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TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO © FaSouza NUCLEO COMUM Disciplina: Libras - Lingua Brasileira de Sinais Modalidade de Curso Pdés-Graduacao E expressamente proibida a reprodugo total ou parcial, sem autorizagdo. 9 Ax Santa Helena, 1140 - Novo Cruzeiro - patinga- MG & (2) 2622-2194. (29 97239-8505 @ Fesouze '© diretoriaataculdadesouza.com.br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO LIBRAS — LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS Pagina 1 de 37 Sidney Fagundes Vieira (ORG)' FaSouza — mar¢o/2020 1- Apresentacao Prezado estudante, esse texto foi organizado pela Faculdade Souza com o objetivo de cumprir as exigéncias da Resolugao n® 2 de 1° de julho de 2015, que determinou a obrigatoriedade do ensino de LIBRAS (Lingua Brasileira de Sinais) nos curriculos dos cursos de licenciatura e segunda graduagao e pés-graduagées na 4rea do magistério em todo territério brasileiro. Bem como, atende também as determinagdes do decreto n° 5626, de 22 de dezembro de 2005, que estabeleceu a estrutura da formacao minima para o interprete de LIBRAS. Vamos apresentar um compéndio de textos de fontes variadas, demarcando a Historia da Educagao dos Surdos no mundo e no Brasil e o surgimento da LIBRAS. como segundo idioma brasileiro. Na segunda parte faz-se uma apresentacao do alfabeto em LIBRAS e a conceituagao dos posicionamentos de maos e expresso facial, necessdrios a essa segunda lingua. Nao ha aqui a pretensao de habilitar, com esse material, o estudante, para a fungaéo de interprete, formacéo essa que demandaria varios anos de estudo. Mas sim, apontar para as principais caracteristicas da LIBRAS e um pequeno vocabulario indicado em versdo online. Bons estudos! 2-INTRODUGAO Comegaremos 0 nosso estudo trazendo os dados do Censo de 2010, que nos mostra que ha cerca de 9,7 milhdes de brasileiros com algum tipo de perda auditiva, cuja as intensidades variam. Parece pouco em relago a populagao brasileira, mais é um numero maior do que a populacdo de varios estados. Desse nimero uma parte significativa deles, aproximadamente 350 mil, tem graus mais acentuados de surdez. Eles vivem uma realidade diferente das outras pessoas, que gira em torno da perspectiva pela qual eles percebem o mundo a sua volta, no qual 1 Professor da Rede Piiblica de Ensino de Minas Gerais e Pesquisador do Laboratério de Pesquisas Histéricas da UNIBH e Mestre em Educacdo pela PUC Minas. E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pagina 2 de 37 a viséo compensa a audigao deficiente, ou até ausente. O pais dos surdos, com populagao maior que muitas grandes cidades, possui hoje uma lingua propria, a LIBRAS (Lingua Brasileira de Sinais).(SILVA, 2015.p.11) Com estrutura gramatical e meio de expressao diferente da lingua majoritaria do Brasil, 0 Portugués, a LIBRAS tem uma aquisigao mais natural por parte do surdo, afinal, seu principal meio de expresso e apreensdo de informagées 6 0 campo visuoespacial e nao exige o uso da audicao. objetivo desse texto é apresentar esse mundo diferente, de pessoas que também querem se incluir no mundo “ouvinte”, mas sem perder a identidade surda. Nos dias atuais, é quase consenso que o caminho para chegar a essa inclusdo é 0 Bilinguismo, método educativo que ainda engatinha no Brasil, mesmo sendo previsto ‘em documentos legais. Nesse método o surdo aprenderé a lingua portuguesa como sua segunda lingua, e os ouvintes aprenderao LIBRAS. Agora vamos fazer um panorama sobre o tratamento que os surdos receberam da sociedade, da Antiguidade até os dias de hoje. De vis6es que consideravam 0 surdo um ser initil, incapaz de viver em sociedade, chegando aos dias atuais quando os surdos podem exercer sua identidade de forma livre, resguardada pelo poder pblico. 3-COMO SURGIU A LIBRAS? - HISTORIA DA EDUCAGAO DE SURDOS NO MUNDO 3.1 - O Surdo na Antiguidade Na Antiguidade, a educacao dos Surdos variava de acordo com a concepgao que se tinha deles. Para os gregos e romanos, em linhas gerais, 0 Surdo nao era considerado humano, pois a fala era resultado do pensamento. Logo, quem nao pensava nao era humano. Nao tinha direito a testamentos, A escolarizacéo e a frequentar os mesmos lugares que os ouvintes. Até 0 século XII, os Surdos eram privados até mesmo de se casarem. E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaatacukdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pagina 3.de 37 Certa vez, Aristételes afirmou que considerava 0 ouvido como 6rgéo mais importante para a educacao, 0 que contribuiu para que 0 Surdo fosse visto como incapacitados para receber qualquer instrucdo naquela época. Na Idade Média, a Igreja Catélica teve papel fundamental na discriminagao no que se refere as pessoas com deficiéncia, j4 que para ela o homem foi criado a “imagem e semelhanca de Deus”. Portanto, os que nao se encaixavam neste padrao eram postos & margem, nao sendo considerados humanos. Entretanto, isso incomodava a Igreja, principalmente em relacdo as familias abastadas. Nesta época, a sociedade era dividida em feudos. Nos castelos, os nobres, para nao dividir suas herangas com outras familias, acabavam casando-se entre si, © que gerava grande numero de Surdos entre eles. Por nao terem uma lingua que se fizesse inteligivel, os Surdos nao iam, se confessar. Suas almas passaram a ser consideradas mortais, pois eles nao podiam falar os sacramentos. Foi entao que ocorreu a primeira tentativa de educé-los, inicialmente de maneira preceptorial. Os monges que estavam em clausura, ¢ haviam feito 0 Voto do Siléncio para nao passar conhecimentos adquiridos pelo contato com os livros sagrados, haviam criado uma linguagem gestual para que nao ficassem totalmente incomunicaveis. Esses monges foram convidados pela Igreja Catélica a se tornarem preceptores dos Surdos. A Igreja tinha grande influéncia na vida de toda sociedade da época, mas no podia prescindir dos que detinham o poder econémico. Portanto, passou a se preocupar em instruir os Surdos nobres para que 0 circulo nao fosse rompido. Possuindo uma lingua, eles podiam participar dos ritos, dizer os sacramentos consequentemente, manter suas almas imortais. Além disso, nao perderiam suas posigdes e poderiam continuar ajudando a Santa Madre Igreja. 3.2 - O Surdo na Idade Moderna E somente a partir do final da Idade Média que os dados com relago a educagao e a vida do Surdo tornaram-se mais disponiveis. E exatamente nesta E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pagina 4 de 37 época que comecam a surgir os primeiros trabalhos no sentido de educar a crianga surda e de integr4-las (ainda nao é incluso) na sociedade. Até 0 século XV, os Surdos — bem como todos os outros deficientes — tornaram-se alvo da Medicina e da religiéo catélica. A primeira estava mais interessada em suas pesquisas ¢ a segundo, em promover a caridade com pessoas tdo desafortunadas, pois para ela a doenca representava punicao. No ocidente, os primeiros educadores de Surdos de que se tem noticia, comegaram a surgir a partir do século XVI. Um deles foi 0 médico, mateméatico e astrélogo italiano Gerolamo Cardano (1501 — 1576), cujo o primeiro filho era surdo. Cardano afirmava que a surdez nao impedia os Surdos de receberem instrugao. Ele fez tal afirmacéo depois de pesquisar que a escrita representava os sons da fala ou as idelas do pensamento. Outro foi Pedro Ponce de Leén (1520 - 1584), monge beneditino que viveu em um monastério na Espanha, em 1570, e usava sinais rudimentares para se comunicar, pois Id havia 0 Voto do Siléncio. Segundo Silva (2015) Um dos pioneiros foi o padre espanhol, Pedro Ponce de Leén (1520 - 1584) cujos métodos foram sistematizados e aperfeicoados por um contemporaneo Juan Bonet (1579-1629) autoprociamado “inventor da arte de ensinar 0 surdo a falar’. Em 1620, Bonet publicou um manual de ensino da lingua de sinais prépria, um alfabeto digital e métodos de manipulagao do aparelho fonador € da musculatura orofacial, além da leitura labial. (SILVA, 2015.p.12) Strnadova, uma autora checa Surda, nos conta em seu livro que foi desta forma que se teve o registro da primeira vez que se fez uso do alfabeto manual: “Nao conversavam entre si em voz alta, porém seus dedos tagarelavam. Eram monges, mas néo eram bobos.” Acreditamos que a privagao de comunicagéo que existia neste mosteiro possibilitou a criago de outra forma de expressdo, ndo muito diferente do que observamos na convivéncia com os Surdos. Ha registros que uma familia espanhola teve muitos descendentes Surdos por ter 0 costume, jA mencionado anteriormente, de se casarem entre si para nao E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pagina Sde a7 dividirem bens com estranhos. Dois membros dessa familia foram para o mosteiro de Ponce de Leon e la, junto dele, deram origem a Lingua de Sinais. Ponce de Leon foi o tutor de muitos Surdos e déi dado a ele o mérito de provar que a pessoa Surda era capaz, contrariando a afirmacao anterior de Aristételes. Seus alunos foram pessoas importantes que dominavam Filosofia, Historia, Matematica e outras ciéncias, 0 que fez com que o trabalho de Leon fosse reconhecido em toda a Europa. Pelo pouco que restou de registro de seu método, sabemos que seu trabalho iniciava com 0 ensino da escrita, por meio dos nomes dos objetos, e em seguida 0 ensino da fala, comegando pelos fonemas. Os nobres, que tinham em sua familia um descendente Surdo, comegaram a educé-lo, pois os primogénitos Surdos no tinham direito & heranga se nao aprendessem a falar, o que colocava em risco toda a riqueza da familia. Se falassem teriam garantidos sua posico e seu reconhecimento como cidadao. No século XVI, a grande revolucéo se deu pela concepcio de que a compreensao da ideia nao dependia da audigao de palavras. Em 1620, quando o padre espanhol Juan Pablo Bonet (1579-1633), filésofo @ soldado a servigo secreto do rei, considerado um dos primeiros preceptores de Surdos, criou o primeiro tratado de ensino de surdos-mudos (acima citado refere-se ao termo usado na época que atualmente caiu em desuso) que iniciava com a escrita pelo alfabeto, que foi editado na Franca com o nome de Redacdo das Letras e Artes de Ensinar os Mudos a Falar. Bonet foi quem primeiro idealizou e desenhou o alfabeto manual. Ele, em seu livro, destaca como ideia principal que seria mais facil para o Surdo aprender a ler se cada sim da fala fosse substituido por uma forma visivel. Alguns estudiosos da lingua também se destacaram ao ensino dos Surdos e um exemplo é 0 holandés van Helmont (1614-1699) que propunha a oralizacao do surdo por meio do alfabeto da lingua hebraica, pois, segundo ele, as letras hebraicas indicavam a posig&o da laringe e da lingua ao reproduzir cada som. Helmont foi quem primeiro descreveu a leitura labial e 0 uso do espelho, que posteriormente foi aperfeigoado por Amman sobre quem mencionaremos a seguir. E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO Em SUCESSO ‘Segundo Silva (2015) Jacob Rodrigues Pereira (1715-1780) foi educador de Surdo portugués (emigrou para a Franca ainda crianga) que, embora usasse a Lingua de Sinais com fluéncia, defendia a oralizagao dos Surdos. Seu trabalho Pagina 6 de 37 consistia na desmutizacdo por maio da visdo (usava um alfabeto digital especial e manipulava os 6rgaos da fala de seus alunos). Educou doze alunos, todos eles usuarios da linguagem oral. Existem relatos que colocam em risco o seu método, ressaltando que ele era professor somente de alunos que ndo eram completamente surdos 0 que facilitava a oralizacéo. Temos alguns estudos que indicam que a escrita nao era vista como insergao do sujeito na sociedade, mas sim como uma tentativa de substituir o que Ihe faltava, a fala. Johann Conrad Amman (1669-1724) foi médico educador de Surdos suico que aperteigoou os procedimentos de leitura labial por maio de espelhos e tato, percebendo as vibragdes da laringe, método usado até hoje em terapias fonaudiolégicas. Para Amman, 0 foco do seu trabalho era o Oralismo, pois acreditava que os Surdos eram pouco diferentes dos animais, devido a incapacidade de falar. Acreditava que “na voz residitia 0 sopro da vida, 0 espirito de Deus’. Era contra 0 uso da Lingua de Sinais, acreditando que seu uso atrofiaria a mente, impossibilitando 0 Surdo de, no futuro, desenvolver a fala por meio do pensamento. O segredo de seu método sé foi descoberto apés sua morte. Relatos demonstram que usava o paladar para a aquisicao da fala. No século XVII, era percebido o grande interesse que os estudiosos tinham pela educago dos Surdos, principalmente porque tinham descoberto que esse tio de educagao possibilitava ganhos financeiros, pois as familias abastadas que tinham descendentes Surdos pagavam grandes fortunas para que seus filhos aprendessem a falar e a escrever. Isso 6 observado em Thomas Braidwood (1715-1806), educador de Surdos inglés. Em 1760, fundou, em Edimburgo, a primeira escola na Gra-Bretanha como academia privada. Em 1783, transferiu-se para Londres e recomendou o uso do alfabeto onde se utilizassem as duas mos que ainda hoje esta em uso na E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pagina 7 de 37 Inglaterra. Seus alunos aprendiam palavras escritas, seu significado, sua pronuncia ea leitura orofacial, além do alfabeto digital. Outras escolas que usavam 0 mesmo método que Braidwood eram organizadas por suas familias e seu método era mantido em segredo para garantir seu monopélio. Quando Kinniburg (um de seus “discipulos’) aprendeu 0 método com Braidwood, foi obrigado a manter segredo e pagar sempre metade do que ganhava ao “dono” do método. Certa vez, Kinniburg foi procurado por Thomas Gallaudet (1787-1851), educador ouvinte americano, que queria levar 0 método para os Estados Unidos, mas Kinniburg nao aceitou a proposta.(SILVA, 2015.p.12) O abade Charles-Michel de L’'Epée (1712-1789) foi um educador filantropico francés que ficou conhecido como “Pai dos Surdos” e também um dos primeiros que defendeu o uso da Lingua de Sinais. “Reconheceu que a lingua se e servia desenvolvia de base comunicativa essencial entre os Surdos.” L’Epée teve a disponibilidade de aprender a Lingua de Sinais para poder se comunicar com os Surdos. Criou a primeira escola piblica para Surdos em Paris, o Instituto Nacional para Surdos-Mudos, em 1760. L’Epée fazia demonstragdes de seus alunos em praca publica, assim arrecadava dinheiro para continuar seu trabalho. Essas apresentagées consistiam em perguntas feitas por escrito aos Surdos, confirmando que seu método era eficaz. L’Epée tinha grande interesse na educacao religiosa dos Surdos e sabia que para isso era importante que fosse desenvolvida uma forma de comunicagao que fizesse os conhecimentos sagrados possiveis. Segundo Silva (2015) L’Epée referia-se a Lingua de Sinais como respeito e a obra mais importante dele foi publicada em 1776 com o titulo A Verdadeira Maneira de Instruir os Surdos-Mudos. © século XVII é considerado por muitos 0 perfodo mais préspero da educacao dos Surdos. Neste século, houve a fundagao de varias escolas para Surdos. Além disso, qualitativamente, a educacao do Surdo também evoluiu, j4 que, através da Lingua de Sinais, eles podiam aprender e dominar assuntos e exercer diversas profissoes. E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pagina 8 de 37 3.3 - O Surdo na Idade Contemporanea Os trabalhos realizados em instituigdes somente aparecem no final do século XVIII. Até esta época eram os preceptores (médicos, religiosos ou gramaticos) quem realizavam essa tarefa. Sabemos que, antes de 1750, a maioria dos Surdos que nasciam nao era alfabetizada ou instrufda. Em 1770, no lugar de L’Epée, Abbé Sicard (1742-1822) foi nomeado diretor do Instituto Nacional de Surdos-Mudos. Ele publicou dois livros: uma gramatica geral e um relato detalhado de como havia treinado Jean Massieu (Surdo).. Com a morte de Sicard, foi nomeado como diretor do Instituto seu discipulo Massieu, um dos primeiros professores Surdos do mundo. Essa fato fez desencadear uma grande disputa pelo poder, envolvendo outros dois estudiosos da surdez, Itard e Gérando, ocasionando 0 afastamento de Massieu da direcéo do Instituto. Jean-Marc Itard (1775-1838) foi um médico-cirurgido francés que se tornou médico residente do Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris, em 1814. Ele estudara com Philipe Pinel, pai da Psiquiatria, e seguia os pensamentos do fil6sofo Condillac, para quem as sensagdes eram base para o conhecimento humano e que reconhecia somente a experiéncia externa como fonte do conhecimento. Dentro desta concepgao era exigida a erradicacao ou a “diminuigao” da surdez para que o surdo tivesse acesso a este conhecimento. ‘Segundo Silva (2015) Itard iniciou um trabalho com o Garoto Selvagem, em 1799, descrito no filme francés de 1970, O Garoto Selvagem, de Frangois Truffaut. Trata-se de Victor, um menino encontrado nos bosques de Aveyron, por volta dos 12 anos de idade, deslocando-se de quatro, comendo bolotas de carvalho e levando uma vida de animal. Quando foi levado para Paris, em 1800, despertou 0 interesse filoséfico e pedagégico: Como ele pensava? Podia ser instruido? Itard trabalhou com © Garoto Selvagem por cinco anos e constatado que Victor nunca adquiriu linguagem, foi somente forgado a falar. A histria de Victor é to interessante que serviu de inspiraco para um filme da Disney de nome Mogly, © Menino Lobo. E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pagina 9 de 37 ltard dedicou grande parte de seu tempo tentando entender quais as causas da surdez. Sua primeira constatacdo foi a de que a causa dela nao era visivel. Seus proximos passos foram dissecar cadaveres de Surdos, dar descargas elétricas em seus ouvidos, usas sanguessugas para provocar sangramentos e furar as membranas timpanicas de alunos, fazendo com que um deles fosse levado a morte e outros tivessem fraturas cranianas e infecgdes devido as suas intervencoes. Itard nunca aprendeu a Lingua de Sinais. Seu trabalho era todo voltado para a discriminagéo dos instrumentos musicais para posteriormente chegar a discriminagéo de palavras e criou o curso de articulagéo para surdos- mudos aproveitaveis (termo utilizado pelo autor citado). Apés 16 anos de trabalho incessante para chegar a oralizago, Itard rendeu-se ao fato de que o Surdo s6 pode ser educado por meio da Lingua de Sinais. © barao de Gérando era filésofo, administrador, historiador e filantropo. Ganhou a disputa pelo cargo de diretor do Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris, mencionada anteriormente. Gérando acreditava na superioridade do povo europeu e sua intengao era equiparar os selvagens europeus. Para ele, os Surdos entravam na categoria de selvagens e sua lingua era vista como pobres quando comparada a lingua oral e nao deveria seu usada na educagao. Com esta concepco, os professores Surdos da escola foram substituidos pelos professores ouvintes e a oralizagdo era seu principal objetivo. “Os sinais deveriam ser banidos da educacao.” Apés anos de trabalho, reconheceu, antes de morter, a importancia do uso dos Sinais. A educacéo dos Surdos nos Estados Unidos aconteceu com mais dificuldade do que na Europa, visto que 0 acesso A metodologia inglesa sempre era negado. Assim aconteceu com Thomas Gallaudet quando foi visitar Braidwood e Kinniburg, que nao revelaram seu método. Gallaudet entéo procurou L’Epée no Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris. Ele foi aceito para fazer um estagio ¢ conheceu Laurent Clerc (1785-1869), um professor Surdo da escola. Posteriomente, Gallaudet convidou Clerc para retornarem aos Estados Unidos em 1816 para fundarem a primeira escola publica para Surdos daquele pais. Abriram a escola em abril de 1817 (Hartfort School) devido as doagées que receberam. (Note uma E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaatacukdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pégina 10 de37 diferenga de mais de 50 anos de atraso entre a mesma iniciativa na Europa.) a Lingua de Sinais usada na escola era inicialmente francesa e gradualmente foi sendo modificada para se transformar na Lingua Americana de Sinais. O herdeiro e filho de Thomas Gallaudet, Edward Gallaudet, fundou em 1864 a primeira faculdade para Surdos, localizada em Washington. Apés anos de trabalho com os Surdos, Edward resolveu fazer uma grande viagem, visitando outros paises € outras instituigdes para veriticar se seu método estava adequado. Voltou desta viagem apoiando 0 trabalho de Oralismo e adotou “como papel da escola fornecer treinamento em articulacao e em leitura orofacial para aqueles alunos que poderiam se beneficiar deste treinamento”. No mesmo ano em que foi instituido 0 Oralismo, Clerc, que sempre defendeu 0 uso da Lingua de Sinais, faleceu (1869). O Oralismo foi a principal forma de educagao dos Surdos nos 80 anos posteriores. A Universidade Gallaudet, como é chamada atualmente, é ainda a nica escola superior de artes liberais para estudantes Surdos do mundo, e a primeira a primeira lingua utilizada nas aulas da universidade foi a Lingua de Sinais. Outro defensor do Oralismo foi Alexander Graham Bell (1847-1922), cientista @ inventor do telefone. Ele era filho de surda e casado com Mabel, que perdeu a audigao quando jovem. Oralizada, ela no gostava de estar na presenga de Surdos. Para ele a surdez era um desvio, Segundo Silva (2015) inventor do telefone Alexander Graham Bell(1847-1922), sua mae era surda desde a adolescéncia. Bell trabalhava com a educagao de surdos aparelhos auditivos, para ele, os surdos munidos de aparelhos deveriam ser educados da mesma forma que os ouvintes. (SILVA, 2015.p.13) Os Surdos deveriam se passar por ouvintes encaixados num mundo ouvinte e um aluno Surdo ter como professores um instrutor Surdo s6 serviria como empecilho para sua integragéo com a comunidade ouvinte. Bell acreditava que os Surdos deviam estudar junto com os ouvintes, nao como direito, mas para evitar que E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pagina 11 de37 se unissem, que se casassem e criassem congregacées. O fato de que os Surdos se casarem para ele representava um perigo para a sociedade. Criou o telefone em 1876 tentando criar acessdrios para Surdos. Veditz, ex-presidente da Associacéo Nacional dos Surdos, ressalta que Bell foi considerado “o mais temido inimigo dos surdos americanos”. As instituigées de educagéo de surdos se disseminaram por toda Europa, e em 1878, em Paris, aconteceu 0 | Congresso Internacional de Surdos-Mudos, instituindo que o melhor metodo para a educagao dos surdos consistia na articulacdo com leitura labial e no uso de gestos nas séries iniciais. Esta determinago somente durou dois anos, pois em 1880, em Milo, ocorreu o Il Congresso Mundial de Surdos-Mudos, que promoveu uma votagao para definir qual seria a melhor forma de educar uma pessoa Surda. A partir desta votacéo com os participantes do congresso, foi recomendado que o melhor método seria o oral puro, abolindo oficialmente o uso da Lingua de Sinais na educago dos Surdos. Vale ressaltar que apenas um Surdo participou do congresso, mas no teve direito de voto, sendo convidado a se retirar da sala de votacao. As determinagées do Congresso foram: * a fala é incontestavelmente superior aos Sinais e deve ter preferéncia na educagao dos Surdos; * 0 método oral puro deve ser preferido ao método combinado. (SILVA, 2015.p.14) A partir da Il Congresso Internacional de Surdos-Mudos, 0 método oral foi adotado em varios paises da Europa, acreditando-se que esta era a melhor maneira para os Surdos receber a instrugao no ambiente escolar. Acreditamos que esta foi uma fase de extrema importancia para entendermos 0 processo que se deu na educacéo dos Surdos. Quando eles jd estavam em uma situacao diferenciada, sendo instruidos, educados e usuarios de uma lingua que Ihes permitia conhecimento de mundo, uma determinagao mundial E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br FaSouza TRANSFORME SEU FUTURO EM SUCESSO Pagina 12 de37 Ihes colocou de novo em uma posicao submissa, proibindo-os, a partir daquela data, de usarem a lingua que Ihes era de direito.( MOURA, 2000.p.49) A partir da convivéncia que temos tido com as pessoas Surdas percebemos que se trata de uma comunidade que costuma, em sua maioria, conviver em “guetos”, optar por casamentos entre si e estudar com os iguais. Muito se mostra desconfiados quando ouvintes se aproximam, pois se consideram incompreendidos. Podemos entender que este comportamento 6 resultado dessas acbes de mais de dois séculos, ainda colhemos frutos amargos delas. Nao podemos deixar de levar em conta que o passado foi necessério para chegarmos a um presente mais adequado e naquela época histérica acdes eram consistentes. Os Surdos, muitas vezes, foram usados, deslocados e colocados em situagdes de desconforto social que thes causou muito sofrimento e tudo isso muito mais por no serem usuarios de uma lingua oral do que por serem surdos. © que observamos fazendo esta retrospectiva histérica 6 que muitos estudiosos defensores do Oralismo, depois de uma vida de tentativas, resolveram aceitar o uso da Lingua de Sinais como possibilidade para 0 Surdo. 3.4 - O Surdo no Século XX Nos anos 1960, nos Estados Unidos, pesquisas académicas compararam 0 desempenho de filhos surdos de pais ouvintes (exclusivamente oralizados) e filhos surdos de pais surdos (oficialmente oralizados, mas treinados com a lingua de sinais em casa). Os resultados e desempenho destes tltimos, em todos os quesitos analisados (Leitura, Escrita e Matematica) era melhor (MOURA, 1997.p.340) Durante os 80 anos de proibicao do uso de Sinais, os insucessos foram notados em todo o mundo. Os Surdos passavam por oito anos de escolaridade com poucas aquisigdes e sairam das escolas como sapateiros e costureiros. Os Surdos que néo se adaptavam ao Oralismo eram considerados retardados. Nao era respeitada a dificuldade de alguns Surdos por causa de sua perda de audigéo severa ou profunda. As pessoas somente estavam interessadas E expressamente proibida a reprodug&o total ou parcial, sem autorizacéo. © Av. Senta Helena, 1140 Nove Cruzeiro - Ipatinga- MG © (2h 3622-2104 (2) 97339-8805 OQ Fesouza © diretoriaataculdadesouza.com br

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