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7 A Armadilha das Benzodiazepinas “O que parecia muito bom nas benzodiacepinas, quando ex brincaca com elas, era que real mente pareciamas dispor de uma droga que ndo inka ‘muitos problemas. Em retrspectiva, porém, vé-se que eracomopir uma chave de grifa dentro de um relgio de pulso. esperar que ela nao causasse estragos.” ~Alec Jenner, médico britanico que conduziu as primeiros censaios com uma benzodiazepina no Reino Unido, 2003! Os fais de Mad Aen, seriado da televisio a cabo que fala da vida de Don Draper © outros publicitérios da avenida Madison na comeco da década de 1960, talvez se recordem de uma cena do Gltimo epis6dio da segunda temporada em que uma amiga da mulher de Draper, Betty, diz a ela: “Voc? quer um Miltown? £ a nica coisa que tem me impedido de roer as unhas até o sabugo”. Foi um toque interessante, historicamente correto, e, se os criadores de Mad Men mantiverem essa exatidéo na reproducaode época, na terceira temporada ¢ nas seguintes, que contardo a hist6ria dos homens da publicidade e suas familias nosanos turbulentos de meados da década de 1960, 0s telespectadores poderdo esperar que Betty Draper ¢ suas amigas vasculhem suas bolsas e fagam ref eréncias dissimuladas ao “ajudantezinho da mamic”. A companhia farmacéutica Hoffmann-La Roche introduziu 0 Valium no mercado em 1963, anunciando-o particularmente para as mulheres, ¢, de 1968 a 1981, ele foi o remédio mais vendido no mundo ocidental No entanto, enquanto os norte-americanos devoravam esse comprimido destinado a manté-los tranquilos, aconteceu uma coisa muito estranha: disparou o nimero de pessoas admitidas em hospicios, prontos-socorros psiquiatricos e clinicas para pacientes externos com problemas mentais. A literatura cientifica sabe explicar por que essas duas coisas se ligaram. A Ansiedade Antes do Miltown Embora a ansiedade seja um componente habitual do psiquismo humano, da nossa mente moldada pela evolugao para se preocupar e se afligir, ha pessoas mais ansiosas que outras, ¢ a ideia de que essa angistia afetiva é uma doenga 137 ANATOMLA DE UMA EPIDENIA diagnosticével remonta a um neurologista nova-iorq 1869, ele anunciou que o medo, a preocupacdo, a fadiga c a insénia resultavam do “cansago dos nervos”, uma doenca fisica & qual deu o nome de “neurastenia”, 0, George Beard. Em Esse diagnéstico revelou-se popular, a doenca foi vista como um subproduto da revolugio industrial que varria os Estados Unidos na esteirada GuerradaSecessio, ©, naturalmente, o mercado criou uma variedade de terapias que seriam capazes de restaurar os nervos “cansados” das pessoas. Os fabricantes de medicamentos registrados, do tipo vendido sem receita, vendiam “fortificantes para os nervos” com uma pitada de opidceos, cocafna ¢ alcool. Os neurologistas alardeavam os poderes revigorantes da cletricidade, o que levou os neurasténicos a comprarem cintos, suspensérios e massageadores portdteis, todos elétricos. Os mais ricos podiam internar-se emspas que ofereciam “curas de repouso”, nas quais os nervos dos pacientes cram restauradas pelo toque terapéutico de banhos calmantes, massagens ¢ diversas engenhocas clétricas. Sigmund Freud proporcionou & psiquiatria uma légica para o tratamentodesse grupode pacientes ¢, ao fazé-lo,permitiu quc ela safsse do manicémio centrasseno consultério. Nascido em 1856, Freud pendurou sua tabuleta de neurologista num consultério cm Viena em 1886, o que significau que muitos de scus pacientes eram mulheres que sofriam de neurastenia (a doenca de Beard também se popularizara na Europa). Apés horas de conversas com seus clientes, Freud convenceu-se de que os sentimentos de pavor ¢ preacupagio que cles aprescntavam eram de origem psicolégica, ¢ nio resultantes de nervos cansados. Em 1895, cle escreveu sobre a “neurose de angistia” nas mulheres, teorizando que cla brotava, em grande parte, do recalcamento inconsciente de desejos ¢ fantasias sexuais. As mulheres que sofriam desses conflitos psicolégicos podiam encontrar alivio por meio da psicandlise, na qual a pacicnte deitada no diva cra conduzida pelo médico a fazer uma exploragéo de seu inconsciente. Na época, a psiquiatria era a profissio de quem tratava de pacientes loucos em hospicios ou manicémios. As pessoas com os nervos cansados procuravam ncurologistas ou clinicos gerais em busca de ajuda, Mas, sc aangistia surgia de um distirbio psicolégico no cérebro, ¢ naa de um enfraquecimento dos nervos, fazia sentido que os psiquiatras cuidassem desses pacientes, ¢, depois que Freud visitou 9s Estados Unidos, em 1909, comecaram a se formar socicdades psicanaliticas, sendo Nova York © centro dessa nova terapia. No ambito nacional, apenas 3% dos psiquiatras tinham consultérios particulares em 1909; trinta anos depois, 38% deles atendiam pacientes em ambientes privados." Além disso, a tearia freudiana 138 A Armadilha das Benzodiazepinas transformou quase todos em candidatos ao diva do psiquiatra, “Os neuréticos”, explicou Freud durante sua visita de 1909, “adoccem dos mesmas complexos com que lutam as pessoas sadias.”* Gracas as teorias freudianas, os transtornos psiquidtricos passaram a ser divididos em duas categorias basicas: psicéticos ¢ neuréticos. Em 1952, a Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria publicou a primeira edicao de seu Manual de Diagnéstico ¢ Estatistica dos Distirbios Mentais, 0 qual descrevcu nos seguintes termos © paciente neurético: A principal caracterfstica dos distGrbios (neuréticos} é a “ansiedade”, que pode ser diretamentesentida eexpressada, ou controladadeformainconsciente ¢ automatica pela utilizagio de varios mecanismos de defesa psicolégicos. (..) Em eontraste com os psicéticos, os pacientes com distirbios psiconeuréticos ndo exibem uma grave distorgo ou falsifieagSo da realidade externa (delfrias, alucinagées, ilusées) e nia apresentam uma desorganizacao maciga da personalidade.* Era essa a visio da ansicdade quando o Miltown chegou ao mercado. As pessoas ansiosas tinham os pés firmemente plantados na realidade, e raras vezes a ansiedade constituia uma doenga que exigisse hospitalizagao. Em 1955, havia apenas 5.415 “psiconcuréticos” em hospitais psiquidtricos estaduais.’ Como confessou o psiquiatra Leo Hollister apés a introducao das benzodiazepinas, essas drogas “|destinavam|-se a tratar do que muitos veriam como ‘distiirbios leves™.* Esses medicamentos eram um balsamo para os “feridos ambulantes”, ¢ por isso, a0 examinarmos a literatura sobre resultados referentes as benzodiazepinas, deveremos esperar que esse grupo de pacientes funcione bem. Afinal, assim era o futuro prometido por Frank Berger, 0 inventor do Miltown: “Os tranquilizantes, a0 atenuarem ainfl uénciadisruptiva da ansicdade na mente, abrem caminho para um uso melhor e mais coordenado dos dons existentes”, afirmou.” Os Tranquilizantes Leves Cacm em Desgraga Quando surgiu o Miltown, divulgaram-se alguns estudos em publicagées médicas que falavam - como mais tarde recordaram dois pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Harvard, David Greenblatt e Richard Shader — de sua “eficécia quase magica na redugio da ansiedade”. Todavia, como muitas vezesaconteceu na psiquiatria,havendoaparecido um sucessorno mercado (0 Librium, em 1960), a eficdcia do antigo medicamento comegou subitamente a se reduzir. Em seu exame da literatura sobre o Miltown em 1974, Greenblatt ¢ Shader constataram que, em 26 ensaios bem controlados, houve apenas cinco em 139 Anavona DE UMA Eproemta que 0 Miltown “foi mais eficaz do que um placebo” como tratamentoda ansiedade E nio havia nenhum indicio de que ele fosse melhor que um barbitirico para acalmar os nerves, A popularidade inicial dese medicamento, escreveram cles, “jlustra como outros fatores que no a comprovacio cientifica podem determinar 0s padres de uso de medicamentos pelos médicos”.* Mas a razdo de o Miltown ter caido em desgraca perante o piiblico veio de um problema diferente da falta de eficdciacientifica. Muitos dos que experimentaram esse remédio constataram que adoeciam ao suspendé-lo e, em 1964, Carl Essig, um cientista do Centro de Pesquisas sobre Vicios, em Lexington, no estado de Kentucky, informou que ele “podia induzir A dependéncia fisica no ser humano”.? A revista Science News apressou-se a anunciar que a pflula da felicidade podia ser “viciante” ¢, em 30de abril de 1965, a Time praticamente sepultou o medicamento. Havia “uma decepeaa crescente com o Miltown por parte de muitos médicas”, escreveua revista. “Alguns duvidam que ele tenha mais efeito tranquilizante do que um placcbo feito de agicar, (...) Alguns médicos relataram que, em certos pacientes, 0 Miltown pode causar um verdadcire vicio, seguide por sintomas de sindrome de abstinéncia semelhantes aos dos usuarios de narcéticos em processo Publicamente, a maioria das benzodiazepinas escapou dese oprobrio durante a década de 1960. Quando introduziu o Librium no mereado, em 1960, a Hoffmann- La Roche afirmou que seu medicamento proporcionava um “alfvio puro da ansicdade” ¢, ao contrério do Miltown c dos barbittiricos, era “seguro, inofensivo e nao vieiante”. Essa crenga vingou e a Administragio Federal de Alimentos ¢ Medicamentos (FDA) pauco fez para question4-la, muito embora comegasse desde muito cedo a receber cartas de pessoas que vinham experimentando sintomas estranhos e muito aflitivos, ao tentarem deixar de tomar benzodiazepinicos. Elas falavam de uma insénia terrivel, de ansiedade mais aguda do que haviam sentido até entéo, ¢ de uma profusio de sintomas fisicos ~ tremores, dores de cabeca nervos com “umairritagaode enlouquecer”.Como escreveuum homema FDA, “eu nao dormia e, de mado geral, sentia-me péssimo. As vezes, achava que ia morrer, © noutras, queria ter morrido”."' Apesar de ter promovido uma audiéncia sobre o assunto, aFDA nao impés as benzadiazepinas nenhum controle legal semelhante ao que havia instaurado em relaco s anfetaminas ¢ aos barbitiricos, ¢ cam isso a crenca popular em que esses medicamentos cram relativamente nao viciantes ¢ inofensivos sobreviveu até 1975, quando o Ministério da Justica dos Estados Unidos exigiu que eles fossem classificados como substancias da categoria IV, nos 140 A Armadilha das Benzodiazepinas termos da Lei de Substancias Controladas. Essa designacao limitava o nimero de vezesque o paciente podia voltar a comprar omedicamento sem uma nova receita, ¢ revelou ao piblico que o governo havia concluido que as benzodiazepinas cram viciantes, de fato. “PERIGO A VISTA! VALIUM — Q COMPRIMIDO QUE VOCE AMA — PODE WOLTAR-SE CONTRA. voct”, gritou uma manchete da revista Vague. Os benzodiazepinicos, explicou a revista, podiam levar a um “vicio muito pior que o da herofna”!? Estava inieiada a reagdo contra o Valium, particularmente nas paginas das revistas femininas, ¢ a revista Ms, logo ofereceu ao piblico leitor relatos em primeira mao dos horrores da privagéo do medicamento, “Meus sintomas de abstinéncia so uma dose dupla da ansiedade, da irritabilidade ¢ da insOnia que cu sentia”, afirmou uma usudria, Qutra confessou: “Nem sei como descrever a angiistia fisica ¢ mental que *." A pilula da felicidade da década de 1950 estava se transformando na pilula da infelicidade da década de 1970, com acompanhou minha suspensio do remédi © Naw York Times relatando, em 1976, que “alguns criticos chegam a dizer que [0 Valium] tem causado mais estragos do que beneficios, ou chegam até a negar que ele faga algum bem para a grande maioria dos pacientes. Alguns, alarmados, gritam que ele esté longe de ser tio seguro quanto se proclama, que pode viciar de forma horrenda e perigosa, ¢ que pode ser a causa direta da morte dos viciados”.* Afirmou-se que dois milhdes de norte-americanos estavam vieiados nas benzodiazepinas - quatro vezes o ndmero de viciados em heroina no pais—, eum dos usuarios do comprimido veio a se revelar a ex-primeira dama Betty Ford, que se internou num centro de reabilitacéio do consumo de alcool e drogas em 1978. O abuso de tranquilizantes, disse seu médico, Joseph Pursch, era “o problema niimero um de saiide da nagao”. Nos anos seguintes, as benzodiazepinas cafram oficialmente em desgraca. Em 1979, o senador Edward Kennedy conduziu uma audiéncia da Subcomisséo de Saiide do Senado sobre os perigos das benzodiazepinas, as quais afirmou terem “produzido um pesadelo de dependéncia e vicio, ambos de tratamento € recuperacio muito dificeis”."* Depois de reexaminar a literatura cientifica, 0 Gabinete da Casa Branea sobre a Politica Nacional de Controle de Drogas concluiu que os efeitos soniferos desses remédios nao duravam mais que duas semanas, ¢ essa constatagio logo foi respaldada pela Comissio de Revisao de Medicamentos do Reino Unido, que constatou que os efeitos antiansiedade dos benzodiazepinicos nio iam além de quatro meses. Nessas condigies, a comisséo recomendou que “os pacientes que recebem terapia benzodiazepinica sejam cuidadosamente M1 ‘AnaTOMIA DE UMA EPIDEA selecionados e monitorados, e que as receitas se restrinjam ao uso por perfodos eurtos”.” Como questionou um editorial do Britisk Medical Journal, “Agora que se mostrou que as benzodiazepinas causam dependéncia, ndo deveria seu uso ser controlado mais de perto, ou até banido?”.!? O ABC das Benzodiazepinas Esta historia de como as benzodiazepinas cairam em desgraca poderia parecer antiga ¢ ultrapassada — uma nota de rodapé em nossa tentativa de compreender por que houve tamanho aumento dontimero de pessoas incapacitadas por doencas mentais nos Estados Unidos, nos Gltimos cinquenta anos -, no fosse o fato de que esses medicamentos nunea desapareceram, na verdade, Embora o nimero de receitas de benzodiazepinas tenha caido, depois de elas serem classificadas como drogas da categoria IV de 103 milhées em 1975 para 71 milhdes em 1980, no ano seguinte a companhia farmacéutica Upjohn introduziu 0 Xanax no mercado, ¢ isso ajudou a estabilizar as vendas de benzodiazepinicos.” Os psiquiatras continuaram a prescrevé-los para muitos de seus pacientes nervosos ¢, em 2002, Stephen Stahl, um famoso psicofarmacologista da Universidade da Califor: San Diego, confessou o segredinho sujo da psiquiatria num artigo intitulado “ pergunte nem conte, mas as benzodiazepinas ainda sao o principal tratamento parao transtornoda ansiedade”.” Desde entao, a prescrigdodesses remédios nos Estados Unidos aumentou, passando de 69 milhdes de receitas em 2002 para 83 milhées em 2007, 0 que nao fica muito abaixo do niimero alcangado no auge da febre do Valium, em 1973." em ‘ao Porisso, vistoqueas benzodiazepinas tém sido largamente usadas hacinquenta anos, precisamos ver o que a ciéncia tem a nos dizer sobre essas drogas, ¢ se 0 uso delas estaria contribuindode algum modo para o aumento do ntimero de invalidos por doenca mental nos Estados Unidos. Fficdcia a curto prazo Como pode atestar qualquer um que tenha tomado uma benzodiazepina, ela age com rapidez e, se a pessoa nao se houver habituado a droga, esta entorpecera seu sofrimento emocional. Desse modo, as benzodiazepinas tém uma evidente utilidade para ajudar pessoas a atravessar crises situacionais. A escritora Andrea ‘Tone, em seu livro The Age of Anxiety [A era da ansiedade], relata como uma benzodiazepina he permitiu entrar num avido, depois de ela ter desenvolvido um 142 A Armadilha das Benzodiazepinas ‘misterioso medo de voar. Mas, como revelaram os ensaios clinicos, essa eficécia imediata comega a diminuir depressa e praticamente desaparece ao cabo de quatro a seis semanas Em 1978, Kenneth Solomon, da Faculdade de Medicina de Albany, no estado de Nova York, examinou 78 ensaios duplo-cego de benzodiazepinas ¢ determinou que ‘0s medicamentos $6 sc revelaram significativamente melhores do que um placebo em 48 deles. Quando muito, seria possivel dizer que os resultados coletivos ’Ginco anos depois, Arthur Shapiro, da Faculdade de Medicina Mt. Sinai, na cidade de Nova Vork, consubstanciou um “sugerem umaeficécia terapéutica”, escreveu.’ pouco mais esse quadro de eficécia, relatando que, num ensaio com 22¢ pacientes ansiosos, o Valium revelou-se superior a um placebo na primeira semana, porém, ‘em seguida, essa vantagem comegou a se reduzir. Com base na autoavaliagio dos sintomas feita pelos pacientes, nao havia, aotérmino da segunda semana, nenhuma diferenga entre a droga e um placebo, e, a0 cabo de seis semanas, 0 grupo que ‘tomava 0 placebo saiu-se ligeiramente melhor. “E impravavel, na nossa opiniao, que estudos cuidadosamente controlados demonstrem, de modo consistente, efeitos teraptuticos das benzodiazepinas contra a ansiedade”, escreveu Shapiro” Esse quadro da eficdcia das benzodiazepinas a curto prazo no sofreu mudangas marcantes desde entdo. Essas drogas mostram clara eficicia na primeira semana e, em seguida, sua vantagem em relagao a um placebo diminui. “Todavia, como assinalaram investigadores britanicos cm 1991, esse breve perfodo de eficéeia se dé a um custo bastante alto. “O funcionamento psicomotor © 0 funcionamento cognitive podem ser prejudicadas,e a amnésia é umefeito comum de todas as benzodiazepinas”, disseram.* Em 2007, pesquisadores da Espanha averiguaram se esses efeitos adversos anulavam o pequeno “beneficio da cficécia” proporcionado pelos medicamentos, ¢ constataram que as taxas de abandano nos censaios elfnicos ~ medida comumente usada para avaliar a “eficiéncia” global de um medicamento- cram idénticas nos pacientes que recebiam a benzodiazepina ¢ ‘placebo. “Esse exame sistematico nao encontrou provas convincentes da eficacia a curt prazo das benzodiazepinas no tratamento do transtorno generalizado de ansiedade”, afirmaram. Malcolm Lader, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria de Londres que € um dos maiores especialistas mundiais em benzodiazepinas, explicou numa entrevista a importincia desse resultado: “A eficdcia ¢ uma medida do que se dé na realidade da clinica”® 143 ANATOMTA DE UMA EPIDEMIA Sindromes de abstinéncia Embora o primeira relato de dependéncia de benzodiazepinicos tenha aparceido na literatura cientifica em 1961, quando Leo Hollister, da Universidade Stanford, relatou que pacientes que suspendiam o tratamento com Librium vinham experimentando sintomas estranhos, foi s6 quandoo Ministério da Justiga classificou as benzodiazepinas como drogas da categoria IV que os pesquisadores comegaram a investigar o problema com algum vigor. Em 1976, os médicos Barry Maletaky e James Kotter deram a partida nessa investigagio, informando que, quando seus pacientes paravam de tomar Valium, muitos se queixavam de “extrema ansiedade”.” Dois anos depois, médicos da Universidade Estadual da Pensilvania anunciaram que era frequente os pacientes que suspendiam o tratamento com a benzodiazepina experimentarem “um aumento da ansiedade acima dos niveis basais (...), um estado que chamamos de ‘ansiedade de rebote™.*® Na GraBretanha, Lader relatou resultados similares. “A ansiedade teve uma acentuago marcante durante a retirada da droga, a ponto de chegar ao panico em varios pacientes. Foi comum eles experimentarem sintomas corporais de ansiedade, tais como sensagao de sufocamento, boca seca, sensagées de calor € frio, pernas bambas como gelatina etc." Ansiedade de rebote com o Valium iE i } medicament 5 ol pr pes ge ore ag ees (as de ratanerto ] Nesse estudo de 1985, feito por investigadores britfinicos, os pacientes tratados com Valium nto se safram melhor que os pacientes tratados com um placebo durante as primeiras seis semanas, ‘A administracéo do Valium fai entéo suspensa nos pacientes. que os recebiam, ¢ seus sintomas de ansicdade dispararam para um nivel muito mais alto que o-das sintomas dos pacientes traiados com o placebo. Fonte: K. Power, “Controlled study of withdrawal symptoms and rebound anxiety after six ‘week course of diazepam for gencraliscd anxicty”, British Medical Journal 290 (1985): 1.246-1.248. 144

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