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“Capitulo? DA REVOLUCAO INDUSTRIAL A COPENHAGUE Neste capitulo, abordaremos as seguintes questoes: = Por que. Revolugdo Industrial foi um divisor de dguas na evolugao das relagdes entre homem € meio ambiente? Que temas ocuparam o debate ambiental da primeira metade do século XX? Por qué? Por que a Conferéncia de Estocolmo revolucionou as discussées sobre o meio ambiente? Qual foi a principal contribuiggo do Relatorio Brundtland? Qual foi o impacto da Eco-82? Quais 0s principais pontos do Protocolo de Quioto? O que significa MDL? Quais foram as principais contribuigdes da Conferéncia de Copenhague? Por que ela é alvo de criticas? iguwieaam SE | | Introdugéo Como voce viu no Capitulo 1, a ago predatéria do homem sobre 0 meio ambiente no é novidede, Os pesqusadores Alexandre Shigunow Neto, Lucia Campos ¢ Tatiana Shigunov {2009} contam que hé mithares de anos os sumérios pagarSM ‘caro pelo uso inadequado do volo, Trabalho arqueolégicos na Mesopotamia mostram ave i hnabitantes acompanha- fom apreensivos sua terra ficer cada vez mais brance, dla pds dia, O que para eles devia ser vim astro € um welho conecido dos cientistas de Moje: salinizagao, fruto das intensas tvadages agricola na regio. Com os antigas nativos do México € dos paises da America Central nao foi diferente. Evidéncias historicas apontam ° ‘assoreamento dos rios € 2 erosdo do solo como os principals responsaveis pelo decliio dos rail — coutra grande civilizagao que nd ficou imune 2s consequéncias da depredaGio ambiental, ‘Aruina dos sumérios ¢ dos maias é um alerta importante pare ® sociedade contempor’- nea, Herder da miopia desses poves antigns @lnomem atval ainda no mudou sua posture em relacao ao ambiente. Ecomum que setores da economia como a industria 2 agriculture: vejam a preservagdo como uma pedra no sapato, ignorando sua dependéncia do meio am- piente. Este € um engari fatal: 0 que seria da agricultura Sem © solo Fertil? O que seria da snalistria sem a matériaprima e as fontes de energia? For eausa da diminuigBo na disponibilidade dos recursos € d= aceleracao dos proble- amas amientais,o debate sobre @ natureza no parou de cresct 18 litimos tempos. Nao fal toa: introdugao da maquina e os efeitos da produgdo em larga escala deram uma ‘yelocidade inédita & exploracao do meio ambiente, despertando a preocupacso com 0 fun eds recursos natura © do proprio planeta Neste capitulo conheceremos a evolugaa da questo ambiental, passeando peas paginas da historia desde a Revolucéo Industrial até 0s dias de hoje. Aevolucio da questo ambiental ‘A subistencia do homem sempre dependeu dos recursos naturals 52 volta, Ao longo da bistro, a exploragdo do meio ambiente contibuil para o aPA9 e para 0 declinio de grandes civilizagdes. Por conta dessa forte interdependéncta, 0 debate ambiental ganhou aibidade aos poucos, trazendo diferentes visbes sobre 0 desenvolvimento e @ conservaggo da natureza. Durante milhares de anos, o homem argumerntou que destula O TE ambiente para bter os recursos indispensavels 8 sua subsisténcia. Hoje, cient mostram que a propria norevivencia da humanidade esta em xeque por causa de exploragao desenfreada. Jé nao vesta outra saida:a preservacao da nossa especie depende de ume mudange radical praticada ha miléniosa agricultura sempre produziv impacts rnegativos sobre o meio ambiente. 0 desmatamento € a desertficagao do solo promovidos por nossas ancestrals so prova disso, Porém, ndo se pode negar que foi o avango tecnolégico que impés um novo ritmo a acdo predatoria, Foi sé a partir da industrializago que os cientistas comega- ram a se articular para discutir os efeitos da poluigdo € os inumeros problemas socioambientais causados pelo novo modelo de produsao. Iniciada na Inglaterra, 2 Revolugao Industrial foi um divisor de dguas na histéria da humanidade. Ela transfor- mou arteséos em proletérios, ambientes domesticados em artificiais, subsisténeia em salario, imprimindo uma drastica mudanga na organizacao social. Além das transformagoes Socioeconémicas, a Revolugéo Industrial também intensi- ficou problemas ambientais, acelerando a extracdo dos re- cursos naturais. A introdugio das méquinas nas fébricas modificou Profundamente as relagdes de trabalho. O artesdo, antes in- dependente, tornou-se assalariado € perdeu o controle so- bre 0 fruto dos seus esforgos. Criancas, mulheres homens amontoavam-se nas indistrias sob condicdes desumanas. A ganncia dos poderosos parecia nao ter limites, atropelando questées sociais e ambientais. Alids, os donos das industrias Pouca se impartavam com esses temas: eles eram apenas entraves 20 progresso. Os intelectuais n8o ficaram alheios 20 que acontecia nas fébricas. Surgiam no final do século XVIII os primeiros socialistas, defensores de um planejamento social justo € igualitirio, 48 a comunidede cientifica passou a se interessar mais intensamente pelas questdes ambientais. Preocupados com a falta de freio do progresso tecnolagico, os cientistas argumentavam que era necessério estabelecer areas intocé- veis, onde @ ado transformadora do homem Fosse bloquea- dda. Nasciam, assim, 0s primeiros santudrios ecoldgicos, como © Parque Yellowstone nos Estados Unidos, criado em 1872. © desaparecimento de muitas espécies também mereceu ‘uidados. Apesar de insuficientes, algumas medidas foram tomadas. José Carlos Barbieri (2007) conta que o século XIX trouxe o primeiro acordo internacional sobre o meio ambien- te: assinado em Paris em 1883, ele tinha por objetivo prote- ger &8 focas do mar de Behring ‘Quando falames de poluigao, estamos nos refrindo de _radagd0 do meio cmbiente ‘ousad pela agéo humane, ‘xistem. diversas. formas de ‘polr-quandoo home deixa ‘materias ndo biodegradéveis ‘na natureza ~ como residues industriois © embalagens — le est poluindo. A poluigdo também & provecodo pela i= beracdo de energia sob a for ‘mo de luz, color ou som, por ‘eremple Por sso, hoje em dia sefalamuito em aiversos tos de palugao, coro. sonora, 0 hioriea © a ctmosféica. As chives écides, a aceleracdo do-ceito estufo eo contam- ‘nogto derios ages sao ape ‘ngs algumas consequéncias desostrosas dapoluieao, A instriokizagdo precoce da Inglaterra noo trouxe $6 pro- ‘g1esso econdmica‘o pals tam ‘8m fot 0 primeio 0 relatar (problemas ambientois. Noo de se estronhor; final, suas indistries e residéncias uti. Zavam carudo para a geragdo de enerai. Veja © que aconte- ‘ce em Londles em dezembro ‘de 1952: pora enffentar uma Torte frente fe, 2s ondkinos queimaram mois carvio que de costume. Fs ignoravam (que-a masso de or fio € 0 au- ‘mento da polugdo formariam uma combinagdo desostoso, ‘causondo uma grave inverséo (éimica—fendmene que ocor- re todo vez que a masso de ar quenteretida nas altitudes im- 0 movimento embientalista s6 ganhou um novo impul Trochcoleimbedspese, | $0.70 pés-querra. Apés um século de paz, o mundo assist Tmo quandoa masa dearfio | COM pavor 2s duas grandes guerras. As bomibas nucleares esa junto ao solo esti ea | lancadas contra Hiroshima ¢ Nagasaki, em especial, ndo dei- ‘egoto de poluents foeodes | xavam duvides: 0 desenvolvimento técnico tinh conferido ppd queima de combustie=9° | 30 homem um poder destrutivo sem precedentes. Endo pa- FREE renee | rou por ai. Durante as décadas da Guerra Fria Estados Uni Fe || cose Unita Sovitticaarmaramse at os dents ostntando ogee ana Conhecdo como | arsenais bélicos suficientes para destruir 0 planeta inteiro, -snoglsriote-+feg\ anevosio | vérias vezes. Como era de imaginar, a cortida armamentista ee alarmou no apenas os estudiosos, mas toda a populago Cocdocoersptutsies | mundial. 0 debate ambiental, antes restito ds camadiasinte- ‘Nos tftinas decodes 0 por | lectuais, ganhou a atencéo de todas 2s classes, tornando-se Inia do or na cidade de Sio | um assunto do dia a dia. Fuulo tombém atngia nies Influenciados pela crescente pressio social, os gover- virial stveccneme, | 05 néo ignoraram esses alertas. Com a chegad do século veseaschamnésdostibreas | % diversos acardas buscaram mitigar os efeitos nocives da A investo térmico faz virés | ago humana sobre a natureza. Para o professor de geografia vlimesnoinveino,quandooar | Wagner Ribeiro (2001), a evolucéo dos acordos intermacionais macospolientescomprorme- | sobre o tema pode ser dividida nas trésfases que vocé conhe- ema satide des paulstoros ee cerd a seguir. Primeira metade do século XX Embora a maior parte das Américas jd estivesse livre do dominio politico europeu, mui- 10s paises africanos ¢ asiticos chegaram ao século XX na condigéo de coldnias. Em busca do {ero fécit proporcionado pelos territérios conquistados, as metrOpoles os exploravam sem rnenhuma preocupacso com os danos socioambientais resultantes, ‘As poucas iniciativas para frear a depredacio vieram da parte das prdprias metrépoles europeias; contudo, como pereeberemos a seguir, o objetivo nao era assegurar a preservago ambiental em si, mas sim garantir que a expioracao permanecesse viivel no futuro, &m 1800, Por exemplo, a coraa inglesa convocou as demais poténcias que mantinham col6nias na Afri- ca — Alemanha, Bélgica, Franca, Itlia e Portugal ~ pare uma reuniao em Londres, Conhecido como Convencao para 2 Preservacdo de Animais, Pssaros e Peixes da Aftica, o encontro criou Calendérios que estipulavam periodos para a caga no continente africane, evitando que a ex- tingo das espécies inviabilizasse essa prética no futuro. Dois anos depois, o uso excessivo das espingardas foi combatido, novamente, na Convengao para a Protecdo de Passaros Uteis & Agricultura, Em 1923, Paris sediou o | Congresso Internacional para a Protego da Natureza, paleo de amples discussées sobre a preservago amiblental. Na ocasiao, também se fizeram ‘ouvir as primeiras vozes a favor da criacdo de ume organizagao para a protecéo do meio am- biente. Nao demorou muito até que as metrépoles imperialistas negociassem um novo acordo: em 1933, a Convengéo para a Preservagéo da Fauna e da Fiora props a preservacéo de animais e plantas do territério africano, eriando areas de preservagéo ambiental no continente. 0 inicio do século XX deu os primeiros passos rumo a discusséo multilateral, que se in- tensificou com 0 passar das décadas. No entanto, os acordos & énoca ficaram muito aquém de uma preservagao eficaz. Apoiados em uma visio precaria de meio ambiente, 0s governos bus- cavam conservé-lo apenas pare garantir a manutencdo de atividades econémicas. Por iss0, a protecao da natureza ficava limitada a determinadas espécies consideradas “iteis’ No existia ainda uma preocupacéo genuine com os efeitos do desenvolvimento sobre a natureza.Alids, a propria nogéo de desenvolvimento era bem diferente da atual: interpretada coma sinénimo de industralizagdo, ela ignorava por completo questdes de carater socioambiental Problemas ligados & desigualdade social erarn negligenciados, pois se acreditava que 0 progresso tecnolégico traria todas as solugtes. Era assim que pensava nosso ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, por exemplo. Dono da receita do "milagre econdmico" brasileiro, ele acreditava que era preciso “fazer o bolo crescer para depois reparti-lo: Ao contrério do pre- visto, 0 "bolo” brasileiro cresceu, mas 0s pobres jamais receberam sua fatia, O modelo chinés nao foi muito diferente: @ China transformou-se em uma grande poténcia econdmica, mas ndo deixou de abrigar profundas disparidades sociais. Deixada de lado, a questo ambiental ficou jonge de protagonizar os debates na segunda metade do século XX. Afinal, que tema poderia disputar a atenco da midia com a queda de bra- go entre Estados Unidos e Unio Soviética? Acontecimentos como a querra das Coreias ¢ a crise dos misseis cubanos roubaram a cena, inibindo 2 popularizagéo de assuntos ligados & natureza, Enquanto isso, o mundo assistia apreensivo as chuvas dcidas, a0 aumento da poluiggo atmosférica e a0 comprometimenta das reservas hidricas. No final dos anos 1950, um acidente ecolégico de grandes proporcdes veio a tona ria cidade japonesa de Minamata, Durante muitos anos, a fébrica de produtos quitnicos Chisso despejou mercurio na bata de Minamata € no mar de Shiranui, contaminando peixes consumidos pela populacéo local. O envenenamento pela substéncia téxica provocou 0 que ficou conhecido como a doenca de Chisso Minamata, uma sindrome neurolégica que podia se manifestar soba forma de deficiéncias na fala e na audicao, peralisia fraqueza muscular, dorméncia nas mos € nos pés e — em casos mais graves — causar a morte. O merciiria fez centenas de vitimas em Minamata desde @ década de 1930, mas 0 governo e a fébrica preferiam fazer vistas arossas,ignorando o nlimero de mortes por envene- ramento na regio. Gracas as pressbes de ambientalistas, o governo japonés admitiu que mais de mil pessoas morreram por causa do despejo da substincia téxica, estipulando os valores das indenizagdes que a Chisso deveria pagar em 1959, Pouco tempo depois, em 1962, a cientista Rachel Carson publicou o best-seller Silent Spring (publicado no Brasi| como Primavera silenciosa, pela Editora Gaia, em 2010), que pela primeira vez chamou a atencéo para a utilizacaa indiscriminada do pesticida DDT, conforme Ja vimos no Capitulo 1. Nao demorou para que outros especialistas bradassem gritos de alerta com previsdes funestas sobre o meio ambiente. Conforme também mencionado no Capitulo 1, em 1968, cientistas, politicos e outros intelectuais fundaram 0 Clube de Roma com a objetivo de estudar diversos temas, como politica e economia, entre outros. Para entender os problemas ambientais, o Clube de Roma contratou ume equipe de pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT). \nspirados pelas ideias de Thomas Malthus, eles produziram 0 Relatério Meadows ou Os limites do crescimento (The limits of growth), em que pregavam a necessidade de frear 0 rescimento populacional e econémico, Apelidada de Tese do Crescimento Zero, 2 proposta ‘neomalthusiana desses estudiosos indicava a paralisagao do desenvolvimento como unica alternativa ao esgotamento dos recursos naturais. Na época, as principais conclusdes do estudo foram estas: = Seas tendéncias correntes de industrializagao, poluig2o, produgdo de alimentos, di- minuigéo de recursos naturais e crescimento populacional forem mantidas, 0 pla- neta chegaré a0 limite nos préximos 100 anos. O resultado seré um declinio subito incontrolével, tanto da populace quanto da capacidade de producdo industrial E preciso mudar essas tendéncias de crescimento e formar uma condigao de estabi- tidade ecolégica e econdmica que possa ser mantida até um futuro remoto, Oestado {de equilbrio global podera ser planejado de modo que as necessidades materiais ba~ sicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas,oferecendo-se oportunidades iguais Para que todos realizem seu potencial humano individual Para 0s pesquisadores do MIT, @ populace do mundo precisava remar contra a maré, combatendo as tendéncias entdo vigentes de crescimento populacional e econémico, Quan. {0 mais cedo ela comecasse a trabalhar para aleangar resultados, maiores seriam suas pos- sibilidades de éxito. De acordo com a cientista social Samyra Crespo (2008), as décadas de 1960 e 1970 também marcaram o despertar brasileiro pare os problemas ambientais, Apesar de timidias, as primeiras discuss6es sobre a poluigdo do ar em Sao Paulo apresentaram 20 nosso pais 0 lado negative da téo almejada industralizacéo. Em 1968, a Unesco, brago do conhecimento da ONU, organizou em Paris uma confe- Fencia de especialistas sobre biosfera. Das discussées realizadas resultou 0 consenso sobre 2 inevitével interdependéncia entre humanidade e natureza, Caberia 20 homem, portanto, éncontrar 0 ponto de equilforio entre o suprimento da sua subsisténcia eas necessidades do meio ambiente. Como resultado, a questao ambiental comecou a se infiltrar em diferentes palses e cultures, tornando indispensavel a sua discussao no ambito das Nagdes Unidas. Conferéncia de Estocolmo e seus desdobramentos ‘A Conferéncia de Estocolmo representou uma verdadeira ruptura com as visées tradicio- nais de meio ambiente. Seu impacto foi to grande que ¢ comum dividir a evolugdo do debate ambiental em antes depois de Estocolmo. Nao € para menos: a capital sueca produziu em 1872 as primeiras reffexdes sobre os reveses da industralizagdo. Em vee de abordar apenas 3 Protecao de algumas espécies, a discussdo tomou proporgées muito mais abrangentes,trazen- 08 tone aspectos politico-econdmicos e suas consequéncias sobre a natureza, ‘Aconferéncia sueca também atraiu um piblico diferente das demais convenes — em vez de eunir somente 8 comunidad cientfica, Estocolmo recebeu representacdes diplomaticas de slferentes paises. Gracas 8 sua veia politica, «conferénc's conseguiu aprover a Declarago sobre 0 Melo Ambiente Human, documento que ineluia 110 recomendagSes € 26 principios. A diretrizes abragadas em Estocolmo criaram um plano de acdo para os paises e suas relagbes internacionais, oferecendo bases s6lidas para a preservagdo ambiental em nivel mundial 0 consenso atingido em Estocolmo langou os alicerces para documentos posteriares, despertando os Estados para os problemas ambientais, Porém, como o contexto internacio. ‘nal ndo favorecia a imposi¢ao de regras, as recomendacdes elaboradas na Suécia néo tinham forga de lel Preocupados com a exploséo de uma nova guerra mundial, muitos paises nao aceitaram abrir méo dos recursos naturais necessérios ao seu desenvolvimento téenico. Por 'ss0 mesmo, 0 21° principio da declaragéo sueca ass¢gurava 0 direito soberano dos Estados Ge explorarlivremente as fontes de matéria-prima em seus terrtdrios, desde que outros no fossem prejudicados. aaa i & _ | EmBtocoima postura ter lem do forte apeo soberanista, a Conferéncia de Es- | aaumni Ate {ocolme também ficou marcads pelo confronto entre dois | sexed iter degarene dee blocos. De um lado, os paises desenvalvidos defendiam a | de poma Indra Goran cero intocabilidade do meio ambiente. Do outro, Estados sub- | iniustoprjudearo senior desenvolvidos rejeitavam qualquer tentative de privé-los | wimento des paises penfveos 0s beneficios da era tecnolégica. Assolado por problemas | &™ named natureza Em vez Heo. | 80,0 erimera-ministo ore fomo. fone, mistria ea falta de saneamentc,o Tereiro | ana nupere asia Mundo via na industializagdo sua tnica saida. Nao é de | Stpuncupueepateroaus estranhar, portanto, que as propostas neomalthusianas de | peuipdes crescimento zero nao tenham agradado aos chefes de Es- tados periféricos Preservagao versus conservagao 0 conflito entre paises periféricos ¢ desenvolvidos fragmentou ainda mais o mundo bipolar da segunda metade do século XX. Além da disputa leste-oeste protagonizada por co- Imunistas € capitalistes, 0 confronto norte-sul no 4mbito das Nagdes Unidas impossibiitou © consenso nas discussbes ambientais. Enquanto o grupo desenvolvido defendia a postura preservacionisto, as nagées periféricas sugeriam 0 conservacionismo, ‘Apesar de usados indiscriminadamente, os conceitos de preservagéo © conservagao so muito diferentes. Adotar medidas preservacionistas pressupée proteger a intocabilidade da fatureza, proibindo a acao do homem sobre o meio ambiente. Apoiado em teses neomalthu- sianas, o norte sugeria que nao era mais vidvel depredar os recursos naturais sob o pretexto de alavancar 0 desenvolvimento, Para os paises pobres, o bom-mocismo dos ricos era, na verdade, um golpe alo: co suas reservas naturais jé eram escassas, eles empurravam para as nacées do sul, detentoras termo dioxina descreve um ‘grande’ gripo de compostos ‘rgénicos, dos quois 0 mais conhecido é 0 237,8-tetra- clorodibenzo-p-dioxino, ou TCDD. “Pesquisas tém mos- trado que esses compostos ‘100. ceorrem naturelment; ‘to frutosprincpolmente da ra industrial, em especial no séaulo XX formados. como subproduto nao. intencional de varios processos envolven- doo cloroou substancias ou ‘materiais que 0 contenham, comma a produpto de overs proditas quimicas, em es- pecial os pestis, bronque ‘mento dé pope! celuiase incineragdo. de resiuos,in- céntias processos de comous- 0 incineragao de residuos de servigas 6 salle incinera- 0 de urbana, ncineropdo ae residuos industria ve culos cutomotores|e outros’, -explicam os professores Jodo de Assungao e CéfaF.Fes- quero (1999, p $24), Adoxa TCDD, em porticvay é0 subs- tncia mais téxca produaica ‘pelo ser humano, Além de ter ‘provacado 0 desaste de Se- ¥e30, aJCDD tornou-se triste- ‘mente famosa por sero pin cipal componente do Agente Toran, arma quimieo uscda ‘na Guerra do Viet, e, mais fecentemente, por ter sido 0 veneno empregado em 2004 ‘emumatentado contra Viktor Yshchenko,condidato& pre- sidencia da Uerbio. da maior parte da massa florestal do globo, a respansabilide~ de de preservagao em larga scala. Dessa forma, o "zerismo" advogado pelo Clube de Roma congelaria as desiqualdades mundiais, propondo no apenas a estagnacdo demografica, mas também 0 fim do crescimento econémico, Para os nea- malthusianos, 2 defesa da exploragao dos recursos naturals rndo era coerente com as necessidades de preservacéo do meio ambiente, colocando em risco a sobrevivéncia das pro- ximas geragoes, Como alternativa & preservacao, 0 sul defendia o idea de conservacio. Diante da inevitavel necessidade de desen- volvimento, eles dependiam da exploracao dos recursos na turals para garantir a expansdo das atividades econdmicas. ‘Ao mesmo tempo, os paises pobres prometiam que sua ago sobre o meio ambiente se daria em bases responsavels, Criagio do Puma ¢ da CMDMA e publicacao do Relatério Brundtland Apesar das controvérsias, os conferencistas de Estoco!- imo deixaram um importante legado, produzindo uma no viséo sobre os problemas do planeta, Entre os resultados da reunio, destaca-se a construgo de um organismo interna- cional para debste da gestao ambiental — 0 Programa das Nagées Unidas para 0 Meio Ambiente (Pruma). Até as ins- tituigdes financeiras foram convidadas a participar: o Ban- co Mundial e © Banco Interamericano, por exemplo, envol- veram-se com @ questio ambiental, financiando iniciativas ecologicamente corretas ao redor do mundo, Diversos acontecimentos nos anos 1970 fortaleceram ainda mais o ambientalismo. Em 1972, a Holanda lancou o pri- rmeiro selo ecolégico, Quatro anos depois, 2 pequena cidade italiana de Seveso atraiu os olhares da migia intemnacions!: 05, tanques da indistia quimica ICMESA romperam, contaminan- do 1.800 hectares de terra com a dioxina TCDD. Estima-se que 115 mil animais morreram, € outros milhares foram secrifica- dos para que a substéncia nao entrasse na cadela alimentar Em 1978, a Alemanha criou o selo ecoldgico Anjo Azul (Blauer Engel, destinado.a rotular produtos “ambientelmente cortetos”. Desde enti, boa parte do povo aleméo aderiu ao selo e passou a dar preferéncia a mercadorias cuja utilizagSo ou descarte nao agrida a natureza. A mudanca no perfil de com- pra dos alemaes pressionou as empresas, abrigando-as a obedecer és novas regras do jogo. ‘As Nagdes Unidas também deram mais alguns passos. £m 1983, era criada a Comisséo Mun- dial para o Desenvohimento ¢ Mcio Ambiente (CMDMA), com um desafia quase intransponivel pela frente: conciliar interesses ecandrnicos e ambientais. Quatro anos apds seu nascimento, a comisséo j dava seus primeiros frutos. Sob a lideranga da primeira ministra da Noruega Gro Brundtland, produziu-se o relatério conhecido como Nosso futuro comum ou simplesmente Re- ‘otério Brundtiand, no quel foi cunhada a expressao desenvolvimento sustentdvel. 0 novo con ceito designa uma forma de promover atvidades econémicas sem comprometer 0 atendimento as necessidades das geraces futuras, como explica José Carlos Barbieri: O desenvolvimento sustentavel resultaria, portanto, de um pacto duplo,um pacto integracional, ue se traduz na preocupacdo constante com 0 gerenciamento ¢ a preservagao dos recursos para as geragdes futuras, ¢ um pacto integracional que se expressa nas preacupacées quanto 20 atendimento as necessidades basieas de todos os humanos. (2007, p. 37,) Embora ndo sugerisse o congelamento da industrializagao, 0 relatorio nao poupou eriti- ‘cas 20 modelo de desenvolvimento dos paises ricos. Nao deixou, também, de avisar as nagdes. pobres sobre a impossibilidade de imitar o mau exemplo, Apesar de seu foco ser o meio ambiente, o texto ndo ficou alhelo 2s mazelas do Tercei- ro Mundo. Dotado de uma visdo abrangente, 0 Relatério Brundtland defendia a conserva- ‘¢20 ambiental aliada & melhoria dos indices socioecondmicos. De acordo com a CMDMA, 0 desenvolvimento sustentavel apoiava-se no seguinte tripé: equilibrio ambiental, equidade social e crescimento econdmico. Na década de 1990, esse tripe da sustentabilidade inspirou © pensador britanico John Elkington, que cunhou a expresso triple bottom line. Sequndo Eikington (2001), o desenvolvimento saudvel nao pode abrir mao dos aspectos econdmicos, sociais e ambientais (profit, people e planet, como vacé vé na Figura 2.1) — ingredientes in- dispenséveis do progresso duradouro. [GUAM 0 vine ce sstentatitdae: peop ro planet (ELKTON, 2001) A questo do ozénio: protocolos de Viena e Montreal Nos anos 1980, @ descoberta de um "buraco" na camada de ozGnio sobre @ Antartida deu mais forga aos alarmes cientificos. Essa décade trouxe debates mais profundos sobre o tema, ue conduziram a realizaczo da Convengo de Viena sobre a Camada de Oz6nio, em 1985, A preocupacéo da comunidade cientifica nao era exagero. Embora 0 azénio seja té- xico na biosfere, ele € indispensdvel & vida das espécies, Concentrado na estratosfera, camada entre 15 km e 50 km da superficie, 0 oz6nio envolve o planeta, funcionando como. um verdedeiro “filtro solar natural’. Veja como 0 professor José Carlos Barbieri explica a importncia desse gas: ozdnio estratostérico, produzide naturalmente pela aga dos raios solares sabre as moléeulas, de oxigénio, forma uma camads, dat a expresso camada de ozinio, que envolve a Terra ea protege das radiagées ultravioleta do Sal. 0s rains ultravioleta (UV), com comprimenito de onda de 280 a 320 nandmetros, denominados UV-B, so prejudicias aos seres vivos, pois estes ndo. desenvolveram defesas naturals contra estas radiagdes devido a sua auséncia durante milhOes de anos, aracas & fungi de filtro desempenhada pela camada de ozénio, (2007, p. 45) As emiss6es de clorofluorcarbonetos, popularmente conhecidos como CFCs, sio as Grandes culpadas pela reducao dessa camada protetora, Produzidos comercialmente des- de a década de 1930, esses gases estavam presentes em aerossbis,solventes industriais ¢ equipementos de ar-condicionado, Inicialmente, os CFCs foram bem recebidos pelos espe- Cialistas, que os viam como boa alternativa as substancias corrosives ¢ inflamaveis usadas até entao, Nao se sabia a época que o aparente milagre da industria quimica se revelaria lum tiro pela culatra: aparentemente inocentes, os CFCs destruiam a protecao de ozénio 20 chegar & estratosfera, 0 desgaste da camada provaca diversos efeitos nocivos. Entre eles, destacam-se as doencas de pele, como 0 melanoma, cancer causado pela exposieéo intensa aos raios UV-B. Mais do que simplesmente destruir um recurso natural, a reducéo desse importante filtro lesa o conjunto dos seres vivos, inclusive o homem. Anesar da urgéncia do tema, as discussées na Austria, em 1985, produziram apenas declaragées vagas, desprovidas de prazos ou metas para diminuir as emissdes dos gases CFC. elo menos, 05 paises signatérios do Protocolo de Viena assumiram o compromisso de se empenhar no combate 8s emissées. Assinado dois anos depois, o Protocolo de Montreal superou as fragilidades da Con- ‘vengao de Viens. Ao contrario do acordo austriaco, o protocolo canadense propés metas de reducao drastica das emissdes de CFC com vistas & sua completa eliminacgo, 0 ano de 2010 foi escolhido como prazo final para a erradicagao dos CFCs nos paises em desenvol- vimento. Apesar de no terem banido completamente o uso dos gases nocivos, as nagées signatarias implementaram as medidas de forma muito satisfatéria, reduzindo brusca- mente as emiss6es. 0s resultados do Protocolo de Montreal foram zcollridos com entusiesmo pelos espe~ cialistas, Afinal, o sucesso do acordo foi interpretado como prova de que & possivel resolver problemas ambientais globais por meio de uma articulacao harmoniosa entre os Estados. Com o passar do tempo, a discussio ambiental seguiu essa tendéncia, ampliando 0 debate internacional sobre os efeitos colaterais do progresso técnico, ‘As uiltimas décadas do século XX intensificaram o debate ambiental, acrescentando @ gauta intemacional a discusséo das catéstrofes ecol6gicas, Foram registrados acidentes de ‘orande porte em todo 0 mundo: vazamentos de petraleo no aceano, acidentes com reatores rucleares e a liberago de substancias téxicas na atmosfera ocuparam as manchetes da década de 1980. Em 1984, por exemplo, a cidade indiana de Bhopal pagou caro pela irresponsabilidade de uma faborica da Union Carbide: 0 vazamento de isocianeto de metila deixou 3.800 mortos © 40 feridos. Dois anos depois, a Ucrania seria palco de um dos piores desastres ambientais de todos os tempos. No dia 26 de abril de 1986, 0s funcionsrios da central nuclear em Cher- nobil decidiram testar um reator. Para sua Surpresa, 0 que era para ser um procedimento de seguranea trensformou-se em uma tragédia. O reator nuclear explodiu durante os testes, igerando ura nuvem radioativa que atingiu diversos paises europeus ¢ fez milhares de viti- mas. Até hoje no se sabe 20 certo quantas pessoas foram atingidas. Os oficiais do exército, bombeiros e funciondrios de minas que trabalharam no acidente esto comecando a sentir 0s efeitos da radiagdo agora, quando muitos deles esto chegando aos 45 anos, A maioria no pode ter flinos, ¢ 0s que tiveram geraram criangas com problemas. Em 1986, um grande incéndio na fabrica suica da Sandoz, uma produtora de medi- camentos, pravocou outro grave acidente ambiental. Por ignoréncia, tentou-se apagar as cchamas com agua, que vazou para o rio Reno € contaminou uma vasta regio agricola 0 final da década de 1980 ainda testemunhou outra catéstrofe ambiental de proporeses assustadoras: 0 derramamento de dleo nas aguas do Alasca, lar de indmeras espécies ma~ ritimas. Os pesquissdores Alexandre Shigunoy, Lucila Campos e Tatiana Shigunoy contam ‘as consequéncias desastrosas do acidente envolvendo @ gigante Esso: Finalizando 0 listo dos orandes acidentes ambientais da década, em 1988, um ravi, ¢ Bon \aldee, dertama no Asta 37 miles de litros de len, causango graves danos 0 ecosistem toca ¢ um prejuiza que quaselevou 8 fléncia uma das mores poténcias mundlas, a ESS0 ‘queda d35 suas agbes no mercado € a quanti GeSt@ N@. | (mm tenatva de recuperar totalmente a agua deoradada deisou | Nos préximos cpitulos con- claro 38 arganzagdes que 0 meio ambiente merecia, na | _tinuaremasfelondo de outros prima decade, quem sob, também nas futuras,cidados | _desastes ombientls bem co- E atengeo especial, caso contrio a sobrevvénca destas | necdas comoo caso do cé- ‘organizagées poderia estar comprometida, (2009, p.61.) ‘sio. 137, no Brasil (Capitulo 4), 0 recente vozomento de e- Alem desses desastres de grande vulto, a prépria per- | tréleano GoifadoMesico(Ca- cepedo de que certos recursos indispensavels 4 vida, como pitulo 6) 2 dua, estavam se tornando eseass0s provocou um comprometimento cada vez maior dos paises com as questées ambientals.O ex-ministro da Cultura Gilberto Gil descreve bem como foi o despertar do homem para tais temas: ‘56 mis recentemente foi que a humanidade, algo assustada e perplex, deu-se conta, novamente, de que as reservas naturals do planeta no eram inesgotéveis, Que o avanco Predatério sobre o mundo natural poderia produzi alteragbes climaticas e nos privar de bens preciosos. Que produtes quimicos envenenavam a terra, s dguas e oar. Que, enfim, 0 planeta encontrava-se ameacado, , com ele, a vida humana, (2005, p. 50) Convengéo de Basileia: combatendo a exportago de poluentes Em 1989, a divulgacdo de escéndalos envolvendo Estados Unidos € Italia chamou a atencdo para uma pratica deploravel: a exportacdo de poluentes, No primeiro caso, apro. ximadamente duas mil toneladas de residuos perigosos produzldos na cidade americana de Filadétia haviam sido abandonadas em uma praia no Halt 8 a Italia havia eseolhide 2 Nigéria como destinatria do seu “presente de oregat: toneladas de bifenilaspoliciora, das — éleo isolante para transformadores eltricas — foram depositadas em ums fazenda na cidade de Koko. Embora esses dois eventos sejam os mais conhecidos, estima-se que outras tonela- as de residuos téxicos tenham sido descartadas no Terceiro Mundo e na Antértids Eo Bor: multas vezes 0s governos locas nao haviam dado consentimento algum a respeit, Para combater essa praties escandalosa dos paises industiaizados, 0 Pruma organi. 20u a Convengao de Basileia, em que se estabeleceu um me acordo internacional com regras para o controle de movi- Poe tae mentos transfronteitigos de residuos perigosos. 0 objetivo sgestores que fam com co- | a reduzir 20 minimo a realocagéo internacional de ine Imire exter. Vttaremasa _} téxico, criando regra para a sua realizag80 sequra quande falar sobreela no Capitulo 13, necessdria. E 0 principal: a convencdo proibiu o envio de /—— ejetos perigosos para paises sem capacdade tecnica para tratélos. Em 2008, 0 Brasil ecorreu 4 Canvengéo de Basie para cobrarexplcasbes daInalater- '@ Sobre o envio de mais de mil toneladas de lxo para portas em S80 Paulo e no Rio Grande do Sul, Poucas semanas depois da chegada do materi, o Ibama determinou que os deetos deveriam ser devolvidos a0 als de origem, Eco-92 ou Ciipula da Terra Adecada de 1990 trouxe boas noticias: fim da Guerra Fria marcou o inicio da distensao entre os Estados Unidos ea ex-Uniao Sovietica, abrindo esparo na agenda internacional para & dlscussio de outros temas. Além da nova ordem mundial no plano politce-econémico, 0 clima de novidade tomou conta das discussdes sobre o meio ambiente. entusiasmo conta- giou a comunidade cientifica, que ganhou folego com as mudancas no cenairio internacional. utro fator que impulsionou os debates ambientais foi a divulgagao, em 1980, do pri- rmeiro relatério do Paine! Intergovernamental sobre Mudanca Climdtica (IPCC), ciado dois anos antes com a incumbéncia de promover estudos cientificos sobre o aquecimento global Esse primeiro relatorio alertava a comunidade internacional sobre o aumento da concen- tragdo de gases causadores do efeito estufa, mostrando que a sua produggo pelo homem contribuia para acelerar 2s mudangas climaticas, Por tudo isso, naquele inicio da década de 1990, grandes expectativas se formaram fem torno de um encontro que parecie destinado a entrar para a historia: a Conferéncia das Napes Unidas para o Meio Ambiente € Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como Rio 92, Eco-92 ou Cipula da Terra. O evento reuniu 178 paises no Rio de Janeiro, com @ participacdo da socieda- | _0-concetoide deservolimen- i * fo sustentvel, que, como jo Ge civil, de ONGS e chefes de Estado. Antes negligenciada em | susan oa nome da seguranga nacional, a questo ambiental aleancou | je67 no Relative Bronalod, Notoriedade, abracando-se a ideia de desenvolvimento sus- | foi etomado e rotificado du- tentével como alternativa & exploracao predatéria, ante keo-92 Os conferencistas da Ec0-92 enfrentaram grandes de- safios. Afinal de contas, a necessidade de equilibrar os cuida- dos com o planeta € 0 crescimenta econdmico impés uma batalha em duas frentes. De um lado, os paises emergentes precisavam ser convencidos sobre os riscos da industrializagio inconsequente. For outro, era preciso contar com a boa vontade das nacdes tices para que cedessem tecnologias nao poluentes 20s paises do sul. Os resultados foram surpreendentes, A Eco-92 conseguiu superar as divergéncias, lan- cando estratégias internacionais para proteger a natureza. A fim de monitorar de perto os avangos na drea, a ONU criou a Comissao sobre Desenvolvimento Sustentével. Sua fiiac3o a0 Conselho Econdmico e Social das Nagdes Unidas (Ecosoc), jd permitia antecipar a vocaggo da nova comissio. Em vez de tratar o meio ambiente como um tema isolado, ela buscava Gialogar com interesses de natureza social e econémica, dando conta da complexidade dos problemas ecoldgicos, a exemplo do que fizera anteriormente o Relatério Brundtland. Aids, 0 desenvolvimento econémico néo foi esquecido na Conferéncia do Rio. Preocu- pados com o desempenho de seus indices econdmicos, os paises periféricos no aceitavam abrir mao dos seus interesses em favor da natureza. Eles culpavam as na¢ées industrializadas pela maior parte dos problemas ambientais, nao aceitando, portanto, divdir iqualmente as responsebilidades. Fortalecia-se, assim, o grande lema terceiro-mundista — responsabilida~ des comuns, porém diferenciadas, 0 pais anfitrido da Cupula da Terra rapidamente se alinhou com as demais representa- ges do sul: 0 Brasil engressou o coro das naces periféricas, defendendo a leitura histérica dos problemas ecolégicos. Sem deixar de assumir sua propria parcela de responsabilidade, a Ciplomacia brasileira pregava que alguns paises eram mis eulpados do que outros. De fato, como comparat 0 Brasil ~‘eritorio zonde a modernidade sé chegou com forca na segunda metade do século XX —a paises que se industralizaram em meados do século XVIII? Para a slegagéo brasileira, as datas néo deixavam margem para dividas: os palses emergentes tém ‘esponsabilidades, mas elas devem ser menores que a de nacdes desenvolvidas, Apesar das divergéncias entre paises do norte edo sul, a Rio 92 produclu cinco impor= tantes documentos que estudaremos a seguir: a Deciaragéo do Rio de Janeiro sobre 0 Meio Ambiente ¢ 0 Desenvolvimento; a Declaracio sobre Principios Florestais: = a Convengdo sobre Mudancas Climaticas; = a Convencio sobre Biodiversidade; = a Agenda 21 Declaracao do Rio de Janeiro sobre 0 Meio Para saber ‘mais sobre a De- Ambiente € o Desenvolvimento a ee AAs delegagtes presentes na Cipula da Terra re biente, Vacé encontrord no fink uma carta com 27 principios. 0 documento contém instru- seguir osprincipicsquecam- | Ses para que as sociedades modi iquem seu comporta- Primadccerite:) ‘Apesar da fama de vila ambiental, a China ¢ 0 pais que | °° Se eee ie = mais vende eréitos de carbon. NBo é de estranhar: como | fia feymipomouira ror la polui bastante, suas iniciativas voluntérias de reduzir | exemplo oferecem bons gks- emissbes produzem grandes quantidades de eréditos de | sérasdomezcado decarbono, cerbono. 0 Brasil também tem captado boas oportunidades no mercado de emissées: no ranking ‘mundial, ficamos em terceiro lugar, logo atras da india, Para paises emergentes, o MDL um mecanismo providencial, pois forga a cooperacao entre 0 mundo desenvolvido, que precisa atingir suas metas de redugo, e 0 periférico, que necessita com urgéncia modernizar suas inddstrias, tornando-as menos poluentes. A dificil aceitagao do Protocolo de Quioto O aparente sucesso da COP em Quioto provocou euforia, mas o tempo provou que o Protocolo no passava de uma falsa vitéria, como afirma José Goldembera, ex-secretario do Meio Ambiente do governo federal. Em primeiro lugar, 0 desempenho global ficou mui- to aquém das metas acordedas no Japio. Muitos paises signatérios ndo se empenharam nna redugSo de suas emissées. Para frustra¢ao dos especialistas, houve até nagdes que registraram aumento na liberacao de CO, na atmosfera, revelando 0 pouco caso com que muitos governantes trataram o protocolo. Confira as estatisticas apresentadas por Gol- demberg (2010, p. 16) $0 para dar alguns exemplos, as emissdes da China aumentaram 231% entre 1980 ¢ 2005, a do Brasil, 166%, as da Indonésia, 281% ¢ as do Canadé, 1660 Apenas Alemanha, Inglaterra ¢ Rissa (devido & crise econdmica) reduziram signficativamente suas emissoes rnesse periodo, "Na verdade, apesar da rapida adesao inicial de muitos chefes de Estado, o Protocolo de uioto encontrou sua principal batalha nos senados. Como o documento tem forca de lei, Sua aprovagao definitive dependia da ratificacio do Poder Leaisativo de cada nagdo, Para tomar a situaco mais critica, 0 protocolo exigia representatividade — isto é, ele s6 poderia entrar em vigor quando atingisse a adesdo de pafses que, juntos, representassem 550% das Enquanto os ombentalistos presionavam 0s. governas pore que oFretocolod Cuiota. entrasse ogo em vigor outros ‘eventos desenrlavam-se. no ‘enério internacional. 0 In ternational France Corgora- tion (FC), entidade fanceira vineuleda 20 Banco Mundial criou coms dez eiaresbon- ‘0s 6 mundo os Principia do -uador, conjunto de erteras aribientais & socais pera 0 ‘concessiodecrédito para pro ‘Jetosacima de US$ 50 miles Para aprovarseu fnancimen- to, 0 proeto precisa receber uma clasitieagso saisatirio ‘em relogdo 00 seu sco om biental $6 recentemente os ‘toncos brosieos aderiram ao Pipi do Equador 0 Banco do Bri por exempo, i be- raempréstimo opis um estu- doombental Em junto de 2004 realzou- 56.0 Convencaa de Estocol- ‘mo sobyepoluentesorgénicos persistent (POPS), subston- ‘ios geradasem processos in dtustrios que se acum no Inelo ambiente Em animais © plontos, 05 POPs sto bioacu- imulatvos, sea, resister a ‘egradacao quince, bolégica € fotoca, Entre 0s resulta dos do encontro.destocam- 52 a poibig6o da. costo € comercialzagto de noves POPS € 0 confecsdo de uma “lista negra" com 12 ubstén- «ins tien ineldind pst das, furonos edoxinos emissbes mundiais. Por conta dessa restrigd0, o Protocolo de Quioto s6 foi ativado ern 2008, oito anos depois de sua crie~ $80, gragas a ratficagao russa, E certo que a culpa pela demora no foi s6 dos paises. A falta de estudos detalhados sobre a realidade de cada ur le- ‘vou. criagdo de metas impossivels, Eno foi sO isso: 05 chefes de Estado foram pegos de surpresa em Quloto, Desprevenidos eles ndo tinham avaliado os custos ¢ os esforcos que 0 cum- primento das metas exiiriam, Pressionado pelo vice Al Gore, o ex-presidente norte-americano Bll Clinton foi um dos primei {08a 2ssinar o Protocolo de Quito, Mal sabia o que oesperave ‘em Washington. 0 Senado dos Estados Unidos nao ratificou o ompromisso firmado no Japao por dois motives principais: = em primeiro lugar, o Senado norte-americano afi ‘mou nao aceitar interferéncia externa em questées que poderiam acarretar redugao das atividades eco- niémicas domésticas; além disso, 0 Serado nem sequer cogitariaratificar © protacolo enquanto grandes poluidores — como Chi- na, india e Brasil — ndo fossem incluidas no Anexo | Em parte, o argumento do Poder Legisiativo dos Estados Unidos tinha fundamento. Hoje em dia, China, Brasil, india, Indonesia e Malésialiberam quantidades impressionantes de CO, Por isso, no é mais possivel ‘cortar" o mundo em dues metades, atribuindo toda a responsabilidade pela reducao de emissbes aos paises que se industrializaram primeiro, Segun- do Goldemberg (2010), os paises erergentes jd respondem or 50% dos gases de efeito estufa na atmosfera. No faz sentido deixar de fora a China, por exemplo, que é hole 0 Estado que mais polui em todo o planeta Como jé era de imaginar, por acasiéo da COP 10, reali- zatia em 2004 em Buenos Aites, a Unido Europeia colocou em pauta novamente a expansao do Anexo | do Protocolo ‘de Quioto. Houve reagéo dos paises emergentes: 0 Brasil, por exemplo, partiu em defesa de um tratemento diferen- ciado para 0s emissores emergentes. A delegagdo brasileira ainda estendeu a méo, solicitando financiamento e assis- téncia técnica para que as nagdes subdesenvolvidas redu- zissem suas emissies,

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