagem, Orientago. Escala. Mapa. * Doutoranda em Edueagdo nas Ciéncias, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul-UNUIUL Brasil, Eanail: adriauandreis@hounai.com Presentado en e] XIII Encuentro de Gedgrafos de América Latina, 25 al 29 de Julio del 2011 Universidad de Costa Rica - Universidad Nacional, Costa Rica Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 ans ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, Introducao A experiéncia pedagogica nos ensina que o ensino direto de conceitos sempre se mostra impossin 1 e pedagogicamente estéril, O professor que envereda por esse caminho costuma néo conseguir seniio unra acumulagdo vacia de palavras, um verbalismo puro e simples (..). Vigotski (2001, p. 247) escancara a relevancia da discussio que apresento neste texto ao permitir inferir a centralidade dos conceitos cotidianos e cientificos ¢ os processos de ensini-los e aprendé-los na edueagio escolar. Nessa perspectiva, inicialmente diseuto algumas possibilidades de construgdes conceituais na Edueagio Bisica na area de Geografia. Escolho os conceitos orientagio, escala e reptesentag3o para desencadear a reflexdo por se tratarem de conceitos que tém relacdo dinamica de implicacao como espaco real e representado, sendo, na escola, passiveis de ressignificagio. Refletir sobre a centralidade dos conceitos na escola é fundamental porque representam os contetidos centrais que articulam o processo de ensinar e de aprender. Nessa perspectiva, na primeira parte da reflexio, Vigotski me apoia na reflexio sobre 0 que so & a importincia dos conceitos espontaneos e arbitrarios no ensino Presentes como percursos na administragio das situagdes de aprendizagem, os conceitos se peculiarizam na Geografia por sua estruturago considerar a espacialidade como viés para a anilise. Assim, na sequéneia, apresento uma anélise sobre a relevaneia dos conceitos para a Geografia, considerando a espacialidade como a dinimica das rugosidades que se manifestam como descontinuidades construidas no espaco. Milton Santos é a referéncia principal para essa discussio sobre os conceitos e suas relagdes com as impressdes histérieas especializadas ou as rugosidades nas paisagens dos lugares ¢ cotidianos. Para qualificar a discussio, sobre a centralidade dos conceitos e da espacialidade manifesta sob a forma de rugosidades, na parte final deste texto, apresento trés coneeitos, a saber: orientagio, escala ¢ representagio, que permitem mostrar algumas limitagdes & possibilidades dos conceitos fundamentais nos processos de aprender Geogratia. Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 ans. ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, Ensinar ¢ aprender conceitos na escola Comego a discussio reconhecendo a relevancia da educacio escolar como a propositora das relagdes entre os conceitos cotidianos ¢ cientificos num movimento intencional com pretensio de desenvolver formas superiores de pensamento. A educagio escolar “constitui uma forma original de colaboragao sistemética entre o pedagogo ¢ a crianga, colaboragio essa em cujo processo ocore © amadurecimento das fingdes psicolégicas superiores da crianga com 0 auxilio e a participagdo do adulto.” (VIGOTSKI, 2001, p. 244). O conceito é 0 contetido e percurso desse movimento educativo escolar. E ele uma ideia, uma abstraco que se constr6i sobre elementos ou ages naturais e artficiais, por isso a amplitude do conceito cientifico ¢ maior. Também por isso permite e exige compreensSes mais elaboradas e sistematicas. Conceito é um “ato de generalizagao” (VIGOTSKI, 2001, p. 246) que vai sendo construido social e historicamemte Um coneeito é mais do que a soma de certos vinculos associativos formados pela meméria, é mais do que um simples habito mental; & uum ato real e complexo de pensamento que nio pode ser aprendido por meio da simples memorizagdo (...) € uma transigio de uma estrutura de generalizacao a outra (...). (VIGOTSKI, 2001, p. 246) Vigotski chama a atengao para a importéncia da educagio escolar e para a consideragdo das etapas de construgio dos conceitos. Ratifica, também, a impossibilidade de se aprender na escola na forma que o autor denomina de “pronta”, ou seja, “assimilados da mesma maneira como se assimila uma habilidade intelectual qualquer” (2001. p. 247). Desereve claramente sobre (...) a impossibilidade de uma transmissio simples e direta do conceito pelo professor ao aluno, da transferéncia mecdnica do significado de uma palavra de uma pessoa a outra, com 0 auxilio de outras palavras (...) (VIGOTSKI, 2001, p. 247). A construgio do conceito requer toda uma série de fungdes como a atengdo arbitréria, a meméria logica, a abstrago, a comparagao e a discriminagao. A mera tentativa Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 ans ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, de repasse de informagdes como conteiidos especificos em cada campo do conhecimento & incu, Os conceitos podem ser categorizados como cotidianos quando se constituem espontaneamente e tém uma abrangéncia mais restrita e vinculada na grande medida ao conereto e ao proximo. Podem ser denominados como cientificos aqueles coneeitos trazidos propositadamente ¢ dotados de maior abrangéncia e abstragio como ocorre no caso dos conceitos cientificos apresentados pela escola. Os conceitos cientificos sto o ponto de ancoragem na diregio dos quais sio langados os coneeitos cotidianos para que, exercitando habilidades e competéncias, seja possivel estabelecer elos significativos que permitam a atribuigio de sentidos outros ao cotidiano. Na educagio escolar, os conceitos abstratos sio fundamentais porque sto oportunizadores de generalizagées sempre mais complexas que qualificam os pensamentos, os conhecimentos e as vivéncias Os conceitos em Geografia A Geografia como componente curricular, trabalha com conceitos gerais © especificos que consideram a espacialidade como viés de anilise. Tem esse campo do conhecimento um rol de conceitos fundamentais a serem construidos com os estudantes & que tem como peculiaridade a possibilidade de vinculag4o com 0 cotidiano de cada sujeito Os conceitos espontineos ¢ cientificos se referem sempre aos objetos ¢ as agdes. Dai depreendo a fundamentalidade de relacionar com o cotidiano o lugar ¢ as paisagens que sio considerados categorias da Geografia. ‘As coisas @ as pessoas esto em uma espacialidade e em permanente interagao dindmica no cotidiano. Este cotidiano é passivel de anilise pelas paisagens e suas irregularidades ou rugosidades (SANTOS, 2004) e pelas imagens em geral que delas se podem construir. Esta é a dimensdo dos coneeitos cotidianos. Dar-se conta das rugosidades € importante porque oportuniza ver o espaco como vivo e ativo, bem como sistematiz-lo & abstrai-lo, o que esta na dimensio dos conceitos cientificos, Esse movimento vinculatério entre 0 conereto € © abstrato se constitui no trabalho da educagao escolar. No caso da Geografia, os conceitos que aqui proponho discutir tornam 4 Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 ans ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, vidvel situar-se e localizar-se em relacdio aos outros espacos (em diferentes aspectos tais com: fisicos, econémicos, politicos, sociais, culturais), ou seja, orientar-se tanto em eseala maior (detalhada e restrita ao local) como em escala menor (generalizada e em areas mais amplas). Esse olhar considerando as rugosidades oportuniza, também, o confronto do que & real com as representagSes construidas, representagdes essas entendidas como mapas ou imagens, tanto mentais como gréficas sobre 0 espaco. Estes trés conceitos geogrdficos — orientagdo, escala e representagdo — que integram os contetidos da Geografia na Educagio Bisica, so ferramentas articuladoras entre as categorias coneretas como o cotidiano, o lugar e a paisagem e a prospecgio para as generalizagdes abstratas que se constroem na escola, Sobre 0 processo de abstragao que se realiza na escola, Fabregat (1995) chama a atenedo dos educadores, especificamente da area da Geografia, ao analisar a essencialidade de reconhecimento dos mapas mentais e sua importincia concreta: Tudo 0 que se sabe da realidade esté intermediado, e a tomada de decisdes que afetam o meio nao se efetua sobre e meio real, mas sobre a imagem que o homem tem do meio. (...) E precisamente, 0 comportamento do homem em seu contexto social ¢ a0 espago em que se mov do qual se serve, do qual depende e 0 qual transforma, tem um valor inestimvel enquanto um fator essencial 1a anise do espago e sua interpretagao (p. 52). © autor refere-se a essa Geografia da pereepgao como uma interposigao entre 0 mundo real ¢ os comportamentos humanos. Em conexfio com essa andllise da ligagao entre o real e as imagens construidas, Santos (1996) discute a relaco entre os objetos ¢ agdes no espago geogrifico e as representagdes que se constroem, bem como a importancia da consciéncia da intencionalidade dessas elaboracdes como causas e efeitos nas vivéncias coneretas. Citando Herbat, Santos (1996) explicita Cada vez que sentimos (...) ha de existir algo na conseiéneia como representado: de modo que esse determinado sentir implica esse determinado representar. (...) Ter uma ideia é ter uma ideia de algo: toda afirmagao é afirmagao de algo, todo desejo ¢ desejo de Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 55 ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, algo. Nao ha pensamento sem um objeto pensado, nem apetite sem ‘um objeto apetecido (p. 72). © pensamento refere-se ao real, mesmo que este seja ataviado, esmaecido ou idealizado, Paralelamente, 0 percurso desse pensar relaciona-se com as concepydes do sujeito, concepgdes que se constroem e se realizam segundo seus aprendizados e suas vivéncias com os grupos, 0 que nos remete ao cotidiano, ao lugar ¢ és paisagens. Quando se tem uma ideia, essa ideia refere-se a algo (que relacionamos com as categorias que fazem sentido para nés) que se encontra espacializado sob um feixe de vetores que 0 localizam e o determinam naquele momento. E uma teia de relagdes que se revela e que pode ser lida sob a dptica do concreto e do abstrato, do visivel e do invisivel e de todo um conjunto de relagdes que naquele lugar e momento se estabelecem., Boaventura Santos (1988) propde uma anilise da realidade a partir de uma cartografia simbolica das representagdes sociais e sugere que todos os conceitos com que representamos a realidade “tém uma contextura espacial fisica e simbélica (...). mas que”, (...) vemos agora, é a chave da compreensio das relagdes sociais de que se tece cada um desses conceitos. Sendo assim, 0 modo como imaginamos o real espacial pode vir a tommar-se na matriz das referéncias com que imaginamos os demais aspectos da realidade (p. 141). Eo reconhecimento de que a forma como pensamos, analisamos e representamos 0 espago é importante nas concepgdes ¢ logicamente nos movimentos cotidianos da casa, do trabalho e do lazer, entre outros. Dito de outra forma, o uso que fazemos do espago privado e piiblico esta relacionado com as representagdes mentais e grificas que foram sendo construidas & que temos do cotidiano, do lugar e das paisagens, os quais podem ser mais bem entendidos quando os analisamos como rugosidades espaciais manifestadas, levantadas por Santos (2004). Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 ans: ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, Conceitos nas rugosidades espaciais Para 0 estudo dessas rugosidades manifestas no espago, deve-se considerar a heranga e os impactos que se processam e se revelam sob a forma de distintas densidades, que passo a analisar. Os tetritorios passiveis de serem revelados nas paisagens dos cotidianos ¢ lugares apresentam densidades, mas também rarefacGes em escalas diferentes. Os rios, as cidades, 0 campo, o emprego, o consumo, as fibrieas, as habitagdes, as ruas e as instalagdes de esgoto, gua e luz, entre outros, podem ser olhados sob essa lente da concentragao e da dispersio Em cada local a rede hidrografica, a vegetagdo, as éreas urbanizadas e a zona rural, cada qual com suas fungdes econdmicas e histérico-culturais, apresentam-se mais ou menos densas. Basta pensar em um bairro. Este apresenta diferentes graus de ocupacdo e uso que se processam de diferentes formas: casas ou prédios, contingente de populagao permanente e temporiia, pavimentaglo ou estrada de chito batido, rede de esgoto ou fossas sépticas, entre outras expressées, que sio, indubitavelmente, tinicas para cada fragmento do espago Os espacos representiveis tanto nos mapas mentais quanto nos grificos, levando em conta a orientagdo e escala geogrifica, so detentores de disparidades que revelam elementos e movimentos como: fluidez e viscosidade; rapidez e lentidao; luminosidade e opacidade; centros e periferias ¢ mandos e obedigncias, conforme propde Santos (2004) ao discutir as diferenciagdes no territorio que a seguir melhor se explicita. A maior ou menor intensidade na cireulagao dos objetos, das pessoas, dos produtos e das informagdes mostra que ha diferentes graus de aceleragio e desaceleragéo em cada lugar onde se manifestam, Esse movimento de fluidez viscosidade independe da densidade. Podem-se ter, por exemplo, poueas pessoas, mas estas podem realizar muitos movimentos de deslocamento e estar inseridas ou conectadas com muita fluidez a outros locais. Também podemos ter espacos densamente ocupados com fibricas ou pessoas, mas serem pouco geis ou mais viscosos em suas relagdes reais ou virtuais Para pensar o espago sob a éptica da rapidez e da lentidao, pode-se partir do ponto de vista material — em consonincia com as vias ¢ meios de transportes e comunicacdes, piiblicos e privados — e social — no que se refere as relagdes entre as pessoas diretamente ou com a utilizagdo de recursos como a Internet e o telefone. Esses tempos instalados na Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 ms ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, circulac&o e nas ideias de um espaco também nfo tém relag&o direta com a densidade dos elementos presentes, mas tém conexdo com as tecnologias € 0 uso que se faz dessas em razio do conhecimento embutido em cada elemento e atribuido as pessoas daquele local. Pode-se dizer que os espacos sio sempre mais evidentes em alguns aspectos menos em outros, Segundo Santos (2004), nessas manifestagdes os Espagos luminosos sio agueles que mais acumulam densidades técnicas ¢ informacionais, ficando assim mais aptos a atrair atividades com maior conteiido em capital, tecnologia e organizagao. Por oposigio, os subespagos onde tais earacte ticas estilo ausentes seriam os espagos opacos (p. 264). Esses espagos luminosos seriam entio aqueles incluidos mais densamente nas regularidades de uma légica obediente aos interesses das maiores empresas, grupos ¢ Estado, por isso so mais aceitos por sua insergdo, que atende as demandas capitalistas vigentes, Considerando que nas divisdes espaciais do mundo globalizado ha interesse ¢ necessidade inclusive de que haja locais excluidos ou reservados, pode-se ampliar essa classificagdo ¢ instincia de anilise. Os espagos podem ser luminosos, mesmo sendo desorganizados como os de uma favela, mas ela irradia outros elementos rieos em outras densidades, como os da solidariedade, Outro exemplo que poderia servir também para estinmular nossa reflexdo podem ser os locais que irradiam e se sobressaem pela preservagiio ambiental. O que ¢ importante, porém, é que se leve em conta a visio que Santos (2004) nos apresenta sobre os espacos incluidos e Iuminosos e aqueles reservados e naquele momento opacos, ¢ 0 entendimento de que, nos espagos, sempre hii elementos inradiadores e outros menos salientes Outras rugosidades na légica espacial sio a do mando e da obediéncia. Pode-se dizer que existem locais em que hi o aciimulo de fungdes diretoras e outros carentes destas, mas que “hé espagos que comandam ¢ espagos que obedecem, mas 0 comando ¢ a obedigncia resultam de um conjunto de condigdes e nao de uma delas isoladamente” (SANTOS, 2004, p. 265). Paralelamente, sabemos que hé distintas formas de mandar e de se fazer obedecer. Um acampamento de sem-terra, por exemplo, pode representar, mesmo empregando expedientes que contrariam a legislagio vigente, a qual proibe a ocupagao, um Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 ans: ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, espago que consegue emanar ordens e utilizando de diversos expedientes aceitaveis ou nio, legais ou nao, em determinados momentos revela-se um espago que manda ¢ dos demais espacos exige obediéncia. A andlise que se pode fazer, entfio, é que ha distintas formas de mando e de obedigncia e esses papéis podem modificar-se na dinimica espacial de acordo especialmente com os interesses e necessidades econdmicas e cultura. Na logica espacial centro-periferia, nem sempre os centros sio mais densos, fluidos, rapidos, luminosos e de comando. Da mesma forma, as periferias nao seriam necessariamente aquelas mais rarefeitas, viscosas, lentas, opacas e de obediéncia. Deve-se reconhecer que hi espagos em que esses aspectos coincide, mas as forgas centrifugas que espalham e as forcas centripetas que atraem os elementos, atribuindo-lhes essas rugosidades, nao se mostram linearmente e menos ainda de forma homogénea ou previsivel. Numa anélise sistémica, ha uma manifestagio geral de centros e de periferias, mas analiticamente fervilham peculiaridades e contradigdes — os espagos horizontais (SANTOS, 2001) - onde imperam geralmente as resisténcias e também as alternativas. ‘As combinagdes locais das varidveis resultam dos fluxos antigos ¢ atuais transformados por cada arranjo peculiar (SANTOS, 2008, p. 259-260) que na escola sio apresentados sob o formato de conceitos como orientagdo, escala e representagio que a seguir analiso mais detalhadamente, Orientagao, escala e representagio na ressignifieagao dos conhecimentos Para analisar 0 aprender, considerando a orientagiio, a escala e as representagdes mentais e grificas, € importante ter presente as possibilidades de rugosidades em. densidades e rarefagdes das proteses espaciais reveladas em cada local que vemos, imaginamos, lemos ou interpretamos graficamente. Olhar em escala sistémica, na perspectiva proposta por Boaventura Santos (1988), permite compreender a percepcao abstrata das formagdes, 0 que ¢ importante na organizagao do espago, para sua compreensio ¢ reflexio sobre como os sujeitos se movimentam nele, Na percepedo sistémica, em pequena escala hi o perigo de as relagdes representacionais se cancelatem mutuamente. Isso porque, na totalidade, ficamos sem referéneia com a realidade. No todo/global, a vineulagao como real e local pode distanciar- 9 Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 ons: ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, se muito, exigindo sempre uma sistematizac&o para ocorrer identifieagdo ¢ atribuir sentido a0 sujeito ‘No que diz respeito ao analitico, o detalhe que Milton Santos (2001) percebe como espago horizontal (cotidiano, residencial e heterogéneo) em oposic¢io ao vertical (empresarial, transnacional e homogéneo), & possivel perceber onde e como residem as agdes significativas, determinantes © concretas da vida. Podemos pensar que a horizontalidade ¢ relativa a vida comum, que também emana poder decisério pela sua coneretude da grande escala cotidiana, Para a compreensio da grande escala, é possivel pensi-la como uma subdivisio, uma cisio, um esfacelamento chegando & cidade e ao lugar. Na decomposigdo esta o “trago mais caracteristico do conhecimento” (SANTOS, 2004, p. 94-95). Assim, pensar esse espaco, considerando suas rugosidades, dependéncias, luminosidades e opacidades a partir das categorias espaciais de andlise, ¢ uma alternativa que pode facilitar esse proceso na educagio geogrifica. Essas andlises das rugosidades espaciais sio importantes © proprias para serem entabuladas pela Geografia escolar porque discutem a construcio das concepcées representativas de espago. Essas elaboragGes se relacionam com os conceitos que escolhi para esta discussio, ou seja, a situagao e localizagao, a escala ¢ as proprias imagens mentais, € as representagdes generalizadas apresentadas pelos mapas grificos. Nesse cenatio, Boaventura Santos (1988) chama a atengao para o fato de que “para ser pritico um mapa no pode coineidir ponto por ponto com a realidade (...) 0s mapas distoreem a realidade através de trés mecanismos principais: a escala, a projegiio e a simbolizagio” (p. 143). Ou seja, o mapa que nos auxilia na educacdo geogrifica para a construgio das representagdes de ugar e de mundo tém eritérios e codificagdes que, obrigatoriamente, devem ser levados em conta Pelas limitagdes e possibilidades que a percepgao das rugosidades espaciais e das construgdes na escola apresentam, entendo que a orientagio espacial e as diferentes escalas de anilise para as compreensdes das representagdes mentais e grificas sao conceitos fundamentais na educagio geogrifica. Por isso defino como conceitos relevantes, pois, exigem, prospectivamente, habilidades essenciais a formagdo integral dos sujeitos estudantes porque os levam as abstragdes e generalizacdes. 10 Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 sons ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, A relevancia dessa apreensio conceitual na escola reside na possibilidade de construir conhecimentos ¢ competéncias relacionadas com o senso de localizagao nos espacos reais e também nas representacdes mentais e graficas. E a capacidade de se movimentar no apenas fisicamente, mas também ter conscigncia da situagdo em Ambitos diversos da vida social, econdmica, cultural e politica. ‘A capacidade de perceber e pereeber-se no todo sistémico pode ser compreendida uma vez que se reduza a escala e se escolham simbolizagdes que mantenham a sua esséncia, Perveber a parte analitiea ou a grande escala permite a ampliagio da quantidade ¢ qualidade das informagdes sobre elementos e agdes porque possibilita a anilise de uma érea de abrangéneia menor, porém mais detalhadamente, Boaventura Santos (1988) nos convida a entender essa importancia escalar ao discutir a cartografia do Direito ‘A legalidade da grande escala é rica em detalhes, descreve pormenorizada e vivamente os comportamentos ¢ as atitudes, contextualiza-os no meio envolvente ¢ sensivel as distingdes (e relagdes complexas), entre familiar ¢ estranho, superior ¢ inferior, justo e injusto. (...) a legalidade em grande escala é pobre em detalhes e reduz os comportamentos ¢ as atitudes a tipos gerais abstratos de agio.(..) por outro lado, determina com rigor a relatividade das posigdes (os angulos entre as pessoas ¢ entre as pessoas e as coisas), fornece diregdes e atalhos e, & sensivel as distingdes (¢ as complexas relagdes) entre parte e todo, passado e 153). presente, fimeional e disfuncional (p. 1 Podemos perceber que a analogia do autor com o Direito, na vida real, diz respeito as capacidades que podem ser acionadas permanentemente para 0 processo de orientagao, situagio e localizagio nos contextos social, politico, econémico e cultural, entre outros, para além e aquém das meras dimensdes e areas fisicas. As representagdes requisitadas pelo sujeito quando da sua agao sdo essenciais aos seus planejamentos ¢ movimentos. ‘A anilise em escala (escala grande quando se refere ao local e escala pequena quando se refere ao regional/global) oportuniza também uma reflexdo sobre o particular e 0 coletivo, o simples ¢ 0 complexo, 0 perto eo longe, 0 préximo e o distante, 0 antigo ¢ 0 recente, 0 interno € 0 externo, o conhecido ¢ 0 desconhecido, 0 maior e 0 menor, 0 il Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 amis ‘06/07/2021 POF js viewar Conceitos fundamentais nos processos de aprender geografia. ‘Adriana Maria Andeis, sequencial ¢ o simultineo, o anterior e o posterior, o horizontal e o vertical, o simples ¢ 0 complexo, entre outros graus, niveis ¢ instancias de complexificagdes possiveis. Aprender implica ressignificar, ou seja, atribuir um sentido outro ou novo que modifica a postura do sujeito aprendente. Chamo a ateng3o para o obsticulo epistemologico a que Bachelar (in LOPES proprio pensamento” (p. 45). Trata-se de um risco iminente na Geografia que tem na 2007) se referia aos “pontos de resisténcia do pensamento a0 espacialidade seu objeto de estudos, porque ha uma tendéncia “A razo acomodada ao que J conhece, procurando manter a continuidade do conhecimento” (p.45). A familiarizagio com os objetos e agdes cotidianos pode redundar em resisténcia a uma ressignificagao, o que constitui 0 obstéculo epistemolégico. Sto movimentos do pensamento como uma “fionteira do poder que lateja sob 0 poder das fronteiras” (ANDREIS, 2009, p. 16). E importante estar atento a essa limitagdo que realizaria 0 caminho oposto da educacdo escolar que visa possibilidade de atribuigdo de significados outros ¢ de relagdes para prospeccdes a sentidos outros, diferentes e novos aos jé aprendidos. Dizendo de outro modo, aprender supde a incorporagao de uma compreensio até entao aceita com um formato em um nivel de abrangéncia mais restrito espacial ¢ temporalmente: entendimento ainda dependente em maior grau de concretude, de proximidade, de experigneia e de exemplificagdes. Esta pode ser comparada com a grande escala nos mapas: rica em concretude porque mostra um ftagmento da realidade, com elementos facilmente relacionéveis com a vida. ‘Uma apropriagao intelectual de nogdes que vém acrescidas de um sentido mais abrangente, de uma sempre maior generalizagdo, é caracteristica de um nivel superior de pensamento. Este é sempre mais codificado simbolicamente e sempre mais abstrato. Aqui é possivel estabelecer um paralelo com a pequena eseala do mapa: representa uma Area abrangente, exige escolhas temiticas e cddigos, é rico em abstragio e pobre em experiéneia. Por isso, na escola, niio se trata de meramente orientar-se fisica e espacialmente por meio de elementos naturais (Sol, Lua, Cruzeiro do Sul, Estrela Polar) ow instrumentos antificiais (bissola, GPS — Sistema de Posicionamento Global, mapas). Igualmente, no trabalho com o coneeito de escala, espera-se que se vi além da formula para exercitar 0 céleulo matemético da distancia real (D), da distancia grafiea (4) ou da propria escala (E) gréfiea ou numérica. E, no trabalho com as construgdes de imagens mentais e com a 2 Revista Geogritica de America Cental, Nimero Especial EGAL, Ato 2011 15.2563 Iitpsslwwrevistas.una.2c.crindex.phpigeosraficalarticleview' 2787/2685 sans

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